quarta-feira, junho 24, 2009

Portugal 111

Investir, sim ou não?

Consórcios entregam hoje propostas finais
Mota-Engil, Soares da Costa e Brisa na corrida à Pinhal Interior
Os agrupamentos liderados pela Edifer, Mota-Engil, Soares da Costa e Brisa entregam hoje as suas propostas finais para a concessão Pinhal Interior. — in Jornal de Negócios (24-06-2009).

O défice orçamental da França oscilará entre 7 e 7,5% do PIB, em 2009 e ainda em 2010, i.e. mais do dobro do limite tolerado pela União Europeia. Em Portugal, quando se fizerem as contas a sério, constataremos que os 6% agora anunciados por alguns observadores económicos andarão bem mais perto das estatísticas francesas.

Portugal tinha em finais de 2007, entre 126 países analisados, a 19ª maior dívida externa bruta do mundo —$461,2 mil milhões—, a 19ª maior dívida pública do planeta em percentagem do PIB —64,2% (est. 2008)—, sendo que as suas reservas em divisas e ouro não iam além de $11,55 mil milhões, e em matéria de PIB per capita ($22.000) continua a cair, tendo ficado em 2008 na posição 54 entre 229 países considerados. Continuamos, por outro lado, a divergir perigosamente do PIB per capita espanhol ($34.660), superior ao nosso em 34,5%!

Tudo somado e contado, percebemos porque motivo o Bloco Central continua a apostar nas acessibilidades rodoviárias e em grandes projectos: precisamos de aumentar o PIB, por causa da Europa e sobretudo por causa da Espanha, e talvez haja inesperadamente alguma margem de manobra relativa para continuar por mais uma legislatura a pisar o pedal do endividamento — sobretudo se compararmos o calote lusitano com o estado pré-coma dos EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Holanda, Irlanda, Japão, Suíça, etc..., ou com as extraordinárias dívidas públicas da Bélgica, Grécia, França e mesmo da Alemanha!

As eleições legislativas estão à porta e os programas eleitorais dos partidos terão que se pronunciar claramente sobre este decisivo capítulo do futuro programa de governo.

Por mim, tenho algumas ideias claras, mas não todas...
  • Um grande Plano Nacional de Eficiência Energética? Já!
  • Modernização da linha férrea portuguesa: bitola ibérica, electrificação onde falte e novos sistemas de sinalização? Uma decisão acertada e urgente!
  • Velocidade Elevada entre Badajoz e Pinhal Novo? Já!
  • Velocidade Elevada entre o Porto e Vigo? Já!
  • Electrificação e modernização da Linha do Douro (bitola europeia)? Já!
  • Ligação ferroviária do Porto de Sines a Badajoz? Só depois de construída as linhas de VE entre Badajoz e Lisboa, entre Porto e Vigo, e entre Aveiro e Salamanca!
  • Novo Aeroporto de Lisboa em Alcochete — adiar a decisão até 2014.
  • Nova travessia do Tejo —adiar a decisão até 2014.
  • Adaptação da Base Aérea do Montijo para base Low Cost? Já!
  • Novas auto-estradas do Centro e do dito Pinhal Interior? Não tenho posição definida... mas se a ideia é continuar a apostar no turismo... talvez... faça algum sentido...
  • Novas barragens hidroeléctricas, sobretudo as do Alto Douro e rio Tâmega? Nunca!
Que dizem o PSD e o Bloco de Esquerda sobre isto?
Ficamos à espera. Mas não por muito tempo.


OAM 594 24-06-2009 13:40 (última actualização: 29-06-2009 18:29)

terça-feira, junho 23, 2009

Crise Global 67

Bolha mediática prestes a rebentar

Está esclarecido o mistério da candidatura de José Eduardo Moniz à direcção do Benfica: o homem sabe que o porta aviões da TVI, isto é o Grupo Prisa, vai a pique, tal como o Titanic!


Dívidas obrigam Grupo Prisa a procurar sócios minoritários


O grupo Prisa, proprietário do jornal espanhol ‘El País’, já tem mais de cinco mil milhões de euros em dívida acumulada.

Esta situação obriga à procura de sócios para vender participações minoritárias dos seus negócios, incluindo da Media Capital, que detém a TVI e a editora Santillana.

Encarando as dificuldades em fechar o acordo com a Vivendi e a Telefónica para vender a Digital +, o grupo Prisa duplicou os esforços para procurar novos sócios para as suas empresas. — in Económico.

PT sozinha na corrida para comprar a TVI

A Portugal Telecom (PT) está em negociações para comprar 30% da Media Capital, a empresa que detém a TVI. Segundo o jornal Expresso, a Ongoing saiu do negócio por só aceitar uma posição maioritária. — in DN TV&Media.

Spain's Prisa to cut pay, dividends

MADRID, June 18 (Reuters) - Debt-burdened Spanish media group Prisa (PRS.MC) will ask staff to take pay cuts and is suspending dividends probably until 2011 as it steps up its restructuring efforts, its CEO said on Thursday.

The owner of newspaper El Pais did not rule out a capital hike, as shareholders approved last year, and will press to find business partners, Juan Luis Cebrian told the company's annual shareholders' meeting, as the group battles a heavy debt burden and a downturn in advertising.

... "We are going through an extremely difficult situation, but it is not desperate ... nor is the group's future threatened," Cebrian said. — in Reuters.

Quem haveria de dizer que a estrela luminosa do jornalismo e da comunicação mediática global saída desse extraordinário diário espanhol chamado El País não passa neste momento de uma estrela cadente? Que se passou? Deixou de fazer bom jornalismo? Perdeu audiências? Não resistiu às quebras de receita no sector publicitário? Cresceu demais?

Bom jornalismo e audiências não perdeu certamente. Basta comprar o El País do próximo Sábado, ou ouvir a Manuela Moura Guedes na Sexta, para concluir que continuam em alta em matéria de bem confeccionar notícias e capacidade de atrair audiências.

Já que no que se refere a receitas de publicidade, excesso de endividamento e grandes perdas em bolsa, a coisa muda de figura.

Depois de ter batido no fundo em 9 de Março deste ano (ver Bolsa PT), as acções da Prisa lá se foram levantando até chegar ao máximo deste ano —4,34 euros— no passado dia 8 de Junho, estando desde aquela data em queda. Mas o pior pode estar por vir! Há quem sussurre sobre o colapso a curto prazo do altamente endividado sector mediático espanhol, que como o resto da economia espanhola viveu anos de ouro à sombra da especulação imobiliária e bolsista, endividando-se ruidosamente, como se o mundo não tivesse fim, ou parte do explorado terceiro mundo e algumas ex-colónias europeias não tivessem emergido como pujantes economias do século 21, declaradamente indispostas a mimar por muito mais tempo um Ocidente consumista, cheio de retórica humanista, mas cada vez mais endividado e a perder hábitos de trabalho.

As televisões autonómicas espanholas estão virtualmente falidas. Mas sobretudo só agora começamos a conhecer os enormes estragos que a Internet veio e continuará a provocar no grande sistema mediático inventado na América, por volta de 1928, depois da publicação do decisivo e pouco conhecido livro Propaganda, de Edward Bernays, sobrinho de Sigmund Freud e fundador do conceito de Relações Públicas. O Broadcast big-brotheriano tem vindo a ser paulatinamente substituído por uma nova e radical turba multa mediática chamada Netcast, muito mais democrática e incontrolável, como se tem visto nos recentes conflitos bélicos internacionais e nas manifestações contra o autoritarismo e a criminalidade de Estado por esse mudo fora: Bush, Iraque, Líbano, Afeganistão, Irão, etc.

Há quinze anos que falo disto. Mas nem o Pinto Balsemão, nem alguns governos autonómicos do país vizinho ligaram às minhas palavras quando amigavelmente as transmiti em modo de aviso. O problema agora é que os governos estão falidos, sobretudo depois de injectarem biliões de dólares e euros nas economias americana e europeia para salvar a obsoleta indústria automóvel e as máfias banqueiras. Não vai haver igual benesse para salvar os jornais e as televisões, até porque haverá outras prioridades no futuro imediato: empresas energéticas com passivos gigantescos (veja-se o caso patético da EDP), sistemas de segurança social à beira do colapso e um incomensurável buraco negro financeiro chamado Derivados, ou Derivatives, cujo valor nocional, i.e. de potencial desastre, corresponde a qualquer coisa como quatro vezes o PIB mundial!

A única saída para evitar o colapso dos governos será muito provavelmente imprimir dinheiro à toa, de onde sairá, se o fizerem, uma inevitável onda de hiperinflação. Mugabe já deve estar a rir-se à gargalhada. Até lá, contem com mais falências —a bolha mediática pode ser a próxima a rebentar—, mais impostos, mais desemprego, escassez e subida generalizada do preço do dinheiro, hipotecas a subir, e uma viragem das vossas vidas como nunca imaginaram.

Sobretudo não dêem crédito aos governantes, que continuarão a mentir como mentiram até agora — isto é, com todos os dentes!


OAM 593 23-06-2009 23:07

sexta-feira, junho 19, 2009

Portugal 110

Cultura e Terceiro Sector
nas sociedades pós-contemporâneas


Sobre o muito badalado arrependimento cultural de José Sócrates, confessado pelo próprio no âmbito da humilde vestimenta que decidiu envergar após a recente e humilhante derrota eleitoral, republico o artigo que enviei à revista L+Arte de maio último. Sublinho entretanto que uma autocrítica sem consequências práticas não passa de um exercício de fingimento. Que eu saiba, o senhor Alexandre Melo, além de assessor cultural do PM foi um dos compradores exuberantes de João Rendeiro e da sua Ellipse Foundation, aliás tal como o ainda director do Museu do Chiado, Pedro Lapa. Dois casos flagrantes de incompatibilidades funcionais, conflito de interesses e comprovada incompetência. Um eclipse de ideias, de estilos e de carácter a que urge pôr termo.

Cultura e Terceiro Sector nas sociedades pós-contemporâneas
[Texto enviado à revista L+Arte em 17-05-2009 e actualizado em 30-05-2009]

Li recentemente uma notícia sobre a vontade do antigo ministro da cultura, Manuel Maria Carrilho (MMC), de voltar às lides. O ar de Paris fez-lhe bem! Ao contrário dos detractores da sua passagem pela política, eu alinho com muitos funcionários públicos modestos que por esse país fora o saúdam como o único responsável governamental que em muitas décadas assumiu sem receio a vontade de envolver o Estado na protecção e estímulo da actividade cultural. Ao que parece está com vontade de regressar, começando desde já por erguer de novo a bandeira do 1% do orçamento de Estado para o sector cultural. Seja bem-vindo. Mas eu vou mais longe: são precisos 3%!

Para este ano, o ministério da cultura contempla uma despesa de 212,6 milhões de euros (M€), para uma despesa global da administração central de 54.381,6 M€ — ou seja, menos de metade dos famigerados 1% recomendados por MMC (0,39%). Pois bem, eu proponho que sejam retirados ao conjunto dos demais ministérios, de forma proporcional, os 1.418,848 M€ que faltariam para o orçamento do ministério da cultura atingir em 2009 os 3% do orçamento da administração central que proponho para as artes em geral.

Porquê e para quê, perguntar-se-à. Respondo assim: para colocar a cultura onde ela terá que passar a estar nas sociedades pós-contemporâneas, fazendo o que nenhuma outra instância governamental está vocacionada e muito menos preparada para fazer, ou seja, responder de forma criativa às sociedades tecnológicas em formação, nas quais o "fim do trabalho" (Jeremy Rifkin) e a emergência do chamado "terceiro sector" são evidências, que a não serem convenientemente tratadas provocarão uma sucessão de colapsos sociais precedidos por crises financeiras e económicas de dimensões idênticas ou ainda mais dramáticas e prolongadas do que a que desde Fevereiro de 2007 começou por afligir o sistema financeiro, a economia e a sociedade dos Estados Unidos, estendendo-se depois ao resto do planeta.

Os programas de "novas oportunidades" e suposta formação profissional não passam de medidas paliativas ilusórias que em nada modificarão a tendência para a destruição estrutural do emprego assalariado induzida pela lógica intrínseca da produção tecnologicamente assistida em todos os seus segmentos: desde a extracção das matérias primas, à respectiva transformação, distribuição, promoção e venda.

O mesmo sucede nas políticas de subsídio à crescente e irrecuperável massa de desempregados atirados para o desespero pelas tendências cada vez mais acentuadas para a automação e desmaterialização dos processos produtivos, de gestão e da própria interacção social.

Ao contrário do que muitos crêem, a deslocação do capital e do trabalho para os países emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China, etc.), em busca, num primeiro momento, da proximidade aos recursos naturais e aos baixos salários, tem um impacto meramente conjuntural na mudança dos termos de troca à escala global. Na China, a crise financeira e económica mundial irá provocar em 2009 o despedimento e migrações, no interior do seu vasto território, de mais de 20 milhões de pessoas (2). A ONU, por sua vez, prevê que o desemprego mundial possa chegar aos 230 milhões de pessoas em 2010!

Ora os governos continuam a responder a esta emergência como se a mesma fosse episódica e passageira, em vez de sistémica e porventura irreversível. Os instrumentos postos à disposição, por exemplo, do nosso ministério do trabalho e da solidariedade social, são completamente inadequados à natureza da crise em curso. Gerir pensões e tomar algumas medidas avulsas são caminhos para responder a problemas de uma época que já não existe.

A resposta à crise sistémica em curso terá forçosamente que ser uma resposta cultural. Quer dizer, uma resposta que convoque o melhor das energias criativas da comunidade para, em primeiro lugar, perceber a verdadeira causa das coisas, e depois, colocar em marcha uma verdadeira coligação de vontades, conhecimentos e energias criativas capaz de atalhar estruturalmente os múltiplos colapsos do sistema, avançando simultaneamente com modelos experimentais de interacção e cooperação social que possam ajudar a encontrar o paradigma social de que as sociedades cognitivas e tecnológicas em formação precisam para continuarem a permanecer humanas e civilizadas. Uma sociedade de velhos e alguns jovens estéreis guiada por "robots" e nano-tecnologias ao serviço de uma qualquer decrépita e corrupta aristocracia atulhada de dívidas — ainda que tais dívidas pareçam riqueza acumulada — não é o que todos queremos, certamente.

Embora os sistemas educativos sejam um desastre na esmagadora maioria dos países, e estejam aliás enredados numa cornucópia perversa de reformas cuja principal finalidade é reproduzir com os menores custos possíveis um descomunal exército de gente desempregada ou que jamais encontrará emprego estável, boa parte das mudanças que no futuro permitirão adaptar as sociedades humanas à radicalização da era tecnológica, muitíssimo mais distributiva do que a actual, passará por uma verdadeira revolução educativa. Só que esta revolução precisa de um campo experimental prévio, onde seja possível montar um acelerador de criatividade social. É aqui que eu vejo a nova importância das práticas culturais entendidas em sentido lato, i.e. abrangendo as ciências, as filosofias e as artes, naquilo que seria a re-fundação da veterana "techne". Ora, por incrível que pareça, são as vanguardas artísticas, da reflexão filosófica e da investigação científica quem melhor pode confluir para esta tempestade mental, de onde sairão, esperemos que a tempo, visões inovadoras e possíveis para esse mundo por vir a que chamo pós-contemporâneo.

Mas para que tudo isto ganhe momento seria da máxima importância fazer perceber aos políticos a necessidade de aceitarem reduzir o seu grau de omnipotência decisória, cujos resultados têm sido manifestamente medíocres. Pedimos-lhes um pouco de humildade neste transe difícil da civilização!

Que faria eu, enfim, aos 3% do orçamento da administração central atribuídos à Cultura numa próxima legislatura? Pois bem, faria isto: o primeiro 1% iria para a manutenção e divulgação do património cultural, abrangendo o longo período que vai desde os testemunhos originários da espécie humana até ao fim do século 20; o segundo 1% iria para a criação de um grande acelerador de partículas criativas multi-disciplinar, poli-nuclear, desburocratizado, autónomo e responsável, tendo por finalidade estudar e propor à sociedade modelos experimentais de convivência e simbiose criativa pós-laboral (considerando que o trabalho assalariado tenderá a desaparecer); e o terceiro 1%, finalmente, iria para o desenvolvimento de programas de responsabilidade social activa, orientados para o estabelecimento de parcerias entre os sectores público, privado e comunitário.

Por menos, não iremos lá.


NOTAS

  1. "Terceiro setor é uma terminologia sociológica que dá significado a todas as iniciativas privadas de utilidade pública com origem na sociedade civil. A palavra é uma tradução de Third Sector, um vocábulo muito utilizado nos Estados Unidos para definir as diversas organizações sem vínculos diretos com o Primeiro setor (Público, o Estado) e o Segundo setor (Privado, o Mercado).

    Apesar de várias definições encontradas sobre o Terceiro Setor, existe uma definição que é amplamente utilizada como referência, inclusive por organizações multilaterais e governos. Proposta em 1992, por Salamon & Anheier, trata-se de uma definição “estrutural/operacional”, composta por cinco atributos estruturais ou operacionais que distinguem as organizações do Terceiro Setor de outros tipos de instituições sociais. São eles:

    — Formalmente constituídas: alguma forma de institucionalização, legal ou não, com um nível de formalização de regras e procedimentos, para assegurar a sua permanência por um período mínimo de tempo.
    — Estrutura básica não governamental são privadas, ou seja, não são ligadas institucionalmente a governos.
    — Gestão própria: realiza sua própria gestão, não sendo controladas externamente.
    — Sem fins lucrativos: a geração de lucros ou excedentes financeiros deve ser reinvestida integralmente na organização. Estas entidades não podem distribuir dividendos de lucros aos seus dirigentes.
    — Trabalho voluntário: possui algum grau de mão-de-obra voluntária, ou seja, não remunerada ou o uso voluntário de equipamentos, como a computação voluntária." — in Wikipedia/ Terceiro Sector.

  2. 20 Million Laid-off Migrant Workers May Send China's Unemployment Rate to 10%. February 06, 2009 — China Stakes.com.

REFERÊNCIAS
  1. Religare
  2. The End of Technology
  3. Arte e Política


OAM 592 19-06-2009 16:56

quinta-feira, junho 18, 2009

Portugal 109

Verão quente, Outono perigoso

Vitorino explicou a Sócrates que o tempo não está para mais malabarismos, e que só reconhecendo a seriedade da crise actual se poderá dialogar seriamente com o eleitorado.




  • Cinco das dez maiores falências da história tiveram lugar nos últimos doze meses (1).
  • Esta é a maior e mais duradoura recessão mundial desde 1929.
  • Os mercados emergentes tornaram-se entretanto exportadores de capital.
  • A crise vai piorar durante este Verão e sobretudo no Outono, ao contrário do que sopram as sereias da banca e da especulação financeira através dos submissos órgãos de propaganda que financiam. Proteja-se da bolsa e dos bancos!!
  • As eleições legislativas e autárquicas portuguesas decorrerão num clima económico sombrio, que poderá provocar uma inesperada explosão social.
Se me tivesse lido com atenção, a tríade de Macau teria há muito explicado a José Sócrates que estamos no meio de um naufrágio, onde arengar propaganda barata em volta dos grandes hubs aeroportuários que faltam, pontes assassinas sobre o estuário do Tejo, altas velocidades ferroviárias, barragens criminosamente inúteis e mais não sei quantas autoestradas vazias, além de afastar o PS dos eleitores, acabaria por exibir o lado ridículo da inglória maioria absoluta que nos governa. Por falta de financiamento, por falta de procura, e sobretudo por causa do colapso inevitável do modelo económico e social das chamadas sociedades afluentes ocidentais, o business as usual acabou. Manuela Ferreira Leite percebeu-o a tempo. O PS precisou de uma humilhante derrota para lá chegar!

GEAB #36 — LEAP/E2020 believes that, instead of « green shoots » (those which international media, experts and the politicians who listen to them kept perceiving in every statistical chart in the past two months), what will appear on the horizon is a group of three destructive waves of the social and economic fabric expected to converge in the course of summer 2009, illustrating the aggravation of the crisis and entailing major changes by the end of summer 2009... more specifically, debt default events in the US and UK, both countries at the centre of the global system in crisis. These waves appear as follows:

1. Wave of massive unemployment: Three different dates of impact according to the countries in America, Europe, Asia, the Middle East and Africa
2. Wave of serial corporate bankruptcies: companies, banks, housing, states, counties, towns
3. Wave of terminal crisis for the US Dollar, US T-Bond and GBP, and the return of inflation.
As empresas financeiras, industriais e de serviços vão continuar a falir. Sobretudo aquelas que cresceram à custa da especulação bolsista e à sombra do endividamento público. A tentativa —promovida por políticas governamentais irresponsáveis— de as salvar, com mais impostos e mais endividamento público, só irá agravar uma situação já de si extremamente grave.

O bluff dos grandes investimentos serviu sobretudo, como aqui escrevi, para dissimular as reais dificuldades de empresas habituadas à mama orçamental pública e ao dinheiro barato oriundo da especulação bolsista. Empresas como a Mota-Engil, a Teixeira Duarte, a EDP e a generalidade da banca portuguesa estão literalmente à rasca. A falta de competitividade real, as imparidades, as ocultações de resultados, a falta de liquidez, as dívidas, os branqueamentos de capitais e as fraudes vão aflorar rapidamente perante um eleitorado incrédulo. Alguns ícones empolados da nossa economia e finanças não tardarão a colapsar. Os demónios soltaram-se. A bicha em direcção ao calabouço só agora começou a formar-se!

Mas como uma desgraça nunca vem só, temos que nos preparar para o colapso iminente do sector público —administração central, regional e local—, de onde decorrerão duas ameaças explosivas: a falência das cidades e o colapso do sistema de segurança social.

A massa de desempregados sem subsídios (porque a eles não têm acesso, ou porque se esgotou o prazo de validade do mesmo), é um actor altamente imprevisível nas eleições que irão decorrer neste Outono. Ou muito me engano, ou a tendência revelada pela recente pugna europeia vai acentuar-se entre nós. A substituição do Bloco Central —de todas as desilusões— por um fenómeno novo de bipolarização social e político-partidária matura, a meu ver, nas entranhas da crise de paradigmas que levou ao estertor do actual sistema partidário. Não creio, enfim, que o acto de contrição da actual maioria socratintas venha a ter os efeitos desejados.

NOTAS
  1. E as maiores fraudes também. O caso Madoff, e entre nós o "caso de polícia" chamado BPN, ou a estranha novela do Banco Privado, cujo presidente continua a passear a sua falta de vergonha nas barbas de quem já devia tê-lo enviado para junto de Rui Oliveira e Costa, não deixam de ser instrutivos. Mas a maior fraude da história parece estar ainda a caminho de ser revelada (obrigado André Cruz!) Trata-se da estranha e abortada tentativa de dois senhores japoneses de contrabandearem 134,5 mil milhões de dólares americanos —em US bearer bonds— na fronteira entre a Itália e a Suiça. Este valor equivale a mais de metade do PIB português, e cerca de três vezes o custo das olimpíadas de Pequim! Esta extraordinária história, e possível episódio da guerra financeira actualmente em curso entre quem tem dólares a mais e quem continua a imprimi-los com total descaramento e impunidade, acaba de levantar voo nos média. A nossa atarantada imprensa lá chegará, com o tempo...

    Smuggling Or Counterfeit-Printing?

    Ok, this was rumored several days ago, but now I can find actual news reports - at least, outside the US:

    Milan (AsiaNews) – Italy’s financial police (Guardia italiana di Finanza) has seized US bonds worth US 134.5 billion from two Japanese nationals at Chiasso (40 km from Milan) on the border between Italy and Switzerland. They include 249 US Federal Reserve bonds worth US$ 500 million each, plus ten Kennedy bonds and other US government securities worth a billion dollar each.

    Those sound like Bearer Bonds - at least the Kennedy ones do.


    Suitcase With $134 Billion Puts Dollar on Edge: William Pesek

    Commentary by William Pesek
    June 17 (Bloomberg) -- It’s a plot better suited for a John Le Carre novel.

    Two Japanese men are detained in Italy after allegedly attempting to take $134 billion worth of U.S. bonds over the border into Switzerland. Details are maddeningly sketchy, so naturally the global rumor mill is kicking into high gear.
    Are these would-be smugglers agents of Kim Jong Il stashing North Korea’s cash in a Swiss vault? Bagmen for Nigerian Internet scammers? Was the money meant for terrorists looking to buy nuclear warheads? Is Japan dumping its dollars secretly? Are the bonds real or counterfeit?


    ...Think about it: These two guys were carrying the gross domestic product of New Zealand or enough for three Beijing Olympics.

    ...These men carrying bonds concealed in the bottom of their luggage also would be the fourth-largest U.S. creditors. It makes you wonder if some of the time Treasury Secretary Timothy Geithner spends keeping the Chinese and Japanese invested in dollars should be devoted to well-financed men crossing the Italian-Swiss border.


    Strange Inconsistencies in the $134.5 Billion Bearer Bond Mystery

    J.S. Kim
    Seeking Alpha
    Thursday, June 18, 2009 (Prison Planet)

    Here’s yet another huge financial story that has been virtually blacked out by the US financial media. Although on the surface, this story appears to be a non-event, if we consider some of the released facts about this case, you will understand why I consider it to be a huge story. On June 8th, the Asia News reported the following story:

    “Italy’s financial police (Guardia italiana di Finanza) has seized US bonds worth US 134.5 billion from two Japanese nationals at Chiasso (40 km from Milan) on the border between Italy and Switzerland. They include 249 US Federal Reserve bonds worth US$ 500 million each, plus ten Kennedy bonds and other US government securities worth a billion dollars each. Italian authorities have not yet determined whether they are real or fake, but if they are real the attempt to take them into Switzerland would be the largest financial smuggling operation in history; if they are fake, the matter would be even more mind-boggling because the quality of the counterfeit work is such that the fake bonds are undistinguishable from the real ones.”

    ...Given that the discovery of $134.5 billion of bearer bonds in the suitcases of two Japanese nationals in Chiasso, Italy on the border of Switzerland qualifies as one of the largest smuggling operations in history, and given the various implications of such an act and the possible players involved, the silence regarding this huge story is simply stunning. It is not a huge story, per se, because of the counterfeiting operation, because accusations and revelations of massive money counterfeiting operations have occured in the past. It is a huge story, rather, due to all the inconsistencies of the story and the potential explanations that could explain these inconsistencies. The larger story at hand is, who are the players (nations) involved, and what was the intention of this likely counterfeiting operation?


OAM 591 18-06-2009 20:18 (última actualização: 18-06-2009 16:30)

domingo, junho 14, 2009

Portugal 108

A quem compete defender o Atlântico?
Governo dá acordo de princípio a treino de F-22 dos EUA nas Lajes
13.06.2009 - 09h26 Nuno Simas (Público)

É o primeiro passo para o acordo. O Governo comunicou ontem ao secretário da Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, a posição de princípio de Portugal favorável à utilização das Lajes, nos Açores, como base de treino dos F-22 e, no futuro, os F-35, disse ao PÚBLICO fonte governamental.

... Ainda os contactos eram apenas exploratórios e já o Bloco de Esquerda (BE) contestava mais esta possível cedência aos Estados Unidos. Os bloquistas açorianos chegaram a defender, no início deste ano, um referendo regional sobre o assunto nas ilhas.

Parece que o Bloco de Esquerda não tem emenda. Como qualquer pupilo maoísta desmiolado, ou trotsquista pueril, os bloquistas, ao que parece, tencionam lançar um cavalo de batalha contra o aluguer temporário de uma parte do estratégico espaço territorial lusitano à força aérea aos Estados Unidos da América. Como se a tontice destes oportunistas de esquerda não fosse já de si preocupante (e eu votei neles, para derrotar o papagaio Sócrates!), alguém do arquipélago açoriano, certamente embalado pela demagogia autonomista do oportunismo partidário em curso, sugeriu que o assunto fosse entregue a um referendo local!

A pergunta simples que devemos fazer ao senhor Louçã é esta: quem, na sua douta opinião, deve defender o Atlântico Norte da progressão chinesa? A Alemanha? A França? Espanha?! Ou pelo contrário, esse velho triângulo de interdependências, interesses comuns e alianças há muito formado pela Inglaterra, Estados Unidos da América e Portugal?

Dir-me-à, o douto Louçã, que é pela paz. Também eu — caramba!

Estará no entanto o douto Louçã a par da actual geo-estratégia chinesa? E se está, acha mesmo que é melhor encomendar a alma portuguesa a Nossa Senhora de Fátima e rezar uns tantos terços pela paz — em vez de termos uma política externa? Qual é a política externa do Bloco, douto Louçã? E já agora, fará o senhor alguma ideia das implicações que a inflexão atlantista operada pela Espanha, na célebre Cimeira dos Açores, poderá ter num Portugal distraído?

Gostaria muito de ouvir o douto Louçã responder a estas perguntas singelas, antes de começar, eu próprio, uma batalha de palavras contra o que temo ser a incapacidade congénita do actual Bloco de Esquerda para ganhar juízo.

O BE necessita urgentemente de uma nova geração de políticos de esquerda, pragmáticos, patriotas e europeístas, que rapidamente passe à frente e substitua os fossilizados ideólogos que continuam a prevalecer num partido que tem pela frente todas as condições para substituir um PS porventura vitimado de doença terminal. Quando o PS que foi corroído pelo egoísmo, pela imbecilidade e pela corrupção, sucumbir, estará o Bloco de Esquerda preparado para o substituir — ou sucumbirá com o próprio PS, vítima de incorrigível entorse genética?

Eu não digo que a proposta americana deva ser aceite estupidamente e sem negociação dura, como parece decorrer do anúncio patético do pateta que o papagaio Sócrates colocou no Ministério da Defesa. Antes pelo contrário! Defendo obviamente uma negociação dura, inteligente e estratégica com a América, sobretudo neste complicado momento de reajustamento das placas tectónicas dos poderes mundiais. A prioridade de um pequeno país como Portugal, a par da integração europeia, é saber tirar o máximo partido das suas vantagens específicas. Ora o maior activo estratégico de Portugal é o seu imenso e decisivo território marítimo, a que se segue o decisivo polígono da Lusofonia formado por Lisboa, Brazília, Luanda, Cidade da Praia e Maputo.

Portugal pode ser o honest broker de uma nova aliança atlântica global, ao mesmo tempo que medeia e modera a natural progressão de Pequim em direcção às fontes de abastecimento energético e alimentar. Deve por isso esmerar-se neste desígnio e tecer as necessárias redes de influência. Eleger cuidadosamente e potenciar os seus nichos de poder e saber é, em suma, algo que o país não pode sacrificar no altar da imbecilidade esquerdista de que o doutor Francisco Louçã não sabe ou não quer libertar-se.

A nossa pequenez acompanha há muito o nosso instinto de sobrevivência e a qualidade de uma diplomacia com mais de 800 anos. Não desvalorizemos este património por causa de uma qualquer distracção imperdoável, ou em nome do que não passou duma trágica moda intelectual: o chamado marxismo-leninismo.


OAM 590 14-06-2009 16:11

segunda-feira, junho 08, 2009

Portugal 107

A vitória do voto inteligente

O Bloco Central da ganância, dos interesses, da incompetência, da chulice e da corrupção começou a ruir nestas eleições europeias. O temível papão da "ingovernabilidade" agitado pelos opinocratas de serviço à nossa indolente democracia não é mais do que o feliz anúncio do possível fim de três décadas de democracia endogâmica e subdesenvolvida.

Em termos globais, todos os grupos partidários candidatos ao parlamento europeu (ver quadros) à excepção dos Verdes e dos micro-partidos (uma míriade de novas propostas) perderam votos. Por sua vez, em Portugal (ver quadros) o padrão partidário começa efectivamente a mudar a partir destas eleições: o Bloco Central desfaz-se, o PCP perdeu a terceira posição que detinha no espectro parlamentar, o Bloco de Esquerda substitui-o na posição de terceira força eleitoral do país, o CDS-PP tem uma recuperação notável e, tal como sucedeu no resto da Europa, os micro-partidos arrecadaram em conjunto uma apreciável votação: 12,2% no território europeu; 11,98% em Portugal (1). Os novos partidos estão a caminho!

Em termos simples, a principal conclusão a retirar destas eleições é esta: a cidadania europeia procura e quer alternativas justas, credíveis e viáveis ao pântano neoliberal que mergulhou a economia e as sociedades europeias num deserto de areias movediças sem fim à vista. Os partidos socialistas de Portugal, Espanha e Reino Unido sofreram todos derrotas humilhantes, por um e claro motivo: a traição neoliberal indecorosa às suas próprias ideologias e programas, em nome da avidez, da cupidez, do oportunismo pessoal e dos interesses mafiosos que se apoderaram destes partidos. Chegou a hora de correr sem cerimónias com esta canalha e restaurar a identidade da social-democracia socialista europeia.

As vitórias saborosas do PSD e do CDS-PP devem-se em grande medida aos protagonistas Paulo Rangel e Nuno Melo. Ou seja, é preciso renovar a classe política! A síndroma salazarista que pariu uma gerontocracia vazia de ideias, mas agarrada ao poder, nos partidos políticos e nas organizações sindicais, deve ser posta a nu em todo o espectro partidário e por esta via induzir a emergência de caras novas, e sobretudo de novos estilos de fazer política e de comunicar. Paulo Rangel e Nuno Melo revelaram-se dois bons exemplos do político por vir. Tal como estes novos protagonistas, Francisco Louçã tem sabido fazer a diferença. Vamos estar muito atentos ao comportamentos destas novas estrelas do firmamento partidário lusitano, pois da qualidade das suas prestações dependerá certamente a velocidade da renovação do actual espectro partidário.

Quem venceu estas eleições foi de facto um protagonista inesperado, mas que cada vez mais determina a marcha do regime: o voto inteligente. O voto inteligente é um voto táctico com uma intenção estratégica. Dou-vos o meu exemplo: votei no Bloco de Esquerda, quando em circunstâncias diversas teria votado no PS. Voltarei a votar no Bloco nas Legislativas que se aproximam. Mas já no que toca às eleições autárquicas, fiz ultimamente uma mudança de agulha: irei apoiar António Costa contra Santana Lopes. Será um apoio crítico e exigente, mas na verdade é-me intolerável pensar na hipótese do regresso do teddy boy das avenidas ao Largo do Município. Esta acepção do exercício do direito e dever de votar, como um jogo de estratégia, é uma tendência que tem vindo a consolidar-se e que supera em muito o mero "voto útil". Voltaremos ao tema em próximos textos.

O pinóquio que temos como primeiro ministro cerrou os dentes e tocou a reunir o governo. Duvido que surta grande efeito. Espero até que o dito des-governo comece a ruir em breve. Para já, há que travar a fundo a sua alarve subserviência diante dos agarrados à mama dos grandes investimentos (Mota-Engil, Teixeira Duarte, Grupo BES, Soares da Costa, Grupo Lena e quejandos). Chegou o momento de despachar o inenarrável fumador de cachimbo Mário Lino para qualquer lugarejo perdido do Atlas. Chegou o momento de travar o bacoco líder da EDP, António Mexia, da sua criminosa sanha barragista. Chegou o momento de colocar o actual governo, que dura inexplicavelmente para lá do tempo para que foi eleito, em velocidade de gestão.

Post scriptum — depois do PS, o maior derrotado destas eleições foram as vergonhosas empresas de sondagens que temos, a começar pelo canina Eurosondagem. A subserviência oportunista destas empresas de algibeira ficou escancarada. Só falta metê-las nos eixos da probidade profissional, quanto antes! Ou encerrá-las, como o Gago fez às universidades incómodas!!


NOTAS
  1. Os votos nulos e brancos registados nestas eleições em Portugal (6,53%) somados aos 11,98% de votos em micro-partidos — aproximam-se já dos 19% — ou seja, um partido virtual situado na terceira posição do nosso espectro eleitoral! Há por conseguinte muito caminho pela frente na reestruturação do sistema partidário português. Só faltam mesmo protagonistas credíveis.


OAM 589 08-06-2009 10:40 (última actualização: 16:01)

sexta-feira, junho 05, 2009

Portugal 106

Votar contra esta maioria absoluta

A esperada derrota de Sócrates anuncia dois novos líderes promissores nas respectivas áreas ideológicas: Paulo Rangel e Nuno Melo.

Para quem não sabe, eu explico: a reeleição de José Manuel Durão Barroso para o cargo de presidente da Comissão Europeia, e a campanha para levar Tony Blair ao posto de primeiro presidente do Conselho Europeu, fazem parte dum mesmo objectivo: impedir a concentração de poderes no eixo franco-alemão, e prolongar por mais algum tempo o predominância secular das potências atlânticas no seu conjunto.

A China tornou-se este ano o principal parceiro comercial do Brasil, o que, como bem observou o boletim do GEAB de Maio passado (1) na sequência de uma notícia do The Latin Americanist, assinala a deslocação efectiva do centro de gravidade da economia mundial, de Nova Iorque, Londres e Frankfurt para Xangai, Seul e Tóquio. Os grandes parceiros comerciais do Brasil foram sucessivamente Portugal, Inglaterra e Estados Unidos. A chegada da China a idêntico estatuto é um facto histórico que marcará porventura todo o século 21.

Ou seja, o oceano Atlântico é cada vez mais sulcado por aquela que será em breve a maior armada comercial e militar do mundo — a armada chinesa. Tal como os navios portugueses, holandeses, franceses, ingleses e estado-unidenses há muito sulcam os mares da China (alguns dos países, desde o século 15 que por lá andam), o reconstituído poder marítimo chinês, auto limitado desde 1415 (2), colocará ao longo deste século o Atlântico Sul e o Atlântico Norte sob uma pressão económico-diplomática sem precedentes.

Dito doutro modo, nunca como neste século as alianças anglo-portuguesa, luso-americanas e anglo-americana, fizeram tanto sentido. Delas depende em boa parte a acomodação graciosa do Ocidente ao novo Sol Nascente, e ainda a capacidade de lidar pacificamente com o novo Islão, sobretudo se a mole fundamentalista produzir os previsíveis efeitos de unificação estratégica em todo o Médio Oriente.

Por tudo isto, e tendo em conta o bom trabalho realizado até agora pelo ministro dos negócios estrangeiros do governo de José Sócrates, Luís Amado, não devemos confundir a necessidade urgente de substituir o actual primeiro ministro, ou mesmo as vantagens de acabarmos com a actual maioria absoluta do PS socratino, com entregar sem mais o ouro ao outro partido do imprestável Bloco Central.

A situação é complexa e não se compadece com juízos assassinos, nem populistas. Temos que ser mais prudentes nas avaliações políticas. Reafirmo, porém, algumas das convicções que me levaram a recomendar o voto nestas eleições europeias contra o actual PS e sobretudo contra a actual maioria absoluta:
  1. Embora aceite que a tríade de Macau tem uma geo-estratégia globalmente correcta para o país e para a Europa, não aceito de maneira nenhuma o seu indecoroso modus operandi.
  2. Rejeito em absoluto a deriva autoritária, intrusiva e policial da actual maioria socratina, de que as figuras indigentes de Augusto Santos Silva, Rui Pereira, Alberto Costa, José Magalhães e o idiota chapado da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, são exemplo intolerável que urge enviar para o grande caixote do lixo inquisitorial da nossa História.
  3. O Bloco Central é o grande cancro do actual regime, pelo que urge removê-lo e provocar a emergência de novos partidos (3), bem como o crescimento de alguns já existentes, como sejam o Bloco de Esquerda e o PP de Nuno Melo, e ainda a reforma interna do PS e do PSD. A surpresa churchilliana chamada Paulo Rangel é seguramente o facto mais relevante do ano eleitoral que agora começa. Vamos ver como termina....
  4. Recomendo o voto no PSD e no Bloco e Esquerda, para abater de vez a maioria socratina.
  5. A nuvem de novas propostas partidárias parece-me para já pífia, sem imaginação e sem protagonistas convincentes. Precisamos de um verdadeiro boomerang, ou seja de um Partido Pirata!
  6. Vou votar no Bloco de Esquerda, fazendo votos para que os seus principais protagonistas saiam do armário.
  7. Continuo a ser um socialista fora do baralho.


NOTAS
  1. In April 2009, China became Brazil’s leading trade partner, an event which has always announced major changes in global leadership. This is only the second time that this has happened since the UK put an end to three centuries of Portuguese hegemony two hundred years ago. The US then supplanted UK as Brazil’s leading trade partner at the beginning of the 1930s. — in GEAB #35.
  2. Curiosamente o ano da conquista de Ceuta pelos portugueses, anglo-iluminados por Philippa of Lancaster!
  3. Suécia: Partido Pirata tem quase garantido assento no Parlamento Europeu (Público.) E por cá, que falta para criar novos partidos? Criatividade? Coragem?

OAM 588 05-06-2009 12:26