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Banner do Manifesto por uma Esquerda Livre |
Quanto mais depressa formarem um novo partido, melhor!
O
manifesto hoje apresentado em Lisboa, e que já foi subscrito por mais de 1500 pessoas, destacando-se os nomes de Rui Tavares e Daniel Oliveira (ex-Bloco de Esquerda), Ana Gomes, Ana Benavente, Alfredo Barroso, António Mega Ferreira (desempregados do PS), ou jornalistas, intelectuais e artistas vários, como José Vítor Malheiros, Francisco Belard, André Barata, Hélder Costa, Mário de Carvalho, Miguel Vale de Almeida ou Rui Zink começa assim:
“Portugal afunda-se, a Europa divide-se e a Esquerda assiste, atónita.”
E assim acaba:
“Uma União que faça do pleno emprego um objetivo central da sua política económica, que dê um presente digno aos seus cidadãos e um futuro promissor às suas gerações jovens.”
É pena que uma tão saudável iniciativa, de que aliás precisamos como de pão para a boca, comece logo por uma descarada imprecisão histórica: se algo mudou nestas últimas semanas na crise da Europa que não chegou a unir-se, a não ser para repartir conveniências e traficar oportunismos, e de que este manifesto por uma "esquerda livre" é a mais óbvia e primaveril consequência, foi precisamente a resposta da tal Esquerda — nada "atónita", e nada "assistente".
Desde logo, com a vitória de François Hollande, desde logo com subida vertiginosa do Partido Pirata alemão, e desde logo com a emergência explosiva do partido de esquerda radical grego Syriza, liderado por Alexis Tsipras, um jovem inteligente e ambicioso de quem os banqueiros e os especuladores de todo o mundo parecem estar neste preciso momento suspensos, se algo se move na Europa é precisamente a Esquerda. E a extrema direita, também!
Eu há muito que não consigo ver o mundo a duas cores, e por isso dificilmente me apanharão a assinar este manifesto algo piedoso e ensimesmado.
A ideia de pedir ao mundo uma sociedade de "pleno emprego", logo agora, parece-me de um irrealismo político e falta de rigor intelectual a toda a prova. Eu não quero "emprego", porque sou um profissional liberal; quero trabalho, clientes e amigos! E além do mais, numa sociedade tecnológica que envelhece, do que precisamos é mesmo de menos emprego, mas de mais vida, trabalho e cooperação, onde o regime das trocas materiais e simbólicas e a cooperação abundem, como na Natureza sempre abundaram. Do que precisamos neste preciso momento é de mudar a palavra, sob pena de perdermos as ideias e nos perdermos por décadas a fio numa balbúrdia mórbida de assassínios e suicídios. "Povo de Esquerda" é um populismo retardado que nada adianta. Puxem pela imaginação, por favor!
Os partidos da dita esquerda portuguesa estão há muito num beco sem saída: são velhos, oportunistas e maus! O PS, além destas doenças todas, ainda por cima, é corrupto. Ainda esperei que do interior deste saco de lémures saísse uma revolução depois do Zézito trincar a sua própria língua. Mas percebo agora que teremos que aturar nos próximos anos um
travesti de François Hollande, repetindo depois do almoço o que o líder francês regurgitou depois do pequeno-almoço — ao mesmo tempo que tenta esconder diariamente as patifarias que o seu partido andou a fazer na Era Zézito.
A menos que deste manifesto enconado acabe por sair um partido, a dita Esquerda Portuguesa corre o risco de morrer de estupidez.