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terça-feira, julho 03, 2018

Refugiados, uma crise artificial


Nós, sim, tivemos uma crise de refugiados de guerra! Em 1974-75.


Não há dia, nem noticiário, indígena ou internacional, que não nos encha a cabeça com a crise dos refugiados. Ora são refugiados de guerra, ora são refugiados políticos, noutros casos ainda, refugiados da fome que pagam fortunas a redes ilegais de migração para atravessar o Mediterrâneo—e para, às vezes, nele perder a vida—, em suma, dizem as televisões e os jornais, uma crise humanitária a que os malvados europeus se têm mostrado cada vez mais insensíveis, sobretudo por causa do populismo de direita em ascensão.

Os argumentos, sempre lancinantes e vagos, da ONU e das ONG, por sua vez, deixaram de nos convencer, em parte, pela repetição das suas ladaínhas carpideiras sobre factos mal contados, e sobretudo mal explicados aos povos da Europa. 

Mas afinal, porque está esta questão a envenenar a política, a comunicação social, e as redes sociais europeias, ameaçando a estabilidade da União e da sua moeda? 

Se repararmos bem no quadro publicado na Statista, por Patrick Wagner (que aqui republicamos), dos 29 países que consam desta lista (UE + Turquia), à exceção da Letónia e da Estónia, onde o número de não nacionais residentes chega aos 12% e aos 6% das respetivas populações, em nenhum dos restantes países, até finais de 2017, a população de refugiados ultrapassa os 4,6% (Turquia). Nos casos sempre badalados —Alemanha, Holanda, Áustria, Itália, e França— os refugiados não chegam aos 2%. Por sua vez, na Suécia, célebre pela sua política de acolhimento a refugiados políticos, e onde a nova vaga de imigrantes corresponde 3,25% da sua população nacional, os protestos têm sido menos audíveis, e a proatividade das respetivas autoridades públicas praticamente exemplar.

Quando António Costa se mostra magnânimo perante os microfones da terrinha, afirmando que Portugal pode acolher mais refugiados, e afirmando também que já comunicou essa disponibilidade aos seus parceiros comunitários, está simplesmente a fazer figura de urso, e a fazer de nós parvos!

Portugal é o país de toda a União Europeia a 28 que menos refugiados acolheu em percentagem da sua população: 0,2% (1 682). A Espanha, para citar o país vizinho, recebeu 54 028, 1,2% da sua população, mais de cinco vezes mais em percentagem do que nós! Onde estão os jornalistas do meu país?!

A razão porque digo que a crise europeia de refugiados que entope os canais da informação é ainda uma crise menor e perfeitamente gerível com humanidade e bom senso, advém de uma comparação: a crise de refugiados em Portugal que se seguiu à descolonização precipitada pela queda da ditadura. Foram mais de 500 mil pessoas, das quais pouco mais de metade nascida no continente europeu, ou seja, no total, 5% da população portuguesa residente à época!

Os então chamados “retornados” trouxeram enormes problemas de gestão e administração a um país por sua vez abraços com uma crise pré-revolucionária sem precedentes. No entanto, há quem pense, e bem, que este afluxo de refugiados trouxe mais benefícios do que prejuízos.

A crise europeia de refugiados, em boa parte causada pelos americanos e pelos europeus desde a Guerra do Iraque (2003-2011) —a que se seguiram a Guerra Civil Iraquiana, a Primavera Árabe, e a Guerra da Síria—, mistura-se com a guerra assimétrica movida contra os 'infiéis' americanos e europeus pelos movimentos radicais islâmicos, nomeadamente sob a forma de ataques terroristas de grande eficácia mediática. É nesta mistura explosiva entre crise de refugiados e guerra assimétrica que os governos europeus perderam o norte e a capacidade de gestão conjunta dos efeitos de uma crise que antes de ser de refugiados é sobretudo uma crise político-militar e uma crise bélica, onde religião, petróleo e gás natural fazem o cocktail de todas as desgraças.

Estou, neste tema, ao lado de Angela Merkel e dos suecos. É preciso desdramatizar (com informação clara e detalhada) as verdadeiras proporções da crise de refugiados, em vez de alimentá-la com gasolina e populismo político e mediático, como fazem a toda a hora as redações acríticas dos meios de comunicação, e os serviços secretos de vários países.

Quanto ao Governo português, recomendo mais vergonha nas palavras, ações concretas, e menos festarolas em volta do senhor António Vitorino e da sua eleição para a ONU de Guterres. A ONU inspira-me pouca ou nenhuma confiança no que faz pelo mundo.

sexta-feira, março 04, 2016

Beijocas no ar, tempestade no mar



Era assim que Leonid Brezhnev beijava Erich Honecker. Já as palmadinhas no cu...


Ao contrário da homossexualidade ainda enfiada no armário que predomina em Portugal, o beijo entre homens, e o beijo na boca entre homens eslavos, é um ritual muito comum, que as televisões difundiram por todo o mundo. Idem para os beijinhos entre políticos de sexos opostos. Passos beija Merkel, que beija Hollande, que beija a provocante Helle Thorning-Schmidt, que beija Jean-Claude Juncker... que beija José Manuel Durão Barroso!

Habituemo-nos à nova praxis. Se ao menos evitasse o empobrecimento da classe média.



quarta-feira, julho 01, 2015

Et in Arcadia ego

Nicolas Poussin. Et in Arcadia est (1637-38)

Estou no Paraíso, ou morto?


Islândia, Chipre, Grécia, e em dramas mais sofríveis, Irlanda, Espanha e Portugal, a que se foram juntando as aflições de italianos, franceses e britânicos, são peças de um dominó em metamorfose.

Este dominó chama-se ocaso da abundância capitalista.

Abundância, porque houve durante meio século, sobretudo na Europa ocidental, nos Estados Unidos da América e no Canadá, sociedades humanas muito produtivas, com elevados padrões de consumo e onde se desenvolveram e instalaram sistemas de segurança social extremamente baratos, representando uma fração exígua na poupança individual e coletiva gerada por uma produtividade económica que teve a sua origem na emergência de várias indutores historicamente excecionais (ao longo dos séculos 19 e 20), tais como a energia barata proveniente do carvão, e depois do petróleo e do gás natural, ou ainda da fissão nuclear, usada na forma de vapor motriz, eletricidade e explosão de gases sob pressão.

Esta enorme capacidade de produzir barato e em grandes quantidades (quantidades industriais) teve na energia abundante, barata e transportável, a sua condição necessária, mas não suficiente. Para que os excedentes que deram lugar à poupança e ao bem estar social pudessem ter existido foram necessários ainda duas condições essenciais: a tecnologia oriunda das primeiras sociedades de conhecimento organizado e capitalizado, e a disponibilidade colonial de matérias primas e contingentes de quase escravos obtidos pela via de um desenvolvimento económico, social, cultural e político desigual. Não podemos, pois, imaginar a extraordinária dimensão e complexidade das infraestruturas materiais e imateriais, e o bem estar do Ocidente e das suas classes médias, nem a ociosidade cultural de franjas significativas e crescentes das suas populações, e muito menos o aumento espetacular da longevidade das gentes destes paraísos que ainda hoje atraem migrações gigantescas, sem pressupormos a conjugação provavelmente irrepetível das circunstâncias descritas.

À medida que esta conjugação de recursos e interações dinâmicas se expandiu por todos os continentes, ao mesmo tempo que se produzia uma equalização tímida entre o primeiro mundo (Estados Unidos e seus aliados desenvolvidos) e os segundo (União Soviética e seus aliados) e terceiro (os países neutros e não-alinhados—em geral, subdesenvolvidos) cresceu, por um lado, a população mundial e diminuiu, por outro, o ritmo de crescimento da riqueza média individual, ao mesmo tempo que os recursos naturais foram sendo submetidos a uma pressão ecológica cada vez mais destrutiva, e aumentaram os custos totais de cada unidade de PIB produzido no planeta.

Capitalista, porque o modo como toda esta explosão produtiva ocorreu e se desenvolveu é um fruto genuíno das sociedades capitalistas nascidas e desenvolvidas na Europa ao longo dos séculos 15, 16, 17, 18, 19 e 20.

As sociedades capitalistas comerciais e a luta pela criação de instituições laicas e democráticas foram determinantes nos séculos 15, 16, 17 e 18, as sociedades comerciais e industriais empurraram os séculos 19 e 20 para a era do crescimento rápido e da modernidade urbana e internacional, finalmente as sociedades comerciais, industriais e financeiras do século 20 expandiram exponencialmente o novo modelo de sociedade afluente e cosmopolita, através de guerras e revoluções brutais. Por fim, o início do século 21 marca o pico e provável ocaso de uma era de crescimento rápido inflacionista, e o início de uma nova era de crescimento moderado: deflação, queda dos rendimentos médios per capita, e absoluta necessidade de um renascimento científico e cultural suficientemente forte para nos convencer de que a felicidade não está no consumo conspícuo, nem no desperdício, nem muito menos na destruição dos ecossistemas, mas numa nova aventura por vir.

O fim do socialismo como o conhecemos

Os movimentos socialistas, nomeadamente sob influência do marxismo, serviram sobretudo o desejo do proletariado industrial e dos povos mais atrasados e submetidos a formas de exploração e despotismo pré-modernos, de se aproximarem da abundância e da liberdade inerentes ao capitalismo criativo. O maniqueísmo e messianismo judaicos de que vinham impregnados, nomeadamente sob a forma da teleologia hegeliano-marxista, foi e continua a ser para muitos um modo de fé travestido de pseudo cientismo dialético. Daí, aliás, a sua extrema fraqueza pragmática e incapacidade crescente de olhar para a realidade sem o véu da fantasia, da hipocrisia e do oportunismo.

A falência das esquerdas tem pois uma origem que não é apenas conjuntural à crise das democracias do bem-estar, nem sequer apenas um fruto podre do desaparecimento do proletariado industrial entretanto substituído por máquinas inteligentes, ou da emigração do trabalho produtivo para as antigas colónias dos antigos impérios europeus e americano. A falência das burocracias sociais-democratas e socialistas, a falência dos cadáveres adiados do estalinismo e das novas eflorescências geneticamente modificadas da esquerda radical, são uma espécie de resto da História em movimento. Daí o estilo populista e de farsa que as suas encenações cada vez mais exibem.

Os novos revolucionários são, como sempre foram, terroristas. A sua emergência explosiva e suicida no início deste século denota uma realidade, só por distração, inesperada, que precisa de ser estudada e entendida. O desespero que indivíduos, tribos do deserto e urbanas, sociedades inteiras, amanhã países, transportam sob o manto de uma ressurreição religiosa é real e é profundo. Não percamos tempo com os motards do Syriza!

Propagar, pela via da demagogia que reduz e vitupera, anamorfoses ilusionistas da complexidade do momento que vivemos é um erro que poderemos pagar caro. O abrandamento do crescimento mundial é um fenómeno complexo, mas inexorável. Acontece numa fase da humanidade em que as desigualdades económicas entre pessoas, cidades, países e regiões estratégicas continuam muito acentuadas, acontece num momento em que a aproximação dos rendimentos entre os continentes, e sobretudo entre os países mais populosos do planeta e o Ocidente rico, propiciado pelo desenvolvimento rápido dos chamados países emergentes, começa a abrandar. Se não forem a Europa, os Estados Unidos, a Rússia, a China, o Canadá e a Austrália a promoverem novas estratégias partilhadas de equidade económica, social e cultural, quem será?

Houve uma fuga em frente quando nos deparámos nos idos anos 70 do século passado com os limites do crescimento. Essa fuga acabaria por traduzir-se num endividamento astronómico dos governos, das empresas e das pessoas, sobretudo no Ocidente desenvolvido. À queda permanente dos rendimentos do trabalho, mas também do capital, respondeu-se com derivados especulativos sobre o futuro, transformando o imobiliário, as obras públicas injustificadas e insustentáveis, a hipertrofia dos governos e das burocracias, o automóvel, a educação, e a especulação com taxas de juro e moedas, em fichas viciadas dum casino global. As bolhas incharam, são muitas e gigantescas, e estão a rebentar desde 2007.

É por isso que as imagens do sofrimento e da aflição das pessoas, pungentes nos casos das crianças e dos idosos, seja em Nova Iorque, Atenas, no Cairo, Damasco, Lampedusa, ou amanhã em Lisboa, devem servir-nos para pensar e não atiçar os demónios do maniqueísmo partidário e religioso.

Os governos gregos fizeram pouco até hoje para emendar o seu estilo de vida insustentável, uma vez percebido que o mundo mudou. Aos eurocratas e aos burocratas do FMI, por sua vez, faltou melhor comunicação com as populações e com as elites gregas. A senhora Merkel, por fim, talvez tenha razão, mas enquanto não cuidar dos piratas do Deutsche Bank ninguém lhe dará ouvidos!

A bancarrota grega não chega para abalar os mercados de capitais de forma decisiva. Este foi o erro de cálculo de Varoufakis, Tsipras e Putin, e que custou aos pobres pensionistas e desempregados gregos um agravamento brutal do seu dia a dia.

A bancarrota grega vai marcar uma viragem na Europa, e provavelmente no mundo ocidental. Vamos todos perceber até ao fim deste ano que o mundo está mesmo a mudar, e que precisamos de o reinventar.

domingo, junho 28, 2015

Grécia fora do euro no dia 1 de julho

Greece’s Prime Minister Alexis Tsipras delivers a speech to the lawmakers during an emergency Parliament session tonight. Photograph: Petros Karadjias/AP

O referendo anunciado por Tsipras e aprovado pelo parlamento grego morreu antes de nascer, por efeito deste simples mas irremediável comunicado emitido pelo Eurogrupo na tarde de 27 de junho de 2015:


Since the 20 February 2015 agreement of the Eurogroup on the extension of the current financial assistance arrangement, intensive negotiations have taken place between the institutions and the Greek authorities to achieve a successful conclusion of the review. Given the prolonged deadlock in negotiations and the urgency of the situation, institutions have put forward a comprehensive proposal on policy conditionality, making use of the given flexibility within the current arrangement.
Regrettably, despite efforts at all levels and full support of the Eurogroup, this proposal has been rejected by the Greek authorities who broke off the programme negotiations late on the 26 June unilaterally. The Eurogroup recalls the significant financial transfers and support provided to Greece over the last years. The Eurogroup has been open until the very last moment to further support the Greek people through a continued growth-oriented programme.

The Eurogroup takes note of the decision of the Greek government to put forward a proposal to call for a referendum, which is expected to take place on Sunday July 5, which is after the expiration of the programme period. The current financial assistance arrangement with Greece will expire on 30 June 2015, as well as all agreements related to the current Greek programme including  the transfer by euro area Member States of SMP and ANFA equivalent profits.

The euro area authorities stand ready to do whatever is necessary to ensure financial stability of the euro area.

[1] Supported by all members of the Eurogroup except the Greek member.

Já na manhã de sábado Tyler Durden escrevia:

"... moments ago Varoufakis was quoted as saying he would ask the Eurogroup for a bailout extension of a few weeks to accommodate the referendum. 

And the punchline: if the Eurogroup says "Oxi", then the entire Greek gambit, which has been a bet that to Europe the opportunity cost of a Grexit is higher than folding to Greek demands, collapses.

If the Eurogroup declines Varoufakis' request, there simply can not be a referendum, as the "institutions proposal" will no longer be on the table. As such, the only question is whether the ECB will also end the ELA at midnight on June 30, adding insult to injury, and causing the collapse of the Greek banking system days ahead of a referendum whose purpose would now be moot."

in Zero Hedge, 27/6/2015

Poderá haver ainda um volte-face?

Espera-se que o BCE aguente os bancos gregos até dia 5 de julho, mas não depois desta data se o resultado do referendo grego for não às condições exigidas pelos credores. Se for sim, então poderá haver uma regresso in extremis à mesa das negociações que, entretanto, deixará oficialmente de existir no dia 30 deste mês.

Mas neste caso em que posição ficará o governo de Tsipras? E o Syriza?

Que peso terão a Rússia e a China nesta fase do campeonato? A situação caminha rapidamente para uma zona perigosa, onde não perder a face, de ambos os lados do conflito, é cada vez mais difícil.

Assim começam todas as guerras :(


POST SCRIPTUM

Dois artigos de leitura obrigatória: "Como resolver a crise grega?", de Paul De Grauwe, e "Dias de Big Bang europeu", de Maria João Rodrigues, ambos no Expresso desta semana. Recomendação: a tradução do artigo de Paul De Grauwe publicada no Expresso, além de truncada, é má. Logo recomendo a leitura do original.

Sabia que a dívida pública efetiva da Grécia poderá estar abaixo dos 90% do PIB, e que os juros pagos pela mesma representam um esforço orçamental inferior ao da Espanha, ao de Portugal e mesmo aos da Bélgica e França? Sabia que a dívida portuguesa efetiva deve andar pelos 165% do PIB (130% reconhecidos no perímetro orçamental + 35% de PPP)? Cuidado, pois, com a situação grega, nomeadamente pelo ricochete que poderá fazer em breve sobre Portugal. Não se endivide!

Por outro lado, quer Merkel e o Eurogrupo consigam conservar a Grécia na Zona Euro, quer a façam regressar ao dracma, a União Europeia será uma nova realidade depois deste verão, e não será nada favorável aos populistas profissionais da esquerda, os quais sempre souberam gastar dinheiro, mas não sabem nem o que é o dinheiro, nem como de cria.

Atualizado em 28/6/2015 13:13

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Grexit?

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BCE tirou o tapete à Grécia, mas não é a primeira vez...


Grexit? Aparentemente o BCE fez xeque-mate ao Syriza, i.e. a um governo democraticamente eleito, retirando-lhe o tapete de acesso às garantias até hoje dadas pelo BCE aos tomadores de dívida pública grega, i.e. os bancos e fundos privados gregos e de outros países. Será que o Syriza continuará em frente, ou vai desviar-se da colisão? Se não se desviar, quem sofrerá mais com a colisão? A Grécia, que já pouco tem a perder, ou a desnorteada e subserviente Europa, que se arrisca a ver uma desintegração do euro em menos de um ano?

BCE deixa de aceitar dívida pública grega como garantia nos empréstimos aos bancos
Observador

O Banco Central Europeu suspendeu hoje a dispensa das regras de rating mínimo no uso da dívida pública grega como garantia nos empréstimos do BCE à banca comercial, dizendo que “não é possivel esperar-se nesta altura que a revisão do programa seja concluída com sucesso”. A decisão faz com que os bancos que têm dívida grega deixem de a poder dar como garantia ao BCE quando lhe pedem dinheiro emprestado. Falta de financiamento dos bancos gregos terá agora de ser compensada pelo Banco Central da Grécia.

Será que Matthieu Pigasse (Lazard Bank), contratado por Yanis Varoufakis para desenhar soluções digeríveis para a bancarrota grega, falou, ou deixou falar, antes de tempo? Calculou mal a jogada? Ou será que a reação de Draghi e dos demais bancos centrais europeus constava dos seus cenários—aliás tornados públicos, nomeadamente, pela Bloomberg, no dia 1 de fevereiro? Amanhã saberemos.

What’s Going On with Greece and the ECB?
Bull Markethttps://medium.com/bull-market/whats-going-on-with-the-ecb-and-greece-3821de717625

Rules Require Cutting Off Greek Government Bonds?

[...]

“There will be no surprises if we find out that a country is below that rating and there’s no longer a program that that waiver disappears,” ECB Vice President Vitor Constancio said at an event in Cambridge, England, on Saturday.

If Vice President Constancio is referring to cutting off eligibility of specific bonds as collateral, that argues against the ECB’s’s current “official” approach being one of threatening a full cut-off of funds. Still, the idea of “junk-rated bonds are only eligible if a country is in a program” being part of “the ECB’s rules” is an over-statement. In truth, the ECB makes up these rules as it goes along and the “in again, out again” routine with Greek government bond eligibility is a long-standing one at this point.

Se repararmos bem no mapa dos gasodutos existentes, parcialmente construídos, ou em projeto, destinados a levar gás natural à Europa, perceberemos claramente que a Ucrânia e a Grécia são dois dos peões da estratégia de tensão em curso. A Alemanha, tal como a generalidade dos países do centro e norte da Europa, precisam de gás para não morrerem de frio no inverno.

Acontece que os Estados Unidos, seguindo a teoria estratégica de Halford Backinder, e do seu seguidor fiel, Zbigniew Brzeziński —consultor estratégico de Barak Obama—, consideram o controlo da Rússia essencial para impedir a supremacia da China, e de caminho também acham que quem controlar as reservas de petróleo e de gás natural, controla o mundo. Foi assim ao longo de todo o século 20. Será assim durante o século 21.

Depois da queda da União Soviética, os Estados Unidos montaram um apertado cerco militar à Rússia, através de alianças e da promoção de guerras regionais. A gota de água para a Rússia foi a tentativa de absorver a Ucrânia, berço da Rússia, na NATO. Perante a passividade dos europeus, e o oportunismo alemão, a Rússia respondeu à provocação, mostrando o que sucederia se o gás fornecido à Europa através da Ucrânia fosse interrompido. Daqui à escalada económico-financeira e militar foi um passo.

À medida que a Europa assustada procurava uma alternativa ao gás russo, lançando o fracassado projeto do gasoduto conhecido por Nabucco pipeline, que ficou no papel depois da desistência da Áustria, outros potenciais fornecedores de gás natural (Qatar-Irão, Iraque, Arábia Saudita, Israel, Turquemenistão) posicionaram-se no que passaria a ser uma corrida com implicações tremendas na região. O terrorismo, como exemplo típico de conflito assimétrico, a par de uma série de guerras vicariantes (proxy wars) em teatros localizados nas zonas de passagem dos vários potenciais gasodutos que querem concorrer com a Rússia no fornecimento de gás à Europa, passaram a entupir a paisagem mediática global com propaganda e imagens terríveis de ação psicológica.

Basta olhar para a importância que países como a Ucrânia e a Grécia têm nos acessos principais de gás natural à Europa para perceber que as discussões sobre as economias e os regimes políticos destes países não passam de pretextos que escondem jogos estratégicos fundamentais.

A recente descida abrupta do preço do petróleo esteve, afinal, relacionada com uma ofensiva dos Estados Unidos e da Arábia Saudita destinada a pressionar a Rússia a deixar cair Bashar al-Assad. Se Putin não ceder, arrisca-se a ver o seu país mergulhar numa crise financeira, económica e social que lhe pode ser fatal. Mas se ceder ao garrote dos preços baixos do petróleo, a quase exclusividade da Rússia no fornecimento de gás à Europa central, do norte e de leste, ficará comprometida.

A decisão do BCE, certamente determinada pela Alemanha, mas também pelos Estados Unidos, apesar das palavras carinhosas de Obama para com o novo poder grego, de aumentar a tensão na Grécia, tem mais que ver com a hipótese de uma aproximação entre a Grécia, a Turquia e a Rússia, do que com o problema da renegociação da dívida.


POST SCRITUM

É de notar que o mensageiro da decisão de o BCE tirar o tapete à Grécia foi o nosso querido e mui socialista Victor Constâncio. Que diz o sargento Costa e a nossa indigente Esquerda a isto?


RESPOSTA À PERGUNTA “TEM A CERTEZA QUE O EURO DESAPARECE?”

Não. Na realidade, o dólar quer apenas capturar o euro e fazer dele uma moeda subsidiária.

Ou seja, os Estados Unidos querem, compreensivelmente, manter a supremacia atlântica sobre a Eurásia, e para tal precisam de uma estratégia de pau e cenoura para com os alemães (euro sim, mas menos germanófilo).

Por exemplo, retirar à Rússia o monopólio de fornecimento de gás ao centro-norte-leste da União Europeia é um objetivo estratégico, que serve a Alemanha, a UE no seu conjunto, e os aliados da América no Médio Oriente: Arábia Saudita, Qatar, Israel...

No entanto, creio que os EUA querem mesmo enfraquecer a Rússia, para assim atingirem a China.

O perigo da situação vem daqui. E é neste sentido que a atuação do BCE e da senhora Merkel poderão, se o senhor Draghi não for pondo água na fervura, precipitar um choque frontal na Grécia (Grexit), de consequências imprevisíveis.

O colapso do euro, precedido de uma saída da Grécia, lançaria toda a Europa, a começar por Portugal, Espanha, Itália, França... numa situação particularmente complicada no que toca à reestruturação dissimulada (e em curso) das suas impagáveis dívidas (pública e privada).

Se em cima disto a Rússia, a Turquia e a China vierem em auxílio da Grécia, e em geral dos países europeus do Mediterâneo, teremos o caldo entornado.

Num cenário destes, a Rússia poderia mesmo fechar as torneiras à Ucrânia, i.e. à Alemanha; e poderia reforçar o apoio à Síria, bloqueando os gasodutos islâmico e árabe a favor dos gasodutos que vêm de Baku, do Turquemenistão e da Rússia, com passagem apenas pela Turquia, até chegar à Grécia.

A Europa precisará sempre de muito gás para se aquecer, não é verdade?

Resumindo, a questão financeira, e o problema grego, são muito mais do que o que aparentam.

As duas últimas guerras mundiais estiveram intimamente ligadas ao controlo das rotas do petróleo. A próxima grande guerra poderá acontecer por causa do controlo das rotas do gás.

A Alemanha já provou duas vezes que é incapaz de perceber os ventos da História, e que é suficientemente quadrada para se meter em armadilhas de onde depois não consegue sair.

É por isto que uma saída da Grécia do euro (Grexit), precipitada por comportamentos radicais do BCE e da Alemanaha, pode vir a rebentar com o euro, uma moeda demasiado atrelada ao invisível marco alemão!

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Atualização: 5/2/2015, 12:28 WET

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Obama apoia Syriza

President Barack Obama, shown in December, said there are limits to how far European creditors can press Greece as the country tries to restructure its economy.

E Angela Merkel? Pedirá aos alemães para regresssarem ao marco?


Obama diz, sobre a Grécia, que não se pode continuar a espremer um país quando está no meio duma depressão. O jogo geoestratégico entre os EUA, Rússia e China soma e segue. Merkel e o resto dos lémures europeus limitam-se a guinchar, de vez em quando.
President Barack Obama expressed sympathy for the new Greek government as it seeks to rollback its strict bailout regime, saying there are limits to how far its European creditors can press Athens to repay its debts while restructuring the economy.

“You cannot keep on squeezing countries that are in the midst of depression. At some point there has to be a growth strategy in order for them to pay off their debts to eliminate some of their deficits,” Mr. Obama said in an interview with CNN’s Fareed Zakaria aired Sunday.

He said Athens needs to restructure its economy to boost its competitiveness, “but it’s very hard to initiate those changes if people’s standards of livings are dropping by 25%. Over time, eventually the political system, the society can’t sustain it.”

Mr. Obama expressed hope that an agreement would be reached so Greece can stay in the eurozone, saying, “I think that will require compromise on all sides.”

Mas há mais...


Hollande também apoia a Grécia, e Matthieu Pigasse —antigo administrador do ministério da economia francês e diretor-geral delegado do banco Lazard, entretanto contratado por Yanis Varoufakis— sugere a possibilidade de um corte de cabelo na dívida pública grega na casa dos 50%!  O dominó do euro parece cada vez mais inevitável. Convém começar a poupar feijões, pois talvez venham a servir como moeda pós-euro!

France Open to Easing Greek Debt Burden: Finance Minister

Bloomberg
by Helene Fouquet
1:44 PM WET
February 1, 2015

[...]

Varoufakis appointed Lazard Ltd. as adviser on issues related to public debt and fiscal management on Saturday.

“There is a range of possible solutions: extending the maturities, lowering interests rates, and the much more radical solution, the haircut,” Matthieu Pigasse, the head of Lazard’s Paris office who has advised Greece in the past, said in a Jan. 30 interview on BFM Business television. “If we could cut the debt by 50 percent” he said, “it would allow Greece to return to a reasonable debt to GDP ratio.”

He said Greece’s debt to public creditors was about 200 billion euros.

Sapin and Varoufakis plan to make a joint statement in Paris on Sunday evening.

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  • O nó grego. Alemanha isolada? — O António Maria
  • The Tide Is Turning: Obama "Expresses Sympathy" For Greece; Lazard Says 50% Greek Haircut "Reasonable"— Zero Hedge.

domingo, fevereiro 01, 2015

Grécia manda Troika bugiar

Presidente do Eurogrupo e o novo ministro das finanças grego

Dijsselbloem para Varoufakis: “You Just Killed The Troika”


E agora, Tia Merkel? E agora, Grécia? Será que a Rússia, os chineses e o resto dos BRICS propuseram a Tsipras um Plano B? Obama e Cameron abriram, aposto um G'Vine, várias garrafas de Champagne por esta inesperada, ou talvez não, derrota alemã. Mas o calvário continua... e as ondas de choque, em breve, varrerão a pacatez lusitana que tem aturado uma democracia capturada por gente imprópria.

O novo ministro grego das finanças, professor universitário e um blogger dos quatro costados, esclareceu mais tarde a BBC sobre o grande burburinho que se levantou depois da pedrada no charco que foi a conferência de imprensa que reuniu o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e o novo ministro das finanças grego, Yanis Varoufakis, e onde o primeiro teria confessado, entre dentes, ao segundo, quando ambos abandonavam a conferência de imprensa: “You Just Killed The Troika!” Ao que Varoufakis teria replicado: “Wow!”

Neste esclarecimento (YouTube) o ministro teve a preocupação de explicar que a Troika, na sua qualidade de mandatária da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional, deixou de ser uma interlocutora útil para a Grécia, como para qualquer outro país da União Europeia, na medida em que as receitas prescritas e em boa parte seguidas pelos países sob programa de resgate não deram os resultados prometidos. Os países da União têm assim que dialogar diretamente com os credores, e sobretudo com as instituições europeias de que são membros de parte inteira, sobre a crise sistémica em curso e novas estratégias para lhe fazer frente.

O que começou por ser um problema da periferia disfuncional, burocrática e corrupta da UE, progrediu entretanto em direção a norte: França, Bélgica, Reino Unido, Áustria, Holanda e Alemanha. A Alemanha, por exemplo, infrige há algum tempo o limite de 60% do PIB imposto pela UE em matéria de dívida pública. Em 2013, segundo The World Factbook, a sua dívida pública era de 79,9% do respetivo PIB.

Mas regressando à entrevista dada à BBC por Yanis Varoufakis, convém ressalvar que o mesmo reconheceu relativamente à Grécia que o país precisa de uma verdadeira reforma estrutural e de uma repressão fiscal a sério. O que houve, por obra da direita e dos especuladores agora derrotados nas urnas, foram 1) deformas estruturais e 2) transferências fiscais maciças, dos mais pobres e da classe média, para os mais ricos e para os fariseus da Troika. Ou seja, há que ir ao fundo dos problemas, e rejeitar liminarmente a ideologia austeritária do banksterismo dominante e suas subservientes burocracias. Não por estas palavras, mas foi o que disse.

Aparentemente, mesmo antes de ser eleito, o Syriza levou a Carta a Garcia, neste caso a Mario Draghi, para que o hegemonismo quadrado dos alemães fosse decisivamente contrariado.

É pos isto mesmo que a frase de Jeroen Dijsselbloem para Yanis Varoufakis (Keep Talking Greece) — Acabastate de matar a Troika—é mais consequente do que parece.

terça-feira, junho 10, 2014

O socratino Pinho

Manuel Pinho mosta os chifres na Assembleia da República

O corno de pinho apressa-se antes que a Dona Branca Espírito Santo seja atingida por um raio!


Manuel Pinho negoceia reforma com o grupo Espírito Santo
Ecofinanças - extraído de: publico.pt.economia

Manuel Pinho regressou ao grupo liderado por Salgado em 2009

Vinte anos depois de ter entrado no grupo BES, o ex-ministro da Economia de José Sócrates, Manuel Pinho, de 60 anos, está a negociar com Ricardo Salgado a sua reforma antecipada. Em paralelo com a actividade de docente, Manuel Pinho exerce actualmente as funções de vice-presidente da holding BES África, auferindo mensalmente cerca de 50 mil euros, o que abriu espaço a que possa reclamar cerca de 3,5 milhões de euros de compensações até à idade da reforma (65 anos).

Manuel Pinho é o vice-presidente da holding BES África. Como?!
Não foi em África que o BES perdeu 5 pontes Vasco da Gama e 7 Casas da Música?

São prendas destas que devemos recordar —nomeadamente na pugna resultante da tentativa dos soaristas, socratinos e criaturas de avental tomarem de assalto a direção legítima do PS— quando vemos o socratino António Costa na televisão....

Se a malta fina do Partido Socialista continuar a legitimar o golpismo descarado de Mário Soares e das suas tropas —derruba-se o governo, despede-se o presidente, arruma-se o Tozé— terá que se ir preparando para o coice que certamente vai levar da sociedade, e depois da Direita!

O país está na falência, mas como Mário Draghi anunciou que fará whatever is necessary para proteger o euro e a União Europeia, e Merkel tem todos ou quase todos os trunfos na manga, a 'esquerda' corrupa acordou em sobressalto, pois já anteviu a espécie de Plano Marshall que aí vem, e não quer perder pitada. Corrigo: quer voltar a abotoar-se com tudo o que puder, calando o Bloco, o Livre e o PCP com côdeas, e atirando cenouras e broa à populaça.

O golpismo patético de Mário Soares é de tal ordem que só pode mesmo legitimar uma réplica à altura.

POST SCRIPTUM

No essencial, o que Mário Soares e a sua corte querem é o regresso em pleno do Bloco Central da Corrupção. Quem lidera a parte laranja desta conspiração?

quarta-feira, janeiro 29, 2014

Tia Merkel, cuidado!



Olhe bem para a geografia histórica da Europa!

A chanceler alemã quer um novo impulso no sentido da criação de uma “verdadeira união económica” e volta a insistir na necessidade de se reverem os Tratados europeus. A crise da dívida soberana não está ainda superada, frisou — Jornal de Negócios, 29/1/2014.

União económica europeia sem hegemonia alemã, união bancária sem hegemonia alemã, disciplina orçamental na Europa e nos países que a compõem, tudo bem. Mas se a ideia é confiscar as terras e as casas dos portugueses para encher o cu aos banqueiros alemães de Frankfurt, como fizeram na Alemanha depois de duas pesadas derrotas militares, esqueça! Se for por aí, a Alemanha só poderá esperar mais uma grande tragédia :(

Esta animação explica tudo...

POST SCRIPTUM

Passaram só 69 anos desde a libertação de Auschwitz, e por boa fé tendemos por vezes a esquecer o que a Alemanha nazi foi capaz de fazer ao seu país, na Europa e no mundo, há tão pouco tempo e em tão pouco tempo. Também tendemos a esquecer que metade da Alemanha viveu, depois da guerra, quase meio século sob um regime de ditadura comunista-estalinista, e que a a senhora Merkel é um produto genuíno da Alemanha de Leste. Em suma, voltamos a ter que despertar para a obsessão germânica pelo Lebensraum. A propósito, uma reportagem premiada sobre Auschwitz —Pretérito Mais do que Presente— realizada por Joana Sousa Dias.

domingo, dezembro 15, 2013

Alemanha aponta caminho: mais democracia!

Sigmar Gabriel (E), chefe do Partido Social-democrata (SPD) e Horst Seehofer (D), líder do CDU, apertam as mãos observados pela chanceler, Angela Merkel (C), que segura uma versão impressa do acordo de coalizão (AFP/Arquivos, JOHN MACDOUGALL)

Alemanha e a Grande Coligação: um processo histórico de decisão que aponta o futuro dos processos democráticos na Europa. Menos partidocracia e mais referendos. As pessoas não são estúpidas!

Euronews: A Alemanha vai ter um governo de grande coligação. Os militantes social-democratas aprovaram por larga maioria a coligação governativa com os democratas cristãos de Angela Merkel, depois das eleições de setembro não terem dado uma maioria absoluta.

No referendo no maior partido da oposição da Alemanha, o SPD, votaram 396 mil membros dos 475 mil que compõem o partido. O anuncio do resultado coube à tesoureira do partido, Barbara Hendricks, em Berlim, que deverá ser a próxima ministra alemã do ambiente.

Hendricks declarou que “75% dos votantes” aprovaram o acordo de coligação com os conservadores de Angela Merkel.

Em Portugal, para aqui chegarmos, vai ser preciso mudar as lideranças do PS, do PSD e do PCP. Vamos ter também que esperar pela saída do Pastel de Belém. Mas a corrida para uma metamorfose do regime democrático já começou. As próximas eleições europeias serão muito importantes para mostrar que há uma maioria de eleitores e de portugueses que não se reconhecem, nem nos excessos ideológicos da Constituição, nem na partidocracia, nem na corrupção. Queremos mais democracia e menos burocratas!

Queremos acabar de vez com o predomínio dos cleptocratas, rendeiros e devoristas na tomada de decisões que são da exclusiva responsabilidade e direito exclusivo dos eleitores e seus legítimos representantes.

Como o síndroma da Cadeira de Salazar continua patente, vai ser preciso alguém dar um pequeno empurrão para a bola começar a rolar de uma vez por todas.

PS: aos que temem o regresso dos piratas que afundaram o país ao topo da pirâmide digo: basta haver consenso num ponto: quem nos trouxe até este buraco não pode tirar-nos do buraco. Simples e direto!

sexta-feira, outubro 25, 2013

Desmantelar a espionagem americana na Europa?

Angela Merkel classifica espionagem americana de 'inaceitável'.
Foto ©Reuters/Fabrizio Bensch

O tiro do dólar contra o euro começa a desmoronar-se com estrondo

França e Alemanha vão liderar negociações anti-espionagem com os Estados Unidos
Revelações de Edward Snowden marcam cimeira de líderes europeus — Público, 25/10/2013 - 06:56.

Eu se fosse a Merkel a primeira coisa que exigiria dos países sob ajuda comunitária é que pusessem imediatamente na rua os agentes infiltrados nos respetivos estados pelo governo e sistema financeiro americanos. A guerra financeira do dólar conta o euro foi montada com base numa rede de espionagem e pressão sobre os governos europeus. É preciso desfazer esta rede imediatamente!

As relações entre a Goldman Sachs, o Citibank, o JPMorgan e Portugal devem ser analisadas em pormenor e, se for o caso, investigadas criminalmente. Os conflitos de interesse implícitos em pessoal do governo em funções, como é o caso do senhor Moedas, precisam de ser esclarecidos cabalmente, para sossego de todos nós.

segunda-feira, junho 25, 2012

Adeus TAP :(

Acabaram-se os balões do gaúcho. Agora é só pedir-lhe contas!

Por muito que me custe anunciar, a TAP morreu

A TAP foi gerida por piratas (nomeadamente do outro lado do Atlântico) ao longo de muitos anos. Serviu para tudo menos para se adaptar aos turbulentos tempos da globalização aérea, do fim do petróleo barato, e da União Europeia. Os principais responsáveis deste desastre anunciado, porém, são os cagarros indígenas da Assembleia da República, ou seja, todos os partidos políticos a quem tão bem soube as centenas de milhar de horas de voo à borla do buraco financeiro que a empresa pública agora tem, na ordem dos três mil milhões de euros, mas que só conheceremos inteiramente quando fizerem as continhas todas.

Resumindo:
  • A maioria do capital da TAP não pode ser vendido a nenhuma empresa não europeia, aliás, não comunitária, donde a inutilidade do Carnaval montado pelo gaúcho y sus muchachos em torno dos famigerados candidatos brasileiros, chilenos, colombianos, árabes e singapurenses.
  • Na Europa atribulada de hoje só vejo uma empresa eventualmente disposta a colher o despojos, isto é, as rotas, os slots, os pilotos, os engenheiros e técnicos de manutenção e os doze novos A350 XWB e os oito novos A320 (1) encomendados à Airbus em 2007 e com entrega prevista à insolvente TAP a partir de 2013: a empresa alemã Lufhtansa.
  • A barragem de propaganda montada pelas agências de comunicação que tem inundado de quimeras a nossa indigente imprensa já não serve para nada, e espero bem que sofra a mais do que merecida máquina zero em sede de cobrança de honorários (certamente escandalosos).
  • Em minha opinião, o CA da empresa agiu de forma dolosa e contra os interesses da TAP e do país, e como tal deve ser objeto de um inquérito rigoroso, e os eventuais responsáveis exemplarmente punidos.
  • Os sindicatos afetos ao mais do que excedentário pessoal da companhia perderam, por sua vez, uma boa oportunidade para contribuir de forma inteligente e construtiva para o spin off (tantas vezes aqui proposto) que teria eventualmente salvo a TAP de uma falência desordenada, como a que está em curso.
  • Como é possível que no grupo de consultores financeiros para a privatização da TAP estejam lá os representantes do problema (2), e não das soluções possíveis?
  • Finalmente, uma grande dor de cabeça para este governo: se quiser privatizar a TAP terá que desembolsar os tais 3.000.000.000€ antes de vender o grupo, pois nenhum idiota, nesta altura do campeonato mundial da Grande Depressão, irá comprar uma dívida destas a troco das virgens que estão no Céu; por outro lado, se o governo tapa o buraco, ou não vende a companhia, que vem a dar contabilisticamente no mesmo, lá se vai, também por este lado, o controlo do défice de 2012 e de 2013.

Sophie Howard gostava muito de ser hospedeira de Primeira Classe. Será que, com imaginação, ainda se poderá salvar a TAP?
 
Fénix TAP?

O tempo da reestruturação, ou da preparação inteligente da TAP para uma privatização virtuosa, já passou, e não volta atrás, por culpa de todos, mas mais de alguns do que de outros. É notória a tentativa persistente de empurrar o desastre para o colo do Álvaro e do Gasparinho. Eu se fosse PM entalava sem remorsos os piratas que destruiram a empresa e combinava com a tia Merkel uma saída airosa para este furúnculo cheio de pus. Deixa-se a empresa morrer de morte súbita (por um qualquer incumprimento financeiro), e depois permite-se que a ave renasça no dia seguinte, pura e leve como uma passarinha!

Uma saída suíça para a TAP? Claro! 

O governo pode e deve dar corda ao gaúcho, até que o incumprimento ocorra. Nesse momento crucial, intervém, obriga o CA da TAP a declarar falência e move-lhe de imediato um grande inquérito. Uma comissão administrativa de emergência toma então conta da ocorrência e das operações até que uma nova TAP nasça notarialmente, limpa de boa parte dos compromissos, com um preço para o Estado, naturalmente, mas salvando-se, pelo menos em parte, a honra da companhia.

Vendendo a maioria da empresa à Lufhtansa, mantendo embora uma pequena percentagem de capital público lusitano em mãos, por exemplo, da Caixa Geral de Depósitos (para isso serve a tia Merkel), o processo de concentração industrial e financeira da União Europeia daria um passo certo, na direção certa e sem grandes traumas. O governo pagaria um preço, repito, mas sairia vencedor daquele que é certamente o seu maior desafio até ao fim deste ano e início do próximo.

Deixem a ANA em paz

Quanto à ANA, por favor, Pedro Passos Coelho, Álvaro Santos Pereira e Vítor Gaspar, não misturem alhos com bugalhos! Deixem o processo de privatização da gestora aeroportuária seguir o seu caminho autonomamente. Se houver comprador, excelente. Se não houver, melhor ainda, pois são receitas certas para o Estado, pagas a tempo e horas pela Ryanair, easyJet, Emirates Airlines... e TAP-Lufhtansa :)

Metro do Aeroporto

E por fim, no próximo mês de julho (deste ano!) não se esqueçam de inaugurar a estação de Metro do Aeroporto e de puxar as orelhas até sangrar aos gestores daquela coisa — o Metro de Lisboa.


POST SCRIPTUM

Conversa fiada: “Sérgio Monteiro: Reuniões para privatizações da TAP e da ANA decorrem a ‘grande ritmo’” (Negócios online).


ÚLTIMA HORA

Controladores de tráfego áereo provocam o caos com ou sem greve. Jornal de Negócios on-line, 28 Junho 2012 | 00:01

Os controladores de tráfego, desde o pré-aviso de greve, já causaram o caos em vários sectores de actividade, como confirmou o Negócios junto de vários intervenientes. À hora de fecho ainda não se sabia se os trabalhadores da NAV – Empresa Pública de Navegação Aérea de Portugal iriam ou não desconvocar a greve que está prevista arrancar amanhã. Mas haja ou não paralisação, certo é que há perdas irrecuperáveis: viagens canceladas, concertos alterados, voos parados. "Esta greve está a ser arrasadora para o sector do turismo, está a ser um caos", defendeu ao Negócios Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo. 

Alguém anda à procura de justificações para a insolvência pirata da TAP!

O governo só tem que fazer uma coisa: anunciar previamente a requisição civil (e militar se for preciso) de todos os funcionários públicos e/ou trabalhadores de empresas públicas que decidam avançar para greves que prejudiquem gravemente as populações e o país. É tempo deste governo preparar um back-up de segurança do sistema....

Ou será que os cagarros da Assembleia da República pretendem que os seus generosos vencimentos passem a ser pagos exclusivamente com as remessas dos cidadãos portugueses que alienaram para a emigração? É que a torneira dos impostos alemães fechou!

Álvaro Santos Pereira disse hoje ter recebido sinais de “interesse verdadeiro, real e importante” nas privatizações da TAP e ANA. Económico, 27/06/12 16:24

“Nestas coisas, o segredo é sempre a alma do negócio. Existe um interesse verdadeiro, real e importante nas duas [TAP e ANA]. Faz todo o sentido ter um ‘hub’ em Portugal porque a TAP tem mais de 70 voos para o Brasil, mais de 70 voos para África e é importante estimular este ‘hub’ da Lusofonia porque a TAP, como empresa bandeira do país, tem uma valência muito grande ao nível das companhias de aviação internacionais”, disse hoje o ministro da Economia numa entrevista à agência Reuters.
Eu creio que o ASP está a fazer bluff — e se estiver, será a morte política deste artista!

Além do mais não percebo como se pode vender a uma mesma empresa (pelos vistos, chamada Alma do Negócio ;) uma companhia aérea e um monopólio público aeroportuário. Que faria às companhias concorrentes o monopólio ANA, se passasse a ser um monopólio privado associado a uma futura TAP privada? No mínimo, abusariam da sua posição dominante. Ora não vejo como é que Bruxelas poderia alguma vez autorizar semelhante pessegada :(

Por fim, não percebo o que quer ASP dizer quando fala em manter a TAP como uma “empresa de bandeira”. Pode explicar-se, por favor, ou também é segredo?

Santos Pereira: Governo está a "desenhar" o caderno de encargos para privatização da ANA. Jornal de Negócios online /LUSA 26 Junho 2012 | 19:27 
Álvaro Santos Pereira fez saber ao fim da tarde de hoje que está a "desenhar" o caderno de encargos da privatização da ANA. Leu certamente esta humilde crónica. Ainda bem! Concluo duas coisas: a rentável ANA deixou de ser o pau de cabeleira da insolvente TAP, e enquanto o governo desenha e não desenha o caderno de encargos, o assunto TAP terá que ser despachado, seja como for. E eu insisto: não percam mais tempo, conversem com a Lufthansa sem intermediários, dispostos a negociar a sério, afastando liminarmente das negociações quem até agora andou a sabotar o processo. O gaúcho tem uma fisgada: levar um ou dois ministros deste governo ao charco. E olhem, meus caros Álvaro e Gaspar, o homem que foi desde o início contratado expressamente para privatizar a TAP tem uma procissão de ajudantes atrás de si, a salivar e de cu pró ar!

Ministro da Economia equaciona combater greves na aviação com requisição civil. Jornal de Negócios on-line, 27 jun 2012 09:47

O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, está a pensar em recorrer à requisição civil para combater os previsíveis prejuízos das novas paralisações anunciadas pela NAV e o Sindicato de Pilotos de Aviação Civil (SPAC).

A nenhum setor estratégico e/ou público deve ser tolerado o direito à greve enquanto durar a aplicação do Programa assinado pela maioria esmagadora da representação política portuguesa com a Troika. Tão simples quanto isto!

É uma suspensão da democracia? É. Temporária, mas é.

Há, porém, outras formas de diálogo e de luta democráticos que os trabalhadores e sindicatos podem desenvolver sem prejudicar ostensivamente a economia, a diplomacia e quem trabalha. O caso das greves no setor dos transportes, seja de pessoas, seja de mercadorias, dos barcos aos aviões, passando pelo comboios e autocarros, é um escândalo e a prova de que o Partido Comunista continua preso na caverna do Estalinismo e da Guerra Fria.

Além do mais, quer-me parecer que a greve anunciada dos pilotos da TAP é mais um conluio espúrio entre os mais bem pagos da empresa —mais bem pagos, aliás, do que a maioria dos seus colegas administradores e pilotos por esse mundo fora... Também me quer parecer que o CEO da TAP não pára de conspirar contra a tutela e contra este governo. O PM que não acorde a tempo, e ainda voltará a ler este post muitas vezes :(


NOTAS
  1. Ao que parece, esta parte da encomenda caiu. 
  2. Vox globuli:  "O caso do consultor BES é gritante. Foi o BES (certamente com a assessoria do seu empregado de topo e então ministro Pinho) que impingiu a PGA à TAP por 144 milhões de euros, quando a TAP já só acumulava prejuízos! Imagina-se, pois, o condicionamento que o tal Caderno de Encargos da privatização da TAP deverá sofrer sempre que o consultor BES abrir a boca, ora para reclamar algum pagamento em atraso da ex-PGA, ora para assegurar a próxima renda que o leasing dos 12 A350 irão custar a quem ficar com a empresa. Imagine-se, por um momento, que aparece finalmente um candidato para a compra de 50,1% da TAP, mas que tem uma preferência especial pelos Boeing 787 Dreamliner. Que sucederia? Duvido, em suma, por mais esta obscuridade e trapalhada, que algum europeu no seu juízo perfeito compre a maioria da TAP tendo para tal que assumir três pontes Vasco da Gama de prejuízos acumulados e uma encomenda no valor de outras tantas 3 pontes Vasco da Gama para pagar os 12 neo Airbus A350 XWA.

Última atualização: 27 jun 2012 23:58

terça-feira, junho 05, 2012

Jubileu ao fundo!

Gráficos dos principais teatros de guerra financeira na Europa (com os EUA em pano de fundo...)


A dívida do Reino Unido, sobretudo financeira, é um barril de pólvora pronto a explodir!


Euro em situação dramática: sem um salto quântico federal, nada feito :(


Outra visão do mesmo problema


A Suíça já decidiu colar-se ao euro: 1€=1,20CHF


Afinal os EUA vão também a caminho da Fossa de Keynes !


CONCLUSÃO : o euro poderá vencer a guerra contra o par dólar-libra se e só se houver rapidamente um salto quântico no processo de unificação financeira e fiscal da Europa. 

Os EUA e o Reino Unido estão cada vez mais isolados, enquanto a Eurolândia continua a ter os apoios da China, Rússia e Suíça, e poderá em breve ter também a seu lado, imagine-se, Israel! A contenção do islamismo radical passará em breve a ser um assunto sobretudo europeu, russo e chinês, dispensando as provocações intermináveis e as ações militares ilegais, criminosas e desastrosas dos Estados Unidos.

Nesta conjuntura previsível, o interesse estratégico de Portugal passa obviamente pelo seu posicionamento geográfico e pelas suas relações de longa data com os países de língua oficial portuguesa (em particular, Brasil, Angola, Moçambique e Timor), assim como com a China.

A Alemanha, que é a locomotiva industrial, o banco e a principal estratega europeia, pode ter em Portugal um bom intermediário para as suas já intensas relações com o Brasil e a China, mas sobretudo pode esperar de Portugal a facilitação no acesso a uma zona do globo onde os germanos nunca tiveram grande êxito: África!

A Alemanha é pois o nosso principal aliado na União Europeia.

Não nos esqueçamos desta nova realidade a ponto de se concretizar. Se o euro soçobrar, a Alemanha sofrerá uma nova e estrondosa derrota histórica. Mas desta vez, se Wall Street e a City vencerem, toda a Europa sucumbirá a décadas de pobreza e grande violência.

Não nos fiemos mais na corja partidária e financeira que se habituou a viver de rendas, por cima e por baixo das mesas do poder e do criminoso tráfico de influências!


REFERÊNCIAS
Os gráficos foram retirados de artigos vários do ZeroHedge

Última atualização: 6 jun 2012 0:16

quinta-feira, maio 24, 2012

Euros de quarentena

Não entre em pânico, mas o pânico já começou!

Para aceder ao gráfico explicado em áudio vá até ao Financial Times

Está na altura de tomar algumas medidas imediatas de precaução:
  • não ter mais de 50 mil euros em depósitos bancários, pois não acredito na garantia dos 100 mil euros prometida pelo governo se o pior acontecer —basta acompanhar o mais recente debate de surdos sobre a conveniência ou não de implementar uma garantia de depósitos única na zona euro, sobre o qual a Cimeira informal de ontem disse nim :(
  • manter uma despensa com provisões de produtos alimentares não imediatamente perecíveis para um/dois meses;
  • guardar num baú uma boa porção de euros: 1.000, 2.000, 5.000, 10.000, ... ;
  • mudar imediatamente todos débitos em conta para sistemas de cobranças convencionais: pagamentos de faturas contra recibo, nomeadamente via multibanco;
  • falar da crise e dos problemas pessoais e familiares com a família mais próxima e com os amigos;
  • não anunciar aos quatros ventos as medidas tomadas.
Atenção às dificuldades crescentes que o seu banco colocará aos levantamentos em numerário. O melhor mesmo é usar diariamente o Multibanco para este efeito: retirando o máximo autorizado.

Isto não é uma previsão, nem um conselho, mas apenas um aviso de que as coisas podem correr mal.

A decisão de enviar este sinal de alarme tem que ver com a deterioração rápida da economia mundial, nomeadamente na Europa, nos Estados Unidos e na... China, revelada nomeadamente pelo comportamento recente dos grandes investidores e especuladores.

Principais sinais de preocupação:
  1. Os bancos estão a colocar o dinheiro que obtêm emprestado do BCE em troca de títulos de dívida soberana à guarda do próprio BCE, perdendo até algum dinheiro nestas operações —de onde a conversa fiada sobre o crescimento não passar de mais uma burla mediática, pois aquilo a que assistimos neste momento é à destruição fiscal do país, que o manga de alpaca partidária António José Seguro obviamente não vê, nem quer entender;
  2. Os aforradores, investidores e especuladores estão a desfazer-se rapidamente dos Certificados de Aforro (mal por mal, o único papel que ainda vale alguma coisa é o euro!);
  3. Os grandes investidores e especuladores internacionais estão a reorientar enormes fluxos de liquidez para os títulos dos tesouros americano e alemão, ao mesmo tempo que se desfazem dos últimos títulos bolsistas das empresas e bancos a caminho da insolvência;
  4. O fracasso estrondoso do lançamento em bolsa do Facebook revela o pânico que grassa nos mercados especulativos;
  5. O endividamento público dos Estados Unidos (103% do PIB...) e o endividamento público de vários países europeus (Grécia, Portugal, Espanha, França, ...), bem como a situação financeira do Reino Unido desenham um panorama cada vez mais crítico, de onde mais cedo ou mais tarde surgirá uma crise inflacionista de grandes proporções;
  6. É muito improvável que a Alemanha aceite a criação de euro-obrigações sem obter em contrapartida um salto qualitativo na Eurolândia, isto é, sem a imediata federação financeira, fiscal e estratégica (infraestruturas, tecnologia, investigação e desenvolvimento) da União — o que só acontecerá quando países como a Espanha, Itália e... França estiverem descaradamente a caminho da situação em que hoje está a Grécia;
  7. Que resposta dará Hollande depois de ser informado pelos alemães da real situação de pré-insolvência de vários estados europeus?
  8. As medidas paliativas na Europa (e em Portugal) estão a chegar ao limite, sobretudo agora que a China anunciou que não continuará a alimentar este interminável festim de irresponsabilidade e cobardia política;
  9. Ou se dá um novo golpe de rins federal na União, ou seremos todos apanhado pelo inevitável colapso da economia grega este verão, semanas ou poucos meses depois das eleições de 17 de junho;
  10. Como tenho escrito repetidamente, a Alemanha tudo fará para manter o euro, que já é sem sombra de dúvida uma moeda de reserva mundial alternativa ao declínio inexorável do dólar;
  11. Até agora tivemos o euro-marco, que deu mau resultado. A crise sistémica em curso poderá assim forçar a Alemanha a optar por um euro menos forte (à volta dos $1.20) ou in extremis pelo estabelecimento de zonas de quarentena monetária dentro da zona euro, no interior das quais o euro circularia a par de moedas nacionais/regionais temporárias (euro-dracma, euro-escudo, euro-peseta, euro-lira, ...) A paridade entre o euro legítimo e os euros de quarentena estaria sujeita a uma banda de oscilação negocial estabelecida entre o BCE e os bancos centrais dos países em dificuldade ou de cabeça dura (a conversão automática dos depósitos e dívidas em moedas de quarentena seria uma consequência lógica deste passo —daí a minha recomendação para desviar o euro legítimo para o baú, enquanto é tempo!);
  12. Há sempre a possibilidade do regresso da Alemanha ao marco tout court, mas aí o par dólar-libra teria ganho mais uma guerra fratricida em curso entre anglicanos e protestantes —os financeiros judeus apostam, como sempre, nos dois :(
Sem nova revolução democrática este gráfico não será tão cedo invertido :(
 
Ao contrário da situação que agora temos e se vem deteriorando de forma acelerada e dramática (ver a queda expectável das receitas fiscais hoje divulgada pela DGO), em que a manutenção do euro-marco, como moeda forte cada vez mais inacessível nestes países falidos, improdutivos, indisciplinados, populistas e corruptos, apenas poderá potenciar a sua destruição, como tem ficado patente no caso grego, já com a criação de regiões de quarentena alguns países UE poderiam voltar a ter temporariamente moedas próprias, embora indexadas ao euro legítimo, ganhando desta forma uma nova possibilidade temporal de reformar as suas economias, as suas instituições, os seus sistemas de poder e os seus degenerados pactos sociais — destruindo de uma vez por todas as nomenclaturas parasitárias que deixaram de ter qualquer função nesses países e só contribuem para a inviabilidade sistémica dos mesmos.

O ciclo colonial europeu chegou ao fim, 600 anos depois da conquista de Ceuta (1415)


POST SCRIPTUM

We will start with an appetizer of Liquidity Tenders and Securities Market Program Bond Purchases, move on to a plate of Emergency Liquidity Assistance, sample a pre-entre of Pro-Growth measures and ECB Covered Bond purchases, dive into an entre of Fed Swap Lines, medium rare, with a side of Emergency Liquidity Assistance, and finally unwind with a desert plate of Firewalls. To close we will dream of tomorrow' menu which some say may feature the mythical Eurobonds and even the, gasp, legendary Europan Bank Deposit Guarantee...
Please charge it all to the taxpayer, of course — in ZeroHedge.




Uma eventual saída da Grécia do euro não será anunciada previamente! E se vier a ocorrer seria praticamente impossível evitar um contágio imediato a Portugal, Itália e Espanha, com inevitáveis corridas aos bancos nestes três países. O colapso da moeda única tornar-se-ia então iminente.

Portanto, se a Grécia acabar por ficar sem a moeda única, o mais provável é que sejam introduzidos controlos financeiros instantâneos e simultâneos em todos os PIIGS no preciso momento em que for anunciado o divórcio financeiro. Resta pois a esperança de que a Grécia do Syriza e de Alexis Tsipras acabe por empurrar a Eurolândia para um salto quântico em matéria de união financeira, fiscal e orçamental, com a Grécia a exigir uma maior e mais rápida harmonização institucional em toda a União e uma mais equilibrada e transparente repartição dos sacrifícios, apoiada por uma Alemanha que então exigirá em troca (nomeadamente de garantias de depósitos à escala europeia, das euro-obrigações e da transformação do BCE num verdadeiro banco central europeu) o reforço imediato dos instrumentos federais de gestão fiscal e orçamental da zona euro, aumentando os poderes do parlamento europeu, da comissão, do BCE e das cimeiras de chefes de estado e de governo da Eurolândia, e clarificando mais nitidamente as zonas de ação de cada uma destas instâncias de poder da UE.


Última actualização: 24 mai 2012 23:12 GMT

quarta-feira, março 21, 2012

A sombra de Lutero

Alemanha preparada para abandonar o euro

Lucas Cranach, o Velho — retrato de Martinho Lutero e esposa (1529)

Uma pilha de papel em branco aguarda eventual regresso da Alemanha ao marco se entretanto a insolvência dos PIIGS se revelar irreversível e insuportável para os cofres do Bundesbank.

Quanto à viagem de António Mexia a Pequim imagino que o cabotino foi chamado a despacho pelo governo chinês, com o objectivo expresso de o mandarem calar e ser portador de um presente qualquer para Passos de Coelho. Já no que se refere à misteriosa viagem do nosso contabilista-mor a Washington, estranho sobretudo a falta de especulação da nossa imprensa. Então não acham extraordinário que o ministro das finanças de uma província minúscula do império se desloque assim de repente à América para falar com Geithner e Bernanke? Eu só vejo uma ou duas explicações para tão inusitado episódio da crise financeira em curso:

  • Os americanos querem, e têm argumentos suficientes para, moderar a aproximação sino-lusitana;
  • Portugal está em pânico com a possibilidade de Berlim exigir a devolução do que resta do ouro nazi que Portugal obteve em troca do volfrâmio exportado para o III Reich durante a Segunda Guerra Mundial, e que foram em larga medida alienadas durante os mais de trinta e sete anos de democracia populista que se sucederam à ditadura. Estas reservas de ouro, depositadas em Fort Knox (suponho), serviriam agora para cobrir parcialmente os colossais empréstimos em curso, contra os quais Portugal já não pode oferecer garantias sólidas, pois os Bilhetes do Tesouro vendidos pelo Estado português aos bancos, que por sua vez os depositam no BCE (como colateral) em troca de empréstimos a 1%, são demasiado fungíveis. Quando estes papeis tiverem que ser trocados por novos títulos de dívida, por ocasião do inevitável incumprimento e subsequente reestruturação da gigantesca dívida portuguesa, a economia portuguesa estará então provavelmente em pior estado do que está hoje — seja porque os políticos não fizeram as reformas prometidas à Troika e ao eleitorado que correu com Sócrates, seja porque a austeridade excessiva, continuada e mal distribuída acabará por destruir ao mesmo tempo a receita fiscal e a capacidade produtiva do país!

O bom humor de Vítor Gaspar contrasta escandalosamente com as últimas informações sobre a execução orçamental de 2012. Ou será que a saída da Alemanha do euro já está nos planos da Comissão Europeia, da América, do Reino Unido, da China e... de Portugal?!

Vivemos tempos de grande volatilidade, como bem demonstram os últimos despachos de John Ward/The Slog sobre o nervosismo, mas também sobre as precauções da Alemanha. Chamo, a propósito deste post montado pelas toupeiras do Slog, uma especial atenção para a crucial entrevista dada por Markus Kerber a James Turk em Setembro de 2011, e que Ward expressamente menciona.


Markus Kerber talks to James Turk

REVEALED: HOW BERLIN HAS BEEN PLANNING A EURO-EXIT SINCE 2009, The Slog.

… Berlin is sitting on a huge stock of unprinted banknote quality paper….and has reduced the amount of its existing euros in circulation. That second fact is particularly surprising given that, since the euro’s launch, Germany has led the circulation growth every year: it has one of the lowest credit/bank card usage rates in the EU, and easily the highest consumption of cash for transactions.

[…] One thing the euronote production market as a whole reveals is how little real control the ECB has on a day-to-day basis. It prints just under 8% of all the banknotes  in circulation: over four notes in five are produced by the EU member State’s own suppliers – and in most cases, they are nationalised. What ties all the ‘peripherals’ together is that none of them produce euros for anyone else – and each country’s output has a different serial prefix to identify it. So it is relatively easy for the ECB to spot when unauthorised printing is taking place. Ergo, Mario Draghi must know that the Bank of Greece has been printing without permission. But he has chosen to do nothing about it.

[…] As an EU citizen (thankfully uninvolved in the eurozone) I find all the things emerging from this very brief initial delve into euro production most disturbing. Last November the Max Keiser site focused on ECB reform as the thing most likely to evoke a German departure from the ezone. Since then, ECB boss Mario Draghi has manoeuvred Board membership at the bank skilfully to reduce German influence still further.

[…] In the same month, Chancellor  Merkel’s Christian Democratic Union party voted to allow euro states to quit the currency area, endorsing the prospect of a move not permitted under euro rules. That was a statement of intent, not the passing of a law – but it does show pretty clearly that the option is there should Berlin feel the need.

Now we learn that Berlin has a banknote paper stockpile, full control over a printer based in Berlin, is running down its euro supplies, and is ken to make euro-exit easier. As The Slog’s Bankfurt Maulwurf has always maintained, Germany has every angle covered. Yet again, digging into the facts behind the spin proves him right.
[…] Earlier in the week, The Slog led with the revelation that Germany’s banking community had told Angela Merkel, “Either Greece must be amputated, or we must leave the eurozone”. I am rapidly coming to the conclusion that both possibilities are still in play….and as always, the Fuhrerine in Berlin is waiting for events to present a clearer picture. As I noted in the earlier post this week, opinion is moving away from the German exit solution: but a post-election repudiation of the Brussels Accord in Greece, and a collapse in Spain and Portugal, would make it the hot favourite.