O congresso do PSD e a tensão no interior do PS mostram um conflito de gerações inevitável, e revelam as direções partidárias como covis de machos incompetentes
Os órgãos nacionais do PSD – a mesa do congresso, a presidência e as vice-presidências – não incluem qualquer mulher. A comissão política nacional conta apenas com quatro mulheres (24%). No conselho de jurisdição nacional aparecem apenas duas mulheres (22%). E o caso mais chocante é o do conselho nacional, que entre os seus 74 membros acolhe apenas oito mulheres (11%).
O congresso do PSD e as mulheres - PÚBLICO
Na verdade, as mulheres estão a ocupar os nós decisivos da sociedade.
Basta pensar na atual ministra das finanças. Aos machos incompetentes
resta-lhes um refúgio chamado órgãos dirigentes dessas coisas decadentes
a que chamam partidos políticos. Por sua vez, no interior destes
cadáveres adiados já não se passa
nada de importante a não ser duas coisas tristes: a expulsão dos
velhos que pretendem continuar a ser bem remunerados com os impostos
pagos pelos jovens ativos, e que por isso lutam desesperadamente para
manter algum poder partidário; e o contínuo assalto partidário à
poupança nacional, que no caso vertente já é também um saque canino à
dívida pública, cujo pagamento e encargos endossam à passividade
dos contribuintes em geral e às gerações futuras.
Não vejo grandes saídas nesta encruzilhada que não passem por uma metamorfose dolorosa do sistema. A tensão vai continuar, mas é preciso negociar, defendendo princípios e cooperando ao mesmo tempo.
A velha guarda dos partidos e a nomenclatura do regime não perceberam a tempo, ou ainda não perceberam verdadeiramente o alcance da crise sistémica que estamos a viver.
Acabei de ler um livrinho de um jovem professor de Harvard chamado Brandon Adams. A prosa de
Setting Sun, ao longo de apenas 115 páginas de escrita corrida, é límpida como a água, mas tem a energia dum maremoto anunciado. Reparem nesta frase aterradora sobre o
welfare state americano:
“The extent of the total unfunded liabilities in Social Security, Medicare, and Medicaid is somewhere around $45.9 trillion.” — Brandon Adams, Setting Sun (2013).
Na realidade, esta estimativa peca por defeito, pois não incorpora ainda o aumento estimado da esperança de vida nos EUA, a qual deverá chegar aos 85 anos em 2030. Ou seja, temos uma situação de
endividamento global galopante que se traduz numa despesa orçamental que só nos Estados Unidos já equivale a mais de metade do PIB mundial. E temos ainda um buraco negro global formado por derivados financeiros especulativos (Swaps, CDO, CDS, etc.) cujo valor nocional supera em 10x o PIB mundial.
Não admira, assim, que as explosões sociais, os colapsos financeiros de países inteiros, e gravíssimas crises políticas, constitucionais e de regime proliferam em todos os continentes.
Não estamos a assistir ao fim do 'estado social ', mas a um ajustamento violento do mesmo, atingindo naturalmente a geração dos chamados '
baby boomers', e todas as que se lhe sucedem. Em Portugal, este ajustamento violento começou quando Manuela Ferreira Leite era ministra das finanças, acelerou durante o consulado de José Sócrates, continua forte e feio no governo laranja de Pedro Passos Coelho, e prosseguirá quando António José Seguro for primeiro ministro.
Os velhos barões cor-de-laranja e cor-de-rosa têm reagido sem ponderação, movidos apenas pelo egoísmo geracional, contra a nova geração do poder. Erro de palmatória, como o congresso em curso do PSD veio claramente mostrar.
No que toca à sub-representação partidária das mulheres nos órgãos partidários laranja, o problema será, no entanto, outro. Há centros de poder muito mais importantes que os diretórios partidários. É verdade hoje, sê-lo-à ainda mais no futuro.
Última atualização: 22/2/2014 15:34 WET