José Sócrates continua em silêncio perante as interrogações cada vez mais pesadas sobre as suas habilitações académicas efectivas. Nada diz e manda dizer dizer coisas pouco claras sobre o assunto, insinuando que tudo não passará de uma cabala para prejudicar a sua governação. No entanto, as dúvidas, que ganharam uma dimensão mediática imparável desde a sua aparição no Público de 22 de Março último, têm vindo a ser tratadas na blogosfera portuguesa, de forma explícita e metódica, desde 22 de Fevereiro de 2005, nomeadamente no blog Do Portugal Profundo. Como previa num comentário anterior, o silêncio ensurdecedor do primeiro ministro não sossegou ninguém, e o resto da comunicação social começou a interessar-se pelo tema, chegando aos diários e semanários de referência, como o Público e o Expresso, e às televisões públicas e privadas. Não vejo como se possa secar o assunto, aqui chegados, sem o seu cabal esclarecimento.
Marcelo Rebelo de Sousa, a uma pergunta ingénua de Maria Flôr Pedroso, sobre as pós-graduações de José Sócrates, deu este Domingo uma resposta sibilina, mas que transporta no gume da sua lógica, uma perspectiva muito preocupante para o visado, para o Partido Socialista e para as instituições democráticas em geral. Disse ele: sem licenciatura não pode haver pós-graduação! Por agora, o que está em causa é a licenciatura. E que dificuldades pode haver no fornecimento das provas documentais de uma licenciatura? Aparentemente nenhumas, desde que as mesmas existam e sejam válidas. Quer dizer, com ou sem crise aguda na Univeridade Independente, José Sócrates deveria ter previsivelmente o canudo do seu curso universitário em casa. E não o tendo, deveria ao menos poder citar entidades empregadoras por onde passou e que lhe terão solicitado prova das suas habilitações académicas. O que não é verosímil é que a apresentação de uma qualquer prova documental das suas habilitações académicas esteja prisioneira do estado actual da Universidade Independente. Parece aliás pouco provável, a qualquer pessoa, que uma tal instituição, pela sua natureza, obrigações estatutárias e regime de funcionamento, possa alguma vez ter deitado fora documentação essencial sobre os seus alunos, e ainda mais sobre um aluno que era à época membro do Secretariado Nacional do Partido Socialista e Secretário de Estado-adjunto do Ministro do Ambiente. Assim sendo, das duas uma, ou a Un. Independente mandou para "o maneta" a documentação, com mais de cinco anos de existência, de todos os seus estudantes, como afirmou o seu ex-director, Luis Arouca, ao Público...
"As fichas de cada aluno já ninguém sabe delas. Nos primeiros anos, a nota final é acompanhada com fundamento, depois é deitada fora» sobre o registo do pagamento de propinas, a resposta foi semelhante. «Ao fim de cinco anos, vai tudo para o maneta."E neste caso haveria seguramente centenas de ex-alunos licenciados em muito maus lençois. Ou então foi José Sócrates que teve um azar dos Távoras! Seja como for, uma coisa é certa: sem uma explicação pessoal do primeiro ministro, dado na primeira pessoa, este caso ameaça, como escrevi anteriormente, a própria sobrevivência do dirigente PS aos comandos do actual governo. Como a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia começa em Julho que vem, resta muito pouco tempo para evitar um enorme embaraço nacional perante os nossos parceiros comunitários.
OAM #186 02 ABR 07