A arquitectura e as suas vítimas
Parque Escolar. Consumos energéticos triplicaram nas escolas requalificadas
Salas de aulas aquecidas no Inverno e frescas no Verão, quadros interactivos e retroprojectores em todas as salas, um computador para cada dois alunos, são só algumas das regalias que entraram em centenas de estabelecimento de ensino que foram requalificados pela empresa pública Parque Escolar. Só que a modernidade tem um preço alto. Em média, os consumos de água ou de energia eléctrica nas escolas que foram alvo de obras duplicaram ou triplicaram, fazendo disparar a factura mensal. Parque informático, climatização ou iluminação exterior instalados nestas escolas são actualmente um monstro guloso, que consome milhares de euros todos os meses — i (7 mar 2011).
A operação Parque Escolar, de Sócrates, foi mais uma demonstração de novo-riquismo e da corrupção de um regime que nunca soube nem sabe quanto custa o dinheiro. Empreiteiros, arquitectos, engenheiros e burocratas formam uma nomenclatura indecorosa e irresponsável, para quem a palavra sustentabilidade, economia de meios e de usos, e bom-senso, nada dizem. No caso da operação Parque Escolar, o escândalo é mesmo criminoso!
A legislação sobre obras e edifícios públicos foi desenhada e escrita para alimentar a economia estúpida e corrupta que nos levou à actual bancarrota. A primeira coisa a fazer no próximo governo é alterar semelhante aborto legislativo de alto a baixo.
A democracia degenerada que sucedeu à ditadura assenta em quatro pilares:
1. a família endogâmica do poder político (que engordou nos últimos 30 anos pela via partidária), 2. uma imensa e inútil burocracia, 3. uma elite económico-financeira clientelar, monopolista e protegida pelo Estado, 4. as corporações profissionais
Percebemos agora que o que mudou no 25 de Abril foi tão só uma parte muito pequena, e rapidamente integrada, da família endogâmica do regime — chamada partidos políticos. Tudo o resto se manteve (com outras fatiotas) como antigamente enquanto as ajudas comunitárias permitiram disfarçar a perda definitiva do império colonial.
Mas a ilusão terminou, e até 2015, seiscentos anos depois da conquista de Ceuta, estaremos como na crise de 1383-85: completamente falidos, à rasca, com o povo na rua... mas sem ingleses, nem galegos, nem biscainhos, para nos ajudar! Como se a tragédia à vista não fosse o que é (uma tragédia), temos ainda em curso uma emigração sem precedentes desde o século 19, na qual se inclui boa parte dos melhores licenciados, mestres e doutores do país.
Se as nossas desmioladas e preguiçosas elites e a corja partidária julgam que vão manter-se à tona do problema brincando alegremente com os seus jogos de retórica parlamentar e televisiva, desenganem-se!