quinta-feira, março 18, 2010

Vaticana

Deixai vir a mim os pedófilos!

Abuso de crianças: em cinco anos, dez padres indiciados em Portugal

Seis dos dez casos de abuso sexual de crianças cometidos por padres investigados aconteceram em 2007, revela estudo de inspector da PJ

Por toda a Europa sucedem-se as denúncias de padres pedófilos na Igreja Católica e Portugal não fica fora do leque de suspeitas. De 2003 a 2007, dez padres foram indiciados pelo Ministério Público por abuso sexual de crianças, indica um estudo do investigador da Polícia Judiciária (PJ) Pedro Pombo, a que o i teve acesso. Desses dez casos (num total de 5128), seis ocorreram em 2007. O i contactou o Ministério Público para perceber o desfecho destes casos - arquivamento ou acusação -, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição. … in i online.

O Vaticano é a sede de uma seita criminosa, e o actual Papa uma perigosa criatura, ao contrário do que inicialmente me passou pela cabeça. Além dos serviços prestados às SS, na sua qualidade de antigo membro da Juventude Hitleriana, Ratzinger, soube-se entretanto, foi autor em 1962 de um agora desvendado e criminoso decreto chamado Crimen sollicitationis, segundo o qual o Vaticano tem vindo a encobrir centenas, se não mesmo milhares de abusos sexuais por parte de padres da sua congregação, nomeadamente contra crianças. Os casos brasileiro e português são os mais recentemente denunciados.

In his capacity as Prefect, Ratzinger's [1962] letter “Crimen Sollicitationis” which clarified the confidentiality of internal Church investigations into accusations made against priests of certain crimes, including sexual abuse, became a target of controversy during the sex abuse scandal. While bishops hold the secrecy pertained only internally, and did not preclude investigation by civil law enforcement, the letter was often seen as promoting a coverup.[20]  The Pope was accused in a lawsuit of conspiring to cover up the molestation of three boys in Texas, but sought and obtained diplomatic immunity from prosecution. — in Wikipedia.

Além do problema em si, que é quase sempre o da exploração dos mais fracos e a chantagem, soma-se a contradição insanável no interior da teologia e do discurso moral que fundamentam o catolicismo romano. O silêncio dos bispos, cardeais e sumo pontífices é ensurdecedor.

Diz-se que o fim do celibato resolveria, ou atenuaria o problema. Pois é. Mas esse foi o caminho da Reforma luterana, que Roma nunca quis seguir. A corja de batinas carmesim lá saberá porquê!

Surpreendido? De nenhuma maneira. Basta ler o Marquês de Sade e pensar um bocadinho. Se eu fosse pedófilo, ou um insaciável sexual, frio e calculista, teria escolhido a "vocação" de padre católico!

Joseph Ratzinger joined the Hitler Youth in 1941 when, according to him and his supporters, it became compulsory for all German boys. Millions of Germans were in a position similar to that of Joseph Ratzinger and his family, so why spend so much time focusing on him? Because he is no longer merely Joseph Ratzinger, or even a Catholic Cardinal — he is now Pope Benedict XVI. None of the other Germans who joined the Hitler Youth, were part of the military in Nazi Germany, lived near a concentration camp, and watched Jews being rounded up for death camps has ever become pope. — About.com .

Nas vésperas da visita de Ratzinger ao Santuário de Fátima, na sua qualidade de Papa, pergunto à muito desatenta Conferência Episcopal Portuguesa, ao cardeal patriarca de Lisboa e a Frei Bento, que têm a dizer sobre tudo isto? Não sabiam? Ignoram? Só se pronunciarão se a coisa um dia for julgada e vier a transitar em julgado? Poderá esta espécie de anti-Cristo disfarçado de Papa merecer o vosso acolhimento e saudação carinhosa? Deverá ser bem recebido em Portugal?

Merkel wants nazi pope to stop being a nazi.

The Pope is probably the creepiest looking man in robes on this planet.  He is also a clothes horse with delusions of grandeur.  He does love ermine and wine red robes!  And he keeps trying various ways of burying his Nazi past.  Once again, he goofs.  His rehabilitation of a ‘Holocaust denier’ is typical of this guy.  Incidentally, he claims that an encounter in Tübingen, Germany, in the spring of 1968 when a crazy girl hassled him about being a former Nazi is the sole reason he decided to be a hyper-conservative screaming queen.  It was, in other words, all my fault.  Me and my big mouth. — in Culture of Life News.

POST SCRIPTUM
Bavarian bishops pray for abuse victims

A prominent archbishop called Thursday for justice for sexual abuse victims in Germany's Roman Catholic Church, saying they need to feel they can finally speak openly about their suffering.

Reinhard Marx, the archbishop of Munich and Freising, said Catholic bishops in the southern German state of Bavaria — the homeland of Pope Benedict XVI — felt "deep consternation and shame" over the reports of abuse of children in church-run schools and institutions in past weeks. in George Frey And Melissa Eddy, Associated Press Writers – Thu Mar 18, 1:57 pm ET
BAD STAFFELSTEIN, Germany. Yahoo! News.

Sobre as cumplicidades das igrejas cristãs com as ditaduras europeias do século 20, ver também: "Igreja cúmplice do nazismo, fascismo e outras ditaduras" (vídeo)


OAM 671—17 Mar 2010 23:54 (última actualização: 19 Mar 2010 0:50)

terça-feira, março 16, 2010

MC Snake

Quem quer incendiar a cidade?!



A morte em circunstâncias ainda desconhecidas (ler Público) do rapper Mc Snake, na sequência duma perseguição policial automóvel na madrugada desta Segunda Feira é uma tragédia pessoal, familiar e para a tribo urbana do jovem músico que, em 2006, colaborou na produção do álbum "Negociantes" de Sam The Kid — um dos mais criativos e politicamente conscientes músicos urbanos portugueses da actualidade. Estou revoltado!

A notícia é um mau augúrio. Mas o mais preocupante é ler os comentários online sobre o sucedido :-(

O primeiro texto deste blogue foi dedicado à Cova da Moura. Publiquei-o em 24 de Julho de 2003. Nele escrevia sobre o jovem Ângelo baleado mortalmente pelas costas, aos 17 anos, pela PSP, no ido ano de 2001, e da importância de olhar para os guetos deste país com um olhar político e responsável. Organizei então um passeio filosófico à Cova da Moura, com a colaboração da Lieve —uma das impulsionadoras da associação cultural e cívica Moinho da Juventude, e grande defensora dos direitos do bairro. A condução do passeio ficou a cargo dum jovem chamado Joãozinho. Era um rapaz bonito, que prezava o corpo e o traje como qualquer africano genuíno. Sorria como sorri o Sol esplêndido de Lisboa, que dá à Cova da Moura a cor, o som, o cheiro e o pó de África. O grupo de excursionistas (e jantaristas!) percorreu e falou com os mais de quarenta cabeleireiros ali residentes, e que foram desde logo o grande leitmotiv na iniciativa. Terminámos o dia numa longa mesa em volta de uma cachupa, sob o olhar de Lisboa no horizonte. Pouco tempo depois Joaozinho era assassinado, não por polícias, mas por inimigos que a miséria faz.

O West Side Story, agora com rappers pacifistas, mas acordados, voltou a repetir-se. Os tiros pelas costas não têm desculpa!


OAM 670—16 Mar 2010 2:47

sábado, março 13, 2010

Portugal 172

Quando se revoltará a classe média?

O enviado especial das Nações Unidas para a Luta Contra a Tuberculose, Jorge Sampaio, afirmou hoje, no Porto, que "faltam quatro milhões de profissionais de saúde no mundo", principalmente nos países que mais necessitam deles.

…Jorge Sampaio disse ainda que os portugueses devem "relativizar" os problemas que estão a viver com a actual crise, porque muitos outros povos estão a enfrentar situações bastante piores. — in Público (12.03.2010)

Só faltou ao antigo presidente da república acrescentar que os actuais e futuros desempregados do Serviço Nacional de Saúde português têm um emprego à sua espera no Malawi, na Etiópia, no Ruanda, no Zimbabwe, no Haiti, e noutras paragens semelhantes. O devaneio do "enviado especial" não poderia ser mais inoportuno e sujeito às piores interpretações. Se o "enviado" acredita que a receita de sempre —expulsar os portugueses da sua terra e dos seus empregos, pondo-os a render no ultramar ou nos aviários da Irlanda— voltará a dar patacas que cheguem para alimentar o bordel lusitano, desengane-se! A nomenclatura indecorosa que depois de 35 anos de democracia populista levou Portugal à ruína, colocando-o de novo à beira de um colapso de regime, tem que começar a contar pelos dedos —já que há muito perdeu a faculdade de usar o intelecto.

Aquilo a que estamos neste momento a assistir, com a colaboração dissimulada de todas as seitas do actual sistema partidário, é a um endividamento sem precedentes do Estado, ao roubo sem limites do património nacional, e à sangria assassina da escassa poupança acumulada de milhões de portugueses, pela via fiscal directa e indirecta. As receitas da emigração fazem ainda parte desta expropriação sem precedentes da riqueza produzida por muitos de nós.

"Porque é que o Banco de Portugal vende o ouro da República?" — pergunta Jorge J. Landeiro de Vaz, Professor do ISEG/UTL, num artigo publicado pelo Expresso em 5 de Junho de 2009.

Em 1971 as reservas de ouro do Banco de Portugal ascendiam a 818,3 toneladas; em 2001, ou seja 30 anos depois, ainda eram 606,7 tons. mas em Março de 2009 já só existem à guarda do Banco de Portugal 382,5 tons. Porquê?

Será que alguém explica aos Portugueses porque é que em 38 anos a democracia fez voar 435,8 tons de ouro, herdadas do "fascismo" e do "colonialismo", ou seja  53%  daquelas  reservas.

Alguém explica aos Portugueses porque é que nos últimos 8 anos foram vendidas 224,2 tons de ouro; ou seja nos últimos 8 anos, o Portugal da zona euro vende alegremente, em média 28 tons de ouro por ano. A  este ritmo, dentro de 14 anos não haverá ouro no Banco de Portugal.

... Num contexto de empobrecimento económico e endividamento público e privado, o ouro do Banco de Portugal não pode ser visto como activo de liquidação, mas como reserva de soberania. Há uma responsabilidade intergeracional que o exige. Deixemos esse património aos nossos filhos e teremos feito alguma coisa por eles, pelo menos como penhor dos passivos que airosamente lhes vamos legar.

Ainda que admitamos que valor total das reservas de ouro sejam ligeiramente mais elevadas —407,5 toneladas— o resultado assustador não deixa de ser este: aos preços de hoje (805,72 euros a onça troy), uma tal reserva de ouro, que valerá qualquer coisa como 10 556 082 233 euros, não chega a 7% da nossa dívida pública: 164 879 600 000 (OE2010).

Resumindo a grosso modo, a situação portuguesa, que nos aproxima efectivamente da Grécia, apesar dos protestos de quem quer sacudir a água do capote (Teixeira dos Santos, Sócrates, Cavaco Silva...), é esta:
  • PIB previsto para 2010 (OE2010) = 167 367 100 000
  • endividamento das famílias em % do rendimento disponível (2001) = ~96
  • défice externo (anual) em % do PIB (2008) = -10,6
  • divida externa líquida em % do PIB = >100
  • dívida externa bruta em % do PIB (2008) = >200
  • dívida pública em % do PIB (2008) = >108
  • divida pública + divida privada em % do PIB (2007) = ~300
  • dívida externa em % das exportações = ~700
  • taxa de crescimento do PIB (previsão para 2010-2013) = <1%
  • taxa de desemprego oficial (dez. 2009) = 10,2% (567,7 mil desempregados/ procura de emprego)
  • taxa efectiva de desemprego (dez. 2009) = 12,7% (716,9 mil desempregados/ procura de emprego)
  • emigração (1992-2003) = 330 741
Entretanto, o PEC prevê alienar bens públicos —TAP, ANA, CTT, REN, seguradora da CGD, e participações accionistas minoritárias na EDP, Galp e Cahora Bassa— no valor de 6 mil milhões de euros. Se a privatização de certas actividades de exploração (CTT, TAP, CP e Metro) são no limite toleráveis, o mesmo não sucede com a privatização de monopólios e quase monopólios estratégicos, como sejam a ANA, EDP e REN. Alienar o único banco de Estado, ainda que apenas e para já o seu ramo de seguros, é de uma irresponsabilidade bestial! O que está em curso, e não vai parar, a menos que a classe média resolva revoltar-se (e tem meios para tal), é o saque sistemático e inglório da riqueza nacional pública e privada — pela via das privatizações, pela via da punção fiscal, e ainda por via da inflação que não tardará a chegar. Que seja o Partido Socialista a dar este derradeiro passo no longo e fracassado programa neoliberal de privatização do Estado, inaugurado por Reagan e Thatcher, não deixa de ser um epílogo no mínimo obsceno.

O país está falido, é certo. Mas então façamos uma desvalorização criativa da moeda! Como? É simples: reduzamos em 10% os vencimentos da Função Pública e do sector empresarial do Estado, acima dos 1000 euros, até 2013. Os salários do sector empresarial seguiriam naturalmente uma tal medida. Aliás, se tivéssemos moeda própria, a alternativa seria inevitavelmente proceder à sua desvalorização, o que teria os mesmos resultados práticos. Porém, se nada fizermos, corremos o risco de passar por uma quarentena fora do euro, o que provavelmente implicaria uma queda abrupta instantânea do nosso poder de compra na ordem dos 30%. O problema é pois mais de linguagem e de persuasão criativa, do que de substância. Até porque as duvidosas receitas de privatizações inscritas no PEC —6 mil milhões de euros— apenas taparão, se forem integralmente obtidas (o que duvido muitíssimo), quatro meses do nosso endividamento público galopante, ao mesmo tempo que reduzem a nada os poucos anéis que ainda temos no dedo mindinho.

O Capitalismo falido do Ocidente, que desde meados da década de 70 resolveu apostar na destruição das suas capacidades produtivas, exportando os respectivos negócios para as antigas colónias, e inventando ao mesmo tempo uma fórmula de crescimento económico baseada no endividamento dos estados, das empresas e das pessoas, começou agora a roer as unhas, ou pior ainda, a comer os seus próprios filhos, como Urano! Em contraponto, o capitalismo de estado de países como a China, Japão, Rússia, Arábia Saudita, etc., faz exactamente o contrário: protege as riquezas nacionais da voragem ruinosa e assassina dos especuladores individuais.

O problema de Portugal é pois muito grave, ao contrário do que a propaganda do sistema pretende fazer crer. A nossa dívida global cresce a um ritmo exponencial, correndo o sério risco de se tornar incontrolável. Vender os anéis e os dedos é como ir a uma casa de penhores dirigida por sádicos, sabendo que não recuperaremos as jóias de família. Confiar na emigração, como o discurso inconsciente de Jorge Sampaio claramente induz a pensar, é uma ilusão pura, que não compreende um facto histórico essencial: as mesadas coloniais que começaram em 1415, com a conquista de Ceuta, morreram definitivamente!

A partir de agora teremos que começar a trabalhar. Mas para isso teremos primeiro que correr com a corja que se governa em nosso nome.


OAM 699—13 Mar 2010 4:03 (última actualização 17:30)

sexta-feira, março 12, 2010

Internet

Não ao ACTA!

Parliament threatens court action on anti-piracy treaty
Published: 10 March 2010 | Updated: 12 March 2010

The European Parliament defied the EU executive today (10 March), casting a vote against an agreement between the EU, the US and other major powers on combating online piracy and threatening to take legal action at the European Court of Justice.

An overwhelming majority of MEPs (663 in favour and 13 against) today voted a resolution criticising the Anti-Counterfeiting Trade Agreement (ACTA), arguing that it flouts agreed EU laws on piracy online.

The Parliament's resolution states that MEPs will go to the EU Court of Justice if the European Commission, which is leading the negotiation on behalf of the European Union, does not reject ACTA rules that would allow cutting off users from the Internet if caught downloading copyrighted content. — Ler mais.

O ACTA (Anti-Counterfeiting Trade Agreement) é um atentado à liberdade de comunicação, circulação de ideias e de mercadorias no ciber-espaço, e é uma tentativa de os monopólios da comunicação (redes físicas, redes electrónicas e conteúdos) se apropriarem da propriedade virtual que é a Internet. Sob o pretexto da defesa dos direitos de autor alguns americanos, europeus e asiáticos, conspiram há muito para transformar o ciberespaço numa coutada global. A isto teremos que dizer não.

Devemos ainda e desde já exigir aos deputados da Assembleia da República, aos partidos políticos portugueses e aos anunciados, e confirmados, candidatos presidenciais, que tomem posição imediata sobre este assunto.

A crise económico-financeira é um assunto prioritário. Mas não podemos esquecer que é precisamente durante estas crises, em que a atenção pública se encontra demasiado focada num só tema, que as negociatas e por vezes atentados às liberdades públicas se insinuam e por vezes conseguem impor-se.

Speak out against ACTA

ACTA, the Anti-Counterfeiting Trade Agreement, is a proposed enforcement treaty between United States, the European Community, Switzerland, Japan, Australia, the Republic of Korea, New Zealand and Mexico, with Canada set to join any day now.

Although the proposed treaty’s title might suggest that the agreement deals only with counterfeit physical goods (such as medicines), what little information has been made available publicly by negotiating governments about the content of the treaty makes it clear that it will have a far broader scope, and in particular, will deal with new tools targeting “Internet distribution and information technology”. — in Free Software Foundation.

EU Parliament votes 663-13 against ACTA's enforcement measures
Cory Doctorow at 7:40 AM March 10, 2010

The European Parliament resoundingly voted against the secret Anti-Counterfeiting Trade Agreement (ACTA), in a resounding 663 to 13 tally. The parliamentarians defied the EU executive and threatened to take the issue to the European Court of Justice if the EU doesn't reject ACTA's provisions on disconnection for infringement and other enforcement provisions.  — in Boing Boing.

OAM 698—12 Mar 2010 11:39

quarta-feira, março 10, 2010

Pico petrolífero

O petróleo regressou aos 80 $/b.
Se o Pico Petrolífero Mundial chegar em 2014 (previsão mais recente), ou mesmo em 2020, esqueçam os aeroportos!
Published Mar 10 2010 by Eureka Alert!, Archived Mar 11 2010
World crude oil production may peak a decade earlier than some predict
by American Chemical Society press release

In a finding that may speed efforts to conserve oil and intensify the search for alternative fuel sources, scientists in Kuwait predict that world conventional crude oil production will peak in 2014 — almost a decade earlier than some other predictions. Their study is in ACS' Energy & Fuels, a bi-monthly journal.

Ibrahim Nashawi and colleagues point out that rapid growth in global oil consumption has sparked a growing interest in predicting "peak oil" — the point where oil production reaches a maximum and then declines. Scientists have developed several models to forecast this point, and some put the date at 2020 or later. One of the most famous forecast models, called the Hubbert model, accurately predicted that oil production would peak in the United States in 1970. The model has since gained in popularity and has been used to forecast oil production worldwide. However, recent studies show that the model is insufficient to account for more complex oil production cycles of some countries. Those cycles can be heavily influenced by technology changes, politics, and other factors, the scientists say.

The new study describe development of a new version of the Hubbert model that accounts for these individual production trends to provide a more realistic and accurate oil production forecast. Using the new model, the scientists evaluated the oil production trends of 47 major oil-producing countries, which supply most of the world's conventional crude oil. They estimated that worldwide conventional crude oil production will peak in 2014, years earlier than anticipated. The scientists also showed that the world's oil reserves are being depleted at a rate of 2.1 percent a year. The new model could help inform energy-related decisions and public policy debate, they suggest. — in "World crude oil production may peak a decade earlier than some predict" | Energy Bulletin.
A dependência portuguesa do petróleo e do gás natural é enorme. Ao contrário do que as barragens de contra-informação do governo e da EDP têm vindo a fazer crer, a energia eléctrica que consumimos depende muito do gás natural e do fuel diesel, e mais grave ainda, a circulação de mercadorias por esse país fora depende quase exclusivamente do transporte rodoviário, como ficou demonstrado durante a crise provocada pela greve internacional de camionistas de Junho de 2008.

A destruição da linha férrea portuguesa, iniciada por Aníbal Cavaco Silva, o actual presidente da república (que talvez por estas e outras se mostra muito satisfeito com o PEC), e o atraso na mudança de bitola das fracas ligações ferroviárias existentes entre Portugal e Espanha, coloca Portugal numa situação particularmente frágil quando projectamos os impactos previsíveis de uma antecipação do Pico Petrolífero. Com o petróleo de novo nos $80/b, e a previsão da sua escassez a curto prazo, precipitará inevitavelmente uma crise económica, social e política sem precedentes no mundo.

Daqui que há muito venha desvalorizando os devaneios governamentais em volta do seu irrealista plano de transportes, invariavelmente ao serviço dos objectivos de curto prazo do Bloco Central do Betão.

OAM 697—10 Mar 2010 (última actualização: 13 Mar 11:25)

segunda-feira, março 08, 2010

Portugal 171

A declaração de Andorra
Cavaco falou de Atlantismo, não sei se repararam...


Greece's problems are indeed Germany's problems. Germany's problems are indeed the United States' problems. And the United States' problems are indeed the world's problems.  -- in Immanuel Wallerstein, "Greek Mess, Euromess, Western Nations Mess, World Mess?"

Given the increased strength of western Europe and Japan in the early 1970s, the United States offered them promotion to the status of junior partner. France and Germany opted to proceed further to an independent world role in 2003. And Japan, in its national election in 2009 and its mayoral election in Okinawa in 2010, seems to be opting for it now. Brazil, given its increased strength, was offered junior partnership only in 2009. It seems to be insisting on an independent world role almost immediately. -- in Immanuel Wallerstein, "The United States Misreads Brazil's World Policy"

Quem me lê com alguma regularidade já estará habituado às minhas mudanças de humor crítico. Por exemplo, acabei de criticar asperamente o presidente da república pelo seu titubeio em volta do tema do novo aeroporto de Lisboa, que se prevê venha um dia a ser construído em Alcochete.  Eu defendo, como muita gente neste país, algumas ideias simples sobre esta matéria, tendo nomeadamente presentes as actuais circunstâncias económico-financeiras do país (endividamento extremo e estrutural) e a crise sistémica do Capitalismo que continua a varrer o planeta, sem sinais de acalmia. Tal como as réplicas do grande terramoto que atingiu o Chile no passado dia 27 de Fevereiro continuam a destruir e a aterrorizar aquele país (1), também as falências do Lehman Brothers e do Royal Bank of Scotland não só não deixaram de reverberar em todo o sector da especulação imobiliária, como abriram caminho ao colapso iminente de vários países, por causa das suas insustentáveis dívidas soberanas. É nesta conjuntura dramática, que há muito aqui venho caracterizando como consequência previsível das deslocações aceleradas das placas tectónicas do poder económico mundial, que uma opinião ponderada sobre o nosso sistema de mobilidade e transportes deve ser equacionado. Infelizmente, o debate sobre este assunto tem-se tornado ensurdecedor, e aparece inevitavelmente contaminado por questões laterais que, apesar da sua importância, não deveriam impedir a percepção clara do que está efectivamente em jogo.

Comecemos pela posição que aqui temos vindo insistentemente a defender, sintetizando para tal o trabalho persistente e sistemático levado a cabo generosamente por um bom número de cidadãos sem interesses materiais na matéria.
  1. Há um compromisso de Estado com Espanha para construir a linha de Alta Velocidade ferroviária entre Lisboa e Madrid, a qual ligará a capital portuguesa às principais cidades espanholas e ao resto da Europa antes de 2014. Esta decisão deverá ser respeitada. Por outro lado, é crucial que a ligação sirva para a circulação de comboios de passageiros e de mercadorias. Mais: esta linha deveria terminar, numa primeira fase, na estação de Pinhal Novo, por forma a permitir uma de duas soluções: o transbordo dos passageiros vindos de Espanha para os comboios da Fertagus, ou então permitir ao LAVE (Linha de Alta Velocidade) fazer a pausa necessária para adaptar os eixos das rodas à bitola ibérica, e assim atravessar a Ponte 25 de Abril em direcção ao Campo Grande (onde deveria situar-se a futura Estação Central de Comboios de Lisboa). Finalmente, desta mesma linha deveria sair um ramal (em bitola europeia, claro!) dirigido a Sines e passando por Setúbal, com o objectivo de satisfazer um dos principais componentes estratégicos e de rentabilidade desta ligação.
  2. No que respeita ao resto da rede de Alta Velocidade/Velocidade Elevada prevista, a mesma deveria sofrer um compasso de espera de 3-4 anos, revendo-se o plano em duas direcções: restringir a velocidade média para 220 Km/h, do que decorreriam custos de construção, manutenção e uso economicamente sustentáveis; projectar todas as futuras linha de bitola europeia para circulação simultânea de comboios de passageiros e de mercadorias.
  3. Manter a aeroporto da Portela em funcionamento, independentemente da construção de um Novo Aeroporto de Lisboa. Esta é uma decisão de realismo económico e uma medida de precaução. Se um terramoto, seguido muito provavelmente de maremoto, atingir Lisboa com intensidades semelhantes às dos que têm atingido o Chile desde 1960, é bem possível que as pontes até Santarém colapsem ou fiquem temporariamente intransitáveis, tornando assim muito complicadas as operações nacionais e internacionais de socorro às vítimas.
  4. A decisão de construção do NAL de Alcochete deve ser ponderada com muito cuidado (2), não deve depender nem do fecho da Portela, nem da privatização da ANA (duas ideias muito estúpidas e  fraudulentas), deve ser equacionada na perspectiva de uma parceira público privada rigorosamente vigiada —sem encargos futuros para os contribuintes—, e deve contar à partida com parcerias estratégicas com o Brasil, Angola, Moçambique, China, Rússia e Japão.
  5. A construção/consolidação de uma linha de portos competitivos ao longo da costa portuguesa é uma prioridade estratégica, tal como é também a criação complementar de um cluster marítimo de indústrias, comércio e investigação e desenvolvimento (I&D) — aquilo que, se não erro, é uma ideia próxima da "economia do mar" de que fala Hernâni Lopes.
É neste contexto que devemos agora interpretar a aparente guinada de Cavaco Silva em relação ao estuporado "TGV", e a insidiosa declaração estratégica que proferiu em Andorra.

Cavaco diz que TGV não é determinante para Portugal

O presidente da República considera que a alta velocidade ferroviária pode ter «algum efeito» mas não é determinante para definir a posição de Portugal, considerando que o país é central em relação ao mundo, e não periférico.

«Somos um porta para África, para a América Latina, para a América do Norte. Estamos no centro do mundo global. Chegar mais cedo a Barcelona ou Madrid pode ter algum efeito mas esta é uma questão da geografia no mundo global, não algo que seja determinado por mais ou menos velocidade na chegada a um ponto europeu», afirmou Cavaco Silva.

Para Cavaco Silva «não menos importantes» que o TGV «são as ligações marítimas que podemos e devemos estabelecer com Angola, com Moçambique, com o Brasil, com a América do Norte».

«Isso é que mostra bem a nossa centralidade. Se olharmos apenas para a Europa, podemos ver-nos como periféricos. Se olharmos para África, para toda a América Latina, para os Estados Unidos, vamos ver-nos como um centro», afirmou. — in Sol.

Não citei, mas Cavaco disse ainda, desta vez em Barcelona, capital da Catalunha, que a Espanha deve deixar-se de proteccionismos relativamente a Portugal. Ou seja, se o não fizer, dificilmente se compreenderá que Portugal venha a dar prioridade à pressa do Palacio de la Moncloa em estender a sua rede de Alta Velocidade ferroviária a Lisboa e... Sines. Foi Zapatero que disse que a Rede do AVE é o melhor instrumento para a unidade da Espanha!

A Alemanha e a França distanciam-se da ruína estratégica dos Estados Unidos, ocupando-se com intensidade redobrada da Eurolândia, dos Balcãs, do Leste Europeu e da Rússia e, claro está, da Ásia. Ao contrário do Reino Unido, preso geneticamente aos Estados Unidos, e de uma Espanha recentemente convertida às novas qualidades estratégicas do mar Atlântico (mas que conta ainda com razoável número de anti-corpos na América Latina), Portugal só tem uma escapatória: as mesmas rotas que há seiscentos anos impedem a sua submissão a Castela!

Só por aqui vejo a relevância potencial de se construir um aeroporto intercontinental (para os Airbus A-380, Boeing 787, e para os futuros cargueiros aéreos desenhados e desenvolvidos pela China e pelo Brasil) na cidade-região de Lisboa. Este cenário depende, porém, de um factor altamente crítico: o preço futuro do petróleo.

Seja como for, o importante é registar a extrema importância das declarações de Cavaco Silva na Catalunha —onde decorrem os movimentos democráticos mais avançados de secessão da Espanha—, e em Andorra, onde existe uma importante comunidade de emigrantes portugueses.

Na linha do que Manuela Ferreira Leite anteriormente esclareceu, o actual presidente da república, com o qual certamente concorda Durão Barroso, decidiu esclarecer o país, e os espanhóis, que os interesses estratégicos do nosso país não são necessariamente os mesmos de Madrid.

Perante isto, teremos todos que rever a discussão sobre o estuporado TGV. E quanto à pergunta da Time, leio-a assim: a Europa não desapareceu, deixou apenas de ser o aliado sim-sim do império americano!



NOTAS
  1. Ao longo deste domingo, e até ao momento em que escrevo este comentário, registaram-se já sete abalos no Chile, entre M4.6 e M5.5.
  2. Nem toda blogosfera imersa nesta discussão partilha a defesa que tenho feito da incidência estratégica positiva que um aeroporto transcontinental poderá ter no difícil processo de adapatação de Portugal à mudança tectónica dos poderes comerciais e futuramente políticos e militares do planeta.

OAM 696 —08 Mar 2010 0:43

    sábado, março 06, 2010

    Portugal 170


    Educação: não deitem fora o bebé com a água do banho!



    An illustration: I challenged one student about why he always wore headphones in class. He replied that it didn't matter, because he wasn't actually playing any music. In another lesson, he was playing music at very low volume through the headphones without wearing them. When I asked him to switch it off, he replied that even he couldn't hear it. Why wear the headphones without playing music or play music without wearing the headphones? Because the presence of the phones on the ears or the knowledge that the music is playing (even if he couldn't hear it) was a reassurance that the matrix was still there, within reach. — in Mark Fisher, Capitalist Realism.

    Uma das consignas eleitorais de Paulo Rangel foi directamente importada de Medina Carreira: disciplina nas escolas! Todo o poder aos professores!! Aconselho, porém, o ansioso Calimero que quer ser primeiro-ministro de Portugal a rever o slogan.

    Medina Carreira, que tem a cabeça no sítio, e resolveu dizer umas verdades que a maioria dos economistas conhecia, mas fingia ignorar, é curto na sua análise e na receita lapidar que dá para o problema da educação em Portugal: mais ensino profissional e disciplina. Não chega, ou melhor, não será por esta via de serviço, algo retrógrada, que iremos lá.

    Em primeiro lugar, convém esclarecer que o problema da educação, tal como tem vindo a ser desvendado, não é português. Tal como noutros domínios, apenas importámos a epidemia. E o vírus da entropia educativa, tal como outros vírus, tem propensão para desenvolver pandemias, resiste aos contra-ataques, e é mutante!

    If, then, something like attention deficit hyperactivity disorder is a pathology, it is a pathology of late capitalism — a consequence of being wired into the entertainment-control circuits of hypermediated consumer culture. Similarly, what is called dyslexia may in many cases amount to a post-lexia. Teenagers process capital's image-dense data very effectively without any need to read — slogan-recognition is sufficient to navigate the net-mobile-magazine informational plane. 'Writing has never been capitalism's thing. Capitalism is profoundly illiterate', Deleuze and Guattari argued in Anti-Oedipus. 'Electric language does not go by way of the voice or writing: data processing does without them both'. Hence the reason that many successful business people are dyslexic (but is their post-lexical efficiency a cause or efect of their success?)

    Teachers are now put under intolerable presure to mediate between the post-literate subjectivity of the late capitalist consumer and the demands of the disciplinary regime (to pass examinations etc). This is one way in which education, far from being in some ivory tower safely inured from the 'real world', is the engine room of the reproduction of social reality, directly confronting the inconsistencies of the capitalist social field. Teachers are caught between being facilitator-entertainers and disciplinarian-authoritarians. Teachers want to help students to pass the exams; they want us to be authority figures who tell them what to do. Teachers being interpellated by students as authority figures exacerbates the 'boredom' problem, since isn't anything that comes from the place of authority a priori boring? Ironically, the role of disciplinarian is demanded of educators more than ever at precisely the time when disciplinary structures are breaking down in institutions. With families buckling under the pressure of a capitalism which requires both parents to work, teachers are now increasingly required to act as surrogate parents, instilling the mst basic behavioral protocols in students and providing pastoral and emotional support for teenagers who are in some cases only minimally socialized. — idem.

    Tal como noutras matérias, a metodologia honesta aconselha a não confundir efeitos com causas. Não é a falta de disciplina que apodrece o ensino, mas o apodrecimento sistémico do ensino que se revela como indisciplina, permitindo de forma perversa justificar todas as guinadas da política, e em última análise servir (com aplauso público condicionado) a tendência manifesta, desde a década de 1980, para a desestruturação do ensino público. A educação gratuita, paga pelos impostos, tornou-se basicamente um processo de formatação cognitiva de massas, suportado por uma burocracia imensa, apto a melhor, ou pelo menos, mais pacificamente, administrar a força de trabalho globalmente disponível, ocultando por outro lado, e desta forma subtil, as verdadeiras taxas de desemprego (e sobretudo a destruição paulatina e aparentemente irreversível do trabalho produtivo), sob o manto simpático e diáfano da formação permanente, ou das "novas oportunidades".

    O assunto merece mais e melhor reflexão. Não se precipite pois o candidato Paulo Rangel em promover receitas expeditas, que além de mal informadas, podem não passar de demagogia.

    Voltarei ao tema.


    OAM 695 —06 Mar 2010 20:40