sexta-feira, abril 02, 2010

Crise Global 74

Quem irá saldar as dívidas públicas?

Depois de os governos terem resgatado os bancos, emprestando-lhes dinheiro virtual (boa parte dele só existe nos computadores!) a custo zero, ou quase, para que depois estes estejam agora numa corrida às dívidas soberanas bem remuneradas de um número crescente de Estados falidos, com grande colaboração dos famigerados paraísos fiscais, quem irá resgatar os países atolados em contas por pagar depois deste Verão?

Irish Banks Need $43 Billion on ‘Appalling’ Lending (Update4)

March 31 (Bloomberg) -- Ireland’s banks  need $43 billion in new capital after “appalling” lending decisions left the country’s financial system on the brink of collapse.

The fund-raising requirement was announced after the National Asset Management Agency said it will apply an average discount of 47 percent on the first block of loans it is buying from lenders as part of a plan to revive the financial system. The central bank set new capital buffers for Allied Irish Banks Plc and Bank of Ireland Plc and gave them 30 days to say how they will raise the funds.

“Our worst fears have been surpassed,” Finance Minister Brian Lenihan said in the parliament in Dublin yesterday. “Irish banking made appalling lending decisions that will cost the taxpayer dearly for years to come.”

Post-Apocalyptic zombie finance

March 23 (ASIA Times Online) -- Governments averted a financial apocalypse in 2009 by bailing out the bankrupt banking system. But who will bail out the governments? The answer for the time being is that they will bail themselves out at the expense of the private economy. In the post-apocalyptic financial world, private banks have turned into flesh-eating zombies that cannibalize the private economy in order to finance government borrowing requirements not seen since World War II.

… The US Treasury has become dependent on global private banks. According to Treasury data, $108 billion of the $180 billion in net foreign purchases of US Treasury securities during the three months through January came from London and the Cayman Islands. — By Spengler


Lipsky Says Debt Challenges Face Advanced Economies (Update1)

March 21 (Bloomberg) -- Advanced economies face “acute” challenges in tackling high public debt, and unwinding existing stimulus measures will not come close to bringing deficits back to prudent levels, said John Lipsky, first deputy managing director of the International Monetary Fund.

All G7 countries, except Canada and Germany, will have debt-to-GDP ratios close to or exceeding 100 percent by 2014, Lipsky said in a speech today at the China Development Forum in Beijing. Already this year, the average ratio in advanced economies is expected to reach the levels seen in 1950, after World War II, he said. The government debt ratio in some emerging market nations had also reached a “worrisome level.” — By Joyce Koh.

O grande dilema é este:
  1. a China acaba de proibir a compra-e-venda de terrenos para construção no país, ao mesmo tempo que lança um vasto programa de habitação social nova e reparação de casas e infraestruturas degradadas (The Daily Bell). Por outro lado, diminui drasticamente as suas compras de moeda (1) e de dívida americana (2). Razões para estas duas decisões cruciais? Não pode continuar a financiar as suas exportações para o seu maior cliente, os Estados Unidos, pois de volta apenas recebe IOU sem garantias — i.e. dinheiro puramente virtual.
  2. a Alemanha ameaçou os PIIGS de expulsão da moeda única europeia (ou pelo menos de uma quarentena apertada), pois percebeu que não pode continuar a financiar as suas exportações para países que há muito esgotaram os respectivos recursos estratégicos e cujo endividamento público e privado entrou numa curva exponencial. Basta reparar no crescimento assustador do serviço da dívida em Portugal, Espanha, Irlanda, Grécia, mas também em França, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos (5 dos G7), para imaginar onde tudo isto vai acabar por levar a economia mundial.
Os maiores exportadores globais de bens transaccionáveis (União Europeia, China, Alemanha, Estados Unidos e Japão) estão numa situação potencialmente mais explosiva do que aquela em que encontram os detentores das principais reservas energéticas do planeta (Arábia Saudita, Irão, Iraque, Rússia, Brasil). Estes últimos continuarão sem grandes problemas, na medida em que o petróleo (3) e o gás natural escasseiam e a população mundial continua a expandir, precisando de quantidades crescentes de água potável e alimentos. Os exportadores de bens industriais, pelo contrário, precisam de vender bens de que não precisamos ou que não podemos comprar por estarmos demasiado endividados.

A recessão mundial está assim para durar. E a inflação galopante pode estar apenas ao virar de uma esquina. Na Irlanda, em Atenas, Madrid, Lisboa ou Londres!


NOTAS
  1. Reserves Shifting Away from the Dollar? — Mar 31, 2010 (Roubini) -- Global central banks, which managed over US$8 trillion in reserves at the end of 2009, according to IMF, estimates have been gradually diversifying their portfolios. The dollar share has inched down since 2000. The appreciation of the U.S. dollar and central bank participation in the global flight to safety slightly boosted the dollar share in 2008 to around 65% of the institutions that report their currency composition.
  2. China sells $34.2bn of US treasury bonds -- February 17, 2010 (Guardian) -- China sold $34bn (£21.5bn) worth of US government bonds in December, raising fears that ­Beijing is using its financial ­muscle to signal that it has lost confidence in American economic policy.

    US treasury figures for the period ending in December 2009 show that, following the sale, China is no longer the largest overseas holder of US treasury bonds. Beijing ended the year sitting on $755.4bn worth of US government debt, compared to Japan's $768.8bn.

    China Slows Purchases of U.S. and Other Bonds -- HONG KONG, April 12, 2009 (The New York Times) -- Reversing its role as the world’s fastest-growing buyer of United States Treasuries and other foreign bonds, the Chinese government actually sold bonds heavily in January and February before resuming purchases in March, according to data released during the weekend by China’s central bank.
  3. Energy prices rally on hopes for demand — SAN FRANCISCO, April 1, 2010(MarketWatch) -- Energy futures rallied Thursday, with oil rising for a fourth consecutive session to nearly $85 a barrel and natural gas prices rising after a smaller-than-expected increase in storage levels in the U.S.


OAM 678—2 Abril 2010 1:59 (última actualização: 11:56)

terça-feira, março 30, 2010

Portugal 177

Passos em frente

A artilharia pesada de Pedro Passos Coelho já começou a desbastar o terreno. Ângelo Correia bombardeia Cavaco, Mira Amaral atinge o cabotino Mexia nas pernas, a Assembleia Municipal de Lisboa bloqueia António Costa, e Morais Sarmento desfaz Granadeiro por K.O. em 10 segundos.

Este fogo de barragem vai continuar. Prevejo que o próximo ataque ocorra em plena Assembleia da República e leve a virtual maioria parlamentar do PS ao tapete quando esta começar a tentar aplicar as suas fantasias orçamentais, e a usar o PEC para safar a tríade de Macau e os aristocratas do BCP e do BES (por sinal em muito maus lençóis!)

Entretanto o novo líder laranja vai consolidar a sua maioria no próximo congresso do PSD, já em Abril, e formar um governo sombra à boa maneira inglesa. Depois..., bem depois é o ataque final ao bando de piratas que tomou de assalto o PS e tem levado o país à ruína. Não creio que esperar pela eleições presidenciais —a armadilha de Cavaco e de Sócrates— seja uma boa ideia. Assim que as sondagens mostrarem claramente que a derrocada "socialista" está em marcha (e já está em marcha), o senhor Sócrates deve levar com a merecida moção de censura pela espinha acima.

Ninguém compreenderia que Passos Coelho deixasse, por mero cálculo político, o país entregue a um vigarista compulsivo e a uma criatura inerte subitamente agarrada ao poder. E a explicação é simples de entender: se Pedro Passos Coelho deixasse passar a janela de oportunidade que em breve se abrirá (mas por pouco tempo), para dar uma vassourada urgente no regime —exibindo argumentos que não poderiam deixar de ser considerados oportunistas—, o resultado mais provável seria ter dois inimigos consolidados pela frente durante os próximos quatro e seis anos, o primeiro em São Bento, e o segundo em Belém. Não creio que erro tão crasso venha a ser cometido.

O caminho faz-se caminhando, mas no caso em apreço o caminhante fez já uma longa caminhada. Agora é preciso que convença os portugueses, mostre o seu patriotismo estratégico e a sua ética democrática, e por fim tome as rédeas do poder. Antes que seja tarde!

Do que sei, não vejo como poderá a Alemanha deixar de colocar os PIIGs numa espécie de quarentena do euro durante pelo menos quatro anos, ou seja, até 2015. O colapso das dívidas soberanas actualmente em curso de forma subterrânea precipitar-se-à em força e em cascata antes do fim deste ano. Há mesmo quem preveja o próximo mês de Junho para início da derrocada. Se for assim, a tentação de impor um governo de crise por parte de uma aliança contra-natura entre Cavaco e Sócrates será bem mais plausível então do que agora parece.

  
OAM 677—30 Mar 2010 22:48 (última actualização: 23:27)

domingo, março 28, 2010

Portugal 176

A armadilha de Cavaco


Passos Coelho deve dar sinais claros de que a sua agenda não está sincronizada com a do actual presidente da república, até que este perceba que o melhor mesmo é desistir da recandidatura.

Cavaco felicita Passos Coelho e diz que Portugal precisa de estabilidade

Segundo o Presidente, o país deve ter “muito cuidado” para não contribuir para que os mercados internacionais julguem mal o programa português porque assim as famílias e as empresas terão ainda de pagar “juros mais elevados”. — in Público.

Os militantes e simpatizantes do PSD têm uma costela de sadomasoquismo e outra de estupidez. Só assim se pode explicar a sua fidelidade canina a Aníbal Cavaco Silva. Para o actual presidente da república o PSD tem sido apenas uma caixa de Kleenex cujos lenços —i.e. dirigentes— usa e deita fora com displicência, para sua óbvia e estrita conveniência. Daí ter feito tudo para impedir a eleição de Passos Coelho —um velho inimigo (que eu, na minha ignorância da história do PSD ignorava)—, incluindo a cunha que seguramente meteu a Durão Barroso e Manuela Ferreira Leite para que estes empurrassem Paulo Rangel para a arena eleitoral contra o recém eleito presidente do PSD. O objectivo seria, no mínimo, impedir uma vitória expressiva da Pedro Passos Coelho. Mas o tiro saiu pela culatra. E o morto, desta vez, foi (ou será) Cavaco Silva.

Repararam como o homem de Boliqueime se pôs em bicos de pés no dia seguinte à vitória, por uns clarificadores 62%, de Passos Coelho? E viram como o comentador-mor Marcelo começou já a perfilar-se como redentor candidato laranja para defrontar Fernando Nobre e Manuel Alegre?

O argumento de Cavaco Silva sobre a estabilidade política é pacóvio. Agita o espectro da subida dos juros maus que vêm de fora (se não estivermos muito caladinhos), como se não fosse a banca portuguesa que anda por aí há mais de dois anos a executar hipotecas e a cobrar juros usurários —chegam aos 24,9% na CGD! Alguém lhe ouviu uma palavra sequer em defesa dos mais fracos?
Cavaco ignora ou faz por ignorar uma realidade simples: os nossos credores estão-se nas tintas para o barulho que fazemos ou deixamos de fazer. O que eles querem saber, e medem com os seus próprios instrumentos de avaliação, é se vamos continuar o bacanal da despesa pública improdutiva, ou não; se os escandalosos orçamentos da Assembleia da República, do Conselho de Ministros e da Presidência da Republica vão sofrer cortes decentes, ou não; se a corrupção galopante vai ser travada, ou não; se os tribunais e a burocracia vão ser postos nos eixos, ou não. Em suma, se o lugar do Estado na sociedade vai reduzir-se a proporções razoáveis, ou se o Leviatã vai continuar a engordar como uma serpente-sanguessuga insaciável até rebentar de gula.

O espantalho que um Cavaco Silva subitamente enamorado pela prudência de José Sócrates agita entre dentes e sorrisos amarelos não passa, na realidade, duma tentativa desesperada para se fazer ao caminho da reeleição presidencial. Acontece, porém, que o senhor decepcionou completamente o seu eleitorado ao longo deste seu primeiro e esperemos que último mandato. E por conseguinte, por mim, a manobra não pega!

Lipsky Says Debt Challenges Face Advanced Economies

March 21 (Bloomberg) -- Advanced economies face “acute” challenges in tackling high public debt, and unwinding existing stimulus measures will not come close to bringing deficits back to prudent levels, said John Lipsky, first deputy managing director of the International Monetary Fund.

All G7 countries, except Canada and Germany, will have debt-to-GDP ratios close to or exceeding 100 percent by 2014, Lipsky said in a speech  today at the China Development Forum in Beijing. Already this year, the average ratio in advanced economies is expected to reach the levels seen in 1950, after World War II, he said. The government debt ratio in some emerging market nations had also reached a “worrisome level.” 

O problema do nosso endividamento é semelhante ao da Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, Islândia, Reino Unido, França, Japão, Rússia, etc. Todos chegaram já, ou ultrapassaram, ou vão chegar em breve, e ultrapassar, níveis de dívida pública superior aos respectivos produtos internos brutos. Ou seja, a gravidade do problema ultrapassa-nos e muito. Para já, a Irlanda e a Grécia são, e em breve nós e a Espanha seremos, os Porquinhos-da-Índia de uma experiência nunca tentada: esvaziar o monumental endividamento soberano sincronizado de boa parte dos países outrora ricos do planeta.

A receita abastardada de Keynes não funciona no circuito aberto da globalização. E é fácil de entender porquê. Toda a liquidez injectada numa economia para estimular o consumo, que por sua vez faça retomar a produção, só pode funcionar na condição de que o mercado onde tal esquema é ensaiado cumpra a condição de ser um mercado homogéneo em matéria de moeda e preços.  De contrário, a liquidez injectada no mercado esvai-se nas importações de produtos e serviços mais baratos que o mercado concorrencial aberto internacional é capaz de oferecer. Foi isto que se passou nos Estados Unidos a partir das presidências de Reagan e Clinton — ao abrirem as fronteiras ao México e sobretudo à China. E é isto que também viria a suceder à Alemanha quando financiou as suas exportações para o espaço comunitário através da criação de uma moeda forte generosamente oferecida sob a forma de subsídios ao desenvolvimento (leia-se ao consumo), mas que acabaria por resultar num maná traiçoeiro para os países menos desenvolvidos da União, que assim se foram sobre-endividando muito para além do sustentável. Esta deriva, já de si arriscada, desembocou num desastre financeiro cuja gravidade foi largamente potenciada pela entrada entusiasta da União Europeia no barco neoliberal da globalização e da desregulamentação financeira.

A globalização acabaria por ser dominada por fenómenos poderosos mas mantidos invisíveis durante mais de uma década. Um deles foi a lenta mas finalmente maciça exportação das indústrias produtivas (siderurgia, automóvel, informática, telecomunicações, audiovisuais, etc.) dos Estados Unidos e posteriormente da Europa para o continente asiático (Coreia do Sul, Formosa e sobretudo China). Outro é a desmaterialização galopante da moeda americana e a sua consequente desvalorização. Finalmente, e não menos importante, é a especulação financeira sem limites, a qual tem permitido expandir para níveis inimagináveis o crédito mundial disponível — nomeadamente através do pouco estudado esquema FOREX conhecido por currency carry-trade (de que o Japão foi, até 2007-2008, o principal protagonista global), e ainda dos seguros em cascata das operações de crédito recorrendo a derivados financeiros cada vez mais complexos e fora do radar regulador e fiscalizador das entidades de supervisão económica, financeira e monetária.

Ou seja, para além dos fundos comunitários que os países pobres da União receberam de Bruxelas, existiu uma disponibilidade sem precedentes de liquidez financeira suplementar às empresas, pessoas e governos, oriunda da especulação financeira e cambial. Quando a China descobriu que estava a financiar as importações americanas muito para além do poder de compra efectivo daquele país, ou a Alemanha percebeu que andava a vender BMWs e Mercedes a países europeus falidos —ocorrência provocada pela exposição súbita das imparidades financeiras que explodiam por todo o lado depois de a torneira do yen carry-trade ter sido fechada (pelos chineses!)— o colapso sistémico da globalização capitalista teve o seu início. E está longe de terminar!

É por tudo isto que as ditas grandes obras públicas têm um importância estratégica decisiva na actual situação do país, e poderão ter graves consequência para a paz social portuguesa, caso não sejam objecto de uma reavaliação imediata e radical. Como disse e bem Bagão Félix, no Plano Inclinado (SIC-N) desta semana, o novo aeroporto de Alcochete, as novas autoestradas previstas, linhas de comboio mal planeadas, barragens assassinas, etc., se forem realizados, tal implicará mais e muito mais endividamento público. E uma tal loucura —que é sobretudo uma cedência dos políticos corruptos que temos à aristocracia financeira e às endividadas empresas de construção civil e energéticas— traduzir-se-à na destruição do actual estado social. Se vier a acontecer, o PS de Mário Soares será o grande responsável pela óbvia destruição anunciada da democracia que ajudou a fundar.

Cavaco Silva tem-se revelado um presidente inútil perante um primeiro-ministro intolerável em qualquer democracia decente. As próximas semanas mostrarão se a eleição de Pedro Passos Coelho para líder do PSD tem ou não virtualidades para evitar o desastre para onde estamos a caminhar muito rapidamente.


POST SCRIPTUM (28-03-2010 13:19) — Estará o Presidente da República doente?

Recebi um SMS alertando-me para possíveis problemas de ordem neurológica que estarão afectando a saúde do presidente da república. A este aviso, que por enquanto não passa de hipótese, junta-se uma estranha sugestão do candidato presidencial Fernando Nobre para submeter os candidatos aos altos cargos públicos do Estado a exames médicos preventivos — tal como acontece nos Estados Unidos da América e em muito outros países. Estará Cavaco Silva doente? A especulação e o rumor estão instalados. Conviria pois que o presidente esclarecesse os cidadãos sobre esta dúvida antes que se torne alarme público. A própria análise política precisa de saber o que realmente se passa com a saúde da principal figura do Estado, sob pena de especular em cima de falhas graves de informação.


OAM 676—28 Mar 2010 3:21 (última actualização 13:29)

sábado, março 27, 2010

Portugal 175

Para Passos Coelho, Cavaco é um empata
Para Cavaco, o novo líder pode significar o fim da reeleição presidencial

Eu teria preferido ver Paulo Rangel ganhar as eleições do PSD (1) apesar de saber que a sua candidatura fora precipitada pelos acontecimentos e pressionada por Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva. Simplesmente preferi Rangel pela sua rapidez de manobra e instinto predador apesar das fragilidades manifestas. Mas as iminências laranjas, incluindo o comentador Marcelo, preferiram Rangel a Passos Coelho por motivos muito diferentes.

Como o pensamento político do novo líder eleito do PSD, apesar de estar no partido laranja há décadas, é absolutamente desconhecido (diz-se vagamente que o homem é mais liberal do que social-democrata), deduzo que os barões e Cavaco não gostam dele há muito tempo por motivos meramente partidários. Consideram-no, suponho, um produto fabricado, intelectualmente vazio e politicamente artificial. Em suma, um oportunista esperando a sua oportunidade.

Mas a verdade é outra. O homem de família, jovem, alto, cordato, algo tímido, que ganhou a pulso estas eleições directas no PSD é afinal um político profissional. Daí que os seus opositores internos tenham sido tão implacáveis. Suspeito agora (fez-se luz no meu espírito!) que a sua não inclusão na actual bancada parlamentar social-democrata foi uma decisão premeditada de Cavaco Silva executada por Manuela Ferreira Leite. E se assim foi, o tempo começou esta noite a jogar contra estes e outros velhos dirigentes do PSD, Pacheco Pereira incluído. E sobretudo contra a reeleição de Cavaco Silva!

A crise gravíssima que Portugal atravessa não tem apenas uma marca cor-de-rosa. As marcas do betão cavaquista e da hipertrofia do Estado são bem visíveis, e serão cada vez mais notadas à medida que se desbobine a história do endividamento estrutural do país. Passos Coelho não tem realmente nenhuma responsabilidade efectiva no descalabro actual. Ao contrário de José Sócrates, que acabou por se tornar no seu último protagonista.

Por sua vez, o estado catatónico em que se encontra o actual presidente da república, por mais medos atávicos e infundados que se atirem sobre a população relativamente ao bem supremo da estabilidade necessária para sangrar fiscalmente e esmagar socialmente a maioria dos contribuintes, não impedirá a justa e crescente indignação da democracia. Só uma nova maioria, um novo governo e um novo presidente poderão comprar o tempo necessário à dolorosa recuperação da nossa capacidade de produzir e exportar, e à mudança de comportamentos em todos os níveis da sociedade e em todos os departamentos de actividade profissional.

Por mim, a recandidatura presidencial de Aníbal Cavaco Silva e o cavaquismo morreram. E seria muito útil que o homem compreendesse e aceitasse rapidamente a evidência dos factos. Fernando Nobre poderia ser um bom substituto.

Ao contrário do que pensa a generalidade dos analistas, não vai ser o inquérito parlamentar ao primeiro ministro a prova de fogo de Passos Coelho. A prova de fogo serão as grandes obras públicas que a Mota-Engil, o BCP e o BES querem prosseguir no meio de um país que empobrece a olhos vistos e onde o desemprego, a emigração e o declínio dos serviços de saúde e dos apoios sociais acabarão por conduzir a uma tremenda instabilidade social.

Recomendação ao novo líder do PSD: não fale sobre o apoio do PSD à recandidatura de Cavaco Silva antes de este se pronunciar sobre o tema. Aliás, que sentido faz emitir uma opinião sobre um não acontecimento. Cavaco Silva diz que tem muito tempo para decidir. O PSD também!


NOTAS
  1. Ler "O PSD precisa de sumo novo!", "Se o Pedro Passos Coelho…", "E se o PS volta a ganhar?", "Entre Paulo Rangel e Aguiar Branco".


 OAM 675—27 Mar 2010 2:55

quinta-feira, março 25, 2010

Portugal 174

Uma oportunidade para a Eurolândia

Anything that is too big to fail is too big to exist (Simon Johnson).

Vou começar por atacar Cavaco Silva. Ao contrário do que poderíamos pensar, nas actuais circunstâncias, nem a queda do actual governo e um cenário de eleições antecipadas poderão reforçar o anjo caído em que se transformou a velha estrela do PSD. Entre ataques de pânico e uma espécie de máscara de optimismo sedado, as aparições do actual presidente da república tornaram-se um sintoma mais da crise de regime que se precipitou —como previmos— e se prolongará ao longo de toda a presente década.

Vamos precisar de reorganizar a sociedade de alto a baixo, e de fazer algum sangue para o conseguir. Cavaco Silva, espécie de rainha de Inglaterra sem paraísos fiscais, não está à altura de liderar o desafio de mudança que temos pela frente. Daí que a invectiva que a ele dirijo seja esta: anuncie quanto antes, antes do Verão —amanhã!— se pretende ou não recandidatar-se ao lugar onde até agora não fez o que de si qualquer português inteligente esperava: impedir o descalabro, sem precedentes nos últimos setenta e quatro anos, em que estamos. Se anunciar a recandidatura, opor-lhe-hei os meus melhores argumentos. Se desistir já, como deveria, aplaudirei. O que não é tolerável é que continue nessa atitude de obstipação intelectual oportunista, como se o pais fosse uma aldeia de parvos. Decida-se!

Portugal substitui Grécia nos pesadelos dos investidores

O euro cai mais de 1%, a Europa fechou em queda ligeira e Wall Street também protagoniza perdas. Tudo por causa de Portugal.

Portugal substituiu hoje a Grécia no ‘top' das preocupações dos investidores quando, por volta das 10 horas, a Fitch comunicou ao mercado que reduziu a classificação da dívida portuguesa para ‘AA-'. Foi o primeiro ‘downgrade' em 12 anos. — in Económico.

O PEC, em toda sua violência, é ao mesmo tempo a primeira e principal —porventura única— oportunidade que se nos depara para limpar o regime do lixo institucional, corporativo e cultural acumulado ao longo de trinta e cinco anos de democracia populista e corrupção político-partidária. Os partidos parlamentares vagueiam, como o governo vagueia, ao sabor das notícias, incapazes de pensar, de acertar uma ideia que seja, enfim de falar verdade. Vamos ter que os remexer!

A crise não é apenas portuguesa (1). Pois não! Mas a crise mundial da globalização precipitou (facto da maior importância) uma crise histórica portuguesa própria que larva desde a independência do Brasil. O que agora desaba com estrondo é um longo ciclo de 600 anos de colonialismo, é o vício autoritário da exploração permanente e sem remorso do próprio povo (nomeadamente através da recorrente válvula migratória), são nomenclaturas endogâmicas, indolentes e ignaras, é, em suma, a hipertrofia burocrática de um Estado bronco. É por isto tudo que, ao contrário do que afirma o optimista moderado Luís Campos e Cunha, estamos mesmo falidos! E fodidos também!!

Vamos todos, menos os banqueiros e o bando de piratas que nos governa, apertar o cinto. É uma realidade que nenhum debate parlamentar, nem nenhum sindicalista obtuso, conseguirá travar. Mas ao contrário do que se alardeia, os portugueses estão preparados para o saque, até porque sentem ter também alguma culpa no cartório, quanto mais não seja, pela circunstância de terem aproveitado sem crítica a abundância inusitada de dinheiro forte e crédito quase ilimitado e a custo desprezível que lhes foi sendo oferecido após a entrada no euro. Mas atenção: depois de consumada a sangria de vampiros que se prepara contra os bolsos contribuintes, o país nunca mais será o mesmo. E mais de um político estouvado, manhoso ou corrupto, acreditem, será engolido pela enxurrada que nascerá do colapso fiscal em curso.

Precisamos, como de pão para boca, de deixar renascer a iniciativa privada produtiva e a criatividade. Temos que corrigir o Estado —tornando-o forte, fiável e transparente onde é preciso que esteja (energia, água, saúde, supervisão financeira e justiça), aliviando-o ao mesmo tempo dos sectores onde está a mais. É, por outro lado, fundamental quebrarmos a santa e corrupta aliança entre os aristocratas financeiros, os governantes de turno e os prostitutos que medram nos apartamentos clandestinos a que chamam gabinetes de estudo.

The Quiet Coup
May 2009 ATLANTIC MAGAZINE
By Simon Johnson

The crash has laid bare many unpleasant truths about the United States. One of the most alarming, says a former chief economist of the International Monetary Fund, is that the finance industry has effectively captured our government—a state of affairs that more typically describes emerging markets, and is at the center of many emerging-market crises. If the IMF’s staff could speak freely about the U.S., it would tell us what it tells all countries in this situation: recovery will fail unless we break the financial oligarchy that is blocking essential reform. And if we are to prevent a true depression, we’re running out of time.

...

Cleaning up the megabanks will be complex. And it will be expensive for the taxpayer; according to the latest IMF numbers, the cleanup of the banking system would probably cost close to $1.5 trillion (or 10 percent of our GDP) in the long term. But only decisive government action—exposing the full extent of the financial rot and restoring some set of banks to publicly verifiable health—can cure the financial sector as a whole.

This may seem like strong medicine. But in fact, while necessary, it is insufficient. The second problem the U.S. faces—the power of the oligarchy—is just as important as the immediate crisis of lending. And the advice from the IMF on this front would again be simple: break the oligarchy.

...

The conventional wisdom among the elite is still that the current slump “cannot be as bad as the Great Depression.” This view is wrong. What we face now could, in fact, be worse than the Great Depression—because the world is now so much more interconnected and because the banking sector is now so big. We face a synchronized downturn in almost all countries, a weakening of confidence among individuals and firms, and major problems for government finances. If our leadership wakes up to the potential consequences, we may yet see dramatic action on the banking system and a breaking of the old elite. Let us hope it is not then too late. 

Vale a pena ler todo este clarificador testemunho sobre a perversão financeira que tomou de assalto a economia capitalista mundial, à excepção, claro, da China. O que hoje estamos a assistir nos Estados Unidos e na Europa é à escandalosa tentativa de especular com as dívidas soberanas por parte dos mesmíssimos especuladores, da mesmíssima estirpe de Wall Street —Goldman Sachs, JP Morgan e afins— que engendrou a economia de casino dos últimos trinta anos, parindo a ilusão de que as empresas, os estados e as famílias podiam endividar-se à mesa de um interminável banquete. Percebemos agora aquilo que no fundo já sabíamos: não há almoços grátis!

É por isso que uma amiga minha canadiana, que o meu país não soube acolher como devia, me aconselhava: não se deixem enredar nos mecanismos perversos da inveja (se os pilotos da TAP ganham muito ou não, se os automóveis adquiridos pela Assembleia da República são de luxo ou não, etc.) O importante é atacar a rede que a aristocracia financeira lançou sobre a sociedade portuguesa no seu conjunto, auxiliada pelos lacaios político-partidários, com o objectivo de controlar de forma sanguínea todo o tecido produtivo, social e cultural do país. É esta aliança fatal que tem que ser rompida! E para isso haverá que expor publicamente os neoliberais caninos que falam indistintamente em nome do socialismo e da democracia. E haverá que reunir os profissionais sérios deste país, estejam onde estiverem, em nome de uma verdadeira restauração do regime democrático, onde a ética da transparência, da responsabilidade pública e da liberdade criativa substituam a canga autoritária do estalinismo capitalista dominante, a cobardia burocrática e a subsidio-dependência.

As administrações políticas e incompetentes da NAER, da Refer, da TAP, da CP, do Metro de Lisboa, etc., devem ser substituídas por gente séria, independente e liberta de imposições político-partidárias. As SCUT e as corrompidas parcerias público privadas devem pura e simplesmente acabar. O Serviço Nacional de Saúde deve ser mantido como um direito universal e gratuito ("tendencialmente" gratuito é um sofisma), assegurando-se ao mesmo tempo a eficiência e responsabilidade económica de todos e cada um dos seus sectores económicos e profissionais nele envolvidos (2). Os bancos têm que pagar impostos e ser vigiados, não apenas pelos governos nacionais, mas também pelo BCE e por um Fundo Monetário Europeu a criar. Têm que ser implementadas regras exigentes no domínio do tráfico de influências e das incompatibilidade deontológicas. Os cidadãos têm direito de exigir do Estado um banco público que não funcione como saco azul dos partidos no governo, nem se envolva em manobras de gangues político-financeiros, nem muito menos comprometa o dinheiro dos contribuintes e dos depositantes, em operações com produtos financeiros especulativos ou mesmo fraudulentos. Ou seja, temos que exigir a refundação da Caixa Geral de Depósitos nos termos da sua vocação original. Ao mesmo tempo, os portugueses deverão poder promover a constituição de novas cooperativas independentes de depósitos isentos de IRS e IRC, com o objectivo público bem delimitado de fazer regressar a poupança ao país.

Há toda uma agenda nova para discutir. Sobretudo depois da cimeira europeia deste fim-de-semana, de onde se espera que saia algum fumo vermelho capaz de sustar a ofensiva anglo-americana contra o euro (3), bem como a criação de uma instância de coordenação económica efectiva da zona euro. A janela de oportunidade da União Europeia pode encerrar temporariamente para obras. Mas isso significaria o colapso instantâneo da Grécia, e atrás de semelhante desastre seguir-se-iam inevitavelmente Portugal e Espanha.

Gaps in the eurozone 'football league'

By Wolfgang Münchau from the Financial Times
March 21 2010

At last we are heading towards a resolution, albeit a bad one. After weeks of pledges of political and financial support, Angela Merkel appears ready to send Greece crawling to the International Monetary Fund.

Germany cites legal reasons for its position. In past rulings, its constitutional court has interpreted the stability clauses in European law in the strictest possible sense. These rulings have left a deep impression among government officials. It is hard to say whether this argument is for real or is just an excuse not to sanction a bail-out that would be politically unpopular. It is probably a combination of the two.

I have heard suggestions that a deal may still be possible at this week's European summit, but only if everybody were to agree to Germany's gruesome agenda to reform the stability pact. That would have to include stricter rules and the dreaded exit clause, under which a country could be forced to leave the eurozone against its will. I am not holding my breath.

But either outcome will mark the beginning of the end of Europe's economic and monetary union as we know it. This is the true historical significance of Ms Merkel's decision.

While Greece faces the most acute difficulties, it is not the only member in trouble. There are at least four - Greece, Spain, Portugal and Ireland - that are probably not in a position to maintain a monetary union with Germany under current policies indefinitely. There may be several more, where the problems are not yet quite so evident. In the presence of extreme current account imbalances and a lack of bail-out or fiscal redistribution mechanisms, a monetary union among such a diverse group of countries is probably not sustainable.

A crise financeira actual decorre do rebentamento consecutivo de pelo menos quatro bolhas especulativas: a primeira delas, e a mais importante, resultou da especulação cambial promovida pelo Japão ao longo de décadas com vista a financiar as suas exportações (o chamado Yen Carry Trade), na senda da qual se montou a grande bolha imobiliária das hipotecas Subprime. Por sua vez a Goldman Sachs, com o objectivo de ultrapassar o crescimento medíocre das economias ocidentais, inventou um conjunto de produtos financeiros opacos destinados a escalar de forma piramidal o endividamento das pessoas, empresas e governos muito para além do imaginável, criando-se assim o maior buraco negro financeiro de sempre, conhecido por mercado de derivados financeiros (ou derivatives) cujo valor nocional de 684 biliões de USD (em Junho de 2008) corresponde a qualquer coisa como 10x o PIB mundial. Para este buraco se precipitaram bancos, fortunas pessoais, milhões de casas hipotecadas cujas hipotecas foram executadas pelos bancos, e agora estados inteiros, como a Islândia, e quem sabe, dentro em breve, a Irlanda, a Grécia, Espanha e Portugal. Mas os grandes colapsos que gigantescas forças tectónicas neste momento abalam ocorrerá muito provavelmente em Inglaterra e nos Estados Unidos da América. A Grécia e Portugal podem não passar, efectivamente, de manobras de diversão!

E aqui chegados volto uma vez mais a insistir no fundamental: tudo isto é resultado de uma mudança tectónica do principal eixo do poder estratégico mundial, o qual vem sofrendo uma irremediável deslocação do Ocidente para o Oriente.

In April 2009 China became Brazil’s largest trading partner, a position which, for centuries, has correctly anticipated major scissions in world leadership. Since, two hundred years ago, the United Kingdom brought an end to three centuries of Portuguese hegemony, it is only the second occasion that this has happened (the United States indeed replaced the United Kingdom at the beginning of the 1930’s as Brazil’s major trading partner) — in GEAB Nº43.

Depois do fracasso da Cimeira de Copenhaga, onde a Europa e os Estados Unidos tentaram meter todo o mundo e em particular os países emergentes dentro de uma bolha verde especulativa —manobra que foi expeditamente impedida pela China, Brasil e  Índia— era inevitável assistirmos ao rebentamento da bolha especulativa das chamadas dívidas soberanas. Tal como os cidadãos empobrecidos compraram casas sem terem condições para tal, também largas dezenas de governos em todo o mundo se entretiveram numa competição de obras públicas mais ou menos faraónicas, que agora têm que pagar, mas não podem... pois a pirâmide especulativa dos empréstimos em cadeia quebrou. Quem deve ir preso? Muita gente!

The China Brazil food bridge
By Marcos Fava Neves (chinadaily.com.cn)
Updated: 2009-08-31 18:12

Brazil has become much more important to China in the last 10 years. The flows of trade between China and Latin American countries rose from US$10 billion in 2000 to US$140 billion in 2008. Fifteen percent of Brazil's exports goes to China in 2009, up from eight percent just a year ago.

… In the coming years Brazil has an opportunity to be the most important partner to supply food and biofuels. Soybeans exports from Brazil to China grew 27 percent in 2009 from a year ago.

Na China 7% da terra arável do planeta alimenta parcialmente 22% da população mundial, com todos os graves inconvenientes que desta desproporção insustentável resultam, nomeadamente no que respeita a dois fenómenos que preocupam em extremo os chineses: a contaminação ambiental por via das quantidades astronómicas de adubos utilizados, e a desertificação provocada pelo pastoreio intensivo que levou já ao avanço catastrófico do deserto de Gobi sobre a região de Pequim. Percebe-se, pois, o valor estratégico de países como o Brasil (o maior produtor potencial de alimentos do planeta), mas também do Médio Oriente (Arábia Saudita, Iraque e Irão) e África (nomeadamente o corredor entre Angola e Moçambique) para o abastecimento de energia, matérias primas e alimentos.

Enquanto os países ocidentais têm sobretudo que regressar à economia real, destruindo sem hesitação a letal aristocracia financeira que os colocou no aperto em que estão, a China e o Brasil, acompanhados pela OPEP, têm um problema bem mais interessante pela frente: começar a dar as cartas do novo jogo de estratégia mundial.


POST SCRIPTUM

Um leitor atento e crítico deste blogue chamou a minha atenção para o crony capitalism (uma espécie de capitalismo tradicional entre nós, essencialmente baseado nas relações familiares —endogamia—, na cunha e na opacidade burocrática dos processos de gestão). Este é um problema geral do capitalismo tardio, nomeadamente na área financeira, onde se reúnem hoje os aristocratas do estalinismo capitalista que desde 1974 predomina no Ocidente (Wall Street, Clube Bielderberg, G7, Reserva Federal, Goldman Sachs, J.P. Morgan, etc.) Na realidade, temos dois problemas por atacar: o do capitalismo endogâmico, que ameaça destruir suavemente as democracias ocidentais, sob o manto protector de regimes parlamentares populistas; e o da captura do capitalismo produtivo e da liberdade criativa pela mancha corrupta e insaciável do capitalismo financeiro fraudulento, assente em modelos Ponzi de especulação e roubo, complexos e de difícil detecção, solidamente protegidos pela meia centena de paraísos fiscais na posse, entre outros, da rainha de Inglaterra. Esta espécie de tenaz é hoje o principal inimigo da liberdade e a mais poderosa ameaça à sustentabilidade das sociedades humanas. O buraco negro dos chamados derivados financeiros é o resultado tenebroso desta forma decadente de capitalismo. Se a não travarmos agora poderemos caminhar rapidamente para o colapso geral das sociedades, à semelhança do qe ocorreu na ilha da Páscoa (ler a propósito o excepcional livro de Jared Diamond, Collapse).

Há, porém, outro problema igualmente geral, do qual somos todos —pelo menos no mundo Ocidental— parcialmente responsáveis, chamado consumismo. A receita keynesiana para resolver o problema social resultante do aumento da produtividade humana (que induz a queda tendencial da taxa de lucro, a inflação, o desemprego, as crises de sobre-produção, a deterioração dos termos de troca mundial, favorecendo a exportação da economia real para os países de mão-de-obra barata, e os colapsos financeiros resultantes da especulação nos mercados) falhou. Expandir o consumo interno das sociedades levou-nos a uma crise de recursos e ambiental sem precedentes!

A minha amiga canadiana, que deu origem a este escrito, recomendou-me a leitura de um economista americano de origem norueguesa e do século 19, que muito antes da crise de 29 (aliás viria a morrer nesse ano) denunciou os perigos do que ele chamou o consumo conspícuo. Esse economista foi Thortein Veblen, e o seu mais famoso livro —Theory of the Leisure Class (1899)— deveria ser efectivamente relido por quem tencionar escrever um verdadeiro programa para a saída da presente crise do capitalismo ocidental.



NOTAS

  1. Has Germany just killed the dream of a European superstate? 

    By Ambrose Evans-Pritchard from the Telegraph

    A Greek default would alone be twice the size of the combined defaults by Argentina and Russia. Contagion across Club Med would instantly set off a second banking crisis.



    So, it is not enough for the EU to impose a fiscal squeeze of 10pc of GDP on Greece, 8pc on Spain, and 6pc on Portugal, and 5pc on France over three years, we need a dose of 1930s monetary policy as well to make sure life is Hell for everybody.

    Be that as it may, Greece's George Papandreou says his country is in the worst of both worlds, suffering IMF-style austerity without receiving IMF money - which comes cheap at around 3.25pc. So why allow his country to be used as a "guinea pig" - as he put it - by EU factions pursuing conflicting agendas?

    The IMF option has its limits too. The maximum ever lent by the Fund is 12 times quota, or €15bn for Greece, not enough to nurse the country through to June. The standard IMF cure of devaluation is blocked by euro membership. So Greece will have to sweat it out with a public debt spiralling to 135pc of GDP next year, stuck in slump with no exit route.

    The deeper truth that few care to face is that under the current EMU structure Berlin will have to do for Greece and Club Med what it has done for East Germany, pay vast subsidies for decades. Events of the last week have made it clear that no such money will ever be forthcoming.

    Let me be clear. I do not blame Greece, Ireland, Italy, or Spain for what has happened. No central bank could have tried more heroically than the Banco d'España to counter the effects of negative real interest rates, but the macro-policy error of monetary union washed over its efforts.

    Nor do I blame Germany, which generously agreed to give up the D-Mark to keep the political peace. It was the price that France demanded in exchange for tolerating reunification after the Berlin Wall came down.

    I blame the EU elites that charged ahead with this project for the wrong reasons - some cynically, mostly out of Hegelian absolutism - ignoring the economic anthropology of Europe and the rules of basic common sense. They must answer for a depression.

  2. Não deixa de ser uma ironia que no preciso momento em que Barack Obama consegue fazer aprovar a implementação do Serviço Nacional de Saúde nos Estados Unidos, em Portugal, a turma de piratas e oportunistas capitaneada pelo "socialista" José Sócrates continue alegremente a destruir o SNS criado pelo próprio PS quando ainda havia socialistas na sua direcção.

  3. ... a global monetary war has started, with Washington and London trying to defend their currencies against the new kids on the block such as the Euro and the Yuan.

    … in the coming years the Eurozone needs to create a kind of 'Rapid Financial Deployment Force', such as a European Monetary Fund, dedicated to the sole Eurozone interests. One reason being that the Eurozone can no longer trust the IMF (in Washington's hands) to respect its own interests rather than those of the Dollar. — in Eurozone needs a Economic Governance: Let's transform the Greek tragedy into the first Eurozone epic, by Franck Biancheri, Marianne Ranke-Cormier, Veronique Swinkels, Margit Reiser-Schob Newropeans.

OAM 674—25 Mar 2010 1:39

domingo, março 21, 2010

Eurocidades

Que falta para a eurocidade do Caia? O TGV?


Ver Eurocidade do Caia num mapa maior


El estudio del tramo Badajoz-Portugal del AVE sitúa la estación en suelo extremeño

La estación internacional que incluye la línea del AVE Madrid-Lisboa en la frontera lusa estará en suelo extremeño. Será así de aprobarse el estudio informativo del tramo Badajoz-Frontera Portuguesa, que se encuentra ya en exposición pública, y que incluye la propuesta de una estación internacional junto a la frontera portuguesa, en suelo español.

En el estudio informativo se concreta que la estación internacional, que también dará servicio a Badajoz y su comarca, "se propone esté situada junto a la frontera portuguesa (río Caia)", contemplándose "una conexión con el lado portugués, que podría materializarse con la ubicación al otro lado de la frontera de algunas instalaciones, como un aparcamiento, enlazadas mediante una pasarela de conexión". — El Periodico de Extremadura (18-12-2008)

 A União Europeia atravessa neste momento uma prova de fogo por causa das profundas assimetrias de desenvolvimento entre os estados e regiões que a compõem, e ainda por causa da tremenda crise de endividamento empresarial, público e familiar que acabou por desembocar num colapso sistémico do Capitalismo à escala global, o qual vem sacudindo com mais veemência as economias viciadas no consumo e nas importações baratas, afectando menos as que vivem sobretudo da produção e da exportação de produtos. Há, por mais incrível que pareça, a possibilidade de países como a Grécia, Espanha e Portugal serem postos fora do euro, ainda que parcialmente e por um período limitado de tempo! Tudo vai depender da capacidade da Alemanha poder suportar os custos colossais do saneamento financeiro da União Europeia.

Enquanto as crises financeiras dos PIIGS afligem a Alemanha pelo seu potencial desestabilizador relativamente ao euro, há outros países bem maiores, em situações financeiras bem piores, e cujas ameaças à tranquilidade mundial são bem mais preocupantes. Refiro-me naturalmente ao Japão, aos Estados Unidos e ao Reino Unido.

Numa palavra: o programa de transportes ferroviários de alta velocidade na península ibérica vai ter que abrandar necessariamente a sua marcha. Os futuros AVEs, LAVs, ou TGVs, vão ter que correr a velocidades inferiores às anunciadas, baixando as velocidades de ponta dos 350Km para 300Km/h, e apontando para velocidades médias na ordem dos 250Km — pois só assim poderão controlar os custos exponenciais associados à velocidade, seja na concepção-construção das infraestruturas e material circulante, seja na caríssima manutenção deste tipo de transporte. Por outro lado, o endividamento excessivo dos governos, das empresas e das famílias, associado a um desemprego estrutural e conjuntural sem precedentes, conduzirá necessariamente a um abrandamento das actividades económicas e de diversão, a uma vigilância mais apertada dos custos escondidos dos bens públicos e de consumo (até agora subsidiados sem limites, sem transparência e sem controlo), e à consequente análise mais criteriosa do custo-benefício dos grande investimentos públicos. Os Estados europeus vão deixar de estar autorizados a parir elefantes brancos invendáveis (nomeadamente quando os ditos acabam por ir parar aos leilões das privatizações!) Como já é patente, a rede de alta velocidade ferroviária em toda a península ibérica começou a diferir datas e a travar alguns dos investimentos, lançando uma neblina de indefinição (ver mapa) sobre o optimismo oficial dos governantes do PSOE e do PS.

Mesmo a ligação Madrid-Lisboa, cujo interesse estratégico para ambos os países é óbvia, parece estar envolta numa bruma cada vez mais densa de indefinições. Onde estão os projectos de execução? E os prazos reais? 2013, 2014, 2015? Quando será, alguém sabe de ciência certa? Duvido!

Por outro lado, basta olhar para o mapa de realizações e projecções da Alta Velocidad Ferroviaria Española publicado na Wikipédia, para se perceber que as ligações entre Aveiro e Vilar Formoso, e entre Porto e Vigo, caso fossem realizadas nos prazos outrora anunciados, de nada serviriam pois nem Vigo tem previsão fiável para a sua ligação a Orense, Zamora (para chegar a Madrid ou Irún), nem há qualquer previsão para a conclusão da ligação entre Salamanca e Ávila (para chegar a Madrid) ou Valladolid (para chegar a Irún). Ou seja, para já, a prioridade da Moncloa é apenas uma: chegar a Lisboa e ao porto de Sines o mais depressa possível. O resto logo se vê.

Mais cedo ou mais tarde haverá uma nova rede ferroviária ibérica em bitola europeia. O mais importante, salvo nas ligações entre as principais cidades, não é a alta velocidade, mas a adequação das linhas (isto é a bitola das vias) e sistemas de apoio ao transporte de pessoas e mercadorias. O importante é construir uma rede apertada de mobilidade ferroviária que sirva pessoas e empresas, alimentada com energia eléctrica (e não diesel!) O contrário, portanto, do que os corruptos governantes portugueses têm congeminado a este propósito, nomeadamente para continuar a alimentar uma incompetente clientela de especuladores e candidatos a monopólios privados, incapazes de correr em mar aberto.

Em 2013, 2014 ou 2015 haverá um transiberiano a ligar Barcelona, Saragoça, Valência, Córdova, Sevilha e Madrid a Lisboa, e no sentido inverso, Lisboa a Madrid, Sevilha, Córdova, Saragoça, Valência e Barcelona, entre outros grandes e pequenos destinos ibéricos. Nestas ligações haverá, no entanto, uma única estação internacional, e não será em nenhuma das grandes cidades, mas na fronteira entre Portugal e Espanha, mais perto de Badajoz do que de Elvas, mais precisamente no Caia.

Por um entendimento que não entendo, ou por má negociação da parte portuguesa, a estação do Caia encontra-se apenas do lado espanhol, quando deveria estar literalmente encavalitada na fronteira do Caia, e além do mais, servida por metro de superfície ligando em rede Badajoz, Elvas, Campo Maior, Olivença e Talavera la Real. É preciso ambição, pensar em grande, se quisermos obter resultados que se vejam. Neste caso, lançar a primeira verdadeira eurocidade ibérica!

E é por isso que proponho a deslocação da estação do Transibéria (nome unificado que proponho para o AVE/LAV/TGV) 500 ou 600 metros para Ocidente, por forma a termos uma estação de comboios verdadeiramente internacional, onde cesse por tratado a fronteira entre Portugal e Espanha, havendo em seu lugar um território bi-nacional, bilingue, com a mesma moeda, mas também com a mesma fiscalidade e uniformidade competitiva de preços. Se soubermos resolver a esta escala todos os problemas jurídicos, económico-financeiros, políticos e culturais que naturalmente se colocam, teremos resolvido o problema teórico-prático da criação de uma eurocidade alargada, envolvendo uma comunidade de municípios, onde desde logo estariam incluídas Elvas, Badajoz, Campo Maior, Olivença e Talavera la Real. O nome dessa cidade nova? Caia!

Tenho falado com bons amigos de Elvas e de Badajoz sobre estes temas. É para todos nós claro que a futura estação do transiberiano no Caia, associada à plataforma logística que ali será igualmente instalada, e ao requalificado aeroporto de Badajoz (em Talavera la Real) compõem um mosaico de desenvolvimento a meio caminho de Lisboa, Madrid e Sevilha, com um enorme potencial.

Mas para que esta rêverie se torne realidade teremos que atacar de frente os fantasmas da iberização, nomeadamente aqueles que assustam Portugal — isto é, a iberização como Cavalo de Tróia do sonho de uma grande Espanha com capital em Madrid. Oitocentos e sessenta e sete anos de história portuguesa demonstram à saciedade que esse será sempre um pesadelo sem futuro. Madrid e Castela terão o seu acesso ao Atlântico, por cortesia de Portugal e interesse mútuo. O futuro da Europa passa e passará mais do que se pensa pelo Atlântico, e por isso passa e passará mais do que se pensa pelo renascimento das velhas potências atlânticas, ainda que desta vez para conter e negociar com novos actores mundiais, com que nos damos, aliás, há séculos!


OAM 673—21 Mar 2010 21:00

sexta-feira, março 19, 2010

Portugal 173

Depois dos PECs



Ou fazemos da cura de emagrecimento que aí vem uma oportunidade de saneamento e correcção da nossa maneira de trabalhar, imaginar e conviver, ou não faltarão tumultos e aflição por toda a parte.

Barroso: ‘No country can be expelled from euro zone’

19 March 2010 - In an interview to be broadcast ahead of an EU summit next week, European Commission President José Manuel Barroso says expelling a country from the euro zone, as suggested by German Chancellor Merkel, would be against EU treaty rules. — in EurActiv.

A Eurolândia tem uma moeda forte. Chama-se Euro. Esta nova e revolucionária divisa financeira de sucesso —a primeira das futuras moedas regionais em germinação (haverá uma moeda asiática, e outra pan-americana, pelo menos)— é, por enquanto, um euro-marco, quer dizer, uma moeda cuja robustez depende sobretudo das exportações e da saúde económico-financeira da Alemanha.

Apesar da locomotiva industrial e técnico-científica alemã continuar a precisar de estabelecer o seu "espaço vital" (Lebensraum) a Leste, a verdade é que duas devastadoras e horríveis guerras mundiais com origem na Alemanha convenceram aquele país e o continente (o reino inglês ainda não aprendeu) a optar por uma via pacífica em direcção a uma espécie de Estados Unidos da Europa. Sendo a Alemanha quem mais perderá com uma sempre possível implosão do espaço vital alargado que é a União Europeia actualmente em construção, Berlim, ou melhor Frankfurt, decidiu abrir os cordões à bolsa para financiar os mais atrasados, de Dresden a Lisboa, passando por Atenas e Madrid. O preço foi gigantesco e pesa hoje de forma visível na degradação material do estilo de vida alemão, a começar pelas cicatrizes urbanas que não param de aumentar. Pior: boa parte da poupança europeia esvaiu-se, ao longo dos últimos vinte anos, no consumismo hedonista, no narcisismo burocrático e na corrupção. A crise aguda das chamadas dívidas soberanas em países como a Islândia, Irlanda, Grécia, Portugal, Itália e Espanha, não atingiu ainda a sua fase realmente crítica. Alguns analistas falam de Junho e em todo o caso deste próximo Verão como uma prova de fogo. Veremos até lá se os PIIGs ficam ou saem da Eurolândia!

É por isto que a chanceler Angela Merckel tem vindo a dar sinais sucessivos da sua preocupação perante a leviandade com que os políticos corruptos ou simplesmente irresponsáveis de Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha parecem querer prosseguir com os banquetes orçamentais. A Alemanha tem ela própria sérios problemas económico-financeiros e sociais, tal como a França e o Reino Unido. A situação é explosiva. E o que ninguém quer é que a Grécia ou Portugal, ou sobretudo a Espanha, se transformem de repente nas cavilhas soltas de uma bomba-relógio. O endividamento público e privado que o Ocidente democrático e rico deixou crescer no meio do seu frenético consumismo está mesmo prestes a rebentar!

German Politicians Want Greece to Sell Islands, Bild Reports

 March 4 (Bloomberg) -- German politicians say Greece must sell property, companies and uninhabited islands to raise money for debt payments, the newspaper Bild  reported.

“A bankrupt party must use everything he has to make money and serve his creditors,” said Josef Schlarmann, a member of Chancellor Angela Merkel’s Christian Democratic Union, who heads a lobby representing 40,000 business owners and managers allied to the party. “Greece owns buildings, companies and several uninhabited islands, which can now be used to repay debt.”

Greece must “radically part with company shares and also sell property, for example uninhabited islands,” said Frank Schaeffler, financial expert of Germany’s Free Democratic Party.

Mas o problema dos PIIGS é ainda mais sério no Reino Unido, no Japão ou sobretudo nos Estados Unidos.

Taking On China, by Paul Krugman

March 14, 2010 — Tensions are rising over Chinese economic policy, and rightly so: China’s policy of keeping its currency, the renminbi, undervalued has become a significant drag on global economic recovery. Something must be done.

To give you a sense of the problem: Widespread complaints that China was manipulating its currency — selling renminbi and buying foreign currencies, so as to keep the renminbi weak and China’s exports artificially competitive — began around 2003. At that point China was adding about $10 billion a month to its reserves, and in 2003 it ran an overall surplus on its current account — a broad measure of the trade balance — of $46 billion. — in New York Times.

Talvez por isso os economistas ocidentais, mesmo os mais prestigiados, procurem bodes expiatórios. Erram, porém, o alvo! Quem transformou a economia mundial num gigantesco casino Dona Branca não foram os chineses, mas sim os americanos, ingleses e japoneses, arrastando para esta pirâmide Ponzi boa parte da economia mundial, e certamente todos os especuladores financeiros deste mundo.

US Wants ONLY China To Stop Using FOREX Holdings As Currency Tool, by Elaine Meinel Supkis.

For years and years, I have pointed out the dangers of JAPAN doing this.  Japan invented doing this as a means for keeping the value of the yen cheap so they could infiltrate and destroy US native industries while keeping the US locked nearly totally out of Japan’s domestic markets.  The US struggled for years to force Japan to raise the value of the yen but once Japan began its ZIRP lending coupled with an immense FOREX hoard, all attempts at making the yen ceased.

This was wrecked by China in August, 2007.  After Japan joined the US and EU in demanding China cease holding US dollars and euros, China snapped back that Japan was doing this, how dare they order China to stop doing what Japan was doing!  Japan then sneered at China, saying, ‘We can do whatever we want because we are allies of NATO countries, HAHAHA.’  China then retaliated by forcing the Japanese to pay China in yen, not dollars.  Then, China began hoarding yen and this drove up the value of the yen against the dollar and this killed the Japanese carry trade which caused all that free ZIRP Japanese credit to suddenly vanish and this is the true trigger of the banking collapse, not US homeowners defaulting on loans. - in Culture of Life News.

Apesar da crise de fundo —que deriva da exportação continuada da capacidade produtiva dos países outrora ricos do Ocidente para a China e outros países de mão de obra e moeda baratas— os países endividados, em vez de arrepiarem caminho pelo único lado possível —que é o do regresso à produção de coisas úteis, da eficiência energética, da penalização dos consumos não essenciais, da eliminação do pseudo-emprego e da moralização do serviço público e da política— prosseguem alegremente no caminho da estalinização do Capitalismo especulativo, da manutenção e reforço dum funcionalismo público desorganizado e hipertrofiado, e na especulação desenfreada, desta vez com as dívidas soberanas dos povos!

Para isto especulam com as moedas nesse casino super aquecido chamado FOREX.

A última colocação de dívida pública portuguesa (soberana) a um ano, no mercado especulativo mundial, pagará uma taxa de juro de 1,73%. Mas a taxa directora actual do BCE é de 1%, e poderá baixar! Imagine-se agora que os compradores da nossa dívida se financiam em mercados ainda mais baratos do que o do BCE, por exemplo estes:

Taxas directoras de alguns bancos centrais que seguem a chamada política ZIRP:
  • Banco do Japão = 0,1%
  • Reserva Federal (E.U.A.) = 0,25%
  • Suécia = 0,25%
  • Suíça = 0,25%
  • Banco de Inglaterra = 0,5%
  • Banco do Chile = 0,5%

O negócio não poderia ser mais apetecível, sobretudo porque os reformados, os trabalhadores produtivos e as classes médias cá estarão para pagar. Negócio melhor do que este não há nas presentes circunstâncias.

A menos que surja por aí uma revolução que estrague tudo, os bancos, os grandes grupos económicos e os especuladores a tempo inteiro não querem outra coisa. Melhor do que isto só mesmo empresas públicas privatizadas ao desbarato por governos falidos, corruptos e traidores.


OAM 672—19 Mar 2010 19:39 (última actualização: 22:43)