sexta-feira, outubro 26, 2007

Aeroportos 39

Mochila Mandarina Duck
Do conforto, fiabilidade, preço e rapidez do comboio,
às imbatíveis Low Cost, com uma mochila às costas...
Foto: Mochila da Mandarina Duck.
Burro a pão de Ló

Uma TAP inviável num NAL improvável é como um burro alimentado a pão de Ló.
Escusam de nos atirar mais areia p'rós olhos no que toca ao panorama ferroviário, às novas PPP assassinas no horizonte e aos muitos salamaleques que o actual Bloco Central continua a fazer ao Sr. Betão e ao Sr. Paraíso Fiscal (eufemisticamente chamado off-shore). O que vemos sair do emaranhado de neurónios fundidos do Sr. Lino assusta, como sempre, pelo descarado cabotinismo
.

Entretanto...
Companhia aérea mexicana quer começar a operar com os Boeing 737-700 ER Next Generation entre Vigo e o México. O que faz dos sonhos húmidos sobre grandes Hubs aeroportuários, isso mesmo: sonhos húmidos, e nada mais.

easyGroup, proprietária da easyJet abre quatro hoteis Low Cost, a 40 euros por pessoa, em Portugal, nos próximos 4 anos. O primeiro deles inaugura ao fundo da Av. dos Aliados, no Porto, já no próximo ano. Jornal de Negócios, 26-10-2007.

A guerra de taxas aeroportuárias entre Madrid-cidade, um aeroporto público, e Madrid-Sur (Ciudad Real), um aeroporto privado, que já começou a prestar provas de pista, vai aquecer e provocar novos e inesperados estragos na Portela e sobretudo na TAP, a braços com a sucata da PGA e uns... milhares de trabalhadores a mais!
Resumindo, são estes os dados da equação que o burro do MOPTC não consegue resolver:
  1. o petróleo, o gás e os recursos naturais entraram numa empinada e duradoura espiral inflaccionista;
  2. o paradigma Low Cost, iniciado com as ligações aéreas ponto-a-ponto de médio curso, mas que vai estender-se às distâncias de longo curso, a outros meios de transporte (comboios, barcos e rent-a-car), e ainda aos vários sectores económicos integrados na fileira das Short Break Holidays (hoteis, restaurantes, casinos, feiras e congressos, etc.), veio para ficar, e assim sendo, tenderá a fazer implodir as chamadas companhias de bandeira, sobretudo estatais, devido aos respectivos maus hábitos administrativos, mordomias políticas, lastro despesista e um sem número de ineficiências operacionais;
  3. a compra da PGA foi uma burla de Estado, pois na aparência dum acto de gestão corrente de uma empresa pública, obrigada a seguir as regras do mercado, o Estado, sob os auspícios do governo e do burro do MOPTC, libertou um banco privado das suas responsabilidades empresariais, atirando com o ónus das más previsões deste (prejuízos de exploração, capital fixo moribundo e força laboral excedentária) para as contas de uma empresa pública em vésperas de privatização, comprometendo irremediavelmente o êxito de tal operação. Ou seja, o Estado comprou um fruto que sabia estar podre, desembolsando para o efeito 144 milhões de euros (29 milhões de contos!) dos bolsos de todos os contribuintes. Onde estão os advogados do povo?! E os jornalistas?
  4. a TAP está num estado crítico, por falta de visão estratégica atempada, por má gestão e por efeito da concorrência crescente das Low Cost. Isto significa que dificilmente resistirá até 2016. No imediato, não lhe resta outra alternativa que não passe pela alienação de empresas do grupo e por despedimentos colectivos. Salvo se for resgatada por um milagre angolano, russo, chinês ou árabe, será forçada a abrir falência mais cedo do que todos desejaríamos;
  5. o "Estado exíguo" (Adriano Moreira dixit) a que chegámos, politicamente hiper-instável, impede a subsistência prolongada de situações de impasse económico-financeiro como o que actualmente vive a transportadora aérea nacional;
  6. a captura, directa ou indirecta, do Estado e partidos do arco parlamentar pelos carteis da construção civil, do imobiliário e da banca, tem vindo a atrofiar gravemente as possibilidades de definição de uma estratégia de transportes coerente e sobretudo útil ao estádio actual das nossas reais necessidades no contexto da acrescida competitividade ibérica, europeia e mundial;
  7. O Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), nas presentes circunstâncias nacionais, europeias e mundiais, fazendo sentido pelo lado da estratégia e da política, não tem provavelmente nenhumas condições de viabilidade e será um desastre económico se for adiante, pelo que o Estado português deveria condicionar um tal projecto à avaliação rigorosa da sua sustentabilidade económica e impor sem margem para dúvidas toda a responsabilidade do negócio nas mãos do sector privado. Isto é, SCPC - SEM CUSTOS PARA O CONTRIBUINTE!

Prioridades absolutas
  1. adequação efectiva (e não aldrabada!) dos aeroportos existentes às necessidades reais do mercado, com incidência especial nas seguintes infra-estruturas: Portela-Figo Maduro, Montijo, Sá Carneiro e Faro-Algarve;
  2. modernização dos aeródromos de Fátima, Évora e Beja em regime SCPC;
  3. ligação ferroviária de Alta Velocidade/Velocidade Elevada entre Lisboa e Madrid (1);
  4. ligação ferroviária de Velocidade Elevada entre Porto e Vigo;
  5. ligação ferroviária de Velocidade Elevada entre Porto, Aveiro e Salamanca;
  6. ligação ferroviária de Velocidade Elevada entre Lisboa-Sines-Faro-Huelva;
  7. finalização das escandalosas obras da Linha do Norte por forma a permitir os Alfa Pendulares (2) circularem em maior número e a velocidades médias superiores (baixando o tempo de viagem para valores entre as 2h30mn e as 2h10mn), ao mesmo tempo que se introduzem radicais melhorias na manutenção do material circulante e no serviço de atendimento especial, nomeadamente o prestado a bordo: garantia de rede móvel em todo o percurso, acesso Internet de banda larga, tomadas para ligação de computadores em todos os lugares, estacionamento gratuito e refeições ligeiras para viajantes em classe conforto, marketing agressivo sobre as vantagens económicas, psicológicas e de segurança para quem viaja de comboio, e muita, muita simpatia :-)


Notas
  1. Segundo Rui Rodrigues, as linhas transversais são prioritárias, e explica porquê:
    -- com a rede existente, qualquer comboio de passageiros e mercadorias de bitola ibérica (distância entre carris = 1.668 mm ) e de tracção eléctrica pode circular livremente desde Braga até Faro ou dos portos de Sines e Setúbal para o Norte do País.
    -- uma nova linha, em bitola europeia (distância entre carris = 1.435 mm ), só faz sentido se for construída de uma só vez desde o ponto inicial até ao ponto final. De contrário, se fosse construída uma linha deste tipo apenas entre Lisboa e Porto, os comboios da actual rede de bitola ibérica, vindos de Braga, de Setúbal ou do Algarve não poderiam utilizá-la, sendo necessário proceder ao transbordo de passageiros e mercadorias!
  2. Rui Rodrigues, "Alfa Pendular, a oportunidade perdida da CP" (PDF)

OAM 269, 26-10-2007, 18:16

3 comentários:

Diogo disse...

«O que faz dos sonhos húmidos sobre grandes Hubs aeroportuários, isso mesmo: sonhos húmidos, e nada mais.»

Lembro-me de termos tido uma conversa acerca de grandes Hubs há pouco tempo. Sobre um grande Hub em Lisboa, mais precisamente.

António Maria disse...

O principal, concordo, é navegar à vista em relação a certas matérias (que metam muita energia, por exemplo) e não comprometer mais as finanças do país com projecções levianas. Creio q devemos contrapor ao conceito PPP o conceito de SCPC (sem custos para o contribuinte...), e penalizar os responsáveis pelos actos de gestão pública danosa.

Anónimo disse...

Caro antonio,

Concordo com 99,9% do post.

Entretanto saiu o estudo encomendado pela CIP sobre o NAL.

Sou a favor de uma opção Portela+1, quer seja Montijo ou Alcochete. No entanto acho que o tal estudo nao deveria propor uma quarta travessia rodoviaria entre Alges e Trafaria (dado o preço do petroleo/combustiveis) e a terceira travessia (ferroviaria, o tunel) nao deveria ter, ao que parece, "rabos de palha" (desniveis impraticaveis, etc.), pois sao o motivo mais que suficiente para o LNEC e o governo argumentarem a inviabilidade de qualquer aeroporto na margem sul.

Cumprimentos
alves