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quarta-feira, junho 12, 2019

Portugal e a China

“Between 2007 and 2017, world oil consumption grew at an average annual rate of 1.0 percent.”
—in World Oil 2018-2050: World Energy Annual Report (Part 2)
by DENNIS COYNE posted on 07/26/2018. Peak Oil Barrel

O novo drama chinês


Ao contrário da economia americana—em particular a que se seguiu à guerra civil de 1861-65 e que viria a desenvolver-se de forma endógena graças ao seu imenso território despovoado e à sua decisão de atrair pessoas e capitais de todo o mundo, com larguíssima predominância de europeus—o crescimento da China depois de séculos de hibernação imperial, estimulado em parte pela inesperada visita do presidente americano Richard Nixon a Pequim em 1972 (1), baseou-se num modelo de competição comercial externa alavancada na oferta de biliões de horas de trabalho barato e desprovido de direitos sociais. Este modelo permitiu à China importar em pouco tempo todas as virtudes e vícios do capitalismo industrial e financeiro ao mesmo tempo que acumulava superavits comerciais e reservas financeiras como nenhum outro país no mundo. Este modelo foi um sucesso. Para as desenvolvidas economias americana, europeia e japonesa, na medida em que aliviaram a pressão inflacionária sistémica do petróleo (pico petrolífero americano e formação do cartel da OPEP) e do trabalho, bem como dos efeitos perversos do consumismo. Para a China, porque lhe permitiu atrair investimento, conhecimentos técnicos e encomendas como nunca vira em toda a sua história de mais de dois mil anos. Tudo correu sobre rodas enquanto o mundo crescia a bom ritmo. No entanto, à medida que as assimetrias do crescimento aumentaram, e mais países entraram numa espiral de endividamento para manter os seus níveis históricos de bem estar, o caldo azedou. O protecionismo defendido e praticado por Donald Trump é, afinal, uma resposta racional à perda de competitividade da economia americana, nomeadamente face aos países asiáticos (2).

O crescimento industrial e pós-industrial depende, em primeiro lugar, do trabalho, seja este realizado por humanos, por outros animais, por máquinas, ou por nuvens de computação. O trabalho, por sua vez, depende do consumo de energia. Quanto mais energia houver, ou seja, quanto mais esta for economicamente acessível, maior disponibilidade haverá para a criação e o crescimento. Pelo contrário, à medida que a produção de energia encarece, haverá menos condições para o crescimento. É isto que tem vindo a suceder de forma cada vez mais indisfarçável às fontes de energia que alimentaram o crescimento exponencial da humanidade desde meados do século 19: carvão, petróleo, gás natural. As chamadas energias alternativas não são alternativa, e consumir menos também não é—o que desafia o regresso do populismo verde como saída limpa para os prognósticos cataclísmicos da comunidade científica do IPCC (3) (4).



O pico da produção petrolífera na China (iniciada na década de 1960) chegaria em 2015, dependendo agora a expansão da sua economia—cujo trabalho barato compete há já alguns anos com os custos laborais do Bangladesh, do Vietname, da Índia, da Indonésia ou do México (5)—não só do uso imparável de carvão poluente (a sua principal fonte energética), como de importações maciças de petróleo do Médio Oriente, Líbia, Angola, Canadá, Venezuela, etc. Esta irremediável dependência energética forçou a China relançar sob outro nome (Belt & Road/ Faixa e Rota) a velha Rota da Seda. O objetivo desta iniciativa é claro: garantir o acesso da China aos principais mercados de energia, ao mesmo tempo que mantem bem abertas as principais rotas comerciais da Eurásia, e ainda as que se dirigem a África e ao continente americano. É um binómio compreensível, mas não são favas contadas. O crescimento acelerado da Índia, mas sobretudo a explosão demográfca africana, irão disputar à China e ao resto do mundo a partilha dos recursos energéticos, minerais e alimentares disponíveis, cujos preços, pela sua escassez progressiva (a água potável é um dos casos mais dramáticos), tendem a manter-se elevados. À medida que forem rebentando sucessivas bolhas de crédito, com especial incidência nas dívidas soberanas, a moeda de troca pela energia necessária ao crescimento económico, ou até à simples manutenção das economias de crescimento zero, será cada vez mais o resultado palpável do trabalho produtivo, ou seja, bens consumíveis, como a água, bens alimentares, e produtos tecnológicos e culturais transacionáveis. O protecionismo que cresce em todo o mundo reflete, aliás, a tomada de consciência desta nova realidade. Travar a entrada dos imigrantes da fome e da guerra na Europa e na América, ao mesmo tempo que se pilham os recursos energéticos, minerais e naturais de países e continentes inteiros não é solução. Os dilemas e a tragédia começam precisamente aqui: a população mundial estava a aumentar em 2018 pouco mais de 1% ao ano, enquanto a economia crescia ligeiramente acima dos 3% em 2017, mas o aumento do PIB per capita estimado não ia além dos 1,9%. A demografia e o envelhecimento comem, assim, boa parte da expetativa de uma melhoria agregada da prosperidade e do bem-estar sociais. Os países mais ricos já perceberam que o crescimento tem limites e que estes se sentem na carne, enquanto os países mais pobres entendem, por outro lado, que a convergência com os ricos pode não passar de um sonho de verão. Por isso arriscam viagens perigosas em direção aos Estados Unidos da América e à Europa ocidental.

The United States is the world’s largest oil consumer (20%); the European Union is the world’s second largest oil consumer 14%); China is the world’s third largest oil consumer (13%)
—in World Oil 2018-2050: World Energy Annual Report (Part 2)
by DENNIS COYNE posted on 07/26/2018. Peak Oil Barrel

Onde está a energia que propulsiona o crescimento económico?


São estas as grandes regiões da produção petrolífera mundial: Médio Oriente, Rússia e China, Mar do Norte (Noruega e Reino Unido), África, Estados Unidos, Canadá, Golfo do México, Venezuela e Brasil. Metade dos maiores produtores africanos de petróleo encontra-se na costa ocidental de um continente em expansão demográfica, nomeadamente no historicamente rico Golfo da Guiné: Angola, Nigéria, Guiné Equatorial, Congo, Gabão, Gana. Percebe-se nesta geografia a crescente importância do pequeno retângulo português e da sua vasta Zona Económica Exclusiva, não só por ser parte da União Europeia, mas também por estar situado entre as três principais placas tectónicas do planeta (euroasiática, africana, norte-americana e sul-americana), e ainda pelas suas relações históricas com países como a China, Angola, Moçambique, Brasil, Venezuela, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. Portugal poderá tornar-se um dos principais interlocutores pacíficos do ranger das placas geoestratégicas globais. Não por acaso Estados Unidos e China parecem disputar, lado a lado, os mais recentes investimentos nos setores estratégicos portugueses famintos de capital: energia, infraestruturas de transportes, imobiliário, setores da saúde, seguros e banca.

A China, ao contrário dos Estados Unidos, que é um país muito rico em petróleo, gás natural e recursos alimentares, e da Europa, porque o maior agregado de reservas petrolíferas se encontram na sua imediata periferia, precisa de recorrer a recursos financeiros gigantescos, nomeadamente sob a forma de investimento externo e softpower, para a garantia do seu abastecimento energético externo. As alternativas endógenas de médio-longo prazo, ou são insuficientes (energia hídrica, solar e eólica), ou são letais (carvão). Ou seja, apesar de crescer mais depressa do que a América e do que o velho continente europeu, a vantagem que a China ainda leva sobre os países tecnologicamente avançados e economicamente maduros poderá não chegar para garantir por muito mais tempo o crescimento exponencial do seu consumo energético. Outros, sobretudo a África, vão precisar de petróleo, gás natural, ouro e outros metais raros... A recente formação do embrião de uma União Económica Africana mostra que o ciclo da livre espoliação dos recursos africanos está a chegar ao fim. O perigo de um regresso da China ao isolamento imperial poderá, por todas estas razões, ser menos inverosímil do que parece. A nova China não deseja um tal retrocesso. A recente concentração de poderes em Xin Jinping, e a ofensiva contra a democracia que prevalece em Hong Kong, suscitam uma reflexão profunda sobre o que estará a empurrar uma vez mais a burocracia chinesa para posições defensivas, potencialmente isolacionistas.

Nem a Rússia, nem a China, poderão controlar a Eurásia e portanto o mundo segundo a célebre teoria do Pivot Geográfico da História de Halford John Mackinder. Resta caminharmos para um Novo Tratado de Tordesilhas onde se garanta uma redistribuição justa da energia necessária ao crescimento e desenvolvimento da humanidade, sabendo que uma nova era de crescimento lento e de equilíbrio está a nascer, e que poderá ser excecionalmente criativa—ou destrutiva (6). Em vez de crescimento material, é a vez de entrarmos numa era de crescimento imaterial exponencial, científico, tecnológico e cultural.

Aprendemos pacificamente a conhecer a China ao longo de 500 anos. É a altura de a China aprender a conhecer o Ocidente com a mesma humildade.



POST SCRIPTUM — A China está a tornar-se uma enorme dor de cabeça para o mundo. Não porque os chineses sejam gente má ou aldrabona por natureza, mas porque as suas necessidades de energia, já hoje, e a prazo, são insustentáveis e em grande medida causadoras das tensões visíveis na Venezuela, em África e no Médio Oriente. Em breve, o que começou por ser o protecionismo americano será também o protecionismo europeu, africano, etc. A China precisa de energia, de matérias primas e de comida (soja, etc.) em quantidades astronómicas. Por isso onde estes recursos existem, salvo raras exceções, há milhares de chineses. O caso da Líbia foi a este título paradigmático, quer em 2011, quer em 2014.

GAIL TVERBERG
Seven Reasons Why We Should Not Depend on Imported Goods from China
Posted on June 12, 2019, by Gail Tverberg

If a person doesn’t understand how badly the energy situation is working out for China, or how important energy consumption is, it is easy to think that the problems China is facing are primarily tariff-related. In fact, China’s situation is a very worrisome one, with or without tariffs being added.

To fix the situation, China would need a very cheap, non-intermittent, locally produced, non-polluting additional energy source. This energy source would also need to be rapidly scalable. Such an energy resource doesn’t appear to be available.

NOTAS

1. Uma semana que mudou o mundo: “Assignment: China - The Week That Changed The World”, e “How Much Credit for China’s Rise Goes to Richard Nixon?” January 27th, 2012. Asia Society.


Posted on May 22, 2019, by Gail Tverberg

Nearly everyone wonders, “Why is Donald Trump crazy enough to impose tariffs on imports from other countries? How could this possibly make sense?”

As long as the world economy is growing rapidly, it makes sense for countries to cooperate with each other. With the use of cooperation, scarce resources can become part of supply lines that allow the production of complex goods, such as computers, requiring materials from around the world. The downsides of cooperation include:

(a) The use of more oil to transport goods around the world;

(b) The more rapid exhaustion of resources of all kinds around the world; and

(c) Growing wage disparity, as workers from high-wage countries compete more directly with workers from low-wage countries.

These issues can be tolerated as long as the world economy is growing fast enough. As the saying goes, “A rising tide lifts all boats.”

In this post, I will explain what is going wrong and how Donald Trump’s actions fit in with the situation we are facing. Strangely enough, there is a physics aspect to what is happening, even though it is likely that Donald Trump and the voters who elected him would probably not recognize this. In fact, the world economy seems to be on the cusp of a shrinking-back event, with or without the tariffs. Adding tariffs is an indirect way of allowing the US to obtain a better position in the new, shrunken economy if this is really possible.

3. “The true feasibility of moving away from fossil fuels”

Posted on April 9, 2019, by Gail Tverberg

One of the great misconceptions of our time is the belief that we can move away from fossil fuels if we make suitable choices on fuels. In one view, we can make the transition to a low-energy economy powered by wind, water, and solar. In other versions, we might include some other energy sources, such as biofuels or nuclear, but the story is not very different.

The problem is the same regardless of what lower bound a person chooses: our economy is way too dependent on consuming an amount of energy that grows with each added human participant in the economy. This added energy is necessary because each person needs food, transportation, housing, and clothing, all of which are dependent upon energy consumption. The economy operates under the laws of physics, and history shows disturbing outcomes if energy consumption per capita declines.

4. “Have We Already Passed World Peak Oil and World Peak Coal?”

Posted on February 22, 2019, by Gail Tverberg

Most people expect that our signal of an impending reduction in world oil or coal production will be high prices. Looking at historical data [...], this is precisely the opposite of the correct price signal. Oil and coal supplies decline because prices fall too low for producers. These producers make voluntary cutbacks because the prices they receive fall below their cost of production. There often are supply gluts at the same time.

This strange situation arises because prices must be high enough for the producers at the same time that goods and services made by oil (and other energy products) are inexpensive enough for consumers to afford. There is a two-way battle taking place:

(1) Prices producers require tend to rise over time, because of depletion. The easiest to extract a portion of any resource (such as oil, coal, copper, or lithium) tends to be removed first. What is left tends to be deeper, lower quality, or otherwise more difficult to extract cheaply.

(2) Prices consumers can afford for discretionary goods (such as cell phones and automobiles) tend to fall for a combination of reasons:

Wages of many workers fall because of competition from lower cost labor in other countries.

Some jobs are eliminated through the use of computers or robots.

Young people are increasingly being required to pay for higher education (beyond that which is provided free), leaving many with loans to repay, reducing their discretionary income.

Changes to US healthcare law (mostly starting January 1, 2014) lead to required health insurance premiums. While some citizens find cost savings in this approach, healthy young people often experience cutbacks in discretionary income as a result.

Rents and home prices keep rising faster than incomes.

When the discretionary income of the many non-elite workers of the world falls, they buy fewer finished goods and services. Finished goods and services are manufactured using commodities of many kinds, including oil, coal, copper, iron ore, and fresh water. When discretionary demand falls, commodity prices tend to fall. This is the problem we are encountering now. It tends to cause the prices of many commodities to fall below the cost of production. Eventually, producers decide to quit because production is no longer profitable. This is the issue that leads to peak oil, coal or copper.

5. Where in the world is cheap labor?
By David Whitford, editor-at-largeMarch 22, 2011: 10:29 AM ET
Fortune

The FLA brings together multinational companies like Nike (NKE, Fortune 500), Adidas and Hanes (HBI); universities like Princeton and Notre Dame; and NGOs like the National Consumers League and Human Rights First to end sweat-shop working conditions in factories around the world. I spoke to van Heerden last week, shortly after he returned from a trip to China, where the inflation rate has reached nearly 5%, food inflation is more than 10%, and double-digit increases in the minimum wage are suddenly the norm.

Is China still an option for global manufacturers seeking lower costs of production?

It's an incredibly fast-moving situation. Labor markets which we previously thought were inexhaustible, like China and India, have actually tightened up quite dramatically. Employers can't get workers. Wages have gone up. Add to that the energy cost increases, and the factories, the contract manufacturers, are now suddenly squeezed. So they're turning around to their buyers -- to the retailers or the brands -- and they're saying, "Hey, my prices need to go up." And the brands are saying, "Whoa! We don't think we can pass those prices on to the consumer." There's something of a train smash looming.

6. How energy shortages really affect the economy
Posted on August 27, 2018, by Gail Tverberg

The more a person looks at the story of how rising oil prices might allow oil extraction indefinitely, the less reasonable it seems. If the story about oil prices rising endlessly were true, we would have seen coal prices rise endlessly in Europe a century ago, when it was the dominant form of supplemental energy available. It didn’t happen.


Última atualização: 20/6/2019, 21:29 WET

sexta-feira, agosto 05, 2011

A Alemanha tem razão!

Uma Eurásia com a América mais longe?

A Europa não tem outra alternativa se não descolar dos Estados Unidos e das ilhas piratas de sua Majestade Isabel II. Estes dois colossos arruinados, com o Japão, estão a levar o mundo para uma crise económica, financeira, comercial e política sem precedentes desde a II Guerra Mundial. O futuro da Europa chama-se Eurásia. E o aliado estratégico deste sonho por cumprir chama-se, curiosamente, China.

Culture of Life News, de Elaine Meinel Supkis, é uma leitura imprescindível

O colapso das bolsas europeias e americanas veio dar pleno sentido ao anúncio da degradação, anunciada pela agência de notação financeira chinesa Dagong, da capacidade da economia americana responder pelas suas dívidas.
“On August 2, 2011 (EST) the Congress of the United States of America (hereinafter referred to as the US) approved the bill on raising the debt ceiling of the government. Though this decision enables the government to continue the practice of repaying its old debt through raising new debt, it has not changed the general trend that the increase in national debt outpaces the increase in economy and revenue, making this incident a turning point for the US government’s solvency to decline even further. Hence, Dagong decides to downgrade the local and foreign currency credit rating of the US put on the negative watch list on July 14 from A+ to A with a negative outlook.” Dagong.

O panorama gráfico do afundamento e da volatilidade bolsista americanas não poderia ser melhor documentado pelos gráficos reunidos por outro dos meus analistas preferidos, Tyler Durden, do ZeroHedge:

VIX — Chicago Board Options Exchange Market Volatility Index

“The Dow is down more than 500. The S&P is down 60. The VIX surges 35% to 32 the highest since June 2010. Implied correlation surges to the highest since last summer. ES volume surges to the highest since the flash crash. Europe is opening in 12 hours. Margin debt is near record high levels, and mutual funds have record low cash. Liquidations galore. Did we miss anything?”

No entanto, passando os olhos pela imprensa económica em geral (na página online do Jornal de Negócios, nem uma referência), não se fala de algo decisivo para compreender a crise financeira actual, ou seja, a desvalorização competitiva das moedas americana e japonesa. O iene caiu hoje a pique em relação ao dólar, depois dos japoneses terem desencadeado uma venda em massa da sua própria moeda.

A competição para o abismo entre os EEUU e o Japão não pára. Quem terá o pior papel higiénico do mundo? Esta competição negativa tem uma outra face: a destruição suicida das respectivas taxas de juro, com a inevitável inflação escondida debaixo da retórica e da metódica falsificação estatística, pronta a explodir quando menos se esperar. Os Keynesianos de pacotilha e a Esquerda empalhada (entre nós, o PCP, o Bloco e o PS) adoram taxas de juros baixas, por razões de mero oportunismo e populismo barato, sem perceberem que uma tal deriva significa apenas uma expropriação paulatina do valor produzido pelas empresas e um saque criminoso das poupanças pessoais e familiares por parte de uma economia especulativa servida por uma nomenclatura política parasitária, desesperada, que quanto mais esbraceja mais se afunda.

“The Bank of Japan sold more than one trillion yen (£7.7bn) during trading on Thursday, according to latest estimates, in an effort to drive down its value. It also eased monetary policy by expanding its asset purchasing scheme and offering more cheap loans to financial firms to encourage them to keep lending”— Guardian.co.uk

Mas como escreve Elaine Meinel Supkis, o jogo japonês do yen carry trade acabou...
“I remember years and years of the US and Japan accusing China of manipulating the currency.  I thought this was very funny back then.  Everyone in the false world of floating fiat currencies are always ‘manipulating’ them!  The US had to desperately negotiate with Germany and Japan with the Bretton Woods deals to ‘fix’ rates that were ‘fair’, ie: would allow the US to export to both losers of WWII.  This DID NOT WORK AT ALL.

Of course, Japan discovered that holding US dollars in an inert FOREX fund did the trick!  Since then, all other nations wishing to manipulate the dollar to make it artificially strong do the exact same thing. It is now universal meaning, it can’t work so hot anymore since the Big Players must save more and more.  Once China surpassed Japan in its FOREX holding dollars, Japan’s ability to manipulate the dollar vanished.  Japan just can’t compete in this game with China. China won.  Hands down.  Big time.  And 15 years ahead of schedule of the 50 Year Plan, too!

Nonetheless, Japan has decided to double down: making government debt not just 200% of GDP, now it will be 400% of GDP if this is necessary to restart the export machine run by Toyota and gang.” — As Nations Race To Weaken Currencies, ZIRP Creates More ‘Money’.

Temos pois países que para manterem o consumo baixam os juros, emitem moeda e dívida pública de forma cada vez mais temerária, para não dizer suicida (EUA, Reino Unido), e temos um país (Japão) que, numa lógica igualmente suicida, baixa sistematicamente o valor da sua moeda e as taxas de juros do banco central como forma de manter a máquina das exportações a funcionar, seja pela criação de dinheiro a custo zero, reservado embora exclusivamente às elites financeiras do país, seja pela exportação de capital a custo zero para o estrangeiro, onde os rendimentos de capital são muito mais elevados, desencadeando por esta via não apenas o necessário alimento à deslocalização das suas empresas, mas também a destruição da concorrência industrial nos países onde desembarcam, e a corrupção daqueles que trocam o silêncio pelo aproveitamento especulativo monumental deste estratagema fraudulento (e contra todas as normas do comércio justo internacional.)

“There is a pernicious agenda at work in setting interest rates near zero while boosting money supply and deficit spending to create inflation. By robbing savers of any return on their savings and sparking “sustainable, orderly” inflation of around 4%, central banks are in effect transferring 4% from the owners of cash to reduce the debt of the central bank/State by this same amount every year. In a decade of this monetary scheme, savers’ wealth will be reduced by roughly 50% while the debt created by the central bank/State will decline by 50%.” — An Unconventional Guide to Investing in Troubled Times by Charles Hugh Smith (2011)

As pressões sobre o BCE para embaratecer o euro, com o pretexto falacioso de que uma tal política aumentará as exportações europeias, esquecendo que o maior exportador mundial é a União Europeia, e que depois do segundo lugar, ocupado pela China, vem a forte Alemanha, e que boa parte das exportações ocorrem dentro da Europa, não passa da demagogia de quem não faz o trabalho de casa, preguiça e vive do populismo partidário que grassa como um cancro por esta Europa fora.

As pressões para levar a União Europeia pelos caminhos suicidas do facilitismo financeiro (Quantitative Easing) servem apenas para manter as empresas protegidas e os gangsters da especulação bolsista no topo da obstrução à resolução da crise sistémica em que estamos metidos. A Europa precisa de entrar num processo radical de adaptação às condições da pós-globalização especulativa, e para isso não pode continuar a alimentar a inércia burocrática e as situações de privilégio absurdas que ainda persistem entre as elites europeias e entre as corrompidas burocracias partidárias e corporações — empresariais, profissionais e sindicais.

O primeiro passo desta metamorfose necessária é começar por reconhecer que o mundo mudou e que vai mudar ainda mais dramaticamente nas próximas décadas, evitando cair nos lugares comuns do maniqueísmo. Há causas objectivas da actual crise sistémica, cujo factores subjectivos, embora importantes, e frequentemente escandalosos, não são os mais decisivos. Daí a necessidade de caminharmos para a criação rápida de novos quadros analíticos e de diálogo social que permitam perceber o que nos trouxe até este impasse, abrindo depois caminho para correcções e soluções realmente adequadas a um mundo mais pequeno embora com gente a mais, envelhecido e à beira de uma ruptura histórica do padrão de recursos a que, pelo menos uma parte da humanidade, se habituou ao longo dos últimos duzentos anos.

sábado, julho 19, 2008

Portugal 35

Portugal, a Europa, a CPLP e o porta-aviões açoriano

Ocorra o que ocorrer, teremos que nos acomodar ao New Chinese Century


Há dois factos que não me saem da cabeça: um são os mapas de acessos a este blogue, invariavelmente distribuídos, ao longo dos últimos quatro anos, entre Portugal e o Brasil, verificando-se uma ainda fraca sensibilidade das antigas colónias portuguesas africanas a qualquer referência aqui feita; o outro é a facilidade com que ucranianos, russos e moldavos aprendem a língua portuguesa, ao ponto de em dois ou três anos falarem o nosso idioma melhor que muitos de nós e sem pronúncias estranhas, uma proeza difícil de alcançar pelos vizinhos espanhóis! Mas o facto de o Sitemeter raramente assinalar acessos de Espanha ao António Maria, ou então registar quotas na ordem dos 1%-2%, em grande medida da responsabilidade da minha filha, que vive em Madrid, deixa-me estarrecido!

Estes dois factos algo insólitos fizeram entretanto faísca depois de ler duas crónicas do Expresso desta semana.

Numa delas, Luísa Meireles chama a atenção para a atracção que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), exerce, não apenas e naturalmente sobre a Galiza, que é hoje uma comunidade autónoma da Espanha (e amanhã, quem sabe, um novo estado europeu independente), mas ainda sobre países que nem sequer falam o idioma de Pessoa: Marrocos, Ilhas Maurício, Guiné Equatorial, Ucrânia e Croácia! Por outro lado, a expansão do português brasileiro na América do Sul é crescente, especialmente no Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e Venezuela.

Na segunda crónica, assinada pelo pró-Yank Miguel Monjardino, transmite-se um recado: os americanos têm pressa na renovação do Acordo das Lajes, para lá colocar os F-22 Raptor e dar apoio firme à sua nova força de intervenção estratégica na África Ocidental, baptizada de Africom. Africom ou África Dot Com?

Para pressionar um bocadinho mais José Sócrates, o dito açoriano acrítico lá vai sugerindo que o socialista Carlos César, actual governador do arquipélago, também tem pressa e quer oferecer (ilusórias) boas-novas eleitorais em Outubro. Em suma, tudo muito bem engendrado e muito conveniente para todas as partes menos uma: Portugal!

O pensamento europeu mais lúcido defende há muito uma rápida diminuição da dependência estratégica europeia face aos Estados Unidos, e uma maior atenção ao potencial protagonismo da União Europeia como força de interposição estratégica global e veículo democrático de harmonização diplomática à escala mundial. Os Estados Unidos são claramente um império em declínio. E como todos os impérios declinantes, sofre a tentação do disparate bélico sem limites, desconhecendo que tais aventuras apenas apressam o indesejado declive.

Os sucessivos fiascos das guerras, invasões e ocupações do Afeganistão e do Iraque são a este título bem ilustrativos. Bush -- sobre quem o congressista democrata Dennis Kucinich desencadeou um processo de cassação de mandato (1) -- não ganhou nenhuma das guerras, levou o seu país à falência e está neste preciso momento a recuar atabalhoadamente do Médio Oriente, deixando a imprensa americana que o apoiou sem palavras. No fundo, a decisão vem de baixo, isto é, das empresas privadas a quem o clã Bush e o coiote Cheney encomendaram a guerra, em regime de bloody catering. Estas empresas privadas, que formam o vasto e complexo conglomerado bélico americano, aperceberam-se que o tsunami financeiro em curso se abaterá sobre elas sem piedade se não largarem o osso quanto antes. É o que estão a fazer! Daí as inesperadas e surpreendentes declarações do presidente americano. O maior fiasco americano desde a Guerra do Vietname chegou ao fim. Alguém que pague a factura! Estamos a pagar!!

As vantagens entretanto ganhas por países como a China, a Rússia e o Irão, ao oporem-se à tentativa americana de manter a todo o custo uma supremacia económica apoiada na sua evidente supremacia militar, são mais do que evidentes. O potencial produtivo do Ocidente, sobretudo o americano, emigrou para o Oriente. Depois emigraram o ouro e boa parte da liquidez mundial. Como se isso não bastasse, a China criou em 2001 uma resposta credível (cada vez mais credível) à NATO, chamada Shanghai Cooperation Organization (CSO), da qual fazem parte a China, a Rússia, o Casaquistão, o Quirguistão, o Tajaquistão e o Usbequistão. Entre os países observadores contam-se, o Irão, o Paquistão, a Índia e a Mongólia. E são ainda convidados a Commoenwealth of Independent States (CIS), a Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) e o Afeganistão. Ou seja, nada mais nada menos do que a metade oriental do mundo, a que falta tão só aderir o Japão, compreensivelmente receoso dos efeitos que a supremacia estratégica da China terá sobre os seus próprios graus de liberdade.

Os estados petrolíferos do Médio Oriente beneficiam obviamente do crescente e subtil protagonismo do chinês adormecido que agora desperta como obstáculo intransponível para quem, como americanos e ingleses, usufruiu de uma clara hegemonia nos direitos de acesso e exploração do petróleo ao longo de todo o século 20, e aparentemente persiste na ideia de prolongar, apesar de falido, os seus hábitos e arrogância imperiais.

A China e a Rússia (que a Europa dominada pelos piratas londrinos tão mal tratou desde a queda do Muro de Berlim) têm hoje dinheiro suficiente para comprar um novo Tratado de Tordesilhas, baseado numa neutralidade mutuamente assegurada aos principais países produtores de petróleo e na determinação dos meridianos que voltarão a dividir o planeta em duas grandes zonas económicas e culturais política e militarmente protegidas.

A alternativa credível a este cenário teria sido uma confrontação militar preventiva com carácter devastador. Foi essa a intuição dos trotskystas degenerados que teorizaram a aventura fracassada do chamado New American Century. O preço a pagar por tamanha ousadia foi o colapso financeiro do Ocidente (e do Japão) a que estamos assistindo incrédulos e assustados.

O previsto ataque israelita ao Irão (que Condoleeza Rice provavelmente meteu na gaveta, a conselho de algum sábio) não mudaria nada, a não ser acelerar vertiginosamente a queda do Império Capitalista do Ocidente. Ocorra o que ocorrer, teremos que nos acomodar ao New Chinese Century.

Nesta circunstância cada vez mais óbvia não faz nenhum sentido continuar a alimentar os sonhos de grandeza da América! Europeus e americanos terão que se acomodar e colaborar na gestão inteligente e humilde do seu "novo" mundo -- começando por regressar aos bons hábitos do trabalho, responsabilidade e ética.

Apesar de Barak Obama poder vir a ser o primeiro presidente mestiço dos Estados Unidos da América, a verdade é que as ligações privilegiadas com África tem-nas sobretudo a Europa, e em particular este cantinho à beira-mar plantado chamado Portugal. O Atlântico do nosso imediato futuro não pode ser transformado numa nova presa apetecível dos Estados Unidos. É esta a mensagem que um pequeno país, na sua missão de honest broker, deve transmitir. Não foi isto mesmo que Marrocos ou a Ucrânia entenderam ao ler os astros? O Mare Nostrum Atlântico terá que ser forçosamente um lugar de cooperação e contrapeso à Nova Ásia, onde a América (toda a América!), a Europa, de Lisboa aos Urais (se não até Vladivostoque) e a África, do Mediterrâneo até à Cidade do Cabo, possam estabelecer um lugar de partilha e não mais um teatro de rapina e humilhação. Chega de vampirismo!

É por tudo isto, que Portugal deverá dizer claramente a Washington que é à Europa que compete, em primeira linha, usar o potencial estratégico dos Açores, nomeadamente no enquadramento duma NATO renovada e menos agressiva. Havendo, porém, nove ilhas (todas com aeroporto ;-) não faltarão oportunidades para renegociar de forma ponderada a presença americana nas Lajes. Até porque um dia talvez faça sentido convidar o Brasil, Angola e a Rússia a disporem de facilidades logísticas em tão estratégico porta-aviões. Então, quando esse dia chegar, será uma verdadeira lotaria para o governador de turno de tão belo e aprazível arquipélago.


ÚLTIMA HORA
Equador notifica EUA para deixar Base Militar de Manta até Novembro

Quito, 30 Jul (Lusa) - O governo do Equador notificou oficialmente os Estados Unidos de que devem desalojar a Base Militar de Manta até Novembro, revelou terça-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Quito. -- MF./Lusa.
Iraque: Primeiro-ministro defende retirada militar norte-americana em 16 meses

Berlim, Sábado, 19 de Julho de 2008 23H58m (RTP/Lusa) - O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, afirmou a um jornal alemão que apoia o plano do candidato democrata Barack Obama para a retirada militar norte-americana em 16 meses.

"Julgamos que é um calendário acertado para a retirada das tropas de combate norte-americanas do Iraque, sob reserva de algumas mudanças", afirma Maliki em entrevista ao semanário Der Spiegel, cuja edição estará segunda-feira nas bancas.

As forças norte-americanas deverão deixar o Iraque "tão rápido quanto possível", acrescentou Maliki

Colômbia adere a Conselho de Defesa Sul-americano


BBC Brasil. 19 de julho, 2008 - 21h34 GMT (18h34 Brasília)

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, disse neste sábado, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aceita ingressar no Conselho de Defesa Sul-americano.
Uribe disse que suas "dúvidas" foram esclarecidas após o encontro com Lula e um telefonema à presidente chilena, Michele Bachelet, que atualmente preside a União de Nações Sul-americana (Unasul).

Ultimatum de Washington ao Irão

WASHINGTON (Reuters) - Depois das conversas inconclusivas com o Irã, os Estados Unidos disseram no sábado que Teerã terá de escolher entre cooperação ou conflito. Washington acrescentou que as negociações só poderão começar se parte significativa do trabalho nuclear iraniano for suspenso. -- UOL, 19-07-2008 17:14




NOTAS
  1. US Congressional Panel Hears Testimony on Case for Bush Impeachment

    25-07-2008. A congressional committee has heard testimony about the case for impeachment of President Bush. VOA's Dan Robinson reports, while majority Democrats have ruled out formal impeachment efforts, they approved the public hearing to examine limitations on presidential powers and arguments about what constitute impeachable offenses.

    Critics say President Bush and Vice President Cheney should be impeached because of a range of alleged legal and constitutional abuses.

    The list includes administration justifications to Congress and Americans for the war in Iraq, authorization of secret electronic surveillance, approval of harsh interrogation techniques, and defiance of congressional subpoenas. -- Voice of America.

OAM 396 19-07-2008 19:27 (última actualização: 30-07-2008 11:53)