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quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Energia 2

PIN Go!

Painéis solares térmicos terão benefício triplo para as famílias

11-02-2009 (Público) — A instalação de painéis solares térmicos em habitações particulares vai ter um “triplo benefício” para as famílias já a partir do próximo mês, anunciou hoje o primeiro-ministro, no discurso inicial do debate quinzenal, no Parlamento, dedicado à economia.

Esta medida pretende incentivar a utilização de energias renováveis, para a qual o Governo irá dispor de cem milhões de euros dirigidos à comparticipação na compra dos equipamentos e a incentivos fiscais de 30 por cento do custo do investimento. A estes dois aspectos a favor do orçamento das famílias, José Sócrates juntou ainda a previsível redução de 20 por cento da factura energética anual de um agregado familiar.

José Sócrates arengou sobre mais uma das suas inopinadas fantasias eleitorais, desta vez em torno de painéis solares e famílias. Trata-se, na realidade, de atrair os incautos para uma incógnita gerida em regime de monopólio pela irresponsável EDP. Trata-se, também, de uma tentativa de levar as já sobre endividadas famílias portuguesas a potenciarem de algum modo a velocidade do dinheiro, sob renovadas, mas nem por isso menos imprevisíveis e perigosas estratégias de endividamento.

Em vez de se propor simplesmente um programa sério, amplo e acelerado no domínio da produtividade e eficiência energéticas dos edifícios públicos —ministérios, direcções-gerais e delegações, escolas e universidades, tribunais, câmaras e juntas de freguesia—, temos mais uma engenharia financeira virtual apoiada nas proclamadas virtudes da luta europeia contra o aquecimento global, nomeadamente através do chamado mercado do CO2.

Sucede, porém, que o esquema tortuoso do mercado das emissões de CO2 (transformar uma emergência social num negócio rentável), acaba de ser desmontado como um esquema inútil e mesmo contraproducente no combate ao aquecimento global, do qual tem vindo a resultar, não uma diminuição das emissões, mas antes um jogo do empurra entre poluidores compulsivos.

Wind Turbines in Europe Do Nothing for Emissions-Reduction Goals
By Anselm Waldermann

10-02-2009 (Spiegel Online) — Despite Europe's boom in solar and wind energy, CO2 emissions haven't been reduced by even a single gram. Now, even the Green Party is taking a new look at the issue -- as shown in e-mails obtained by SPIEGEL ONLINE.
...

Building Renovations Are Better than Windmills

Experts from the Green Party are taking the problem very seriously: "We are in a veritable crisis situation, and that means we must reconsider and alter things we once took for granted," writes one contributor, adding that it's important to re-examine "whether we have set the right priorities."

Another expert begins his e-mail with a general clarification: "Dear People, I'm not fundamentally against the EEG. I only emphasize this because Manfred has repeatedly and erroneously described me as an opponent of the EEG." But here comes the big "but": "When reduction of CO2 emissions is more cheaply achieved through insulating a building than using a wind turbine, that is where we should concentrate our support." When it comes to climate change, everything else is secondary to reducing CO2 emissions.

Indeed, when it comes to climage change, investments in wind and solar energy are not very efficient. Preventing one ton of CO2 emissions requires a relatively large amount of money. Other measures, especially building renovations, cost much less -- and have the same effect.

The e-mail exchange ends with a conciliatory "What do you think?" But it is quickly followed by a bitter PS: "Do the Greens think that this problem (of climate change) will solve itself if we just screw solar panels onto our rooftops?"

Daqui até percebermos que o escandaloso plano de construção de barragens lançado pelos piratas do Bloco Central, sob a batuta do abrilhantado e arrogante CEO da EDP e da espanhola Iberdrola (comandada em Portugal por um traidor zombificado chamado Pina Moura), é uma nulidade económica, uma imbecilidade tecnológica e um crime ambiental, não tardará muito. Às comunidades atingidas pela anunciada expropriação e ruína, uma palavra de esperança: resistam com tudo o que tiverem à mão! Até porque muitas das "grandes obras" e negociatas promovidas pela tríade de Macau, por este governo neoliberal do PS, e em geral pelo Bloco Central da Corrupção, estão por um fio.

Os PIN e aldrabices do género começam a cair que nem tordos!

Novo terminal de contentores de Alcântara, plataforma logística da Maia/Trofa e aeromoscas de Beja (que voltou a adiar a sua inauguração e viu a respectiva empresa abruptamente expropriada pela ANA Aeroportos!) são as primeiras vítimas. Outras se seguirão. E o motivo é simples: enquanto durar a presente crise sistémica, que não se prevê que amaine antes de 2010-2012, ninguém no seu perfeito juízo investirá um euro que seja em projectos tecnicamente levianos e economicamente ruinosos.

O tempo em que tudo isto de fazia e ninguém ligava peva —vejam-se as escandalosas administrações do Metro de Lisboa, da Refer, da CP, da Lusoponte, das SCUD ou da RTP—, acabou. Por outro lado, o Estado português, como muitos outros, está gravemente endividado, e em breve passará para a segunda divisão do Euro, cuja criação parece inadiável. O colapso da moeda europeia —se não face ao USD, seguramente face às moedas regionais em fase de gestação no Médio Oriente e na Ásia— deixou de ser uma hipótese meramente retórica.

Nos últimos quatro meses em Lisboa pontes perdem 14 mil carros/dia
12-02-2009 - 00h30 (Correio da Manhã) — As duas pontes sobre o Tejo em Lisboa perderam diariamente mais de 14 mil veículos desde Setembro. A mais penalizada foi a 25 de Abril que, nos últimos quatro meses, perdeu mais de dez mil veículos por dia, tendo chegado ao final do ano com menos tráfego diário do quem em 2007.

Os dados de tráfego da Estradas de Portugal revelam que o número de carros a cruzar a ponte 25 de Abril e a ponte Vasco da Gama tem vindo a diminuir desde Setembro. As perdas têm sido mais evidentes na 25 de Abril, mas também a ponte Vasco da Gama tem perdido diariamente um número significativo de travessias: passou de 65 950, registadas em Setembro, para 62 318 no último mês de 2008.


Governo aconselha SOMAGUE a recorrer a parceiros privados

11.02.2009 - 21h35 (Público) — Um dia depois da SOMAGUE, promotora da Plataforma Maia/Trofa, ter abandonado o projecto por considerar que este não era rentável no panorama económico actual, a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, informou que já esteve em contacto com a empresa aconselhando-a a “procurar outros parceiros privados, que assegurem a continuidade do projecto”.

... A Plataforma Logística Maia/Trofa situa-se no denominado Vale do Coronado, abrangendo terrenos da Reserva Agrícola Nacional, o que tem gerado alguns protestos de ambientalistas locais.


Liscont desiste de classificação Potencial Interesse Nacional para alargamento do terminal de contentores

11.02.2009 - 18h47 (Lusa/ Público) — A Liscont, concessionária do terminal de contentores de Alcântara, decidiu pedir a dispensa da classificação de projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN) da obra de alargamento do terminal, disse à Lusa o presidente da empresa.

Eduardo Pimentel afirmou que, "apesar de continuar a achar que se trata de um projecto de interesse nacional", a empresa quer que "o projecto passe por todos os crivos, para que no futuro não se ponha em causa a bondade ambiental", prescindindo assim da classificação como PIN, que permitiria ser aprovado com "mais velocidade".

"É melhor que não seja considerado PIN, que seja um processo normal, para que no futuro não subsistam dúvidas, o que não vai interferir na calendarização que tínhamos definido, que já era como se não se tratasse de um projecto PIN", disse ainda.


Carga contentorizada cresceu 10% em 2008, tonelagem caiu 1,8%

11-02-2009 (Cargo News) — Os totais revelam que os cinco principais portos nacionais movimentaram 63,34 milhões de toneladas de carga no ano findo, menos 1,8% que no ano anterior, segundo os números trazidos a público pelo Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM).

Antes de proceder a uma análise mais detalhada das poucas alternativas que temos pela frente, e das que se vão esvaíndo dia a dia, duas recomendações:
  1. estude-se com atenção o plano, aliás muito discutível, de Barak Obama;
  2. trave-se drasticamente o plano de "grandes obras" do actual governo, quanto mais não seja, por isto: para não desperdiçar recursos —que não existem!— em fantasias irrealizáveis no curto e médio prazo. O Novo Aeroporto de Lisboa, a Ponte Chelas-Barreiro, as barragens do Baixo Sabor e Tua (entre outras), a Alta Velocidade entre Lisboa e Porto (e todos os apeadeiros intermédios previsíveis), têm que forçosamente esperar por melhores dias, ou nem sequer verem a luz do dia.


OAM 535 13-02-2009 02:49 (última actualização 12:10)

quarta-feira, junho 18, 2008

Portugal 28

Morte súbita

A produção de petróleo per capita começou a declinar de forma consistente em 1979, e o início da queda absoluta da produção a nível global começará, segundo Richard C. Duncan, em 2006 (a uma taxa de 2.45% ao ano, durante 34 anos!). Quer dizer, daqui a um ano e meio, poderemos estar já a lidar com preços de crude na ordem dos 100 dll/barril. Em 2008, ainda segundo as previsões de Duncan, as reservas de países como os EUA, México, Noruega, Angola, Rússia, Afeganistão, Urzebequistão, Azerbeijão, etc., começarão a decair mais depressa que as reservas da OPEC (Venezuela, Nigéria, Líbia, Argélia, Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Qatar, Kwait, Irão, Iraque e Indonésia), colocando estes países numa clara posição de supremacia energética, mas também no centro de gigantescas disputas estratégicas. -- O António Maria, 16-10-2004.

Uma das coisas boas que me acontece quando viajo, ou emigro temporariamente, é a quase completa ausência de notícias sobre Portugal. Exceptuando o que a CNN diz sobre o belo Cristiano e a selecção nacional, ou no caso desta minha viagem a Pequim, a presença fotográfica da pianista Maria João Pires na galeria dos grandes músicos e intérpretes musicais do século 20 e da actualidade, que tive oportunidade de admirar no novo e espectacular Centro Nacional de Artes Performativas, a amnésia é total e terapêutica. Quando regresso ao meu país, depois de um safari marroquino ou de uma massagem chinesa nos pés, o meu país, sob o impacto sempre extraordinário do sobrevoo da cidade e aterragem na Portela, parece-me invariavelmente lindo e apetecível. O pior, como me confiava há anos um professor português de economia ao serviço da Universidade de Manchester, é o que vem depois de encararmos a bicha dos táxis!

Regressado à capital, recebido desta vez por um taxista diligente e profissional, e a não menos saborosa vitória da selecção portuguesa sobre a temível República Checa, fui sendo informado, pelo mesmo taxista, da paragem cardíaca que afectara a parte nevrálgica do sistema circulatório do país: transporte rodoviário de mercadorias, transporte aéreo e veículos prioritários (ambulâncias e carros de bombeiros, veículos policiais e aviões.) As bombas de carburante e as prateleiras dos supermercados esvaziaram-se rapidamente. O Governo, a Presidência da República e a Oposição ficaram em estado de choque (foi o que nos salvou!)

O acidente vascular rodoviário fora inesperado e repentino. Reagir a quente, com forças policiais ou com uma requisição civil precipitada (como aventaram depois as araras profissionais da Pedratura do Círculo), poderia ter incendiado o país. Manuela Ferreira Leite esteve certamente à altura da crise, não lançando nenhuma gasolina para a fogueira. O dromedário-mor do reino e o primeiro-ministro portaram-se bem (Aleluia!) na condução das negociações que permitiram enfim libertar o país do sufoco momentâneo. Como que acordando lentamente de um desmaio, saiu-se da paragem cardíaca sem mazelas de maior no tecido sociológico do país. Até ver...

Nem sequer durante os dois inesquecíveis e convulsivos anos da Revolução dos Cravos houve semelhante possibilidade de uma morte súbita do sistema político. Perante a gravidade da crise e a manifesta apatia de todo um Estado diante da primeira prova iniludível do colapso do actual modelo energético mundial, a classe política vai finalmente acordar para os cruciais desafios políticos que temos pela frente, não daqui a dez ou vinte anos, mas já.

Nada fará baixar a curva ascendente dos preços da energia, das matérias primas, da água e dos alimentos básicos. O petróleo continua e continuará a subir independentemente das viagens aflitas de Condoleezza Rice e George W. Bush à Arábia Saudita, independentemente das pressões ilegítimas e hipócritas do G7 sobre a China (mas não sobre o carry-trade do hiper-proteccionista Japão, principal casino da especulação financeira ocidental), independentemente das ameaças de ataque nuclear ao Irão (por parte dos idiotas israelitas, americanos, ingleses e franceses.)

A Ásia autonomizou-se definitivamente do Ocidente, tornando-se a outra metade estratégica do mundo. A globalização acabou. Falta tão só evitar a III Guerra Mundial, e assinar um novo Tratado de Tordesilhas, balizado agora por dois novos meridianos, algures entre o Japão e a metade oriental de África. Mas para que esta nova partilha seja viável é absolutamente necessário que o Médio Oriente petrolífero fique fora do tratado, como se de uma Suiça energética se tratasse. Isto implicará, por outro lado, parar imediatamente a lógica suicida da Organização Mundial de Comércio (WTO), regressando-se a um regime de pautas aduaneiras que permita uma competição colaborativa das economias, mais equilibrada e menos injusta. Encurralar a Europa e os Estados Unidos numa competição impossível com a mão-de-obra barata, a planificação centralizada e autocracia dos principais países asiáticos (China, Japão e Coreia do Sul) será o caminho inevitável para uma III Guerra Mundial. E se uma tal tragédia ocorrer, não tenhamos dúvidas sobre um ponto: a Europa e os Estados Unidos serão aliados. Procurarão a neutralidade da Rússia e atacarão sem dó nem piedade os três tigres asiáticos. Pode ser o fim do mundo descrito pelo Apocalipse!

Regressando a Portugal, diria que a iminência de uma morte súbita do sistema político foi demonstrada à saciedade pelos impactos sucessivos das revoltas dos professores e das empresas de transporte rodoviário, revoltas essas que, por sua vez, mostraram o grau de acomodação, inépcia, burocratização e corrupção do associativismo sindical e empresarial dominantes. No caso do boicote rodoviário (que nada tem que ver com o lockout a que se refere Mário Soares num artigo aliás notável sobre a mesma crise, publicado no DN de 17-06-2008), o que esteve realmente em causa foram quatro circunstâncias concorrentes para a aflição e indignação dos pequenos e médios transportadores de mercadorias, responsáveis pela maior fatia do transporte e do emprego neste sector estratégico da nossa economia:
  1. A subida imparável dos preços dos carburantes, sobre os quais recaiem impostos oportunistas. O ISP não tem nenhuma justificação a partir do momento em que terminou a conjuntura do petróleo barato, pelo que é de defender desde já a sua supressão pura e simples. Por outro lado, a excessiva carga do IVA terá que baixar e ser harmonizada o mais depressa possível com a Espanha. Este assunto, pela sua extrema gravidade, terá mesmo que ser separado da questão do défice...
  2. A inflação, a subida dos juros e o tremendo impacto da crise financeira mundial sobre a economia espanhola (com particular ênfase na queda, em mais de 30%, do respectivo sector imobiliário) está a asfixiar uma parte importante das nossas empresas de exportação, e por essa via, centenas ou mesmo milhares de pequenas empresas de transporte rodoviário.
  3. Os lucros inusitados e sem qualquer regulação efectiva das petrolíferas, com especial destaque para a vagamente pública GALP é um escândalo inaceitável. Revolta qualquer um e se não forem rapidamente travados, suscitarão as condições ideias para uma re-nacionalização parcial (que defendo) da petrolífera portuguesa. O que o país tiver que desembolsar para recuperar a maioria accionista da empresa será rápida e largamente recuperado pela imparável valorização dos activos e do negócio petrolífero e energético em geral. O corticeiro de Mozelos e a família dos Santos que se ponham a pau!
  4. Finalmente, a política fiscal arbitrária da nomenclatura política que nos dirige, revelada pelas escandalosas e inaceitáveis isenções fiscais atribuídas aos iates de luxo e às empresas turísticas que utilizam embarcações de recreio (por que não às competições de Fórmula 1, ao motocross e às motas de água?!) revelam a hipocrisia do discurso político perante as dificuldades, e sobretudo a corrupção endémica que grassa pelos corredores governamentais e parlamentares. A ausência de moral pública sempre justificou o caminho das revoltas e das revoluções. Talvez seja a hora de os políticos corruptos irem para a cadeia e os moles para casa!
A revolta dos camionistas é um sério aviso ao país, tendo pelo caminho revelado três realidades dramáticas:
  1. A irracionalidade criminosa da política de transportes implementada ao longo das últimas décadas, a qual deu prioridade acéfala à rodovia e ao desordenamento do território, em detrimento de uma equilibrada repartição do esforço e da planificação entre os modos rodoviário, ferroviário, marítimo-fluvial e aéreo. Num país vertical, beneficiado por seis grandes rios (Minho, Douro, Vouga, Mondego, Tejo e Guadiana) e com uma tão generosa costa marítima, como foi possível destruir praticamente a ferrovia e deixar os portos marítimos e fluviais ao abandono?
  2. A inexistência de uma rede de aprovisionamento de combustíveis líquidos articulada com as principais interfaces de transportes do país (os aviões que se dirigiam para a Portela foram forçados a procurar abastecimento noutros aeroportos!), a que se soma a ausência de circuitos alternativos de abastecimento aos veículos prioritários (polícia, bombeiros e forças militares, para-militares e policiais).
  3. A completa falência dos serviços de protecção civil perante uma emergência nacional de três dias.
Do ocorrido terão agora que ser extraídas rapidamente algumas ilações para a acção política.
  • O actual sistema de transportes precisa de uma radical e urgente reformulação estratégica, com a reorientação imediata das prioridades de investimento para o sector ferroviário e marítimo-fluvial. O novo aeroporto e a nova travessia do Tejo devem ser colocados em pausa. Mas, por outro lado, devem ser dadas novas prioridades para as ligações ferroviárias rápidas entre Madrid e Pinhal Novo, e entre Porto-Aveiro-Salamanca. Por outro lado, deve ser seriamente estudada a possibilidade de construção de um grande terminal marítimo de águas profundas entre o Bugio e a Trafaria e ainda a abertura de um canal fluvial entre os estuários do Tejo e do Sado, projectos estratégicos destinados ambos a acolher parte significativa do aumento exponencial do tráfego marítimo oriundo do renovado canal, alargado e aprofundado, do Panamá.
  • As forças militares, de segurança e de socorro têm que dispor de reservas próprias de abastecimento de carburantes, e não depender de petrolíferas privadas!
  • A ANA, por toda irresponsabilidade até hoje revelada, tem que ser expurgada dos incompetentes que por lá pastam.
  • Em suma, o país terá que se preparar para aceitar, mais cedo ou mais tarde, um Estado de Emergência Energética Prolongada, do qual resulte um conjunto de medidas de curto e médio prazo destinadas a interromper tudo o que seja manifestamente atentatório da eficiência energética de que desesperadamente precisamos. Destaco apenas algumas:
    1. proibição imediata de todos os desportos motorizados baseados em consumo petrolíferos;
    2. fim do ISP e igualização do IVA à escala europeia;
    3. promoção intensiva da microgeração energética;
    4. controlo accionista estatal das principais empresas responsáveis pela exploração dos recursos vitais ao país: energia e carburantes, águas, mar (ZEE) e rios.
Claro que para aqui chegarmos haverá que redefinir o actual sistema de forças políticas por forma a fazer as inadiáveis reformas da nossa débil democracia. Será este o tema do próximo postal.


OAM 377 19-06-2008, 12:33

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Energia

Sol, mar e vento!

A população mundial cresce ao bonito ritmo de 1% ao ano. Isto quer dizer, que hoje somos cerca de 6,7 mil milhões de criaturas, e em 2050, se não ocorrer nenhuma catástrofe de proporções bíblicas, seremos 9 191 287 000 de almas penadas. Outro dado curioso é o do nosso consumo energético, o qual tem vindo a crescer 2% ao ano. Consumimos hoje o equivalente a um motor com uma potência de 15 TWatt (1), mas se nada mudasse na actual inércia dos negócios, o motor energético de 2050 teria que ter uma potência de 30-35 TWatt. A boa notícia, dada há dias pelo Nobel da Física, Carlo Rubbia (2), é que bastaria um quadrado de areia no deserto do Saara, com 200x200 Km, para satisfazer tão descomunal necessidade energética. A má notícia é que poucos acreditam na possibilidade de reconverter a actual dependência das energias fosseis e não renováveis (petróleo, carvão, gás natural e nuclear), que era em 2005 da ordem dos 86%, para valores capazes de travar os efeitos nefastos das emissões antropogénicas de CO2 para a atmosfera.

Segundo Rubbia, a predominância dos fósseis na produção de energia deverá prosseguir, traduzindo-se num agravamento nas emissões com efeito de estufa, na estabilização da energia nuclear e num pequeno incremento das energias renováveis. Em 2004 era esta a distribuição das diversas origens da energia produzida pelos humanos:
Energias não renováveis: 86,8%
  • Petróleo: 34,3%
  • Gás natural: 20,9%
  • Carvão: 25,1%
  • Nuclear: 6,5%
Energias Renováveis: 13,1%
  • Combustíveis e resíduos renováveis (biomassa, cana de açúcar, etc.): 10.6%
  • Hidroeléctricas: 2,2%
  • Outras
    • Geotérmica: 0,414%
    • Eólica: 0,064%
    • Solar: 0,039%
    • Ondas: 0,0004%
Estes números dão uma ideia do caminho a percorrer, da dimensão dos obstáculos e sobretudo da inércia que será necessário vencer para corrigir a situação actual. Quando os governos europeus falam das suas ambiciosas metas ecológicas -- chegar aos 20% de energias obtidas de fontes primárias renováveis (vento, água, sol e biomassa), até 2020 -- é bom percebermos todos que se trata de uma transferência de apenas 6,9% em 12 anos, quando a taxa de crescimento anual do consumo à escala planetária é de 2%. Algo me diz que estamos em presença de uma vontade política desgraçadamente ridícula face ao desafio que a humanidade tem pela frente.


Pico carbónico, sim ou não?


Embora o petróleo líquido e o gás natural devam atingir o pico produtivo mundial no intervalo compreendido entre 2008 e 2018 (3), as reservas de carvão (5000 a 20.000 GTon), de óleos extra-pesados (tar sands) e de xistos oleosos (oil shale) seriam, segundo Carlo Rubbia, mais do que suficientes para alimentar o consumo energético mundial, à actual taxa de crescimento, por várias centenas de anos!

Na verdade, não é bem assim (4). Para que tal fosse viável, seria necessário que o ENROI (Energy Net Return on Energy Invested) da produção das variantes pesadas da energia fóssil (oriundas do petróleo de profundidade ou situado em zonas geladas, das areias betuminosas e dos xistos oleosos) não tornasse os necessários investimentos gigantescos que estão em causa em tais operações, muito arriscados e de rentabilidade duvidosa (como as contas até agora feitas demonstram ser). Por outro lado, mesmo conseguindo optimizar o ENROI, existem as maiores dúvidas sobre quem poderia pagar o preço final dos combustíveis e produtos derivados de hidrocarbonetos tão caros.


Os efeitos das emissões de CO2 duram quanto tempo?

Carlo Rubbia, dando de barato que há suficiente energia fóssil, e suficiente ciência e tecnologia para aproveitá-la (um mito comum e bem moderno), chama no entanto a atenção para um facto ainda mal percebido pelos poderes de decisão e longe da consciência social dominante. O facto é este: a produção antropogénica de CO2 terá efeitos sobre o clima da Terra durante centenas de milhar de anos!

A sobrevivência do plutónio é da ordem dos 25 mil anos. Mas a sobrevivência média do CO2 é de 30-35 mil anos. 1 a 33% das partículas emitidas agora perderão a sua actividade daqui a mil anos; 10 a 15% só daqui a 10 mil anos; e 7% das mesmas levarão 100 mil anos a "morrer"!

O degelo da calota polar e da Gronelândia, muito mais rápido do que o previsto, deriva em boa parte dos efeitos nefastos dos milhões de toneladas de CO2 lançados diariamente na atmosfera pela acção humana. O risco de o nível do mar subir entre 7 e 15 metros nalgumas zonas costeiras é cada vez mais plausível. A concretizar-se, por exemplo, na região chinesa do delta do rio Yangtze -- Xangai, Hangzhou, Nanjing --, onde vivem mais de 90 milhões pessoas, haverá uma catástrofe de proporções inimagináveis.

A redução até 2050 de metade das actuais emissões de CO2, proposta pela União Europeia, numa conjuntura habituada ao crescimento contínuo da produção e do consumo energético, vai ser um desafio tremendo, para o qual as actuais democracias populistas, muito corrompidas pela promiscuidade que mantêm com os sectores económicos-financeiros, invariavelmente atrelados a metas de rentabilidade e lucro fácil a curto prazo, não se encontram preparadas.

Passar de 6,5 GTon de emissões de CO2 provenientes do uso de energias fósseis (80% de toda a energia produzida/consumida pelos humanos), para 3,2 GtonC, quando os cenários da economia convencional continuam a apontar para um patamar de emissões, em 2050, de 15 GtonC, revela bem a dimensão trágica da verdadeira revolução energética que terá que ser realizada se quisermos sobreviver. (4)



Blue Men Group Tackles Global Warming

O Sol é tudo. Mas teremos tempo para inverter o actual curso suicida?

Segundo Carlo Rubbia, 15 TWatt de energia primária fornecida pelo Sol (equivalente ao actual consumo energético mundial) é a energia recebida por apenas 0,13% dos desertos solares do planeta, qualquer coisa como um quadrado com 200x200 Km2 no Saara! Onde está então a dificuldade energética, pergunta o físico nuclear do CERN e prémio Nobel?!

O problema científico e tecnológico resume-se, na sua opinião, a privilegiar a energia solar termoeléctrica, baseada em sistemas altamente eficientes de concentração da energia solar (Concentrating Solar Power - CSP), acoplados a receptores térmicos (sal, óleo, etc.) que acumulam calor a altas temperaturas, na ordem dos 450-650 ºC. Este calor serve, ou para acionar motores térmicos (do tipo Stirling e Brayton), ou para ferver água a alta pressão em geradores de vapor, que farão rodar as turbinas electromagnéticas.

Entre as tecnologias CSP actualmente em operação (a tecnologia solar mais barata), contam-se as Torres de Energia Solar, os Discos Solares e os Reflectores cilíndricos parabólicos. Outra tecnologia solar disponível (sobretudo para pequenas instalações, ou localizadas longe das redes de distribuição eléctrica) é a dos painéis foto-voltaicos, que convertem directamente a energia solar em energia eléctrica, embora com custos superiores e menor rendimento do que a tecnologia CSP. Para uma síntese sobre este tema, ler o artigo da Wikipedia.

O governo português está disposto a financiar a Rede Eléctrica Nacional para que esta compre electricidade produzida por particulares em regime de microgeração, a 65 cêntimos por kilowatt hora (kWh), um valor seis vezes superior aos 10,8 cêntimos que actualmente pagamos em casa. Este preço, para além dos incentivos fiscais e financeiros na aquisição dos equipamentos e instalação dos micro-geradores eólicos, foto-voltaicos e solares térmicos, destinam-se a distribuir o esforço de investimento na reconversão do paradigma energético. Mas pode igualmente comportar uma intenção indesejável: a de assegurar o controlo monopolista da distribuição da energia, impedindo, pela via legislativa, que a produção de energia solar barata possa vir a converter-se numa fonte de rendimento melhor distribuída, por exemplo, pelas comunidades locais e municípios. Vale pois a pena estudar em pormenor o problema das redes de distribuição, reivindicando, não apenas o direito à micro-geração, mas também o direito à criação de redes privadas, comunitárias, e municipais de distribuição eléctrica, sob supervisão das entidades responsáveis pela eficiência e segurança dos sistemas e redes elétricas.

Prevê-se que a produção de energia solar termoeléctrica (CSP) baixe progressivamente de preço ao longo das próximas duas décadas, devendo custar cerca de 2 cêntimos por kWh em 2020. Isto é, 1/5 da actual factura energética doméstica! Se pensarmos que por essa altura já parte significativa dos meios de transporte individual usará mais energia eléctrica do que combustíveis fósseis, adivinha-se as proporções gigantescas da revolução energética em curso. Para além do direito à micro-geração individual, familiar e comunitária de energias sustentáveis, o grande desafio colocar-se-à brevemente no terreno da eliminação dos actuais monopólios e oligopólios de distribuição, e em geral na des-concentração democrática das redes eléctricas.

A Espanha tem já uma Plataforma Solar comercial a funcionar em Sanlúcar la Mayor, Sevilha (ver vídeo noticioso), cinco centrais a iniciar até 2010 e mais 13 em fase de planeamento, num total de 19 centrais solares baseadas predominantemente na tecnologia termoeléctrica (CSP), com uma capacidade a instalar de 1,5 GW.


Barragens para quê?

A pergunta que fazemos é simples: qual o impacto real das 10 barragens hidroeléctricas cuja construção o governo intempestivo de José Sócrates, e do seu caricato ministro da Economia, apresentou como decisão inabalável? Não poderíamos ter melhores resultados seguindo o caminho avisado da Espanha? Ao contrário dos parques solares, as barragens produzem gases com efeito de estufa, atacam a biodiversidade, fragilizam os estuários dos rios, arrasam paisagens únicas, expropriam os pequenos a favor de oligopólios, destroem actividades económicas pré-existentes, deslocam comunidades humanas, comprometem actividades económicas de longa duração (como o turismo bem planeado). Por outro lado, o emprego que geram é meramente pontual e dura apenas o tempo das obras de construção. A única vantagem que parece subsistir é a da retenção de água doce e a sua potencial contribuição para a mitigação dos períodos de seca. Mas a que preço? E para que fins, realmente? Aliás, no caso das previstas pequenas barragens anunciadas repetidamente por José Sócrates, tratando-se de afluentes de rios maiores, eles próprios já regularizados por barragens, até este argumento residual redunda em manifesta falácia! Sobra, talvez, uma única justificação para a teimosia política: a velha confraria do betão que formatou ao longo destes últimos 30 anos o exercício da política à portuguesa!

Não é de barragens que precisamos para dar negócio aos empreiteiros e trabalho ao país. Mas sim de outro tipo de obras com efeitos multiplicadores muito mais amplos e duradouros. Como por exemplo, a reformulação audaciosa da rede ferroviária nacional e a sua interligação à rede espanhola, nomeadamente nos segmentos da Alta Velocidade e Velocidade Elevada. Como por exemplo, o lançamento de uma Nova Reforma Agrária nacional visando transformar Portugal num importante produtor especializados de bens agrícolas com elevado Valor Ecológico Acrescentado. Como por exemplo, a reconversão da maioria das nossas cidades em eco-cidades. Como por exemplo, a defesa e promoção da biodiversidade do território. Como por exemplo, a promoção de uma nova economia do mar.

Post-scriptum -- (26-02-2008) Recebi entretanto duas referências que merecem ser aprofundadas, para complemento do quadro traçado neste artigo:
  1. por um lado, a importância que ultimamente tem vindo a ser dada ao petróleo do Árctico, cujo acesso seria uma consequência do derretimento de extensas áreas daquela zona polar!
  2. outra, é a relevância dada num relatório europeu recente ao hidrogéneo, bem como o projecto da primeira instalação industrial de produção de electricidade a partir de hidrogéneo no Abu Dhabi.
    La recherche européenne démontre que l'hydrogène pourrait permettre de réduire la consommation de pétrole dans les transports routiers de 40% d'ici à 2050.

    Bruxelles, 25 février 2008.
    Un projet scientifique financé par le programme de recherche de l'UE a conclu que l'introduction de l'hydrogène dans le système énergétique réduirait la consommation totale de pétrole des transports routiers de 40% d'ici 2050. En prenant la tête du marché mondial des technologies de l'hydrogène, l'Europe peut ouvrir de nouveaux débouchés et renforcer sa compétitivité. Mais l'analyse indique également que la transition ne se fera pas automatiquement. Des obstacles importants doivent d'abord être surmontés, tant du point de vue économique et technologique qu'institutionnel, et il faut agir dès que possible. Le projet HyWays associe des entreprises, des instituts de recherche et des agences gouvernementales de dix pays européens. À l'issue d'une série de plus de 50 ateliers, le projet a abouti à une feuille de route pour l'analyse des incidences potentielles, sur l'économie, la société et l'environnement de l'UE, du recours à grande échelle à l'hydrogène, sur le court et le long terme, assortie d'un plan d'action indiquant les modalités à suivre pour concrétiser ce programme. Le rapport est publié au moment où les États membres doivent approuver un nouveau partenariat de recherche entre secteurs public et privé, d'un montant de 940 millions d'euros, pour le développement de la filière hydrogène et des piles à combustible. -- in Press Releases Rapid.



NOTAS
  1. Um Tera Watt é o mesmo que um bilião de Watt, ou um milhão de milhões de Watt (também representado assim: 10E12Watt ou 10^12 Watt).
  2. Carlo Rubbia, "The great Energy transformation - QM 2008 Inaugural Session", 2008 (PDF).
  3. Giant Oil Fields - The Highway to Oil: Giant Oil Fields and their Importance for Future Oil Production. Fredrik Robelius. 30-03-2007. (PDF)
  4. A abundância dos óleos extra-pesados não significa automaticamente a sua acessibilidade económica. O preço da sua produção, estima-se, será sempre superior em 40% ao custo da produção petrolífera actual! Leiam-se estes dois recentes artigos sobre o assunto:

    Chris Sanders, Sanders Research Associates Ltd.
    29-02-2008. "Orwell's vision, Lockheed's dream"

    "Paul Krugman, the New York Times' economic pundit, blogger, and candidate in waiting to be US Treasury Secretary in the next Democratic administration, has blogged on peak oil. This suggests that it must finally be safe to talk about it seriously in public and amongst adults. He usefully points out the fact, illuminated some years ago by Hall, Cleveland and Kaufman in Energy and Resource Quality (1986), that the production costs of alternative fuels, such as shale oil in his example, rise along with the price of oil. Thus the idea, much loved in the popular press and amongst quite a few people in the financial markets who ought to know better, that higher oil prices make investment in alternative energy sources feasible once oil reaches such and such a price, is a fallacy."

    Paul Krugman, New York Times
    19-02-2008. "Feeling a bit peaked"

    "Peak oil, that is -- a dismal theory that keeps getting more plausible.

    ... A curious fact: a couple of years ago the firmly held belief of many right-wing economic commentators (why is this ideological? I'm not sure, but it was) was that the spectacular rise in home prices wasn't a bubble, but that the rise in oil prices was."
  5. Gaiolas de CO2: New materials can selectively capture CO2, scientists say. CBCNews.

OAM 323 25-02-2008, 03:06 | 29-02-2008, 12:50

sábado, novembro 04, 2006

Stern Report

Global Warming 2100
img: Global Warming Art


Conseguiremos declarar o Estado de Emergência Ecológica?


O relatório elaborado pelo antigo economista do Banco Mundial, Sir Nicholas Stern, por encargo do governo inglês e sob os auspícios de Gordon Brown, veio a público a 30/10/2006, tornando-se instantaneamente assunto prioritário das principais agências noticiosas internacionais. O relatório não aporta nada que não suspeitassemos, grosso modo, desde Limits to Growth (1972), ou que não soubessemos desde a publicação de Plan B (2003-2006), de Lester R. Brown, de The Long Emergency (2005), de James Howard Kunstler e de Uma Verdade Inconveniente (2006), de Al Gore. Mas ainda assim, e apesar ser por vezes algo optimista nas soluções, tem a significativa vantagem de ser um documento criterioso, relativamente actualizado, substancial, prudente e oficial.

Algumas conclusões (retiradas pelo Herald Tribune e de uma leitura resumida do documento):

  • os países pobres e em desenvolvimento serão os mais prejudicados pelas alterações climáticas;

  • o sector energético mundial terá de se descarbonizar em 60% até 2050 (na realidade, talvez precise de uma redução bem maior e mais rápida nos países industralizados: 90% até 2030...);

  • os mercados dos produtos de baixa intensidade carbónica valerão qualquer coisa como 374 mil milhões de euros anuais em 2050;

  • a desflorestação será responsável por mais de 18% das emissões globais de gases com efeito de estufa (ultrapassando o sector de transportes);

  • os incentivos ao desenvolvimento de tecnologias de baixa intensidade carbónica deverão multiplicar por 2 a 5 vezes o montante anual actualmente dispendido, devendo chegar aos 26,9 mil milhões de euros/ano em 2050;

  • a União Europeia, a China e o Estado da Califórnia são os primeiros grandes espaços económicos e demográficos mundiais a agir face à presente Emergência Ecológica Global, prevendo-se que venham a introduzir, ao longo desta e da próxima décadas, taxas ecológicas crescentes sobre a produção, comercialização e uso de combustíveis carbónicos e sistemas destes dependentes ou acoplados:
    — transportes rodoviários, aéreos, marítimos e fluviais movidos a combustíveis fósseis (taxas s/ os combustíveis fósseis, s/ a mobilidade pendular, s/ o estacionamento, s/ a renovação dos equipamentos e veículos, etc.)
    — energia doméstica, sobretudo sistemas de ar condicionado e electrodomésticos ineficientes;
    — tratamento de resíduos (lixos domésticos e resíduos perigosos);
    — embalagens anti-ecológicas, com incorporação intensiva de energia e de materiais críticos, etc.

Tudo isto, bem entendido, se o planeta for capaz de declarar até ao fim da presente década um verdadeiro Estado de Emergência Ecológica (EEE). Se não agirmos sem demora, avisa o Relatório Stern, o planeta poderá ter que consumir 5 a 20% do PNB global para acudir à deterioração sem precedentes das condições de vida na Terra.



Notas
Para uma visita rápida ao conteúdo deste relatório, vale desde logo a pena ler a tradução portuguesa do respectivo Resumo.
A versão original e integral do Stern Report será objecto de comentário crítico assim que acabe de lê-lo.
O artigo de George Monbiot publicado pelo Guardian de 31/11/2006, Drastic action on climate change is needed now - and here's the plan adverte-nos para uma leitura crítica do Relatório Stern.
Sobre este tema, vale também a pena ler o estudo igualmente recente de Andrew J. Hoffman, Getting Ahead of the Curve: Corporate Strategies That Address Climate Change (2006), publicado pelo Pew Center on Global Change. (PDF 2.3Mb)
O Council of Foreign Relations, por sua vez, publicou este sintomático estudo sobre a situação americana: National Security Consequences of U.S. Oil Dependency

[Este artigo foi originalmente publicado no blog de O Grande Estuário]

OAM #150 04 NOV 2006

sábado, outubro 14, 2006

Clima no Parlamento


Sistema Europeu de Informação s/ Fogos Florestais. Dia: 2006-10-14 (previsão p/ 3 dias)

Assembleia da República convida a sociedade civil a debater alterações climáticas e estratégias de mitigação


Passei a manhã e parte da tarde de 10 de Outubro de 2006 enfiado no novo auditório do parlamento português. As leis que ali se discutem são cada vez mais subsidiárias da produção seminal do Parlamento Europeu. Da transposição "in extremis" para o nosso edifício legislativo das leis de Estrasburgo tem dependido a melhoria de um país indisciplinado, onde o maior obstáculo à contemporaneidade continua a ser o elevado grau de analfabetismo funcional (fraca escolaridade básica e secundária), o péssimo hábito de depender de miraculosas mesadas externas (coisa que vem pelo menos desde o século XV e ainda não terminou...) e a persistência de um sistema de poder endogâmico irresponsável, muito dado às mordomias e à falta de ética. A ausência generalizada de civismo e o flagelo burocrático são alguns dos corolários inevitáveis destes males. Já não escarramos tanto na via pública como dantes, mas continuamos a estacionar em cima dos passeios, a obstruir as garagens e a estacionar alegremente em todas as esquinas que nos aparecem pela frente.

A promoção de uma discussão pública sobre as alterações climáticas no auditório da Assembleia da República é pois uma boa notícia. Fará parte da nova estratégia de transparência e abertura dos órgãos do poder à sociedade? Se sim, não poderei deixar de saudá-la. O tema inagural ? que fazer perante as alterações climáticas em curso? ? não poderia ser mais oportuno. O auditório encheu...

Das seis intervenções da manhã, destacaria apenas duas, pela sua concisão e relevância: a de Arturo Gonzalo Aizpiri, Secretário-Geral para a Prevenção da Contaminação e das Alterações Climáticas do ministério espanhol do ambiente, e a de Isabel Guerra, auditora de ambiente do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.

O primeiro fez uma exposição muito clara sobre a estratégia espanhola para o ambiente. Retive duas ideias: que não comprometerão as suas metas económicas essenciais aos limites de emissões de CO2 decorrentes do Protoclo de Quioto (tendo já constituído uma reserva financeira para aquisição de direitos de emissão a países terceiros), mas que nem por isso deixarão de diminuir rápida e drasticamente a sua extrema dependência energética dos combustíveis fósseis importados (85%). Para tal, a Espanha levará a cabo uma profunda revolução no sistema de transportes, tendo em vista diminuir a importância dos transportes rodoviários e aéreos relativamente à ferrovia e aos transportes marítimos, promovendo, por outro lado, um conjunto de medidas destinadas a mitigar decididamente a dependência do consumo energético de origem carbónica por parte dos chamados "sectores difusos" (transportes, edifícios e sector terciário). Paineis solares térmicos e fotovoltaicos serão generalizados de forma apoiada, mas imperativa, ao longo desta e da próxima década em todas as cidades espanholas.

Maria Isabel Guerra deu conta do Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC, 2006), destacando não apenas alguns aspectos essenciais do diagnóstico e das medidas a implementar, mas ainda, o que não deixa de ser particularmente relevante, a sua característica inter-ministerial e ainda o facto de ter sido implementada uma metodologia de controlo e verificação de resultados.

Finalmente no plano das visões mais acutilantes, críticas e propositivas deste encontro destacaria a notabilíssima intervenção do Prof. Eduardo Oliveira Fernandes (Responsável da Unidade de Estudos Avançados de Energia no Ambiente Construído, da Universidade do Porto), e a militância quase colérica de Carlos Pimenta. O primeiro, não apenas mostrou até que ponto a nossa extrema dependência energética do exterior e das energias de origem fóssil é um factor de grande insegurança nacional, como sublinhou ainda o muito que há fazer no campo da eficiência energética (os chamados negawatts), antes de nos deixarmos levar pelo canto das sereias nucleares e das OPAs. 60% da energia transportada perde-se no labirinto da ineficiência energética, da falta de visão económica e da incompetência política (as palavras são minhas)... O segundo, foi sobretudo corajoso na defesa da necessidade de construir a barragem do Sabor como medida de precaução extrema absolutamente defensável na perspectiva da defesa estratégica da bacia do Douro (objectivamente ameaçada pelas medidas de salvaguarda hidrológica implementadas e em fase de implementação pelos espanhóis na parte que lhes pertence do rio comum).

Não ouvi as primeiras intervenções da tarde. Mas ouvi as que encerraram o encontro. Nota triste: a lenga-lenga dos deputados que ali aterraram para exibirem os respectivos leques partidários, sem que nada de substancial saísse daquelas mentes de eleição (talvez na próxima vez tragam a lição estudada e nos dêem a conhecer quais são efectivamente as posições dos partidos sobre questões tão importantes como as que neste primeiro encontro foram discutidas). Nota feliz: não esperava de Jaime Gama, o presidente da Assembleia da República, uma intervenção tão lúcida sobre o mérito da conferência, e em particular a sua plena consciência dos efeitos devastadores que as alterações climáticas, se não forem mitigadas, poderão ter sobre a nossa própria sobrevivência como país, nação e estado. Subestimei-o.

Resumindo: há uma boa percepção técnica dos problemas; sabe-se que os interesses cegos, egoístas e irresponsáveis do sector estão em pleno movimento browniano, mas desconhece-se se há pensamento económico sobre o assunto; ou se os políticos (nomeadamente este governo) terão a coragem de agir atempadamente e defendendo em primeiro lugar o interesse nacional. O sucesso da União Europeia depende e muito de três tipos de dialécticas: a que vai de cima para baixo (do geral para o particular); a que vai de baixo para cima (do particular, i.e. do estado-nação, da cidade, da freguesia, para o geral) e a que se desenvolve segundo a topologia das redes rizomáticas. Muito em breve a lógica "top down" actualmente hegemónica (e estúpida) do sector energético dará lugar a uma rebelião sem precedentes das novas matrizes de produção e partilha energética à semelhança do que ocorreu na tecnosfera da redes informáticas. Em 1994 tentei avisar um dos patrões lusitanos da comunicação social sobre o tremendo abalo que a sua indústria iria sofrer. Disse-lhe que a webcast iria comer literalmente o broadcast. Ele não me ligou nenhuma. Os resultados estão à vista e ainda vão piorar, para ele, claro! Basta meditar nos 1300 milhões de euros desembolsados anteontem pela Google para adquirir a You Tube , uma empresa web criada em 2005 para partilhar vídeos à escala global. Pois bem, o aviso aos distraídos do sector energético é este: esqueçam a ideia de controlo e comecem rapidamente a pensar em rizomas energéticos livres e cooperantes. Se não o fizerem, acreditem, serão comidos, literalmente, pelos rizomas mini, micro e nanotecnológicos em gestação... em menos de década e meia!

OAM #145 11 OUT 2006 [originalmelmente publicado no blog de O Grande Estuário