quinta-feira, março 29, 2007
Portugal-2
Saudosismos
Afinal os portugueses sempre foram os primeiros europeus a chegar à Austrália!
SYDNEY (Reuters) -- Uma carta marítima do século XVI guardada numa biblioteca de Los Angeles prova que os navegadores portugueses, e não os ingleses ou holandeses, foram os primeiros europeus a descobrir a Austrália e a desenhar as suas costas, revela um novo livro que descreve a descoberta secreta da Austrália.
O livro, "Beyond Capricorn," diz que o mapa, que assinala com detalhe vários pontos geográficos ao longo da costa leste da Austrália, prova que o navegante português Cristóvão de Mendonça, partindo de Malaca, dirigiu uma frota de quatro navios até à Botany Bay em 1522 -- um século antes de os holandeses lá terem chegado e quase 250 anos antes do capitão britânico James Cook ter avistado aquela costa.
O autor australiano Peter Trickett afirmou ainda que quando ampliou o pequeno mapa pôde reconhecer todos os promontórios e baías de Botany Bay, Sydney -- no sítio onde Cook reclamou aquele sub-continente para a coroa britânica, em 1770.
"Era tão preciso que pude desenhar por cima as actuais pistas do aeroporto de Sydney, escalando-as para o seu sítio exacto sem qualquer problema.", disse Trickett à Reuters na Quarta feira, dia 21. -- Michael Perry, Reuters, 21-03-2007; 6:26 AM (Versão original integral)
A Austrália, Terra de Java, era, ao que parece, um segredo de Estado, que o Estado Português escondeu durante tanto tempo que se esqueceu dele! Finalmente, 250 anos depois, os ingleses chegaram à mesma baía de Sydney, desenhada pelos cartógrafos portugueses, declarando o novo mundo terras de sua Magestade Britânica. Até hoje!
Estive esta tarde a rever o filme Costa do Castelo (1943), de Arthur Duarte, e enchi-me de optimismo! Saudosismo lamecha? É bem possível. Força Portugueses! Há mais continentes por descobrir..., por exemplo, o de um país sustentável.
OAM #183 29 MAR 07
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quarta-feira, março 28, 2007
Portugal
Porquê Salazar?
Apenas consegui ver uma meia hora da sessão final do concurso televisivo que abalou a classe política portuguesa. Pareceu-me desde o início uma iniciativa desmiolada, levada a cabo por uma gaja desprezível, dirigida a um público de indígenas de meia idade e de idade avançada, ignorante até dizer chega, e sobretudo inconsequente.
Num país analfabeto e empobrecido, corroído simultaneamente pela perda de um vasto território colonial, pela corrupção galopante que se apoderou das suas elites e agências de intermediação, e pelo declínio da sua própria autonomia nacional e visão estratégica, que outra coisa seria de esperar que não uma expressiva votação simbólica contra a actual democracia plutocrática e nepotista, e contra os irresponsáveis que exercem alegremente o poder? Uns parecem porcos em fase de engorda apressada. Outros, ratos abandonando um navio à beira do naufrágio. Olham para nós e dizem: sou corrupto e depois?! Olham para nós e dizem: minto e depois?! Olham para nós e dizem: se não tens amigos, arranja-os!!
O desemprego, a pobreza envergonhada e explícita, o analfabetismo funcional, a incultura e a emigração regressaram em força, mas o regime prefere falar de grandes obras sanguessugas e de optimismos cabotinos. Os partidos não se distinguem entre si pelas suas diferentes estratégias (que não têm), mas pela verborreia ininteligível de circunstância. Admiram-se agora, escandalizam-se, porque 50 mil espectadores(1) mandaram Mário Soares e Afonso Henriques às urtigas. Admiram-se porque os finalistas foram, afinal, dois homens(2) recentes conhecidos pela autoridade com que desenharam e deram a conhecer as suas ideias e pensaram no país. Eram ambos autoritários? Pois eram. E agora? Agora Cavaco e tintas Robbialac! Vai ser uma tragédia? Talvez não...
Notas
1 - As sondagens trabalham com universos bem mais pequenos, embora construídos de acordo com estratégias estatísticas comprovadas. Seja como for, dada a importância da televisão na formação da opinião moral de curto prazo, menosprezar os resultados do concurso sobre o "melhor português" seria um erro. O Pedro Magalhães escreveu, como sempre, coisas interessantes sobre o fenómeno.
2 - Dada a natureza passiva de boa parte dos espectadores televisivos, seria de esperar que o imbecil concurso se transformasse numa pesquisa colectiva do macho alfa. Ora assim sendo, teria que recair num personagem recente (ainda com feromonas no ar) e claramente afirmativo e claramente vencedor no território que pisou. Salazar e Cunhal correspondem perfeitamente ao perfil. No entanto, se os localizadores do programa holandês da Endemol tivessem alguns neurónios próprios a funcionar teriam feito tudo para incluir duas ou três mulheres com verdadeiro potencial no naipe de eleição. E de entre estas, para poderem confrontar (no feminino) os citados machos alfa, teriam que ter escolhido, forçosamente, a Inês de Castro, a Rainha Santa Isabel e Nossa Senhora de Fátima! Teria sido muito mais divertido e equilibrado.
OAM #182 28 MAR 07
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segunda-feira, março 26, 2007
Aeroportos 19
Gato Fedorento arrasa Ota
Os Gatos acabam de prestar um verdadeiro serviço público ao país: mostrar com a inteligência assassina do humor, ao que pode levar a teimosia leviana de um político que faz cada vez mais lembrar aquele sapo metido numa pirex ao lume. A água foi aquecendo lentamente... até que o sapo ficou cozido!
OAM #181 26 MAR 07
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sábado, março 24, 2007
Petroleo 4
Um argumento mais contra os devaneios aeroportuários lusitanos
Matt Simmons (Simmons & Company) afirmou à CNBC, após o fecho de mais uma sessão de Wall Steet, que o pico da produção petrolífera será atingido este ano, mas que só nos daremos conta disto, muito provavelmente, em 2008. (07-03-2007)
Isto quer dizer que, se nenhum fenómeno fizer disparar os actuais preços do crude para os 80 dólares o barril ainda este ano --crise pós-eleitoral na Nigéria, insurreição iraquiana, descontrolo da crise iraniana (que hoje mesmo esteve a ponto de suceder!), desastres climáticos, ou uma queda abrupta do dólar (em declínio imparável há vários meses)-- já nada poderá impedir o encarecimento acelerado dos produtos petrolíferos nos anos que se aproximam. Em cinco anos, o petróleo poderá chegar aos 300 dólares o barril. Hoje está a 62 USD/b, muito longe, portanto, dos 12 a 25 dólares que serviram de referência para a maioria dos pseudo-estudos sobre o NAL (Novo Aeroporto de Lisboa).
Desta realidade decorrem algumas conclusões importantes:
-- só resistirão as companhias aéreas que forem capazes de reduzir drasticamente os seus custos operacionais, através da substituição das actuais frotas ruidosas e ineficientes em termos energéticos, do aumento radical da produtividade, do uso de instalações aeroportuárias baratas e da subcontratação de tudo o que estiver fora do coração do negócio (transportar passageiros pelo ar e oferecer-lhes uma rede barata, confortável e criativa de soluções de viagem);
-- mesmo assim, nada garante que uma recessão mundial provocada pela subida em flecha dos preços dos combustíveis não venha a induzir um arrefecimento acentuado no eufórico fenómeno das Low Cost (que entretanto tenderão a alargar a sua área de negócios para os transportes ferroviário, marítimo e fluvial);
-- a decisão estratégica europeia (e espanhola) de intensificar a construção de uma densa rede ferroviária em bitola europeia de Alta Velocidade e de Velocidade Elevada irá concorrer directamente com o transporte aéreo nas distâncias até 900 Km;
-- sendo obviamente uma quimera pensar que Portugal possa ser uma porta de entrada aérea na Europa, resta-lhe tão só participar da forma mais inteligente que souber nas redes de transporte aéreo e ferroviário actualmente em rápida constituição na Europa: companhias de Baixo Custo (Low Cost) e redes de Alta Velocidade e Velocidade Elevada. E aqui, a prioridade deve ir claramente para a ferrovia e não para o transporte aéreo, pois sendo impossível integrarmo-nos nas novas redes ferroviárias sem vultuosos investimentos estratégicos, o mesmo não sucede com o transporte aéreo, para o que bastará saber recuperar rapidamente e com custos mínimos os aeroportos que temos, em função das solicitações das novas companhias, secundarizando liminarmente os problemas derivados da decadência inevitável das companhias de bandeira;
-- destas novas evidências decorre que não há nenhuma pressa técnica, logística ou económica de fundo que leve a pensar ser necessário construir um novo grande aeroporto na região de Lisboa, bastando, para já, modernizar a Portela e reforçá-la com o apoio de mais dois aeroportos: Montijo (para as Low Cost) e Tires ou Sintra (para os "Corporate Jets");
-- no que se refere à ferrovia, a solução também é simples: ligar imediatamente Lisboa a Madrid via Alta Velocidade, terminar a adaptação da Linha do Norte ao Alfa Pendular e definir um plano ferroviário de emergência destinado a traçar uma rede mínima de linhas em bitola europeia capaz de agilizar a mobilidade de pessoas e mercadorias entre Portugal e o resto da Europa;
-- entretanto, sem preconceitos, mas com as maiores cautelas, devemos lançar a discussão sobre a alternativa nuclear pacífica ao declínio da economia do petróleo.
Tudo o resto, sobretudo a patética teimosia do actual governo no dossiê da Ota, tem que ser devidamente minimizado.
Conselho gratuito a José Sócrates: faça um "reset" no dossiê do NAL (Novo Aeroporto de Lisboa) antes de começar a presidência portuguesa da UE, dê um prazo curto para re-análise independente do problema, convoque uma conferência europeia sobre energia e mobilidade na Europa, apoie-se nos argumentos da Oposição e tome por fim um decisão lúcida no ano novo de 2008. Já sabe o que penso: prioridade à ferrovia e custos mínimos na adaptação das nossas infra-estruturas aeronáuticas.
22-03-2007. Evidence is mounting that oil prices will soon climb to new, perhaps unaffordable for many, highs. Some think "soon" is three, four, or five years away. Others think "soon" may be as close as three, four, five, or six months. It is this latter scenario in which oil and gasoline prices reach new highs before the year is out that we look at today. -- Tom Whipple, Falls Church news-Press
OAM #180 23 MAR 07
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sábado, março 17, 2007
Governo PS 2
Manuel Pinho, de Portugal, e Manuel, the spanish waiter, de Faulty Towers |
All Manuels!
Allgarve Low Cost Weekend: come and enjoy our unforgetable minister of economy for only €100
O Governo português vai investir, só este ano, nove milhões de euros na promoção e realização de eventos no Algarve. E, para vender melhor a região, o Governo aprova e paga uma mudança do nome do Algarve, de português para "um género" de inglês: Allgarve!
Em primeiro lugar, constata-se que abriu antecipadamente a temporada de caça ao voto.
Em segundo, que para distrair a atenção pública dos sérios problemas do país, que o actual governo está longe de começar a resolver, nada melhor do que o grande "stand-up comediant" do governo Sócrates, Sua Excelência o Imberbe Ministro da Economia, Manuel Pinho!
Para este Manuel, tal como para o extraordinário personagem de Faulty Towers, o mundo que pisa está escrito num idioma que não entende, e por isso faz invariavelmente as maiores confusões na sua cabeça e pronuncia frases cómicas, pela sua óbvia falta de oportunidade e sentido de estado, de cidadania ou da mais simples prudência cultural.
Em Portugal, diz aos desempregados que os seus salários subiram demasiado e que as empresas de calçado e vestuário vão naturalmente para a China e para o Paquistão.
Na China, diz aos empresários chineses que venham para Portugal porque aqui ainda há salários baixos e um proletariado simpático e dócil.
No Algarve, explica aos indígenas que all é uma palavra inglesa que quer dizer tudo ou todo, e que portanto, Allgarve quer dizer... Todo-o-Algarve!
Ao perguntarem-lhe porque motivo se muda o nome de uma região portuguesa para um nome género inglês (de Algarve para Allgarve), o Manuel afirma candidamente: é que, como sabem, os turistas que vêm para o Algarve são sobretudo estrangeiros.
Onde está o Basil do governo Sócrates, para dar uma palmada na nuca deste peripatético?
OAM #179 17 MAR 07
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quarta-feira, março 14, 2007
Socrates 7
A biografia de José Sócrates montada pelo Sol apresenta todos os contornos de uma cortina de fumo e revela o estado andrajoso da imprensa portuguesa actual. |
As misteriosas Fábricas de Canudos
Há alguns anos atrás a estatal Tabaqueira foi privatizada e adquirida pela Philip Morris. Uma das primeiras decisões da nova administração foi emitir uma ordem de serviço proibindo o tratamento por Dr., Eng. Arq., etc., dos licenciados assalariados da nova empresa. Uma boa decisão que, se já adoptada entre nós, evitaria muitas das cenas tristes a que frequentemente assistimos na pastelarias, nas empresas, nas repartições públicas e na cada vez mais insuportável televisão. O Senhor Durão Barroso é o actual presidente da Comissão Europeia. O Senhor Dr. Durão Barroso não existe, a não ser no aparvalhado sítio lusitano.Na realidade, nos países anglo-saxónicos, doutores são tradicionalmente os médicos e também se admite tal tratamento quando dirigido aos licenciados nalgum curso universitário depois de cumprido um doutoramento, sobretudo entre pares. Já nos países latinos, mais atrasados na chegada à moralidade laica da ética capitalista, do que os povos protagonistas das cisões protestantes e puritanas, as habilitações académicas tenderam quase sempre (não é o caso da Espanha, por exemplo) a ser consideradas como um sucedâneo dos títulos da antiga nobreza. No século XIX, os endinheirados compravam títulos nobiliárquicos, tal como mais tarde, no queiroziano século XX português (e italiano, por exemplo) se cobiçaram, forjaram e compraram (com cunhas e com dinheiro) os novos prefixos da pequena burguesia ascendente e da crescente massa de funcionários públicos que foram acudindo às necessidades crescentes de um Estado cada vez mais complexo e oneroso. Ao licenciado queiroziano (o célebre Conde de Abranhos) sucederam os doutores, arquitectos e engenheiros de hoje. Estes prefixos, sem os quais muitos dos nossos conterrâneos se sentem nus, não passam, afinal, de penduricalhos ridículos, espécie de nódoa indelével da nossa alarve ignorância, arreigado conservadorismo e teimosa hipocrisia. Em vez de senhores da sua própria liberdade, os doutores da mula russa preferem exibir a pluma do seu pequeno privilégio pós-rural e, se possível, ascender ao conforto de uma carreira no funcionarismo público. Tal pluma serve, entre outros fins, para sonhar com conselhos de administração de empresas públicas, ou com a pequena carreira política.... Mas aqui a porca, por vezes, torce o rabo!
O escândalo que envolve a Universidade Independente, onde, está dito, José Sócrates obteve uma licenciatura, prende-se com suspeitas sobre a prática de actos ilícitos como sejam o branqueamento de capitais, o tráfico de diamantes (de sangue?), a falsificação de documentos e a forja de canudos universitários. As três primeiras suspeitas fizeram os cabeçalhos dos OCS lusitanos durante algum tempo (ver por ex.: notícia na TVI). A suspeita de irregularidades na atribuição de títulos académicos tem vindo a ser abordada sobretudo nalguns blogues portugueses (ver nomeadamente Do Portugal Profundo).
John Major não completou sequer o ensino secundário. No entanto, tal não o impediu de seguir uma promissora carreira bancária e de se tornar primeiro ministro do Reino Unido. Nada na legislação portuguesa obriga o presidente da república, ou qualquer membro de um governo a possuir uma licenciatura académica. Basta, creio eu, que saiba ler, escrever e contar. E assim deve ser. Ou melhor, deveria obrigar a que, já agora, tivesse alguma experiência de vida e de administração.
As suspeitas que têm vindo a ser levantadas relativamente ao CV do primeiro ministro José Sócrates não incidem pois, pois não poderiam incidir, na questão dos atributos académicos do político, mas na legítima curiosidade de saber se o atributo que ostenta é apropriado ou inapropriado. Se é apropriado, não deve ser confusamente descrito nas biografias oficiais e jornalísticas do protagonista, lançando razoáveis dúvidas entre os mais obsessivos. Se não é apropriado, então a coisa é grave, pois somos levados a perguntar: é ou não verdadeira a biografia oficial do primeiro ministro, distribuida pelo governo, no que se refere ao grau académico de José Sócrates? É ou não correcta a atribuição académica de José Sócrates inscrita na entrada (protegida) da Wikipedia ? Se não é, estamos perante um lapso ou diante de uma mentira?
Antes de escrever este postal, depois de receber insistentes mensagens na minha caixa de correio, pensei que o assunto é demasiado melindroso para ser levianamente abordado. Estive por isso em silêncio durante meses. Mas depois cheguei a esta conclusão: se de facto houver alguma dúvida nesta matéria, alguma incorrecção que não seja prontamente esclarecida pelo próprio José Sócrates, a dúvida vai começar a inchar como uma bolha imparável, até que rebentará. Por outro lado, se forem realmente falsas as atribuições da sua carreira académica, o mais certo é que alguém se aproveite subrepticiamente do facto, fazendo chantagem. Ora isto é o pior que nos poderia acontecer como país civilizado!
Que sucederia se os portugueses viessem a saber (por um diário madrileno) que a biografia académica do primeiro ministro é falsa? Depende de como a coisa fosse deslindada e explicada. O Bill Clinton pediu desculpa por andar a fazer coisas inapropriadas com uma jovem colaboradora e safou-se. No caso de José Sócrates, a ser verdade que houve falsificação das habilitações académicas, não sei se o país seria capaz de perdoar o homem. Só mesmo uma confissão pública sincera e bem feita poderia impedir a sua previsível demissão do cargo.
Entretanto, pode ser que tudo isto passe, mas seria mau que passasse sem esclarecimento. Pois ficaria para sempre a dúvida sobre a independência de acção do principal governante do país.
OAM #178 14 MAR 07
Actualizações:
PSD pede "cabal esclarecimento" sobre licenciatura de Sócrates
22.03.2007 - 17h03 PÚBLICO
O PSD pediu hoje na, Assembleia da República, o "cabal esclarecimento" sobre a investigação, "legítima e baseada em factos", avançada pelo PÚBLICO sobre as falhas no processo de licenciatura do primeiro-ministro, José Sócrates.
Em declarações aos jornalistas, o deputado Pedro Duarte classificou ainda como "inaceitável" a nota do gabinete do primeiro-ministro que acompanha a investigação.
Na nota, Sócrates considera "lamentável que se utilize a situação actual da Universidade Independente para se atingirem os seus antigos alunos" e "lastimável que o jornal PÚBLICO se disponha a dar expressão e publicidade a este tipo de insinuações".
Porém, o deputado adiantou que o PSD vai "serenamente aguardar" pelo "esclarecimento devido".
"Não queremos acreditar que o gabinete do primeiro-ministro não vá emendar a mão", afirmou Pedro Duarte.
Os restantes partidos recusaram fazer quaisquer comentários.
Segundo a investigação do PÚBLICO, o dossier relativo à licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente tem várias falhas. Há alguns documentos por assinar, ou sem data, timbre ou carimbo, tal como há elementos contraditórios, nomeadamente os relativos às notas atribuídas a José Sócrates. (fim de citação)
Comentário: o caso chegou, como previa e é bom que tenha acontecido, aos OCS tradicionais. Entretanto, o sítio oficial do governo Sócrates apressou-se a emendar os atributos académicos do primeiro ministro, deixando de lhe chamar "Engenheiro" para atribuir-lhe, agora, uma "licenciatura em engenharia civil", que tendo sido putativamente conferida pela Universidade Independente (sim, essa!) não o autoriza o dito licenciado a dizer-se e dizer aos outros que é engenheiro, pois a respectiva Ordem não confere automaticamente carteira profissional e licença de actividade ao que quer que saia da tal Universidade Independente. O caso, aprofundado pelo Público, na sequência das investigações, nomeadamente Do Portugal Profundo, vem confirmar haver fortes suspeitas de que o actual primeiro ministro mentiu sobre o seu CV universitário. Se for verdade, não sei como poderá continuar no cargo. -- OAM #178 23 MAR 2007
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sábado, março 03, 2007
Paulo Portas
Fora do armário?
Paulo Portas, líder dum insignificante partido de direita português, decidiu que era chegada a hora de copiar o novo conservadorismo inglês, tal como há pouco mais de uma década António Guterres decidira substituir a lógica maçónica (e muito "cota") do socialismo português pelo espírito New Labor de Tony Blair e da sua musa inspiradora, o sociólogo inglês Anthony Giddens. O momento é oportuno. Por um lado, a segunda metade da governação de José Sócrates vai revelar com dramatismo crescente as fissuras criadas no actual edifício social pelas correcções sistémicas ditadas pela necessidade absoluta de estancar a hemorragia económica do Estado. Por outro, o partido que terá forçosamente que colonizar, para atingir tão ambicioso projecto, o chamado Partido Social Democrata, vem sendo dirigido por um anão político e navega ao sabor da mais desorientada deriva da sua história, sem protagonista à vista, capaz de superar a orfandade pós-cavaquista. Ora um tal protagonista é absolutamente necessário à sua sobrevivência no preciso momento (e o momento será de 10 anos) em que a tal aura perdida, Aníbal Cavaco Silva, é Presidente da República. A menos que Durão Barroso decida acorrer a tal emergência, o que tem fortes probabilidades de acontecer, Paulo Portas terá de facto um extenso campo de oportunidades pela frente. Pelo sim, pelo não, o actual deputado do Partido Popular, decidu jogar aquela que será certamente a sua maior e porventura derradeira cartada política. O actual líder do PP, Ribeiro e Castro, é uma nódoa de insuportável oportunismo e um verdadeiro imbecil de direita. Resta agora saber até onde estará Paulo Portas disposto a ir no revisionismo do seu próprio e indisfarçável direitismo.
Os resultados do referendo ao aborto marcaram uma viragem sociológica e cultural decisiva em Portugal. Pela primeira vez, a reaccionaríssima hierarquia católica portuguesa e a direita sociológica mais bronca do país foram acantonadas para o lugar de onde não deverão voltar a sair tão cedo: o lugar das convicções religiosas privadas, que é de cada um, e por isso mesmo, não deve permitir as instrumentalizações de poder, sobretudo por parte de quem tutelou de modo tão cruel a nossa secular incultura e a nossa não menos secular hipocrisia colectiva.
Paulo Portas não é burro, e percebeu a mensagem. O tempo para um discurso de direita renovado chegou. E ele quer vertê-lo numa nova carta programática, adaptada e sobretudo adaptável aos novos tempos, se não em nome do seu imediato acesso ao lugar da alternância democrática, pelo menos, em nome de um acto de originalidade e de coragem que o colocará bem melhor do que agora está na galeria histórica dos formadores da democracia lentamente saída do fim do Salazarismo. O país continua cheio de tiques de autoritarismo, compadrio, corrupção endémica, proteccionismos corporativos, irresponsabilidade, provincianismo e obscuridade. Tudo isto pode constar de uma nova agenda reformista de direita, ou melhor dito, neo-conservadora. No que se refere ao modelo económico, o tempo de um novo proteccionismo (complexo, flexível e de geometria variável) vai chegar, nomeadamente pela mão da exangue economia estado-unidense, às agendas políticas das esquerdas e das direitas. Energia, água, segurança alimentar, infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, protecção ambiental e redes de conhecimento vão ser as novas prioridades da política, onde o ultra-liberalismo e a hiper-concentração capitalista sofrerão brevemente muitos e sérios reveses. Para quê esperar pelos factos, em vez de nos anteciparmos, ainda que seja, para já, na reformulação do discurso programático?
A vantagem de Paulo Portas sobre Sócrates é que este anda demasiado absorvido pela difícil governação (e não se vê quem no Partido Socialista ande activamente preocupado com a ideologia). A vantagem sobre o PSD decorre da óbvia menoridade intelectual do seu actual líder e da escumalha que o rodeia, nomeadamente nas câmaras municipais de Lisboa e do Porto. Curiosamente, o antigo director do saudoso Independente poderá até surpreender os preguiçosos à esquerda do PS: o PCP (que continua a ser uma gerontocracia maniqueísta) e o Bloco de Esquerda, cada vez mais um saco de gatos sem réstea de imaginação política.
Mas estará Paulo Portas disposto a fazer um acto de contricção relativamente aos atavismos ideológicos promovidos pelo alarve bispo de Leiria? Jura que não enviará mais fragatas de guerra contra raparigas irreverentes, artistas, que promovem o direito ao aborto responsável? Estará disposto a votar a favor do casamento entre homossexuais e a aceitar a homossexualidade publicamente, como deveria? E no plano da grande estratégia, seria capaz de discutir publicamente, sem complexos, a necessidade de pôr fim à nossa subalternidade canina face ao amigo americano, em nome de uma independência de juízos mais afirmativa, e em nome de uma vocação moderadora mais explícita e irrenunciável? Estará disposto a falar menos em terrorismo e mais em direito internacional, em justiça distributiva global e na paz?
Se Paulo Portas for capaz de iniciar uma renovação efectiva do modelo de discussão política actualmente em curso, renunciando simultaneamente à judicialização e à dramatização televisiva do debate público, então estará a caminhar numa direcção favorável simultaneamente aos interesses de um futuro partido conservador arejado e inteligente, mas também do segundo mandato de José Sócrates, para tristeza de José Manuel Durão Barroso.
Escrevi neste mesmo blog que Santana Lopes e Paulo Portas tenderiam para a formação de um novo partido de direita com vocação governativa. A primeira tentativa falhou, por culpa do boémio do PSD. Desta vez, fica claro que é Portas que terá que conduzir o processo do princípio ao fim. O tempo dirá se tive razão ou não.
Portugal está muito perto do grau zero da política. Acossado por uma patente inviablidade estratégica fora do colo europeu, este pequeno país pós-colonial, ou sai do seu ancestral estado de estupidez filosófica e hipocrisia moral, ou caminhará irremediavelmente para a insolvência económica, o banditismo e a submissão plena à lógica de balcanização que de um momento para o outro poderá regressar à península ibérica e ao resto da Europa. A nova guerra fria em curso e o regresso do espectro de uma guerra nuclear no território euroasiático tem vindo a desafiar a consistência estratégica da União Europeia. As provocações e os preliminares da nova confrontação global começaram na sequência da queda do Muro de Berlim e da implosão da União Soviética. Não houve uma voz europeia que impedisse o regresso da Jugoslávia à balcanização; não houve acerto europeu em nenhuma das duas guerras desencadeadas pelos Estados Unidos contra o Iraque; a Europa na NATO pós-atlântica não passa de uma sonâmbula; não se sabe o que andam alguns dos seus estados-membros a defender no Afeganistão; teme-se pela sua posição no caso de a dupla Bush-Cheney decidir desencadear um ataque nuclear contra o Irão, nomeadamente através do cliente sionista. Como se tudo isto fosse pouca coisa, a par do recomeço não-declarado da corrida armamentista nuclear, começa a ganhar terreno a opinião de que só a energia nuclear poderá fazer frente à escassez energética derivada do rápido esgotamento das energias fósseis que alimentaram o crescimento mundial e o modelo de civilização técnica em que vivemos há cerca de duzentos anos: o carvão, o petróleo e o gás natural.
Estará Paulo Portas disposto a encetar verdadeiramente uma renovação estratégica da agenda política portuguesa, deixando de lado o que é secundário e atendo-se ao essencial? Por exemplo, uma agenda estratégica para Portugal capaz de nos preparar para a crise energética, para a deterioração ambiental, e para uma reformulação radicalmente criativa do nosso modelo de vida e de felicidade? Uma grande crise, e é disso que se trata, é também uma grande oportunidade. Se ele souber aproveitá-la, naturalmente à sua maneira (que não é obviamente a minha), todos ganharemos. Do cretinismo galopante, nada se aproveita.
OAM #177 03 MAR 07
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