Quanto maior for o Bloco de Esquerda, menor será o Bloco Central!Depois de ouvir esta noite Francisco Louçã responder ao interrogatório de Judite de Sousa, fiquei com a impressão de que o
discurso bloquista começa a ganhar uma modulação mais fina.
Os partidos do chamado "arco da governação" estão corrompidos até à medula, perderam a vergonha toda, mas —eis a novidade— já começaram e vão continuar a perder votos em catadupa. Daí que votar no Bloco de Esquerda, independentemente de acreditarmos a pés juntos no que dizem, ou no que dizem que vão fazer, seja o que eu chamo um
voto inteligente.
Querem reverter e castigar a ladroeira que é a expansão do terminal de Alcântara? Querem impedir o Bloco Central de enterrar o país no Novo Aeroporto da Ota em Alcochete? Querem estancar as barragens assassinas da hiper-endividada EDP (do cabotino Mexia rosa-laranja)? Querem manter o aeroporto da Portela onde está? Querem mais regulação financeira, e um cerco mais apertado aos paraísos fiscais? Querem maior equilíbrio na distribuição da riqueza? Querem mais transparência e decência no exercício do poder? Querem ver o Ministério Público com as mãos livres para meter na prisão alguns dos mais notórios vigaristas do país? Pois então, votem em Francisco Louçã e no Bloco!
Só na resposta à eterna questão da NATO, Francisco Louçã coxeou. De facto, não há praticamente países europeus fora da
NATO. As ausências da Suécia, da Suíça, da Sérvia e da Áustria no actual formato alargado da aliança, não chegam para manter uma posição rígida, sem dialéctica, nada diplomática sobre a principal aliança militar ocidental. Pode-se estar dentro da NATO sem cair imediatamente no belicismo.
No caso português, a simples ideia de uma saída precipitada da NATO é um delírio ideológico inconsequente. Daí que um pouco mais de subtileza e pragmatismo não fizesse nenhum mal aos excelentes horizontes eleitorais do Bloco de Esquerda.
Post scriptum: por falta de espaço na caixa de comentários, aqui fica a minha resposta à recomendação que me foi feita para ler o camarada Tomé.
O coronel Tomé, que segundo creio não renunciou ainda ao amadorismo
maoísta que o levou durante o PREC até aos braços da UDP, e depois do Bloco, é o que em linguagem militar se chama um básico. Ou seja, pensa com as orelhas. No caso em apreço neste
post —a saída ou não de Portugal da NATO—, sempre gostaria de saber que opinião tem o aposentado coronel sobre a magnífica Revolução Cultural Chinesa e o ido Camarada Mao Zedong. Antes de esclarecer estas dúvidas prévias, tenho muita dificuldade em levá-lo a sério.
Respondo pois ao José M. Sousa, e não ao condecorado com a Cruz de Guerra,
coronel Mário Tomé, ex-dirigente da UDP e putativo autor da política de defesa do Bloco de Esquerda.
Aquilo que Mário Tomé defende no seu mais recente manifesto pode resumir-se nas suas próprias palavras:
Defesa Nacional, a mudança de paradigma, por Mário Tomé, coronel.
25-Fev-2009
(...)
3. Portugal, deve sair da NATO, bater-se pela extinção da NATO e, como membro de pleno direito da União Europeia, deve recusar a constituição de uma força armada europeia e propor o fim das bases militares estrangeiras na Europa, começando pelo fim da cedência da Base das Lajes aos EUA.
4. Em conformidade, a Defesa Nacional terá como eixo prioritário o desenvolvimento das atribuições e capacidades da actual Protecção Civil que poderá designar-se Defesa Civil.
... As FA's portuguesas devem ser reestruturadas, redimensionadas e reequipadas de acordo com estes pressupostos gerais por forma a - a) assegurarem aos seus membros as condições de dignidade cívica e militar no respeito pelos direitos adquiridos,... — in Projecto de Programa Eleitoral do Bloco de Esquerda, Debate Público.
Ou seja, aquilo que a eminência militar do Bloco propõe ao país são basicamente três coisas:
1) o fim das Forças Armadas Portuguesas e a transformação das que existem numa força de Defesa Civil — i.e., uma espécie de dissolução das actuais Forças Armadas na GNR e nas várias polícias existentes. Ou seja, em vez de termos uma força militar de defesa estratégica do país, passaríamos a ter um corpo militarizado, pronto para apagar incêndios em tempo de paz, e, não vá o diabo tecê-las, suficientemente numeroso e armado para quaisquer necessidades maiores de reposição da ordem interna!
2) Retirada de Portugal da NATO, oposição à constituição de qualquer Força Militar Europeia e assumpção de uma postura de hostilidade ideológica militante face aos Estados Unidos.
3) Dar grande prioridade aos direitos económicos e sociais adquiridos depois do 25 de Abri; ou seja, todo um programa sindicalista, no lugar onde esperávamos ver uma política de defesa!
O edifício é no mínimo delirante.
A quem competirá no futuro defender o país de uma qualquer ameaça às suas fronteiras terrestres, e sobretudo marítimas? Com uma Zona Económica Exclusiva maior do que a superfície de Angola, qualquer coisa como 1,25% de toda área oceânica sob jurisdição de países (ver
Wikipédia), como iremos defender tamanho território? Com a GNR?! Com a Protecção Civil?! Com a pequenez das nossas Forças Armadas, incluindo a pobre Marinha Portuguesa?
É pois óbvio que, a menos que desistamos do país, ou queiramos entregá-lo de mão beijada ao primeiro pirata que der à costa, estamos condenados a procurar alianças militares defensivas, no quadro das quais haja lugar para a efectiva manutenção dos limites territoriais de Portugal. Eu não conheço, de momento, nenhuma alternativa ao quadro de alianças existente entre os Estados Unidos e a Europa desde o fim da última guerra mundial — para semelhante fim.
Os Estados Unidos, a Inglaterra, a Espanha e Portugal têm-se portado muito mal ultimamente? Longe de mim negá-lo. Mas para corrigir os tiros mal dados e as ilegalidades, do que precisamos é de crítica e diplomacia paciente, sem perda de objectivos. Do que não precisamos é de deitar fora o bebé com a água da banho.
O pacifismo por ingenuidade é infelizmente tão fatal como o célebre "derrotismo revolucionário" inventado por Lenine quando precisou de aliviar a pressão alemã durante a Primeira Guerra Mundial, a fim de levar por diante a Revolução Bolchevique.
O pacifismo militante não é nada do que o básico Tomé, ou o Francisco Louçã, ou o Luís Fazenda imaginam no mar de ignorância profunda e dogmatismo serôdio por onde continuam a navegar. Este calcanhar de Aquiles ainda lhes poderá custar a progressão eleitoral.
OAM 608 23-07-2009 22:38