sábado, maio 14, 2011

O dilema de votar

Pintelho (Puffinus obscurus)

O voto no PS é um voto inútil
Só uma vitória do centro-direita poderá salvar a Esquerda!

Na guerra das sondagens, quem paga mais consegue, por vezes, travar as más notícias, e sobretudo inundar os média com muito ruído. A sondagem da Marktest dava há dois dias atrás uma vantagem clara ao PSD (39,7%) sobre o PS (33,4%), apesar das quedas fortíssimas, que ainda podem ser invertidas, do PCP e do Bloco. Ontem, a Intercampus respondeu com uma sondagem, no mínimo hilariante, onde o PS supera o seu próprio resultado de 2009 (passando de 36,56 para 36,8%), batendo o PSD (33,9%), uma vez mais com o PCP e o Bloco em colapso eleitoral. Mas a verdade é que quase 50% dos eleitores ainda não decidiram! Como diz a Manuela Moura Guedes só um PIG (Povo Idiota e Grunho) é que votaria em quem lhe acaba de assaltar a casa. Mas o mais grave é que os grunhos, uma vez de bolsos vazios, o que ocorrerá ao longo dos próximos dois anos, mudarão de ideias num ápice — e não será para alimentar, uma vez mais ainda, a demagogia populista da Esquerda! Não sei, pois, o que é que a dita Esquerda, perdida entre o irrealismo panfletário do PCP e do Bloco, e o comportamento proto-fascista do cadáver adiado do PS, tem a ganhar com o actual curso dos acontecimentos. Agarrados aos pequenos e grandes poderes, agarrados às pequenas e grandes mordomias, agarrados à falsa profissão que têm, os partidocratas levaram Portugal à falência, por acção ou por omissão hipócrita e oportunista. Talvez seja altura de arrepiarem caminho e pensarem a sério sobre o seu próprio futuro, já que não pensam no país, nem no povo que os sustenta.
Greece [Ireland and Portugal] Defaulting on Debts Anticipated by 85% in Global Poll of Investors

Eighty-five percent of those surveyed this week said Greece probably will default, with majorities predicting the same fate for Portugal and Ireland, which followed Greece in seeking European Union-led bailouts, a new Bloomberg Global Poll shows. The outlook for all three countries deteriorated since January.

“All these countries will go bust at some stage,” said Wilhelm Schroeder, a poll participant who helps manage the equivalent of about $172 million for Schroeder Equities GmbH in Munich. “I just can’t see a scenario in which these countries get out of their debt problems”— Bloomberg.
Os americanos e os ingleses são suspeitos, pois são quem mais aposta no insucesso do euro. Provavelmente cairão primeiro do que a Eurolândia. Mas isso não altera um facto óbvio: a União Europeia está confrontada com problemas gravíssimos que poderão, no limite, conduzir a um congelamento, ou mesmo à implosão nacionalista do projecto. O regresso das fronteiras demográficas, a incapacidade de transformar a tragédia do norte de África numa oportunidade para ambas as margens do Mediterrâneo, e a incapacidade de lançar uma estratégia económico-financeira que amorteça o colapso financeiro em curso, por efeito da explosão da bomba relógio do endividamento —soberano, das empresas, dos especuladores perdedores, e dos consumidores—, são ameaças globais à estabilidade e ao sonho europeu.

O apoio da China ao euro pode não ser suficiente. E se não for, ou os grandes blocos geoestratégicos se sentam a uma mesa e equilibram a geometria da globalização, como outrora portugueses e espanhóis fizeram em Tordesilhas, ou os tambores de uma nova guerra mundial começarão em breve a rufar.

A queda praticamente inevitável da moeda americana e o colapso do Japão, hoje com uma dívida pública —a mais elevada do mundo— que supera (antes da tragédia que recentemente assolou o país) os 225% do PIB, conjugados com a procura crescente de recursos energéticos, industriais e alimentares por parte dos países emergentes (China, Índia, Brasil, Rússia) e da África, são já os cenários das guerras assimétricas em curso, mas também da nova grande guerra por vir. É para isto que a Europa, e cada um dos estados membros da União tem que se preparar a sério. Entre nós, portugueses, não podemos continuar a discutir os problemas como se estivéssemos na Cova da Iria, e o drama maior que se desenrola aceleradamente diante de todos, fosse uma fantasia longínqua de que estaríamos, pelo amor que a Virgem nos dedica, protegidos. Só não vê quem não quer ver — por medo, ou oportunismo.

Onde está a tradução do Memorando de Entendimento da Troika? 

Como dizia e bem Eduardo Catroga, a precária comunicação social que temos só se interessa por pintelhos, isto é, por minudências que ninguém conhece — como, por exemplo, a pequena ave marítima chamada Pintelho (Puffinus obscurus), que não é o pentelho a que tantos púdicos reagiram ofendidos. O pentelho, palavra específica e correcta para pelo púbico, é também uma designação comum no Brasil para as melgas, chatos e sarnas, i.e. aquele tipo de criaturas humanas que não desgrudam e fazem perder a paciência a qualquer santo, como se o futuro do país fosse apenas mais um concurso para descerebrados, ou mais um reality show. “O Pentelho” é, por exemplo, o título brasileiro do filme protagonizado por Jim Carrey, The Cable Guy. Pentelhos são, no caso que aqui interessa, as agendas vigiadas e manipuladas da comunicação social. Em inglês chamam-se scramblers a estas ferramentas de perturbação da comunicação correcta dos sinais. Por cá deveríamos passar a chamar-lhes pentelhos!

Sobre o que interessa a todos, o silêncio é de ouro.

O governo assinou um memorando crucial para o país — mas não o traduziu, nem divulgou junto de quem lhe sustenta as mordomias, a pirataria e os vícios. Os partidos, a quem pagamos para pouco fazerem, também não se deram ao trabalho de traduzir o memorando, e por isso falam de pintelhos (minudências que ninguém conhece) e de pentelhos (ruído para entreter), em vez de explicar aos portugueses o que os nossos credores impõem, e bem, à corja que tem o país nas mãos e o conduziu à bancarrota, com reflexos inevitavelmente dolorosos para todos nós. Mas também a precária comunicação social que temos (que ou depende do partido que está no governo, ou de quem os financia e compra espaço publicitário) se esqueceu de traduzir o que a Troika desenhou para os próximos três (ou trinta!) anos da nossa vida colectiva, encontrando aí uma boa desculpa para esconder o tema dos olhares indiscretos das audiências. A tradução, no entanto, existe! Mas devêmo-la a mais um acto de cidadania da Blogosfera, desta vez por iniciativa do blogue Aventar. O Memorando da Troika, em português, encontra-se aqui, e é de leitura e discussão obrigatórias.

PCP e Bloco podem recuperar e enterrar o PS — para bem da Esquerda, incluindo o PS!

O PCP e o Bloco de Esquerda podem acolher centenas de milhar de votos de eleitores descontentes com a ladroagem e manipulação proto-fascista do PS de Sócrates. Basta moderarem a linguagem, falarem claro e colocarem-se, como é sua obrigação, ao serviço do país e da justiça social.

Depois de o PSD e o CDS terem esclarecido que não formarão governo com o PS, nomeadamente por este ter sido capturado por uma teia de piratas, associações secretas, máfias e famílias ricas ignorantes —improdutivas, incapazes de competir a céu aberto e rentistas (1)—, a agremiação cientologista do Pinóquio das Beiras ficou literalmente sem base de sustentação pós-eleitoral. Ou seja, quer perca, quer ganhe (uma ficção alimentada pelas sondagens da treta), não tem com quem dançar o tango. Logo, voltaria a cair, antes de aprovar o orçamento de 2012. Novas eleições se seguiriam, ou em alternativa, Cavaco chamaria alguém do PS, do PSD ou do CDS para liderar a formação de um governo de convergência nacional. Se este improvável cenário viesse a ocorrer, Eduardo Catroga seria porventura the man for the job!

Ou seja, o voto no PS é um voto completamente inútil. Pelo contrário, votar no PCP, ou no Bloco de Esquerda, para quem for incapaz de votar na Direita, abre a porta a três desenhos partidários futuros da maior importância:
  • a expulsão dos corpos estranhos que envenenam o PS, permitindo assim a refundação deste partido; 
  • uma reforma generativa efectiva no interior do PCP, com possível mudança de sigla e adopção de um programa político e social adequado aos tempos que aí vêm, claramente aberto aos cenários da governação que não se limitem apenas às autarquias; se pode governar cidades, vilas, aldeias e bairros, porque carga de água não pode governar o país?
  • e, finalmente, a desinfecção do Bloco, eliminado os ácaros leninistas, estalinistas e trotskistas que ainda impedem esta associação intelectual pequeno-burguesa de contribuir de forma útil e pragmática para a alternância democrática no nosso país.

A Direita será com toda a probabilidade governo depois do dia 5 de junho. Vou votar em Passos Coelho para que isso aconteça, deixando de votar à esquerda pela primeira vez na minha vida. E a motivação é puramente pragmática: só derrotando o possuído PS actual, e portanto só abrindo caminho a um governo do PSD, ou do PSD-CDS, daremos tempo à Esquerda para renascer...

Compreendo os eleitores de esquerda incapazes de votar à direita. Trata-se de um atavismo como outro qualquer. Eu, por exemplo, algures na minha tenra infância tornei-me benfiquista, por motivos que desconheço inteiramente. Se me perguntarem se sou capaz de mudar de clube, direi que não. E no entanto nunca entrei num estádio de futebol! Nem nunca vi um jogo de futebol profissional ao vivo!! Então, perguntar-se-à, por que serei eu benfiquista, se ainda por cima o Benfica é há décadas um perdedor sem remédio? Por atavismo. No entanto, talvez porque os partidos chegaram à minha vida quando era já adulto e consciente, o medo atávico da traição à marca não existe. Voto em consciência, e não como um autómato emocional. Faço apostas e cálculos. Procuro, em suma, na pequena escala do meu voto pessoal, influir nos resultados. No caso vertente, o meu diagnóstico é claro: a Esquerda aburguesou-se e corrompeu-se em trinta e tal anos de delegação inusitada de poderes. Faz parte do problema, e precipitou-o na última década e meia, levando o país à bancarrota. É tempo de expiar os erros, e preparar, com honestidade e inteligência, o futuro!

POST SCRIPTUM



— É preciso deixar bem claro que a Esquerda, partidária, sindical e cultural, viveu em perfeita simbiose oportunista com Os Donos de Portugal —sobre quem recentemente Francisco Louçã, Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório e Fernando Rosas publicaram um livro. Essa mão mal cheia de endogamia familar (os Mellos, os Espírito Santo, os Champallimaud, os Roquete, os Ulrich, os Ricciardi, e os d'Orey — ver aqui a árvore genealógica publicada no livro citado) está associada quase toda ao principal espinho do nosso sobre endividamento: as 120 parcerias público-privadas (ver mapa 1; ver mapa 2). Mas de quem é, em última instância, a culpa, se não da democracia populista que temos? O FMI entendeu num ápice onde estava o tumor da nossa democracia, e o que é preciso para extirpar o bicho. Mas como reagem Sócrates, os sindicatos, o PCP, e o Bloco? Com o FMI, nunca! É por estas e por outras que precisamos de uma cura de direita! É que há muita gente a querer trabalhar, criar empresas e ganhar dinheiro honestamente! O biocapitalismo incestuoso que tivemos até esta bancarrota acabou!

quinta-feira, maio 12, 2011

China: pena capital para políticos corruptos

Se a moda pega...

Xu Zongheng, antigo presidente da câmara de Shenzhen, condenado à morte por corrupção.

Former Shenzhen Mayor Sentenced to Death

Xu Zongheng (许宗衡), the former deputy party secretary and mayor of Shenzhen, was sentenced to death, with a two-year reprieve by Zhengzhou Municipal Intermediate People's Court on May 9 on charges of accepting bribes.

The former mayor was also stripped of his political rights for life and had all his personal property confiscated — Economic Observer.

Former Head of Galaxy Securities Sentenced to Death for Accepting Bribes

Xiao Shiqing (肖时庆), the former Chairman of Galaxy Securities, one of China's largest and oldest securities firms, was handed a death sentence with a two-year reprieve after the Henan Province Higher People's Court found him guilty of accepting approximately 15.46 million yuan in bribes and making about 100 million yuan from insider trading — Economic Observer.

Nunca iríamos tão longe. Mas nem sequer investigar quem desfalcou o país, também é inaceitável. Para além dos efeitos da crise, houve claramente um assalto premeditado e organizado ao país, de que o roubo do BPN é um dos episódios mais graves, seguido do polvo mafioso das PPP (SCUTs, fornecimento e tratamento de águas e resíduos, barragens e hospitais), tão ao mais pesado de consequências para a pobreza que vai recair sobre mais de 90% da população portuguesa.

Anda por aí uma petição a favor da investigação dos putativos criminosos que assaltaram o país. O memorando da Troika exige a independência e celeridade dos tribunais e dos órgãos reguladores e fiscalizadores assim que o próximo governo entre em funções. Quando 1500 a 3000 trabalhadores da TAP ficarem na rua, após declarada a falência da empresa que, tanto quanto julgo saber, já deixou de pagar a Segurança Social dos seus empregados, a dita petição poderá chegar rapidamente aos 100 mil subscritores!

A China tem hoje um regime e dois sistemas. Compete no mercado mundial usando esta duplicidade: por um lado, é liberal e pela iniciativa privada e contra as barreiras alfandegárias à circulação de mercadorias e capitais (da China para fora, mas não de fora para dentro da China!), e por outro, os seus principais bancos, seguradoras e empresas são estatais, e continua a não haver liberdades burguesas de expressão e criação, ao mesmo tempo que a corrupção endémica do regime é episodicamente castigada com condenações à morte exemplares — usualmente por injecção letal, seguindo a receita americana, embora fazendo uso dum meio expedito de aplicação da pena, as chamadas carrinhas da morte (Death Vans). São executados, em média, 10 mil chineses por ano, entre eles vários empresários e políticos corruptos.

Sou contra a pena de morte, como boa parte dos portugueses, mas não defendo nem a condescendência, nem a impunidade que parece imperar actualmente entre nós.

segunda-feira, maio 09, 2011

Colar de Pérolas

Bin Laden, o Paquistão e o porto de Gwadar
O que é que isto tem que ver com o "TGV"?

Porto de águas profundas de Gwadar, Paquistão e Mar Arábico.

 O assassínio de Bin Laden, se é que o homem ainda era vivo e estava onde dizem que estava, pode ter servido mais de um propósito. O primeiro, melhorar a depauperada popularidade de Barack Obama; o outro, revelar ao mundo que o Paquistão manteve sob sua custódia o terrorista mais procurado do planeta, e que portanto traiu o amigo americano.

No entanto, este pode ter sido apenas mais um dos sucessivos incidentes que acabará por conduzir a humanidade a uma nova guerra mundial, ou, se tivermos juízo, a uma nova divisão do mundo, em duas metades, como outrora Portugal e Castela fizeram, assinando o Tratado de Tordesilhas. Se a Europa e os Estados Unidos não concordarem com a China uma revisão das regras da globalização, a luta desesperada dos grandes países, blocos de países e alianças, pelo acesso às fontes de energia, matérias primas e alimentos, tornar-se-à explosiva, ao ponto de poder provocar uma guerra mundial de proporções dantescas. Há, como se sabe, nos Estados Unidos e em Israel, um visão estratégica que aposta na antecipação de uma guerra com a China, antes que esta se torne imbatível. Mas há também quem defenda que um cenário de guerra global provocará uma aliança imediata entre a China e a Rússia (com o Paquistão a caminho?), tornando-a, assim, um MAD (Mutual Assured Destruction).

String of Pearls: Meeting the Challenge of China's Rising Power Across the Asian Littoral. By Lieutenant Colonel Christopher J Pehrson. SSI

China's rising maritime power is encountering American maritime power along the sea lines of communication (SLOCs) that connect China to vital energy resources in the Middle East and Africa. The "String of Pearls" describes the manifestation of China's rising geopolitical influence through efforts to increase access to ports and airfields, develop special diplomatic relationships, and modernize military forces that extend from the South China Sea through the Strait of Malacca, across the Indian Ocean, and on to the Arabian Gulf. A question posed by the "String of Pearls" is the uncertainty of whether China’s growing influence is in accordance with Beijing’s stated policy of "peaceful development," or if China one day will make a bid for regional primacy. This is a complex strategic situation that could determine the future direction of the China’s relationship with the United States, as well as China’s relationship with neighbors throughout the region.

A China, de facto, não para de lançar as suas redes em todos os mares disponíveis, à medida que o seu crescimento empobrece objectivamente as antigas potências coloniais e imperiais do Ocidente — com dificuldades crescentes de subsidiar as suas armadas e os seus aliados subordinados. O novo porto de águas profundas de Gwadar, paquistanês, mas construído pela China e administrado pela Autoridade Portuária de Singapura, aproximando as fontes petrolíferas da Arábia, da África, e do Irão, por via terrestre (pipeline), da China, através de território paquistanês (ver este vídeo: The Karakoram Highway), é um movimento estratégico de peso por parte de Pequim, que certamente deixou os americanos do Pentágono muito irritados.

Porto de Gwadar (Google maps)

China has acknowledged that Gwadar’s strategic value is no less than that of the Karakoram Highway, which helped cement the China-Pakistan relationship. Beijing is also interested in turning it into an energy-transport hub by building an oil pipeline from Gwadar into China's Xinjiang region. The planned pipeline will carry crude oil sourced from Arab and African states. Such transport by pipeline will cut freight costs and also help insulate the Chinese imports from interdiction by hostile naval forces in case of any major war.

Commercially, it is hoped that the Gwadar Port would generate billions of dollars in revenues and create at least two million jobs. In 2007, the government of Pakistan handed over port operations to PSA Singapore for 25 years, and gave it the status of a Tax Free Port for the following 40 years. The main investors in the project are the Pakistani Government and the People's Republic of China, making China's plan to be engaged in many places along oil and gas roads evident — in Wikipedia.

Recomendo vivamente aos que entre nós ainda têm dúvidas sobre a importância das ZEE e dos portos de águas profundas, nomeadamente no Atlântico, norte e sul, que estudem o desenho das linhas de comunicação que a China está neste preciso momento a construir —de que o porto de Gwadar é porventura a mais recente ousadia— e retirem as suas conclusões. Algeciras e o triângulo Sines-Setúbal-Lisboa são plataformas portuárias multimodais absolutamente estratégicas para os tempos difíceis e violentos que aí vêm. Vitais para a Europa, e fundamentais para Portugal.

É tempo de os assuntos logísticos do país deixarem de ser matéria de verborreia inconsequente por parte dos nossos imprestáveis políticos. A imprestabilidade destes conduziu-nos à bancarrota e à humilhação de preferirmos ser governados por uma Troika estrangeira do que pelas nódoas partidárias que temos. Não queiramos que sejam os outros a determinar em breve o que teremos que fazer com os nossos portos de águas profundas e com as nossas ligações ferroviárias a Espanha e ao resto da Europa!


POST SCRIPTUM: este texto foi suscitado pela leitura de um artigo de Elaine Meinel Supkis.

domingo, maio 08, 2011

Passos de Lebre

O líder do PSD, nesta verdadeira corrida de obstáculos, é mais matreiro do que parece! Paulo Portas: sempre aceita um passo de dança com Sócrates, ou não?

©António Carvalho. “Empalagado” — exclusivo para O António Maria e CHICOTE

Alguns burros pobres e esfomeados continuam a arrastar as patas obedientes por uma cenoura virtual. É o caso de uma parte notória dos nossos comentadores televisivos, que mais parecem autómatos biológicos atacados pela Síndrome de Estocolmo. Espero que o seu contágio seja superficial junto de quem for votar no próximo dia 5 de junho, e que o programa de mudança hoje apresentado por Pedro Passos Coelho tenha o número suficiente de votos para ser testado, em consonância inevitável com o Memorando de Entendimento da Troika.

À partida, por ter sabido esperar, o PSD está neste momento bem adiantado face aos partidos que resolveram antecipar os seus programas de trazer por casa ao trabalho aturado, certeiro, radical e calendarizado da delegação de representantes da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI.

Agora, das duas uma: ou fazem como os obsoletos do PCP e do Bloco que decidiram rejeitar qualquer contacto com os nossos credores (como se as suas ajudas de custo partidárias tivessem sido pagas com o suor dos rostos das respectivas turmas parlamentares), e neste caso o que escreveram ou deixaram de escrever é totalmente irrelevante — quando poderia não ser; ou então, nos casos do PS e do PP, lá terão que ajustar, contorcer, negar e reformular boa parte da lenga-lenga vertida nas suas pueris cartilhas eleitorais, com sempre, de mera circunstância. Quem passou agora a estar na defensiva? Todos menos o PSD!

Ainda não li todo o programa eleitoral apresentado hoje por Passos Coelho para um Novo Portugal 2020, mas ouvi-o e sublinho aqui as “mensagens finais” do documento (PDF da versão integral). O PSD quer, em declarada e construída sintonia com o Memorando de Entendimento da Troika, o seguinte:
  1. Um Portugal Solvente e Prestigiado a tender para o equilíbrio, com elevado prestígio na União Europeia e no Mundo e elevada credibilidade nos mercados financeiros.
  2. Um Portugal com um Sistema Político Próximo dos Cidadãos, merecedor de elevados níveis de confiança por parte dos portugueses.
  3. Um Portugal com uma Sociedade Confiante, com elevada mobilidade, dinâmica e solidária, com instituições fortes e independentes, respeitados pelos portugueses, com um elevado grau de confiança interpessoal e contratual.
  4. Um Portugal com uma Justiça Célere e Para Todos, garante de transparência e segurança nas relações interpessoais e contratuais.
  5. Um Portugal com uma Economia Competitiva globalmente inovadora, exportadora, com elevada atractividade global ao nível da agricultura, da floresta, da economia do mar, da indústria transformadora, do turismo, dos serviços e de segmentos económicos da nova economia e geradora de valor e de empregos nas novas actividades económicas em crescimento.
  6. Um Portugal Melhor Administrado, com um Estado facilitador do crescimento e do desenvolvimento sustentável, com uma administração pública eficiente, inovadora e orientada para os cidadãos e para as empresas, com pessoas motivadas e baseados em modelos de organização flexíveis, com actualização intensa das novas tecnologias da informação e garante da coesão social.
  7. Um Portugal com Território Inteligente, seguro, sustentável e atraente, conectado por comunicações de banda larga e serviços móveis, espaços urbanos de qualidade com novos modelos de relação casa-trabalho, suportado por redes de energia eficientes e sustentáveis e de transportes inteligentes.
  8. Um Portugal de Empreendedores, centrados em inovações para a economia global e suportados por um dinâmico ecossistema financeiro, científico, empresarial e institucional.
  9. Um Portugal mais Qualificado e confiante, com competências ajustadas aos requisitos da empregabilidade da economia global e tecnológica do século XXI.
  10. Um Portugal mais Justo, Coeso e com Protecção Social sustentável, com serviços sociais personalizados, eficientes, factores da inclusão social, à medida das capacidades do País, em condições de sustentabilidade, com menores assimetrias sociais, com escolas devidamente inseridas nas comunidades locais, e sistemas de saúde, de educação e de segurança social adaptados às necessidades das pessoas e com reforço progressivo da sua liberdade de escolha.
Tal como o Memorando da Troika (PDF), este é um documento a ler na íntegra (PDF).

Em primeiro lugar, para ver o grau de compaginação razoável entre os dois programas, sabendo-se desde já que o primeiro é bem mais detalhado e tem prazos, ao contrário do programa eleitoral do PSD —que ainda padece de alguns tabus tipicamente partidocratas. Por exemplo, não refere sequer a necessidade óbvia de diminuir o número autarquias, a começar por Lisboa e Porto, que deverão ser rapidamente transformadas em cidades-região, com órgãos representativos e executivos semelhantes às regiões autónomas, i.e. com governos próprios, diferentes das demais câmaras municipais e sem, pelo menos, metade das freguesias actualmente existentes.

Em segundo lugar, para que esta eleição estabeleça pela primeira vez uma relação exigente, informada, crítica e construtiva, entre os cidadãos e o futuro governo — o qual, com grande probabilidade, agora que conheço o programa, e depois da prestação de hoje de Passos Coelho, será laranja.

Pela minha parte, que sempre votei no PS, e às vezes até mais à esquerda, o PSD já tem um voto garantido!


POST SCRIPTUM: Passos Coelho tem um calcanhar de Aquiles. Chama-se Miguel Relvas — uma insuportável e conflituosa criatura, que há-de dar muitos problemas ao provável próximo primeiro-ministro.

O fim do Bloco

A quadratura impossível entre Estaline, Mao e Trotsky
Louçã sofreu uma lesão cognitiva na adolescência que lhe impede qualquer pragmatismo ou pensamento criativo. Já era assim 1975...

O PS não vai voltar a governar à esquerda, acusa Gil Garcia

Com críticas duras à direcção de Francisco Louçã, o rosto principal da oposição interna à actual liderança disse que um PS sem Sócrates é uma “fantasia” e justificou que é uma “proposta bizarra” uma coligação à esquerda com o PS sem o actual secretário-geral Sócrates. Porque o PS não vai renegociar a dívida externa, acusou.

O líder da Ruptura/FER, que defendeu ao longo da VII Convenção do BE, uma coligação com os comunistas, foi mais longe, ao afirmar que o maior “empecilho” para a unidade da esquerda é, depois da reunião de Francisco Louçã com Jerónimo de Sousa, defender que “cada um deve ir na sua bicicleta.” E acrescentou que, ”enquanto cada um de nós anda na sua bicicleta", o PS continua a ganhar as eleições.”

No final do discurso, Garcia afirmou que Louçã só voltará a contar com os signatários da Moção C quando “discursar à esquerda contra os Governos do regime”, sem alianças com o PS. À moção C coube hoje a eleição de 11 membros para a Mesa Nacional do partido, num total de 80. — in Público.

Francisco Louçã é, desde os tempos em que estudava no liceu Padre António Vieira, um militante marxista a quem as leituras da IV Internacional, e em particular de Ernest Mandel, avariaram definitivamente algum do código genético responsável pelo pensamento racional autónomo. Desde então, como um relógio inteiramente previsível, o seu mundo intelectual resume-se a uma cópia defeituosa do pensamento tardio e pessimista de Léon Trotsky face ao ascenso do estalinismo e do fascismo no mundo, nas vésperas, aliás, do seu assassínio por um agente de Estaline.

Para Louçã, a missão dos marxistas revolucionários (leia-se trotskystas), já não é tomar quanto antes o poder, formar conselhos operários e decretar a ditadura do proletariado, porque faltam evidentemente as condições objectivas e subjectivas para que tal possa ocorrer nos países do que Mandel chamava o “capitalismo tardio”. Há que esperar!

A esta espera do regresso das condições objectivas e subjectivas maduras e necessárias para uma nova situação pré-revolucionária que abra de novo caminho à revolução socialista, chama-se “entrismo”.

O “entrismo” é basicamente isto: sobreviver ao ciclo ainda longo do “capitalismo tardio”, através de uma simbiose oportunista com os partidos socialistas pequeno-burgueses por essa Europa fora, tanto penetrando no interior dos respectivos aparelhos, criando neles células clandestinas, como formando partidos socialistas revolucionários autónomos e dispostos ao jogo eleitoral burguês. Em ambos os casos, os trotskistas mandelianos, de que Francisco Louçã é há décadas uma eminência parda, limitam a sua missão na Terra a duas regras intransponíveis: a regra canónica, ou seja, preservar o dogma trotskista, e evangélica, a qual passa por educar os socialistas, e os social-democratas desviados, na palavra marxista, leninista e trotskista original, preparando-os assim para o inexorável tempo da revolução socialista. Mais recentemente, o “entrismo” mandeliano, que é fundamentalmente uma forma de organização clandestina de inspiração tipicamente jacobina, tem alargado o leque dos seus hospedeiros potenciais a todo o tipo de movimentos sociais que “objectivamente” ameaçam o edifício do “capitalismo tardio”: dos católicos progressistas (oriundos em Portugal, por exemplo, do Graal), aos movimentos anti-racistas, gays e lésbicas, etc. A mais recente tentativa retórica de estender esta forma de oportunismo militante aos movimentos cívicos espontâneos, deu-se no apelo patético que Francisco Louçã lançou hoje à Geração à Rasca, para que juntos façam um segundo 25 de Abril!

Sem conhecermos esta matriz genética irremediável do pensamento clonado de Francisco Louçã, não se percebe a sua eterna e visceral arrogância para com Partido Comunista, bem como o seu amor pedagógico por Manuel Alegre, Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues e, no limite, se for mesmo preciso, pelo próprio Pinóquio Pinto de Sousa!

Foi assim em 1975, é assim agora e será sempre assim. Pois uma degenerescência cognitiva não se corrige sem um longo processo de desconstrução teórica associado a uma indispensável psicanálise.

Os partidos portugueses, especialmente o PCP e o Bloco, são evidências puras do atraso cultural da nossa democracia. São, na realidade, tal como as corporações, os sindicatos, e a burguesia financeira que tanto atacam, evidências de agrupamentos sociais privilegiados com uma indisfarçável  dependência rentista do Estado — i.e. dos impostos que pagamos. Quanto mais cedo nos vermos livres destas sobrevivência arcaicas da nossa cultura política, mais cedo daremos espaço e oportunidade às novas formas de acção política de que as sociedades actuais precisam, como do pão para a boca, para enfrentar os sérios problemas de sobrevivência global que temos pela frente.

From Portugal with love



And we could go on:
  • the president of the European Comission is a Portuguese guy;
  • Another Portuguese smart guy is presently the vice-president of European Central Bank;
  • the director of the European Department of the International Monetary Fund is a Portuguese fellow;
  • The UN High Comissioner for Africa also happens to be a Portuguese (an ex-prime minister);
  • and the CEO of the first private bank of England, Lloyds Banking Group, is also a native from Portugal.
We just have to solve a few internal problems. That's all. And it won't take too long. Meanwhile we ask the rest of the Europeans to have a little patience, and drop by for a free ride on our magnificent beaches ;)

sexta-feira, maio 06, 2011

Voto na Troika!

Uma revolução contra os privilégios

A conferência histórica que pode transformar a bancarrota portuguesa numa oportunidade


Acabei de ler o Memorando de Entendimento dos representantes dos nossos principais credores. Recomendo a todos a leitura imediata (aqui, o meu PDF sublinhado) deste verdadeiro programa contra os privilégios conservados ou restaurados pelo velho poder corporativo, burocrático e clientelar que, sob a protecção da partidocracia instalada ao longo de trinta e tal anos de democracia aparente, conduziu Portugal à bancarrota. Se for cumprido — e tem grandes hipóteses de ser, pois de contrário não haverá massa para os funcionários públicos (nem para os bancos!)— o amplo e preciso programa desenhado pela Troika formada pelo FMI, BCE e Comissão Europeia, será certamente a segunda grande revolução política democrática depois do 25 de Abril de 1974. Chamem-lhe uma invasão bem intencionada.

A maioria dos problemas sistémicos da nossa irracionalidade colectiva e subserviência aos poderes corporativos, clientelares, burocráticos, partidocratas, sindicais e mafiosos, foram detectados e são atacados com medidas certeiras, equilibradas, justas e cruzadas que, à medida que forem cumpridas, transformarão radicalmente a face deste país. Mais do que saber que partido vai ganhar as próximas eleições (e é bom que seja o PSD, por motivos óbvios que não devem nada ao seu putativo mérito), o mais importante de tudo é traduzir quanto antes este documento e distribui-lo gratuitamente pelo país inteiro, sobretudo entre as classes profissionais e em todas as universidades. E depois de o distribuir, iniciar uma longa e criativa discussão sobre os seus conteúdos, sector a sector, sem dar demasiado espaço ou tempo aos principais prejudicados com a sua implementação. Estes, depois de se recomporem deste fortíssimo soco nos seus privilégios, irão reagir fortemente contra a sua aplicação. Da "Esquerda" à "Direita" ouviremos em breve um clamor contra a Troika, certamente envolto em discussões parcelares e encapsuladas de retórica interesseira e desonesta. Talvez venha a ser inevitável criar um partido para defender este programa e atacar quem prefere enterrar o país a perder privilégios que nunca mereceu, nem merece.

Por nós, iremos estar atentos e desmontaremos sem hesitação todas as mentiras e demagogias da nomenclatura formada pelos privilegiados de "esquerda" e de "direita". Nenhum programa partidário, que em geral não passam de conversa hipócrita e fiada, foi tão longe, depois do programa do MFA, na defesa do desmantelamento do poder corporativo em Portugal. Ao contrário do que tem sido propalado, este poder difuso, disseminado, entranhado, biopolítico, não só não diminuiu depois da ditadura, como aumentou e cresceu em extensão e descaramento.

Muito mais do que um programa de austeridade o Memorando da Troika é um plano de salvação nacional assente em duas ideias primordiais:
  1. não podemos gastar mais do que ganhamos, ou não podemos consumir/importar mais do que produzimos/exportamos;
  2. e também não poderemos libertar a sociedade e a economia se permanecermos sujeitos a um regime corporativo, desigual, injusto, corrupto e autoritário, ainda que disfarçado de democracia parlamentar.
Reflexão final depois de a Troika ter afirmado que não precisa da assinatura de Cavaco Silva para activar o Plano de Resgate da Bancarrota Portuguesa de 2011: ao contrário do que cheguei a pensar, não precisamos de nenhum presidencialismo. Precisamos é de um presidente meramente simbólico, e com metade do orçamento!

POST SCRIPTUM (07-05-2011 16:18) — a tradução portuguesa do Memorando da Troika já está disponível online, graças ao serviço público prestado pela Aventar, um dos milhares de nós de cidadania da Blogosfera. Obrigado Aventar. LINK.