segunda-feira, agosto 11, 2014

BES: o golpe de coelho veio de Frankfurt

Graffiti retratando a chanceler alemã, Angela Merkel, e uma pichagem onde se lê "o dinheiro mata a moral' pulverizada sobre uma vedação do estaleiro de obras da nova sede do Banco Central Europeu (BCE) em Frankfurt (Reuters)

Pelos vistos, sem um empurrão a coisa não andava


Foi o BCE quem deu as duas machadas fatais no BES. O resto são tretas e prejuízos criados pelos donos sem vergonha de um regime falido chamado Portugal.

BCE obrigou BES a devolver 10 mil milhões em três dias
A informação consta de uma ata da reunião extraordinária do Conselho de Administração do Banco de Portugal, realizada no exato dia em que foi anunciado o fim do BES.
Expresso, 10-08-2014

Desde que o Luxemburgo iniciou a investigação judicial ao esquema Ponzi do BES, coisa que as autoridades portuguesas se esqueceram de fazer, que a contagem decrescente do BES começou.

Pelos vistos, coube ao BCE —no dia 1 de agosto, Sexta Feira—as duas decisões cruciais que acabariam por levar as autoridades indígenas a fechar uma das principais lojas do regime:
  • suspender o acesso do BES às operações monetárias, 
  • exigindo ao mesmo tempo que o BES devolvesse, até dia 4 de agosto, os 10 mM€ que (Victor Bento?) pedira emprestado à instituição dirigida por Mario Draghi.
Foi assim que o BES finalmente implodiu, deixando muita gente distraída ou aventureira apeada.

Se é verdade que Victor Bento pediu 10mM€, seja para prolongar a agonia do BES, seja para ver passar os vinte dias legais (19/8/2014) sobre a data de publicação do regulamento da resolução bancária aprovado pelo Parlamento Europeu no dia 15 de julho de 2014, e publicado no Jornal Oficial da União Europeia no dia 30 de julho, o certo é que o BCE adiantou o calendário, porventura com receio de que a situação ficasse fora de controlo. Recorreu-se, pois, ao Mecanismo Único de Resolução, 20 dias depois da sua aprovação, ou seja, no dia 4 de agosto, mas não vinte dias depois da data da sua publicação no Jornal Oficial da União Europeia. Talvez por isto mesmo Carlos Costa tivesse que esperar pelas zero horas de Bruxelas para anunciar a decisão do Banco de Portugal. A sua comunicação, anunciada para as 22:30 de Domingo, e depois 22:45, horas de Lisboa, só ocorreu às 23:15, ou seja, às 00:15 de Segunda Feira, 4 de agosto, em Bruxelas e Frankfurt.

O que diz Marcelo

«Informação privilegiada para acionistas do BES terá partido de Bruxelas»

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou, este domingo, que três fundos internacionais ganharam, em apenas 42 minutos, 53 milhões de euros com a transação de ações do BES só num dia.

No comentário semanal no «Jornal das 8» da TVI, o antigo líder do PSD admitiu que a informação privilegiada possa ter partido de Bruxelas e disse que a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deve e está a investigar. TVI, 2014-08-10.

O alerta foi adiantado por nós em primeira mão...

OAM: 1/8/2014 19:32 — Foi no dia 15 de julho que a Goldman Sachs, a Desco e a Baupost fizeram grandes compras de ações do BES, adquirindo até participações de referência (mais de 2%). Terá a GS previsto que o mecanismo iria ser usado no BES? Apostou na continuidade de um BES resgatado? Não imaginou que se pudesse criar um Banco Novo, e que o BES fosse parar ao lixo? Talvez Carlos Moedas nos possa esclarecer. Em todo o caso, a GS vendeu parte substancial destas ações no dia 23 de julho... coisa que só ficámos a saber no dia 1 de agosto. No mínimo, intrigante.

OAM: 4/8/2014 23:18 — A primeira pergunta que tenho para Vítor Bento é esta: não soube no dia 23 de julho que a Goldman Sachs se desfizera da participação qualificada adquirida a 15 do mesmo mês? Se sabia, porque não esclareceu a opinião pública, os investidores e os clientes do BES? Segunda pergunta: em que posição estão a Desco e a Baupost? Continuam a ter participações de referência, ou também venderam, total ou parcialmente, as ações adquiridas. E se venderam, quando foi? A 23 de julho, ou depois desta data? Quando? Em que dia? A que hora, minuto e segundo?!


Data de publicação: 11-08-2014 01:57 WET
Atualização: 11-08-2014 12:45 WET

sexta-feira, agosto 08, 2014

Será a resolução bancária sistémica uma alternativa?

Queimar as dívidas? Não é fácil, mas está a suceder!

Bail-out—Bail-in à moda de Louçã e do Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson-Correia da Serra 


“...esta é a minha proposta”, escreve o antigo líder do Bloco de Esquerda, não se sabe bem se na qualidade de co-autor, ou se reclamando para si a exclusividade da ideia de uma ‘resolução bancária sistémica’ alternativa ao Mecanismo Único de Resolução (SRM) aprovado pelo parlamento europeu em maio-julho de 2014, e posto claramente à prova no resgate punitivo do BES levado a cabo pelo BCE e pelo Banco de Portugal, em evidente articulação com a Comissão Europeia e o governo português, e que, como se sabe, levou ao repúdio parcial das responsabilidades do terceiro maior banco português para com os seus acionistas, clientes, credores e especuladores, em nome da salvação dos depósitos, da carteira de clientes não financeiros, e da estabilidade do sistema financeiro em Portugal e na Eurolândia.

O artigo publicado hoje (8/8/2014) por Francisco Louçã na sua habitual coluna no Público, não deixa de ser um desafio oportuno, até por nos ter conduzido ao documento do IPP, “Um programa sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa”. Do artigo citado destaco dois momentos extraordinários, um pela flagrante contradição do ideário do trotsquita-bloquista com o seu pensamento mais recente, e o outro, pelo escusado narcisismo autoral.

Escreve Louçã:

“...a nossa proposta cumpre a lei sem artifícios (ao contrário do que se estará a passar agora com o BES) e evita o custo de uma nacionalização directa (que é sempre o último recurso legal, mas que tem o inconveniente de passar todo o passivo para o Estado). Essa resolução bancária sistémica [que Louçã e o IPP propõem...] segue o modelo utilizado nos Estados Unidos pela instituição responsável, o FDIC, que o aplicou entre 2007 e 2013 em 505 bancos.”

E conclui:

“Precisamos mesmo de uma solução. O controlo público do sistema financeiro é a alternativa que dá o poder e a responsabilidade à democracia. Como é preciso correr o risco da resposta concreta no debate nacional, aqui está, esta é a minha proposta.” 

in Francisco Louçã, “Faltam respostas no debate sobre a crise bancária. A solução alternativa concreta é o controlo público”. Público, 8 de Agosto de 2014, 10:05 WET.

“Um programa sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa” (8 Jul 2014) é um importante documento estratégico da autoria coletiva de Ricardo Cabral, Francisco Louçã, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos, cuja publicação esteve a cargo do Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson-Correia da Serra (IPP), um think-tank presidido por Paulo Trigo Pereira.

Apenas tivemos tempo de o ler na diagonal. O bastante, porém, para recomendá-lo como um contributo relevante e oportuno no preciso momento em que uma proposta diferente, mas nem por isso menos restruturacionista, passou da teoria à prática. Refiro-me, claro está, ao golpe de coelho dado ao BES com o sado-masoquista Mecanismo Único de Resolução.

A demonstração da insustentabilidade da dívida portuguesa, que é como todos sabemos, pública e privada, interna e sobretudo externa, é elegante e vale a pena segui-la. No entanto, falta sublinhar que a realidade não é apenas indígena, mas praticamente universal, ainda que com maior gravidade nos países maduros e sobreendividados do Ocidente — aqueles que há décadas consomem mais do que produzem, e geram mais dívida, economia virtual e especulação do que poupança e bons hábitos.

A medida do sobreendividamento dos Estados Unidos, do Reino Unido e da União Europeia, por exemplo, pode ser imaginada apenas a partir de um dado: a exposição da Goldman Sachs aos derivados financeiros OTC, onde boa parte dos contratos de especulação com as dívidas privadas e públicas residem: $44.192.000.000.000 (44,192 biliões de dólares). O PIB mundial anda nos 73 biliões... Mas o valor nocional global destes contratos era, no fim de 2013, de acordo com o BIS, qualquer coisa como 693 biliões de dólares, ou seja, mais de 9x o PIB mundial.

Não há alternativa a um Jubileu assimétrico e brutal do sobreendividamento do Ocidente. Resta saber quem irá ficar na situação dos acionsitas do BES, dos obrigacionistas do BES, dos hospitais do BES, dos incautos do BES, dos especuladores do BES.

Pensar que é a riqueza pública que está ou que vai resgatar o BES é um embuste teórico. O que vai resolver o BES será tão só mais uma dose de liquidez gerada pelo Banco Central Europeu, a qual estacionará durante algum tempo na dívida soberana portuguesa, até que o empréstimo desta dívida ao Fundo e Resolução que financiará o Novo Banco seja cobrado com juros suficientes para os credores públicos e privados que intervierem na operação.

É desta forma que o mecanismo de reestruturação da dívida pública e privada vai fazendo o caminho das pedras, forçando os bancos a processos de reestruturação implícitos, que conduzem a menos financiamento da economia que, por sua vez, provoca mais falências de empresas e pessoas, mais desemprego, menos procura, menos salários, em suma, mais dívidas incobráveis, imparidades e a extinção forçada das mesmas. No éter das transações digitais serão então perdidos alguns milhares de milhões de euros dessa mesma dívida pública que alimentou o BES, os donos do BES e a especulação bolsista em geral naquilo que tem sido a ilusão do crescimento diariamente vendida pelas bolsas mundiais. Na realidade, o que o colapso do BES nos revela é que o capitalismo está de novo sob a pata da economia-política, de que os bancos centrais são a ferramenta técnica.

A crise financeira não é o resultado apenas da ganância dos especuladores e dos banqueiros, mas a consequência de um modelo social de acumulação e distribuição capitalistas de valor cujos pressupostos energéticos, materiais e demográficos desapareceram, ou estão em vias de extinção.

Poderá haver uma resolução bancária sistémica em Portugal?
Não.
Porquê?
Porque Portugal não tem a dimensão dos Estados Unidos, da China, da Índia, ou da Rússia.
Porque já não tem dimensão, nem economia que lhe permitam ser autónomo.
Porque faz parte de um sistema monetário com mais dezassete estados.
Porque não tem nem pode ter moeda própria sem afogar-se de vez na sua dependência face aos demais países, a começar pela Espanha.
Porque não pode impor ao resto da Europa o que acabou de impor ao BES. E neste particular é preciso dizer que o Banco de Portugal e o governo português apenas puderam impor ao BES a solução que já todos conhecemos porque a mesma foi desenhada e em última instância aplicada pelo BCE e demais instâncias comunitárias.

Seja como for, vale a pensa ler com tempo a proposta elaborada por Ricardo Cabral, Francisco Louçã, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos, sobre uma possível, mas improvável, estratégia de repúdio ordenado e parcial da nossa descomunal dívida. Até porque o tema será cada vez mais atual e premente!

Aqui ficam alguns extratos para abrir o apetite ;)
[...]

7. Para o concretizar, atuando nas duas componentes mais importantes, propomos a reestruturação da dívida bruta não consolidada das administrações públicas e um processo de resolução bancária, que resultarão na redução de dívida necessária para assegurar a auto-sustentabilidade (financeira) do país.

8. Um programa desta natureza pode recorrer a vários tipos de instrumentos para alcançar o mesmo objetivo: nomeadamente, pode incluir um corte elevado no stock da dívida e uma redução menor dos juros, ou uma combinação de um adiamento da amortização da dívida com uma redução mais substancial dos juros. Neste exercício é apresentada a simulação do segundo processo. Note-se que para assegurar que o país seja capaz de se autofinanciar autonomamente o fundamental é reduzir a despesa com juros e alongar as maturidades da dívida existente.

9. As principais medidas deste programa são então: (i) a negociação para a redução do valor presente da dívida (reestruturação de dívida), através da alteração de juros e prazos; (ii) o saneamento dos passivos bancários, para garantir a solvabilidade e estabilidade da banca; e (iii) a modernização fiscal para pôr as contas do Estado em ordem e tornar sustentável, numa perspetiva macroeconómica, a recuperação económica e o crescimento económico futuro.

10. Através da redução de juros e da extensão de prazos da dívida das Administrações Públicas e da reestruturação do passivo do sector bancário, seria possível conseguir uma diminuição anual do défice da balança de rendimentos que se estima em cerca de 4,7 mM€, traduzindo-se num efeito equivalente a uma redução do valor presente da dívida externa líquida de 103% no final de 2013 para cerca de 24% do PIB. De facto, o nível de dívida externa do país é tal que uma reestruturação de dívida de dimensão inferior não conseguiria assegurar que a dívida externa de Portugal se tornaria sustentável.

11. A proposta apresenta as seguintes condições para a troca da dívida bruta não consolidada das Administrações Públicas e do Sector Empresarial do Estado por Novas Obrigações do Tesouro (NOT) com o mesmo valor facial: (1) esses títulos terão um cupão de 1%, e (2) vencerão, em parcelas idênticas, entre 2045 e 2054, havendo um período de carência de juros em 2015. Com estas condições, o valor presente da dívida pública na óptica de Maastricht passaria a ser de 74% do PIB (63% do PIB, líquida de depósitos),3 já após a recapitalização da Segurança Social e de diversos fundos do Estado. O valor presente da dívida bruta não consolidada das Administrações Públicas passaria a representar 82% do PIB (face aos atuais 173% do PIB).

12. Garante-se assim uma margem de manobra suficiente para relançar o investimento e a criação de emprego, bem como para estimular a procura interna fazendo funcionar os estabilizadores automáticos e assegurando a proteção dos salários, pensões e prestações sociais contra a pobreza.

13. A sustentabilidade da dívida externa portuguesa exigirá ainda um processo de resolução bancária especial, que deve proteger a estabilidade do sistema bancário, salvaguardando os seus rácios de capital e solvabilidade, seguindo as melhores práticas internacionais (e.g., FDIC). Esse processo conduzirá a uma redução da dívida bancária de cerca de 24% dos passivos bancários (excluindo capitais próprios) no final de 2013, de que resultará uma redução da dívida externa líquida do sector (direta) estimada em cerca de 30% do PIB.

14. A negociação da reestruturação da dívida externa portuguesa deveria ser conduzida de modo a que a Lei do Orçamento de Estado para 2015 consagrasse todos os instrumentos jurídicos necessários para a viabilidade destas medidas.

quarta-feira, agosto 06, 2014

Futura primeira ministra de Portugal?

Maria Luís Albuquerque.
Foto: Reuters


Quem irá liderar o próximo governo do PSD, com ou sem acordo de regime com o PS?


Estava linda, segura das palavras e serena como sempre. O governo, o Banco de Portugal e a UE, depois de uma corrida de meses contra o tempo, acabavam de realizar com êxito uma operação de alto risco: desmembrar o BES, lançando ao lixo o lixo e salvando o terceiro maior banco do país, impedindo que o seu colapso desordenado levasse atrás de si o frágil sistema financeiro indígena, com ondas de choque imprevisíveis no euro, no SME e, por esta via, na integridade da União Europeia.

Basta reparar no processo legislativo europeu em volta do SRM, acelerado a partir do pedido de urgência feito por Mario Draghi ao parlamento europeu em 23 de setembro de 2013.

Draghi Says EU Bank Resolution Fund Needed With Power to Borrow
By Rebecca Christie and Ian Wishart Sep 23, 2013 4:59 PM GMT+0100 - Bloomberg.

In the short run, national authorities will need to stand ready to finance the cost of stabilizing a failing bank, Draghi said. The ECB will be conducting balance sheet reviews of lenders across the euro zone as it prepares to become the currency bloc’s single supervisor next year, and the results of those reviews will require some sort of backstop.

“We’ll have to have national backstops in place,” Draghi told a European Parliament panel in Brussels today. “The role for the national backstops is there and it’s realistic.”

Current plans call for the Single Resolution Mechanism to start on Jan. 1, 2015, and build up its fund over 10 years. Draghi said it would be better if the fund could ramp up more quickly. Otherwise it will be up to national authorities to act when needed, which is “suboptimal,” he said.

Este Mecanismo Único de Resolução de crises bancárias agudas (SRM) tem dois momentos legislativos cruciais: o da DIRETIVA 2014/59/UE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO, de 15 de maio de 2014, e o do REGULAMENTO (UE) N.o 806/2014 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO, de 15 de julho de 2014. Sem isto, a falência descontrolada do BES teria sido um desastre completo para Portugal. Um desastre financeiro, um desastre económico e um desastre político cujas repercussões são difíceis de imaginar.

So far so good, apesar do sentimento negativo ou misto que percorre as bolsas americana, europeia e asiática.

Um dia e meio depois da operação já os bancos portugueses queriam maior participação no empréstimo necessário à constituição do capital do Novo Banco. Por sua vez, três bancos espanhóis revelaram interesse na aquisição do Novo Banco, esclarecendo que pode estar na mira, por exemplo, do Santander, a criação do maior banco português, maior mesmo do que a Caixa Geral de Depósitos. Só mesmo os neurónios ressequidos da oportunista e populista esquerda à esquerda do PS é que continua em estado de negação.

O Bloco de Esquerda, num acesso de zelo institucional caricato (ver RTP), exige que seja o primeiro ministro, Pedro Passos Coelho, e não a ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque, a comparecer no parlamento para explicar a resolução do BES. É evidente que as pessoas que acompanharam mais de perto este processo são, precisamente, a ministra das finanças e o governador do Banco de Portugal. Então porque insiste João Semedo que seja o PM a dar a cara, como diz? Pode ser apenas insulação. Mas, à partida, parece mais um acesso de machismo politocrata inadmissível.

A presença da Maria Luís Albuquerque na resolução do caso BES tende a ganhar importância a cada dia que passa.

O processo BES, nomeadamente contra Ricardo Salgado, está no início e promete ir revelando, até às próximas eleições, matéria podre suficiente para enterrar de vez muitos políticos ainda no ativo. Até às próximas eleições legislativas, se o Novo Banco se revelar um sucesso, é bem provável que o PSD recupere eleitoralmente ao ponto de chegar a uma nova maioria, ainda que insuficiente, ou ao ponto de retirar ao PS uma maioria suficiente. A dinâmica mãos limpas aberta pelo varrimento do BES tem ainda o potencial de esvaziar substancialmente as novas plataformas eleitorais unicamente sustentadas pelo discurso anti-corrupção (uma oportunidade para o Nós, cidadãos surgir com um papel pertinente na atual conjuntura de renovação do sistema partidário), repondo a questão de saber se o próximo governo terá mesmo que ser, ou não, um governo de coligação. E neste caso, quem nos diz que Pedro Passos Coelho não estaria já a preparar uma sucessora, com o objetivo de garantir uma vitória mais folgada do PSD nas próximas eleições, sem Paulo Portas, sem PP, e sem o próprio Passos Coelho, todos demasiado queimados pela austeridade imposta aos portugueses?

Incapaz de imaginar António Guterres na próxima corrida presidencial, dou por adquirida a ida de Durão Barroso para Belém. Mas até para esta estratégia conviria que o próximo governo voltasse a ter uma abertura clara à inovação institucional e gente com créditos firmados dentro e fora do país, sejam eles militantes e simpatizantes dos partidos existentes, quase todos em decomposição, ou independentes determinados a contribuir para a metamorfose em curso no país.

De uma coisa estou certo: Pedro Passos Coelho, António José Seguro e os seus apoiantes pelo país fora, do PS e do PSD, irão varrer da cena político-partidária boa parte dos senadores e crápulas que conduziram o país ao desastre, incluindo os do BPN e do BES. Se António Costa não desisitir da sua inglória cruzada proxi contra a direção legítima do PS, em nome da corja socratina, soarista e maçónica decadente que o empurrou para este beco sem saída, o PS sairá exangue desta guerra civil intrapartidária, e por isto mesmo com grandes dificuldades de se apresentar como alternativa credível ao PSD e sobretudo ao governo em funções.

Uma coligação PS-PSD parece-me improvável e indesejável, salvo se o país entrar numa qualquer e por ora imprevisível crise de regime, económica e/ou financeira extremamente grave. Ainda assim, o PSD poderá precisar de uma solução governativa na qual o PP de Paulo Portas já não faz sentido, nomeadamente pela sua extrema debilidade eleitoral e promiscuidade excessiva com a malta do BES. Passos Coelho poderá ter que patrocinar uma solução original, com ou sem acordo programático com o PS.

Por tudo isto o atual PM não irá ao parlamento, confiando em Maria Luís Albuquerque a tarefa de explicar aos deputados do Bloco e do PCP, porque razão a destruição do BES foi realizada, não por um governo do PS, não pelos cadáveres adiados do estalinismo, do maoísmo e do trotsquismo que ainda vegetam pelo parlamento, mas pasme-se, por um governo reiteradamente apresentado como neoliberal pela 'esquerda' desmiolada, oportunista e populsita que temos.

Por tudo isto Pedro Passos Coeho não permitiu a Jean-Claude Juncker roubar Maria Luís Albuquerque de Portugal. É!

segunda-feira, agosto 04, 2014

Novo Banco, primeira cobaia do SRM

Mario Draghi (Dragão).
Foto: Associated Press

 

Carlos Costa esteve à espera da aprovação do Regulamento do SRM. O governo também. Cavaco também. E o resto são tretas!


Governo e Cavaco trabalharam em segredo para salvar o BES

Apesar de o Governo dar a entender que não tem nada a ver com a intervenção no BES, ontem houve conselho de ministros extraordinário para aprovar um decreto lei crucial no salvamento do banco. Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque aprovaram, em segredo, um diploma que regulamenta a gestão do banco novo ou "banco de transição". O Presidente da República promulgou o decreto quase de imediato. Nenhum dos intervenientes publicitou facto tão relevante. O governador do Banco de Portugal também não tocou no assunto.

De acordo com a informação publicada hoje no Diário da República, o diploma altera o regime aplicável aos bancos de transição (neste caso, o Novo Banco, que emergiu do BES), à luz das novas regras europeias aprovadas a 15 de maio de 2014. O Novo Banco ficou com as partes saudáveis do balanço; o BES passou a ser o banco mau, como todo o lixo financeiro, as cobranças duvidosas, etc.

04/08/2014 | 14:09 |  Dinheiro Vivo

Quem salvou, por agora, o BES, e o transformou num banco mau cheio de lixo e de perdas para acionistas, especuladores e piratas (bail-in), e num banco bom, o Novo Banco, com proteção dos depositantes e detentores de dívida garantida e sénior, foi o BCE e a CE através de uma coisa chamada SRM—Single Resolutiom Mechanism. O Novo Banco é, assim, sem mais rodriguinhos nem bicos de pé, a primeira experiência de resgate combinado (bail-in/bail-out) de um banco na Eurolândia, depois do desastre de Chipre. A expectativa não pode deixar de ser grande.

As hesitações de Carlos Costa e o timming das "suas" decisões foram completamente cronometradas por Bruxelas e Frankfurt e estiveram dependentes da aprovação pelo Parlamento Europeu, em 15 de julho último, do Regulamento do dito SRM. Este regulamento foi precedido de uma Diretiva sobre o mesmo assunto publicada em 15 de maio deste ano.

Foi no dia 15 de julho que a Goldman Sachs, a Desco e a Baupost fizeram grandes compras de ações do BES, adquirindo até participações de referência (mais de 2%). Terá a GS previsto que o mecanismo iria ser usado no BES? Apostou na continuidade de um BES resgatado? Não imaginou que se pudesse criar um Banco Novo, e que o BES fosse parar ao lixo? Talvez Carlos Moedas nos possa esclarecer. Em todo o caso, a GS vendeu parte substancial destas ações no dia 23 de julho... coisa que só ficámos a saber no dia 1 de agosto. No mínimo, intrigante.

Cavaco e Governo não pregaram prego, nem estopa, na operação mãos limpas do BES. E o professor Marcelo, depois de ter andado anos, meses, semanas, dias a vender o BES e a excelência do sistema bancário aos indígenas veio agoraa, com aquele ar fresco do costume, esclarecer a sua audiência que Portugal é, afinal, a primeira cobaia do SRM. Que tal deixar de brincar as candidatos presidenciais mascarado de analista, e pedir desculpa pelo seu otimismo exagerado em matéria tão sensível quanto é o dinheiro dos contribuintes e dos depositantes? Tal como o Marques Mendes, Marcelo não passa, afinal, de um coscuvilheiro de São Bento e de Belém.

António José Seguro sabia o que se estava a passar e agiu em conformidade. Marcando território, mas assumindo também uma posição ponderada e correta sobre o desenrolar dos acontecimentos.

Pelo contrário, as ossadas do leninismo-estalinista e as beatas do fantasma trotsquista andam literalmente perdidas nestas andanças nada neoliberais e muito hiper-keynesianas de um capitalismo uraniano capaz de devorar os seus filhos mais diletos.

Ou muito me engano, ou vem aí um entendimento novo entre o PS e o PSD, pois não vejo como a famosa 'esquerda' possa alguma vez sair da sopa de letras azeda onde há muito caíu e de onde não há meio de sair.


REFERÊNCIAS DE UM BAIL-IN/BAIL-OUT

  • Draghi Says EU Bank Resolution Fund Needed With Power to Borrow
    Bloomberg
    . By Rebecca Christie and Ian Wishart Sep 23, 2013 4:59 PM GMT+0100
  • REGULAMENTO (UE) N.o 806/2014 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO
    de 15 de julho de 2014
    que estabelece regras e um procedimento uniformes para a resolução de instituições de crédito e de certas empresas de investimento no quadro de um Mecanismo Único de Resolução e de um Fundo Único de Resolução bancária e que altera o Regulamento (UE) n.o 1093/2010
    [LINK-PT] [LINK-EN 
  • DIRETIVA 2014/59/UE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO
    de 15 de maio de 2014
    que estabelece um enquadramento para a recuperação e a resolução de instituições de crédito e de empresas de investimento e que altera a Diretiva 82/891/CEE do Conselho, e as Diretivas 2001/24/CE, 2002/47/CE, 2004/25/CE, 2005/56/CE, 2007/36/CE, 2011/35/CE, 2012/30/UE e 2013/36/UE e os Regulamentos (UE) n.o 1093/2010 e (UE) n.o 648/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho
    (Texto relevante para efeitos do EEE)
    [PDF-PT] 
  • EU Bank Recovery and Resolution Directive (BRRD): Frequently Asked Questions [LINK]

Mais um banco salvo pelos alemães e por Draghi


Banco bom, banco mau diz-me lá quem é o Novo Banco


Para além de fugir com o rabo à seringa das suas graves responsabilidades, o governador do Banco de Portugal não disse nada de novo na sua comunicação que não tivesse sido já adiantado pela imprensa nacional e internacional, com pequenos ajustes nos números e na nova marca:


Foi o BCE que, in extremis, e perante a passividade indígena, deu o golpe de coelho no BES, desencadeando o processo de falência (banco mau) e resolução (banco bom)

O chamado Fundo de Resolução é uma forma hábil de a Comissão Europeia e o BCE (ver declarações de Draghi à Bloomberg, 2013) escaparem ao tribunal constitucional alemão e à legislação comunitária que impede auxílios de estado a empresas públicas (daí a impossibilidade de uma nacionalização do BES suportada com dinheiro do orçamento — como propõe o PCP), ou o resgate de instituições financeiras privadas com dinheiro dos contribuintes.

Convém sublinhar que, no caso europeu, os resgates com dinheiro público redundam sempre numa fatura cuja fatia principal é invariavelmente paga pelos contribuintes alemães, na medida em que é o maior mutualista do BCE. Mas até nisto os sacrificados contribuintes portuguerses acabam por ser defendidos pelos alemães. Não haverá resgate público do BES porque o Tribunal Constitucional alemão não deixa!

Por outro lado, a ideia do Mecanismo Único de Resolução, com legislação atualizada em 15 de julho transacto (Single Resolution Mechanism - SRM), que pressupõe a constituição de fundos de resolução nos vários países da CE, tem a particularidade de permitir a esses fundos de resolução constituirem-se não apenas através de cotizações das entidades financeiras que fazem parte do fundo, mas também através de empréstimos obtidos junto de entidades privadas e/ou públicas. É por aqui que o SRM escapa à acusação de as novas operações de resgate de bancos e afins serem suportadas pelos contribuintes. No limite, os empréstimos públicos aos fundos de resolução (por exemplo, oriundos do fundo de recapitalização bancária da Troika) são operações temporárias com rentabilidade programada e previsível, e não entram nas contas oficiais do estado como despesa, sendo fiscalmente neutras.

REGULATION (EU) No 806/2014 OF THE EUROPEAN PARLIAMENT AND OF THE COUNCIL

of 15 July 2014, EUR Lex

Establishing uniform rules and a uniform procedure for the resolution of credit institutions and certain investment firms in the framework of a Single Resolution Mechanism and a Single Resolution Fund and amending Regulation (EU) No 1093/2010

[...]
(102)
As a principle, contributions should be collected from the industry prior to, and independently of, any operation of resolution. When prior funding is insufficient to cover the losses or costs incurred by the use of the Fund, additional contributions should be collected to bear the additional cost or loss. Moreover, the Fund should be able to contract borrowings or other forms of support from institutions, financial institutions or other third parties in the event that the ex-ante and ex-post contributions are not immediately accessible or do not cover the expenses incurred by the use of the Fund in relation to resolution actions.

Seria bom que na manhã de 4 de agosto não houvesse uma corrida ao Novo Banco para dar ordens de transferência ou de fecho de contas. A operação em curso não saiu da cabecinha distraída do senhor Carlos Costa, mas do génio de um senhor chamado Mário Draghi, e portanto do BCE. Ou seja, o êxito desta operação de bail-out/bail-in, com pesadas perdas para os investidores financeiros do BES e da sua pirâmide Ponzi, e provável criminalização de Ricardo Salgado e associados, é uma estreia do SRM que, como tal, terá que correr bem, sob pena do euro e do SME sofrerem um abanão enorme. Se tivesse uma conta no Novo Banco, não a fecharia neste momento.


IMPRENSA
"Novo" BES recebe ajuda de 4,9 mil milhões de euros através do fundo de resolução
03 Agosto 2014, 23:10 por Jornal de Negócios

O fundo de resolução vai buscar 4,4 mil milhões de euros da troika para ajudar o BES. Os restantes 500 milhões serão assegurados pelos bancos, através de um reforço do fundo, neste caso sem a troika, apurou o Negócios.

O Banco Espírito Santo vai ser dividido em dois. A parte boa, que se chamará Novo Banco e que ficará com os depósitos e os activos saudáveis; e a parte má, o banco mau que ficará com os activos tóxicos como dívidas do Grupo Espírito Santo. O banco mau vai fechar. O banco bom vai continuar as operações. Mas precisa de uma ajuda financeira.

Esse "novo" BES vai receber uma ajuda financeira para cobrir as insuficiências de capital detectadas após os prejuízos de 3.577 milhões de euros. Será necessária uma ajuda de 4,9 mil milhões de euros, revelou o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, este domingo.

O capital do Novo Banco passa a ser "totalmente detido pelo fundo de resolução", que não inclui "fundos públicos", disse Carlos Costa, adiantando que será contraído um empréstimo junto do Estado português, que é "temporário" e que pode ser substituído por um empréstimo da banca.

Publicado: 4/8/2014, 01:51 WET
Atualização: 4/8/2014, 09:39 WET

domingo, agosto 03, 2014

BES: falência 'ordenada' já começou!

O Fundo de Resolução é um instrumento para organizar uma falência bancária ordenada


Ou seja, já está em curso —presumo— o processo de falência ordenada do BES, ou seja, a dita resolução do banco. É isto mesmo que dentro de algumas horas o governo terá que comunicar ao país. Não se trata, pois de recapitalizar o que não é recapitalizável, mas sim de fechar um banco sem levar todo o sistema bancário e financeiro indígena ao fundo. O fundo de recapitalização bancária acautelado no Programa de Assistência Financeira a Portugal não estará seguramente disponível para ser derretido no cancro financeiro em que a constelação BES se tornou.

A treta de Marques Mendes: "Recapitalização do BES não será feita com dinheiro do Estado" — Sapo ; Estado capitaliza "BES bom" e separa "BES mau" — Expresso.

Diz Marques Mendes que será um obscurso Fundo de Resolução a entidade que irá tapar a cratera do BES com 4 a 5 mM€. Ora bem, este fundo tem apenas 182,2 milhões de euros (182 241 500€), o que prova que o mesmo não foi constituído para tapar seja o que for. A palavra 'resolução' é uma tradução da palavra inglesa 'resolution', a qual em finanças quer dizer fechar a tasca falida de forma tão ordenada quanto possível!

Aliás, basta ler o que o BCE escreve e determina para estes fundos de 'resolução':
“What is bank resolution?

Resolution occurs at the point when the authorities determine that a bank is failing or likely to fail,that there is no other private sector intervention that can restore the institution back to viability within a short timeframe and that normal insolvency proceedings would cause financial instability.

‘Resolution’ means the restructuring of a bank by a resolution authority, through the use of resolution tools, to ensure the continuity of its critical functions, preservation of financial stability and restoration of the viability of all or part of that institution, while the remaining parts are put into normal insolvency proceedings.

The EU Bank Recovery and Resolution Directive provides authorities with more comprehensive and effective arrangements to deal with failing banks at national level, as well as cooperation arrangements to tackle cross-border banking failures.

Effective resolution should also address moral hazard, as one of its key functions is to enhance discipline within the markets. Resolution is thus a vital complement to other work streams designed to make the financial system sounder, e.g. making banks stronger through requiring greater levels of better quality capital, greater protection of depositors, safer and more transparent market structures and practices, and better supervision.”

Brussels, 15 April 2014

EU Bank Recovery and Resolution Directive (BRRD): Frequently Asked Questions

Entretanto o Banco de Portugal e o BES já começaram a cortar o cabelo de alguns clientes do BES!
Banco de Portugal proíbe resgate de obrigações de clientes do BES
Artur Barreto viu dinheiro ser retirado da conta à ordem um dia depois do pedido de resgate antecipado

Os clientes que têm obrigações do BES estão impedidos de resgatar o dinheiro do banco. Para travar a sangria de fundos, o Banco de Portugal deu indicações específicas à nova administração. O BES confirma que estas orientações podem estar a provocar constrangimentos em alguns clientes.

Por: IOL, Redacção / CLC    |   2014-08-02 20:20

ÚLTIMA HORA

A imprensa acaba de confirmar o que acima se escreveu às 13:32...

Governador do Banco de Portugal anuncia às 22h30 solução para recapitalizar o BES
03 Agosto 2014, 15:42 por Jornal de Negócios

Carlos Costa fará uma declaração esta noite a anunciar qual será a solução para recapitalizar o Banco Espírito Santo. As autoridades portuguesas continuam em contactos com a Comissão Europeia.

Solução para recapitalizar o BES com recurso ao Fundo de Resolução
03 Agosto 2014, 14:03 por Jornal de Negócios

O BES sai de bolsa e será dividido em duas instituições. O BES será recapitalizado através do Fundo de Resolução, que recebe um empréstimo da linha da troika para o efeito. E será criado um "bad bank" onde ficarão os activos tóxicos. O anúncio oficial deverá ser feito hoje.

BES: Plano B prevê usar fundo de resolução e criar "bad bank"
01 Agosto 2014, 00:01 por Jornal de Negócios

Além do aumento de capital, exclusivamente através do mercado ou resultante da conjugação de fundos públicos e privados, existe um plano B para lidar com os problemas do BES. Esta alternativa, com menor grau de viabilidade, prevê a utilização do Fundo de Resolução para financiar a reestruturação do banco imposta pelo Banco de Portugal, sabe o Negócios.

Publicado: 3/8/2014, 13:32 WET
Atualização: 3/8/2014, 16:23 WET

sábado, agosto 02, 2014

Quem deve o quê ao BES?


Maria Luís Albuquerque. Ministra das Finanças.

Governo tenta salvar in extremis banco insolvente e falido com mais dívida pública, e portanto com mais austeridade, mais cortes e mais assaltos fiscais aos rendimentos e poupanças dos portugueses normais. Onde está o neoliberalismo, indigentes da Esquerda?


O Estado vai entrar no capital do BES, avançaram esta sexta-feira à noite a SIC e a TVI. A estação de Queluz diz que fontes oficiais do Governo confirmam que o modelo encontrado para resolver rapidamente o problema do BES passa pela entrada de dinheiro público no banco. A estação de Carnaxide acrescenta ainda que a decisão vai ser comunicada já no próximo domingo à noite.

Jornal de Negócios, 1/8/2014, 22:30

Quem deve e o quê ao BES? 

Quanto deve TAP ao BES? Quando deve o Metro de Lisboa ao BES? Quanto deve o Metro do Porto ao BES? Quanto deve a Carris ao BES? Quanto deve a CP ao BES? Quanto deve a Câmara Municipal de Lisboa, do socratino Costa e do primo de Ricardo Salgado, Manuel Salgado, ao BES?  Quanto devem as outras autarquias ao BES? Quanto deve a EDP ao BES? Em suma, o BES encontra-se insolvente e falido, não apenas porque andou a brincar ao Monopólio, não apenas porque andou metido com cleptocratas americanos, africanos, europeus, ibéricos e indígenas, mas sobretudo porque foi um dos principais banqueiros de um regime político que dia a dia implode diante de todos nós, depois de ter capturado a democracia em nome de sonhos populistas que se tornaram pesadelos diários para milhões de portugueses.

Passar a fatura do prejuízo aos contribuintes e empurrar a dívida pública com a barriga é o que o governo, ou melhor dito, o regime corrupto que temos vai voltar a fazer. Deu-o a saber ontem à noite, procurando assim, in extremis, evitar uma corrida dos depositantes do BES às transferências eletrónicas na próxima Segunda Feira. É que se tal viesse a ocorrer, todo o sistema financeiro português poderia colapsar, pois não se vê como é que o Estado poderia garantir levantamentos de depósitos na ordem das dezenas de milhar de milhões de euros.

O governo vai proceder, para todos os efeitos, a uma nacionalizalção parcial e previsivelmente temporária do BES. Parece bem. Mas não é. De facto, com esta medida, o principal objetivo do governo, do Banco de Portugal, da CMVM e dos partidos do regime é esconder da opinião pública que são o estado e as suas empresas públicas, e ainda os rendeiros do regime, os principais devedores do BES e a causa da sua ruína. Mas a consequência vai certamente ser desastrosa, pois o que vamos ter é um aumento colossal do buraco negro da dívida pública — pois ninguém vê como é que o BES poderá pagar uma recapitalização de 4mM€ com juros a 10%. O buraco negro do BES vai acrescer ao buraco negro do BPN e ao ainda por destapar buraco negro da Caixa Geral de Depósitos. Há vários anos que avisámos que algo semelhante a isto iria ocorrer.


BES 2013-2014 (em 30 de junho de 2014)

Quebra de receitas: -73,1%
Depósitos (i.e. responsabilidades): 35 932 M€
Quebra nos depósitos: -1 980 M€
Depreciação da empresa: -41,30%
Custos operacionais: 594,8 milhões (+5,7%) — há 600 funcionários na prateleira
Prejuízos -3 577,3 M€


Ninguém sabe se o BES será o bater de asas de uma nova crise aguda no inevitável colapso do atual sistema financeiro de Bretton Woods, de que os BRICS já fogem a sete pés. Mas lá que vai estourar com os objectivos para o défice português em 2014, 2015, 2016, ... vai.

Apertemos, pois, uma vez mais, os cintos de segurança!


ÚLTIMA HORA

"BES é um BPN cinco vezes maior", SIC, 23:15 02.08.2014

Catarina Martins diz que serão os contribuintes a pagar a recapitalização do BES. Este sábado, num comício no Algarve, a coordenadora do Bloco de Esquerda diz que o Banco Espírito Santo é um caso igual ao BPN, mas cinco vezes maior.

O Bloco sabe que o BPN tinha 4% do mercado de depósitos nacional e que o BES tem 20%. As contas são simples de fazer: 20/4=5. Ou seja, o buraco do BES é (potencialmente) 5 vezes maior do que o do BPN. Que diz António José Seguro? Paga o povo, ou deixa-se cair o banco, como seria normal em qualquer outra empresa insolvente que entre em falência? Não anda o Ministério das Finanças a executar contribuintes devedores pelo país fora, às dezenas de milhar, confiscando-lhes ativos de empresas, terras, casas e salários? Que privilégio deve ter o BES em situação semelhante? Se for privilegiado, além de se premiar a corrupção e o roubo descarado, quem irá pagar a fatura? E será possível impor novos e injustos sacrifícios aos portugueses sem lançar o país numa profunda depressão e no caos social?

A nossa posição é clara e em sintonia com as diretivas do BCE: o BES deve declarar falência, tal com já o fizeram as demais quimeras piramidais do grupo BES, e deve pedir proteção contra credores, iniciando-se imediatamente o processo de recuperação de créditos mal parados, a começar pela EDP, TAP, outras empresas públicas e autarquias. Será terrível? Sim, será muito mau, mas forçará o regime, de uma vez por todas, a reformar o Estado e as suas mordomias, levando a tribunal umas boas dezenas de malfeitores incuráveis.

O colapso do regime está em curso. Quem está no poder (Pedro Passos Coelho) e na Oposição (António José Seguro) têm uma oportunida irrepetível para colocar Portugal noutro patamar de rigor e exigência. Se não o fizeram, acabarão por sucumbor na enxurrada a que objetivamente abrirão portas no caso de nacionalizarem os prejuízos da Dona Branca Espírito Santo Piramidal (BES, GES, ESFG, etc.) e passarem mais esta fatura à economia, aos contribuintes e em geral a todos os portugueses menos os que eventualmente sairem a rir deste escândalo sem precedentes.


A treta de Marques Mendes: "Recapitalização do BES não será feita com dinheiro do Estado" — Sapo
 

Diz Marques Mendes que será um obscurso Fundo de Resolução que irá tapar a cratera do BES com 5 mM€. Ora bem, este fundo tem apenas 138 milhões de euros, e além do mais, não foi constituido para tapar seja o que for. A palavra 'resolução' é uma traduçao da palavra inglesa 'resolution', a qual em finanças quer dizer fechar a tasca falida de forma tão ordenada quanto possível...

Aliás, basta ler o que o BCE escreve e determina para estes fundos de 'resolução':

“What is bank resolution?

Resolution occurs at the point when the authorities determine that a bank is failing or likely to fail, that there is no other private sector intervention that can restore the institution back to viability within a short timeframe and that normal insolvency proceedings would cause financial instability.

‘Resolution’ means the restructuring of a bank by a resolution authority, through the use of resolution tools, to ensure the continuity of its critical functions, preservation of financial stability and restoration of the viability of all or part of that institution, while the remaining parts are put into normal insolvency proceedings.

The EU Bank Recovery and Resolution Directive provides authorities with more comprehensive and effective arrangements to deal with failing banks at national level, as well as cooperation arrangements to tackle cross-border banking failures.

Effective resolution should also address moral hazard, as one of its key functions is to enhance discipline within the markets. Resolution is thus a vital complement to other work streams designed to make the financial system sounder, e.g. making banks stronger through requiring greater levels of better quality capital, greater protection of depositors, safer and more transparent market structures and practices, and better supervision.”

Brussels, 15 April 2014

EU Bank Recovery and Resolution Directive (BRRD): Frequently Asked Questions


Atualização: 3/8/2014, 13:19