quarta-feira, agosto 13, 2008

Crise Global 17

Banqueiro arrependido

London Banker é o heterónimo de um ex-banqueiro com responsabilidades passadas em mais de uma instituição financeira. O seu blogue, recente, é particularmente oportuno para a compreensão da presente crise financeira mundial. Além do mais, escreve num inglês admirável.

Recomendo-o vivamente ao nosso presidente da república, pois sei que gosta e entende as subtilezas da economia, e por isso mesmo está naturalmente muito preocupado com a situação portuguesa, a pressão cega e estúpida do Bloco Central do Betão, e a leviandade pseudo-keynesiana incorrigível do actual governo "socialista".

Deixo-vos, por ora, mais uma leitura de férias na forma de duas citações deste surpreendente escritor.

Thursday, 31 July 2008
Fisher's Debt-Deflation Theory of Great Depressions and a possible revision

I have been both a central banker and a market regulator. I now find myself questioning whether my early career, largely devoted to liberalising and deregulating banking and financial markets, was misguided. In short, I wonder whether I contributed - along with a countless others in regulation, banking, academia and politics - to a great misallocation of capital, distortion of markets and the impairment of the real economy. We permitted the banks to betray capital into “hopelessly unproductive works”, promoting their efforts with monetary laxity, regulatory forbearance and government tax incentives that marginalised investment in “productive works”. We permitted markets to become so fragmented by off-exchange trading and derivatives that they no longer perform the economically critical functions of capital/resource allocation and price discovery efficiently or transparently. The results have been serial bubbles - debt-financed speculative frenzy in real estate, investments and commodities.

Since August of 2007 we have been seeing a steady constriction of credit markets, starting with subprime mortgage back securities, spreading to commercial paper and then to interbank credit and then to bond markets and then to securities generally. While the problem is usually expressed as one of confidence, a more honest conclusion is that credit extended in the past has been employed unproductively and so will not be repaid according to the original terms. In other words, capital has been betrayed into unproductive works.

The credit crunch today is not destroying capital but recognising that capital was destroyed by misallocation in the years of irrational exuberance. If that is so, then we are entering a spiral of debt deflation that will play out slowly for years to come.


Friday, 8 August 2008
Snake Oil and Deflation

If the core problem leading to the current seizure of the credit markets is the misallocation of credit into unproductive works during the boom years, then no amount of new credit will solve the problem unless the distortions promoting misallocation are redressed through fiscal and regulatory policy changes. Bailouts and recapitalisation of failed policies of the past are only digging a deeper hole, betraying more capital of younger generations into the unproductive works financed by the current generation.

Correcting the bias toward betrayal of capital will not be popular or easy. Correcting the bias toward unproductive investments will require a massive change of political structures, financial intermediation channels, savings and consumption habits, and economic incentives which challenge virtually every assumption made by at least two generations of American businessmen and consumers and exported globally.

... Consumer credit is viewed as a fundamental necessity by virtually all classes of the workforce. Weaning the populace from borrowing to saving would require a huge shift of policy and popular culture. Few of the generations raised on instant gratification of desire will gracefully or voluntarily shift to living within their means and saving for their future requirements.

In short, there are no easy answers. We have hypothecated our future prosperity to repayment of our current debts. We will live less well in future, as will our children for a time. Whether by inflation or deflation our debts must be extinguished. Savings must be encouraged and must be allocated to productive investments that will yield not just future prosperity but social equity to minimise political conflicts. -- in London Banker.

OAM 415 13-08-2008 02:21

terça-feira, agosto 12, 2008

Eurasia adiada - 2

O regresso da Rússia

12-08-2008 10:15. O Presidente russo Dmitri Medvedev anunciou hoje a decisão de pôr fim à operação russa na Geórgia, segundo as agências de notícias russas.

"O objectivo da operação, de impor a paz, foi cumprido. A segurança das tropas de paz e de cidadãos russos está garantida", adiantou Medvedev, segundo a agência russa Interfax.

Medvedev fez o anúncio durante uma reunião com o ministro da Defesa, Anatoli Serdiukov, e o Chefe do Estado-Maior do exército russo, Nikolai Makarov. "O agressor sofreu baixas significativas. As suas forças armadas estão desorganizadas", explicou. -- Expresso.

A Rússia deu por terminada a sua acção de defesa da independência, mais do que histórica e justificada, da Ossétia do Sul. Após a saída airosa dos americanos de um teatro por eles desenhado e de uma guerra suja por eles provocada, e depois dos protestos hipócritas da NATO e do gatinhar ridículo da União Europeia, o garnisé de Paris teve oportunidade de exibir uma vez mais a sua inócua pequenez.

Os Estados Unidos, Israel e a NATO instigaram os idiotas que dirigem os destinos da Geórgia a desencadearem um genocídio na Ossétia do Sul (e Abcácia, caso a primeira ofensiva passasse impune), em nome dos interesses petrolíferos do Reino Unido, dos Estados Unidos, de Israel, do Japão, da Turquia, da França e da Itália. Ou seja, em nome dos accionistas do pipeline conhecido por BTC, que liga Baku (capital e maior porto do Azerbeijão, no Mar Cáspio) ao porto turco de Ceyhan, passando pela capital georgiana Tbilisi (Tíflis, em russo). O tiro saiu-lhes inesperadamente pela culatra. Pior do que isso: a União Europeia fica, a partir desta exposição ao ridículo, numa posição extremamente frágil perante, não apenas a Rússia, mas sobretudo face à generalidade dos países que há exactamente 17 anos, perante a implosão da União Soviética, acreditaram que a Europa e o "mundo livre" lhe trariam mais pão, saúde, felicidade e paz. O que estes povos hoje sabem é que perderam tudo o que de bom a União Soviética lhes dera (emprego, educação, saúde e paz), e do Ocidente livre e democrático apenas receberam a destruição das suas economias, emigrações em massa, estados e governos inteiramente corruptos e agora, à medida que a União Europeia definha e entra num longo período de recessão, leis punitivas contra os imigrantes, xenofobia, desemprego estrutural, inflação, desmantelamento das leis sociais e super-exploração. Saudades do império soviético? Não diria tanto. Mas a saudade de uma grande Rússia, politicamente moderna, próspera, militarmente renovada, ávida de gente nova que reponha os seus depauperados níveis demográficos, certamente! Ora essa grande Rússia sabe que tem pouco mais de uma década para se realizar. O sinal da Ossétia pode muito bem ser o início de uma viragem decisiva nas relações entre a Rússia e os países vizinhos, que da União Europeia só podem esperar más notícias, enquanto da Rússia podem ambicionar quase tudo, a começar por uma nova cultura de liberdade. Se Berlim e Paris desperdiçaram uma vez mais a possibilidade de liderar a Eurásia, pois que sejam os Russos a fazê-lo. Para nós, portugueses, é uma excelente oportunidade para nos virarmos de novo para o mar!

A disputa em torno dos preciosos recursos petrolíferos do Médio Oriente, com particular destaque para o Iraque, o Curdistão, o Irão e a vasta região do Mar Cáspio tem-se vindo a agravar desde a primeira invasão do Iraque pelo pai do actual presidente dos Estados Unidos.

Vistos à distância, todos os conflitos que se lhe seguiram, nomeadamente na Palestina (onde Israel tem procurado reduzir a pó, de forma criminosa, qualquer possibilidade de criação e reconhecimento internacional de um estado Palestiniano), formam o padrão cada vez mais claro de uma guerra global que, a qualquer momento, poderá derivar para uma III Guerra Mundial. A diferença entre guerra global e guerra mundial é, na minha perspectiva, a seguinte: enquanto uma guerra global é, no essencial, uma guerra de proxis, feita de episódios sucessivos e/ou simultâneos de guerra convencional, e assimétrica, onde os principais protagonistas utilizam exércitos, forças irregulares e países terceiros para prosseguirem um grande jogo estratégico, a guerra mundial envolve directamente os protagonistas numa confrontação maciça dos respectivos povos, economias e arsenais bélicos.

A tentação americana, inglesa e israelita é seguramente a de precipitar a passagem da guerra global em curso para uma guerra mundial. O problema é que uma tal decisão implicará necessariamente o uso de armas nucleares. As guerras não se ganham no ar, a menos que o terror nuclear entre em acção. É por isso que os americanos não ganharam o Vietnam, não ganharam o Iraque e não irão ganhar o Afeganistão. O mesmo é verdade para a tentativa sionista de erradicar os povos da Palestina. Para ganhar uma guerra convencional são necessárias forças terrestres de combate e de ocupação prolongada. Se os países definidos como inimigos forem países populosos, como a Rússia, ou a China, então o problema torna-se praticamente insolúvel, salvo se for aplicada uma qualquer "solução final"! Ora, também por questões de ordem demográfica, já para não falar das motivações morais, o Ocidente perderia qualquer guerra mundial por si desencadeada. Isto é verdade hoje, e será uma evidência esmagadora daqui a dez ou quinze anos. Assim sendo, se existe empate técnico no grande jogo de estratégia em curso, a única alternativa decente é começarmos a pensar no mundo como uma entidade única, cujos desafios a todos dizem respeito e só poderão ser resolvidos na base de princípios inovadores e activos de harmonia e cooperação. Talvez seja a hora de trocar Carl von Clausewitz por Confúcio.




REFERÊNCIAS

Reportagens televisivas que não verá na subserviente televisão portuguesa (pelo menos enquanto durar a crise)

Embaixador russo denuncia apoio americano à aventura militar da Geórgia
Os Estados Unidos terão apoiado a operação militar da Geórgia contra a auto-proclamada república separatista da Ossétia do Sul que provocou a intervenção do exército russo. A informação é avançada pelo embaixador russo junto da ONU, Vitaly Tchurkine. -- RTP.

Rússia rejeita as criticas por parte da OTAN em relação à operação militar
11-08-2008. A Rússia considera que a OTAN , com sua experiência de bombardeiros na ex-Jugoslávia, é o organismo menos adequado para criticar a operação russa de imposição da paz na Ossétia do Sul. O secretário geral da Aliança Jaap de Hoop Scheffer, destacou ontem que a Rússia “violou a integridade territorial da Geórgia e usou Força militar enorme” no território da Ossétia do Sul.

“Estamos dispostos a escutar a opinião das entidades defensora dos direitos humanos mas não a de um bloque militar”, diz uma nota emitida por representação permanente perante a Aliança. Se a OTAN se empenha em ensinar a Rússia, ela “irá obrigada a recordar-lhe o suposto sentido da medida à hora de usar a força contra o povo e Exército da Sérvia , quando os benefícios democráticos se levavam mediante a destruição dos cidades sérvios , bombardeiros de Belgrado, liquidação de pontos e outras infra-estruturas do país”.

Na noite entre 7 e 8 agosto as tropas georgianas invadiram a autoproclamada república da Ossétia do Sul e bombardearam com artilharia a capital, Tsikhinvali, quase destruindo totalmente a cidade, causando mais de 2 mil vítimas mortais e mais de 30 mil refugiados. Para defender a população , a maioria da qual é da cidadania russa , o contingente russo de paz , com ajuda do 58 Exército e outras tropas efetuou as ações militares adequadas. -- Pravda.

Putin: Promotor deve investigar crimes de guerra
08/11/2008. Na sua reunião com Presidente Dmitry Medvedev no Domingo, o Primeiro-ministro da Federação Russa, Vladimir Putin, disse que o Promotor da Justiça deve investigar os crimes de guerra perpetrados pelo lado georgiano em Ossétia Sul, onde 40.000 civis foram forçados a fugir das suas casas e onde cerca de 2.000 foram chacinados pelo bombardeamento georgiano e acções de limpeza étnica. -- Pravda.

Contextualizando o conflito Rússia-Geórgia
O governo mafioso da Geórgia, apoiado e armado pelo imperialismo estado-unidense, agrediu dia 8 de Agosto a República da Ossétia do Sul. Este conflito tem implicações sérias para o oleoduto Baku-Tíflis-Ceyhan (BTC), que transporta petróleo do Cáspio para mercados ocidentais. O BTC custou US$3 mil milhões e é possuído em 30% pela British Petroleum (1).

A Geórgia tem um papel importante na geopolítica dos pipelines. O país, em si próprio não tem reservas significativas de petróleo ou de gás natural. No entanto, o seu território é uma peça chave para o escoamento da produção da Bacia do Cáspio. Na verdade, é o único caminho prático que evita tanto a Rússia como o Irão.

Os 1770 km do oleoduto BTC entraram em serviço há apenas um ano. Através dele são bombeados diariamente mais de 1 milhão de barris, desde Baku (no Azerbaijão) até Yumurtalik (na Turquia). Ali é carregado em super-petroleiros a fim de ser transportado para os EUA e a Europa. Cerca de 249 km da rota do BTC passa através da Geórgia e parte dele, apenas 55 km, na Ossétia do Sul.

O Ocidente, os EUA em particular, atiçaram a guerra regional. A cimeira da NATO em Bucareste, este ano, pressionou a Geórgia e a Ucrânia a aderirem à Aliança. A medida foi bloqueada por países europeus mas a NATO comprometeu-se a oferecer aos dois países a condição de membro da Aliança numa fase posterior. Esta oferta foi encarada por Moscovo como um desafio. Desde então a Rússia tornou claro, por atitudes e acções, que fará tudo o que estiver ao seu alcance para impedir a expansão da NATO nos seu flanco Sul.

O conflito tem implicações sérias para o relacionamento da Rússia com os EUA e o Ocidente em geral. O conflito pode propagar-se à Abkhazia, que pretende separar-se da Geórgia. Tanto a Ossétia do Sul como a Abkhazia têm mais razões para se tornarem repúblicas independentes do que o "país" que a NATO criou artificialmente no Kosovo.

Após a intervenção da Força Aérea russa e do bloqueio naval à Geórgia, iniciado a 10 de Agosto pela frota russa do Mar Negro, o agressor georgiano apressou-se a pedir um cessar fogo. O bloqueio naval destina-se a impedir a Geórgia de receber mais armamento dos países da NATO. Por outro lado, aviões russos bombardearam a base militar de Vazania, no arredores da capital georgiana e próxima do oleoduto BTC e a frota russa do Mar Negro bombardeou o terminal petrolífero do porto de Poti.

[1] Os accionistas do BTC Co. são: BP (30.1%); AzBTC (25.00%); Chevron (8.90%); Statoil (8.71%); TPAO (6.53%); Eni (5.00%); Total (5.00%), Itochu (3.40%); INPEX (2.50%), ConocoPhillips (2.50%) e Amerada Hess (2.36%). (fonte: BP) -- Pravda.

War in the Caucasus: Towards a Broader Russia-US Military Confrontation? By Michel Chossudovsky
During the night of August 7, coinciding with the opening ceremony of the Beijing Olympics, Georgia's president Saakashvili ordered an all-out military attack on Tskhinvali, the capital of South Ossetia.

The aerial bombardments and ground attacks were largely directed against civilian targets including residential areas, hospitals and the university. The provincial capital Tskhinvali was destroyed. The attacks resulted in some 1500 civilian deaths, according to both Russian and Western sources. "The air and artillery bombardment left the provincial capital without water, food, electricity and gas. Horrified civilians crawled out of the basements into the streets as fighting eased, looking for supplies." (AP, August 9, 2008). According to reports, some 34,000 people from South Ossetia have fled to Russia. (Deseret Morning News, Salt Lake City, August 10, 2008)

... Let us be under no illusions. This is not a civil war. The attacks are an integral part of the broader Middle East Central Asian war, including US-NATO-Israeli war preparations in relation to Iran.

... Russian forces are now directly fighting a NATO-US trained Georgian army integrated by US and Israeli advisers. And Russian warplanes have attacked the military jet factory on the outskirts of Tbilisi, which produces the upgraded Su-25 fighter jet, with technical support from Israel. (CTV.ca, August 10, 2008)

When viewed in the broader context of the Middle East war, the crisis in Southern Ossetia could lead to escalation, including a direct confrontation between Russian and NATO forces. If this were to occur, we would be facing the most serious crisis in US-Russian relations since the Cuban Missile crisis in October 1962. -- in Global Research.

In Russia-Georgia Conflict, Balkan Shadows, By Robert McMahon
August 11, 2008. Circumstances in two separatist Georgian border regions—South Ossetia in the north and Abkhazia in the northwest—brought Russia and Georgia into open conflict (RFE/RL) this month. Yet beyond the immediate triggers, some analysts see two international developments in the past six months as major catalysts for Russia's biggest military campaign outside its borders since the fall of the Soviet Union. And the fighting could have consequences far beyond Georgia's borders for the West and Russia.

The first catalyst was recognition of Kosovo's February declaration of independence (NYT) by the United States and European powers. Vladimir Putin, then Russia's president and now its powerful prime minister, had warned for years of the danger of recognizing Kosovo without Serbia's agreement. After it occurred, James Traub writes in the New York Times, "Mr. Putin responded by leveling a blow at America's Caucasus darling." Putin set in motion moves to recognize South Ossetia and Abkhazia, and stepped up patrols of Russian forces—ostensibly peacekeepers—in those regions. Russia expert Dmitri Simes of the Nixon Center told a CFR meeting late last year that Western recognition of Kosovo would have to be followed by a "quid pro quo in the Caucasus or where we are [is] a new era in international relations" between Russia and the West.

Now, just days into Russia's offensive, writes the Financial Times' Quentin Peel, the events in Georgia have become "Russia's Kosovo," including Russian portrayals of President Mikheil Saakashvili as a dangerous rogue in the mold of Serb leader Slobodan Milosevic. An analysis from the Russian news agency RIA Novosti described Saakashvili as unstable but a master propagandist. Soon after fighting broke out in South Ossetia, Russian Foreign Minister Sergei Lavrov was voicing concern over Georgian "ethnic cleansing (Reuters)" of the region, conjuring a term from 1990s Bosnia and Kosovo.

A second international catalyst for Russia's offensive in Georgia was a decision at NATO's Bucharest summit in April. The alliance, in a bow to Russia, declined to consider Georgia and Ukraine right away for a Membership Action Plan, or MAP. But a NATO statement pledging to reconsider the two countries' bids in December infuriated the Kremlin (FT). Russia followed that decision by stepping up moves to upgrade its relations with the two breakaway Georgian regions, which it already provided with crucial economic support. Analysts have linked the strong Russian reaction with a growing feeling of isolation as countries on its periphery join Western institutions. That is now coupled with newfound Russian "prosperity and self-confidence and geopolitical entitlement" that give it an opportunity to reverse this trend, says CFR Senior Fellow Stephen Sestanovich in a new interview.

... Much depends on whether the August military campaign represents a turning point for Russian foreign policy. Former top Clinton administration officials Ronald D. Asmus and Richard Holbrooke write that this moment could be the end of an era (WashPost) in Europe when "spheres of influence were supposed to be replaced by new cooperative norms." CFR Adjunct Fellow Jeffrey Mankoff's recent profile of Russia's foreign policy elite notes that the "neo-imperialist" camp, keen for Russia to challenge the West for leadership, appears well positioned to grow in influence. -- in Council on Foreign Relations.

Russia marks its red lines, By F William Engdahl
August 13, 2008. What is playing out in the Caucasus is being reported in the United States media in an alarmingly misleading light, making Moscow appear the lone aggressor after it sent troops into the breakaway Georgian region of South Ossetia following a Georgian offensive on that territory.

The question is whether President George W Bush and Vice President Dick Cheney are encouraging Georgian President Mikheil Saakashvili to force the next US president to back the North Atlantic Treaty Organization (NATO) military agenda of the current Bush administration. Washington may have badly misjudged the possibilities, as it did in Iraq, and there are even possible nuclear consequences.

The underlying issue is the fact that since the dissolution of the Warsaw Pact in 1991, one after another former member as well as former states of the Soviet Union have been coaxed and in many cases bribed with false promises by Washington into joining the counter organization, NATO.

Rather than initiate discussions after the 1991 dissolution of the Warsaw Pact about a systematic dissolution of NATO, Washington has steadily converted NATO into what can only be called the military vehicle of an American global imperial rule, linked by a network of military bases from Kosovo to Poland to Turkey to Iraq and Afghanistan. -- in Asia Times Online.

US & Israel Created Georgia War With Russia, Bt Elaine Meinel Supkis
Georgia wishes to drag everyone into this business. The US is very tempted to join in because this means the military/industrial complex can make more money. The Iraqis and Afghanis are not armies, they are civilians fighting the US military death machine. But RUSSIA can shoot down our jets, sink our ships and do other massive damage! Whoopee for our Daddy Warbucks from Cheney on down! They rub their hands with glee. This will be an übermassive opportunity to make big bucks. Forget the nickel and dime business of building crummy structures in Iraq with bad wiring and flimsy doors! Just one jet shot down and the stock for Boeing will go through the roof! Imagine that.

The idea this can launch WWIII and end up with all of us dead doesn't occur to these monsters licking their chops over the idea of the US plunging deep into a very destructive war! They only see the profits. - in Elaine Meinel Supkis, "War and Peace".


OAM 414 12-08-2008 14:06 (última actualização 13-08-2008 10:24)

segunda-feira, agosto 11, 2008

Eurásia adiada

O fim do Tratado de Lisboa e a resposta russa; preâmbulo da campanha americana no Irão

Os alanos constituíam um povo bárbaro (isto é, não falavam latim), com origem no nordeste do Cáucaso, entre o rio Don e o Mar Cáspio, que realizou uma transmigração em direcção ao ocidente nos séculos IV e V.

Em 360, os hunos destruíram o seu império, obrigando muitos a atravessar a Europa até à Península Ibérica (em 409). Nesta migração, acabaram por se juntar aos suevos e aos vândalos que ocuparam simultaneamente com estes a Hispânia.

Os alanos que permaneceram a nordeste do Cáucaso passaram a designar-se por Tártaros. Aqueles que se estabeleceram na península Ibérica fundaram um reino na Lusitânia, sediado em Pax Julia, a actual cidade de Beja, em Portugal... -- in Wikipédia.

Os ossetas são um grupo étnico iraniano, natural da Ossétia, região do Cáucaso. Os ossetas estão localizados, em sua maior parte, na Ossétia do Norte, situada na Rússia, e na Ossétia do Sul, que apesar de ter declarado sua independência permanece reconhecida internacionalmente como parte da Geórgia. Falam o osseto, um idioma indo-europeu da família iraniana.

... Os ossetas descendem dos alanos, uma tribo sármata. Tornaram-se cristãos durante o início da Idade Média, por influência dos georgianos e dos bizantinos. No século VIII um reino alano já consolidado, chamado nas fontes contemporâneas de Alânia, surgiu no norte das montanhas do Cáucaso, na região das atuais Circássia e Ossétia do Norte. Em seu apogeu, a Alânia foi uma potência regional, com uma forte presença militar, e uma vasta riqueza obtida com a Rota da Seda.

Forçados de sua terra natal, ao sul do rio Don, durante a conquista mongol, cruzaram as montanhas rumo ao território do outro lado das cordilheiras do Cáucaso, onde formaram três entidades territoriais distintas (reunidas no que hoje é designada por Ossétia do Sul) -- in Wikipédia.

Ossétia do Sul, localização (mapa 1); Ossétia do Sul (mapa 2); Ossétia do Sul, áreas controladas pelo estado da Geórgia (mapa 3); rota das migrações do Alanos e Vândalos nos séculos IV e V (mapa 4); grupos etno-linguísticos na região do Cáucaso (mapa 5).

Dividir para reinar (divide ut regnes ou divide et impera) tem sido o lema comum a muitos estados e impérios, sobretudo quando não conseguem seduzir as nações e povos dominados para uma efectiva comunhão patriótica de objectivos. A imprensa ocidental mais submissa aos canais de propaganda anglo-americana tem vindo a sugerir que a resposta russa à invasão militar da Ossétia do Sul, pelas tropas da Geórgia, é uma grave violação de soberania (Carld Bildt, ministro dos negócios estrangeiros sueco), ou uma reacção desproporcionada (George W. Bush) e a prova de que a Rússia quer recuperar a sua dimensão imperial. Nada mais falso! O que eu vejo, isso sim, é a frenética actividade dos Estados Unidos, com o apoio discreto de uma Europa sumamente hipócrita, tentando provocar divisões territoriais em toda a parte do planeta. Do Afeganistão ao Iraque, da Palestina ao Irão, da Bolívia à China, e agora no Cáucaso. Em todos os casos afloram duas questões primordiais: a disputa pelos principais recursos energéticos do planeta (petróleo, gás natural) e o enorme esforço de manutenção da actual, embora ameaçada, supremacia americana.

Não estranharia nada que a provocação georgiana tivesse sido preparada pelos serviços secretos norte-americanos, fazendo parte, tal como a desestabilização do Tibete, dos Jogos Olímpicos de Pequim, e da província chinesa de Xinjiang por separatistas muçulmanos (1), da agenda preparatória dum ataque, porventura nuclear, ao Irão. O lóbi sionista americano tem realizado uma pressão enorme para fazer aprovar no Congresso a Resolução 362 (2), destinada a impor unilateralmente sanções draconianas ao Irão, as quais poderão conduzir ao bloqueio económico e naval do estreito de Ormuz.

Não estou por conseguinte certo das análises optimistas (3) que se limitam a ver na tragédia da Ossétia mais uma derrota da família Bush. Na realidade, depois de reunir uma série de pontas soltas, isto parece-em ser mais um episódio, porventura decisivo, da guerra em preparação contra o Irão, que por sua vez será uma guerra contra a Rússia, um aviso à China e um grande retrocesso para o sonho europeu. O facto de a França estar neste preciso momento à frente da União Europeia inspira-me aliás os maiores receios. Não devemos esperar nada de bom, nem do garnisé de Paris, nem do dandy que pomposamente dirige os assuntos externos da França e, por mais alguns meses, da Europa!

O Tratado de Lisboa, que permitiria a criação dum directório europeu franco-alemão, falhou. Falhou, por um lado, porque a aliança anglo-americana sabotou uma vez mais a tentativa de delimitação de um centro de gravidade europeu. E falhou, por outro lado, porque a Europa no seu conjunto foi incapaz de cooperar de forma séria com a Rússia pós-soviética, tendo revelado uma total submissão à estratégia aventureira do nosso amigo americano.

Berlim procurou alargar rapidamente o território da União Europeia e sobretudo o território da moeda única. Mas Bruxelas permitiu aos Estados Unidos vender a ideia peregrina de que a NATO, uma aliança militar criada para o Atlântico Norte, deveria alastrar até aos antigos países da órbita soviética (Bulgária, República Checa, Estónia, Hungria, Islândia, Letónia, Lituânia, Polónia, Roménia, Eslováquia, Eslovénia,) até à Turquia e mesmo até ao Cazaquistão! Ou seja, em vez de se ter estabelecido uma zona desmilitarizada entre a Rússia e a Europa ocidental, que pudesse servir de mediador para uma progressiva integração euro-asiática, fazendo desta imensa zona geográfica uma formidável força de cooperação e pacificação mundiais, os oportunistas da Europa abriram as pernas aos aventureiros americanos, escangalhando de novo a paz europeia!

O acosso permanente da Sérvia e a independência fabricada do Cosovo (entregue a um bando de chulos, traficantes de droga e ladrões descarados), bem como a instalação de uma das maiores bases militares americanas na Macedónia, e ainda a tentativa provocatória de instalar radares e mísseis na República Checa e na Polónia, tiveram finalmente uma resposta à altura por parte da Rússia. Tendo seguramente o apoio da China, com quem assinou em 21 de Julho passado o tratado que finalmente regulariza a delimitação da fronteira de 4300 Km entre os dois países (4), sanando por fim o diferendo existente há quarenta anos em torno das ilhas Heixiazi e Yinlong, situadas na confluência dos rios Ussuri e Amur, no Nordeste da China, a Rússia decidiu finalmente responder ao cerco que a NATO, ou melhor, os Estados Unidos com o apoio dissimulado da União Europeia, vêm montando junto das fronteiras russas. Berlim, Londres e Paris foram avisados sobre a possibilidade de ficarem sem gás de um dia para o outro. Entretanto, em plena cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, a Rússia resolve colocar os Estados Unidos em sentido, explicando-lhes que não irão tolerar o controlo do Mar Cáspio por uma manada de cowboys. Apesar de o oleoduto da BP que transporta petróleo do Mar Cáspio para o Mediterrâneo, de onde segue para a Europa e para os Estados Unidos, ter sido sabotado dias antes pelos separatistas curdos do PKK, a verdade é que a Rússia, que quer a BP fora do Cáspio quanto antes (aha!), está a tomar posições tácticas decisivas para a eventualidade de um ataque surpresa de Israel ou dos Estados Unidos ao Irão.

Os países detentores das principais reservas estratégicas mundiais de petróleo e gás natural (recursos energéticos insubstituíveis nos próximos 15 a 20 anos) -- Arábia Saudita, Rússia, Cazaquistão, Irão, Venezuela, Bolívia, Nigéria, Angola, Brasil, etc. -- têm vindo a nacionalizar paulatinamente os seus haveres estratégicos. Os países produtores de alimentos, como a Índia e o Brasil, mostraram que não hesitarão em suspender as exportações de arroz e soja, se tal for necessário, perante uma escalada de preços dos bens alimentares. Por outro lado, os E.U.A. e a Europa, que têm vindo a perder competitividade económica face à China e à Índia, não só estão mergulhados numa profundíssima crise financeira, como caminham a passos largos para recessões duras e prolongadas. A fragilidade energética dos Estados Unidos e da União Europeia é muito crítica e vai piorar nos próximos anos, não se vislumbrando no horizonte qualquer visão política séria do problema. A actual queda do preço do petróleo deriva em grande medida da destruição da procura americana e europeia. Mas isto apenas empobrece e desarma a Europa! A China e a Rússia agradecem!!

Nesta história da Ossétia estou completamente ao lado dos ossetas do Sul, porque são povo, nação e estado há muito mais tempo do que todos as democracias europeias. Ainda nós, portugueses, estávamos a sete séculos de sermos quem somos, e já os antepassados deste singular povo caucasiano deixavam a sua semente genética e civilizacional no Alentejo. Formulo assim votos de sucesso a João Soares para que honre a razão e a história no papel de mediador que foi chamado a desempenhar nesta hora difícil para a Ossétia e para a Europa.



NOTAS
  1. According to Stratfor, a US based think tank on intelligence issues, the Turkestan Islamic Party (TIP) which claimed responsibility for the pre-Olympic terror attacks belongs to the broader East Turkestan Islamic Movement (ETIM), based in the Xinjiang-Uygur autonomous region.

    The ETIM is known to be covertly supported by Pakistan Inter Services Intelligence (ISI), acting in close coordination with the CIA. -- in PsyOp: Is Washington Intent on Sabotaging the Beijing Olympics? - Pre-Olympics PsyOp creates Atmosphere of Fear and Insecurity, by Michel Chossudovsky.
  2. ... (the Congress) demands that the President initiate an international effort to immediately and dramatically increase the economic, political, and diplomatic pressure on Iran to verifiably suspend its nuclear enrichment activities by, inter alia, prohibiting the export to Iran of all refined petroleum products; imposing stringent inspection requirements on all persons, vehicles, ships, planes, trains, and cargo entering or departing Iran; and prohibiting the international movement of all Iranian officials not involved in negotiating the suspension of Iran's nuclear program; (.) -- in H. CON. RES. 362 - Expressing the sense of Congress regarding the threat posed to international peace, stability in the Middle East, and the vital national security interests of the United States by Iran's pursuit of nuclear weapons and regional hegemony, and for other purposes.
  3. After the catastrophic invasions and occupations of Iraq and Afghanistan, the neocons have just lost a third war, in Georgia. -- The warmongers have lost yet another war, by Jerome a Paris, Sun Aug 10, 2008 at 05:04:06 AM PDT.

    # First, let's be clear: there are two reasons only we care about Georgia: the oil pipelines that go through its territory, and the opportunity it provides to run aggressive policies towards Russia.

    # Second, let's also be very explicit: this conflict is not unexpected: it is a direct consequence of our policies, in particular with respect to Kosovo (and to all those that will claim that "no one could have predicted" this, let me point out to this comment, or this earlier one, or this article). I would even go so far as to say that it was egged on by some in Washington: the neocons.

    # Third, our claims to have the moral high ground are totally ridiculous and need to be fought, hard. This is not about democracy vs dictature, brave freedom lovers vs evil oppressors, but a nasty brawl by power-hungry figures on both sides, with large slices of corruption. The fact that this is turned into a cold-war-like conflict between good and evil is a domestic political play by some in Washington to reinforce their power and push certain policies that have little to do with Russia or Georgia. That needs to be understood.

    The reason the current conflict is not about the oil is because, now that the pipeline is built, that game is, in effect, over. Now, the only thing that could stop the flow of oil is, other than localised attacks (like the one conducted by the Kurds, something that has long been expected, and which was mitigated by building the pipeline on a route that avoids kurdish territory) would be for Russia to actually invade all of Georgia and physically take control of the pipeline, ie an outright act of war not just against Georgia, but also against the US.

    The reason for that is that, as part of the process to put in place the pipeline, Georgia invited the US military to set up a base on its territory, near the route of the pipeline. Thus, any attack on the pipeline by Russia would become an attack on the USA. -- Georgia: oil, neocons, cold war and our credibility, by Jerome a Paris.
  4. Russia, China End Decades-Long Border Dispute, in World Politics Review.

OAM 413 11-08-2008 15:11

domingo, agosto 10, 2008

Portugal 40

Comissão Estratégica dos Oceanos

Em plena crise constitucional, por causa das autonomias insulares, e com a Rússia antecipando o reajustamento do seu perímetro de segurança estratégica, fui agradavelmente surpreendido pela entrevista dada por Tiago Pitta e Cunha à revista Única do semanário Expresso deste fim-de-semana. Apresentado, pelo entrevistador, como o homem da estratégia portuguesa para os mares, da qual viria a resultar a instalação no nosso país da Agência Europeia de Segurança Marítima, o actual assessor português do comissário europeu para os Assuntos Marítimos e Pesca, tem ideias claras, com as quais estou plenamente de acordo.

A entrevista, que recomendo vivamente, é um oportuno documento sobre a principal janela de oportunidade para um pequeno país como Portugal, no fim duma longa era colonial e ultramarina, sem muito mais ajuda financeira europeia à vista, e no quadro de uma grave crise mundial de recursos, principalmente energéticos. Portugal tem a maior Zona Económica Exclusiva de entre os países europeus, a qual poderá ser estendida das actuais 200 milhas náuticas para as 350. Ou seja, cerca de 650 Km de mar, a contar das costas continentais e insulares do território nacional, se o projecto de medição da ZEE passar a ter como referência as plataformas continentais submarinas -- uma tese a fazer o seu caminho depois que os Estados Unidos, o Canadá e a Rússia começaram a disputar direitos territoriais na zona polar Norte, por causa da utilização da famosa Passagem do Noroeste e, claro está, do petróleo e gás natural que por lá deve haver.

Portugal pode desempenhar um protagonismo único e exemplar na nova e importantíssima centralidade do Atlântico Norte e Sul que vier a resultar dos actuais movimentos tectónicos da diplomacia mundial. Há um polígono virtuoso formado pelo países que falam português e há muito conhecem e vivem o Atlântico. Portugal, Brasil (e uma parte da Venezuela), Angola, Cabo Verde, Guiné e São Tomé e Príncipe representam os vértices de uma enorme constelação estratégica de entendimentos e recursos que não podemos negligenciar, nem deixar às iniciativas oportunistas de quem obviamente já percebeu a importância da coisa.

É precisamente pelo facto de esta triangulação estratégica ser decisiva para todos os países lusófonos (incluindo Moçambique e Timor), que a leviandade legislativa de São Bento e o populismo eleitoralista dos directórios partidários ameaçaram provocar inesperadamente uma crise de regime. O Tribunal Constitucional e Cavaco Silva souberam, felizmente, desarmá-la a tempo. Apesar da forma -- um tremendo puxão de orelhas presidencial --, creio que tanto Mário Soares, como Ramalho Eanes, estão de acordo com Cavaco Silva. No fundo, ninguém deseja brincar com a unidade do Estado. Nem seria porventura desejável uma dissolução da Assembleia da República por causa de oito inconstitucionalidades seguidas numa única proposta de lei votada por zombies parlamentares ao serviço de aritméticas eleitorais distraídas.

A lamentável confusão de hierarquias entre a autoridade máxima regional e um dos poucos ministros competentes do actual governo da república, o titular dos negócios estrangeiros, abriu uma ferida profunda na turma de José Sócrates. Não compete, porém, a Luís Amado sará-la, mas sim a quem cometeu o lapso. Só ficaria bem a Carlos César fazê-lo.

Esperemos, em suma, que os serviços secretos americanos não tenham tido rigorosamente nada que ver com este incidente. Nem que este incidente possa ter uma remota origem sequer nos preparativos de um ataque (que pode ser nuclear!) ao Irão, actualmente em curso por parte do Pentágono, sob a tremenda pressão legislativa e mediática do tenebroso círculo sionista americano, com o apoio entusiasta de John McCain e... o consentimento vago de Barak Obama!

OAM 412 08-08-2008 18:55

sexta-feira, agosto 08, 2008

Contabilidade criativa

Contas "erradas" escondem recessão americana

O antigo estratego eleitoral de Richard Nixon, Kevin Phillips, hoje um opositor declarado do Partido Republicano, publicou no prestigiado Harper's Magazine um demolidor artigo sobre a fraca fiabilidade das estatísticas norte-americanas. Segundo ele, os números oficiais são o resultado de uma descarada manipulação dos critérios de medição e cálculo. Assim, a inflação real em 2007 anda mais perto dos 7-10% do que dos 5% declarados. O PIB efectivo de 2007 ronda os 7,1E12 USD, em vez de 11E12 USD. E a taxa de desemprego oscilou em 2007 entre 9 e 12%, bem acima dos números oficiais.

O contraste entre a percepção pública da recessão e a grave crise financeira que há um ano varre os Estados Unidos e fustiga a Europa, não podia ser mais evidente. Mas a ladainha dos média, que repetem ad nauseam a cabalística confeccionada pela Casa Branca e pela Reserva Federal (o cartel bancário privado da América, erradamente confundido com um banco central), deixa-nos confusos. Pois bem, vale a pena ler este esclarecedor artigo sobre o tema.

Alguém em Portugal teve já a paciência de analisar a metodologia das nossas estatísticas, em grande medida formatada a partir de Bruxelas? Será que são tão criativas como as americanas? Afinal que raio de produtos entram na avaliação da inflação europeia e portuguesa? Como são contados os desempregados que não se apresentam nos Centros de Emprego? Onde estão os números da emigração? Será que um emigrante português no Reino Unido figura como emigrante, ou como simples cidadão europeu, activo em Portugal?! Que números são compilados para a determinação do PIB real?

Hard numbers: The economy is worse than you know
By Kevin Phillips, Harper's Magazine
In print: Sunday, April 27, 2008, in Tampabay.com

Ever since the 1960s, Washington has gulled its citizens and creditors by debasing official statistics, the vital instruments with which the vigor and muscle of the American economy are measured.

The effect has been to create a false sense of economic achievement and rectitude, allowing us to maintain artificially low interest rates, massive government borrowing, and a dangerous reliance on mortgage and financial debt even as real economic growth has been slower than claimed.

The corruption has tainted the very measures that most shape public perception of the economy:
  • The monthly Consumer Price Index (CPI), which serves as the chief bellwether of inflation;
  • The quarterly Gross Domestic Product (GDP), which tracks the U.S. economy's overall growth;
  • The monthly unemployment figure, which for the general public is perhaps the most vivid indicator of economic health or infirmity.

OAM 411 08-08-2008 18:55

Crescimento exponencial

Aritmética, população e energia

O preço do crude tem vindo a descer nos últimos dias. Mas não tenhamos ilusões! A crise energética veio para durar. Vamos mesmo mudar de vida, queiramos ou não.

A propaganda governamental, mais leviana em Portugal, nos Estados Unidos ou no Brasil, do que na Suécia ou em Espanha, não nos deve iludir. O actual paradigma energético tem os dias contados. Depois do crash course de Chris Martenson, proposto no artigo anterior, recomendo-vos a palestra do Dr. Albert Bartlett, que pode ser vista em vídeo (original), ou lida (em inglês, francês ou espanhol). Uma fascinante demonstração do impacto do crescimento exponencial na história dos organismos vivos.

Há coisas que podemos fazer por nós próprios, sem esperar pelas decisões tardias e contraproducentes de quem governa. O entendimento do que se passa e sobretudo daquilo que é preciso corrigir imediatamente, não está ao alcance dos modelos de acção político-partidária disponíveis. Teremos, aliás, que substituir as obsoletas máquinas adversativas dos actuais regimes democráticos ocidentais, cuja maneira de pensar e agir nos levará, a muito curto prazo, se não travarmos as suas decisões corruptas, demagógicas e populistas, ao desastre colectivo. A gravíssima e tripla crise energética, ambiental e financeira já começou. Algumas curvas fatais esperam por todos nós algures entre 2020 e 2030. E até lá, se não conseguirmos desenhar uma visão cultural alternativa para a civilização, haverá muita inquietação e tragédia.

Da arrepiante comunicação do reformado Professor Emérito de Física, da Universidade do Colorado (EUA), cito três magníficos exemplos de demonstração:

(...) Bacteria grow by doubling. One bacterium divides to become two, the two divide to become 4, the 4 become 8, 16 and so on. Suppose we had bacteria that doubled in number this way every minute. Suppose we put one of these bacteria into an empty bottle at 11:00 in the morning, and then observe that the bottle is full at 12:00 noon. There's our case of just ordinary steady growth: it has a doubling time of one minute, it’s in the finite environment of one bottle.

I want to ask you three questions. Number one: at what time was the bottle half full? Well, would you believe 11:59, one minute before 12:00? Because they double in number every minute.

And the second question: if you were an average bacterium in that bottle, at what time would you first realise you were running of space? Well, let’s just look at the last minutes in the bottle. At 12:00 noon, it’s full; one minute before, it’s half full; 2 minutes before, it’s a quarter full; then an 1/8th; then a 1/16th. Let me ask you, at 5 minutes before 12:00, when the bottle is only 3% full and is 97% open space just yearning for development, how many of you would realise there’s a problem?

(...) So no matter how you cut it, in your life expectancy, you are going to see the peak of world oil production. And you’ve got to ask yourself, what is life going to be like when we have a declining world production of petroleum, and we have a growing world population, and we have a growing world per capita demand for oil. Think about it.

(...) Bill Moyers interviewed Isaac Asimov. He asked Asimov, “What happens to the idea of the dignity of the human species if this population growth continues?” and Asimov says, “It’ll be completely destroyed. I like to use what I call my bathroom metaphor. If two people live in an apartment, and there are two bathrooms, then they both have freedom of the bathroom. You can go to the bathroom anytime you want, stay as long as you want, for whatever you need. And everyone believes in freedom of the bathroom. It should be right there in the constitution. But if you have twenty people in the apartment and two bathrooms, then no matter how much every person believes in freedom of the bathroom, there’s no such thing. You have to set up times for each person, you have to bang on the door, ‘Aren't you through yet?’ and so on.” And Asimov concluded with one of the most profound observations I've seen in years. He said, “In the same way, democracy cannot survive overpopulation. Human dignity cannot survive overpopulation. Convenience and decency cannot survive overpopulation. As you put more and more people into the world, the value of life not only declines, it disappears. It doesn’t matter if someone dies, the more people there are, the less one individual matters.”



OAM 410 08-08-2008 14:07 (última actualização 10-08-2008 17:45)

Curso de Verão - Economia

Chris Martenson
um dia para conhecer a economia actual


Tudo o que você precisa de saber sobre economia sem frequentar a universidade, num extraordinário curso online, da autoria do cientista especializado em finanças e estratégias de sobrevivência, que é ao mesmo tempo, a par de Elaine Meinel Supkis e de Immanuel Wallerstein, um dos mais notáveis analistas (news services) norte-americanos da actualidade: Chris Martenson.

Para entender a complexidade e os desafios da actualidade, Chris Martenson propõe um modelo analítico a que chama de "Três E"":
  1. Economia
    • crescimento exponencial do dinheiro
    • colapso de uma bolha financeira
    • demografia
  2. Energia
    • Pico petrolífero
  3. Ambiente (Environment)
    • Alterações climáticas
    • Produção alimentar
Para já, foram publicadas 16 lições. A não perder (apenas em inglês).
Chris Martenson é autor do já famoso livro The End of Money and the Struggle for Finantial Privacy.

OAM 409 08-08-2008 11:17