terça-feira, novembro 30, 2010

Bancarrota - 6

Medidas simples, duras, mas claras e eficazes
Ponham um tecto máximo nas reformas pagas pelo Estado... de 1700 euros, e ponha-se fim à acumulação de pensões e reformas pagas com o dinheiro dos contribuintes. Como a Suíça fará a partir de 2011. Quem quiser mais, poupe e invista em PPRs.




Reformas na Suíça com tecto máximo de 1700 euros
Na Suíça, ao contrário de Portugal, não há reformas de luxo. Para evitar a ruína da Segurança Social, o governo helvético fixou que o máximo que um suíço pode receber de reforma são 1700 euros. E assim, sobra dinheiro para distribuir pelas pensões mais baixas. — 2010-11-10. Ver Causa defendida no Facebook

Banco de Portugal: Sector público tem de aumentar poupança
O Banco de Portugal antecipa uma recessão em 2011, por efeito do Orçamento do Estado. Um ajustamento inescapável, diz, defendendo como “prioridade” o aumento da poupança do sector público. Os investimentos, defende, devem ser canalizados “para finalidades comprovadamente reprodutivas”. E só a credibilidade na execução orçamental reduzirá os custos da mudança. — Jornal de Negócios.

domingo, novembro 28, 2010

Bancarrota-5

Dívidas soberanas, quem paga?

Photograph: Matt Dunham/AP
The sorrow of Portugal

Yesterday, I had a rather sad conversation with a friend in Portugal. The country has just had to force through another austerity budget; and fears are mounting that it will be next in line for an EU bail-out. “We should never have entered the euro”, my friend lamented. “Everything went downhill from there. For us and for everyone.” — in Finantial Times, Nov. 26, 2010.

Those too young to vote, yet with their futures at stake, have organically come together to be heard.

'The word spread through Twitter and Facebook; rumours passed around classrooms and meeting halls: get to Westminster, show them your anger.'

Outside Downing Street, in front of a line of riot police, I am sitting beside a makeshift campfire. It's cold, and the schoolchildren who have skipped classes gather around as a student with a three-string guitar strikes up the chords to Tracy Chapman's Talkin Bout a Revolution. The kids start to sing, sweet and off-key, an apocalyptic choir knotted around a small bright circle of warmth and energy. "Finally the tables are starting to turn," they sing, the sound of their voices drowning out the drone of helicopters and the screams from the edge of the kettle. "Finally the tables are starting to turn."

Then a cop smashes into the circle. The police shove us out of the way and the camp evaporates in a hiss of smoke, forcing us forward. Not all of us know how we got here, but we're being crammed in with brutal efficiency: the press of bodies is vice-tight and still the cops are screaming at us to move forward. Beside me, a schoolgirl is crying. She is just 14. — in Guardian.co.uk, 24 Nov, 2010.

A União Europeia pode quebrar pelo elo mais forte: a Alemanha. Porquê? Porque das duas uma: ou os estados falidos da Europa assumem rapidamente dietas violentas nos seus orçamentos Pantagruélicos, e por esta via põem em causa os privilégios das corporações, nomenclaturas, burocracias e bases eleitorais de que dependem para se manterem no poder, ou então, persistem nas actuais manobras de retórica populista e de dissimulação orçamental com as graves implicações que uma tal opção terá para o euro enquanto moeda de reserva alternativa ao papel higiénico norte-americano. Adiar por mais um ano, ou até por mais seis meses, a inevitável austeridade orçamental que permitirá estancar a gangrena financeira dos países sobre-endividados, levará o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF) a ter que duplicar a sua actual capacidade de resgate das dívidas soberanas (750 mil milhões de euros), para acudir ao dominó das bancarrotas europeias actualmente em curso.

A simples probabilidade de o Banco Central Europeu entrar pela mesma via da Reserva Federal, o chamado Quantitative Easing (QE), pondo os computadores a criar dinheiro electrónico sem qualquer base de riqueza efectivamente criada, levou já o Brasil, a China, a Rússia e o Irão —a que se somará em breve um número crescente de países produtores de matérias primas, energia e trabalho barato— a estabelecer uma estratégia monetária de recurso que poderá passar pelo abandono das moedas de reserva americana e europeia. A actual corrida ao ouro e à prata, e a retenção destes metais preciosos pelos grandes produtores, são um sintoma claro de que o sistema monetário nascido dos acordos de Bretton Woods está mais do que moribundo. Morreu e vai ser em breve enterrado.

Os verdadeiros credores da nossa dívida colectiva, pública e privada, isto é, aqueles que produzem a maioria dos bens transaccionáveis que preenchem as nossas vidas mais ou menos confortáveis e neuróticas, não estão dispostos a financiar por muito mais tempo o nosso consumo e o nosso lazer sem um contra-valor real. A China, o Brasil, a Rússia, o Irão, e os estados petrolíferos do Médio Oriente, estão atulhados de liquidez virtual e fartos de inflação. Querem agora uma parte crescente dos nossos activos em troca de mais petróleo, em troca de mais soja, e em troca de mais telemóveis e computadores.

A Revolução Industrial fez-se em cima de uma escabrosa pilha de cadáveres e escravos. Durou 200 anos e não sobreviverá a 2030. Os escravos coloniais, sobretudo depois do renascimento da China, e da grande rebelião muçulmana em curso, deixaram de obedecer ao império judaico-cristão e rejeitam também categoricamente a supremacia branca, anglo-saxónica e protestante. Um novo mundo, inimaginável por enquanto, está em gestação. A geratriz desta revolução está no Oriente. Aos antigos cruzados resta-lhe acordar.

Os desafios são arrepiantes. Não, não são nenhuma farsa, como as minocracias burocráticas europeias querem fazer crer. A Alemanha está muito consciente destas ameaças, e por isso não irá tolerar por muito mais tempo a irresponsabilidade populista dos pequenos burocratas e regimes corruptos do Sul da Europa. Em breve colocará a União perante um dilema sem precedentes: ou se colocam os PIGS em quarentena, fora do euro, durante 1, 2, 4... 10 anos, ou a Alemanha bate com a porta e regressa ao marco. Se o falido Reino Unido continua com a sua libra esterlina, se a Suécia continua com a sua coroa, porque não libertar a economia alemã do fardo de alimentar porcos a pérolas e burros a pão de Ló? Na realidade, parece-me mais verosímil uma saída da Alemanha do Sistema Monetário Europeu, do que a expulsão das paquidérmicas minocracias burocráticas do Sul da Europa, e da sacrificada Irlanda, do ilusório bem-estar em que têm vivido desde o aparecimento da moeda única.

Premier Wen Jiabao shakes hands with his Russian counterpart Vladimir Putin
on a visit to St. Petersburg on Tuesday. ALEXEY DRUZHININ / AFP

China, Russia quit dollar in trade settlement

China and Russia have decided to renounce the US dollar and resort to using their own currencies for bilateral trade, Premier Wen Jiabao and his Russian counterpart Vladimir Putin announced late on Tuesday. — in People's Daily Online, November 24, 2010.

Yuan begins trading against the rouble

SHANGHAI - China started allowing the yuan to trade against the Russian rouble in the interbank market from Monday as policymakers promote the currency's use in global trade and finance.

The move will help "facilitate bilateral trade between China and Russia and help develop yuan trade settlements," according to a statement published on the website of the China Foreign Exchange Trade System (CFETS), a subsidiary of the People's Bank of China. — in China Daily, Nov. 23, 2010.

Crisis of Fiat Currencies: US Dollar Surpluses Converted into Gold
China, Russia, Iran are Dumping the Dollar

China and Russia are both large gold producers and for a number of years have been buying up domestic gold and silver production, so that it never reaches the market and does not affect prices. If anything the absence of sales tends to push the markets higher. As a matter of fact Russia and India are visible buyers. Even Iran with its oil surplus recently announced that they had purchased 340 tons of gold. Their recent gold purchases are very significant as affiliate members, which have access to the present and ultimate direction of the group. You might say buying gold has been a protective effort to shield members and close observers from the problems generated by dollar policies. They are accumulating gold, as many have been worldwide, for the past ten years, but particularly over the past few years. — in Global Research, November 22, 2010.

China to rebuild Argentine rail
BEIJING - CHINA and Argentina have agreed to invest about US$10 billion (S$13.8 billion) over several years to renovate the Latin American country's dilapidated railway system and build a subway for its second-largest city.

(…) Argentina's once-extensive rail network was largely dismantled during the privatisations of the 1990s. But as agricultural output soars, farmers and grain elevators - who send more than 80 per cent of grains by costly road transport - have been calling for investment to revive the railways. —  in Strait Times, Jul 13, 2010.

China, Argentina to settle trade in yuan: Xinhua

HONG KONG (MarketWatch) -- China and Argentina have agreed to set up a 70 billion yuan ($10.24 billion) currency swap system that will enable trade between the two nations to be settled in the Chinese currency, the state-run Xinhua News Agency reported Monday. — in Market Watch, March 30, 2009.

Os dados estão lançados. Não vejo como possamos, a menos que optemos por uma sinistra deriva suicida, deixar de olhar os problemas de frente. A globalização, tal como foi engendrada, exportou a economia para o Oriente (1) e levou o Ocidente à bancarrota. Para controlar os estragos e retomar um certo equilíbrio na divisão internacional do trabalho teremos que voltar a levantar barreiras à circulação libertina dos capitais, das mercadorias e das pessoas, em nome da integridade produtiva das nações e em nome da sustentabilidade dos ecossistemas de que a vida humana é parte integrante e indissociável.

As democracias ocidentais deixaram há muito de ser democracias (basta ler as estatísticas eleitorais.) Na realidade, o que temos são sociedades burocráticas sem trabalho, que nada ou pouco produzem, e que consomem o que de facto não podem pagar, a não ser contraindo mais daquilo que rapidamente aprendemos todos a contrair nas últimas quatro décadas: dívidas!

Os países europeus terão que passar rapidamente por um processo de profunda revolução ideológica e política. Vai ser preciso libertar da esfera burocrática estatal toda a comunicação, toda a administração e toda a ciência. Mas vai ser, por outro lado, absolutamente necessário reincorporar na esfera social, de uma forma distinta dos actuais sectores públicos, e público-privados, o bem comum: o ar que respiramos, a água que bebemos e alimenta o resto da Natureza, as vias da mobilidade humana, as fontes de energia, a agricultura e a indústria. Não é a propriedade privada em si que está em causa, mas a sua concentração, monopolização e transfiguração financeira. A tarefa é avassaladora e complexa. Mas nem por isso menos inadiável.


NOTAS
  1. List of countries by steel production

sábado, novembro 20, 2010

O amigo americano

Portugal, uma espécie de Suíça diplomática?

Air Force One com Barack Obama aterra na Portela (Foto —pormenor— de Rui Spotter)
Com a 10ª maior ZEE do mundo em perspectiva, Portugal passará a deter um domínio estratégico na ordem dos 3.119.799 Km2. Só para termos uma ideia do que isto é, basta pensar que corresponde mais ou menos à superfície da Índia. Embora o Portugal à tona dos mares (continental e insulares) ocupe a modestíssima posição 109 entre todos os países do mundo, já quando medimos o território nacional e a sua ZEE, ficaremos certamente entre os 10 maiores países do mundo!  — in O António Maria, 22 nov 2008.

Escrevi há exactamente dois anos atrás que Portugal voltará a ter um papel de charneira diplomática entre o Ocidente e o Oriente. A formulação de um novo Tratado de Tordesilhas aproxima-se rapidamente. Previ então que a nova Rússia penderia para Ocidente. Vamos ver o que nos reservam a segunda viagem de Medvedev a Portugal e esta crucial Cimeira da NATO (1).

Pensemos por um momento nesta coincidência: Durão Barroso tornou-se presidente da Comissão Europeia na era Bush, e viu renovado o seu cargo já com Obama no poder; Vítor Constâncio é chamado a ocupar o cargo de vide-presidente do Banco Central Europeu no pico da maior crise financeira mundial desde 1929, e certamente naquela que é a maior ameaça à consolidação do euro como nova moeda de reserva mundial; Portugal venceu o Canadá na corrida para a posição de membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU; António Borges é o novo director para a Europa do FMI; António Horta Osório tornou-se recentemente presidente executivo do Lloyds Bank, deixando o Santander; Hu Jintao decidiu fazer uma viagem relâmpago a Lisboa poucos dias antes da cimeira da NATO, a que se seguiria uma viagem igualmente relâmpago de Sócrates a Macau, para se encontrar com o primeiro ministro chinês Wen Jiabao; Obama, enfim, escolhe Portugal para aquela que é já uma das mais importantes reuniões da NATO de sempre — pois, ao contrário dos inúmeros obituários já escritos sobre a organização, esta poderá ser dado neste encontro à beira Tejo o pontapé de saída para uma nova partilha do planeta entre os hemisférios ocidental e oriental. É o que venho chamando há já alguns anos o novo Tratado de Tordesilhas.


Tal como quando a Inglaterra viu bloqueados os seus acessos ao Oriente e ao Norte de África, por causa do fiasco das Cruzadas e da Guerra dos Cem Anos, teve que se virar para a praia lusitana, casando a sua Princesa Filipa de Lencastre com João I de Portugal, como meio expedito de lançar uma ponte em direcção ao Golfo da Guiné (a célebre Costa do Ouro), onde se encontrava o metal de que tanto precisava, nomeadamente para pagar a guerra contra os franceses, também agora a América e o Reino Unido, ambos falidos até à medula, e de quem a Alemanha, a Rússia, a China e 4/5 do planeta desconfiam, precisam hoje de Portugal e do seu imenso mar territorial, para segurar o Atlântico Norte e Sul, impedir a expansão descontrolada da China e garantir os bons ofícios de um amigo nos corredores da diplomacia do euro.


Portugal é um país pequeno, mal governado e coberto de dívidas. Mas se houver alguém lúcido entre as nossas desmioladas elites, verá que está na hora de arregaçar as mangas e de disciplinar a burguesia clientelar, as corporações profissionais e partidárias, e a burocracia, por forma a podermos tirar real vantagem da nossa nova centralidade geo-estratégica. É preciso acantonar imediatamente a corrupção, o desperdício e a balbúrdia parlamentar. Só depois, poderemos renegociar as nossas dívidas em paz, sem assassinar a classe média, nem humilhar os pobres, os desempregados e os idosos. Só depois poderemos cobrar à vontade, de Washington a Pequim, a nossa boa vontade e experiência diplomáticas. Um pequena quermesse entre os grandes colocará as nossas finanças públicas em ordem num ápice. Mas antes de tudo o mais teremos que despedir o imprestável Sócrates, e o imprestável Cavaco, mais as procissões de inúteis e corruptos que os seguem.

NOTAS
  1. Pouco depois de publicado este texto, veio a confirmação (ler notícia do DN) de que a Rússia iniciou oficialmente um processo de convergência com os países da NATO. O cenário de um dia destes estar entalada entre a China e o Irão foi seguramente determinante para a nova estratégia de Moscovo.

terça-feira, novembro 16, 2010

Novo Estado

nE
O Estado português nascido em 25 de Abril de 1974 morreu de hipertrofia. Logo, é preciso um "novo Estado" (nE). Não confundir com Estado Novo!

O velho Estado era assim:
  • grande, obeso, paquidérmico
  • invasivo
  • ineficiente
  • gastador
  • burocrático
  • corporativo
  • clientelar
  • opaco
  • populista
  • corrupto
O novo Estado deveria ser assim:
  • pequeno
  • regulador
  • eficiente
  • poupado
  • expedito
  • estratégico
  • democrático
  • transparente
  • solidário
Os paradigmas actuais da discussão política, impostos pelos partidocratas do regime, são inúteis. É preciso mudar os termos do debate público democrático.

Banqueiros piratas

Não têm emenda!



Sócrates e Cavaco querem negociar por baixo da mesa, com Passos de Coelho, duas grandes obras públicas desenhadas à medida das suas clientelas: o novo aeroporto da Ota em Alcochete (os terrenos foram comprados pela SLN dos piratas do BPN) e o "TGV", por imposição dos nossos maiores credores: Espanha!

O que o pirata-mor Ricardo Salgado disse à senhora Judite de Sousa na Grande Entrevista da RTP 1 sobre o novo aeroporto e a TAP é uma completa mistificação e mais uma tentativa descarada de embuste. Foi para passar esta manobra que se fez "entrevistar". Já ninguém se lembra, pelos vistos, se é que alguma vez a imprensa se fez eco do escândalo, que foi este mesmo pirata quem impingiu a falida Portugália Airlines (PGA) à falida à TAP, por mais de 100 milhões de euros!

Vamos aos factos duradouros e praticamente inamovíveis:
  • Tráfego de e para a Europa na Portela = 84%
    • União Europeia — 55%
    • Portugal e Ilhas — 24%
    • restante Europa — 5%
  • Tráfego de e para países terceiros = 16,5%.
    Curiosidade: nestas rotas, em 2007, apenas um Boieng 747 aterrava diariamente na Portela, mas há 10 anos eram 4, e no início dos anos 70 aterravam e descolavam diariamente várias destas enormes aeronaves.
A pergunta óbvia é esta: justifica-se gastar 5 mil milhões de euros para servir o A380?
Claro que não! E porquê?
  1. Em primeiro lugar, porque o A380, mais silencioso e ágil do que o Boeing 747, pode aterrar e manobrar perfeitamente na Portela;
  2. Em segundo lugar, e mais importante, porque o A380 vai ser utilizado sobretudo nas rotas de longo curso e grande tráfego como as de Nova Iorque-Paris, Nova Iorque-Londres, São Paulo-Londres, São Paulo-Paris, São Paulo-Frankfurt, São Paulo-Beijing, São Paulo-Xangai, etc. Ou seja, num campeonato que não está ao alcance de um país periférico e falido como Portugal.
Logo, o que está em causa na manobra de pressão do senhor do BES, e por interposta pessoa, dos piratas da SLN/BPN, e dos seus acólitos partidários, é simplesmente compensar, num toma lá dá cá, a ligação ferroviária de Alta Velocidade/Velocidade Elevada para passageiros e mercadorias entre Caia e Lisboa (Poceirão e Pinhal Novo ficam na Grande Lisboa!), contratada e confirmada com Madrid em várias cimeiras ibéricas, por um aeroporto inútil que, não só não salvará a falida TAP, como, tal como sucedeu com o novo aeroporto de Atenas, nos conduzirá mais depressa para uma década de bancarrota e vergonha nacional.

A canalha que se governa com o país só tem que ter presente uma coisa: sempre que fomos à falência, o regime mudou de mãos!

domingo, novembro 14, 2010

Bancarrota-4

Expulsar Portugal da Eurolândia?

Masaccio, "Expulsão de Adão e Eva do Paraíso"

O charlatão que elegemos para primeiro ministro anunciou, em perfeito jet lag (1), mais uma boa notícia sobre a nossa excelente economia: estamos a crescer mais do que o previsto e mais do que a generalidade dos nossos parceiros europeus. Esqueceu-se "o engenheiro" de dizer que a boa performance das exportações se deve ao crescimento alemão, que houve compras antecipadas e por atacado de automóveis e outros bens e serviços na previsão de uma subida generalizada dos impostos, e que pese embora as quebras acentuadas das receitas turísticas, sobretudo hoteleiras, o fenómeno chamado Low Cost deu origem a uma verdadeira ponte aérea entre Porto, Lisboa, Faro e Funchal, de um lado, e dezenas de cidades europeias, originando uma nova e surpreendente classe de passageiros frequentes composta por emigrantes portugueses. Ouve-se falar inglês, italiano e francês no Porto e Matosinhos, como nunca se ouviu. Mas o que realmente tem feito a diferença, suspeito bem, é a frequência com que os nossos emigrantes se deslocam a Portugal, para ver familiares, tratar dos seus negócios e comer pataniscas, desde que a Ryanair, a easyJet, a Vueling e a Air Berlim, entre outras companhias aéreas de baixo custo, começaram a fazer o que a TAP (2) há muito deveria ter começado a fazer, mas não fez — subordinada que esteve nas últimas décadas aos negócios privados dos piratas do Bloco Central e da Tríade de Macau.

Das exportações atraídas pelo crescimento alemão e asiático, e dos fluxos de poupança que as mais recentes vagas de emigração aportam ao país, ninguém se pode queixar e todos temos que agradecer. São factores de resiliência que ajudam a compreender porque não nos estatelamos ainda ao comprido, mas que nenhum político pode exibir como mérito próprio. A corja partidária, sobretudo aquela corja que há três décadas coloniza a nossa democracia como se de uma coutada ou grande tacho se tratasse, continua a comportar-se, no meio da maior crise de endividamento de que há memória neste país, como uma insaciável ninhada de ratos mimados. O descalabro começou na fase terminal da dita era Cavaco. Daí a aliança descarada entre o incapaz e recandidato presidente, e o mitómano que dá pelo nome de Sócrates!

Mas se é verdade que as exportações têm vindo a crescer a bom ritmo, e que centenas de milhar de portugueses emigrados continuam a investir no seu país, não é menos verdade que o nosso endividamento colectivo, a dívida externa portuguesa, e sobretudo o escandaloso descalabro das finanças públicas geridas pelo Terreiro do Paço, ameaçam atirar Portugal para fora do Sistema Monetário Europeu, isto é, para fora do euro! Se em 2011 Portugal, como é cada vez mais provável, suspender o pagamento de dívidas ao exterior e declarar a bancarrota do Estado, a que se seguirá um processo formal de reestruturação da sua dívida soberana, não será o fim do mundo, mas será certamente o princípio do fim desta República.

É à luz da óbvia gravidade da situação em que nos encontramos que as palavras de Luís Amado ao Expresso e a agitação crescente nas hostes do PS devem ser compreendidas. O Partido Socialista, se não conseguir acantonar a horda de piratas que tomou de assalto o PS e o Estado, entrará num imparável e humilhante processo de suicídio político e desagregação. Para evitar esta possível morte prematura, só tem uma coisa a fazer: apear o vilão Sócrates do poleiro!

Como aqui se escreveu várias vezes, o actual ministro dos negócios estrangeiros seria uma boa alternativa ao imprestável Sócrates, na perspectiva da formação duma grande coligação governativa (PS, PSD, CDS). Esta coligação, apesar de problemática, é há muito a única geometria político-partidária, no actual quadro constitucional, capaz e reunir a autoridade democrática e traçar a bissectriz programática imprescindíveis ao estabelecimento dum acordo de regime para uma década, do qual venha a constar como prioridade única fundamental o emagrecimento do paquiderme estatal criado pela simbiose oportunista entre a nomenclatura partidária, a burguesia corporativa, a clientela económico-financeira e a burocracia (3). Um estado menos obeso será necessariamente mais transparente, mais ágil, e mais solidário.



As alternativas reduziram-se drasticamente nos últimos meses. Se nada se fizer no PS —i.e. se ninguém com a coragem suficiente exigir um congresso socialista antes mesmo das próximas presidenciais (marcando em larga medida o desfecho destas) para apear Sócrates e a canalha que o rodeia, e preparar o PS para forçar o inanimado Cavaco e o novel Passos de Coelho a sentarem-se à mesa de uma grande coligação, então seremos inexoravelmente expulsos do euro (4).

NOTAS
  1.  Sócrates estava em Macau quando se congratulou com o crescimento inesperado do PIB, numa viagem desesperada para convencer o primeiro ministro chinês (Wen Jiabao) a convencer o presidente chinês (Hu Jintao) de que os piratas lusitanos que levaram Portugal à bancarrota precisam desesperadamente que a China compre um, dois, ou três mil milhões de euros da nossa dívida soberana, e que entrem também no capital dos sobre endividados BCP e EDP. Só que até agora, para além das palavras protocolares, népias! É provável que a China ajude Portugal, mas para que tal aconteça, creio que Hu Jinato e Wen Jiabao esperarão pela saída do imprestável Sócrates. É esta a conclusão que retiro das movimentações desesperadas da Tríade de Macau.
  2. Há muito que Bruxelas decidiu liberalizar os céus da Europa e privatizar o transporte aéreo, proibindo os estados nacionais de injectar dinheiro nas suas obesas e ineficientes companhias de bandeira. Países como Portugal, Espanha e outros inventaram no entanto mil e um subterfúgios para continuarem a alimentar o endividamento imparável destas companhias à custa dos contribuintes adormecidos — mantendo assim porcas orçamentais invisíveis com que têm vindo a amamentar as respectivas nomenclaturas, cada vez menos democráticas: partidos e deputados (recordemos o caso extraordinário da deputada Inês Medeiros, mas também os milhões em descontos destinados aos passageiros frequentes da nossa classe partidária), legiões de administradores fictícios e comissários políticos, e as empresas clientelares do regime (recorde-se o caso da falida PGA impingida politicamente pelo BES à falida TAP). A companhia administrada pelo gaúcho Fernando Pinto conta apenas com três activos de monta: a posição dominante nos voos entre o Brasil, Angola e Europa; os seus pilotos e o pessoal de manutenção de aeronaves. Tudo o resto é prejuízo ou leasings por pagar. Ou muito me engano, ou o governo português vai ser obrigado, por quem lhe empresta o dinheiro para pagar aos funcionários públicos, reformados e pensionistas, a privatizar a TAP em 2011. O governo "socialista" quererá fazê-lo, mas colocando o ónus do despedimento de alguns milhares de trabalhadores (336 da Groundforce já marcharam) aos ombros do comprador. Acontece, porém, que Sócrates e os capachos Vieira da Silva e Teixeira dos Santos, já perderam toda a margem de negociação. Resta-lhes tão só obedecer ao BCE e a Bruxelas. Ou então, um golpe de génio: vender a TAP, o BCP e uma fatia estratégica da EDP (10%) aos chineses! Sempre evitávamos a entrada de Madrid no Terreiro do Paço, e colocávamos Portugal num novo plano de diplomacia estratégica.
  3. Para além do emagrecimento do Estado e de boa parte das instituições democráticas (alteração da lei eleitoral e diminuição do número de deputados, câmaras municipais e freguesias urbanas), devemos exigir de quem nos levou à falência mais estas prioridades estratégicas:
    • revisão imediata de todas as Parcerias Público-Privadas, incluindo rescisão de boa parte das mesmas e incriminação eventual dos seus autores;
    • revisão imediata da política de gestão dos recursos hídricos nacionais, abolindo de imediato o sórdido processo de privatização das águas públicas;
    • revisão imediata da política energética nacional, trocando a actual estratégia de exaustão e assalto oligopólico aos recursos energéticos efectivos e potenciais do país, por uma estratégia pública rigorosa e drástica de eficiência energética;
    • actualização instantânea dos valores mínimos exigíveis das rendas urbanas, indexando os valores por metro quadrado a uma regra de cálculo transparente e justa, indexada ao efectivo poder de compra de cada cidade e aglomerado urbano, calculado pelos municípios e freguesias;
    • criação de um Plano Nacional de Mobilidade Sustentável, com gestão descentralizada até ao nível das freguesias, onde o transporte colectivo, público, empresarial e comunitário deverá contar com claros incentivos e benefícios, relativamente ao transporte individual motorizado;
    • simplificação da administração da justiça e efectivo controlo democrático sobre o poder judicial;
    • criação de legislação clara sobre a defesa legítima de interesses, conflitos de interesses, incompatibilidades e tráfico de influências;
    • liberalização do contrato de trabalho individual, tendo em vista a sua competitividade relativamente à legislação europeia predominante, regras de transparência e justiça relativa para ambas as partes contratantes.
  4. A saída de Portugal do Sistema Monetário Europeu seria sempre uma medida extrema que a Comissão Europeia procurará evitar a todo o custo. Até porque colocaria imediatamente na mesa os problemas da Irlanda e da Grécia — já para não falar de Espanha, a quarta economia da União. Prevejo, pois, que Bruxelas e o BCE prefiram manobrar no sentido da remoção do entulho socratino da nossa governança, e da formação de uma coligação governamental de grande maioria, com um primeiro ministro do PS e um vice-primeiro ministro do PSD, capaz de simultaneamente levar a legislatura até ao fim, e de introduzir as correcção drásticas de que Portugal precisa para reganhar a confiança dos mercados financeiros, destroçada pelas sistemáticas mentiras e manobras evasivas dos piratas que tomaram de assalto o PS e o País.

Última actualização: 14 novembro 2010; 10:49

terça-feira, novembro 09, 2010

Bancarrota-3

7,01% !

“Portugal continua a bater recordes na sua dívida a dez anos. Neste momento, estamos nos 7,01%, a taxa que o Estado iria pagar se se tivesse endividado hoje. Amanhã iremos fazer um leilão desta mesma dívida. Por isso, a não ser que haja uma recuperação forte, será à volta desta taxa que o Estado irá pagar”, indica Filipe Silva, gestor do mercado e dívida do Banco Carregosa. — Renascença.

Para termos uma ideia do que significa um juro de 7%, basta dizer que por cada mil milhões de endividamento teremos que pagar dois mil milhões daqui a dez anos, quando o empréstimo e respectivos juros estiverem finalmente saldados. Por cada euro, pagaremos dois, e assim sucessivamente.

Como as necessidades de endividamento anual do Estado estão na ordem dos 24 mil milhões de euros por ano, tal significa que daqui a 10 anos teremos que pagar o dobro destas quantias se os juros se mantiveram na casa dos 7%. É por causa deste simples cálculo, que na prática significa uma espiral de endividamento exponencial, que Portugal entrou inexoravelmente no precipício da bancarrota.

Nada nos salvará de uma intervenção drástica do Fundo de Estabilização Financeira Europeu e do FMI. Ou melhor, que venham o mais depressa possível, para evitar que os piratas que assaltaram o país continuem a roubar desalmadamente tudo o que podem e encontram pelo caminho!

O senhor constitucionalista Jorge de Miranda deveria reformar-se e deixar de dizer baboseiras. Os políticos que levam um país à bancarrota devem ser investigados, sim! E devem ser presos, se cometeram crimes, ainda que sob protecção de cargos ministeriais e públicos de diversa ordem, sim!!

Entretanto, recomendo a leitura de mais este artigo oportuno e bem meditado de Rui Rodrigues:
As infra-estruturas numa economia nova

Os únicos investimentos em infra-estruturas, em que se deveria apostar, seriam aqueles que poderiam tornar a economia mais competitiva e que possibilitassem o aumento das exportações, tais como numa nova rede ferroviária de bitola europeia e nos portos de mar. (Público)