segunda-feira, maio 02, 2011

Vencidos da Vida

O que é que correu assim tão mal?



A equipa liderada por Eduardo Catroga já entregou ao líder do PSD a proposta de programa eleitoral. Emocionado, Catroga admitiu que pertence a uma geração que não deixa Portugal melhor. TSF, 30-04-2011.
Todas as escolas reabilitadas pela Parque Escolar mais do que triplicaram os consumos energéticos. Em declarações ao Biosfera, muitas revelaram temer não ter dinheiro para manter os sistemas de ar condicionado e ventilação mecânica a funcionar. Se tal vier a acontecer, a qualidade do ar interior pode ficar pior do que estava antes das obras. Tudo por culpa de um conceito de escola em função dos sistemas mecânicos e de leis desajustadas à realidade. RTP/ Biosfera (Farol de Ideias).

Ao ver Eduardo Catroga dar conta do trabalho realizado para o programa de governo do PSD, reconhecendo o fracasso de um regime que se prepara para deixar atrás de si um país falido e com escassos recursos para se reerguer, fiquei tão comovido quanto ele. Que de tão errado fizemos afinal para desbaratar o capital de esperança nascido em 25 de abril de 1974? Esta é uma pergunta que vai levar décadas a responder.

Quando ontem ouvia o actor que faz de primeiro ministro recitar literal e repetidamente a mesma deixa teatral aos monocórdicos jornalistas que lhe perguntavam sobre os custos directos e indirectos da escandalosa operação E.P.E. Parque Escolar (2,9 mil milhões de euros gastos na requalificação especulativa de noventa escolas secundárias, a cargo da quinta mais endividada empresa pública portuguesa), pensei, este gajo, a turma de piratas que o colocou onde ainda está, e o PS são certamente os mais próximos, directos e pesados responsáveis pela bancarrota do país. Não basta, pois, perderem as próximas eleições; terão também que responder em tribunal pelos crimes de ocultação estatística, manipulação de informação e dilapidação do erário público.

O vendedor de atoalhados tinha, entretanto, decorado a oração populista, que recitava mais ou menos assim:

— Se fosse em Lisboa, não se importavam, não era? Mas como é na província...
— O que vocês queriam é que eu não investisse na educação e na qualificação do país! Mas não, tra-la-lá tra-la-lá, tra-la-lá....

A nenhum dos jornalistas precários lhe ocorreu uma de duas perguntas:

— Ó senhor primeiro ministro, diga lá ao país quem é que vai pagar a factura destas três novas pontes Vasco Gama;
— Ó senhor primeiro ministro, diga lá quem é que vai pagar a triplicação das facturas energéticas deste novo parque escolar. Os directores das escolas já começaram a dizer que sem dinheiro do ministério da educação, terão que desligar o ar condicionado e que não vão poder pagar à E.P.E. Parque Escolar o que esta tenciona cobrar-lhes nos próximos anos. Quem vai então pagar estas facturas, senhor primeiro ministro?

O grau de destruição infligido ao potencial produtivo do país foi enorme, e decorreu sobretudo nos últimos dez anos. Nos últimos cinco, quando já era evidente a crise do endividamento especulativo iniciada nos Estados Unidos e o maremoto que atingiria inevitavelmente a Europa, José Sócrates, Teixeira dos Santos, e o PS multiplicaram-se em road shows e power points sobre a gloriosa caminhada de Portugal para o topo do desenvolvimento tecnológico (bolseiros e investigadores científicos já começaram a fugir de novo...), para o topo das energias renováveis (ambas falidas: a solar e a eólica...), para o topo da mobilidade em matéria de novas autoestradas e aeroportos às moscas, e ainda para o topo da resistência à crise internacional. Resultado: a bancarrota do país!

Todos os indicadores apontam, uma vez assumida toda a informação escondida ou disfarçada pelo INE e pelo governo, para a maior crise que alguma tivemos desde finais do século 19. Endividamento, desemprego e emigração atingiram proporções verdadeiramente criminosas. Tão cedo não nos levantaremos. Foi isto que emocionou Catroga, e é isto que me deixa furioso uma boa parte dos dias.

Mas pior: a crise conjuntural, que é muito grave, cai, de facto, em cima de uma crise larvar, mais grave ainda, pois tem origem num modelo inviável de sociedade, de economia e de poder, que arrastamos connosco desde a independência do Brasil.

Enquanto não percebermos que o que está em causa é o fim de um longuíssimo ciclo de vida colonial, a que não poderemos regressar, seremos incapazes de nos redefinirmos como nação e como país independente. E não seremos capazes de nos governar, nem mesmo na qualidade de estado federado.

Em breve, se não houver uma nova e desta vez verdadeira revolução democrática em Portugal —pois continuamos essencialmente iguais ao que fomos na primeira república, e ligeiramente diferentes do que fomos durante a ditadura (mas aqui por mérito do ditador)— seremos engolidos pela Espanha, pelo BCE e por Bruxelas, e tratados como mera província europeia, sob vigilância e rédea curta.

É isto que queremos? Se é, votemos no mitómano que atirou o país para o caixote do lixo da História. Se não, ponhamos a imaginação a trabalhar. Há uma estreita janela de oportunidade, mas tempo escasso para agir.

domingo, maio 01, 2011

Portas, primeiro ministro?

Creio que foi neste blogue que, pela primeira vez, se colocou a hipótese de Paulo Portas vir a ser o próximo primeiro ministro. O próprio acabaria por anunciar formalmente essa ambição no passado dia 29 de abril. Et pour cause!

Como aqui já se escreveu, há uma hipótese, embora remota, de Sócrates e a pandilha de piratas de que faz parte tentarem aliar-se ao PCP e ao Bloco de Esquerda de forma subreptícia, em volta de uma solução alternativa ao pacote de saneamento financeiro que a troika proporá em breve: reestruturar a dívida soberana. É o que designo por Frente Populista. Embora altamente improvável, esta vitória de Pirro não é de todo impossível, e se vier a ocorrer, o mais provável primeiro ministro deste governo condenado ao insucesso seria, não o exausto e descartável Sócrates, mas Ferro Rodrigues.

Portugal é neste momento a borboleta cujo bater de asas pode ditar involuntariamente o futuro do euro, da Alemanha e da Europa. Não nos esqueçamos que está em curso a primeira grande guerra financeira mundial, e que os PIGS são o primeiro e principal campo de batalha desta guerra, enquanto de Cabul a Marraquexe continuam a guerra e os conflitos militares assimétricos pela reconstituição do Império Islâmico (em si mesma favorável aos interesses da China, Japão, Brasil, Turquia, mas também aos interesses geoestratégicos da Europa mediterrânica e do sudoeste atlântico: Grécia, Itália, Espanha e Portugal).

Quero crer, porém, que a solução da troika vencerá o primeiro round do saneamento da dívida soberana portuguesa, apoiado-se nomeadamente nas imensas reservas financeiras da China — que já tornou oficial o seu interesse em manter a Europa estável e o euro como alternativa de recurso ao colapso do dólar americano. Se assim for, a derrota do PS de Sócrates e da tríade de Macau será redonda. Mesmo assim, o PSD e o CDS poderão não conseguir a maioria imprescindível à revisão constitucional objectivamente imposta pela troika como contrapartida do auxílio comunitário. O país precisa, de facto, de uma maioria constitucional para ultrapassar a bancarrota a que Sócrates, a tríade de Macau e o PS conduziram o país. E neste caso, só mesmo um governo de coligação entre o PSD, CDS-PP e PS será garantia suficiente para uma aprovação unânime do resgate comunitário da dívida portuguesa. Passos Coelho jamais aceitaria o regresso de Sócrates. E Sócrates, se se mantiver como consigliere da tríade que capturou o PS, jamais aceitaria ser segundo do actual líder do PSD. Logo, Paulo Portas poderá mesmo aparecer em breve como a única solução prática disponível para resolver um verosímil impasse pós-eleitoral.

Em qualquer caso, penso como Eduardo Catroga: Sócrates e uns tantos mais devem ser julgados pela destruição financeira de Portugal.

sábado, abril 30, 2011

A Frente Populista

PCP, Bloco e... PS apostam na bancarrota de Portugal

Álvaro Santos Pereira: votar no actual Governo “é votar na bancarrota”

"Vão haver consequências muito graves se votarmos no Governo atual. Votar no Governo atual, quando a mim é votar na bancarrota, é votar para os nossos filhos emigrarem, é votar para ter a maior taxa de desemprego dos últimos 90 anos, votar neste Governo é votar na irresponsabilidades e certamente votar na bancarrota do país", afirmou o economista durante a sua apresentação no evento final do movimento "Mais Sociedade" — in Jornal de Negócios (29-04-2011).

Sócrates e a União Europeia

Já aqui escrevemos sobre a possível vantagem negocial de, uma vez claramente falidos (situação em que efectivamente nos encontramos), negociarmos a bancarrota directamente com os nossos principais credores (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido), em vez de negociar um resgate com o Fundo Europeu de Estabilização Financeira e o FMI. Na primeira opção, os nossos credores poderiam ser convencidos a aceitar um corte nas suas expectativas de lucro com a dívida portuguesa (o tal "hair cut"); mas na opção que Bruxelas e Frankfurt querem, Portugal fica fora dos mercados de financiamento externo enquanto durar a quarentena do resgate, e vê diminuir a margem de negociação à medida que a situação evolua num ou noutro sentido.

Em que ficamos? Quem irá esticar a corda? Sócrates? Se o fizer, terá que se socorrer de uma viragem bem nítida em direcção aos partidos à sua esquerda. O PCP já defende algo parecido com a negociação directa com os credores, fora da tutela do FMI (uma posição negocial de total realismo). Este golpe de asa, por incrível que pareça, poderia colocar toda a zona euro perante um enorme dilema: retirar a Portugal o euro, dando início a um inevitável Harakiri da moeda única; ou aceitar um grande debate político sobre o buraco negro do endividamento soberano europeu — de onde pudesse sair simultaneamente uma governação económica e financeira comunitária mais coerente e coesa, mas também mais solidária — in “O grande tuga”, O António Maria (10-04-2011).

Lendo o Expresso de hoje, 30 de abril, verifiquei que o debate sobre as alternativas para tratar da falência do país, a que dez anos de estagnação e seis de roubalheira e manipulação de massas, ao compasso diário de um tele-ponto mentiroso e obsessivo-compulsivo, nos conduziram, já está ao rubro. Inspiradas pelo Economist, multiplicam-se as opiniões que defendem uma reestruturação da nossa dívida colectiva, i.e. a assunção da bancarrota.

Que é melhor para Portugal? Assinar um contrato de resgate financeiro com a troika da Comissão Europeia, BCE e FMI, ou preparar desde já o terreno para uma reestruturação da dívida com os principais credores: Espanha, Alemanha, França e Reino Unido? O PSD, o CDS e parte do PS inclinam-se claramente para a primeira alternativa. O PCP tem vindo a defender a segunda opção. O Bloco de Esquerda, ao excluir, como o PCP, qualquer contacto com a troika, inclinar-se-à em breve para o cenário da ruptura de pagamentos e subsequente reestruturação da dívida soberana.

No primeiro caso, ainda que temperado pelo aparente bom senso do FMI, que se tem oposto à fúria liberal do BCE e do senhor Barroso, seremos forçados a adoptar um conjunto de medidas de grande austeridade, em troca do dinheiro adiantado pela troika para pagamento das dívidas inadiáveis, ao longo dos próximos três anos. Neste período, a redução do endividamento será uma prioridade absoluta, ficando a entrada de euros no país dependente do cumprimento do acordo que os credores e fiadores da nossa dívida exigem ver assinado até meados de maio pelos principais partidos do arco da governação (PS, PSD e CDS-PP). Neste período, se o acordo for mesmo conseguido, como se espera, a democracia portuguesa e o seu imprestável sistema partidário e constitucional ficarão suspensos numa espécie de quarentena, ou sanatório — como em tempos, num acto falhado premonitório, Manuela Ferreira Leite sugeriu!

Na alternativa em que o Economist, o Financial Times e em geral a frente anglo-saxónica anti-euro apostaram, mais cedo ou mais tarde, mesmo havendo um resgate inicial (que falhará, dizem, como na Grécia já falhou) é inevitável uma reestruturação das dívidas soberanas dos PIGS e, como consequência, o colapso do euro — objectivo estratégico do dólar-libra na sua guerra pela manutenção da moeda americana como principal meio de pagamento internacional.

Esta segunda opção supõe, no essencial, o seguinte: os países altamente endividados, interna e externamente, como a Grécia, a Irlanda, Portugal e Espanha —elos fracos de uma crise de endividamento especulativo mundial—  irão acabar por anunciar ao mundo que não poderão pagar parte das suas dívidas, alegando impossibilidade prática de o fazer, mas também que a responsabilidade das mesmas deve ser justamente repartida entre quem pediu e não deveria ter pedido, e quem emprestou e não deveria ter emprestado.

Será este o jogo escondido de Sócrates? Se for, precisará de fazer uma frente populista com o Bloco e com o PCP, que o senhor Cavaco terá naturalmente que empossar!

A minha convicção, porém, é que o FMI estará atento a esta deriva populista e ao consequente descarrilamento do sistema monetário europeu. Não podemos, no entanto, deixar de contar com os imponderáveis em crises como a que atravessamos. Se um país da União Europeia rejeitar o auxílio a Portugal, que acontecerá em Lisboa, e depois em Bruxelas, Paris e Berlim?

Numa perspectiva mais ampla e a mais longo prazo, porém, Portugal terá sempre que pagar a sua dívida, ou boa parte dela. E mais do que isso: terá que aprender muito rapidamente a mudar de hábitos e atitudes. A nossa Constituição terá que mudar, o nosso Estado terá que encolher, os nossos partidos terão que ser refundados, a burguesia encostada ao orçamento terá que ir à vida, e o povo terá que ser menos bovino. O velho mundo colonial morreu … acordem!!

sexta-feira, abril 29, 2011

Precisamos de mudar!

O discurso de Passos Coelho começa a ganhar forma

Precisamos de um ministro das finanças fiável e íntegro — coisa que neste momento não temos. É extraordinário que Portugal esteja, nesta curva perigosa da sua história, sem ministro das finanças, e que este, em vez de já ter batido com a porta (acordando o PS da sua modorra oportunista), se veja transformado num tapete abjecto para Sócrates limpar os pés e esfregar as mãos, substituindo-o por um zé ninguém (como é que ele se chama, mesmo?) nas negociações em curso sobre a bancarrota a que o PS e a tríade de Macau conduziram o país.

Os meninos traquinas e a rapaziada de calças roçadas de tanto opinar já devem ter percebido que cada vez que espetam alfinetes nas costas do líder laranja que elegeram, apenas fortalecem o rapaz da Jota. Os passos de Coelho ganham rumo a cada dia que passa. Já não são de coelho, mas de quem fez uma aposta forte no futuro.

Tem razão Passos Coelho: nesta altura do campeonato, ceder é morrer. Se os portugueses não o elegerem agora, pior para todos nós, pois tal significaria deixar o país entregue a uma esquerda cada vez mais imbecil e irresponsável e ao bando de piratas que persiste em arruinar Portugal.

Já disse que votarei, pela primeira vez, no PSD. O meu coração bate à esquerda, mas não o voto. Quando o PS mudar, voltarei a comprar rosas. Até lá, limito-me a cuidar daquelas que tenho no meu jardim.

Passos Coelho: "Eu sei que o Governo vai mudar" 
O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje que Portugal precisa de “restaurar a confiança”, de ter uma “verdadeira regulamentação da concorrência”, “investimentos reprodutivos” e disse saber que o “governo vai mudar”.

No discurso que fez no encerramento do Observatório para o Emprego da distrital do PSD em Vila Nova de Famalicão, o líder social-democrata deu conta do que o “país precisa”, destacando quatro pontos: “uma boa concorrência, simplificar as coisas, pôr as Finanças em ordem e de uma nova liderança”.

Segundo Passos Coelho “ainda há muita batota” e Portugal precisa de “uma verdadeira regulamentação da concorrência” pois o país não pode ter “um empreendedor que cumpra e um que não cumpra e seja beneficiado por isso”.

Para o líder do PSD “a aposta tem que ser na economia e isso não significa fazer TGV nem autoestradas”, mas sim “um investimento reprodutivo”.

Assim, adiantou, “o programa do PSD vai estar focado em fazer crescer Portugal” e isso passa por “exportar mais dando as mãos a países que falam português e que podem ajudar Portugal a chegar a novos mercados”.

Pedro Passos Coelho afirmou ainda que é preciso “restaurar a confiança na capacidade de Portugal” para cumprir o que é acordado.

“Precisamos que no final do dia se inverta o que se tem passado: uma incapacidade de cumprir o que acordámos”, pois, se tal acontecer com o acordo de ajuda externa, disse Passos Coelho, “o resultado será desastroso”.

Mas para que seja possível “varrer os maus resultados”, defendeu, “é preciso pôr as Finanças em ordem e de um Governo que dê o litro”.

O líder do PSD referiu ainda que “para que tudo isto aconteça o Governo tem que mudar”.

Pedro Passos Coelho acabou o discurso mostrando-se convicto que tal vai acontecer: “Eu sei que o Governo vai mudar”. — in i online.
Um aplauso e dois reparos apenas sobre um discurso que começa a ganhar forma, e uma boa forma:
  1. o reconhecimento implícito de que as PPP rodoviárias são um cancro mortal, é um grande passo político;
  2. a persistência das dúvidas sobre a rede ferroviária em bitola europeia (ligação Caia-Pinhal Novo), sobretudo depois de o governo espanhol ter anunciado que todos os troços entre Madrid e Badajoz (Caia) acabam de ser adjudicados, é um erro crasso (se quiser, explico-lhe porquê);
  3. o silêncio sobre o novo aeroporto de Alcochete, que a ser levado por diante implicaria a destruição do aeroporto da Portela, é deveras ensurdecedor; diga, ao menos, que com um novo governo só haverá novo aeroporto se os privados o quiserem construir suportando integralmente os respectivos custos, sem bombons, i.e. sem levarem em troca a ANA e os terrenos da Portela — como até Marcelo Rebelo de Sousa, que não sabe nada de aeroportos, chegou a promover na televisão.

quinta-feira, abril 28, 2011

Quem liquida, afinal, o Estado Social?

Não é o FMI, estúpido!

PPP - novo Hospital de Braga, Estado/GrupoMello

120 PPPs e concessões irão custar aos contribuintes 60 MIL MILHÕES DE EUROS! 

Este modelo de economia burocrática revela que Portugal continua, mais do que nunca, nas mãos de uma burguesia rendeira e de uma classe política  parasitária que protege a primeira contra os interesses da maioria.

Como diz Estela Barbot, quem rebentou e continua a rebentar com o Estado Social não é o FMI, mas esta corja indolente e oportunista, com as suas auto-estradas desertas e outras megalomanias (hospitais e fundações de luxo, estudos e mais estudos sobre cidades aeroportuárias que ninguém pediu, nem são economicamente viáveis, etc.)

Deve ser isto que os presidentes vivos querem preservar com a sua Nova União Nacional !

PPP - Parcerias Público-Privadas
Relatório 2010
Julho 2010
Direcção Geral do Tesouro e Finanças, de Julho de 2010
PDF-LINK

Artigo original de Rui Rodrigues, Público/Transportes (LINK)

Relato sobre as afirmações de Estela Barbot (Económico)

terça-feira, abril 26, 2011

Maioria silenciosa

Um partido que leva o país à bancarrota pode ganhar as próximas eleições!
...cerca de 1 milhão de eleitores beneficiam do CSI ou RSI, devem esse beneficio ao PS e a maioria tem consciência disso. Agora junte-se-lhes os boys que infestam os sectores administrativo ou empresarial do Estado e as empresas privadas que vivem à sombra do governo. É esta a almofada que suporta o PS e amortece o efeito dos erros cometidos pelo governo.

Se observarmos os resultados das eleições legislativas de 2009, vemos que o PS recebeu 36,6% com cerca de 2 milhões de votos. Donde concluímos que o governo PS pode levar o país à bancarrota sem que daí advenha, como consequência, a perda das eleições legislativas. Só um voto nulo maciço do restante eleitorado, um voto anulado com uma frase de protesto contra o PS, pode desalojar os socialistas do governo — in Cidade Lusa.
A maioria cor-de-rosa criou uma base populista de apoio formada pelo CSI (Complemento Solidário para Idosos), RSI (Rendimento Social de Inserção) e pela imensa rede de jobs for the boys-and-girls tecida pelo sistema partidário no seu conjunto, com especial destaque, ao longo da última década e meia, para o PS.

De leitura obrigatória, a análise da Cidade Lusa mostra como a tríade de Macau, de forma metódica e sibilina, montou a sua base de sustentação populista.

O PS poderá assim voltar a ganhar as eleições, colocando Portugal na senda dos novos regimes proto-fascistas que aí vêm. Há, porém, um limite objectivo que não conseguirá superar: para o nível catastrófico do nosso endividamento público e privado, nem que tivéssemos o petróleo de Chávez ou de Kadafi nos safaríamos do colapso, ou de uma correcção abrupta da  fantasia social em que vivemos. Se a Alemanha não quiser perder, uma vez mais, a Europa, é o que nos obrigará a fazer. Se a Espanha não quiser voltar ao terrível espectro de uma guerra civil, é o que nos obrigará a fazer. Ou seja, ambos os países, que são os nossos dois maiores credores (a que se segue a França), têm uma só escolha pela frente: ou deixar Portugal resvalar para um regime populista perigoso, com o efeito de boomerang que uma tal degenerescência da democracia pode causar, ou levantar imediatamente uma barreira financeira intransponível às tácticas oportunistas e corruptas que hoje imperam no espectro partidário lusitano.

Estive esta madrugada a reler um texto fundamental de Garret Hardin, publicado pela revista Science em 1968: The Tragedy of the Commons. Seria bom que os pessoas sérias e inteligentes deste país o relessem também.

domingo, abril 24, 2011

Portugal a descoberto

Ganhar com a falência de um país adormecido
A especulação é uma droga. Quem conhece os seus efeitos, não lhe resiste!

Um dos maiores vigaristas da nossa praça financeira é amigo íntimo (mesmo íntimo) de um dos maiores vigaristas que a política portuguesa alguma vez conheceu. Ambos apostam em lucrar como nunca com a falência de Portugal. Não os engavetem a tempo, e depois queixem-se!

Até Mário Soares se apercebeu do verdadeiro perigo que a democracia portuguesa corre se continuar entregue por mais alguns meses à turma de piratas que nos conduziu à beira do precipício.

Uma atitude firme do governador do Banco de Portugal, suspendendo por seis meses, ou ilegalizando mesmo, as operações a descoberto (short selling) com as obrigações e os títulos da dívida soberana —uma das clássicas e mais perigosas formas de especulação financeira (1) de que há memória— poderá, porém, fazer toda a diferença. Se Carlos Costa tiver coragem para avançar, e Pedro Passos Coelho antecipar o seu apoio a esta defesa in extremis do país, contra a grande pilhagem especulativa em preparação, ainda poderemos evitar que Portugal se transforme, como diz K. neste seu pertinente alerta, numa "colónia de escravos".

Começou o ataque a Portugal e à Grécia

POR FAVOR LEIAM ATÉ AO FIM:

As seguintes operações estão em andamento na Grécia, Portugal (e possivelmente em Espanha e Itália), com o objectivo de ganhar todo o dinheiro possível utilizando as dividas dos periféricos Europeus e os 400 mil do fundo de estabilização, instrumentalizando os stress tests dos bancos:

O objectivo é tirar partido da ineficiência criada pelo BCE, que emprestou dinheiro a juros reduzidos aos bancos portugueses para comprarem dívida pública portuguesa, o que duplicou o problema original.

A posterior subida dos juros no mercado secundário fez cair o valor das obrigações compradas pelos bancos portugueses. Esta queda do valor das obrigações fez cair os ratios de capital dos bancos. Quando os Stresstestes começaram, os bancos portugueses aperceberam-se da situação e levaram o Governo a um pedido de ajuda de cerca de 100 mil milhões.

Os 100 mil milhões destinavam-se inicialmente a comprar dívida pública portuguesa.

Assim, existem 100 mil milhões de Euros que poderão ser retirados do País com a seguinte

TÉCNICA:

A ideia é, vendendo obrigações a descoberto (short selling) criar a ilusão da existência de dois buracos que não existem, um na dívida e outro nos activos dos bancos, forçando o dinheiro da ajuda a tapar o buraco que seria criado nos bancos por uma reestruturação. Isto permite ganhos adicionais com short selling nos bancos.

Os juros são pressionados em alta no mercado secundário de obrigações portuguesas (fácil, pois é pouco líquido) no periodo em que é feito o stress test aos bancos.

Os ratios dos bancos descem fortemente obrigando o dinheiro da ajuda a ser usado para recapitalização dos bancos, de acordo com as exigências dos stress tests.

A dívida em si acaba por ser restruturada por pressões de agentes financeiros e meios de comunicação sobre o poder políticas e FMI (já o estão a fazer na Grécia). Ao não pagar o valor total da obrigação, estas vão proporcionar um ganho na maturidade às posições short, criando assim um buraco REAL nos activos dos bancos que assim substitui o anterior (que era VIRTUAL). Todo este dinheiro é discretamente ganho em posições curtas de Obrigações e de Bancos, sendo coberto pelo dinheiro do fundo de estabilização e FMI, deixando Portugal com uma dívida gigantesca. 
A única maneira de evitar este roubo é denunciar a situação e impedir a todo o custo a reestruturação da dívida publica. Receio que nem toda a gente esteja a ter a percepção disto. Quando comecei a ouvir as notícias sobre a reestruturação na Grécia, não vi ninguém a alertar para esta situação, por isso decidi partilha-la com o maior numero de pessoas antes que seja demasiado tarde, pois pode acontecer a situação de Portugal roubar-se a si prioprio sem se aperceber, dar o lucro a estrangeiros, criando assim um gigantesco buraco nas contas publicas, o que iria levar à crise que se tentou evitar e transformar o país numa colónia de escravos (tal como a Grécia).

Divulguem e comentem o mais possível. Manobras deste tipo já foram feitas com sucesso.

Se as obrigações maturarem (i.e. se a dívida não for reestruturada), os ratios dos bancos ficam normais e as posições short dos especuladores vão ter um prejuízo elevado, obrigando-os à compra de obrigações no mercado secundário, levando os juros a níveis normais, retirando-lhes os lucros e forçando os capitais a regressar ao país pela compra de acções dos bancos para short covering.

Os stress-tests serão assim instrumentalizados pelos especuladores. É esse o seu fim.

Vamos tentar evitar que isto de facto aconteça, informando o poder político e a opinião pública da situação.

K.
in Jornal de Negócios/Caldeirão de Bolsa

NOTAS
  1. Short selling (especular a descoberto) — Esta forma de especulação tem conduzido à ruína bancos e países ao longo da já longa história do Capitalismo. Basicamente, trata-se de ganhar, e de ganhar muito, com as dificuldades alheias. O especulador a descoberto snifa as presas feridas, por exemplo, como é o nosso caso, de sobre-endividamento, e aposta na sua desgraça. Como? Sempre da mesma maneira: compra e promete pagar mais tarde um dado lote de obrigações, moedas, terrenos, casas, obras de arte, flores, o que seja, desde que manifeste um claro potencial de especulação (no valor, por exemplo, de 1000 euros). Na data prevista o especulador terá que honrar o contrato de compra e venda, e pagar os 1000 euros, ou devolver as obrigações (em ambos os casos pagando uma comissão). Entretanto, o que se passou? É simples: o especulador vendeu no mesmo dia e pelo mesmo preço as obrigações —que ainda não pagou— a um comprador que naturalmente ignora os meandros da operação. Entretanto, o valor destas cai, em linha com a aposta do especulador. Quando tal ocorre, este volta a comprar um lote de obrigações, desta vez por menos dinheiro (por exemplo, por 800 euros) e devolve-as a quem lhas vendeu por mil.  Ganhou, portanto 200 euros (menos a comissão paga aos intermediários), sem produzir um único cêntimo de riqueza. Mas a riqueza terá que vir de algum lado! De onde? Invariavelmente, de quem produz, de quem poupa e de quem paga impostos. É por isso que estes processos de pilhagem legalizada acabam não raras vezes por conduzir a revoluções e guerras civis.