Close, Spin & Reopen — inteligência em vez de saldos!
Airbus with new order record at Paris Air Show 2011
At the 49th Paris Air Show in Le Bourget, Airbus won about US$72.2 billion worth of business for a total of 730 aircraft. This success sets a new record for any commercial aircraft manufacturer at any air show ever. The commitments comprise Memorandum of Understanding (MoU) for 312 aircraft worth US$28.2 billion and firm purchase orders for 418 aircraft worth around US$44.0 billion.
The A320neo Family was clearly the star of the week and proved irresistible to airlines and lessors alike, by winning an unprecedented 667 commitments worth some US$60.9 billion. Furthermore, this means that total A320neo Family backlog since its launch in December 2010 has now reached 1,029 units, making it by far the best selling airliner in the history of commercial aviation — Le Bourget.
Fui a São Miguel (Açores) em trabalho e regressei na passada sexta-feira. O avião fez uma aproximação sublime ao aeroporto, ao longo da barra e estuário do Tejo, até inflectir numa vertical algures sobre Alcântara, sobrevoando então de perto a cidade até aterrar com estilo e segurança na pista da Portela. Enquanto o Airbus A320 rola até ao Terminal 2 (são 00:30) reparo no que já havia notado na manhã de terça (11:30), quando levantei voo em direcção ao aeroporto João Paulo II: não havia praticamente aviões encostados às vinte mangas telescópicas do Terminal 1.
Tal como vejo frequentemente do terraço do meu apartamento, em Carcavelos, o movimento de aeronaves em direcção à Portela, ou a caminho do Atlântico, salvo a usual agitação matinal, entre as 7 e a 8, é escasso e desliza de forma silenciosa diante do meu olhar. Depois de aterrar, em quinze minutos estava no Terminal 1 à espera das malas. Os longos trinta minutos que esperei pela mochila deixou-me, confesso, algo impaciente. Perguntei-me uma vez mais: porque raio não existe um tapete de descarga de bagagem no Terminal 2?
O aeroporto da Portela está mais aeroporto, diz a propaganda. E de facto está: tem mangas de sobra, lojas por todos os cantos, e dois terminais! O primeiro, para voos internacionais, e o Terminal 2, para voos nacionais. No entanto, as companhias Low Cost — easyJet, Ryanair, Vueling, Air Berlin, etc.— olham com interesse crescente para o barracão que a Siemens concebeu e construiu para o Terminal 2, e sabem que no dia em que lhes permitirem utilizar este terminal simplificado e barato, arrumarão com boa parte das rotas europeias da TAP que não façam directamente parte da rede de aeroportos europeus arquitectada por Fernando Pinto (1) para servir a procura brasileira.
Não tardará muito até que a TAP perca na Portela, para as Low Cost, os voos de médio curso, tal como já sucedeu em Faro (de onde foi praticamente corrida) e no Porto, onde tem perdido de forma acelerada passageiros para a Ryanair.
A TAP está falida, e não pode continuar a esconder a situação, seja porque a Parpública deixou de poder subsidiar por baixo da mesa a companhia aérea portuguesa, seja porque o memorando de entendimento assinado entre Portugal e a Troika não deixa margem para dúvidas a este respeito: é preciso privatizar parcialmente (2) a TAP, o mais tardar até ao fim deste ano.
O PS e alguns interesses instalados no PSD e no CDS tentaram e continuam a tentar obter a vaquinha da privatização da ANA+privatização da TAP+OTA (ou Alcochete). Ou seja: compre a ANA e a TAP e leve um novo aeroporto novo no bolso! A Brisa dos Mellos, que já viu o fim das portagens e das PPP no horizonte, é o mais recente interessado na ANA e num grande aeromoscas em Alcochete —à boa maneira do capitalismo corporativo e familiar que continua a dominar em Portugal.
A manobra foi insistentemente desmontada neste blogue, acabando por ficar sem pernas para andar à medida que a seca financeira alastrou. O QE IIII do Obama é uma castanha prestes a rebentar e quando rebentar vai deixar os gregos a rir às gargalhadas. A solução europeia poderá assim revelar-se mais equilibrada se entretanto e sobretudo continuar a contar com o apoio da China, Japão, Irão, Arábia Saudita, etc.
A salvação da TAP passa, pensando friamente no tema, por fechar e reabrir antes de privatizar.
Tal como fizeram os suíços, a TAP "do dia seguinte" poderia ser uma nova companhia chamada, por exemplo, Triple TAP, exclusivamente dedicada ao transporte aéreo (handling e outras adiposidades, fora), com 1/3 do seu pessoal (a TAP tem mais gente que a easyJet, a Ryanair e a Air Berlin juntas), e composta por três unidades com características e autonomias de gestão próprias:
- TAP Europa — um spin-off bem desenhado da rede de médio curso que a actual TAP tem montada na Europa (incluindo Açores e a Madeira), partindo dum formato semelhante ao das Low Cost —sem refeições a bordo, com o pessoal de cabine a fazer a limpeza entre voos e o excesso de bagagem ou o seu transporte no porão pagos a peso de ouro). Gente que sabe destas podas (a Accenture, por exemplo) poderia dar uma ajuda preciosa.
- TAP Atlântica — cobrindo os continentes virados a este oceano, com especial incidência no Atlântico Sul e nos países americanos de expressão latina, ou com grandes comunidades latinas, Miami, México e por aí adiante... até à cidade do Cabo.
- TAP Oriente — isto é, um pequeno Hub da TAP em Lisboa, vocacionado para ligações de longo curso, Low Fare, ponto-a-ponto, entre a Europa (neste caso, Lisboa) e o Médio Oriente, África Oriental e Ásia (aviões wide body/ a comprar)
A TAP deverá ser fechada quanto antes e reaberta "no dia seguinte", com três prioridades na cabeça:
- aumentar a competitividade, ou seja: comprar mais aviões e contratar mais pilotos e pessoal de manutenção tecnológica (uma tarefa para quem comprar a companhia);
- redistribuir o pessoal de cabine e encolher os quadros administrativos intermédios e de topo;
- definir três linhas de acções com lógicas de negócios diferenciadas: Low Cost Europa; Hub Atlântico; Low Fare Oriente.
Portugal é objectivamente uma placa giratória entre os Atlântico norte e sul, e entre a Europa e a África. O transporte de mercadorias pesadas não se faz por avião, nem por estrada, quando falamos de globalização; faz-se em navios porta-contentores, em navios super porta-contentores (post-Panamax) e cada vez mais por ferrovia. Logo, faz-se por mar e portos de águas profundas interligados por redes ferroviárias interoperáveis. No caso da UE, os dados estão já lançados para a construção de uma grande rede ferroviária interoperável de bitola única/ UIC.
Se puxarmos rapidamente pela nossa rede de portos de águas profundas: Sines, Setúbal, Lisboa (depois do fecho da golada/ futuro terminal a construir na Trafaria) e Matosinhos, atrairemos mercadorias, mas também passageiros, pois o turismo em super-navios de cruzeiro é uma das alternativas às cada vez mais penalizadas viagens rodoviárias e aéreas....
Em suma, continuaremos a insistir... em soluções inteligente e viáveis.
NOTAS
- Fernando Pinto, além de ter querido transformar a Portela numa entrada do Brasil na Europa, o que fez demasiado bem (pois os processos contra o abuso de posição dominante já começaram); também parece ter tido uma outra agenda, desta vez, escondida, fazer do aeroporto de Lisboa, na Portela, na Ota, ou na Margem Sul, um terminal de Barajas. O facto de há muito viver em Madrid deve ter ajudado a esta visão espanholista e anti-lusitana do problema!
- A Triple TAP pode e deve continuar a ter o Estado português como accionista, ainda que minoritário (10 a 20 por cento da nova companhia). Nada pode impedi-lo!
COMENTÁRIOS
Transcrevo aqui, devido à sua dimensão, um comentário oportuno de RMV, que me foi enviado por email:
Fantástico post no OAM. Na verdade, uma experiência prática que cristaliza tudo o que se vem afirmando há muito tempo, e que para além da "gestão da TAP" teve como objectivo desmontar o interesse do Gaúcho pelo novo aeroporto.Transcrevo também uma opinião anónima que circula neste momento na Blogosfera em defesa da TAP, pela razoabilidade dos respectivos argumentos e oportunidade das denúncias.
Rebatendo sistematicamente o interesse imobiliário da TAP, chegou-se à sua forma de gestão, cenário que o amigo Gaúcho não gostou lá muito. Apesar de terem os jornais todos na mão, como o DN's, JN's e DE onde os jornalistas eram diariamente convidados a voar na TAP, as evidências e os números foram cada vez mais difíceis de camuflar, e claro está o efeito dominó aconteceu.
Como se não bastasse, o Gaúcho ainda conseguiu o feito único de passar por mentiroso. O estado a que a coisa chegou vão dizê-lo os concorrentes à privatização, i.e., se alguém quiser de facto pegar na TAP tal qual ela está. A não ser os trabalhadores cujo salário depende do sucesso da empresa, sinceramente não vejo na TAP uma tecnologia de ponta ou uma expressiva quota de mercado que atraia quem quer que seja.
Na TAP Europa tudo pode ser assegurado pelas Low Cost. Aliás, elas estão preparadas para ocupar o espaço que eventualmente a TAP venha a deixar, e é claro, como em Faro e no Porto são implacáveis.
Tido como um gestor de ponta, que não parava de ser solicitado para falar em congressos do sucesso da sua gestão, vê-se que afinal o Gaúcho foi batido exactamente no terreno onde supostamente se destacava, ou seja NA GESTÃO. Empresas magestáticas e pesadas, nada ágeis nem flexíveis, dificilmente poderão bater uma Rya onde a capacidade de adaptação e reacção são as suas grandes vantagens competitivas.
A "Tripla TAP" é exactamente esse tipo de resposta que terá de ser dada logo após o Verão, e é claro que um primeiro grupo de pilotos, pessoal de cabine e de gestão (que não os brazucas), deverão quanto antes apresentar à Tutela um memorando solicitando que seja feito o Spin Off. Setembro será o mês da reestruturação, e em Outubro inicia-se a operação num novo modelo de gestão. Sinceramente não me parece que no exterior exista melhor resposta do que esta do interior da própria TAP. Proponham no Memorando trabalhar com a Accenture para lhes montar o negócio tipo "chave na mão". Beneficiando da experiência que a Accenture teve com a Vueling, a mudança será imediata e sem descontinuidades.
É claro que a Ibéria está à espreita, pois ficaria muito mal na fotografia se não tomasse conta da pequena Freguesia que é a TAP. E depois de tomar conta da dita "Freguesia" sabe-se o que iria acontecer. No entanto, entre preferir uma Ibéria (+BA) e uma TAP é lógico que seja dada preferência a quem "joga em casa".
CANADA — está-me a dar um gozo assistir à visita dos príncipes ingleses a terras canadianas. A última visita foi em 1987, imediatamente antes do Canadá sofrer graves problemas financeiros e económicos, nomeadamente problemas separatistas que transferiram a importância de Montreal para Toronto, o que poderá ser de alguma forma "cristalizado" no elefante branco em que se transformou o projecto megalómano do aeroporto de Mirabel (Montréal), o qual foi construído à revelia dos montrealeses, prevendo-se então, inclusivamente, uma ligação ferroviária à estação central de Montréal. Curiosamente este fiasco é em tudo idêntico ao da Ota em Alcochete, mais o seu terminal ferroviário ligado linha de AV Lisboa / Porto. No caso canadiano, a saída para o fiasco redundou na devolução de boa parte do terreno cativado para o super-aeroporto, na redução do aeroporto a um terminal de carga, e na entrega de uma parte deste elefante branco à Bombardier (Canadair) e à Bell Helicopters. No antigo aeroporto Jaques Trudeau (a Portela de Montréal) foram feitos entretanto investimentos que o habilitaram a ser um NOVO AEROPORTO. Julgo que o actual super-ministro da Economia será sensível a esta realidade, a qual poderá servir de argumento contra os lóbis da Ota em Alcochete.
Qualquer idiota sabe e percebe que a TAP é muito mais do que uma simples companhia aérea e mais até do que uma companhia aérea "de bandeira".
A TAP (excluindo o pequeno caso particular da SATA), é a única companhia aérea de um pequeno país continental que tem, todavia, o seu território disperso por mais dois arquipélagos e uma relação de presença muito forte e que deseja manter com uma série de países que foram suas colónias e outros onde se alberga uma vasta diáspora que queremos continue próxima.
Ou seja, é um instrumento fundamental da nossa política externa e não apenas de representação.
Muitíssimo mais importante e decisivo do que inúmeras Embaixadas que mantemos, delegações do Comércio Externo ou os ridículos Serviços de Informação (cuja utilidade ficou bem patente nos recentemente conhecidos relatórios sobre o Magrebe, onde se garantia que nenhuma revolta era previsível).
O país deve à TAP e aos seus trabalhadores inúmeros serviços cuja importância foi determinante para o nome de Portugal.
A começar pelo repatriamento em massa e em condições operacionais dificílimas de centenas de milhares de portugueses evacuados das colónias em 1975.
A continuar pelas ligações com países como Moçambique ou Cabo Verde ou (ainda hoje) com a Guiné-Bissau e S. Tomé e Príncipe, que lhes permitiram, pura e simplesmente, existir no mapa e sobreviver no mundo, e onde a chegada do avião da TAP foi ou ainda é a chegada do mundo, pela mão de Portugal.
Muito mais do que toda a retórica, acordos ortográficos e declarações de amizade, devemos à TAP o melhor da imagem que Portugal hoje tem no Brasil, onde os setenta voos semanais para uma série de destinos diferentes representam também uma ligação fundamental entre o Brasil e a Europa e entre as comunidades emigrantes de ambos os países, além de um contributo determinante para o turismo de Lisboa, por exemplo.
E devemos ao espírito de empresa dos seus trabalhadores e aos esforços da sua administração o facto de termos uma companhia aérea que é muito melhor do que o país que lhe dá bandeira (se alguém tem dúvidas, experimente voar na Ibéria ou na Alitália ou em qualquer companhia americana, para saber o que é uma má companhia aérea).
Aliás, só esse espírito de empresa, tão raro entre nós, permitiu à TAP sobreviver a todos as malfeitorias que o accionista Estado contra ela cometeu até há dez anos, quando enfim se rendeu finalmente a uma gestão profissional e foi chamar quem o sabia fazer.
Vale a pena recapitular.
A primeira malfeitoria foi fazer da TAP, durante mais de vinte anos, um albergue para os boys do bloco central, que a administraram como brinquedo seu, juntando a leviandade à incompetência: ainda me lembro de um presidente da TAP cuja grande obra foi inventar destinos sem qualquer viabilidade económica, para cujos voos inaugurais enchia o avião de convidados amigos e a "Olá-Semanário" para fazer uma reportagem 'social'.
Depois, houve que manter preços políticos e créditos incobráveis a favor dos PALOP e dos seus governantes, que também achavam que a TAP era coisa sua.
A seguir, veio o ministro João Cravinho, que concebeu o funesto projecto de fundir a TAP com a Swissair (uma das piores companhias aéreas do mundo), plano que, embora ainda tenha chegado a causar danos, abortou porque, felizmente e entretanto, a Swissair faliu.
Depois, obrigaram-na a comprar a Portugália (que, tendo nascido para concorrer com a TAP em destinos próximos, falhou e também estava falida).
Depois, obrigaram-na a comprar também esse desastre da Groundforce espanhola a quem tinham entregado todo o handling do aeroporto de Lisboa e Faro (e cujos resultados ainda hoje impedem que a TAP seja confortavelmente lucrativa).
E, finalmente, e ao contrário do que se passa no mundo inteiro, a TAP tem vindo a ser progressivamente empurrada para as traseiras e tratada como hóspede indesejável no aeroporto de Lisboa, por outra empresa pública, a ANA, e em benefício das empresas low-cost (mas não é inocente: trata-se de justificar a necessidade do novo aeroporto de Lisboa com o argumento de que a TAP já não tem espaço na Portela).
Ironicamente, a história da TAP mostra-nos que de cada vez que gestores privados ditos "de sucesso" ou empresas privadas se imiscuíram no seu caminho, aqueles falharam e a TAP sobreviveu -- mas foi chamada a pagar os custos do desastroso 'sucesso' privado alheio.
Ou seja: temos aqui uma empresa pública que exerce um papel insubstituível ao serviço do país (e que, obviamente, não será continuado pela Lan Chile ou pela Catar Airways, e, menos ainda, pela Lufthansa ou Ibéria).
Temos uma empresa que funciona bem e prestigia o país, que ganhou, por mérito próprio, um papel de liderança absoluta no Atlântico Sul e um papel importante em África, que é rentável enquanto apenas companhia aérea, que é bem gerida, que dá trabalho a 8000 pessoas e paga 200 milhões de euros de impostos por ano.
E o Governo quer privatizá-la, perante o silêncio geral (excepção feita a Jerónimo de Sousa).
Apenas porque precisa de dinheiro e só não vende o pai e a mãe porque os não tem.
Entendam-me bem: eu nada percebo de transporte aéreo e talvez tenha criado uma espécie de relação amorosa com a TAP difícil de explicar.
Mas nestes tempos de depressão instalada, em que não parece haver qualquer sinal de esperança no horizonte, vejo a venda em saldo da TAP como um golpe final, tremendo, no meu orgulho de português.
Talvez haja razões que justifiquem que o Governo diga que a venda da TAP é "prioritária".
Mas, por uma questão de respeito pelos que a fizeram e mantiveram a voar, por todos nós, que tantos impostos pagámos para a viabilizar, e por uma questão de amor-próprio -- que é quase só o que nos resta -- convinha que o Governo explicasse essa 'prioridade' e que alguém mais se preocupasse com o assunto.
ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 04-07-2011 10:51