quarta-feira, janeiro 25, 2012

Bem-vindo senhor Hollande!

Paisagem partidária europeia em mudança

Ségolène Royal e François Hollande: a separação de águas deu frutos! (Foto)

MADRID (MarketWatch) -- French presidential candidate Francois Hollande on Sunday said his real opponent was not current President Nicolas Sarkozy, but the "world of finance." In the first big speech of his campaign on Sunday, he said: "My principal adversary has no name, it has no face and does not belong to a political party. It has never presented its candidature and has never been elected, but it still governs," according to France24. "This adversary is the world of finance." Saying he wanted to "change the destiny of France," Hollande outlined his manifesto, pledging to cut presidential and government salaries by 30% and create a tax on financial transactions among other goals.

Uma surpresa chamada Hollande. As eleições presidenciais francesas poderão fazer do discreto socialista François Hollande uma das personalidades do ano. Se tal vier a ocorrer, e as sondagens apontam neste sentido, o namoro entre a Alemanha e a França mudará de protagonistas. Quem sabe se não teremos os sociais-democratas e os verdes à frente dos destinos da Alemanha em 2013...

E em Portugal? Estou cada vez mais pessimista relativamente às propriedades reformistas da atual coligação. O que vejo é um sprint desesperado da nomenclatura laranja e azul em direção aos benefícos certos do poder, e nenhuma preocupação de levar a sério o Memorando assinado com a Troika, e muito menos levar a sério os rapazes independentes que vieram estagiar no nosso país para conhecerem in situ como é a bancarrota de um país da zona euro, e como é que as dificuldades europeias em curso vão ou não permitir a consolidação da União, nomeadamente pela via de uma transferência mais acelerada de poderes das burocracias populistas nacionais para a grande burocracia de Bruxelas e para o BCE.

Se o meu palpite der certo, o senhor Passos de Coelho não aguentará mais de quatro anos à frente do Executivo. E para lhe suceder só vejo esta saída (democrática): uma coligação entre o PS e um partido que ainda não existe!

terça-feira, janeiro 24, 2012

A grande burla dos juros

Prédios abandonados em Alphabet City, Lower East Side, em Nova York em 1986 (Frances M. Roberts/Latinstock). Veja.

Euribor cai para os bancos e sobe para os particulares, penalizando estes últimos nos valores das prestações dos novos empréstimos (que sobem há 15 sessões consecutivas!) e nos valores das propriedades urbanas e rústicas, que continuam a cair.

As prestações dos contratos já realizados a taxas de juro indexadas à Euribor variam com a variação desta. Por enquanto, têm baixado, ou não têm subido. Mas como em muitos casos, fruto de uma política de juros e empréstimos especulativos (Subprime), num deserto programado de casas para alugar, as pessoas pediram quantias exageradas de dinheiro, as prestações são, por um lado, altas, cada vez mais altas face à degradação dos rendimentos do trabalho, e, por outro lado, o valor do ativo imobiliário que adquiriram, na melhor das hipóteses (se favorecido pela qualidade e localização favorável do imóvel) estagnou, ou tem vindo a cair!

Por outro lado, a destruição suicida das taxas de juro (nunca deveriam estar abaixo dos 4%, para toda a gente!), agrava a espiral do endividamento público, a austeridade, o colapso da economia, em suma, desvia, como nunca se viu, a riqueza de todos para os bolsos cleptómanos de 1% de ladrões e assassinos!

As taxas interbancárias na zona euro estão a descer há 25 sessões consecutivas nos prazos mais longos.

A Euribor a seis meses, que é a mais usada no cálculo dos juros no crédito à habitação, cedeu para 1,451%. No mesmo sentido, o prazo a doze meses diminuiu até aos 1,784%. Ambas as taxas caem de forma ininterrupta há 25 sessões Para observar um ciclo de quedas tão longo é preciso recorrer a 2009 — Económico.

Os bancos vão buscar dinheiro a 1% ao BCE e voltam a depositá-lo no banco central europeu, com uma remuneração de 0,25%, ou seja, perdendo 0,75% neste surpreendente negócio, só para manterem nos seus vigarizados históricos contabilísticos minimamente credíveis!

Ao contrário do que foi feito na Islândia, estamos perante uma aliança criminosa sem precedentes entre banqueiros, especuladores e burocracias partidárias em todo o Ocidente — americano e europeu :(

A taxa de juro implícita no crédito à habitação aumentou em Novembro pelo 18º mês consecutivo, revelou hoje o INE.

No mês passado, a taxa de juro implícita no conjunto dos contratos de crédito para comprar casa fixou-se em 2,720%. Foi a 18º subida mensal consecutiva, que colocou a taxa no valor mais elevado desde Julho de 2009, altura em que se cifrava em 2,770%, segundo o relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE). Já em Dezembro de 2010 a taxa estava em 2,045% — in Económico.

Actualização: 25 Jan 2012 0:18

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Espanha: monarquia moribunda?

Os sinais de desagregação da monarquia espanhola podem abrir caminho a uma república federal. Apostas?

America's Cup Building, Valencia, Spain by David Chipperfield Architects © Richard Walch

Os sucessivos escândalos que tolhem a decadente monarquia espanhola —anorexia da princesa Letízia, relação hipócrita entre os monarcas e corrupção à vista na casa real—poderão abrir caminho a uma transição pacífica da atual monarquia autonómica para um regime republicano de tipo federal. Tudo vai depender da carambola entre os escândalos monárquicos (cujo véu começa a levantar-se), o colapso inevitável do actual sistema autonómico, e a crise económica e social grave que afecta o país vizinho. Longe vão os tempos do triunfalismo democrático criado na alcova que uniu "socialistas obreros" e banqueiros arrivistas!

Valencia, el paradigma 'popular' de autonomía quebrada

“Es la segunda autonomía con mayor volumen de deuda (20.469 millones de euros); ha cerrado 262 camas hospitalarias en 2011; pagó in extremis a finales de año las nóminas de los profesores de colegios concertados y los 60 millones que debía a las farmacias; encabeza el ranking de fracaso escolar más alto de toda España (25%) y tiene a su ex presidente, Francisco Camps, sentado en el banquillo de los acusados por varios delitos de corrupción. La Comunidad Valenciana, tras modernizar la región de arriba abajo con más dinero del que tenía, busca ahora fórmulas para intentar contener el gasto y sacar a la región del atolladero en el que se encuentra.” El Confidencial.

Lembram-se de quando a Espanha, com condições naturais escandalosamente inferiores a Cascais (a prova em Valência teve que parar por falta de vento!) ganhou a realização da America's Cup? Pois é, a fatura não perdoa, e o processo autonómico caminha rapidamente para um beco sem saída :(

Los soberanistas catalanes alientan un nuevo frente contra Rajoy

“El presidente del grupo parlamentario de CiU en el Parlamento autonómico, Oriol Pujol, dejó claro ayer en la emisora RAC 1 que si Madrid no quiere hablar del tema, al Gobierno catalán no le queda otro recurso que tomar medidas, que podrían ir desde una consulta popular hasta un cierre de cajas, es decir, una insumisión fiscal. “No nos encontrarán tirando la toalla, sino al contrario”, subrayó Pujol.” El Confidencial.

O resultado do referendo escocês poderá ser decisivo para uma evolução rápida do processo de fragmentação federalista da Espanha.

Por outro lado, a suspensão da renovação da linha férrea entre o Porto e a Galiza pode encontrar nesta deterioração do centralismo madrileno/castelhano uma explicação mais do que plausível.

A União Europeia favorece objectivamente o renascimento das nações históricas do continente: Irlanda, Escócia, Catalunha, etc. No caso da Península Ibérica, a existência de uma federação espanhola, ou de uma federação ibérica, enfraqueceria, segundo alguns, a posição estratégica de Portugal. Não refleti ainda suficientemente sobre esta questão. Mas creio que é altura de começarmos a discutir o futuro da balsa ibérica!

Hors-texte (24-01-2012)

Reversão colonial

 Negócios da China? Privatizações? A terminologia da imprensa económica está errada!
O estado chinês avança rapidamente sobre os próprios recursos petrolíferos do Canadá!
“U.S. and Canadian companies have dominated Alberta's oil sands for decades. Now, though, Chinese firms are rushing to snap up Canadian oil sands resources and invest in ongoing projects - to the tune of $15 billion in the past 18 months in Alberta alone” — in China invests billions in Canada oil sands. By JENNIFER A. DLOUHY, HOUSTON CHRONICLE.

EDP, REN, privatizações? Quais privatizações?! É preciso corrigir a terminologia!

Não há nenhuma privatização parcial da REN a favor da State Grid, mas uma transferência de ativos soberanos de um país para outro — obviamente para pagar antecipadamente dívidas da República Portuguesa à China, com algo que se possa tocar! O Economist deste mês escreveu algo (que ainda não li) sobre esta confusão terminológica oportunista... Na realidade, os grandes credores do Ocidente, cujos cofres estão a abarrotar de conversa fiada e quimeras soberanas cada vez mais ilusórias, decidiram duas coisas muito preocupantes para os EUA e para a Europa:
  1. desfazerem-se paulatinamente dos excessos de reservas em dólares, passando a usar o yuan, o iene, o rublo, e o rial, entre outras moedas nacionais, nas trocas comerciais bilaterais, e
  2. trocarem uma parte do excesso de títulos de dívida soberana, que têm recebido para poderem continuar a exportar, por activos materiais efectivos — nomeadamente através da tomada de posições firmes em empresas estratégicas de recursos energéticos e alimentares, sistemas de transportes, e ouro.  
É a versão suave de uma reversão colonial!

Novo Partido Democrata

Pekka Haavisto, candidato presidencial finlandês, uma grande e agradável surpresa eleitoral

E foram mesmo os dois candidatos europeístas que passaram à segunda volta ;)

Helsínquia, Finlândia, 22 jan (Lusa) - Os candidatos pró-europeus Sauli Niinisto (conservador) e Pekka Haavisto (ecologista) vão defrontar-se na segunda volta das eleições presidenciais na Finlândia, anunciou o ministro da Justiça, após a contagem da totalidade dos votos da eleição de hoje.

Niinisto, o grande favorito do escrutínio, obteve 37 por cento dos votos, enquanto Haavisto alcançou 18,8 por cento. Os candidatos eurocéticos Paavo Vayrynen (centro) e Timo Soimi (nacionalista) foram afastados, com 17,5 por cento e 9,4 por cento dos votos, respetivamente, indicou o ministério. SIC Notícias.

Finlândia/ eleições: para quem a moeda única europeia já era, deve fazer alguma confusão o facto de os partidos que lideraram as intenções de voto na primeira volta das eleições presidenciais finlandesas serem claros defensores do euro!

Não foram só os mercados que leram bem o teatro de operações da guerra financeira movida pelo dólar/libra contra o euro, ao passarem ao lado das mais recentes notações das agências de rating (Standard & Poor's, etc.) Os eleitores também já começaram a perceber o embuste. Em breve começarão a pedir as cabeças... dos banqueiros que trocaram a sua função de credores de boa fé pela de croupiers corruptos e gananciosos do Grande Casino dos Derivados!

“O candidato do Partido Verde e amigável à União Europeia, Pekka Haavist, subiu para o segundo lugar nas últimas semanas, saindo da obscuridade para 13% dos votos na última pesquisa.” Diário do Grande ABC.

Na realidade Pekka Haavisto, o candidato presidencial da Liga Verde, chegou aos 18,8% — o que é um facto notável, sobretudo se for o sinal de uma grande viragem eleitoral na Europa. Também em Portugal precisamos dum Novo Partido Democrata (com um coração verde, claro!), defensor do que resta dos nossos genuínos recursos naturais e humanos — e da decência. O PS não voltará ao poder sem coligar-se com um partido credível, que nem o PCP, nem o Bloco, são ou poderão ser.

Um cenário governativo estável e alternativo à coligação PSD-CDS —que acabará por naufragar sob a evidência das suas fraquezas congénitas— parece-me impossível sem o surgimento dum novo partido, mais próximo de todos aqueles que hoje abominam a demagogia e o populismo oriundos das cansadas dicotomias do século passado.

A corrupção partidária e a submissão canina do PSD e do CDS à burguesia rendeira que tem vindo a chupar o sangue e a seiva de um país que merece melhor sorte acabará por destruir o espírito e a ação do atual governo, abrindo as portas a um novo ciclo eleitoral.

A EDP e as suas barragens criminosas, tal como as PPPs rodoviárias, escolares e hospitalares, já para não mencionar o regresso pé ante pé dos embusteiros da Ota em Alcochete, têm vindo a tomar paulatinamente conta da cabecinha fraca de Passos de Coelho, e da agenda governamental.

Quando será que este governo cairá na lama? No fim da legislatura? Antes mesmo? Tudo irá depender do tempo que Álvaro Santos Pereira aguentar. A sua saída ditará simbolicamente o fim da própria presunção de inocência do senhor Passos de Coelho e do cada vez mais irritante Gasparinho. Depois deste cabo dobrado, a corrida eleitoral recomeçará! Porque pensam que anda Sócrates e a corja que deixou plantada no parlamento tão agitados?

O cada vez mais débil António José Seguro precisará em breve de recorrer a uma Unidade de Cuidados Intensivos (estratégica e táctica). Esperemos que saiba encontrar o conselheiro certo. Mas, como venho insistindo, já não chega. Aquela roseira velha não recupera sem uma grande poda!

E nós, ou seja, os que hesitam entre deixar de votar de vez, e a ténue esperança de uma renovação do jogo democrático, precisamos doutro partido para mudar este estafado rotativismo em que estamos metidos há mais de três décadas e cujo triste balanço é a bancarrota. Já não acontecia há 120 anos!

sexta-feira, janeiro 06, 2012

A morte prematura do euro?

Imagem retirada do sítio The Ignorant Fishermen
2012 poderá ser o ano do Armagedão, e até o ano do fim do mundo, mas não o ano da morte do euro!

O euro permanece “muito forte” e uma queda maior ajudaria as exportações, defendeu o governador do Banco de França, Christian Noyer — in Jornal de Negócios online, 6 jan 2012.

Através da desvalorização deslizante do dólar, Washington procura diminuir o preço da sua descomunal dívida externa, refreando ao mesmo tempo o consumismo interno, uma vez que a parte das importações na economia dos EUA é cada vez mais pesada, a começar no petróleo importado, até quase tudo o que é mercadoria manufaturada: carros, computadores, telemóveis, mobiliário, roupa e calçado, brinquedos, etc.

Esta desvalorização da moeda americana (que é uma moeda de reserva mundial), a par de um política de destruição sem precedentes das taxas de juro interbancárias e do crédito a retalho, principais agentes da própria desvalorização do dólar, visa sobretudo equilibrar a balança comercial americana com a China, Japão e com os seus principais fornecedores de petróleo: Canadá, Arábia Saudita e México.

A desvalorização da moeda americana induziu, por sua vez, uma valorização excessiva do euro, segunda moeda de reserva mundial. E a consequência desta apreciação foi a perda acentuada de competitividade das economias europeias, sobretudo daquelas com menor produtividade tecnológica e menor sofisticação de produtos. Esta apreciação tornou as importações muito competitivas e atraentes, pelo seu baixo preço. O Forex especulativo com as subavaliadas moedas japonesa e americana (yen carry-trade e dollar carry-trade), por sua vez, forçou uma queda progressiva do preço do dinheiro na própria Europa, tornando o acesso ao crédito cada vez mais irresistível, e o trabalho produtivo local cada vez mais caro e desinteressante por comparação com as novas economias financeiras assentes no endividamento barato, na especulação bolsista e sobretudo cambial, e na importação de bens e serviços faturados em moedas sub-avaliadas: iene, yuan e sobretudo a moeda em que são cotadas as principais matérias primas energéticas, minerais e alimentares: o US Dollar.

O endividamento europeu não é apenas, nem sobretudo, público.

O endividamento privado é muito superior, e ambos confluíram para a presente e gravíssima crise de liquidez e de insolvência que aflige pessoas, empresas e governos. Os excessos terão que ser forçosamente corrigidos, assim como, e principalmente, o modelo de crescimento económico baseado na especulação financeira que tudo incha e depois liquida.

Neste contexto, uma desvalorização competitiva do euro, até aos 1,20 dólares, será provavelmente aconselhável, a par de uma revisão sábia do modelo social europeu, e de uma revolução no modo de produção tecnológico em curso, que terá que sofrer uma viragem de 180 graus — do consumismo desmiolado e da produção fictícia, para a sustentabilidade económica efectiva e uma nova cultura de criatividade e partilha social.

O ponto de partida para esta revolução não poderá deixar de corresponder a uma profunda alteração das atuais democracias representativas e seus sistemas de poder. A América caminha perigosamente para uma nova espécie de estado concentracionário, de exceção permanente e de ditadura, cada vez pior disfarçado pelo sofisticado sistema de propaganda desenvolvido desde 1914 (nomeadamente a partir das ideias do duplo sobrinho de Sigmund Freud, Edward Bernays). Não é este o caminho de que precisamos! A Europa tem, também por causa desta degradação cultural americana, uma grande responsabilidade na refundação democrática das sociedades globais e tecnológicas do futuro.

Uma solução militar para a actual crise global seria um desastre completo. No entanto, e infelizmente, é mais provável o fecho do Estreito de Ormuz do que a implosão do euro em 2012.

Por fim, esta previsão não significa que alguns países da zona euro, mais debilitados e prisioneiros de lógicas demo-populistas, consigam evitar um afastamento temporário da Eurolândia. Tal quarentena, porém, onde poderão cair a Grécia e Portugal, não implicará uma expulsão do Sistema Monetário Europeu, e muito menos da União Europeia. Faço figas, no entanto, para que a atual coligação que governa Portugal, e a Oposição, incluindo os sindicatos, percebam a tempo e horas os custos de uma aventura contra a inexorável correção dos nossos próprios desvarios. Isto é: a saída de Portugal do euro!


act.: 7-12-2012 19:09

sábado, dezembro 24, 2011

Um bom ano novo... chinês!

Aos meus pacientes e tolerantes leitores,

perdido neste país bipolar, quase no fundo de uma depressão histórica, de que somos todos responsáveis, uns mais do que outros (claro!), crítico por natureza, sem por isso deixar de ser um optimista avisado, agora na companhia mais próxima dos donos da terra que me viu nascer, Macau, desejo a todos os meus pacientes e tolerantes leitores, como nunca, dentes cerrados para o Ano Novo que aí vem, e uma consoada alegre junto de quem mais amam.

Um Feliz Natal e Um Grande 2012!