terça-feira, abril 01, 2014

Rota da Seda 2

Xi propõe a Angela Merkel reconstruir a Rota da Seda

Rota da Seda 2

Marc Faber: "...exports from China to emerging countries are higher than exports to the US or Europe." (The Money Morning, 31 March 2014)

A China e a Rússia querem restabelecer a Rota da Seda. Mas à cautela é também necessário reestabelecer a Rota das Índias, com um atalho terrestre chamado caminho de ferro Lobito-Nacala, que falta concluir, mas para o qual a China tem dado o seu contributo interessado.

Tal como prevíramos, estamos a caminho de um Tratado de Tordesilhas 2. 

Vai ser doloroso para os Estados Unidos reconheceram que a sua hegemonia já era, e que de ora em diante terão que deixar de tratar o planeta como uma quinta sua onde entram e saem quando querem, sem pedir licença a ninguém e deixando atrás de si, invariavelmente, países destruídos e milhões de mortos. 

A Europa, ou melhor, a Europa liderada pela Alemanha, escolheu, e por sua vez foi escolhida, quer pela Rússia, quer pela China, como aliado privilegiado de um novo equilíbrio geopolítico. Daí ser Frankfurt, e não Londres, a praça financeira escolhida para liderar na Europa a elevação do Renminbi à categoria de nova moeda de reserva mundial. Percebe-se agora o motivo de tanta espionagem sobre a Alemanha e sobre Angela Merkel por parte dos serviços secretos americanos e ingleses.

Talvez seja agora mais fácil perceber o que se tem passado na Síria, na Turquia e na Ucrânia.
 
President Xi calls on China, Germany to build Silk Road economic belt
Xinhuanet, 2014-03-30

Chinese President Xi Jinping (C) visits Duisburg in Germany, March 29, 2014. (Xinhua/Rao Aimin)

DUSSELDORF, Germany, March 29 (Xinhua) -- Chinese President Xi Jinping Saturday called on China and Germany to work together to build the Silk Road economic belt.

Xi made the remarks during a visit to Port of Duisburg, the world's biggest inland harbor and a transport and logistics hub of Europe.

He said China's proposal of building the Silk Road economic belt, based on the idea of common development and prosperity, aims to better connect the Asian and European markets, will enrich the idea of the Silk Road with a new meaning, and benefit all the people along the belt.

China and Germany, at the opposite ends of the belt, are two major economies that serve as the driving engines for economic growth respectively in Asia and Europe, Xi noted.

Rota das Índias 2


Linha ferroviária Lobito-Nacala em construção

A luta pelo controlo da Eurásia prossegue. O tesouro é, como sempre foi, imenso. O perigo de uma guerra em grande escala no Médio Oriente está na agenda dos falcões de Washington. As provocações sucedem-se. Os Estados Unidos querem fazer três coisas bem difíceis: voltar a espezinhar a Alemanha e controlar a Europa com a ajuda dos poodles ingleses, provocar uma guerra no centro-leste da Europa e/ou no Médio Oriente, para cortar o acesso de uma parte da Europa ao petróleo e gás russos, condicionando assim o acesso da China ao petróleo árabe e do Mar Cáspio e, por fim, bloquear o Estreito de Malaca à passagem dos navios chineses em direção à Península Arábica e a África. Eu diria que é uma missão impossível nesta altura do campeonato. Mas mais vale denunciar desde já o intento e travar os neocons que telepontam Obama, do que remediar.

Lisboa, Portugal e a Península Ibérica voltam assim a ser uma das placas da estratégia mundial.

Se houver dificuldades de abastecimento de petróleo e gás natural oriundos da Rússia, do Médio Oriente e de África (gasoduto Nigéria-Argélia) à Europa, se houver bloqueios marítimos a la cubana, então os portos atlânticos portugueses e espanhóis, assim como as redes ferroviárias de bitola UIC interoperáveis com as redes europeias, e a rede de autoestradas ibéricas serão cruciais para impedir uma qualquer manobra de isolamento económico da Alemanha, França, Holanda e Áustria, entre outros países do centro e norte da Europa Ocidental.

Pelo sim, pelo não, o melhor é andar depressa na rede ferroviária de bitola europeia prevista nos acordos bilaterais com Espanha (sob pena de serem os portos espanhóis a fazerem o serviço todo), aumentar rapidamente a capacidade e operacionalidade dos portos de águas profundas, e investir na reindustrialização tecnológica do país. Os fundos de investimento atolados de liquidez sem destino terão aqui uma boa oportunidade de ganhar algum dinheiro.

Nesta conjuntura perigosa, Portugal deverá assumir uma posição de neutralidade e de cooperação diplomática intensa, usando a sua vastíssima rede de proximidade cultural e política, de que fazem parte, além da Alemanha, França e Reino Unido, muitos outros países, como a China, o Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde ou Timor.

Também por tudo isto, o manifesto pela reestruturação da dívida pública portuguesa, proposto por Francisco Louçã e demais feiticeiros despesistas da macro-economia da treta, é um erro colossal.

Atualizado em: 1/4/14 11:27

segunda-feira, março 31, 2014

Estatísticas criativas agradam ao governo, claro!

Se o estado não encolheu, mas a economia encolhe, não pode haver redução consistente da dívida pública, nem consolidação orçamental. É óbvio!


Portugal fecha 2013 com um défice de 4,9% do PIB
(act.)
31 Março 2014, 11:08 - Jornal de Negócios

O défice orçamental do ano passado ficou em 4,9% do PIB, incluindo o efeito do Banif, um ponto abaixo da estimativa do Governo e da troika.

O défice orçamental de 2013 ficou nos 4,9% do PIB, um valor inferior à meta acordada com a troika para o ano passado de 5,9%, incluindo a recapitalização do Banif. A diferença de quase 1.656 milhões de euros concede alguma folga ao Governo para a meta de défice de 4% do PIB definida para o final deste ano.

A contabilidade criativa é um desporto mundial a precisar de umas Olimpíadas, mas enfim, à custa dum aumento colossal e proto-fascista de impostos (refiro-me aqui ao autismo e autoritarismo da máquina fiscal), lá mascararam os números do défice, enquanto a dívida pública (que anda mais próxima dos 165% do que dos 129% anunciados), essa, continuou a subir.

O pior, porém, está para vir...

Enquanto não reduzirmos a sério o perímetro de ação do estado corporativo e clientelar que temos, e não entregarmos às pessoas o que estas sabem, podem, querem e devem fazer sem intromissão de políticos indigentes e burocratas, aquilo que continuaremos a ter pela frente é uma dívida insustentável e argumentos a favor dos que querem sair do euro e regressar ao nacionalismo parolo e proto-fascista, ainda que, desta vez, mascarado de democracia mexicana.

Schaeuble desanca banqueiros

Hiperinflação no Zimbabué, em 2008. WealthDaily.

A Alemanha não quer ver mais os bancos da zona euro a destruir economias inteiras em consequência do excesso de desregulamentação e pirataria. Quem não estiver bem, mude-se!

Germany in renewed push for EU treaty changeeuobserver, 28.03.14 
Wolfgang Schaeuble: "After the EU elections the debate about treaty change will be back on the table. The federal government will plead for institutional improvements, at least in the eurozone. The monetary union needs a joint finance- and economic policy, with corresponding institutions," Schaeuble said in an interview with Handelsblatt published on Thursday (27 March).

(...) "I also fell to the temptation of deregulation, deregulation, deregulation. And in the end, financial markets destroyed themselves. And who had to rescue them? The stupid politicians, who suddenly were good enough for that. That's why we are applying the lessons learnt and create rules. They don't like it, but it has to be," the German finance minister said.

Curiosamente, a desmiolada 'esquerda' que temos favorece a posição dos 'banksters' indígenas, ao pedirem a famosa reestruturação da dívida pública, a qual, se tivesse lugar, conduziria Portugal à saída do euro.

O raciocínio é simples: estando parte substancial da dívida soberana nos balanços de bancos locais, no Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) e nas carteiras de obrigações de milhares de portugueses, uma reestruturação da dívida soberana atingiria em primeiro lugar os credores internos, sendo que os credores BCE, FMI e UE exerceriam sempre a sua prerrogativa de ficarem fora do haircut, ou seja, da reestruturação. Resumindo: a reestruturação da dívida pública traduzir-se-ia, no essencial, numa expropriação criminosa e brutal dos credores internos, da qual resultaria em seguida a ameaça de colapso em cadeia dos bancos, falências em catadupa de empresas e pessoas, e ainda o colapso instantâneo dos fundos de pensões.

Neste cenário haveria então uma única alternativa para impedir a implosão do regime: sair do euro. É isto que o Louçã e os famosos economistas que o acompanham querem, não é verdade?

O regresso ao escudo, ou outra lata qualquer, traduzir-se-ia no aumento instantâneo do preço da dívida (pela degradação inevitável do câmbio escudo/euro), no aumento exponencial dos preços da energia e de todas as outras importações, e ainda na implementação dum verdadeiro fascismo fiscal.

É claro que os portugueses veriam de novo as suas carteiras cheias de papel, que trocariam entre si, animando ilusoriamente uma economia de novo inflacionista. Duvido, porém, que tal papel servisse sequer para limpar o traseiro!

O assalto aos fundos da Segurança Social — Vítor Lima e Rui Viana Pereira, CADPP

O último acto oficial do ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar foi uma portaria assinada em parceria com o ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Mota Soares. Este diploma obriga o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) a comprar dívida pública portuguesa até ao limite de 90% da sua capacidade de investimento financeiro. Para cumprir este objectivo, o FEFSS terá de vender os seus activos em carteira – ou seja, abrir mão de um conjunto diversificado de investimentos seguros, onde se incluem acções de empresas e títulos de dívida de outros países da OCDE.

Ler texto integral

Resta saber, em suma, o que pensam José Manuel Durão Barroso e os seus patrocinadores de Washington de tudo isto...

Reduzir para 170 o número de deputados


Democracia, com, ou sem partidos?


Durão Barroso foi demasiado expedito ao declarar na primeira entrevista de pré-candidatura às próximas eleições presidenciais, dada à SIC no passado dia 28 de março, que não há democracia sem partidos, numa aparente resposta à contestação generalizada, nomeadamente na Europa, da função dos partidos no presente estado de degenerescência democrática global. Não creio que tenha lido o texto Democracia sem partidos?, aqui publicado, mas talvez devesse lê-lo.

Pelo modo como admoestou, por mais de uma vez, os parlamentos e os tribunais constitucionais grego e português, diria que o ainda presidente da Comissão Europeia, de facto, considerou os partidos uma espécie de empecilhos à prossecução dos objetivos técnicos da Comissão, do FMI e do Banco Central Europeu.

Pelo modo como anunciou à pacata praia lusitana que o próximo governo do país terá que ser um bloco central alargado dos três partidos que nos trouxeram até aqui, e que o próximo presidente da república deverá ser um candidato proposto por estas mesmas três forças políticas, ficamos todos com enormes dúvidas sobre o que Durão Barroso considera ser um partido político. Qual é a distância que separa uma coligação PS-PSD-CDS de um regime de partido único? Quem nos garante que uma coligação deste género se não transformará, de aparente proposta inocente para uma coligação temporária, num partido único disfarçado?

Consigo desde já imaginar toda a corja devorista a salivar!

Em que ficamos?

Eu e muitos outros que temos vindo a denunciar o colapso das partidocracias instaladas, e a defender uma reforma profunda dos regimes democráticos da Europa, Estados Unidos e Canadá —capaz de atacar o excesso de burocracia e a concomitante corrupção dos sistemas partidários, e de promover o reforço alternativo das plataformas e mecanismos de democracia direta no sistema de equilíbrio das representações e dos poderes— não queremos acabar com a hegemonia dos partidos, para melhor dominar as democracias, mas queremos limitar constitucionalmente o poder discricionário e egoísta dos partidos e suas insaciáveis clientelas eleitoralistas, precisamente para reforçar a capacidade das democracias representativas gerirem as mudanças, mitigarem as crises e impedirem o agravamento das assimetrias económicas e sociais criminosamente em curso.

As tecnologias de transporte rápido, informação e comunicações, reprodução de documentos, tele-presença e realidade aumentada, evoluíram de tal modo que já nada justifica manter um status quo burocrático obsoleto, cujos custos astronómicos ameaçam aceleradamente a própria sustentabilidade do chamado estado social. É hoje não só possível, mas absolutamente necessário, reduzir drasticamente os custos inúteis e as funções obsoletas dos aparelhos de estado e de poder herdados da revolução industrial do século 19 — pois é ainda aí que estamos!

Precisamos de limitar rapidamente o poder dos partidos, sim, mas sem por isso deitar fora a democracia, como paradoxalmente parece querer Durão Barroso ao despedir a hipótese de uma democracia sem partidos.


NOTA BREVE

O gráfico acima poderá induzir em erro o entendimento que temos do nosso parlamento de deputados eunucos. Na realidade, o excesso de deputados, que é evidente, não anda muito longe, em matéria de proporcionalidade relativamente ao número de habitantes, dos excessos do resto dos parlamentos europeus. Estamos, por assim dizer, a meio da tabela. Seja como for, de imediato, mantenho a convicção de que, para além da reforma que o parlamento deve sofrer em sede de revisão constitucional urgente, seria do mais elementar bom senso que os próprios partidos anunciassem a intenção de reduzir o seu número para o limiar mínimo já constitucionalmente previsto: 170 deputados — sem que tal economia impeça a presente e até uma mais ampla gama cromática.

Dei-me ao trabalho de verificar a situação no terreno. Eis o relatório...

País | População | nº Deputados | Representação (deputado/população)

Alemanha: 82.200.162/622; 1:132.155
Espanha: 45.257.696/350; 1:129.308
França: 63.779.059/577; 1:110.536
Países Baixos: 16.402.047/150; 1:109.347
Itália: 60.017.335/630; 1:95.266
Reino Unido: 61.270.283/650; 1:94.262
Polónia: 37.996.168/460; 1:82.600
Roménia: 21.423.366/334; 1:64.142
Bélgica: 10.660.770/ 150; 1:71.072
República Checa: 10.345.924/200; 1:51.730
Bulgária: 7.605.064/150; 1:50.700
Portugal: 10.633.006/230; 1:46.230
Áustria: 8.327.230/183; 1:45.504
Grécia: 11.216.708/300; 1:37.389
Eslováquia: 5.398.759/150; 1:35.992
Dinamarca: 5.479.712/179; 1:30.613
Croácia: 4.453.500/ 151; 1:29.493
Irlanda: 4.414.797/166; 1:26.595
Finlândia: 5.296.826/200; 1:26.484
Suécia: 9.181.706/349; 1:26.309
Hungria: 10.046.273/386; 1:26.027
Lituânia: 3.365.442/141; 1:23.868
Letónia: 2.269.101/100; 1:22.691
Eslovénia: 2.022.636/90; 1:22.474
Chipre: 796.350/56; 1:14.221
Estónia: 1.338.617/101; 1:13.254
Luxemburgo: 482.186/60; 1:8.036
Malta: 410.494/69; 1:5.949

Referências:




sábado, março 29, 2014

Barroso vira-se para Belém

Fotografia © REUTERS/Vincent Kessler

Um 'não' que quer dizer 'sim'


Durão Barroso: "Disse várias vezes ao primeiro-ministro que há limites para uma certa política—Público, 29/03/2014 - 10:22

Depois de ouvir a entrevista dada ontem por José Manuel Durão Barroso à SIC fiquei com a certeza de que o ainda presidente da Comissão Europeia se candidatará nas próximas eleições presidenciais. O homem é demasiado novo para perder uma tal oportunidade ao fim de três décadas de fulgurante carreira política, nacional e internacional. Que outra personalidade indígena estaria melhor colocado? Quem melhor do que Barroso conhece a malta do PS, do PSD e do CDS? Quem, além dele, entre nós, beija e trata por tu os principais líderes europeus e mundiais? Tem a América melhor amigo neste cantinho estratégico da Europa? Poderá Portugal, no aperto em que se encontra hoje, e de hoje até 2016, e ainda de 2016 a 2026, deitar fora um poliglota com semelhante carreira política e agenda de contatos? A menos que o chamem para presidir à ONU ou à NATO, não vejo como possa dizer não à próxima corrida presidencial.

O seu programa presidencial foi, aliás, exposto sem ambiguidade nas respostas que foi dando ao entrevistador da SIC, Ricardo Costa: é contra a reestruturação da dívida pública; quer um presidente da república apoiado pelos três principais partidos; quer um governo de emergência nacional integrado pelo PS, PSD e CDS; e considera que, tendo sido já esticada até ao limite a corda da austeridade sobre os mais débeis e as classes médias, a consolidação orçamental e o crescimento terão que contar com um esforço maior dos mais ricos, e sobretudo com o apoio de uma União Europeia mais forte no plano financeiro, económico, tecnológico e militar.

As alternativas a Barroso que até agora se puseram em bicos de pé são francamente risíveis quando comparadas com a hipótese Barroso.

A distribuição salomónica de galhardetes a Manuela Ferreira Leite, Bagão Felix e José Sócrates (1) revelou, em suma, que há técnicas que não se esquecem.

NOTAS

  1. Sócrates vende hospitais e património nacional, para esconder défice (Youtube)

    Já se sabia, mas agora é oficial: Sócrates demitiu-se quando os bancos lhe comunicaram que não podiam emprestar mais dinheiro para pagamento de vencimentos do pessoal das administrações públicas. O dinheiro então em caixa baixara para 300 milhões de euros, insuficiente para pagar os vencimentos dos funcionários públicos de um só mês. Assim caiu o vigarista Sócrates deixando um calote público de tal modo gigantesco que só uma intervenção externa evitou cairmos numa guerra civil. Ainda pensa votar nas rosas de plástico do PS? EU NÃO VOTO enquanto não houver um compromisso nacional para mudar a Constituição e reduzir o custo e o desperdício públicos — começando por atacar sem apelo nem agravo a grande corrupção que grassa pelo país e na partidocracia que temos.

Para que serve o INE?

O INE anda muito ativo a prever o que está previsto há anos nos relatórios da ONU


Esta duplicação de serviços tem obviamente custos desnecessários que todos suportamos. Até quando? Esta é mais uma instituição que, tal como a RTP, é muito cara e redundante.

Reduzi-la a uma secção do Eurostat é a única medida ajuizada a tomar, eliminando obviamente inúmeros postos de direção, delegações e rendas.

A ONU (World Population Prospects: The 2012 Revision) prevê para Portugal, em 2060, uma queda demográfica muito acentuada. O valor médio da previsão demográfica é de 9,331 milhões de pessoas, e a previsão em baixa é de 7,839 milhões.

Se fizermos uma média simples entre os dois valores, mediano e baixo, obtemos isto:

(9.331.000 + 7.839.000)/3 = 8.585.000

O INE prevê agora 8.600.000. Capice?


O INE, que em 19 de março de 2009 (Projection of the Resident Population in Portugal, 2008-2060) afirmava que a população portuguesa, no seu cenário central de previsão, se manteria nos 10 milhões de pessoas, em 2060, vem agora corrigir o número para 8.600.000, ou seja, vem agora emendar um erro de previsão na ordem dos 1,4 milhões de pessoas — em apenas seis anos!

A pergunta natural é esta: para que serve o INE?

sexta-feira, março 28, 2014

A grande sangria

Até South Park dedicou um episódio ao jubileu da dívida

Não pagamos?


A reestruturação das dívidas está em curso, ainda que na forma criminosa de uma expropriação fiscal sem precedentes das classes médias, a favor das burocracias instaladas e dos especuladores financeiros. Resta saber se a sangria vai ser ainda mais sangrenta e se atingirá, por fim, os banqueiros, credores e especuladores, como ocorrerá se houver um Jubileu Urbi et Orbi das dívidas públicas e privadas indexadas às rendas e aos empréstimos leoninos e especulativos.

François Morin (1), ex-membro do conselho geral do Banco de França é mais um defensor de um Jubileu das dívidas soberanas à escala global. A anulação das dívidas soberanas poderia começar, como alguns propõem, pela anulação pura e simples dos contratos (não ‘performativos’) de derivados OTC que incidam na especulação sobre taxas de juro, câmbios de moedas e dívidas soberanas.

É possível que os bancos centrais enveredem por esta via no dia em que perceberem que as dívidas soberanas são impagáveis e que a sua própria existência de banqueiros e especuladores desmandados será inexoravelmente ameaçada pelas multidões em fúria se, entretanto, os governos nada fizerem para atalhar a tragédia em curso.

É possível. Mas nada disto arruma a casa insustentável da economia/demografia mundial, no quadro da exaustão irreversível da energia, água, terra arável e matérias primas baratas.

A procura agregada global entrou em conflito irreversível com a oferta agregada global por volta de 1973. A 'revolução de preços' entre 1896-1914 e 1970-1974, referida por David H. Fischer em The Great Wave (1996), terminou. Desde 1970 que os salários reais não têm parado de descer nos Estados Unidos. Caminhamos, pois, para um modelo de crescimento moderado (entre 0 e 2%), que pressupõe uma destruição prévia do trabalho não produtivo remunerado, e uma destruição, portanto, do emprego e do consumo numa escala nunca vista.

Resta, porém, responder a esta pergunta: quantos milhões de vítimas esta mudança de paradigma custará à Humanidade. É bem possível que ocorram suicídios em massa nas sociedades urbanas onde o narcisismo alastrou como uma mancha social de inadaptabilidade às dificuldades que já chegaram e continuarão a agravar-se nas próximas décadas. É bem possível que proliferem guerras internacionais, guerras civis e revoluções.

Alguém quer discutir estes problemas sérios, em vez de continuar entretido no mercado da propaganda e dos jogos palacianos da indigência, da corrupção e do poder?




La grande saignée

À plusieurs reprises entre le XIVe et le XIXe siècle, les rois de France n’ont pas hésité à employer la méthode forte pour soulager l’État de ses dettes : l’incarcération ou la mise à mort pure et simple de ses créanciers. De telles mesures étaient appelées des ­« saignées ».

Selon François Morin, il faudrait retenir ces leçons du passé pour avoir une chance de surmonter le désastre financier à venir. Que se passera-t-il lorsque la bulle obligataire mondiale éclatera ? On peut craindre, entre mille maux, des explosions sociales massives et un délitement instantané des tissus économiques. Ni l’inflation ni la croissance ne réduiront l’endettement mondial. L’effacement de la dette publique ne manquera pas, alors, d’advenir, soit comme une retombée de cette formidable secousse financière, soit comme le résultat d’un nouveau système de financement de l’économie ­mondiale.

Notre seule planche de salut est de mettre en place ce nouveau système dès maintenant : il faut saigner la ­finance avant qu’elle ne nous saigne !

Professeur émérite de sciences économiques à l’Université de Toulouse, François Morin a été membre du conseil général de la Banque de France et du Conseil d’analyse économique. Il a notamment publié Le nouveau mur de l’argent. Essai sur la finance globalisée (Seuil, 2006), Autopsie d’une crise annoncée (Le Pérégrinateur, 2010), Un monde sans Wall Street (Seuil, 2011).

Lux Éditeur

NOTAS
  1. François Morin tem um texto seu “Finança global, Europa e cenários para a saída da crise”— publicado em Perspetivas para uma Outra Zona Euro, coletânea organizada por de Margarida Antunes, Júlio Mota, Vários, Luís Lopes, editada pela Coimbra Editora (ISBN: 9789723222173).