segunda-feira, junho 02, 2014

Bretton Woods II



Enquanto os cães indígenas ladram, a caravana passa e Paul Volcker recomenda um novo Bretton Woods


By now I think we can agree that the absence of an official, rules-based cooperatively managed, monetary system has not been a great success. In fact, international financial crises seem at least as frequent and more destructive in impeding economic stability and growth.

The United States, in particular, had in the 1970’s an unhappy decade of inflation ending in stagflation. The major Latin American debt crisis followed in the 1980’s. There was a serious banking crisis late in that decade, followed by a new Mexican crisis, and then the really big and damaging Asian crisis. Less than a decade later, it was capped by the financial crisis of the 2007-2009 period and the great Recession. Not a pretty picture. At the least, we have been reminded that while free and open capital markets may be needed to support vigorous growth, they are also prone to crisis. The more complex, interrelated and free from official restraints, the greater the collective risk.

For years, the benefits were reflected in the enormous growth and the reduction in poverty of emerging economies. The contrasting concerns are reflected in the slowing of growth and productivity in the industrialized world.

We can all recite a rather long list of culprits contributing to the financial crisis: excessive leverage, outlandish compensation, failures in regulatory oversight, simple greed, and on and on. What I want to raise is what seems to be a neglected question. Amid all the market and institutional excesses, all the regulatory omissions, most of all, the legitimate questions about the underlying failures of national economic policies, has the absence of a well-functioning international monetary system been an enabling (or instigating) condition? Specifically, did the absence of international oversight, of discipline in financing, of exchange rate management permit – even encourage – unsustainable imbalances in international payments and in domestic economies to persist too long?

Many have pointed, for instance, to the huge imbalances at the beginning of this century in international payments between the United States on one side and China and Japan on the other – the largest economies in the world. Those imbalances were easily financed. The result was that a high degree of liquidity at low interest rates could be maintained in the United States, despite the virtual disappearance of domestic savings. The sub-prime mortgage phenomenon was an outgrowth. At the same time, exceptionally high levels of savings and investment in China supported exports without working toward a more balanced economy, including the domestic consumption that would be necessary to sustain Chinese growth in the years ahead.

Where was an effective adjustment mechanism? Was the “exorbitant privilege” of the dollar as a reserve currency also a “dangerous temptation” to procrastinate - an impediment to timely policy adjustments, risking eventual breakdown?

The current travails of the Eurozone (the equivalent of an absolute fixed exchange rate regime) carry interesting lessons. A single currency with the free flows of funds among the member states simply could not substitute for the absence of a unified banking system and incentives for disciplined and complementary national economic policies.

That is all a long introduction to a plea – a plea for attention to the need for developing an international monetary and financial system worthy of our time.

in REMARKS BY PAUL A. VOLCKER AT THE ANNUAL MEETING OF THE BRETTON WOODS COMMITTEE WASHINGTON, DC – MAY 21, 2014 (pdf)

Bloco de tresmalhados

 

Só Ana Drago parece ter algum tino


Os eleitores do oportunista Bloco fugiram para o Livre e para Marinho Pinto, não para Bruxelas, nem para a Austrália, onde podem votar nas eleições portuguesas, como é sabido.

A desculpa esfarrapada do senhor ex-PCP Semedo,
do trotsquista quadrado e dos demais estalinistas encobertos que mandam e manipulam o Bloco (de professores) de Esquerda não cola.

Como bons herdeiros do marxismo autoritário e degenerado, que o ex-comunista Mário Soares, pelos vistos, também segue, os resultados eleitorais não lhes dizem nada. Até podiam ter ficado sem qualquer deputado em Bruxelas, que nenhuma destas criaturas messiânicas se lembraria de deixar o cargo a outro. 


Sofrem, quem diria, do célebre síndroma conhecido por Cadeira de Salazar: só abandonam o poder quando caiem da cadeira e lhes desligam as máquinas.
 

Ana Drago parece ser a única mulher com bom senso naquele sacos de gatos tresmalhados.

BE chumbou início de diálogos com 3D, Livre e PAN

A Mesa Nacional do Bloco de Esquerda chumbou hoje, por dez votos, uma proposta de Ana Drago para o início de diálogos com o movimento 3D, o Livre e o PAN no sentido de uma convergência à esquerda.

Segundo as mesmas fontes, na reunião de hoje da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, em Lisboa, foram também chumbadas duas propostas de antecipação da próxima Convenção Nacional do partido apresentadas com o objetivo de acelerar a tomada de decisões internas.

DN, 1/6/2014


Bloco está contra redução de deputados

João Semedo, um dos coordenadores do Bloco de Esquerda (BE), afirmou hoje que o partido está contra a redução do número de deputados de 230 para 180, tal como foi proposto este sábado pelo secretário-geral do PS, António José Seguro. Numa conferência de imprensa para analisar os resultados das eleições europeias, João Semedo classificou-os como "maus".

Porém, João Semedo afirmou que vários fatores concorreram para que o Bloco apenas elegesse Marisa Matias para o Parlamento Europeu, ficando atrás da lista do Movimento Partido da Terra encabeçada por António Marinho Pinto. A "elevada emigração", que nos últimos anos terá afetado mais os jovens, foi uma das causas apresentadas, "já que o Bloco tem muita influência nos jovens", disse Semedo.

DN, 1/6/2014

domingo, junho 01, 2014

Meninos e meninas cor-de-rosa do Papá


Isabel Moreira: “A política não é o palco das mágoas.”


A minha intepretação é diametralmente oposta à sua, Isabel Moreira. Foi precisamente o vislumbre de uma solução governativa viável depois das próximas legislativas —e não qualquer estado de alma— que sobressaltou Mário Soares, António Costa, José Sócrates, a Maçonaria aflita e jovens como V. e o João Galamba, que deveriam livrar-se das sombras paternais e do nepotismo onde vivem como se o mundo fosse naturalmente assim, preferindo prolongar a lógica medieval e oligarca do favoritismo familiar, ofendendo-se como puras virgens quando tal lhes é lembrado.

Quem não sente não é filho de boa gente. Conhece o provérbio, Isabel Moreira?

E que diz a sua sapiência jurídica sobre este caso? Há ou não há regras institucionais que impedem que a substituição de um líder partidário seja uma tourada? E quem deu a alternativa a Mários Soares, Costa, etc., para exigirem a cabeça de António José Seguro (1) depois de uma vitória eleitoral clara?

Se a vantagem eleitoral do PS nestas eleições, que foi maior do que a que Sócrates obteve no ano em que distribuiu o que não tinha aos papalvos que agora berram nas ruas (2009), em vez de quase 5%, fosse de 10%, já chegaria? Não, não chegaria! Pois não foi o ex-comunista Mário Soares (há tiques que não se esquecem...) que escreveu há dias que
“...a “grande vitória” anunciada por Seguro foi uma vitória de Pirro. Que não pode deixar de desagradar aos socialistas a sério que tenham uma ambição para lá de ganhar eleições (...) ?”
Não foi Seguro que enterrou o país, mas o seu pai, o seu Deus (Mário Soares) e o estarola José Sócrates. Convém não nos esquecermos do essencial.

Comentário de Isabel Moreira no Facebook:
A leitura de resultados eleitorais e as conclusões subsequentes não são uma questão de afetos. Seguro fica mal afirmando-se “magoado”. Ninguém o quer “magoar” e o que me causa mágoa é estar a ouvir e a repetir a palavra. Fazer política passa por observar, concluir e agir. Sempre no interesse do país através do fortalecimento do Partido, aqui o PS, desde logo perante um eleitorado desiludido. Um líder com estatura desafiado por Costa e por uma cada vez mais abrangente vontade de socialistas, simpatizantes e eleitores em geral, convoca um Congresso e clarifica a questão com rapidez. Um líder agarrado ao poder pelo poder, pelo sonho de uma frase no seu CV, faz o que Seguro nos apresentou: adia. Primeiro agarra-se aos estatutos como um professor de gramática; depois larga os estatutos e adia propondo uma alteração conjuntural dos estatutos, sem congresso, para aprovar o que sempre rejeitou; depois ultrapassa Marinho no populismo. É impressionante ver alguém chegar ao ponto de preferir prejudicar o país, destruir um Partido fundador da democracia, a sair da cadeira. Está magoado, diz. Pois. Mas a política não é o palco das mágoas.
POST SCRIPTUM —  O candidato Marcelo colocou-se esta noite ao lado de António Costa e do Pinóquio, pois imagina que é a melhor alternativa para os seus incontidos desejos presidenciais. Tem razão, pois a trampa que falta soltar sobre o socratismo é suficiente para eliminar qualquer candidato oriundo da malta que afundou o país. Como é possível, por outro lado, deixar o Marcelo usar semanalmente um canal de televisão para promover a sua ambição pessoal? Será que a TVI decidiu transformar este sabonete num presidente?

NOTAS
  1. Tive, até à resposta redonda dada por António José Seguro este fim de semana à conspiração que visa derrubá-lo através do acosso e do atropelo das mais elementares regras institucionais e de decência democráticas, a pior impressão deste dirigente do PS. Escrevi várias vezes que Seguro estava a prazo, e sempre fui dizendo que a culpa era exclusivamente dele, por não ter sabido, ou não ter querido, criticar José Sócrates pelo desastre que conduziu o país a mais um resgate humilhante. Escrevi sobre esta cobardia, ou cálculo impercetível, o óbvio: que se não promovesse a autocrítica do PS face ao passado recente, atribuindo responsabilidades especiais a José Sócrates e à gentinha que o acompanhou até o país ficar sem dinheiro para pagar aos funcionários públicos, seria conivente com a situação e, pior ainda, seria sempre uma presa fácil dos condes, barões e baronesas do PS, ao mesmo tempo que afastaria muito eleitorado tradicional e potencial do PS legitimamente indignado com o que fomos sabendo da nomenclatura do Partido Socialista desde o célebre escândalo de pedofilia até ao mundo sinistro do socratismo. Com a apresentação das quatro rosas institucionais para a mudança do sistema político-partidário produziu a insolvência estrutural do regime, o caso muda objetivamente de figura! A expetativa não poderia ser maior. Nem mais prudente.

Sobre Isabel Moreira neste blogue

Atualizado: 1/6/2014 23:48

A transfiguração de Seguro

Alea jacta est!

Líder fraco, líder forte!


Bastou um passo em falso grosseiro como a tentativa de decapitar o PS do seu líder através dum golpe palaciano com o apoio canino da imprensa indigente que temos para que António José Seguro passasse por uma verdadeira metamorfose.
“Há muitos portugueses que consideram que o PS tem muitas responsabilidades em relação ao estado a que o país chegou”— António José Seguro em entrevista à TVI (31/5/2014)

“Não vai haver (liderança bicéfala) porque eu vou ganhar essas eleições” — idem.
António José Seguro fez o que há muito deveria ter feito: responsabilizar a direção de José Sócrates pela crise de confiança no PS da parte do seu eleitorado tradicional e potencial. A resposta de Seguro à tentativa de assalto ilegal à direção do PS por parte de Mário Soares e José Sócrates, de que António Costa foi incumbido, é um virar de página no sistema partidário português, e um desafio que a democracia e a cidadania devem assumir por inteiro. Saúdo-o por isso!

Os factos são cristalinos (não é António Vitorino?)
  1. António José Seguro é o lider legítimo e legal do Partido Socialista, escolhido em eleições diretas (com praticamente 68% dos votos) e consagrado no congresso subsequente;
  2. O PS venceu as duas únicas eleições disputadas desde que António José Seguro é líder. Teve a maior vitória autárquica de sempre em 2013, e venceu as europeias com uma vantagem de quase 5% sobre as europeias disputadas por José Sócrates em 2009 (ano de bodo cor-de-rosa aos pobres, lembram-se?), sendo que a coligação no governo teve o seu pior resultado eleitoral de sempre;
  3. Mário Soares e António Costa desafiaram a liderança de António José Seguro na rua, como vulgares arruaceiros estalinistas, invocando que o PS precisa dum líder ganhador e de confiança, desvalorizando de forma totalmente viciada e demagógica as vitórias eleitorais do mesmo, como se não soubessem e não fosse evidente que a desconfiança dos eleitores no atual sistema partidocrata, de que Soares e Costa são as mais descaradas evidências, é a principal explicação para a fraca votação nos partidos do regime. Como todos sabemos, a maoria absoluta eleitoral chama-se Abstenção! E mais, como não fosse também evidente que José Sócrates saíu pela porta do cavalo —de primeiro ministro e de secretáario-geral do PS— depois de ter sido confrontado pelos banqueiros do regime com a informação de que os cofres do Estado esavam vazios!
Quanto à reforma inadiável do regime, aguardamos todos a resposta de António Costa (e já agora do PSD, e de Marinho Pinto) à revolução institucional proposta por António José Seguro:
  1. Primárias abertas aos militantes, simpatizantes e eleitores regulares do PS;
  2. Diminuição do número de deputados para o limite mínimo legalmente previsto: 180;
  3. Aproximação dos eleitores aos eleitos, mudando o método de eleição dos deputados; 
  4. Alteração da lei de incompatibilidades de cargos públicos por forma a afastar os lobistas encaptodados dos centros de decisão política.
E quanto à resposta ao colapso financeiro em curso no país, política fiscal e política económica, a verdade é que, se a atual direção do PS optou sobretudo por opor-se ao governo, sem na verdade mostrar um caminho programático alternativo credível, por outro lado, da parte de António Costa apenas conhecemos (e não totalmente...) a negra herança de José Sócrates.

POST SCRIPTUM

Fui ver os Estatutos do PS, por recomendação dum amigo. Não creio que haja nada na lei do PS que proteja o atual líder para além do que é razoável na preservação da estabilidade mínima necessária de uma instituição cujos corpos gerentes são eleitos, e não nomeados por vontade dum qualquer fantasma de legitimidade caciqueira ou medieval. 

Goldman Sachs especula com Sol e vento

Ivanpah Solar Electric Generating System - um projeto com menos de 25% de eficiência (LINK)

Pinóquio 'socialista' dinamarquês vendeu a alma ao diabo, tal como ocorreu em Portugal


Especuladores da Goldman Sachs atacaram em janeiro deste ano o setor energético da Dinamarca, acenando com bons negócios aos seus cleintes, evocando subrepticiamente a venda da Horizon Wind Energy à EDP. Para que conste...

Goldman Sachs sees “transformational moment” in renewables investment
By Giles Parkinson on 31 January 2014, in REneweconomy.

Investment banking giant Goldman Sachs has declared the renewable energy sector to be one of the most compelling and attractive markets – and is backing up its talk with $US40 billion ($A46 billion) of made and planned investments.

[...]

Among Goldman Sachs’ key investments are a recently-approved $1.5 billion investment for a near 20 per cent stake in Danish offshore wind energy developer Dong Energy.

It has also a substantial investment in BrightSource Energy, which is about to bring its huge Ivanpah solar power project (pictured) into full production – it will be the largest in the world.

Goldman Sachs also provided $500 million of finance to SolarCity, to allow the biggest solar installer in the US to expand its solar leasing business. Goldmans is one of a number of banks to do that –the latest was Bank of America/Merrill Lynch.

It has also been an early investor in First Solar, the largest solar PV manufacturer in the US, SunEdison, and made big money from the sale of  Horizon Wind Energy to Portugal’s EDP for $2.15 billion in 2007.

Goldman’s commitment of $40 billion is based around a number of assumptions – that costs will continue to decline as efficiency improves, that solar and wind will reach grid parity without subsidies in the not-too-distant future, and that energy storage issues will also be solved.

It also believes that the position of coal at the top of the global fuel mix is eroding – something that it highlighted in a recent report that said the window for thermal coal was closing rapidly.
A closer look at a Goldman Sachs deal many in Denmark find rotten
FT. January 31, 2014. By Richard Milne, Nordic Correspondent.

Goldman Sachs has faced plenty of unsavoury claims in recent years – from accusations about its role in the global financial crisis to suggestions it helped the Greek government massage its figures. Now it can be said to have nearly brought down the Danish government.

Much of the ire directed against an investment deal for a state-owned Danish utility stems solely from the involvement of the US investment bank, derided this week by protesters in Copenhagen waving banners of a vampire squid.

[...]

4. Goldman’s veto rights

The sharing of risk was not the only problem people found in the finance ministry document. It also detailed how New Energy Investment – the name of the investment vehicle Goldman is using to buy the stake – will get veto rights that no other investor will enjoy.

So if Dong wants to deviate from its current business plan, change its chief executive or finance director, make a big acquisition, or sell new shares, it needs to gain the prior approval of Goldman.


Goldman Deal on Danish Energy Splits Copenhagen Coalition
Bloomberg. By Peter Levring and Christian Wienberg Jan 30, 2014.

Denmark’s government mustered enough votes to let Goldman Sachs Group Inc. (GS) buy a stake in state-owned Dong Energy A/S after resistance to the deal prompted one of the ruling coalition’s three parties to quit.

The government of Prime Minister Helle Thorning-Schmidt won majority lawmaker backing for the deal even after the Socialist People’s Party left the coalition today.
Socialists Furious As Denmark Lets Goldman Have The Dong
Zero Hedge, 30/01/2014.

Yesterday we reported that Goldman’s attempt to buy an 18% stake in Dong Energy, the world’s biggest operator of offshore wind farms, while largely preapproved by Danish politicians, had met with solid resistance by the broader population, which had started a petition to block the sale, signed by nearly 200,000 as of yesterday. Alas, despite the valiant effort by the population to keep the energy company - with 68% of the population polled as being against the deal - the country’s politicians, certainly with no palms greased by the world’s biggest depositor-insured hedge fund - just let Goldman have the DONG.  As Bloomberg reports, “a majority in Denmark’s parliament will let Goldman Sachs Group Inc. proceed with its purchase of a stake in state-owned utility Dong Energy A/S, according to a senior lawmaker in the ruling Social Democrat Party.”
Angry Danes Refuse To Sell 19% Of Their DONG To Goldman Sachs
Zero Hedge, 29/01/2014.

With the (emerging) world suddenly collapsing, appropriately enough on the Chairsatan’s last FOMC conference, here is an amusing update from Denmark where apparently the locals are less than excited about giving away their DONG (that would be Danish Oil & Natural Gas for the perverts) to Goldman Sachs. Specifically, over the past several days, a whopping 186,000 Danes have signed a petition to stop the sale of a 19% stake with extraordinary minority stakeholder rights in DONG to Goldman Sachs. Then again, every DONG has its price...

Risco de pobreza na Europa

Portugal, acima da média europeia na curva da pobreza

É nisto que António José Seguro tem que se concentrar, mas para levar a água ao seu moinho terá mesmo que apresentar a sua REFORMA INSTITUCIONAL de 4 pontos ao país e lançar uma discussão nacional, desafiando todas as forças partidárias a pronunciar-se sobre a mesma.

Quanto às galinhas da comunicação social, Seguro não deve preocupar-se, pois estas aves penadas são como os girassóis: viram-se invariavelmente em direção à luz!

sábado, maio 31, 2014

Sines, homenagem de um marinheiro

O Comandante Joaquim Ferreira da Silva mirando o porto de Sines

10º aniversário da descarga do 1º contentor em Sines (31 Maio 2004)


Por Joaquim Ferreira da Silva

Faz hoje 10 anos que assistimos, de nossa casa, no alto da Torre dos Pontos Cardeais, no Edifício Moinho de Marés, à descarga dos primeiros contentores, no novo terminal XXI de Sines. A operação foi realizada pelo navio “MSC CRISTIANA”, um navio de carga geral, então adaptado ao transporte de contentores, com um comprimento de 184 metros, calado de 10 metros e 20 mil toneladas de porte. O novo cais estava equipado com dois pórticos. Havia então ainda muito cepticismo face ao possível sucesso do porto como terminal de contentores.

Nesse dia, o navio “CRISTINA” movimentou 248 TEUS na descarga e 52 na carga. Dez anos depois, no passado mês de Abril, o terminal de Sines, já com seis pórticos Post-Panamax, movimentou um total de 102.502 TEUS; mais de 3 mil por dia!

E já em Maio foi assinada a expansão do terminal que passará o cais de 730 para 940 metros, com mais 3 pórticos, a permitir atracação simultânea de três navios porta-contentores da última geração (18 a 19.000 TEUS) e levar o terminal a movimentar cerca de 2 milhões TEUS ano.

Mas a já longa história do porto mostra-nos sempre a existência desse cepticismo face ao seu futuro.

Em 1978 foi iniciada a descarga das primeiras ramas de petróleo no terminal petrolífero, concluído em 1977. Foi o resultado dos trabalhos do Gabinete da Área de Sines, criado em 1971 com o objectivo de planear as instalações da nova refinaria e do porto para se receber essencialmente o petróleo angolano. Quinze anos antes, em 11 Setembro de 1956, iniciara-se a exportação (do porto de Luanda) do petróleo descoberto em Angola; à época estávamos em funções de imediato a bordo do N/T “São Mamede” e entregámos as luvas ao Presidente Craveiro Lopes para abrir a válvula de entrada do navio e receber as primeiras ramas provenientes dos poços (os quatro primeiros abertos) de Benfica, nos arredores de Luanda.

Os promotores do novo porto apelaram à nossa Marinha de Guerra, então totalmente responsável por todas as actividades do sector Mar, para enviar um grupo de peritos, conhecedores do sector, para se definir o tipo de instalações a construir. Foi face a esta discussão que se concluiu, no verão de 1972 — num famoso almoço na praia Vasco da Gama, presidido por Marcelo Caetano e todos os técnicos do projecto, conhecido pelo “almoço dos salmonetes”, por nele se terem  comido tais peixes com 1,5 kg de peso, hoje raros —, o parecer do grupo da Marinha (que nós incluíamos representando, por nomeação sindical, o sector do pessoal do bordo).

Parecer esse aprovado pelo Gabinete que definia que o porto devia ser construído com um cais com condições de segurança para atracação dos petroleiros e não por via duma mono-bóia ao largo da costa, como certos operadores – em especial o então presidente da Shell, Duque Pozzo di Borgo -  que defendiam a descarga dos navios, por esta via, ao largo da baia da Sines, alegando menores custos.

Mostrámos, em nome das tripulações, que seria difícil operar navios no fim de longas viagens, amarrados a uma bóia ao largo duma costa muito exposta a temporais, e levar a bordo  pessoal, familiares e outros operadores, abastecer os navios, etc. em condições de segurança e eficiência. Mesmo que a mono-bóia se tornasse polivalente em condutas ligadas a terra.

Mas nessa altura os governantes escutavam e seguiam os pareceres técnicos.

Mais tarde o Presidente da Shell aceitou nossa recusa – guardamos hoje a carta concordante que nos enviou – e viu-se o que foi o crescer do terminal; crudes e refinados.

Aliás já tínhamos sido, em 1970, os primeiros a referenciar, na Revista Neptuno —“Onde Fazer um Terminal para Super-Petroleiros”—, Sines como o melhor local da costa portuguesa para construir um cais para navios de grandes dimensões.

E continuámos ligados à vida do porto.

Em 1980, no seguimento da explosão do petroleiro “Campeon”, voltámos a Sines para trabalhar com o Dr Mário Raposo na peritagem do grave acidente dela resultante.

Em 1981 era inaugurado o novo terminal de produtos químicos.

Em 1992, um novo cais “multipurpose” e “Ro-Ro” mostra-nos que o porto não parava, e em 2003 um novo terminal para Gás-Natural confirma esse movimento. Que se reforçou em 2004 com o Terminal XXI. E ainda não parou!

Em 1999, aquando duma palestra local sobre o Plano Mar Limpo, encontrámos a Torre dos Pontos Cardeais em construção e apaixonados pelas vistas da grande baía Vasco da Gama e de todas as instalações portuárias já então construídas (da pesca ao recreio) e da costa portuguesa entre a serra de Monchique e a serra da Arrábida, adquirimos o 5º piso. Com as impressionantes vistas que vos oferecemos...

Baía Vasco da Gama, Sines, vista da Torre dos Pontos Cardeais

Infelizmente, navios arvorando bandeira portuguesa são raríssimos já de se ver no porto. Mas espero ainda dali ver paquetes atracados num novo terminal, a movimentarem turistas para o Alentejo, já a encher-se deles dia a dia.

Na costa norte de Sines até Tróia estende-se o maior e mais “selvagem” areal (42 kms) da Europa, e na costa sul, os locais com maiores vestígios históricos romanos.

Que se concretize o seu desenvolvimento são os votos do meu muito saudar neste aniversário.



NR SOBRE O CMDT JOAQUIM FERREIRA DA SILVA

Habituámo-nos a ler e a considerar as mensagens de Joaquim Ferreira da Silva como palavras de um marinheiro humanista, apaixonado pelo mar, pelos barcos que transportam a seiva do mundo industrial moderno, e pelo seu país. Sem memória e sem amor não há nação que resista às adversidades.

Autor de As Artes Navais para a Conquista de Lisboa aos Mouros em 1147 (2013), e A Odisseia do Transporte Marítimo do Petróleo no Século XX... (2012), editados pela Chiado Editora, Joaquim Ferreira da Silva, segundo a biografia publicada, completou, em 1948, o curso de Pilotagem na escola náutica de Lisboa. Iniciou a sua vida profissional ao serviço da SOPONATA e da SACOR MARÍTIMA Lta, empresas onde serviu mais de 20 anos como Oficial e Comandante de alguns dos seus navios, nos quais navegou mais de 1 milhão de milhas.

No início da década de 70 dedicou-se ao ensino náutico tendo exercido funções docentes, quer na escola Náutica Infante D. Henriques, na qual foi Director, quer em Escolas Náuticas Estrangeiras ao serviço da IMO (international Maritime Organization), Agência das Nações Unidas, onde desempenhou funções de Director de Projectos.

Proposto pelo Governo Português para Secretário-Geral do Acordo de Lisboa (CILPAN), a sua aprovação foi feita por unanimidade pelos Estados Contratantes, em Bruxelas, Junho de 1991, desempenhando essas funções até se reformar em 1998.

Desde esta data tem continuado a sua acção na protecção e importância dos Mares por via de trabalhos, palestras e artigos em diversa impresa. Acção essa igualmente desenvolvida junto das organizações nacionais e estrangeiras, pugnando por uma continua melhoria da segurança dos navios e das suas tripulações como principal meio da prevenção contra os acidentes marítimos causadores de graves poluições.

Sobre o livro A Odisseia do Transporte Marítimo do Petróleo no século XX, um milhão de milhas navegadas:

O petróleo é, presentemente, a maior fonte energética da humanidade; 40% de toda a energia consumida no mundo.
Esta Importância não se teria de certo registado se, após a sua descoberta, não se tivessem desenvolvido os meios para os seu transporte ao longo dos mares, em especial por via de navios entre continentes.
Quando se concebeu o primeiro navio tanque petroleiro, nos finais do XIX, o petróleo, então explorado em locais muito restritos do planeta, foi levado a todos os recantos da Terra por via do transporte marítimo.
Portugal não podia deixar de utilizar esta via, quer pela sua localização geo-marítima quer por não ser produtor daquele produto, e desenvolveu as suas unidades navais necessárias para esse transporte proveniente dos países produtores.
Na segunda metade do século XX, com a instalação de refinarias próprias construiu a maior frota de navios petroleiros que jamais navegaram sob bandeira portuguesa.
É toda essa actividade, desde os navios em si, dos homens e métodos para os navegar até às actividades nos nossos portos, que a presente obra nos revela.

E ainda uma passagem deste livro, sobre os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, citado pelo blogue 10 mil insurrectos:

“Em 1948 existiam graves problemas laborais com os operários dos estaleiros portugueses: baixos ordenados, pouca ou quase nula assistência social e formação profissional muito restrita e de fraco nível.

Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo não fugiam à regra. Grande número do pessoal, mesmo o pessoal fixo dos Estaleiros, comia apenas uma refeição por dia. Não havia qualquer cantina organizada dentro das instalações, que fornecesse uma simples sopa. Os operários traziam as refeições nas lancheiras preparadas em casa. Por vezes estavam até altas horas da noite sem serem rendidos, apenas com o almoço que tinham trazido, num desejo de ganhar mais alguns magros escudos em horas extraordinárias.

Quando algum tripulante do nosso navio se dirigia à popa, para retirar algum alimento do frigorífico, (...) era frequente aparecerem operários que (...) abeiravam-se desse tripulante e pediam-lhe comida.

Muitos desses homens sofriam de várias doenças crónicas causadas pela profissão que exerciam, sendo a maior parte dessas doenças do foro respiratório, por intoxicação devida aos gases libertados pelas tintas usadas nas contínuas pinturas dos cascos dos navios”.