quinta-feira, agosto 06, 2015

Sem energia barata não há crescimento

Figure 12. World GDP in 2010$ (from USDA) compared to World Consumption of Energy (from BP Statistical Review of World Energy 2014)

O petróleo continua muito caro!


What we really need is more high wage jobs. Unfortunately, these jobs need to be supported by the availability of large amounts of very inexpensive energy. It is the lack of inexpensive energy, to match the $20 per barrel oil and very cheap coal upon which the economy has been built that is causing our problems. We don’t really have a way to fix this [Gail Tverberg].

Em vez de ouvir os desvarios geopolíticas sobre energia do senhor Partex (António Costa Silva) seria bem melhor ler o que escreve Gail Tverberg.

A queda dos preços do petróleo não é uma consequência do excesso de oferta e de produção, mas sim da queda agregada da procura motivada pelo preço demasiado alto do petróleo e das commodities em geral.

Neste momento, o preço do petróleo está abaixo do seu custo real uma vez descontado o efeito inflacionista do mercado especulativo que é por definição o seu. Deste modo a indústria petrolífera tenta responder à estagnação económica induzida, precisamente, pelo preço insustentável da energia e das matérias primas—do petróleo, do gás natural, da terra fértil, da água potável, das sementes e dos metais comuns, preciosos e raros.

Em suma, o petróleo está a ser vendido abaixo do seu preço de custo (deflação) porque se tornou demasiado caro. O petróleo barato acabou em 2006 (Peak Oil).

Sem crescimento do consumo energético não há crescimento. Sem crescimento, o endividamento gera instabilidade económica, financeira, social e política.

Ponto.

E agora?

Figure 1. Oil as a percentage of total energy consumption in 2006, based on June 2015 Energy Information data. (Inverted order from chart originally shown.)

Nine Reasons Why Low Oil Prices May “Morph” Into Something Much Worse
by Gail Tverberg
Posted to Our Finite World on July 22, 2015

[...]

4. The way workers afford higher commodity costs is primarily through higher wages. At times, higher debt can also be a workaround. If neither of these is available, commodity prices can fall below the cost of production.

If there is a significant increase in the cost of products like houses and cars, this presents a huge challenge to workers. Usually, workers pay for these products using a combination of wages and debt. If costs rise, they either need higher wages, or a debt package that makes the product more affordable–perhaps lower rates, or a longer period for payment.

Commodity costs have been rising very rapidly in the last fifteen years or so. According to a chart prepared by Steven Kopits, some of the major costs of extracting oil began increasing by 10.9% per year, in about 1999.

In fact, the inflation-adjusted prices of almost all energy and metal products tended to rise rapidly during the period 1999 to 2008 (Figure 7). This was a time period when the amount of mortgage debt was increasing rapidly as lenders began offering home loans with low initial interest rates to almost anyone, including those with low credit scores and irregular income. When debt levels began falling in mid-2008 (related in part to defaulting home loans), commodity prices of all types dropped.

Figure 6. Figure by Steve Kopits of Westwood Douglas showing trends in world oil exploration and production costs per barrel. CAGR is “Compound Annual Growth Rate.”


O que aí vem

O RUÍDO PARTIDÁRIO EM VOLTA DOS ÚLTIMOS NÚMEROS DO EMPREGO É UM RUÍDO POPULISTA QUE DEVE SER DENUNCIADO E DESPREZADO.

Sem uma disponibilidade crescente de energia barata (sobretudo petróleo e combustíveis líquidos em geral, abaixo do 40USD/b) não há crescimento; sem crescimento não há emprego, há desemprego e há substituição de emprego caro por emprego barato e mais eficientemente servido por máquinas e sistemas inteligentes. Esta espiral descendente é de natureza recessiva e deflacionista, sobretudo à medida que a capacidade de endividamento e de monetização das dívidas se esgota nos Estados Unidos, na Europa, na China...

Os governos têm cada vez menos controlo sobre esta dinâmica, e na luta entre capital e trabalho, desta vez, ambos empobrecem: número crescente de falências industriais e bancárias, empobrecimento das classes médias e colapsos financeiros de grande magnitude, com consequências terríveis, por exemplo, na bancarrota iminente de vários países, regiões e cidades.

Onde melhor podemos antever o nosso futuro, se nada fizermos e nos deixarmos embalar pelo populismo estridente das nomenclaturas partidárias instaladas, é nas vagas de migração de África para a Europa. Os níveis de rendimento destes países é há muito totalmente incompatível com o custo da energia e matérias primas disponíveis... Quando o barril de crude desce abaixo dos 60USD a maioria dos países exportadores de petróleo e gás natural deixam de obter as gigantescas receitas e margens de lucro e de rapina que têm alimentado as suas altíssimas taxas de crescimento e os investimentos e a especulação financeira nos Estados Unidos e na Europa.

sábado, agosto 01, 2015

O insolvente sistema de pensões americano

Quando os reformados americanos perderem 30% ou mais das suas pensões, como será?

Estados Unidos da América: “estado social” sobrecarrega dívida pública


Ou seja, o seu financiamento já é um encargo diferido para os que ainda não nasceram.

The 2015 Untrustworthies Report——Why Social Security Could Be Bankrupt In 12 Years by David Stockman/ Contra Corner • July 31, 2015

On a cash basis, the OASDI (retirement and disability) funds spent $859 billion during 2014 but took in only $786 billion in taxes, thereby generating $73 billion in red ink. And by the trustees’ own reckoning, the OASDI funds will spew a cumulative cash deficit of $1.6 trillion during the 12-years covering 2015-2026.

So measured by the only thing that matters—-hard cash income and outgo—-the social security system has already gone bust. What’s more, even under the White House’s rosy scenario budget forecasts, general fund outlays will exceed general revenues ex-payroll taxes by $8 trillion over the next twelve years.

Este problema não é, ao contrário da demagogia eleitoral em curso, um problema português, mas uma mutação em curso nas sociedades desenvolvidas. A esperança média de vida aumentou e continua a aumentar em todo o mundo, ao mesmo tempo que o trabalho humano vem sendo substituído por hardware, software, sistemas operativos e nuvens computacionais pós-humanas nas sociedades mais desenvolvidas. Por outro lado, abundam reservas crescentes de trabalho humano barato nos continentes cujas populações são mais jovens e mais crescem em volume e velocidade: África, América Latina e Caraíbas, e uma parte significativa da Ásia.

Ou seja, por um lado, Japão, Alemanha, Itália, Áustria, Grécia, Finlândia, Bélgica, Holanda, Suíça, Canadá, Dinamarca, Espanha, Portugal, França, Suécia, Ucrânia, Reino Unido, etc., têm populações cuja idade mediana é superior a 40 anos, enquanto em toda a África a mediana oscila entre os 14 e os 30 anos.

A resposta das sociedades desenvolvidas a este problema tem sido, em geral, subsidiar o número crescente de inativos permanentes e temporários, uma vez que o emprego diminui à medida que o capital procura oportunidades de produção com menores custos laborais e de contexto, e os sistemas de poupança individual e familiar, assim como os chamados estados sociais, colapsam. Travar o endividamento público e o endividamento das empresas e das famílias torna-se, neste contexto, uma missão praticamente impossível.

Esta não é, pois, uma solução do problema, mas apenas um adiamento dos impactos mais catastróficos do mesmo.


Esta é uma perversão comum às respostas sociais que americanos e europeus têm vindo a dar à crise do emprego e do envelhecimento demográfico (clique p/ ampliar)

Why Do So Many Working Age Americans Choose Not To Enter The Workforce?
Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 07/30/2015 20:30 -0400
You could call it the “Mystery of the Missing Worker” – why do so many people of working age chose not to enter the workforce?  Here are the numbers, as of the most recent Employment Situation report:

250 million: the total number of people of working age in the United States.
149 million: the total number of people in that population that have a job.
8 million: the number of people who want a job but do not have one.
93 million: the number of people who don’t work, and don’t want work.

To put some context around that last number, it is 30% of the entire U.S. population. 

Muito do barulho diário dedicado pelos canais mediáticos ao desemprego, à criação precária de novos postos de trabalho, e à crise do estado social —pensões, saúde e educação— confunde a população ao induzi-la na crença de que estes problemas se podem resolver no âmbito populista irresponsável do rotativismo partidário eleitoral. Não podem!

Enquanto os países desenvolvidos continuarem a envelhecer e a encolher, enquanto a sua produção de bens transacionáveis continuar a cair, enquanto as suas balanças comerciais e de capitais continuarem a deteriorar-se, nenhum dos principais problemas sociais será resolvido, e a instabilidade político-social tenderá a agravar-se dia a dia, como se tem visto nos Estados Unidos e na Europa.


REFERÊNCIAS

A idade mediana da humanidade
Clique p/ ampliar


sexta-feira, julho 31, 2015

BCE prolonga receita hiper-keynesiana

Taxas de juro negativas e diarreia financeira, ou como enviar as dívidas de hoje para os nossos filhos e netos.

Populismo eleitoral empurra Japão, Estados Unidos e Europa para um buraco negro onde se sabe como entrar, mas ninguém sabe como sair



Inflação na Zona Euro em terreno positivo pelo terceiro mês
Jornal de Negócios, 31 Julho 2015, 10:32 por Nuno Carregueiro | nc@negocios.pt

O índice de preços no consumidor na Zona Euro aumentou 0,2% em Julho, no terceiro mês consecutivo de variações positivas. Excluindo alimentação e energia, os preços subiram ao ritmo mais elevado em 15 meses.

O EQE (European Quantitative Easing), oficialmente conhecido por Expanded Asset Purchase Programme, vai prolongar-se no tempo, pois 0,2% de inflação está muito longe dos ±2% pretendidos. 

Ou seja, a famosa reestruturação das dívidas (soberanas e bancárias, em primeiro lugar) soma e segue por trilhos perigosos que a indigente Esquerda finge não ver, ao lombo de classes médias cada vez mais entaladas entre o precariado e a sobre-exploração, e de pensionistas com o conforto contratado definitivamente ameaçado. 

Taxas de juro negativas ou próximo disso configuram um perdão de dívidas públicas e financeiras disfarçado, o qual se alimenta da poupança real que ainda existe, de um belicismo crescente (tanto nos EUA, como na Europa!), e da captura de rendimentos futuros, sobretudo do trabalho! 

Mas isto Mariana Mortágua e os sábios idiotas do PS não vêem!

quinta-feira, julho 30, 2015

Drogaria eleitoral

Armando Pereira, o emigrante minhoto que regressa para tomar conta da PT, como líder e dono!



Foi você que pediu uma revolução?


Altice corta estrutura de topo da PT Portugal
Económico, 15 jun 2015 Cátia Simões

Será anunciado em breve um presidente-executivo para a PT Portugal, garantiu Armando Pereira ao sindicato. Empresa vai investir em fibra.

“Tomamos consciência que uma nova PT nasceu no dia 2 de Junho. Uma PT menos formal e menos estratificada. Tem uma Administração reduzida (3 Administradores) para todas as empresas do Grupo em Portugal, presidida pelo Sr. Armando Pereira como PCA, que além de “dono” terá a função de acompanhamento regular da Empresa após os primeiros 3 a 4 meses de intensa presença. Brevemente será anunciado um Presidente Executivo português para estar a tempo inteiro”, frisa o comunicado.

O capitalismo indígena, rentista, devorista, clientelar, nepotista, irresponsável e arrogante, tem estado a levar uma tareia histórica. Mas não é do PCP, nem do Bloco, e muito menos dos indigentes socialistas do PS. É de quem emigrou e regressa rico depois de comer o pão que o Diabo amassou, com ideias claras, nomeadamente sobre as relações de mútuo interesse que podem existir entre trabalho e capital, entre crescimento e um estado social inteligente, transparente e mais justo do que aquele que temos neste momento.

Aeromoscas de Beja, cemitério e sucata de aviões

Os partidos da coligação parecem ter finalmente assimilado as ideias simples e as previsões deste blogue independente. A quem enviamos a fatura?

Desde 2005 que O António Maria, primorosamente assessorado, insistiu nisto:

  1. Que o NAL na Ota e o NAL da Ota em Alcochete não passavam de embustes montados pelos piratas do PS e do BES, com algumas fantasias do BPN à mistura;
  2. Que em Beja se derreteram mais de 33 milhões de euros num aeromoscas. Escrevemos a este propósito, em 2009, que a famosa modernização socratina da antiga Base Aérea da NATO, suportada por um estudo hilariante do visionário Augusto Mateus, acabaria  por transformar-se num cemitério e sucata de aviões. A confirmação veio a 29 de julho de 2015!

Portugal não será, apesar da vontade das elites que vivem na corte do orçamento, uma ilha ferroviária. 


Um dia Portugal acabará por colocar a bitola europeia nas ligações ferroviárias transversais das principais cidades e portos portugueses, Lisboa-Setúbal-Sines, Porto-Aveiro-Figueira da Foz, e Porto (Matosinhos-Leça)-Viana do Castelo-Valença, a Espanha e ao resto da Europa.

A ligação Poceirão-Caia, aprovada e quase totalmente financiada pela UE, foi abandonada na sequência de uma decisão estúpida do volúvel Tribunal de Contas, certamente por força dos piratas do NAL, agora finalmente derrotados, mas que não pararam durante toda a vigência do atual governo de coligação, ou pelo menos até à prisão de Sócrates e colapso do Grupo Espírito Santo. O mapa ferroviário europeu forçará, mais cedo ou mais tarde, o governo indígena a construir as ligações ferroviárias prioritárias previstas no mapa europeu da mobilidade económica e cultural.


Drogaria eleitoral

Estamos em plena corrida para as Legislativas. De cada vez que abrem os noticiários da Rádio e da TV parece que entramos numa drogaria eleitoral. A coligação tem marcado pontos, ao contrário do PS de António Costa, que se remeteu à condição de comentador crítico da ação governativa e da coligação PSD-CDS/PP. As poucas ideias do antigo ministro de José Sócrates têm-se desfeito contra o muro das realidades. O PS é o partido da burocracia e de uma burguesia rendeira e devorista cada vez mais acossada pelos credores e pela população escandalizada com o grau de corrupção e nepotismo que o PS promoveu na sociedade portuguesa, perdendo assim a sua verborreia corrente qualquer credibilidade, pelo menos até que mude a sua geração de dirigentes.

A coligação, pelo contrário, iniciou hoje, 29 de julho, um contra-ataque contra o PS que deixa a esquerda em geral com vários problemas por resolver. Três deles são cruciais para a sua credibilidade imediata: 
  1. Quem é que, afinal, atacou e ataca a corrupção e a sua nomenclatura? 
  2. Quem é que, afinal, tem as melhores propostas para defender o estado social, sem provocar novo agravamento da dívida pública e privada (a começar pela dívida externa) e a consequente derrapagem para um novo resgate?
  3. Qual é, afinal, a posição do PS, do PCP e do Bloco face ao euro? E face à União Europeia?
O Bloco, dada a dislexia óbvia de António Costa, tem nestas eleições uma oportunidade única para se apresentar ao eleitorado como um partido rejuvenescido, menos maniqueísta, menos demagogo e menos populista, mas também mais sofisticado no uso da linguagem, e com uma agenda programática inovadora, realista e propositiva, sem ter por isso que reprimir o saudável radicalismo de uma série de novas causas e preocupações sociais e culturais.

João Oliveira tem trazido uma lufada de ar fresco ao discurso ressequido dos comunistas. Com o tempo que tudo cura, ou leva, talvez ainda possamos assistir a um aggiornamento nesta pequena igreja do pós-estalinismo. Jerónimo de Sousa faria bem em promover uma clara e decisiva passagem de testemunho geracional, em vez de se agarrar a uma simpatia que não anda nem desanda.

A crise grega fez várias vítimas fora da Grécia. A esquerda em geral foi uma delas. Mas também as tentativas de criação de novas forças partidárias, como o Nós, o Livre ou a coisa do Marinho e Pinto. Serão estas as principais vítimas colaterais das eleições de 4 de outubro.

terça-feira, julho 28, 2015

Da transexualidade à transpolítica

Júlia Mendes Pereira, candidata do BE à Assembleia da República

Duas opções para 4 de outubro: PSD ou Bloco de Esquerda


Júlia Mendes Pereira poderá vir a ser a primeira deputada transexual eleita em Portugal
dezanove, Seg, 27/07/15

Júlia Mendes Pereira pode estar a caminho do Parlamento pelo Bloco de Esquerda (BE). O currículo é invejável: feminista, activista dos direitos das pessoas transexuais e intersexo, co-fundadora e co-directora da associação API - Ação Pela Identidade, organização não-governamental para a defesa e o estudo da diversidade de género e de características sexuais, é membro do Steering Committee da TGEU – Transgender Europe, organização europeia de defesa dos direitos das pessoas trans, foi também coordenadora do GRIT – Grupo de Reflexão e Intervenção sobre Transexualidade da associação ILGA Portugal.

Ora aqui está um sinal que poderá levar-me a votar no Bloco!
As agendas populistas dos partidos, em geral, apodreceram. Só dois dos que têm assento parlamentar parecem estar a mudar: o PSD de Passos Coelho e o Bloco de Mariana Mortágua—uma voz que se pode ouvir, sobretudo quando fala do que sabe (economia e finanças), e não mais um realejo.

Os tempos que correm são convulsos, trágicos para muita gente, mas interessantes quando percebemos a charneira de uma grande mudança, ou melhor ainda, o rompimento do casulo da autêntica metamorfose económica, social e cultural que aí vem.

Estamos numa espécie de PREC judiciário,
cujas consequências serão porventura mais profundas que o PREC dos capitães que não queriam perder privilégios para os milicianos. O topo simbólico da velha política corrupta está na prisão. O topo simbólico da casta financeira corrupta está na prisão. E as castas corporativas e nepotistas que proliferaram e incharam desde a queda da ditadura, começam a estar cercadas por uma opinião pública que paga impostos sem perceber para onde vai o dinheiro.

Neste contexto, a maior ameaça à democracia que apesar de tudo temos é deixarmos que a gangrena do regime vá comendo os partidos por dentro até à sua implosão. Como tenho repetido ao longo dos últimos anos, é preciso rejuvenescer os partidos parlamentares que temos, são precisos novos partidos e redes de cidadania capazes de dar a conhecer a realidade que se esconde por baixo das fantasias, da hipocrisia, e das mentiras, e de agir sobre a realidade com novas agendas culturais.

Os realejos maniqueístas tomam os eleitores por burros, ou por oportunistas.

O PS, o CDS/PP e o PCP/PEV continuam a olhar para trás sem perceberem que esse olhar os vai transformando em estátuas de sal.

Pelo contrário, o PSD de Pedro Passos Coelho tem vindo a promover uma rotura sistémica positiva no regime, que nada tem que ver com a política de austeridade imposta pelos credores cada vez mais impacientes.

Mariana Mortágua, por sua vez, é uma luz de esperança para o Bloco de Esquerda, sobretudo pela revolução linguística que começou a introduzir no albergue marxista que deu origem ao Bloco. É verdade que foi Francisco Louçã e a sua agenda tipicamente franco-trotsquista que permitiu o Bloco sair da Rua da Quintinha e chegar a São Bento. É verdade que Miguel Portas foi uma voz decisiva na urgência de substituir a geração dirigente. Falta agora promover um verdadeiro caleidoscópio de novas causas, que movem potencialmente milhares de pessoas, como é o caso das agendas da liberdade e da tolerância moral, como é o caso das agendas da justiça social e dos direitos individuais, ou como é o caso das novas agendas sexuais, de que a candidatura de Júlia Mendes Pereira é um testemunho oportuno.

Acredito que no interior do PSD e do Bloco existem forças magnéticas de tipo novo, ideológicas, mas informadas, radicais, mas pragmáticas. Precisamos todos de abandonar a biopolítica, e passar à transpolítica, dando cada vez mais espaço aos inúmeros atores-rede que estão a mudar o mundo.

Já ninguém ouve os realejos maniqueístas.

Se tem a cabeça ao centro, a puxar um bocadinho para a direita, já sabe onde votar.

Mas se o coração palpita à esquerda, não desespere, pois há um quadradinho onde a sua cruz poderá melhorar a nossa democracia.

sábado, julho 25, 2015

Sem pulseira eletrónica

Ex-DDT

1415-2015


O ano 2015 ficará para a História Portuguesa como o ano em que um secular sistema de poder centralista, reacionário, autoritário, endogâmico, clientelar, corporativo, manhoso e corrupto finalmente colapsou ao estatelar toda a sua matriz genética contra um muro de credores insensíveis à prosápia indígena.

Desde 1640 que andámos a financiar o endividamento crónico português, uma sociedade essencialmente extrativa e rural, com o ouro e as pedras preciosas do Brasil, o algodão e o caju de Moçambique, o café e o petróleo de Angola, as remessas dos emigrantes e, finalmente, fundos comunitários e novas remessas de emigrantes.

O ciclo que agora se fecha tem estas cristas assinaláveis
  • 1415 — conquista de Ceita/ expansão
  • 1640 — guerras da Restauração/ início do declínio
  • 1808 — abertura dos portos brasileiros aos ingleses/ declínio
  • 2015 — fecho de um longo ciclo de ascensão e queda

O pânico entre as nossas distraídas elites começa verdadeiramente agora, isto é, depois da prisão domiciliária, sem pulseira eletrónica, de Ricardo do Espírito Santo Silva Salgado, antigo Dono Disto Tudo.

sexta-feira, julho 24, 2015

Grécia, uma vacina contra o populismo



Do PS a Marinho Pinto, passando pelo PCP e pelo Bloco, os efeitos do maremoto grego serão devastadores, nas próximas eleições e depois.


Há dois tipos de populismo: o do regime instalado, dominado por rendeiros, devoristas e corporações egoístas e corruptas, o qual endividou o país para ganhar eleições e para benefício das suas clientelas, e o populismo que aposta na desgraça para alastrar como se fosse uma gripe, mas que tem o efeito dos cilindros compressores do alcatrão—por onde passa arrasa tudo por igual.

Ninguém, no seu perfeito juízo, irá dar o seu voto a espontâneos que ainda não provaram nada no terreno. O exemplo do que tem acontecido na turma de Marinho e Pinto é, aliás, um claro aviso à navegação. Paulo Morais vai pelo mesmo caminho.

É por estas e por outras que os eleitores estiveram ontem pregados aos televisores, cheios de dúvidas, tentando perceber o que poderão esperar do próximo governo de Passos Coelho.

Ou muito me engano, ou acabarão por optar entre o que conhecem, i.e. a coligação entre Passos Coelho e Portas, e o que também conhecem, ou seja, António Costa, ex-ministro de José Sócrates, de quem nunca se demarcou —e não me refiro, obviamente, ao arguido que está detido em Évora, suspeito de corrupção, mas ao político que atirou Portugal para a sua mais grave bancarrota desde o final do século 19, que só não foi declarada, nem caímos imediatamente numa situação grega, porque tivemos as mãos da Troika a impedir que o dique cedesse à pressão dos credores.

Post scriptum — tenho defendido a necessidade da emergência de novos partidos e a necessidade de uma renovação e reforma profunda dos partidos existentes e com assento no sistema. A primeira hipótese mostra-se, neste momento, demasiado frágil para caminhar até ao próximo parlamento, por falta de ideias realmente inovadoras, maniqueísmo partidário e, sobretudo, falta de juventude; a renovação interna dos partidos, por sua vez, tem progredido no PSD e no Bloco, no PCP só quando os velhos guardiões caírem todos da cadeira é que poderemos esperar mudanças mais sensíveis, e no CDS e Partido Socialista continua congelada à volta de gerações gastas e demasiado comprometidas com o descalabro do país. Não interessa saber se vou votar ou não, ou se prefiro o Bloco ou o PSD. O que aqui faço é escutar a sensibilidade dos eleitores potencias. Neste patamar da realidade prevejo uma maioria da coligação PSD-CDS nas próximas eleições (possivelmente absoluta).

Atualizado em 25/7/2015 11:10