domingo, outubro 11, 2015

O 'bluff' de António Costa

Sérgio Sousa Pinto expõe bluff de Costa
Foto: autor desconhecido

Onde é que Costa irá buscar os votos para chumbar o governo do PaF?


O PS elegeu, até ao momento, 85 deputados. Vamos admitir que elegerá mais 1 pelos círculos da Europa e fora da Europa, ficando então com 86 deputados. Para chumbar o PaF precisará, no entanto, 105, 106, 107 ou 108 deputados, consoante o PaF venha a estabilizar o seu resultado final definitivo em 104 deputados (se, por absurdo, não eleger nenhum deputado nos círculos fora do país), 105, 106 ou 107.

Onde irá então o PS de Costa buscar mais 19, 20, 21 ou 22 deputados não socialistas, necessários para chumbar o governo do PaF? O bluff diz que estes deputados se encontram no PCP e no Bloco, na medida em que, se António Costa apresentar uma moção de rejeição do programa de governo apresentado por Pedro Passos Coelho, o PCP e o Bloco terão que o secundar, acrescentando aos 86 deputados do PS, 19 deputados do Bloco, mais 17 deputados do PCP, o que daria uma soma de 122 deputados.

Mas quem disse que o Bloco de Esquerda, ao contrário do PCP, estará disposto a passar um cheque em branco ao PS? PS+PCP não chegam. E PS+Bloco, também não.

E quem disse que o PS estará unido na votação de uma moção de rejeição eventualmente proposta por António Costa?

Não haverá 18, ou mesmo 37 deputados do Partido Socialista dispostos a travar a aventura de quem perdeu claramente as eleições legislativas do dia 4 de outubro e pretende rescrever a história como se fosse um vulgar estalinista?

Para além dos novos deputados que apoiam António José Seguro, quantos mais estariam na disposição de evitar a deriva desesperada de um secretário-geral inventado por Mário Soares e José Sócrates? Basta olhar para o olhar de Carlos César, para adivinharmos mais de uma dúzia! Não creio que um tarimbeiro temeroso, como António Costa é, se arrisque a contar os votos com que realmente pode contar no parlamento se as coisas começarem a azedar.

Os sinais de que o embuste não passará começaram, aliás, a surgir a tempo e horas, e vão aumentar ao longo da próxima semana.

UGT não quer que PS faça acordo à esquerda
Carlos Silva, líder da UGT à Antena 1: Ficaremos mais tranquilos se efectivamente a decisão do PS for de encontrar um compromisso com o PSD e o CDS. Não me parece que efectivamente as forças à esquerda do PS dêem, na minha opinião, a garantia de estabilidade em relação ao futuro. Há dúvidas. E portanto o PS só conseguirá fazer maioria se tiver maioria na assembleia quer do PCP quer do BE. É uma maioria instável que não dá garantias de que no futuro a governabilidade será assegurada por 4 anos.
in RTP, 11 Out, 2015, 08:49 / atualizado em 11 Out, 2015, 08:49

Contra estratégia de aliança à esquerda, Sérgio Sousa Pinto demite-se
Sérgio Sousa Pinto na sua página do Facebook: “Aparentemente o BE e o PCP estão dispostos a viabilizar um governo do PS, um governo com menos deputados socialistas no Parlamento que a coligação de direita. Mas não estão disponíveis para integrar o governo e partilhar a responsabilidade de governar. O que se seguiria seria fácil de imaginar. Uns a pensar no país, outros a pensar na sua plateia, outros ainda a pensar em eleições e na maioria absoluta. A esta barafunda suicidária, sem programa nem destino certo, chamar-se-ia “governo de esquerda” – coisa que nem os eleitores do bloco desejaram, optando pelo partido do protesto histriónico (e agora fanfarrão). Um penoso caos que entregaria Portugal à direita por muitos anos. Mas talvez permitisse ao BE suplantar o PS. E não é essa a verdadeira agenda, velha de 40 anos, de quem se reclama “da verdadeira esquerda”? Talvez me engane.”
in Jornal i, 10/10/2015 12:40:56

Finalmente, como já escrevi, o fiel da balança da conjuntura nascida no dia 4 de outubro chama-se Bloco de Esquerda. E ao Bloco de Esquerda interessa fritar em lume brando, não Passos Coelho, mas o PS e o PCP. E para isso nada melhor que um novo governo PSD-CDS/PP. Precipitar uma Frente Popular seria destruir de uma só penada o futuro do Bloco.

POST SCRIPTUM (12/10/2015)

Enganei-me? O Bloco decidiu mesmo impor um governo de esquerda com a sua presença e a presença, presumo, do PCP. Alta tensão na política portuguesa. Mas um bom bluff é isto mesmo!

Atualização: 14/10/2015 14:24 WET

quinta-feira, outubro 08, 2015

E se fosse Maria de Belém?

Maria de Belém, candidata presidencial
Foto © desconhecido, in Luso Notícias

Uma candidata para derrotar Marcelo à primeira volta?


Ninguém compreenderia que o próximo governo fosse um governo de esquerda. Nem a própria esquerda lúcida que temos. Logo, aquilo a que estamos a assistir no rescaldo das eleições legislativas tem um alcance bem maior do que as aflições de Cavaco Silva, Passos Coelho e António Costa.

Há dois partidos no nosso espetro parlamentar que não fizeram o rejuvenescimento necessário para responder, com novos protagonistas, nova estratégia e nova linguagem, às mudanças profundas que têm ocorrido nas sociedades humanas nos últimos quarenta anos: o Partido Socialista, e o Partido Comunista. As lideranças oportunistas e as castas dirigentes destas organizações partidárias de origem jacobina, invariavelmente machistas, têm uma fatal e insuportável tendência para se perpetuarem nas cadeiras de poder que em dado tempo conquistaram. Nos tempos que correm, porém, estas características genéticas acabam por ser mais ameaçadoras da sua sobrevivência do que o próprio oportunismo marxista-leninista do PCP, ou do que o aburguesamento dos sociais-democratas do PS. O scratch ideológico de ambos deixou, aliás, de convencer e mobilizar. Resta-lhes, pois, fazer um reset das respetivas filosofias políticas, ou definhar.

Pelo contrário, o Bloco de Esquerda, cujo aggiornamento está em curso, terá as portas abertas para promover uma renovação sem precedentes do ideário socialista, cortando meticulosamente os nós górdios que tolhem o futuro tanto do PS, como do PCP. A necessária espada para o conseguir parece empunhá-la, a quatro mãos, Catarina Martins e Mariana Mortágua. Será, no entanto, imprescindível impedir o regresso dos fantasmas do oportunismo marxista-leninista e do trotsquismo mandeliano que ainda andam por aí. Há, tanto no PCP (João Oliveira), como no PS (Pedro Nuno Santos), jovens líderes e sobretudo muitos eleitores que há muito anseiam por uma verdadeira convergência da esquerda. Esta oportunidade chegou!

Não será, no entanto, no plano da formação do próximo governo —que deverá assentar na coligação que venceu as eleições, ainda que sem maioria e depois de uma sangria de mais de 720 mil votos— que os trabalhos ciclópicos e meticulosos da construção da almejada maioria de esquerda deverão confluir e precipitar-se.

A maioria potencial de esquerda atualmente existente no parlamento deve abrir um processo de convergência pragmática séria apontada à formação de um próximo governo de maioria, nomeadamente na sequência de um possível colapso do governo do PàF a que Cavaco Silva deverá dar posse, e o primeiro passo desta caminhada que recomendo é o da eleição de Maria de Belém para o cargo de Presidente da República — à primeira volta!

Se desafiar a maioria eleitoral de centro-direita obtida pelo PàF é um ato ilegítimo, e pior do que isso, aventureiro, já negar a possibilidade de eleger Maria de Belém à primeira volta seria a prova de que, afinal, o teatro montado por António Costa (que espero seja em breve substituído por Álvaro Beleza) não teria passado de uma farsa política inqualificável.

O país nunca precisou, e agora precisa ainda menos, de uma esquerda negativa.

O país precisará certamente, quando a atual coligação se esgotar, de uma esquerda positiva, capaz de governar com pragmatismo e assumindo com coragem as potencialidades, mas também os espinhos da transição social em que todos já estamos metidos.

O Partido Socialista, tal como existe ainda, morreu.

segunda-feira, outubro 05, 2015

O próximo presidente

Marcelo Rebelo de Sousa no Alentejo
Foto (pormenor): Manuel Isaac Correio/Jornal Alto Alentejo

O senhor que se segue no Palácio de Belém


A desastrosa situação em que se encontra o Partido Socialista catapultou o Bloco de Esquerda para o terceiro lugar do hemiciclo, à frente do CDS/PP, e do PCP, e promete estender uma passadeira vermelha a Marcelo Rebelo de Sousa em direção a Belém.

António Costa poderia ter-se demitido ontem, como deveria tê-lo feito se fosse o que não é —uma pessoa decente—, sem por isso deixar de assegurar a gestão corrente do partido até à realização dum congresso extraordinário que sarasse de vez o problema da transição geracional de que desesperadamente precisa para sobreviver. Ao obedecer, uma vez mais, aos pequenos imperadores que não desgrudam, prestou mais um péssimo serviço ao partido que Helena Roseta gostaria de ver numa Frente Popular com a duração dum fósforo aceso.

O Partido Socialista de António Costa simulou desesperadamente uma viragem à esquerda para evitar o que já se adivinhava, ou seja, um fuga maciça de eleitores moderados de esquerda para um Bloco inesperadamente mais realista e conciso.

O bluff cor-de-rosa falhou, pois as cartas de Costa são as cartas de José Sócrates Pinto de Sousa que, por sua vez, são as cartas de Jorge Coelho, Ferro Rodrigues, Almeida Santos, etc., etc., etc. que, enfim, são as cartas de Mário Soares. Ou seja, uma baralho viciado de traições ideológicas, populismo e processos judiciais por corrupção.

Nestas circunstâncias, quem irá o PS apoiar nas eleições presidenciais?

Será capaz sequer de apoiar um único candidato? Muito dificilmente. O Bloco de Esquerda tem um candidato natural razoavelmente credível: Francisco Louçã, capaz de se opor com autoridade e pedagogia a Marcelo Rebelo de Sousa, o agora óbvio candidato do PáF.

Maria de Belém, ou o fantasma proposto pela esquerda desorientada —Sampaio da Nóvoa—, têm ambos o mesmo problema: não sabem o que pensa o PS, nem sabem, por isto mesmo, de onde lhes virá o dinheiro para a campanha eleitoral. Ora sem dinheiro, nem apoio partidário, não há candidato que resista. Que o diga Henrique Neto!

Esta previsão é contra-intuitiva, na medida em que continua a haver aparentemente uma maioria de esquerda no país. No entanto, estou convencido de que algumas realidades acabarão por eleger Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta:
  • não haverá candidato único da esquerda, 
  • haverá candidato único do centro-direita (pois não creio que Passos Coelho e Portas venham a apoiar Rui Rio), 
  • a situação económica, financeira e política mundial continuará a dar muitas dores de cabeça ao mundo, à Europa e a Portugal até ao fim desta década, 
  • a gestão da nossa descomunal dívida pública e privada vai acabar por exigir uma diminuição do peso e preço da máquina do estado, exigindo assim uma negociação permanente entre a repressão fiscal e financeira dos contribuintes (pessoas e empresas—sobretudo as grandes empresas que vivem de rendas e em regime de quase monopólio), e a inovação, eficiência e transparência cada vez mais necessárias à sobrevivência do estado social.

Bloco, o único vencedor


António Costa vai ser empurrado. Mas quanto mais tarde, melhor para o Bloco


Em boa verdade, Miguel Portas é o grande vencedor póstumo destas eleições, pois deve-se a ele a decisão de renovar o Bloco de Esquerda, que mais tarde Fazenda e Louçã viriam a secundar.

Mas deve-se a Mariana Mortágua o clique que desencadearia a mudança decisiva deste saco de gatos de origem estalinista, maoista e trotsquista. Foi verdadeiramente durante o inquérito ao colapso do BES que, perante um PS visivelmente decadente, e um PCP tolhido pela sua incorrigível e egoísta gerontocracia, a jovem economista do Bloco imporia a todo o partido, e em geral à retórica da nossa esquerda partidária, um outro estilo de comunicação: disciplinado, racional, fundamentado, ponderado, compreensivo e, sobretudo, pragmático.

Depois deste histórico inquérito parlamentar, o PCP e o PS foram, como eles próprios costumam arengar, objetivamente encostados à parede. Não pela coligação de direita, mas pela voz sensata de uma militante de extrema esquerda que aprendeu a pensar de uma forma menos francesa. Agora, a estes dois partidos só resta arrastarem-se até uma morte inglória, ou fazer o aggiornamento que há anos lhes venho recomendando.

O PCP não percebeu que a classe operária, em nome da qual faz a sua propaganda há demasiadas décadas, não passa de umas centenas de milhar de idosos, a maioria deles reformados, cujas pensões, por serem baixas, nem sequer foram tocadas pela tal maioria de direita. O CC do PCP é uma turma de burocratas oportunistas que não percebeu ainda o essencial das mudanças sociais e culturais que têm vindo a ocorrer no mundo. Agarram-se às cadeiras como fez Salazar e como fazem os padrinhos e tias que continuam a manobrar os cordelinhos do corrompido até ao tutano Partido Socialista. Nenhuma destas oligarquias partidárias percebe, e por isso estão ambas a destruir o que supostamente amam, que ceder o protagonismo aos mais novos e às mais novas, e sobretudo abdicar de privilégios, económicos e de poder, que não são naturais, nem propriamente herdados, é uma condição essencial à sobrevivência da cultura democrática de que a Europa, e em geral o mundo, mais precisam neste momento de dolorosa metamorfose.

O Bloco de Esquerda tornou-se nestas eleições o terceiro partido político do nosso sistema democrático representativo—cortesia do Partido Socialista, do PCP e do PSD, de onde voaram muitos votos novos, sobretudo dos jovens profissionais, em direção ao que se perfila como uma nova forma informada e organizada de resistência aos rolos compressores da austeridade. Mas também e sobretudo mérito da visão estratégica de Miguel Portas e do impulso decisivo de Mariana Mortágua (1), sem o que a performance de Catarina Martins teria sido menos exemplar e eficaz.

Resumindo: temos três partidos do arco parlamentar que foram capazes de rejuvenescer a tempo, e por isso vingaram: CDS/PP, PSD e Bloco; e temos duas lanternas vermelhas que correm o risco de se apagarem de vez na próxima crise. Basta que não aprendam nada destas eleições.

Os partidos emergentes, entretanto, ficaram pelo caminho (2). E não foi culpa dos eleitores.


NOTAS
  1.  Poucos minutos depois de publicado este post lemos a nota de vitória de Mariana Mortágua. Sucinta, clara e estratégica.
  2. Ou talvez não... 140 mil eleitores votaram em partidos que não pertencem ao tradicional arco parlamentar, e o PAN, fundado em 2011, conseguiu eleger um deputado, pelo que gatos e cães, as suas queridas árvores e o seus dedicados donos estarão melhor defendidos daqui em diante ;) Mas mais: o Nós, Cidadãos! poderá roubar um deputado do círculo fora da Europa ao PSD (ou ao PàF), fazendo-se assim representar também na próxima legislatura parlamentar, o que, a verificar-se, baralhará ainda mais, mas neste caso bem, a atual conjuntura pós-eleitoral.

Atualização: 9/10/2015 00:08 WET

sábado, outubro 03, 2015

O suicídio do Rato


Não teremos tanta sorte


Um governo de zombies disfarçados de Frente Popular até nem seria mau para acabar de vez com o sonambulismo politicamente correto e desmiolado do país. Infelizmente, não teremos essa sorte.

Vamos mesmo ter instabilidade em 2016, 2017...

Ganhe quem ganhar, governe ou desgoverne quem governar ou desgovernar, vem aí uma nova dose de austeridade fiscal e o desmoronamento do capitalismo português.

É desta morte anunciada que verdadeiramente a Esquerda tem medo!


PS: António Costa regressa a Fontanelas no dia 5 de outubro.

quinta-feira, outubro 01, 2015

Syriza à moda de São Bento?


O importante é mudar a configuração do parlamento, votando em novas forças políticas


Num jantar comício da coligação PSD/CDS-PP, em Viseu, onde esteve Rui Rio, Passos Coelho defendeu que está em causa saber se “quem ganhar as eleições vai poder formar o Governo”, referindo que “já foi prometido, já houve quem o tivesse dito com todas as letras”, que “isso pode não ser assim tão simples, que uns podem ganhar e ser outros a governar”.

Passos acena com hipótese de Governo contra a vontade do povo
TSF, 30 de SETEMBRO de 2015

Outra maneira de apelar à maioria absoluta. No entanto, um governo PS+Bloco, ou PS+PCP, ou PS com acordos de viabilização dos orçamentos de estado de 2016, 2017, 2018 e 2019, parecem-me hipóteses altamente improváveis.

O Bloco e o PCP sabem perfeitamente que um Syriza em Portugal não duraria mais de um ano, e que uma tal experiência poderia fragmentar ainda mais a esquerda ideológica e politicamente atrasada que temos, arrumando-a de vez na mesma gaveta onde Mário Soares depositou o socialismo, em troca de uma cadeira garantida no topo da pirâmide do poder — capitalista, claro!

Não deixa de me surpreender os movimentos brownianos que agitam neste momento os donos da esquerda. Enquanto a extrema esquerda (Catarina Martins) se dirige ao eleitorado do centro-direita, o desastrado e nada recomendável líder improvisado do PS afasta-se, de forma suicida, do eleitorado que trouxe o partido da rosa ao arco da governação. Isto, e a corrupção que grassa nas entranhas mais viscerais do Partido Socialista são uma receita certa para o seu mais do que provável definhamento histórico.

Percebe-se o esforço retórico de Passos Coelho, pedindo de forma suave uma maioria para governar. Palpita-me que irá obtê-la. Até porque, com a nova fé marxista-leninista do PS, e o histórico pessoal de António Costa, que começa a aflorar no blogue Do Portugal Profundo, cautela e caldos de galinha não fazem mal a ninguém.

Além do mais, como me dizia o meu dentista há dois dias atrás, depois de um tratamento de choque, depois de iniciar-se um período de recuperação, ninguém quer mudar de médico. Seria trocar o certo e previsível, por uma incógnita que poderia levar-nos a uma recaída, com o consequente agravamento da doença e dos seus efeitos mais perniciosos.

É, no entanto, absolutamente necessário colocar no parlamento uma ou duas novas forças parlamentares ligadas à cidadania participativa, entre outras razões, para desdramatizar e anular o pendor populista da democracia que temos.

quarta-feira, setembro 30, 2015

Afinal, quem é que convidou a emigrar?

in Público, 29/09/2015

António Costa martela a verdade, à boa maneira marxista-leninista


O governo socialista português, por sua vez, promove, sem vergonha, a emigração portuguesa para toda a parte, sobretudo para a Europa, e em especial para Espanha, não registando tais movimentos nas suas estatísticas de emigração -- pois sendo livre a circulação de pessoas e bens na União Europeia, não faz formalmente sentido registar os movimentos demográficos internos à comunidade como migrações, ao mesmo tempo que se enganam as estatísticas do desemprego.

— in O António Maria; Portugal-Espanha: socialistas ibéricos promovem dumping social!, 24/5/2008

Quando António Costa acusa a coligação de deixar emigrar meio mundo, esqueceu-se dos dois gráficos que aqui publicamos. De 1984 para cá a emigração voltou a entrar numa curva ascendente, e em 2000 disparou. Desde que a emigração em massa portuguesa recomeçou (uma realidade aqui denunciada em 2008), até ao momento em que a hemorragia demográfica parece ter estancado (2013), os governos foram sempre cor-de-rosa, exceto durante os malfadados nove meses em que tivemos um 'intermezzo' chamado Pedro Santana Lopes. 

Ou seja, foi durante os últimos quatro governos 'socialistas' que os portugueses mais emigraram, repetindo um fenómenos que só na década de 60 do século passado, com o início das guerras coloniais, foi ainda mais grave. 

Convém, neste Carnaval eleitoral, não esquecer os factos. 

À boa maneira estalinista, António Costa martela a verdade como quem bebe um copo de água, e acha que o povo socialista deve insistir no erro de votar nesta corja (como escreve Rui Ramos) de oligarcas. 

Eu, por mim, vou votar num partido emergente. No Nós, Cidadãos! O regime partidário que temos sofre de gangrena irreversível.

Portugal: emigração anual entre 1850 e 2008
(clique para ampliar)