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sexta-feira, fevereiro 01, 2019

Para que serve o défice zero?

Este triunvirato do Bloco Central conta agora com os votos do PCP e do Bloco

Orçamento fictício do Estado financia bancos falidos


Caixa, BCP e BPI venderam os anéis, perdão, os palácios da Baixa. Daí os lucros. Só em 2018 a Caixa alienou 300 milhões de euros em património e crédito mal parado. Quanto ao resto, a realidade é simplesmente esta: os portugueses estão a pagar em austeridade cor-de-rosa e vermelha, nomeadamente através de cativações excessivas da despesa orçamental, o financiamento do Fundo de Resolução, ao qual os bancos, por sua vez, vão buscar a massa para manterem as portas abertas e fabricarem resultados virtuais.

O truque é este: Centeno força o défice zero nas contas públicas, para com a massa assim poupada ir mantendo o Fundo de Resolução com dinheiro (emprestado, claro!) para alimentar os burros financeiros a Pão de Ló e ostras. Doutra maneira, o BCE e Bruxelas não deixavam...

Caixa teve lucro próximo dos 500 milhões de euros em 2018 
O Jornal Económico, 01 Fevereiro 2019, 08:37 
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) registou, em 2018, um resultado líquido próximo dos 500 milhões de euros, o que representa uma subida de 860% face aos 51,9 milhões de euros contabilizados no ano anterior, sabe o Jornal Económico. O banco do Estado divulga esta sexta-feira os seus resultados de 2018.

PS: Como escrevi no post anterior, o grande buraco da Caixa tem uma cor dominante: a cor da rosa. Tal não significa, porém, que o PSD e o CDS não estejam no mesmo barco do grande desfalque democrático: BPN, BES, BANIF, Montepio, Caixa. Estão, e tudo teve origem no fartar vilanagem do Bloco Central da Corrupção.

Do que consigo vislumbrar, o buraco negro do La Seda —uma das causas principais do colapso na Caixa— foi resultado, ou de um risco empresarial, ou de uma fuga em frente, ou de um embuste por parte da família Matos Gil face ao descalabro que começara a afundar, desde 2006-07, o grupo têxtil de Barcelona fundado em 1925.

A família Matos Gil era representada no La Seda por Fernando Freire de Sousa (marido de Elisa Ferreira), e tinha relações com este grupo catalão, pelo menos desde 2003, através da Selenis, uma fábrica de PET sediada em Portalegre, propriedade da Imogil. O La Seda comprou, em 2003, uma parte da Selenis, por 35 milhões de euros.

Através de Manuel Pinho (Governo e BES), a gula do inner circle de Sócrates, assessorado pelos então testas de ferro na Caixa, Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, fez o resto.

Carlos Costa não teve, parece-me, qualquer papel no descalabro da Caixa, nem em Espanha, nem em Portugal.

Se bem que Fernando Freire de Sousa se tivesse afastado do La Seda em 2008. Por algum motivo o fez..., pois doutro modo não se percebe porque abandonou a família Matos Gil no preciso momento em que José Sócrates colocava a primeira pedra da grande fábrica de PET em Sines (2008), conseguida precisamente pelos manos Manuel e João Paulo Matos Gil. O antigo representante da Imogil no La Seda deve, pois, explicações sobre o envolvimento da banca pública e de José Sócrates na construção da fábrica de PET em Sines. Por sua vez, a ida de Elisa Ferreira para o Banco de Portugal, e do seu marido, Fernando Freire de Sousa para a direção do CCDR-N, pouco tempo depois do atual governo entrar em funções, com este histórico, não podem deixar de suscitar alguma perplexidade.

quarta-feira, agosto 01, 2018

A Casa Alves dos Robles


O leilão do edifício da Rua Terreiro do Trigo 6 a 26 data de 2014


...mas o novo plano estratégico para a zona onde está situado este conjunto de prédios urbanos (com os números de polícia 4, 10, 12, 14, 18, 22) da Rua Terreiro do Trigo já era público em 2012. 

Quem foi, então, o gestor responsável por este Concurso de Alienação de Imóveis promovido pela Segurança Social? Como decorreu este processo? Porque houve tão poucos interessados atendendo a que esteve em causa adquirir uma propriedade única numa das zonas de especulação urbana mais explosivas da frente ribeirinha da cidade de Lisboa? E ainda, que é preciso neste escândalo para que os meios de comunicação consultem o processo de requalificação e ampliação levadas a cabo pela dupla Ligia Amaral Robles / Ricardo Amaral Robles? Houve parecer da Direção-Geral do Património? Houve reforço das estrutura do edifício, uma vez que lhe foi acrescentado um piso? Houve projeto aprovado na Câmara Municipal de Lisboa? Quem foi o arquiteto responsável? Como foi possível uma gema especulativa deste quilate ficar isenta de IMI?

A Segurança Social, a Direção-Geral do Património, a Câmara Municipal de Lisboa e a Repartição de Finanças do 3º Bairro Fiscal de Lisboa foram e são seguramente parte deste processo. Como tal, por dever de transparência, devem prestar os necessários esclarecimentos ao país.

O texto que se segue é um fragmento bem ilustrativo das necessárias medidas de planeamento urbanístico em curso na cidade de Lisboa, responsáveis por uma efetiva requalificação da sua frente ribeirinha, mas com reflexos praticamente inevitáveis sobre a valorização patrimonial da baixa lisboeta, sobre o investimento e a especulação urbanas, e ainda sobre a chamada gentrificação, quer dizer, sobre a composição social de zonas extensas da cidade. Este é um fenómeno mais antigo do que se imagina. No caso português, a sua emergência explosiva, desde 2014, tem causas diversas, que merecem análise, discussão, ponderação e realismo nas decisões. O que a gentrificação em curso não merece é aproveitamentos populistas que escondem oportunismos indecorosos, como têm sido os casos que envolveram recentemente António Costa (primeiro ministro), Ricardo Robles (ex-vereador e ex-dirigente do Bloco em conseuquência do seus atos inqualificáveis), e Catarina Martins (dirigente oportunista  e sem qualidades para prosseguir na direção do Bloco de Esquerda).

Reconquista da Frente Ribeirinha de Lisboa

Manuel Salgado
Câmara Municipal de Lisboa
dmprgu.dpru.dpeu@cm-lisboa.pt

(2012)

P11
Terreiro do Trigo/Santa Apolónia

A intervenção no espaço público da área compreendida entre o Terreiro do Trigo e Santa Apolónia, da responsabilidade da Bruno Soares Arquitectos, reconhece o potencial da zona nos circuitos turísticos da cidade e a importância de revitalizar este troço histórico da cidade. A proposta baseia- se na articulação dos diferentes espaços públicos existentes através da sua requalificação, do reforço da sua relação com Alfama e do novo desenho de áreas de circulação pedonal e viária.

Terminal de Cruzeiros de Lisboa

Figura 14. Proposta Terminal de Cruzeiros

O crescimento da actividade de cruzeiros na cidade, a par da evolução da capacidade dos navios, exigiu uma avaliação das infraestruturas existentes e a definição de um novo enquadramento desta actividade no contexto da cidade de Lisboa, tornando evidente a necessidade de dotar o porto e a cidade de um novo terminal de cruzeiros que responda às atuais exigências de conforto e funcionalidade.

No enquadramento da colaboração institucional entre APL e CML, foi lançado em Março de 2010 o Concurso Público de Concepção para a Elaboração do Projecto do Terminal de Cruzeiros de Lisboa, que prevê a instalação do novo terminal no espaço ribeirinho entre a Doca da Marinha, a estação ferroviária de Santa Apolónia e a Av. Infante D. Henrique.

A deslocação e concentração do Terminal de Cruzeiros de Alcântara para a zona de Santa Apolónia, cria uma série de oportunidades para a renovação e re- funcionalização de um espaço nobre da frente ribeirinha de Lisboa, potenciada pelas operações de valorização urbana em curso e previstas na Baixa Pombalina.

O projeto vencedor do concurso é da autoria do Arq. Carrilho da Graça e da Global Arquitetura Paisagista, Lda. A proposta consiste num edifício volumetricamente compacto, permitindo a libertação do espaço envolvente para a criação de um boulevard ribeirinho que potencia a relação da população da cidade e dos que a visitam com o Rio Tejo e os bairros históricos de Alfama, Mouraria, Castelo e Baixa Pombalina. A multifuncionalidade do espaço público traduz- se na diversidade tipológica dos espaços criados,

P12

nomeadamente: Praça do Jardim do Tabaco de enquadramento ao edifício da Alfândega de Lisboa; plano de água, evocando a antiga Doca do Jardim do Tabaco; Jardins Nordeste e Sudeste. Está ainda prevista a continuidade do percurso ciclável existente a poente, bem como a ligação ao circuito proposto para a margem oriental até ao Parque das Nações.

A construção do novo terminal de cruzeiros integra- se na quarta e última fase do processo de intervenção na área ribeirinha entre Santa Apolónia e o Jardim do Tabaco. Estando concluídas a primeira e segunda fases de reabilitação e reforço dos cais entre Santa Apolónia e o Jardim do Tabaco, seguir- se- á a reabilitação do molhe montante e o prolongamento do cais com novo alinhamento.

Ler este documento integral em DocPlayer

Ó Catarina!

Catarina Martins

Catarina Martins tem posição em empresa de alojamento local. 
A coordenadora do BE detém uma posição minoritária numa empresa de alojamento local gerida pelo marido e pela sogra. Explora unidades no Sabugal. Partido diz que ajuda a combater a desertificação. 
A coordenadora do BE fundou a Logradouro Lda. com o marido há quase dez anos e foi sócia-gerente da empresa até final de 2009, altura em que assumiu funções como deputada em regime de exclusividade. Atualmente, a empresa explora quatro empreendimentos turísticos e uma unidade de alojamento local no concelho do Sabugal, distrito da Guarda. 
in ECO 

Como podem os eleitores confiar na 'coordenadora' do Bloco de Esquerda, se Catarina Martins não confiou nem, ao que parece, confia no marido e nos sogros para lhes passar por inteiro a sua quota na empresa de alojamento temporário de que detinha 50% e continua hoje a deter 4%?

Se tivesse vendido integralmente a sua quota no empreendimento imobiliário familiar teria evitado expor-se, como é agora o caso, a uma justa recriminação pública face à sua patente hipocrisia político-partidária. Ou será que não pode? Quais as condições e obrigações das ajudas comunitárias que obteve?

Além do mais, como pode liderar um partido que defende o fim da propriedade privada, a saída da União Europeia e o fim do euro, e recorrer na mesma peugada a fundos comunitários para financiar um negócio de alojamento local?

Nem coerência, nem decência... Demita-se, para evitar piores danos ao Bloco e à democracia.

OPORTUNISMO E  CONTRADIÇÕES INSANÁVEIS

“Basta pensar-se que no balcão dos despejos o senhorio não precisa de nada para mandar despejar e o inquilino precisa de advogados para se defender. É um absurdo completo. Chama-se balcão do arrendamento, bem sei, mas eu pergunto se algum dos presentes achou alguma vez que o balcão servia para arrendamento”. As palavras são de Catarina Martins, em Abril deste ano. O Bloco de Esquerda defende o fim do Balcão de Arrendamentos, mas foi precisamente nesse balcão que Ricardo Robles interpôs a acção de despejo contra um inquilino com quem não conseguiu chegar a acordo. 
— in Observador

Do programa do acampamento organizado pelo Bloco de Esquerda em julho deste ano

  • “Direito à Habitação vs Gentrificação”
  • “Saída do Euro: há outra saída?”
  • “A propriedade é o roubo: debate sobre a socialização dos meios de produção”
  • “Desobediência civil: como, porquê e para quê”


— in 15º Acampamento Liberdade/ 25-30 de junho 2018/ programa

segunda-feira, julho 30, 2018

Um tiro no porta-aviões do Bloco

Francisco Louçã na Vi Convenção do Bloco de Esquerda (2009)
Foto: José Goulão/ Wikimedia


Francisco Louçã já não é, de facto, um trotskysta


Se este fim de semana não destruir o Bloco de populistas e especuladores capitaneado pelo beato Louçã, então é porque o país está definitivamente perdido. Já o efeito colateral deste escândalo é simples de imaginar: o fim da Geringonça e a maioria absoluta do PS nas próximas eleições.

Miguel Esteves Cardoso (MEC), na sua crónica no Público, escreve: “A pergunta que eu faria a Ricardo Robles é esta: a quem é que ele queria vender o imóvel? Quem é que ele acha que seria capaz de pagar os 5,7 milhões de euros que ele pedia?”

Ricardo Robles não pode obviamente responder a esta pergunta, sob pena de se auto-incriminar—ideologicamente, claro. Ocorre o mesmo, aliás, às criaturas perdidas que tomaram conta do dito Bloco de Esquerda: o conselheiro Acácio Louçã, a serviçal do conselheiro, Catarina Martins, o Alves dos Robles e a ex-futura ministra Mariana Mortágua.

Eu também tenho duas perguntas de algibeira:

1. Quanto vai custar a rescisão do contrato robliano com a Christie's?

2. Onde está o projeto e o alvará (obrigatórios) que permitiram a Ricardo Robles adicionar um piso (recuado) aos prédios que comprou?

MEC está, porém, enganado, num ponto: o Roblespierre do Bloco de Especulação despejou mesmo, pelo menos, um inquilino, mandou para o desemprego quatro funcionários dum café, e acossou ainda o dono dum prédio vizinho que reclamou contra as obras de ampliação que o dito trotskysta degenerado empreendeu com os favores da Câmara Muncipal de Lisboa e da Caixa Geral de Depósitos. Até prova em contrário estas deduções e suspeitas são mais do que legítimas. São flagrantes!

Não vejo, pois, como é que a malta do Bloco vai poder continuar a socorrer esta espécie chic de Capitão Roby fascinado pela Christie's. Se a criatura continuar na Câmara Municipal de Lisboa, e no Bloco, os fiéis do bloquismo não poderão mais abrir a boca sempre que alguém lhes fizer uma das três perguntas anteriores, sob pena de se transformarem em personagens anedóticos do Little Portugal.



Pobre Mariana. Pensei que ia mais longe...

Da imprensa deste fim de semana:
“Quem é rico e tem dinheiro fica com uns bons prédios em boas áreas”, criticou Mariana Mortágua na Assembleia Municipal de Lisboa em 2014. Robles estava ao lado e já tinha comprado o prédio.
“A cidade planeada à medida dos especuladores e o respeitinho pelo capital”.  
“O pequeno comércio expulso e os últimos residentes enxotados para a periferia” pelos grandes proprietários imobiliários.  
O sector privado “que desenha a cidade e a transforma ao seu gosto, decide quem fica e quem sai.”  
Estas três frases foram ditas a 14 de outubro de 2014 por Ricardo Robles, numa reunião da Assembleia Municipal de Lisboa para criticar a reabilitação que abria caminho a fins especulativos.  
Os que o ouviam ainda não sabiam, mas cinco meses antes o deputado municipal do Bloco de Esquerda tinha vencido um leilão para comprar à Segurança Social um prédio em Alfama por 347 mil euros, que anos mais tarde colocaria à venda no mercado por 5,7 milhões de euros. Ainda hoje recusa que se trate de especulação.  
A remodelação do imóvel de Ricardo Robles - vereador do BE na Câmara de Lisboa -, em Alfama, levou a que quatro funcionários de um café ficassem sem emprego.”Podiam ter sido cinco, mas eu optei por ir para a reforma, dado que já tinha 63 anos”, contou ete sábado ao CM o gerente do Pão com Manteiga, que pediu para o seu nome não ser publicado. Adiantou, ainda, que acabou por ser “despejado” por “decisão do tribunal”, porque “não aceitou vagar” o “primeiro esquerdo” do prédio que utilizava como “armazém” e “quarto de arrumos do pessoal”. “Era o local onde eu tinha duas arcas frigoríficas. Quis aumentar-me a renda de 270 euros para 400 euros, com a condição de eu sair do andar de cima. E como eu não aceitei, ele colocou-me uma ação de despejo, que foi concretizada em outubro de 2016.”
Esta é a definição, que o Bloco sempre usou, de um despejo
O arrendatário de duas frações do imóvel de Alfama - que Robles chegou a colocar à venda por 5,7 milhões de euros, tendo custado 347 mil euros ao político e à sua irmã Lígia - afirmou também ao CM que já avançou “para tribunal com um pedido de indemnização de 120 mil euros”. “Esta verba tem a ver com benfeitorias que fiz ao longo de 28 anos de arrendamento. Os últimos tempos que passei no café foram difíceis. Pela pressão de ter de sair e pelas obras de remodelação. Havia sempre muito ruído e muito pó. Fiquei muito desgastado e decidi ir para a reforma”, vincou. 

sábado, abril 07, 2018

Ruído da semana



Corruptos de todo o mundo, ponham as barbas de molho!


Tiradas populistas de Lula da Silva antes da prisão:
“Eu não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia”. 
“Os poderosos podem matar 1, 2 ou 3 rosas, mas não vão poder impedir a chegada da Primavera”. 
“Eu não os perdoo por ter passado para a sociedade de que eu sou um ladrão”. 
“Nenhum deles tem coragem ou dorme com a consciência tranquila, com a honestidade e inocência, como eu durmo.” 
“Aqui está um cidadão que já esteve preso, mas nenhuma prisão prende a mente e os ideais de uma cidadão”. 
“Eu vou sair dessa maior, mais forte, mais verdadeiro e inocente, porque eu quero provar que eles cometeram um crime de perseguir um homem que tem 50 anos de história politica”.

Arquivamento 


Estes gajos, Dias Loureiro, Oliveira e Costa, não inventaram um banco em Cabo Verde, que só existiu num laptop? Gente criativa é assim, demasiado esperta e escorregadia para as ferramentas primitivas do Mistério Público Português. A acumulação primitiva pós-ditadura deu nisto: uma turma de cleptocratas vindos da província que nem Eça conseguiu imaginar tão longe.

Austeridade


Como disse, mais de uma vez, no desaparecido programa Política Sueca (RTP3), e as mais recentes contas do atento blogue Dívida Pública confirmam, “a austeridade continua, traduzida na forma de um aumento da cobrança fiscal de 6,3%.”

Se há menos pessoas a trabalhar relativamente à crescente população jubilada que aufere pensões de reforma, e quem trabalha, ganha cada vez menos (uma tendência estrutural difícil de contrariar), o resultado é simples de imaginar: o Estado Social terá forçosamente que encolher—nas pensões, mas também na chamada despesa discricionária, a começar... pela Cultura. Chame-se-lhe austeridade, de direita, ou de esquerda, tanto faz. Veio para ficar. O que precisamos, pois, é discutir um novo modelo social de produção, rendimento e solidariedade. Sem os fantasmas do Manifesto do Partido Comunista.

A Mota-Engil vendeu a Autoestrada da Beira Interior, vendeu os portos, vendeu as pontes, e continua pressionando os partidocratas para que lhe dêm uma nova ponte sobre o Tejo, e um novo aeroporto na Margem Sul, de preferência uma cidade aeroportuária inteirinha, como advogou o adiantado mental Mateus. Para recuperar? Não, para aumentar o buraco negro!

A falta de capital indígena é a principal causa do descalabro em curso. Falta indagar o que nos trouxe até aqui. Os investimentos da China e de Angola, ou ainda da Turquia, ou dos países árabes são bem-vindos desde que sirvam uma estratégia de real diversificação equilibrada da nossa dependência do capital global. Mas não é isto que tem vindo a ocorrer. Estamos a entregar setores estratégicos inteiros a governos que não sabemos se um dia destes não entrarão em guerra comercial com a Europa. Percebe-se que a China, a Rússia, a Turquia e o Irão estejam interessados em virar o sul da Europa contra o Norte. Mas será do nosso interesse cair nesta armadilha? O desespero nascido da indigência económica, financeira e orçamental, e da corrupção, nunca foi bom conselheiro.

O sistema de imparidades sistémicas instalado no nosso país é, na realidade, o resultado de uma espécie de capitalismo de estado (desenhado à esquerda) sem proletários (como na China), nem riquezas naturais (como na Arábia Saudita) para explorar. Ou seja, é um embuste que faliu o país durante gerações, mas mantém a salvo uma elite corrupta de partidocrats e rentistas, amparada por uma massa mole de funcionários e burocratas que, para mal dos embusteiros, empobrece, sem remédio, a cada dia que passa.

Catalunha


Seria um péssimo precedente considerar rebelião e crime o desejo de levar a cabo um processo referendário com vista à independência de uma das nações espanholas. Não foi a Alemanha o primeiro país do mundo a reconhecer a declaração unilateral de independência do Kosovo, em 2008? Não se autoproclamou em 2014 a República da Crimeia na sequência de um referendo? Não houve em 2014 um referendo na Escócia para a sua independência, que viria a ser derrotado? Não está em curso o Brexit? Não quer a União Europeia uma Europa das Regiões? Claro que estes processos podem redundar em guerras nacionais, ou civis (Independência ou Morte! - quem não conhece esta consigna), e assim tem sido ao longo História. Mas se, no caso da Catalunha, a população vota, ou quer votar, onde está o crime?

Não há lógica na decisão dos tribunais espanhóis. Se Puigdemont e os presos políticos que a Monarquia espanhola detem nas suas cadeias são culpados de promover uma rebelião, então a mesma acusação teria que recair sobre todos os que votaram pela independência da Catalunha. E sobre esses dois milhões de catalães haveria, seguindo a mesma lógica dos juízes espanhóis, que emitir mandatos de prisão e captura, não é verdade?

Todas as ditaduras em todos os tempos trataram as dissidências políticas como questões jurídicas, de infração às leis, e/ou às constituições, como estratagema para impor a discricionaridade que as caracterizam. A extradição de Puigdemont abrirá um precendente gravíssimo na União Europeia, deitando por terra os principais ideias de liberdade, autonomia e democracia que nos tem acompanhado desde a Revolução Francesa. A acusação de corrupção lançada sobre Puigdemont, até pode ser verdade, mas não é o que está em jogo na magna questão de haver ou não um estado federal, ou até uma união de estados no que ainda é a velha e autoritária Espanha católica de Fernando e Isabel. Francisco Franco Bahamonde (logo um galego!) foi apenas a face mais recente e brutal desta incapacidade de as Espanhas regressarem a um saudável e policêntrico federalismo. O centralisno constitucional imposto por Napoleão é uma cruz de que os meus queridos amigos espanhóis têm que se livrar quanto antes.

Menos mal que os tribunais alemães desconsideraram a tese absurda da rebelião. Entretanto, na Casa Real, rainha e ex-rainha não se entendem.

Comunistas


Marxistas do Sétimo Dia. Uma seita mundial cujos resultados no terreno provocaram sempre violência inaudita, ditaduras nada recomendáveis, e fracos, ou mesmo desastrosos, resultados económicos, sociais e culturais.

O dilema do PCP e do Bloco é este: só sobrevivem se se mantiverem na esfera do poder, mas para tal terão que tragar elefantes, girafas e crocodilos sempre que for preciso. O declínio eleitoral destes dois cadáveres adiados do marxismo-leninismo é uma questão de tempo. De pouco tempo.

Quando a fé é muita, a realidade não passa duma sombra. Daí a obscuridade pós-revolucionária em que ainda vivem tantos portugueses, pastoreados pelos vendilhões do templo m-l. Os que não têm fé nos Amanhãs Que Cantam, escrevem, ou emigram.

Catarina quer ser eixo da Geringonça. Mas já é, e com que resultados! Qual Eva tentada pelo Pecado (do poder), mordeu a maçã, e agora não lhe resta outra história que não seja a de ser expulsa do Paraíso, tornando-se uma vulgar mortal.

Notícia do Observador: “Parlamento decide voltar a abrir concurso para todos os professores dos quadros”. Afinal PCP, BE, PSD e CDS também fazem geringonças, quando lhes convém, claro.

Vivemos numa República Desmiolada de Sovietes Populistas!

Cultura


Não há caroço. Há austeridade. De esquerda, é certo, mas austeridade. E o pior é que os artistas mais jovens começam a ver os artistas mais velhos (sobretudo nos condados do Teatro, da Dança e do Cinema), não como exemplos a emular, mas como empecilhos. E o grande problema tem sido este: transformar artistas em funcionários públicos não passa de uma péssima ideia!

Ilha ferroviária


Enquanto por cá os políticos continuam a pastorear o rebanho, entretendo-o com as aflições dos artistas oficiais do Estado, em Espanha a ferrovia avança.

Combóios a Diesel e TIR formam a rede de transportres favorecida pelos DDT indígenas. Que futuro para estas opções numa Europa preparada para lançar-se na transição energética? A paisagem bovina local continua pasmada com o futebol!

04/04/2018) Del presupuesto global del Ministerio de Fomento para 2018, que asciende a 17.466 millones de euros, 8.908 se destinarán a inversiones, con una clara apuesta por el ferrocarril, al que se destinarán 4.301 millones. Esta cifra representa 877,6 millones más respecto a las inversiones ferroviarias del ejercicio anterior –en el que la inversión en el sector ascendió a 3.423,4 millones-, un 25,6 por ciento más.

Low Cost, até quando?


Há uma solução simples para a Ryanair: deixar de contratar portugueses. É isto que o Bloco quer? Estas esquerdas avariadas adoram falir empresas e países, para depois reclamarem a intervenção do Estado. Quando é que aprendem? Não lhes chega o exemplo recente da Venezuela? Até quando é que vamos continuar a alimentar o buraco da tecnicamente falida TAP? Porque será que não há compressas nos hospitais (públicos), nem papel higiénico nas escolas (públicas)?

Rentistas, Capitalismo de Estado, ou Cleptocracia?


Em 2017 consumimos menos energia elétrica do que em 2007. As taxas sobre o consumo, essas dispararam de 500 milhões/ano para os 2500 milhões de euros anuais. Metade da conta da nossa luz são taxas CIEG, que nada têm a ver com a produção e distribuição de energia elétrica. Consumo total de electricidade em 2017, segundo a REN, foi 49,638 GWh. Em 2007, foi de 50,059 GWh. Se vivêssemos em capitalismo neoliberal, como dizem, as faturas da luz tinham descido, e não subido, pois é a procura, e não a falta dela, que faz subir os preços!

Mexia ganhou mais dois anos na EDP. Foi o que resultou do braço de ferro entre Costa e o Governo de Pequim. Chama-se a isto salvar as faces de um (Costa) e de outro (Xi Jinping). Afinal, quem tem a massa manda. Entretanto, a preparar a transição e a vigiar Mexia, um comissário político cor-de-rosa: Luís Amado. Fraca escolha, a avaliar pelo passado da criatura no Banif!

Silvano é um boy da EDP. O mesmo que vendeu o vale do Tua à energética chinesa dirigida pelo cabotino Mexia, num negócio de barragens inúteis onde pontuaram o ido José Sócrates e o senhor Pinho do BES. Pobre PSD!

Skripal


A história do envenenamento do ex-espião duplo Skripal e da sua filha faz-me sempre lembrar a da morte misteriosa do cientista britânico (David Kelly) que denunciou o embuste das armas de destruição maciça no Iraque.

Um liceu e dois professores


Tive dois professores no Liceu D. Manuel II em 1966-67 que seguramente marcaram o meu sentido crítico: um foi Óscar Lopes (1917-2013), professor de Português e Literatura; o outro foi o Padre Mário de Oliveira, professor do que então se chamava Religião e Moral. A minha crise religiosa viria mais tarde, em 1968. As discussões teológicas de que me lembro, com professores de Filosofia e Religião e Moral, ocorreriam só em 1969-70. Soube hoje do lançamento dum novo livro da autoria de Mário de Oliveira, o célebre Padre Mário da Lixa, Evangelho no Pretório. Irei certamente espreitar este Evangelho depois de Saramago. Mas, coisa curiosa, Óscar Lopes tornou-se uma referência lendária na minha formação, mas o Mário de Oliveira, não. Não me lembro, pura e simplesmente, dele. Ainda hei-de descobrir porquê.

Salazar


Salazar deixava passar alguma luz através das malhas apertadas da Censura. Mas da autocensura é mais difícil escapar, pois esta funciona à semelhança dos buracos negros.

Baile digital


O Senhor Robot, dança?
Sim, mas não sou feliz.

sábado, julho 30, 2016

Oito meses depois da geringonça e da caranguejola


O velho Bloco Central morreu, viva o novo Bloco Central!


“Basta ter ouvido o que disseram os partidos e parceiros à saída das audiências para terem percebido que não há crise política e não vai haver crise política. (...) “Daquilo que ouvi dos partidos que apoiam o Governo não ouvi nenhum falar em qualquer hipótese de retirar o apoio ou de haver qualquer cenário, mesmo vago, de crise,”afirmou o Chefe de Estado esta quinta-feira, 28 de Julho, aos jornalistas, numa referência às reuniões que teve no início desta semana com os líderes partidários, patrões e sindicatos.

As perspetivas económico-financeiras e sociais da presente legislatura (2015-2019) são más. Ou seja, é previsível uma degradação da base social e eleitoral de apoio ao regime, e uma erosão progressiva da maioria que suporta o governo minoritário do PS.

Na verdade, não há condições para evitar a tão famigerada austeridade.

As dívidas —privada, pública e externa— não só continuam em patamares insustentáveis, que impedem por si sós o investimento e o crescimento, como, pelo menos um destes desequilíbrios —a dívida pública— continua a agravar-se e poderá empurrar o país para um novo resgate.

Se os juros da dívida voltarem a ultrapassar o limiar dos 7%. Se a crise bancária que atinge neste momento praticamente todo o nosso sistema bancário não for rapidamente estancada, nomeadamente através de restruturações drásticas e de fusões, e sobretudo do redesenho institucional da Caixa Geral de Depósitos. Se o Plano B, entretanto revelado na carta que o Governo endereçou à Comissão Europeia para evitar uma multa por défice excessivo, não for suficiente para impedir possíveis cortes nos fundos comunitários, estagnando então de vez o investimento e empurrando o país para uma mais do que certa recessão. Se tudo isto acabar por levar a DBRS a baixar a notação da dívida soberana portuguesa. Então, um novo resgate será praticamente inevitável.

Nestas circunstâncias, a pergunta de mil milhões de euros é esta: como irão comportar-se o PCP e o Bloco, partidos de que António Costa depende para ser primeiro ministro e o PS governo, à medida que a austeridade de esquerda se revelar em toda a sua dimensão? Manterão o apoio a António Costa explicando diariamente que a culpa da sua impotência é da Direita, da União Europeia e dos alemães, e que será sempre preferível viabilizar um governo do PS, mesmo que agravando a austeridade em curso? Ou acabarão por fazer cair o governo, forçando uma clarificação eleitoral?

No primeiro caso, PCP e Bloco acabarão por se confundir com o PS sem daí retirar quaisquer vantagens políticas, ideológicas ou eleitorais. Antes pelo contrário! Ou seja, se esta hipótese for a escolhida por Jerónimo de Sousa e Catarina Martins, então terão mesmo que exigir a entrada do PCP e do Bloco no governo, assumindo então por inteiro as suas responsabilidades, mas também o necessário poder que agora não têm.

No segundo, isto é, em caso de uma crise política provocada pelo PCP, pelo Bloco, ou até por António Costa, que acabaria necessariamente em eleições antecipadas, com forte possibilidade do regresso de Passos Coelho ao poder, toda a 'geringonça' sairia a perder, e a perder por muitos anos!

Entretanto, enquanto o futuro imediato não chega, Marcelo Rebelo de Sousa será o protagonista principal e o bombeiro de uma espécie de Grande Bloco Central, onde cada opinião partidária conta, mas onde a bissetriz vai sendo traçada de modo cada vez mais claro e indiscutível por essa espécie de Bonaparte afetuoso que é o atual presidente da república, eleito à esquerda e à direita por uma maioria eleitoral de que nenhum dos partidos sentados no parlamento goza.

sexta-feira, janeiro 01, 2016

Que mudou de 2015 para 2016?

Catarina Martins
Foto: Miguel Manso/ Público (2015)

Um ano que abalou Portugal


2015: os cinco colapsos
  1. Uma Banca cada vez menos portuguesa, dominada pelo BCE e por duas mulheres: Isabel dos Santos (BCP, BPI) e Ana Botin (dona do Santander/Santander-Totta/Banif). Teorias da conspiração à parte, o Santander detinha, em 2015, 4,6% do Grupo Prisa (Media Capital/TVI);
  2. O fim da bolha imobiliária fez enormes estragos na banca e nos grandes grupos económicos indígenas, sobretudo nos da construção civil;
  3. O Bloco Central, como se previa, desapareceu. Falta saber o que virá a seguir; dois casos de estudo: Bloco de Esquerda e CDS/PP;
  4. A indústria jornalística (Sol, i, Diário Económico, Público...) sofreu um tombo provavelmente irrecuperável; 
  5. A personalidade portuguesa do ano é: Catarina Martins.

2016
  1. Marcelo Rebelo de Sousa será eleito à primeira volta;
  2. A banca portuguesa continuará com graves problemas, nomeadamente no BCP e no Montepio (e a Caixa, a ver vamos). A soberania bancária continuará a perder graus de liberdade para o BCE e para a União Bancária (Fundo Único de Resolução, Mecanismo Único de Resolução e Sistema Único de Supervisão);
  3. O crescimento será anémico, quer o OE 2016 tente, ou não, estimular o PIB através do consumo (i..e de mais importações/ endividamento externo);
  4. A crise do estado social agravar-se-à entre episódios jornalísticos mais ou menos recorrentes, e muito ruído partidário, ou seja, a austeridade do tempo novo, a austeridade de esquerda, não será muito diferente da que a precedeu, nem menos escandalosa — a resolução do Banif e o Orçamento Retificativo deram o tom nos últimos dias de 2015;
  5. O Bloco de Esquerda poderá, em breve, exigir ao PS a sua entrada no Governo, deixando o PCP entalado entre a sua necessidade de sobreviver e o pânico de mudar o seu obsoleto registo ideológico, programático e estratégico.
  6. Todo o sistema partidário que nos conduziu à desgraça está em estado de choque, pelo que ou muda ou morre. O pontapé de saída foi dado por Catarina Martins, seguido pelo PCP e por António Costa. Pedo Passos Coelho despediu o CDS/PP, e Paulo Portas sai cautelosamente de cena, abrindo as portas a (espera-se) Assunção Cristas. Aggiornamento!

segunda-feira, novembro 23, 2015

Cavaco desafia PCP e Bloco a fazerem as suas Perestroikas

Inauguração do Centro de Investigação da Fundação Champalimaud. Lisboa, 5 de Outubro de 2010
© 2006-2015 Presidência da República Portuguesa

Faites vos jeux!


Cavaco encarrega António Costa de apresentar solução governativa credível e estável. As seis questões que deverão ser formalmente esclarecidas pelo PS obrigam o PCP e o Bloco de Esquerda a definirem, de uma vez por todas, se estão ou não dispostos a rever algumas das suas opções programáticas e ideais teleológicos.

Curiosamente, Cavaco Silva parece estar a ajudar António Costa a meter o PCP e o Bloco no bolso direito do sobretudo socialista. Vai ser lindo ouvir o que Jerónimo de Sousa, Arménio Carlos, João Oliveira e Catarina Martins (a nova presidenta da junta bloquista) têm para nos dizer, e o que dirão aos seus militantes e eleitores.

Uma semana de balbúrdia dialética digna da maior atenção.

Presidência da República divulga documento entregue ao Secretário-Geral do Partido Socialista 
O Presidente da República recebeu hoje, em audiência, o Secretário-Geral do Partido Socialista, a quem entregou o seguinte documento contendo questões com vista a uma futura solução governativa: 
Face à crise política criada pela aprovação parlamentar da moção de rejeição do programa do XX Governo Constitucional que, nos termos do artigo 195 da Constituição da República Portuguesa, determina a sua demissão, o Presidente da República decidiu, após audição dos partidos políticos representados na Assembleia da República, dos parceiros sociais e de outros agentes económicos, encarregar o Secretário-Geral do Partido Socialista de desenvolver esforços tendo em vista apresentar uma solução governativa estável, duradoura e credível. 
Nesse sentido, o Presidente da República solicitou ao Secretário-Geral do Partido Socialista a clarificação formal de questões que, estando omissas nos documentos, distintos e assimétricos, subscritos entre o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista 'Os Verdes', suscitam dúvidas quanto à estabilidade e à durabilidade de um governo minoritário do Partido Socialista, no horizonte temporal da legislatura: 
a) aprovação de moções de confiança;
b) aprovação dos Orçamentos do Estado, em particular o Orçamento para 2016;
c) cumprimento das regras de disciplina orçamental aplicadas a todos os países da Zona Euro e subscritas pelo Estado Português, nomeadamente as que resultam do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade e da participação de Portugal na União Económica e Monetária e na União Bancária;
d) respeito pelos compromissos internacionais de Portugal no âmbito das organizações de defesa colectiva;
e) papel do Conselho Permanente de Concertação Social, dada a relevância do seu contributo para a coesão social e o desenvolvimento do País;
f) estabilidade do sistema financeiro, dado o seu papel fulcral no financiamento da economia portuguesa 
O esclarecimento destas questões é tanto mais decisivo quanto a continuidade de um governo exclusivamente integrado pelo Partido Socialista dependerá do apoio parlamentar das forças partidárias com as quais subscreveu os documentos 'Posição Conjunta sobre situação política' e quanto os desafios da sustentabilidade da recuperação económica, da criação de emprego e da garantia de financiamento do Estado e da economia se manterão ao longo de toda a XIII legislatura.
23.11.2015
Presidência da República

quarta-feira, novembro 04, 2015

Obviamente, demita-se!


Poderá António Costa celebrar um acordo que altera sucessivos costumes constitucionais sem ouvir a Comissão Nacional do Partido Socialista? Poder, pode, mas não irá longe no intento.


Mariana Mortágua procura salvar uma negociação inquinada pela gula de poder exibida por Catarina Martins, pelo plano de agitação e propaganda apresentado por Arménio Carlos e a sua Intersindical, e sobretudo pelas fraturas cada vez mais visíveis no PS.

O silêncio de Costa, Catarina e Jerónimo de Sousa é sintomático de que nem tudo vai bem no reino do oportunismo parlamentar. A dimensão do fiasco que se avizinha poderá, no entanto, juntar esta tropa num acordo invertebrado. Mas aceitará Cavaco Silva dar posse a semelhante caldeirada impregnada de fénico?

Como é sabido, não basta um acordo entre o PS e o Bloco. Só somando PS, Bloco, PCP e falsos Verdes, dia a dia e em cada votação, é que esta amálgama de esquerdas conseguiria derrotar em plenário os deputados da coligação.

Por outro lado, teríamos que transformar o regime num manicómio político para imaginarmos daqui em diante sucessivas manifestações da Intersindical e da FENPROF à porta da Assembleia da República exigindo tudo e mais alguma coisa aos deputados e ao governo das esquerdas, como se estivessem a lidar com extraterrestres.

Não basta um acordo de vagas intenções sobre os amendoins da questão, que a realidade se encarregaria de pulverizar em menos dum ápice. Seria necessário um autêntico caderno de encargos para levar o PCP a colocar uma corda à volta do pescoço. Quem prevaleceria nas futuras negociações entre patrões e sindicatos? A UGT ou a Intersindical? E na questão angolana, quem ditaria a diplomacia? O PS de João Soares, o PCP ou o Bloco? E as privatizações em curso, seriam revertidas, ou seguiriam em frente?

João Proença foi claro esta noite a propósito disto tudo: António Costa perdeu as eleições e está a dividir o Partido Socialista. Veremos o que o almoço na Bairrada, convocado por Francisco Assis, no próximo fim-de-semana, trará de novo.

Mariana Mortágua mantém tabu mas admite BE no Governo de Costa
RTP | Notícias, 03 Nov, 2015, 22:45 / atualizado em 03 Nov, 2015, 22:51

“Usaremos cada segundo desse tempo para negociar e garantir que este acordo é sólido e tem medidas que mudam a vida das pessoas”. Quanto à eventualidade de as forças de esquerda não conseguirem chegar a acordo, Mortágua repetiu que o acordo “não está completamente fechado”, mas insistiu que as negociações “estão muito avançadas”.

“Não será por indisponibilidade do Bloco de Esquerda que Cavaco Silva encontrará qualquer desculpa para não indigitar este governo alternativo”. Um governo para o qual, garante, ainda está tudo em cima da mesa.

“O BE não entrou nestas negociações para discutir lugares ou distribuir ministérios. Queremos fechar as medidas políticas”, aferiu.

“A forma como esta maioria se traduz é uma questão que vem depois”. No entanto, sem nunca o dizer abertamente, a deputada dá a entender que o partido está mesmo disponível para entrar no executivo.

“Não será pela indisponibilidade do Bloco de Esquerda que esta alternativa de governação não se concretizará”, afirmou.

PS avisa que sem acordo "aclarado" com PCP e Bloco exclui moção de rejeição
Jornal I, 03/11/2015 16:07

O presidente do Grupo Parlamentar socialista deixou a seguinte mensagem: “Enquanto não existir um acordo firmado com o PCP e Bloco de Esquerda, não vale a pena valorar o estado das negociações como estando a 90 ou a 40 por cento”.

“Quando houver esse acordo, ele deverá ser comunicado e é importante que esse acordo seja aclarado, evidentemente, antes da discussão do programa do Governo [que se inicia na segunda-feira], porque é esse o compromisso do PS. Nós só nos constituiremos como uma força política que contribui para o derrube do Governo PSD/CDS se formos simultaneamente portadores de uma alternativa responsável, estável, com sentido duradouro e que proporcione aos portugueses um sentimento de tranquilidade e de confiança”, afirmou.

O presidente do Grupo Parlamentar insistiu neste ponto: “Não votaremos nem apresentaremos nenhuma moção de rejeição se não tivermos em simultâneo a garantia que temos uma alternativa acordada e consolidada com os restantes partidos políticos”.

CGTP aguarda contrapropostas sobre salário mínimo
CGTP prevê aumento do SMN para 600 euros
Jornal I, 03/11/2015 14:55

“Não pensem que nós aceitamos que, a pretexto agora desta discussão, se vá protelar a resolução do SMN. Tem de ser actualizado, é da responsabilidade do Governo fazê-lo todos os anos e, no dia 1 de Janeiro, tem de haver um novo SMN. O valor... estamos disponíveis para o discutir. Os outros entretanto que se disponibilizem para dizer o que pretendem”, afirmou.

segunda-feira, outubro 12, 2015

Costa concórdia II

António Costa
Foto @ José Sérgio/ Sol

Tsipras à portuguesa? A avaliar pelo andar da carruagem, é bem possível que sim!


Última hora: coligação sem governo; governo PS-Bloco-PCP a caminho

Presidente do BCE elogia Grécia 
«Muitas coisas assumiram um rumo melhor nos últimos tempos e isso deve-se ao primeiro-ministro grego, ao Governo grego e ao povo grego. Creio que é do interesse de todos que a atenção se centre a partir de agora na aplicação rápida das medidas que foram acertadas em conjunto, de acordo com os prazos previstos», disse o responsável italiano, numa entrevista a ser publicada este domingo no jornal grego Katherimini. 
— in Expresso, 10.10.2015 às 20h23 


A Alemanha está cada vez mais virada para a Eurásia e a Nova Rota da Seda sino-russa e, por outro lado, enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido se preparam para enfraquecer ainda mais a União Europeia, Berlim não pode suportar mais, por si só, os custos de uma integração europeia atolada em dívidas, crescimento a caminho de zero e uma demografia cada vez mais envelhecida e improdutiva.

O eixo Paris-Berlim poderá ter assim os dias contados, sobretudo se Marine Le Pen continuar a progredir sob o impacto da instabilidade plantada pelos Estados Unidos no Médio Oriente, no leste da Europa e no Mediterrâneo, e as velhas esquerdas de Portugal, Espanha e Grécia conseguirem atravessar com êxito as metamorfoses ideológicas que já iniciaram. Não creio que Washington coloque quaisquer reservas à emergência de governos de esquerda nestes três países. E se assim for, o PàF e Cavaco Silva passarão rapidamente à história.

O escândalo da Volkswagen, que não por acaso rebentou nos Estados Unidos, abriu uma cratera na credibilidade alemã e começou a destapar o buraco negro do seu sistema financeiro.

Só o Deutsche Bank tem uma exposição aos contratos de derivados financeiros na ordem dos 54,7 biliões de euros (54,7x10E12), isto é, 19x o PIB da Alemanha! Para termos uma ideia ainda mais dramática do problema, basta pensar que o PIB mundial em 2014 andou pelos 68 biliões de euros.

A fraude ambiental da Volkswagen pode, pois, ter sido o cisne negro que levou o sistema financeiro global —e portanto o capitalismo como o conhecemos— a dar mais um forte sinal de que caminha rapidamente em direção ao colapso, que alguns já chamam pós-capitalismo. Para já, o que se vislumbra no horizonte mais próximo é o esgotamento da capacidade económico-financeira alemã de impor condições ao resto da União Europeia.

Nesta conjuntura, que à escala global é de agravamento das tensões entre o Oriente e Ocidente, mas sobretudo de avanço estratégico da China no Grande Jogo da Eurásia (que, como sabemos, vai de Lisboa e Vladivostok), os graus de liberdade dos países do sul da Europa, apesar das suas crises de endividamento soberano, poderão aumentar contra todas as expetativas.

É neste quadro que a renovação da esquerda se joga, e o futuro da direita que temos, também.

Para ajudar a compreender porque motivo o impensável se poderá realizar em breve, junto alguns artigos recentes que permitem perceber as mudanças rápidas que estão em curso


Central bank cavalry can no longer save the world 
LIMA (Reuters) - In 2008 central banks, led by the Federal Reserve, rode to the rescue of the global financial system. Seven years on and trillions of dollars later they no longer have the answers and may even represent a major risk for the global economy.
[…]
"Central banks have described their actions as 'buying time' for governments to finally resolve the crisis... But time is wearing on, and (bond) purchases have had their price," the report said.
[…]
Reuters calculates that central banks in those four countries alone have spent around $7 trillion in bond purchases.
The flow of easy money has inflated asset prices like stocks and housing in many countries even as they failed to stimulate economic growth. With growth estimates trending lower and easy money increasing company leverage, the specter of a debt trap is now haunting advanced economies, the Group of Thirty said. 
— in Reuters, Sat Oct 10, 2015 | 3:34 PM EDT, By David Chance
The Endgame Takes Shape: "Banning Capitalism And Bypassing Capital Markets" 
We believe that the path of least resistance would be to effectively ban capitalism and by-pass banking and capital markets altogether. We gave this policy change several names (such as “Cuba alternative”, “British Leyland”) but the essence of the new form of QE would be using central banks and public instrumentalities to directly inject “heroin into blood stream” rather than relying on system of incentives to drive investor behaviour. 
Instead of capital markets, it would be governments that would decide on capital allocation, its direction and cost (hence reference to British Leyland and policies of the 1960s). It could involve a variety of policy tools, with wholesome titles (i.e. “Giving the economy a competitive edge”, “Helping hard working American families” or indeed recent ideas from the British Labour party of “People’s QE”). Who can possibly object to helping hard working families or improving productivity? 
However as the title of our previous note suggested (“Back to the Future”), most of these policies have already been tried before (such as Britain in the 1960-70s or China over the last 15 years) and they ultimately led to lower ROE and ROIC as well as either stagflationary or deflationary outcomes. Whilst the proponents of new attempts of steering capital could argue that we have learned from the lessons of the past and economists would start debating “multiplier effects” and “private-public partnerships”, the essence of these policies remain the same (i.e. forcing re-allocation of capital, outside normal capital market norms), and could include various policies, such as: 
—Central banks directly funding expansion of fiscal spending;
—Central banks and public instrumentalities funding direct investment in soft (R&D, education) and hard (i.e. infrastructure) projects; and
—Outright nationalization of various capital activities (such as mortgages, student loans, SME financing, picking industry winners etc). 
Whilst, these policies would ultimately further misallocate resources, they could initially result in a significant boost to nominal GDP and given that capital markets are now populated by highly leveraged financial instruments, the impact on various financial asset classes would be immediate and considerable. In other words, neither China nor Eurozone need to spend one dime for copper prices to potentially surge 30%+. 
Are we close to such a dramatic shift in government and CB policies? 
We maintain our view that for CBs to accept this new form of QE, we need to have two key prerequisites: 
Undisputed evidence that it is needed. The combination of a major accident in several asset classes and/or sharp global slowdown would be sufficient; and there has to be academic evidence (hopefully supported by sophisticated algebra and calculus) that there are alternatives to traditional QEs. 
At the current juncture, none of these conditions are satisfied. However, we maintain that as investors progress through 2016-17, there is a very high probability that both conditions would fall into place.
— in Zero Hedge, Submitted by Tyler Durden on 10/10/2015 19:44 -0400

Why Are The IMF, The UN, The BIS And Citibank All Warning That An Economic Crisis Could Be Imminent? 
— in The Economic Collapse, By Michael Snyder, on October 8th, 2015
The Final Crescendo Of Cognitive DollarDissonance And The Remonetisation Of Gold 
There is good reason to believe that what is already underway is going to be more severe than 2008-09. This time around, interest rates are already at zero, or outright negative. QE has failed. Confidence in economic officials’ general ability to restore healthy, sustainable growth has weakened considerably. Indeed, at a recent roundtable event at Chatham House I attended, multiple prominent international economists suggested that with ‘conventional QE’ having failed, the next logical arrow in the monetary policy quiver is that of direct money injections into corporations or households, in effect a Friedmanesque ‘Helicopter Drop’ of money. This conversation would not be taking place at all were the macroeconomic outlook not so poor. 
— in The Amphora Report, Vol.6, 8 October 2015

quinta-feira, outubro 08, 2015

E se fosse Maria de Belém?

Maria de Belém, candidata presidencial
Foto © desconhecido, in Luso Notícias

Uma candidata para derrotar Marcelo à primeira volta?


Ninguém compreenderia que o próximo governo fosse um governo de esquerda. Nem a própria esquerda lúcida que temos. Logo, aquilo a que estamos a assistir no rescaldo das eleições legislativas tem um alcance bem maior do que as aflições de Cavaco Silva, Passos Coelho e António Costa.

Há dois partidos no nosso espetro parlamentar que não fizeram o rejuvenescimento necessário para responder, com novos protagonistas, nova estratégia e nova linguagem, às mudanças profundas que têm ocorrido nas sociedades humanas nos últimos quarenta anos: o Partido Socialista, e o Partido Comunista. As lideranças oportunistas e as castas dirigentes destas organizações partidárias de origem jacobina, invariavelmente machistas, têm uma fatal e insuportável tendência para se perpetuarem nas cadeiras de poder que em dado tempo conquistaram. Nos tempos que correm, porém, estas características genéticas acabam por ser mais ameaçadoras da sua sobrevivência do que o próprio oportunismo marxista-leninista do PCP, ou do que o aburguesamento dos sociais-democratas do PS. O scratch ideológico de ambos deixou, aliás, de convencer e mobilizar. Resta-lhes, pois, fazer um reset das respetivas filosofias políticas, ou definhar.

Pelo contrário, o Bloco de Esquerda, cujo aggiornamento está em curso, terá as portas abertas para promover uma renovação sem precedentes do ideário socialista, cortando meticulosamente os nós górdios que tolhem o futuro tanto do PS, como do PCP. A necessária espada para o conseguir parece empunhá-la, a quatro mãos, Catarina Martins e Mariana Mortágua. Será, no entanto, imprescindível impedir o regresso dos fantasmas do oportunismo marxista-leninista e do trotsquismo mandeliano que ainda andam por aí. Há, tanto no PCP (João Oliveira), como no PS (Pedro Nuno Santos), jovens líderes e sobretudo muitos eleitores que há muito anseiam por uma verdadeira convergência da esquerda. Esta oportunidade chegou!

Não será, no entanto, no plano da formação do próximo governo —que deverá assentar na coligação que venceu as eleições, ainda que sem maioria e depois de uma sangria de mais de 720 mil votos— que os trabalhos ciclópicos e meticulosos da construção da almejada maioria de esquerda deverão confluir e precipitar-se.

A maioria potencial de esquerda atualmente existente no parlamento deve abrir um processo de convergência pragmática séria apontada à formação de um próximo governo de maioria, nomeadamente na sequência de um possível colapso do governo do PàF a que Cavaco Silva deverá dar posse, e o primeiro passo desta caminhada que recomendo é o da eleição de Maria de Belém para o cargo de Presidente da República — à primeira volta!

Se desafiar a maioria eleitoral de centro-direita obtida pelo PàF é um ato ilegítimo, e pior do que isso, aventureiro, já negar a possibilidade de eleger Maria de Belém à primeira volta seria a prova de que, afinal, o teatro montado por António Costa (que espero seja em breve substituído por Álvaro Beleza) não teria passado de uma farsa política inqualificável.

O país nunca precisou, e agora precisa ainda menos, de uma esquerda negativa.

O país precisará certamente, quando a atual coligação se esgotar, de uma esquerda positiva, capaz de governar com pragmatismo e assumindo com coragem as potencialidades, mas também os espinhos da transição social em que todos já estamos metidos.

O Partido Socialista, tal como existe ainda, morreu.

segunda-feira, outubro 05, 2015

Bloco, o único vencedor


António Costa vai ser empurrado. Mas quanto mais tarde, melhor para o Bloco


Em boa verdade, Miguel Portas é o grande vencedor póstumo destas eleições, pois deve-se a ele a decisão de renovar o Bloco de Esquerda, que mais tarde Fazenda e Louçã viriam a secundar.

Mas deve-se a Mariana Mortágua o clique que desencadearia a mudança decisiva deste saco de gatos de origem estalinista, maoista e trotsquista. Foi verdadeiramente durante o inquérito ao colapso do BES que, perante um PS visivelmente decadente, e um PCP tolhido pela sua incorrigível e egoísta gerontocracia, a jovem economista do Bloco imporia a todo o partido, e em geral à retórica da nossa esquerda partidária, um outro estilo de comunicação: disciplinado, racional, fundamentado, ponderado, compreensivo e, sobretudo, pragmático.

Depois deste histórico inquérito parlamentar, o PCP e o PS foram, como eles próprios costumam arengar, objetivamente encostados à parede. Não pela coligação de direita, mas pela voz sensata de uma militante de extrema esquerda que aprendeu a pensar de uma forma menos francesa. Agora, a estes dois partidos só resta arrastarem-se até uma morte inglória, ou fazer o aggiornamento que há anos lhes venho recomendando.

O PCP não percebeu que a classe operária, em nome da qual faz a sua propaganda há demasiadas décadas, não passa de umas centenas de milhar de idosos, a maioria deles reformados, cujas pensões, por serem baixas, nem sequer foram tocadas pela tal maioria de direita. O CC do PCP é uma turma de burocratas oportunistas que não percebeu ainda o essencial das mudanças sociais e culturais que têm vindo a ocorrer no mundo. Agarram-se às cadeiras como fez Salazar e como fazem os padrinhos e tias que continuam a manobrar os cordelinhos do corrompido até ao tutano Partido Socialista. Nenhuma destas oligarquias partidárias percebe, e por isso estão ambas a destruir o que supostamente amam, que ceder o protagonismo aos mais novos e às mais novas, e sobretudo abdicar de privilégios, económicos e de poder, que não são naturais, nem propriamente herdados, é uma condição essencial à sobrevivência da cultura democrática de que a Europa, e em geral o mundo, mais precisam neste momento de dolorosa metamorfose.

O Bloco de Esquerda tornou-se nestas eleições o terceiro partido político do nosso sistema democrático representativo—cortesia do Partido Socialista, do PCP e do PSD, de onde voaram muitos votos novos, sobretudo dos jovens profissionais, em direção ao que se perfila como uma nova forma informada e organizada de resistência aos rolos compressores da austeridade. Mas também e sobretudo mérito da visão estratégica de Miguel Portas e do impulso decisivo de Mariana Mortágua (1), sem o que a performance de Catarina Martins teria sido menos exemplar e eficaz.

Resumindo: temos três partidos do arco parlamentar que foram capazes de rejuvenescer a tempo, e por isso vingaram: CDS/PP, PSD e Bloco; e temos duas lanternas vermelhas que correm o risco de se apagarem de vez na próxima crise. Basta que não aprendam nada destas eleições.

Os partidos emergentes, entretanto, ficaram pelo caminho (2). E não foi culpa dos eleitores.


NOTAS
  1.  Poucos minutos depois de publicado este post lemos a nota de vitória de Mariana Mortágua. Sucinta, clara e estratégica.
  2. Ou talvez não... 140 mil eleitores votaram em partidos que não pertencem ao tradicional arco parlamentar, e o PAN, fundado em 2011, conseguiu eleger um deputado, pelo que gatos e cães, as suas queridas árvores e o seus dedicados donos estarão melhor defendidos daqui em diante ;) Mas mais: o Nós, Cidadãos! poderá roubar um deputado do círculo fora da Europa ao PSD (ou ao PàF), fazendo-se assim representar também na próxima legislatura parlamentar, o que, a verificar-se, baralhará ainda mais, mas neste caso bem, a atual conjuntura pós-eleitoral.

Atualização: 9/10/2015 00:08 WET

quinta-feira, outubro 01, 2015

Syriza à moda de São Bento?


O importante é mudar a configuração do parlamento, votando em novas forças políticas


Num jantar comício da coligação PSD/CDS-PP, em Viseu, onde esteve Rui Rio, Passos Coelho defendeu que está em causa saber se “quem ganhar as eleições vai poder formar o Governo”, referindo que “já foi prometido, já houve quem o tivesse dito com todas as letras”, que “isso pode não ser assim tão simples, que uns podem ganhar e ser outros a governar”.

Passos acena com hipótese de Governo contra a vontade do povo
TSF, 30 de SETEMBRO de 2015

Outra maneira de apelar à maioria absoluta. No entanto, um governo PS+Bloco, ou PS+PCP, ou PS com acordos de viabilização dos orçamentos de estado de 2016, 2017, 2018 e 2019, parecem-me hipóteses altamente improváveis.

O Bloco e o PCP sabem perfeitamente que um Syriza em Portugal não duraria mais de um ano, e que uma tal experiência poderia fragmentar ainda mais a esquerda ideológica e politicamente atrasada que temos, arrumando-a de vez na mesma gaveta onde Mário Soares depositou o socialismo, em troca de uma cadeira garantida no topo da pirâmide do poder — capitalista, claro!

Não deixa de me surpreender os movimentos brownianos que agitam neste momento os donos da esquerda. Enquanto a extrema esquerda (Catarina Martins) se dirige ao eleitorado do centro-direita, o desastrado e nada recomendável líder improvisado do PS afasta-se, de forma suicida, do eleitorado que trouxe o partido da rosa ao arco da governação. Isto, e a corrupção que grassa nas entranhas mais viscerais do Partido Socialista são uma receita certa para o seu mais do que provável definhamento histórico.

Percebe-se o esforço retórico de Passos Coelho, pedindo de forma suave uma maioria para governar. Palpita-me que irá obtê-la. Até porque, com a nova fé marxista-leninista do PS, e o histórico pessoal de António Costa, que começa a aflorar no blogue Do Portugal Profundo, cautela e caldos de galinha não fazem mal a ninguém.

Além do mais, como me dizia o meu dentista há dois dias atrás, depois de um tratamento de choque, depois de iniciar-se um período de recuperação, ninguém quer mudar de médico. Seria trocar o certo e previsível, por uma incógnita que poderia levar-nos a uma recaída, com o consequente agravamento da doença e dos seus efeitos mais perniciosos.

É, no entanto, absolutamente necessário colocar no parlamento uma ou duas novas forças parlamentares ligadas à cidadania participativa, entre outras razões, para desdramatizar e anular o pendor populista da democracia que temos.