Governo, Banco de Portugal e INE sopram as gaitas da prosperidade como se esta fosse obra sua, mas não é!
Os índices económicos e a confiança melhoraram francamente, cá como em toda a parte—exceto nos países demasiado dependentes do petróleo e das matérias primas. Ou seja, depois de uma grande crise financeira que atingiu dramaticamente o crescimento, o investimento, o emprego e as remunerações do trabalho, assistimos a uma recuperação paradoxal do otimismo económico, em grande medida fruto de uma política monetária orientada para a proteção dos devedores e consumidores (repressão das taxas de juro), bem como para a concentração industrial e bancária mundiais. Pelo caminho ficam, porém, estados semi-falidos, uma classe média empobrecida, desemprego disfarçado com menos trabalho por empregado e mais emprego precário, e o enriquecimento desmedido dos 1% (e sobretudo dos 0,1% e 0,01%) mais ricos. A bolha do endividamento público e privado continua a inchar na maioria dos países desenvolvidos. Novas bolhas imobiliárias e financeiras são já visíveis no horizonte 2018-2019. Portugal, que há muito perdeu a capacidade de remar sozinho seja para onde for, limita-se a boiar ou a ir na onda. E assim sendo, as notícias diárias sobre o sucesso da Geringonça deverão ser lidas como aquilo que realmente são: mera propaganda partidária do poder.
87th Annual Report, 2016/17
Towards resilient growth
25 June 2017
Abstract
Over the past year, the global economy has strengthened further. Growth has approached long-term averages, unemployment rates have fallen towards pre-crisis levels and inflation rates have edged closer to central bank objectives. With nearterm prospects the best in a long time, this year's Annual Report examines four risks that could threaten the sustainability of the expansion in the medium term: a rise in inflation; financial stress as financial cycles mature; weaker consumption and investment, mainly under the weight of debt; and a rise in protectionism. To a large extent, these risks are rooted in the "risky trinity" highlighted in last year's Annual Report: unusually low productivity growth, unusually high debt levels, and unusually limited room for policy manoeuvre. Thus, the most promising policy strategy is to take advantage of the prevailing tailwinds to build greater economic resilience, nationally and globally. Raising the economy's growth potential is critical. At the national level, this means rebalancing policy towards structural reforms, relieving an overburdened monetary policy, and implementing holistic frameworks that tackle the financial cycle more systematically. At the global level, it means reinforcing the multilateral approach to policy - the only one capable of addressing the common challenges the world is facing.
Para além do clássico The Great Wave. Price Revolutions and the Rhythm of History, de David Hackett Fischer (1996), recomendo, a quem quiser ter uma visão menos epdérmica da realidade, a leitura do recém publicado The Rise and Fall of American Growth, de Robert J. Gordon (2016). O que aí vem não é o Diabo, mas apenas a necessidade de adaptar a civilização tecnológica a um ritmo de crescimento médio anual entre 0 e 1% sem cair numa espécie de nova Idade Média esclavagista, habitada por androides, párias e indigentes, no pináculo da qual crescerá uma elite rica e poderosa insensível à vida dos 'falhados' deste mundo. Esta elite tem vindo a ser contabilizada em dois grupos: 1%, e 0,01% das sociedades em marcha. É sobretudo o pico deste pináculo (0,01%) que deverá ser objeto de uma política fiscal progressiva, ao mesmo tempo que se implementam políticas de crédito fiscal dirigidas aos setores sociais de menor rendimento e o fim progressivo das isenções fiscais (quase sempre injustas e oportunistas). Mas para que esta receita funcione é preciso rever prévia e radicalmente a dimensão e função pública dos impostos, tal como a dimensão burocrática dos aparelhos de estado.
Atualizado em 26/6/2017, 10:26 WET