Sam The Kid, Poetas do Karaoke. Um soco no estômago do luso pidgin. You Tube |
O Hip Hop que mexe na língua portuguesa é bom!
Há muito que venho lamentando a mania de dar nomes ingleses às coisas portuguesas. São os políticos levianos que falam de "benchmarking" a torto e a direito (em vez de análise competitiva), são os bancários que inundam o espectro radioeléctrico com os seus pornográficos "spreads" para compra de casa (em vez de falarem simplesmente de penalização dos juros), são os artistas a titularem sistematicamente as suas pinturas, esculturas, instalações, vídeos e exposições, com palavreado bife que não entendem. Tudo isto que é bimba faz-me lembrar as ementas dos restaurantes algarvios em Agosto!
E no entanto, no mundo da música falada, onde também abundam os anglófilos à maneira, para além do fado, onde a poesia portuguesa demonstrou ser tão musicável como qualquer outro idioma (basta saber escrever e saber ouvir as palavras), e de grandes músicos como Sérgio Godinho, Adriano Correia de Oliveira, Padre Fanhais, ou mais recentemente Dulce Pontes, há já alguns anos que me vou apercebendo do notável trabalho de desconstrução do nosso idioma por parte dos cantores de Rap e músicos Hip-hop, com especial destaque para os de origem africana. Lembro-me invariavelmente dos Da Weasel, cujo experimentalismo instrumental e prosódico tem dado um contributo notável para o refrescamento crioulo do nosso idioma cantado e escrito.
Hoje vi e ouvi, pela primeira vez, Poetas De Karaoke, de Sam The Kid. Notável! Formalmente notável e notável política e ideologicamente. Porque é que os nossos artistas contemporâneos, em vez de andarem por aí de cócoras a decorar banqueiros sem tradição, não estudam as letras do Puto Samuel? Não lhes faltarão palavras, ideias e silabadas para comporem os títulos das suas obras, e estas, como já deveriam ter ouvido de alguém, se foram sonhadas, não foram seguramente sonhadas no idioma de Shakespeare.
Ora leiam lá o que se segue, e digam-me depois se não estamos na presença de uma lírica livre e inteligente.
Sam The Kid - Poetas De Karaoke
Sam The Kid
Ha ha....percebes?....c'mon
Rapper's hoje em dia sao como a pornografia
nem todos dao tusa porke ha uma oferta em demasia
ofensa a filosofia da nossa imensa minoria
nao curto plagia, fotocopia pirataria
cmg irá variar kem tira a magia original
heyy yoo reflecte e repete cmg hj é mal
só tu sabes o ke usaste e kando o pulso tiver gasto
o topo vai cair em ti nao es bem-vindo como um
padrasto
nao me afasto logo pra baixo cm para-quedas
nao te curto cm apanhador nao curto moedas
nao preciso de regressos cm sucessos
eu faço poesia a maioria faz versos
Eskece os outros mete os pontos nos "i's",
mete os contos no lixo
ou sons posto no disco ouviste
consistencia integridade longevidade na essencia
tens de ter paciencia
EU, pus-me na bixa, preenchi a fixa, ganhei 1a fixa
kando ouvi...kando vi xamar de artista
ha 1ª vista era fixe ter a profissao
sou vocalista de outra lista dos ke pensam ke sao
e relativo td o titulo, toda a afirmaçao
sou criativo e digo-o cm toda a estimaçao
dicçao é importante mas a tua e ficçao
cm dj's ke eu vejo nos pratos mandam "mixao"
sem convicçao,
sinto-me a frente de gente ke tem como influencia uma
so referencia, uma so cançao...
sao limitaçao da escrita ke limita a erecçao
solicitaçao evitam necessitam correcçao...
Refrao:
Dizem ke cantam o hip hop, mas nao dizem nada, vem cm
poesia mas é só fachada
o portugues nao ta cansado eles vem cm o ingles,
eu pratico praticando a nossa lingua outra vez
Seja hip hop, seja rock sao poetas de karaoke
da-s um toke se nao faz block aos poetas de karaoke,
no teu block no teu stock
sao poetas de karaoke, sao poetas de karaoke...
Poe a gramatica em pratica,
DidacticaDramatica mentes entanto tecnicas
poeticas cm esteticas
foneticas sempre atento ou surpreendente
cm metricas a frente, pa mentes cepticas e exigentes
isto e pa todos, nao e so pa Mc's
isto e pa tugas comuns ke escrevem da lingua raiz
kerem ser internacionais mas tao caro pa isto
e nunca sao originais sao Nova york ou Paris
Sempre fui D.Dinis vcs sao de onde der mais jeito
onde houver mais fome e proveito
e se houver mais grana é aceite
e se houver uma dama cm bom peito pensam ke isso da
respeito...
Conferem e confirmam a afirmaçao vcs nao acordam
ke eu condeno a vossa causa falsa ke vcs abordam
contractos sao assinados cm condiçoes ke nao
concordam
e as gravatas ficam gratas
pelos escravos ke as engordam
nao ha credibilidade na performance
o microfone nao ta ligado isso pra mim é nonsense
Nao percebo o vosso ponto no meu som ponho censo
Porke eu escrevo cm falo, cm sonho, cm penso...
Refrao:
Dizem ke cantam o hip hop, mas nao dizem nada, vem cm
poesia mas é só fachada
o portugues nao ta cansado eles vem cm o ingles,
eu pratico praticando a nossa lingua outra vez
Seja hip hop, seja rock sao poetas de karaoke
da-s um toke se nao faz block aos poetas de karaoke,
no teu block no teu stock
sao poetas de karaoke, poetas de karaoke...sao poetas
de karaoke![2X]
Dois palermas: Yehhhhh ouviste akele som?Ridiculo
pah....Ke nojo pah, ke...eu passo-me cm akeles gajos
Eh pah...estes gajos "Sam the kid, Sam the kid"...é
sempre a mm coisa..e depois vem cm akelas letras
"Tec tec tuuu..." eh pah...nao percebo nada
pah...Nunca gostei de rap pah...de certeza ke nunca
foram
a escola...pois nao, nao sabem escalas...nao sabem
escalas...nao sabem nada e depois vem...é musica
yoo know, yoo sam...yoo han?!?
E so o nome dele é contraditorio...pois...SAM THE
KID....o ke e akilo pah...akilo e ingles,é americano
E kem e ke vai criticar...nao é ninguem pah....ohh
pahh...devias era ouvir musica pah..devias era ouvir
musica
eles nem escrever sabem pah...o "a e i o u" nao?Eles
nem tem a 4ª classe...e o faço te aconteço te...ke
eles
nao percebem nada disso...eles nao sabem escrever
Sam the kid:Ohhh pessoal...pessoal,e assim, vcs tao ai
a falar a toa mas eu digo-vos ja, olha..o meu
portugues...
Nao e correcto e sou mais poeta ke vcs,
Todos voz do rock prop hip hop escrita em ingles,
Uma desculpa ke foi a musica ke ouviram ó crescer
Eu nunca precisei de ouvir hip hop tuga pró fazer
isso é ke da mais prazer o meu idioma exploraçao
vcs tentam outra lingua pra tentar exportaçao
kerem ser os "moonspell" kerem novos altos sons
mas aki o samuel é madredeus ou dulce pontes
porke ha uma identidade ke vcs sao todos identicos
SAO autenticos mendigos vendidos por centimos
NAO compreendi o meu sentimento e mentem
tentem jornalismo nao comentem
voces fazem turismo de emoçoes ke os outros sentem
eu faço culturismo de expressoes ke todos sentem
pk sera ke nunca param, param cm novo reportório
o vosso e qual a revista num consultorio
e é notorio ke a historia nao keiram a vossa presença
no relatorio da kal a rejeiçao foi exa intençao
eu sei, no ke é ke eu vi da tipico inox duro
mais ke fotocopias obvias ke eu xamo xerox puro
vais ver com'é sais a pontapé,
porke eu sou tipo se nao fosse do tipo cais do sodré
um café sem Sport TV,
um spot vazio nao se pode evoluir ao ignorar o
desafio
È SO PREGUIÇA!!!!
Mais letras de Sam The Kid
Nem de propósito...
At Long Last, a Neglected Language Is Put on a Pedestal
October 23, 2006, São Paulo Journal
By LARRY ROHTER
SÃO PAULO, Brazil - More people speak Portuguese as their native language than French, German, Italian or Japanese. So it can rankle the 230 million Portuguese speakers that the rest of the world often views their mother tongue as a minor language and that their novelists, poets and songwriters tend to be overlooked.
An effort is being made here in the largest city in the world's largest Portuguese-speaking country to remedy that situation. The Museum of the Portuguese Language, with multimedia displays and interactive technology, recently opened here, dedicated to the proposition that Portuguese speakers and their language can benefit from a bit of self-affirmation and self-advertisement.
"We hope this museum is the first step to showing ourselves, our culture and its importance to the world," said Antônio Carlos Sartini, the museum director. "A strategy to promote the Portuguese language has always been lacking, but from now on, maybe things can take another path."
The museum, which opened in March, has already become the most widely visited in Brazil, drawing schoolchildren and scholars as well as tourists from Brazil and Portuguese-speaking countries in Africa.
In the interests of linguistic harmony and unity, it sidesteps a basic issue: whether dominion over the language ultimately rests with the country where it was born or this rambunctious, overgrown former colony where it is most widely spoken.
George Bernard Shaw once described the United States and Great Britain as "two countries divided by a common language." Much the same could be said about Brazil, with its 185 million people, and Portugal, with barely 11 million.
The issue is not just the contrast between the mellifluous, musical accent of Brazil ? "Portuguese with sugar," in the words of the 19th-century realist Eça de Queiroz ? and the clipped, almost guttural sound in Portugal. There are also marked differences in usage that have traditionally led to misunderstandings and provided fodder for jokes.
In Portugal, for example, a word for a line (the waiting kind) is to Brazilians a derogatory slang term for a homosexual. A Portuguese word for a man's suit of clothes means a fact or piece of information in Brazil.
Some purists in Portugal object to the slangy, colorfully casual version of the language that is spoken here and increasingly spread abroad through Brazilian telenovelas, or soap operas. They regard such informality as unworthy of the language of Camões, the 16th-century poet whose seafaring epic "Os Lusíadas" is often compared to the masterpieces of Homer and Dante.
"That's certainly not my reading," Maria Isabel Pires de Lima, Portugal's culture minister, said, though, when she visited the museum in August with José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, her country's prime minister. "Language is a living instrument, always moving, evolving and changing, so I don't see this phenomenon as pejorative. On the contrary, telenovelas are an important tool in creating more awareness of the Portuguese language and culture."
In 1996, Brazil and Portugal joined with five African nations - Angola, Cape Verde, Guinea-Bissau, Mozambique and São Tomé and Príncipe - to found the Community of Portuguese-Language Countries. Portuguese was recently designated an official language of the Organization of African Unity as a result of the community's efforts. Leaders think that more can be done and hope that Brazil can lead the way.
"One of our objectives is to disseminate Portuguese so that it has greater visibility in international organizations," José Tadeu Soares, deputy director general of the group, said in a telephone interview from its headquarters in Lisbon. "But aside from Brazil and Portugal, the other countries have only been independent for 25 or 30 years and don't have the resources to project themselves on the world stage the way Brazil can."
Though the group recently granted observer status to China, where the language still has official standing in Macao, Portuguese is fading there and in places like Goa, Damão and Diu in India, three other former colonial outposts. But when East Timor obtained its independence from Indonesia in 2002 and joined the community, that inspired an outpouring of sympathy and support from Portuguese-speaking countries.
"For the Timorese, Portuguese is a way of asserting their identity vis-à-vis Indonesia, and, for that matter, even Australia," Luiz Fernando Valente, director of the Department of Portuguese and Brazilian Studies at Brown University, said in a telephone interview from Providence, R.I.
But, he added, the aspiration of some Portuguese-speakers to see their language gain official status at the United Nations is probably beyond reach. "Portuguese is a global language, spoken on every continent," he said, "but it is not an international language, used in diplomacy and business the way that French is, and I don't know if that problem is solvable."
Mr. Sartini, the museum director, said the museum planned to send roving exhibitions abroad, to disseminate Portuguese language and culture. Ideally, he said, such displays would visit not only Portuguese-speaking countries but also those, like the United States, with Portuguese-speaking minorities.
The largest and oldest United States enclave is around Providence, R.I., and Fall River and New Bedford, in southeastern Massachusetts. There are others, in the Central Valley of California, around Fresno, for example, as well as in southern Florida and Newark.
At a literary festival near here in August, though, the Anglo-Pakistani writer Tariq Ali was quoted in the local press as saying that only three languages are assured of surviving to the end of this century: English, Chinese and Spanish. Even José Saramago, the Portuguese novelist and Nobel laureate who lives mostly in Spain, has fretted publicly over the possibility of Portuguese being overwhelmed by English and Spanish.
Spanish-speakers have sometimes jokingly dismissed Portuguese as simply "Spanish, badly spoken." But because of Brazil's huge size and dynamic economy, cities like Buenos Aires and Santiago, in neighboring countries, are now awash in fliers and billboards offering Portuguese language courses.
"For 850 years, our neighbors next door have been saying that there is no future for Portuguese," said Mr. Soares, of the community, referring to Spain. "But here we are, still. The dynamic for the language may come from Brazil, but there is no doubt in my mind that Portuguese as a language will remain viable."
Copyright 2006 The New York Times Company
OAM #154 23 NOV 2006