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quarta-feira, setembro 03, 2008

Eurasia adiada - 6

Guerra fria, não, mas uma guerra a sério, talvez!

Se a União Europeia implodir -- e poderá implodir em menos de um ápice --, as suas várias nações terão que rever sem demora nem hesitação uma série de ideias novas a que se foram habituando docemente sob um regadio de "fundos de coesão comunitária". Estes, aliás, poderão deixar de fluir muito antes de 2013, até já no próximo inverno, se entretanto os vassalos europeus da América insistirem em arrancar um braço à Rússia, encurralar uma vez mais a Alemanha, e transformar a Europa num vinhedo americano (1). A dupla de ladrões e criminosos de guerra (2) que manda nos EUA -- George W. Bush e Dick Cheney -- prepara-se para colocar forças da NATO em território georgiano, radares e mísseis na República Checa e na Polónia (3). Se isso acontecer, não vejo como evitaremos uma guerra imediata no Cáucaso, que logo poderá alastrar à Polónia, República Checa, Ucrânia, ex-Jugoslávia, etc.

Os países falidos do "Ocidente" -- sobretudo os Estados Unidos da América (4) e o Reino Unido -- querem a guerra, como aliás quiseram em 1939 e em 1914. Não têm, julgam eles, nada a perder. E se ganharem, deixarão de pagar o que devem, imaginam. Sucede, porém, neste caso, que os seus maiores credores são... o Japão e a China! Ou seja, não bastará infernizar a Europa e a Rússia. Teriam que ir mais longe. É por isso que nunca terão sucesso na sinistra matança imperial que, uma vez mais, querem impor a milhões de pessoas de todo o planeta.

O ponto da nova guerra é o mesmo das duas grandes guerras que dizimaram dezenas de milhões de pessoas no século 20: controlar e explorar despudoradamente o recurso primário da modernidade: o petróleo (5). Só que desta vez a coisa é bem pior, pois trata-se de uma guerra por um recurso em vias de extinção económica. Por mais voltas que dê, não vejo como vamos sair inteiros deste covil de cascáveis.

Na eventualidade do desastre iminente conduzir a uma guerra na Europa, e portanto ao colapso imediato da União Europeia, haverá que reforçar de imediato algumas definições políticas essenciais à independência e sobrevivência do nosso país:
  1. A definição de soberania nacional (incluindo a reversão de alguns instrumentos perdidos);
  2. A definição de autoridade do Estado (incluindo uma revisão constitucional que reforce drasticamente os poderes do Presidente da República);
  3. A definição de sectores estratégicos da economia (com reversão da posse dos mesmos a favor do interesse comum);
  4. A definição do poder local (com reforço extraordinário das respectivas competências)
  5. A definição de serviço público imperativo e prioritário (com a delimitação clara daquilo que só à governação pública democrática compete realizar, libertando para a sociedade civil tudo o que não seja essencial.)
O objectivo imediato dos Estados Unidos, de Israel e do Reino Unido, é anestesiar militarmente a Rússia, actual braço armado da China (6). Mas a China é, em última instância, o alvo estratégico dos actuais senhores do mundo. O cenário é demencial e apocalíptico. Mas não irreversível. Temo, porém, que a Europa possa vir a ser uma vez mais sacrificada neste ritual macabro da avareza, ira e luxúria assassinas.


NOTAS
  1. A Ucrânia, a Polónia, a República Checa, a Geórgia, a Moldávia e o Azerbeijão não passam actualmente de estados fantoche ao serviço da estratégia imperial dos EUA, que tem no Reino Unido e em Israel os seus maiores aliados. As viagens desta semana, de Cheney à Geórgia, e de Condoleezza Rice a Lisboa, inspiram as maiores preocupações aos defensores da paz europeia e mundial. Os Açores não se devem prestar, de novo, para o desencadear de uma guerra, que será criminosa e cujo único fito é permitir a estratégia de domínio mundial, a partir dum controlo sanguinário da Eurásia, por parte do complexo industrial-militar americano e das famílias do petróleo que nele mandam. Leia-se, a propósito dos meandros desta crise, este artigo de Michel Chossudovsky:
    The Eurasian Corridor: Pipeline Geopolitics and the New Cold War, by Michel Chossudovsky

    Washington's objective is ultimately to weaken and destabilize Russia's pipeline network --including the Friendship Pipeline and the Baltic Pipeline System (BPS)-- and its various corridor links into the Western Europe energy market. -- in Global Research.

  2. Leia-se este depoimento do antigo embaixador britânico no Uzbequistão (extracto):
    Hypocrite Miliband And The Myth Of Western Moral Superiority

    David Miliband was making great show today of fulminating in Kiev against Russian disregard of international law. Yet simultaneously he is continuing the sorry British record of participation in war crimes and contravention of the UN Convention Against Torture, Article IV of which covers "complicity" in torture. Both of these are serious breaches of international law.

    Binyam Mohamed is a British resident who was the victim of illegal rendition and hideous torture in several countries.

    Miliband has declined to release further evidence about the case on grounds of national security, arguing that disclosure would harm Britain's intelligence relationship with the US (Guardian).

    Mohamed faces a "Trial" by military tribunal in Guantanamo Bay. Judges, defence and prosecution lawyers are all members of the US military. Neither Mohamed not his defence lawyers will be allowed to see much of the evidence against him. This includes evidence of participation in his torture by British security services, and details of where he was being held and interrogated over two years (Uzbekistan? Afghanistan? Poland? Diego Garcia? - Miliband is keeping it secret). By the symmetry of evil, UK evidence is being witheld on grounds it could damage security cooperation with the US, while US evidence is being witheld on the grounds it could damage security cooperation with the UK. This farce is sickening.

    It was, of course, the excuse that security cooperation with Saudi Arabia would be damaged that led to the dropping of the prosecution of the vile corrupt executives at BAE. The operations of the security services are, beyond any shade of argument, above the law both sides of the Atlantic.

    When I threw over my diplomatic career to expose the hideous UK/CIA complicity with torture in Uzbekistan, I genuinely believed that my personal sacrifice would form part of a movement which would end this abomination being carried out in our names. In fact, the Bush/Blair acolytes have pushed further to the point that poor Binyan Mohamed faces a fate that would have been beyond the pen of Kafka.

    Never mind, let's divert the public by pointing at those evil Russians! -- in Craig Murray website.
  3. Missile Defense: Washington and Poland just moved the World closer to War, by F. William Engdahl

    The signing on August 14 of an agreement between the governments of the United States and Poland to deploy on Polish soil US ‘interceptor missiles’ is the most dangerous move towards nuclear war the world has seen since the 1962 Cuba Missile crisis. Far from a defensive move to protect European NATO states from a Russian nuclear attack, as military strategists have pointed out, the US missiles in Poland pose a total existential threat to the future existence of the Russian nation. The Russian Government has repeatedly warned of this since US plans were first unveiled in early 2007. Now, despite repeated diplomatic attempts by Russia to come to an agreement with Washington, the Bush Administration, in the wake of a humiliating US defeat in Georgia, has pressured the Government of Poland to finally sign the pact. The consequences could be unthinkable for Europe and the planet.

    ... Any illusions that a Democratic Obama Presidency would mean a rollback of such provocative NATO and US military moves of recent years should be dismissed as dangerous wishful thinking. Obama’s foreign policy team in addition to father Zbigniew Brzezinski, includes Brzezinski’s son, Ian Brzezinski, current US Deputy Assistant Secretary of Defense for European and NATO Affairs. Ian Brzezinski is a devout backer of US missile defense policy, as well as Kosovo independence and NATO expansion into Ukraine and Georgia. -- in Global Research.
  4. The Great Consumer Crash of 2009, by James Quinn

    August 19, 2008. After examining these charts it is clear to me that the tremendous prosperity that began during the Reagan years of the early 1980’s has been a false prosperity built upon easy credit. Household debt reached $13.8 trillion in 2007, with $10.5 trillion of that mortgage debt. The leading edge of the baby boomers turned 30 years of age in the late 1970’s, just as the usage of debt began to accelerate. Debt took off like a rocket ship after 9/11 with the President urging Americans to spend and Alan Greenspan lowering interest rates to 1%. Only in the bizzaro world of America in the last 7 years, while in the midst of 2 foreign wars, would a President urge his citizens to show their patriotism by buying cars and TVs. When did our priorities become so warped?

    (...) We have outsourced our savings to the emerging economies, along with our manufacturing jobs. The Chinese are saving the money we’ve paid them for flat screen TVs and the Middle Eastern countries are saving the money we’ve paid them for oil. You need savings in order to increase investment. The emerging markets are making the vast majority of the investments in the world. While the U.S. endlessly debates drilling and construction of nuclear plants (none built in U.S. since 1987) and oil refineries (none built in U.S. since 1977), China brought four oil refineries online in 2008 and plans to build 30 nuclear reactors in the next twelve years. The Asian Century has begun, but the U.S. has tried to keep up by using debt. It will not work. If anything, this has accelerated the shift of power to Asia.

    (...) The pseudo-wealth that has been created in the last seven years has begun to unwind, but will increase in speed in 2009. You only know how you’ve lived your life over the last seven years. Your neighbor who has been getting their house upgraded, sending their kids to private school, driving a BMW, and taking exotic vacations may have been living the high life on debt. As usual, Warren Buffet’s wisdom comes in handy.

    Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked.

    The tide is on its way out, and the naked swimmers are numbered in the millions. Mohamed El-Erian, the number two man at PIMCO, fears a negative feedback loop consuming the country. I believe we have begun the negative feedback loop and it is starting to accelerate.

    (...) Consumers have dramatically increased the use of credit cards, now that the housing ATM has run out of cash. The average American household has credit card debt of $9,840 versus $2,966 in 1990, at an average interest rate of 19%. Credit card delinquencies have increased to 4.51% in the 1st quarter. Amex just announced a major unexpected write-off because its prime customers have hit the wall and are defaulting. Consumers used their credit and debit cards to buy $51 billion of fast food in 2006 according to Carddata. According to the Federal Reserve, 40% of American families spend more than they earn.

    (...) Government unemployment figures have begun to skyrocket, while the true unadjusted unemployment figures point to a major recession. If the number of people who have given up looking for a job were included, the official 5.7% unemployment rate would jump to 14%. People without jobs can’t spend money or make mortgage payments. With the deep recession that I anticipate, the official figures will reach 7%. This will result in lower consumption. -- Prudent Bear.
  5. Sobre este tema recomendo o extraordinário seminário de Chris Martenson, e ainda o esclarecedor vídeo sobre a perturbação que o crescimento fulgurante e a voracidade energética da China vieram colocar à supremacia egoísta da imperial América. O vídeo foi realizado numa perspectiva ocidental, mas ainda assim, diz tudo!

  6. China vs the US - The Battle For Oil

    China's sky-rocketing growth and shortage of sufficient resources is forcing China to set its sights outside its borders in a frantic search for oil, but the major oil-producing countries are kept off-limits by the United States, forcing China to do business with the rogue states, African dictatorships, Iran and former Russian states - to get the oil they desperately need. Featuring field encounters, archival footage, news reports and maps to outline the latest threat in world geopolitics. -- in Critical Docs.
  7. O crescimento e a progressiva autonomia tecnológica da China, bem como a sua actual riqueza em ouro (comprado a quem dele se desfez, nomeadamente para pagar dívidas de Estado), divisas e créditos internacionais, são assustadores do ponto de vista da Europa-América -- claro! Há porém um ponto frágil na actual trajectória ascendente do Império do Meio: a China depende cada vez mais criticamente, tal como dependeram e dependem a Europa e os EUA, do acesso livre ao petróleo e outras matérias primas que não já não dispõe em quantidade suficientes. Como a principal matéria energética do mundo moderno -- o petróleo -- não chega para as encomendas, as grandes potências assemelham-se cada vez mais a uma manada de elefantes dentro de uma loja de antiguidades! Eis dois exemplos chegados ontem e hoje à minha caixa de correio sobre o tipo de acções chinesas que preocupam cada vez mais a Europa e os Estados Unidos:
    China desenvolve o combóio mais rápido do mundo, entre Pequim e Xangai

    PEQUIM (AFP) - A China pretende desenvolver, com tecnologia própria, o trem mais rápido do mundo, com velocidade máxima de 380 km/h, na linha que será criada entre Pequim e Xangai, noticiou o jornal China Daily. -- in China Daily (versão original).

    Iraq approves $3b oil deal with China

    BAGHDAD - Iraq on Tuesday cleared a plan to develop an oil field by China National Petroleum Corp. (CNPC) at a service fee of US$6 a barrel.

    Iraqi Oil Minister Hussein al-Shahristani said the cabinet had approved the three-billion-dollar deal that will see China's State-owned company developing the Al-Ahdab oil field in the central Shiite province of Wasit. -- in China Daily.

OAM 426 03-09-2008 20:21 (última actualização 15:44)

quinta-feira, agosto 07, 2008

Horror nuclear

Hiroshima foi há 63 anos

Enquanto o criminoso de guerra G. W. Bush palestra sobre direitos humanos na antiga Burma e na China, promovendo através dos seus serviços secretos toda a espécie de incidentes para estragar os Jogos Olímpicos de Pequim, há uma realidade americana que só quem não quer ver pode ignorar: os Estados Unidos da América continuam a assassinar civis inocentes no Iraque e no Afeganistão, ao mesmo tempo que patrocina o terror na Palestina, usando precisamente a mesma técnica impessoal e longínqua da guerra industrial moderna: o bombardeamento aéreo.

Bush e a fracassada Europa andam muito preocupados com a possibilidade (sim a mera possibilidade!) de o Irão vir a construir uma (sim, uma!) bomba nuclear, ao mesmo tempo que o complexo militar americano, tal como o russo e o inglês, continuam a criar e aperfeiçoar novos engenhos balísticos e nucleares, em contravenção dos tratados assinados sobre o desmantelamento dos arsenais nucleares. Ao mesmo tempo, aliás, que vai anunciando a possibilidade de desencadear -- directamente ou por interposto aliado israelita -- um ataque contra o Irão, usando, precisamente, armamento nuclear, dizem, de precisão!

A China continua a ser uma ditadura, mas caminha paulatinamente para um Estado de direito. Os Estados Unidos da América são uma democracia falida e decadente, tem a maior população prisional do mundo, criou um campo de concentração onde humilha e mal-trata pessoas raptadas criminosamente em várias partes do planeta, tem campos militarizados de correcção destinados a crianças que são verdadeiros sistemas de tortura psicológica e condicionamento de personalidade, em suma, caminha para a ditadura. Mas como usa a palavra mágica "terrorismo" antes de cometer os crimes, a Europa finge desconhecer a gravidade da situação. Foi assim também com a Alemanha de Hitler. Não esquecer o passado é a melhor forma de perceber o presente e prevenir o que de mau o futuro nos possa reservar.

A tragédia de Hiroshima, que para muitos intelectuais, como Adorno ou Adolfo Casais Monteiro, marca o fim da utopia moderna, pode repetir-se! Cabe à humanidade no seu conjunto despertar para esta terrível hipótese, e impedi-la.

OAM 406 07-08-2008 12:26

Defesa brasileira

Brasil deve criar um "escudo de defesa"

7-08-2008. Rio de Janeiro, 07 Ago (Lusa) - O ministro dos Assuntos Estratégicos da Presidência do Brasil, Roberto Mangabeira Unger, defendeu quarta-feira que o país deve fortalecer as suas forças armadas e criar "um escudo de defesa" para enfrentar as ameaças internacionais e defender a sua soberania. -- RTP/Lusa.

COMENTÁRIO

Tal como o Brasil, Portugal deveria criar um ministério do futuro, com a missão de estudar e prever os cenários mais prováveis deste século. A nova importância estratégica do Atlântico está a causar movimentos e decisões rápidas dos principais protagonistas da zona, respondendo nomeadamente ao avanço estratégico da China nestas paragens. Para já, a Europa continua a dormir, embora Portugal parece ter acordado para o problema este Verão, a pretexto do sobressalto constitucional provocado pela revisão do estatuto autonómico dos Açores.

Até à queda do muro de Berlim e até à falhada tentativa americana de controlar a Rússia, a estratégia do mundo jogava-se sobretudo no Atlântico Norte, o qual, segundo a doutrina Brzezinski, deveria estender-se pela Eurásia fora. No entanto, a crise mundial de recursos energéticos, de matérias-primas e alimentar, no quadro do crescimento a dois dígitos dos BRIC, fez emergir um novo epicentro para as disputas globais: o Atlântico, da Passagem do Noroeste ao Estreito de Magalhães, com especial enfoque, para já, na banda entre o Golfo da Guiné e Cabinda e a costa brasileira.

Sobre este mesmo tema, leia os meus artigos (1, 2) sobre a questão açoriana, que tirou o sono a Cavaco Silva.

OAM 405 07-08-2008 10:45

sábado, julho 19, 2008

Portugal 35

Portugal, a Europa, a CPLP e o porta-aviões açoriano

Ocorra o que ocorrer, teremos que nos acomodar ao New Chinese Century


Há dois factos que não me saem da cabeça: um são os mapas de acessos a este blogue, invariavelmente distribuídos, ao longo dos últimos quatro anos, entre Portugal e o Brasil, verificando-se uma ainda fraca sensibilidade das antigas colónias portuguesas africanas a qualquer referência aqui feita; o outro é a facilidade com que ucranianos, russos e moldavos aprendem a língua portuguesa, ao ponto de em dois ou três anos falarem o nosso idioma melhor que muitos de nós e sem pronúncias estranhas, uma proeza difícil de alcançar pelos vizinhos espanhóis! Mas o facto de o Sitemeter raramente assinalar acessos de Espanha ao António Maria, ou então registar quotas na ordem dos 1%-2%, em grande medida da responsabilidade da minha filha, que vive em Madrid, deixa-me estarrecido!

Estes dois factos algo insólitos fizeram entretanto faísca depois de ler duas crónicas do Expresso desta semana.

Numa delas, Luísa Meireles chama a atenção para a atracção que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), exerce, não apenas e naturalmente sobre a Galiza, que é hoje uma comunidade autónoma da Espanha (e amanhã, quem sabe, um novo estado europeu independente), mas ainda sobre países que nem sequer falam o idioma de Pessoa: Marrocos, Ilhas Maurício, Guiné Equatorial, Ucrânia e Croácia! Por outro lado, a expansão do português brasileiro na América do Sul é crescente, especialmente no Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e Venezuela.

Na segunda crónica, assinada pelo pró-Yank Miguel Monjardino, transmite-se um recado: os americanos têm pressa na renovação do Acordo das Lajes, para lá colocar os F-22 Raptor e dar apoio firme à sua nova força de intervenção estratégica na África Ocidental, baptizada de Africom. Africom ou África Dot Com?

Para pressionar um bocadinho mais José Sócrates, o dito açoriano acrítico lá vai sugerindo que o socialista Carlos César, actual governador do arquipélago, também tem pressa e quer oferecer (ilusórias) boas-novas eleitorais em Outubro. Em suma, tudo muito bem engendrado e muito conveniente para todas as partes menos uma: Portugal!

O pensamento europeu mais lúcido defende há muito uma rápida diminuição da dependência estratégica europeia face aos Estados Unidos, e uma maior atenção ao potencial protagonismo da União Europeia como força de interposição estratégica global e veículo democrático de harmonização diplomática à escala mundial. Os Estados Unidos são claramente um império em declínio. E como todos os impérios declinantes, sofre a tentação do disparate bélico sem limites, desconhecendo que tais aventuras apenas apressam o indesejado declive.

Os sucessivos fiascos das guerras, invasões e ocupações do Afeganistão e do Iraque são a este título bem ilustrativos. Bush -- sobre quem o congressista democrata Dennis Kucinich desencadeou um processo de cassação de mandato (1) -- não ganhou nenhuma das guerras, levou o seu país à falência e está neste preciso momento a recuar atabalhoadamente do Médio Oriente, deixando a imprensa americana que o apoiou sem palavras. No fundo, a decisão vem de baixo, isto é, das empresas privadas a quem o clã Bush e o coiote Cheney encomendaram a guerra, em regime de bloody catering. Estas empresas privadas, que formam o vasto e complexo conglomerado bélico americano, aperceberam-se que o tsunami financeiro em curso se abaterá sobre elas sem piedade se não largarem o osso quanto antes. É o que estão a fazer! Daí as inesperadas e surpreendentes declarações do presidente americano. O maior fiasco americano desde a Guerra do Vietname chegou ao fim. Alguém que pague a factura! Estamos a pagar!!

As vantagens entretanto ganhas por países como a China, a Rússia e o Irão, ao oporem-se à tentativa americana de manter a todo o custo uma supremacia económica apoiada na sua evidente supremacia militar, são mais do que evidentes. O potencial produtivo do Ocidente, sobretudo o americano, emigrou para o Oriente. Depois emigraram o ouro e boa parte da liquidez mundial. Como se isso não bastasse, a China criou em 2001 uma resposta credível (cada vez mais credível) à NATO, chamada Shanghai Cooperation Organization (CSO), da qual fazem parte a China, a Rússia, o Casaquistão, o Quirguistão, o Tajaquistão e o Usbequistão. Entre os países observadores contam-se, o Irão, o Paquistão, a Índia e a Mongólia. E são ainda convidados a Commoenwealth of Independent States (CIS), a Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) e o Afeganistão. Ou seja, nada mais nada menos do que a metade oriental do mundo, a que falta tão só aderir o Japão, compreensivelmente receoso dos efeitos que a supremacia estratégica da China terá sobre os seus próprios graus de liberdade.

Os estados petrolíferos do Médio Oriente beneficiam obviamente do crescente e subtil protagonismo do chinês adormecido que agora desperta como obstáculo intransponível para quem, como americanos e ingleses, usufruiu de uma clara hegemonia nos direitos de acesso e exploração do petróleo ao longo de todo o século 20, e aparentemente persiste na ideia de prolongar, apesar de falido, os seus hábitos e arrogância imperiais.

A China e a Rússia (que a Europa dominada pelos piratas londrinos tão mal tratou desde a queda do Muro de Berlim) têm hoje dinheiro suficiente para comprar um novo Tratado de Tordesilhas, baseado numa neutralidade mutuamente assegurada aos principais países produtores de petróleo e na determinação dos meridianos que voltarão a dividir o planeta em duas grandes zonas económicas e culturais política e militarmente protegidas.

A alternativa credível a este cenário teria sido uma confrontação militar preventiva com carácter devastador. Foi essa a intuição dos trotskystas degenerados que teorizaram a aventura fracassada do chamado New American Century. O preço a pagar por tamanha ousadia foi o colapso financeiro do Ocidente (e do Japão) a que estamos assistindo incrédulos e assustados.

O previsto ataque israelita ao Irão (que Condoleeza Rice provavelmente meteu na gaveta, a conselho de algum sábio) não mudaria nada, a não ser acelerar vertiginosamente a queda do Império Capitalista do Ocidente. Ocorra o que ocorrer, teremos que nos acomodar ao New Chinese Century.

Nesta circunstância cada vez mais óbvia não faz nenhum sentido continuar a alimentar os sonhos de grandeza da América! Europeus e americanos terão que se acomodar e colaborar na gestão inteligente e humilde do seu "novo" mundo -- começando por regressar aos bons hábitos do trabalho, responsabilidade e ética.

Apesar de Barak Obama poder vir a ser o primeiro presidente mestiço dos Estados Unidos da América, a verdade é que as ligações privilegiadas com África tem-nas sobretudo a Europa, e em particular este cantinho à beira-mar plantado chamado Portugal. O Atlântico do nosso imediato futuro não pode ser transformado numa nova presa apetecível dos Estados Unidos. É esta a mensagem que um pequeno país, na sua missão de honest broker, deve transmitir. Não foi isto mesmo que Marrocos ou a Ucrânia entenderam ao ler os astros? O Mare Nostrum Atlântico terá que ser forçosamente um lugar de cooperação e contrapeso à Nova Ásia, onde a América (toda a América!), a Europa, de Lisboa aos Urais (se não até Vladivostoque) e a África, do Mediterrâneo até à Cidade do Cabo, possam estabelecer um lugar de partilha e não mais um teatro de rapina e humilhação. Chega de vampirismo!

É por tudo isto, que Portugal deverá dizer claramente a Washington que é à Europa que compete, em primeira linha, usar o potencial estratégico dos Açores, nomeadamente no enquadramento duma NATO renovada e menos agressiva. Havendo, porém, nove ilhas (todas com aeroporto ;-) não faltarão oportunidades para renegociar de forma ponderada a presença americana nas Lajes. Até porque um dia talvez faça sentido convidar o Brasil, Angola e a Rússia a disporem de facilidades logísticas em tão estratégico porta-aviões. Então, quando esse dia chegar, será uma verdadeira lotaria para o governador de turno de tão belo e aprazível arquipélago.


ÚLTIMA HORA
Equador notifica EUA para deixar Base Militar de Manta até Novembro

Quito, 30 Jul (Lusa) - O governo do Equador notificou oficialmente os Estados Unidos de que devem desalojar a Base Militar de Manta até Novembro, revelou terça-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Quito. -- MF./Lusa.
Iraque: Primeiro-ministro defende retirada militar norte-americana em 16 meses

Berlim, Sábado, 19 de Julho de 2008 23H58m (RTP/Lusa) - O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, afirmou a um jornal alemão que apoia o plano do candidato democrata Barack Obama para a retirada militar norte-americana em 16 meses.

"Julgamos que é um calendário acertado para a retirada das tropas de combate norte-americanas do Iraque, sob reserva de algumas mudanças", afirma Maliki em entrevista ao semanário Der Spiegel, cuja edição estará segunda-feira nas bancas.

As forças norte-americanas deverão deixar o Iraque "tão rápido quanto possível", acrescentou Maliki

Colômbia adere a Conselho de Defesa Sul-americano


BBC Brasil. 19 de julho, 2008 - 21h34 GMT (18h34 Brasília)

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, disse neste sábado, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aceita ingressar no Conselho de Defesa Sul-americano.
Uribe disse que suas "dúvidas" foram esclarecidas após o encontro com Lula e um telefonema à presidente chilena, Michele Bachelet, que atualmente preside a União de Nações Sul-americana (Unasul).

Ultimatum de Washington ao Irão

WASHINGTON (Reuters) - Depois das conversas inconclusivas com o Irã, os Estados Unidos disseram no sábado que Teerã terá de escolher entre cooperação ou conflito. Washington acrescentou que as negociações só poderão começar se parte significativa do trabalho nuclear iraniano for suspenso. -- UOL, 19-07-2008 17:14




NOTAS
  1. US Congressional Panel Hears Testimony on Case for Bush Impeachment

    25-07-2008. A congressional committee has heard testimony about the case for impeachment of President Bush. VOA's Dan Robinson reports, while majority Democrats have ruled out formal impeachment efforts, they approved the public hearing to examine limitations on presidential powers and arguments about what constitute impeachable offenses.

    Critics say President Bush and Vice President Cheney should be impeached because of a range of alleged legal and constitutional abuses.

    The list includes administration justifications to Congress and Americans for the war in Iraq, authorization of secret electronic surveillance, approval of harsh interrogation techniques, and defiance of congressional subpoenas. -- Voice of America.

OAM 396 19-07-2008 19:27 (última actualização: 30-07-2008 11:53)

sexta-feira, abril 11, 2008

China 3

For Those Who Love Tibet!

A perseguição histérica da tocha olímpica por parte de alguns hipócritas ofendidos com a repressão de estado chinesa contra separatistas tibetanos violentos, a que temos assistido diariamente nos noticiários televisivos, é bem o exemplo de duas coisas: a hipersensibilidade urbana face ao espectáculo mediático da morte, e a facilidade com que os conglomerados globais da informação manipulam e estimulam movimentos de opinião ideologicamente bem intencionados, mas invariavelmente desinformados. No caso, escasseiam os protestos contra a transformação da Palestina num campo de extermínio programado pela mão assassina do Sionismo internacional, mas sobra a ira hipócrita de quem não percebe que o incidente tibetano às portas dos Jogos Olímpicos apenas reflecte o icebergue da longa e complexa manobra divisionista estratégica levada a cabo pelos Estados Unidos no sentido de balcanizar a China, tal como o fizeram no passado, continuam a fazê-lo na antiga Jugoslávia (e na Europa em geral!), e pretendem repetir, sem a menor vergonha, na nova e orgulhosa República Popular da China. Mas como nem a contínua desvalorização do dólar impede o agravamento imparável do défice comercial americano, o mais provável é que a dita não surta os efeitos esperados e se volte contra os seus progenitores e padrinhos.

O anúncio publicado no México pela Absolut Vodka -- um mapa da América onde as regiões roubadas ao território da antiga colónia espanhola, na sequência da Guerra Hispano-Americana, regressam à pátria -- é seguramente uma boa ilustração da hipocrisia americana e anglo-saxónica em geral. O Tibete nunca foi independente e acolhe-se à protecção da China como região autónoma há muitas centenas de anos. O Sul dos EUA, pelo contrário, foi militarmente sequestrado em 1898, ou seja, há precisamente 110 anos! Que tal devolvê-lo ao México?! E que tal, para variar, deixar a ilha de Cuba, por fim, em paz? Sabem, por acaso, quem esteve detrás dos movimentos independentistas da Madeira e dos Açores? E sabem, por acaso, quem ainda anda por lá a meter pausinhos na engrenagem? Adivinhem enquanto eu vou dar um passeio pela praia de Carcavelos!

PS: Os recentes ataques de Sarkozy à China, depois de esta ter comprado 160 Airbus há uns meses atrás, teve entretanto uma inesperada e sibilina resposta durante o leilão da imagem nua da primeira dama francesa. A famosa fotografia referida no post anterior foi rematada por 91 mil dólares por um desconhecido coleccionador... chinês.


TIBETE, TIBETE! -- A MONTAGEM DE UMA CRISE

15-04-2008. BEIJING - Perhaps the Dalai Lama, king-god of Tibet, head of Lamaist Buddhism and icon of the present anti-Chinese protests, could have something to learn from Italy. Italy is the only country to have faced a problem similar to that of China with the Dalai Lama: of the occupation of a territory previously governed by a religious monarch. In the case of Italy, it was the pope, in the case of China, it is the Dalai Lama. --
Italian lesson for the Dalai Lama, By Francesco Sisci in Asia Times.

13-04-2008 13:46. Um milhão cento e noventa sete mil quatrocentos e sessenta nove mortos depois da invasão ilegal e assassina do Iraque por uma aliança militar liderada pelos Estados Unidos, e mais de três mil civis mortos depois da guerra e ocupação NATO do Afeganistão, assistimos impávidos e serenos a uma intolerável manobra de boicote dos Jogos Olímpicos por causa da repressão chinesa sobre uma acção de guerrilha urbana desencadeada por movimentos separatistas tibetanos, com o apoio camuflado e hipócrita dum tão sorridente quanto patético Dalai Lama. A verdade é que americanos, britânicos (e agora também o garnizé gaulês e a atarantada chanceler alemã) resolveram aproveitar a oportunidade mediática dos Jogos Olímpicos para desencadear uma imensa e complexa manobra de desestabilização da China, visando potenciar a sua "balcanização" e, em última análise, comprometer ou pelo menos atrasar o ritmo de crescimento da emergente potência económica mundial. Os Estados Unidos, a Europa e porventura o Japão (os famosos G7) estão à beira do colapso financeiro, sem capacidade de resposta industrial à altura da China e da India, perdendo dia a dia o controlo que há um século exercem sobre os principais recursos energéticos, minerais e alimentares mundiais, e sem qualquer autoridade moral para pretenderem continuar a dar ordens ao resto do mundo.

O trabalho barato, os recursos naturais, o ouro e o dinheiro fugiram ao controlo do G7, e este é o verdadeiro motivo para a provocação em larga escala montada contra a China, depois do que fizeram contra a Rússia. Estamos à beira de uma guerra mundial? E a espoleta da mesma chama-se Irão? Talvez não. Os Estados Unidos e a Europa, na realidade, mal podem com uma gata pelo rabo! Precisam ambos, isso sim, de ganhar tempo. Já perceberam que o Irão é a chave do Médio Oriente e que, portanto, haverá que contar com a sua força e sabedoria. O problema agora é outro e chama-se China! A provocação em volta dos Jogos Olímpicos é o primeiro sinal de histeria e grande incomodidade ocidental que aí vem. Saberemos lidar com a nova China, que acorda de um sono profundo de 600 anos, recorrendo às lições da História, ou vamos cair nas contradições grosseiras da sinofoba americana Nancy Pelosi?

"Pelosi, a California Democrat, was elected to the House of Representatives in 1987. Four years after the election, massive ethnic clashes broke out in Los Angeles and some other cities in California. At that time, the Federal and state governments moved in 10,000 security forces from the National Guard, the army and the navy to restore order. Thousands of people were arrested. However, She turned a blind eye to the violence in a state where she came from, without moving any motion on the Los Angeles riots. Where was her "moral authority"? -- China View, On hypocrisy of Pelosi's double standards.

Facts and Figures of Tibetan development.

10-04-2008 14:52. "O Parlamento Europeu defendeu hoje que a UE deve encontrar uma posição comum sobre a participação dos Chefes de Estado e de Governo e do Alto Representante da UE na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, prevendo a possibilidade de estes não participarem no caso de não ser reatado o diálogo entre as autoridades chinesas e o Dalai Lama. Na resolução comum aprovada em plenário, os eurodeputados apelam ainda ao Conselho para que nomeie um enviado especial para as questões tibetanas."

... "O Parlamento Europeu "louva o facto de Sua Santidade o Dalai Lama ter apelado ao povo tibetano para protestar de forma não violenta e rejeitado apelos à independência do Tibete", tendo, em vez disso, proposto uma "via intermédia de genuína autonomia cultural e política e de liberdade religiosa". Na resolução, o Parlamento reafirma também "o seu apego à integridade territorial da China"." -- Serviço de Imprensa do Parlamento Europeu.

10-04-2008 01:58:44. ... "Jiang also reiterated that the central government is ready to continue contacts and talks with the Dalai Lama on the condition that he sincerely renounces "Tibet independence" position and stops activities of splitting China, especially the inciting of violent crimes in Tibet and other places and the disruption of Beijing Olympics." -- European Parliament resolution "rudely" interferes into China's internal affairs, China View.

28-03-2008. The unravelling British campaign to break up China, as an opening shot in a Eurasian war, pitting Europe and the United States against China, India, and Russia, poses a grave danger--particularly as the Bush Administration, leading Congressional Democrats like Speaker of the House Nancy Pelosi (D-Calif.), and most European governments, fall in, lock-step, behind the British schemes, out of ignorance or worse. -- British Launch 'Great Eurasian War' Drive, by Jeffrey Steinberg.

OAM 344 11-04-2008, 17:46 (última actualização: 15-04-2008 12:47)

sábado, dezembro 01, 2007

America

O re-despertar de uma nação



The Select Committee on Energy Independence and Global Warming holds a hearing, "Youth Leadership on Climate Change." The hearing coincides with Power Shift 2007. Katelyn McCormick of Students Promoting Environmental Students gives opening testimony.

Enquanto os imbecis da nomenclatura política portuguesa (todos os partidos com assento parlamentar e os seus órgãos de propaganda desmiolada ou cínica) se entretêm com invariáveis e ridículos jogos retóricos em volta do pedaço que abocanham à mesa do orçamento, desviando a nossa atenção do que é decisivo, para focar a nossa curiosidade no que é acessório e anestésico, falando sempre do alto da sua ignorância, preguiça e estupidez, eis um contraponto notável de imaginação, vontade e estratégia.

O vigor da democracia americana continua a impressionar-me, apesar de todos os assassinos.

OAM 285 01-12-2007, 00:40