Devagarinho, devagarinho, mas lá vão acordando para a dura realidade!
João Salgueiro, Daniel Bessa e Passos Coelho apontam défice externo como problema estrutural do país
...Sobre o défice externo português, o ex-ministro das Finanças Daniel Bessa afirmou: "Não podemos sobreviver com o desequilíbrio da balança de pagamentos que temos." "Estamos a endividar-nos todos os anos entre oito e dez por cento. Endividar-nos não me parece que seja uma grande estratégia. Como é que se resolve? Ou importando menos ou exportando mais", prosseguiu.
Segundo o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, João Salgueiro, Portugal deveria "reduzir as importações no equivalente a cerca de dez por cento do produto nacional" ou "aumentar as exportações no equivalente a cerca de vinte por cento do produto nacional."
A seguir, o ex-ministro da Economia Daniel Bessa sustentou que "resolver o problema estrutural do país é abordar o problema do défice externo." -- in Diário Económico, 10-12-2008.
Releia-se o que aqui se escrevia no dia 1 de Novembro passado e... no dia 30 de Outubro de 2005:
Em duzentas e três economias consideradas no World Factbook da CIA, Portugal tinha, em 2007, a 20ª maior dívida externa do mundo (200% do nosso PIB!), acima, em valor absoluto, de países como a China, a Rússia, o Brasil, a Argentina ou os Emiratos Árabes Unidos. Acresce ainda que a dívida pública, i.e. a dívida do Estado (juros incluídos) já chegou aos 64% do PIB, enquanto a balança de transacções correntes é também deficitária em cerca de 10% do Produto Interno Bruto. Ou seja, no momento em que ocorre o maior eclipse de liquidez monetária de que há memória, anunciando em todo o seu dramatismo o início de um colapso financeiro e uma depressão prolongada nas principais economias ocidentais, a banca portuguesa está virtualmente falida e sem credibilidade suficiente para contrair os vultuosos empréstimos de que necessita para sobreviver e ajudar a financiar o pântano deficitário em que todos nos estamos afundando -- públicos e privados. Pior não podia ser! -- OAM, 1-11-2008.
Se as obras de terraplanagem algum dia vierem a ter início, de uma coisa deveremos desde já estar seguros: o dito Aeroporto Internacional da Ota jamais será concluído. Muito antes das datas previstas, nos cenários pró-Ota, para a sua inauguração --2017-2018--, Portugal ver-se-à na contingência de ter que redesenhar dramaticamente as suas prioridades de desenvolvimento (ou melhor dito, de sobrevivência). A brutal crise energética chegará muito mais cedo do que se prevê. E antes dela (ainda na vigência do actual governo) chegará também um mais do que provável "crash" imobiliário. -- OAM, 30-10-2005.
À excepção de Eugénio Rosa, Medina Carreira, Silva Lopes e Luís Campos e Cunha, a restante malta de económicas não tem feito outra coisa que não seja andar a reboque das evidências (e dos negócios), depois de ter teorizado alegremente sobre as vantagens da globalização, da desregulação dos mercados e da prepotência bancária. Estes economistas mercenários, mais a tropa desgraçada dos jornalistas que os segue, deveriam ser enviados rapidamente para um qualquer retiro de ética e economia — na Sibéria!
Post scriptum — Acabei de ver e ouvir mais uma das indispensáveis entrevistas realizadas por José Gomes Ferreira ao Prof. Medina Carreira, na SIC. Desta vez, o facto mais notável das suas intempestivas declarações reporta para a imperceptível controvérsia havida, indirectamente entre mim e alguns economistas, sobre o montante efectivo do nosso endividamento externo. Medina Carreira, após as declarações de João Salgueiro, Daniel Bessa e Passos Coelho, veio enfim explicar aos Portugueses que nós não devemos ao exterior 100% do PIB, mas mais de 200% do PIB!
Como tive oportunidade de esclarecer, n'OAM de 11 de Novembro último, os números são claramente estes:
Dívida Externa Bruta
2007 - $461.200.000.000 (CIA Factbook, 31 December 2007)
2008 - 335 136 000 000 euros (BdP, Março 2008)
2008 - 343 966 000 000 euros (BdP, Junho 2008)
PIB nominal
2007 - 163 082 900 000 euros
2008 - 168 356 400 000 euros (previsão do OE 2009)
Dívida Externa
2007 = PIB x 1,985
2008 = PIB x 2,043
O que conta para termos uma ideia ajuizada das nossas responsabilidades é assim a dívida bruta (o que realmente estamos a dever com juros acumulados) e não a dívida líquida (o que devemos menos o que nos devem). Um dos motivos técnicos avançados por Medina Carreira para esta revisão inesperada (confesso) dos critérios de medição da variável Dívida Externa (External Debt), finalmente em linha com os critérios internacionais, é a óbvia e cada vez mais acentuada diferença entre os spreads das taxas de juros aplicáveis aos diferentes países europeus, conforme a sua credibilidade e solvabilidade, cada vez mais deterioradas nos países do Sul (os chamados PIGS — Portugal, Italy, Greece, Spain), do que na maioria dos países a Norte.
OAM 491 10-12-2008 18:15 (última actualização: 11-12-2008 15:19)