quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Germanexit?

O buraco negro da Alemanha é o verdadeiro problema
(clique para ampliar)

A mentira alemã é o verdadeiro problema do euro


Afinal quem é que está endividado ate às raízes dos cabelos?

O Eurostat revela, em %/PIB, as dívidas escondidas dos governos europeus, de que as famosas PPP são o prato forte. Mostramos três pares de resultados que desmistificam completamente a narrativa dos lémures do Eurogrupo.

Dívida pública não reportada nos orçamentos de estado em % do PIB
  • Alemanha=126,26; Grécia=6,82
  • Holanda=107,15; Portugal: 51,79;
  • Reino Unido=60,88; Espanha=12,46.
—in Eurostat News Release, 26/2015 - 10 February 2015/ A new data collection for government finance statistics/ First time release of data on contingent liabilities and non-performing loans in EU Member States.

A maior dívida pública da Europa em % do PIB é alemã.

Somando as dívidas públicas dos países comparados neste post, ou seja, somando as estimativas da CIA relativas ao ano 2013, a que hoje acedemos no respetivo sítio, mais as divídas escondidas reveladas pelo Eurostat no passado dia 10 de fevereiro, ficamos a saber que, afinal, a dívida pública alemã, em percentagem do PIB (imaginem o montante!), é superior à dívida grega!

  • Alemanha 79,9 + 126,26 = 206,16
  • Grécia  175 + 6,83 = 181,83
  • Holanda 74,3 + 107,15 = 181,45
  • Portugal 127,8 + 51,79 = 179,59
  • UK  91,1 + 60,88 = 151,98
  • Espanha 93,7 + 12,46 = 106,16

Mas comparando as dívidas externas, de vários países, a Alemanha também não sai bem.


Vejamos o panorama em percentagem do PIB (Wikipédia)

  • Luxemburgo (um verdadeiro paraíso fiscal): 3.443%
  • Reino Unido: 406%
  • Portugal 223%
  • Grécia: 174%
  • Espanha: 167%
  • Alemanha: 145%

E agora em valores nominais (CIA)
  • Reino Unido (2ª maior dívida externa do mundo)
    $9.577 trillion (31 December 2013 est.)
  • Alemanha (3ª maior dívida externa do mundo)
    $5.717 trillion (31 December 2012 est.) 
  • Luxemburgo
    $2.935 trillion (31 December 2012 est.)  
  • Espanha
    $2.278 trillion (31 December 2012 est.) 
  • Grécia
    $577.2 billion (2012) 
  • Portugal
    $508.3 billion (31 December 2012 est.) 

Masaccio (1401 – 1428)
Adão e Eva Expulsos do Paraíso

Se a esta vergonha, que andou embrulhada em mentiras sobre os PIIGS (1), somarmos o grande buraco negro do Deutsche Bank (ver gráfico acima), teremos em toda a sua plenitude o embuste da retórica do senhor Schäuble a propósito da Grécia e a verdadeira natureza e gravidade do problema da dívida europeia.
Sideways: Deutsche strategy – Twilight of the bank
by Jon Macaskill

Is Deutsche Bank contemplating a secret Götterdämmerung trade that would hive off sections of its investment bank and offer senior executives an escape route?

The strategy of the bank is looking increasingly perplexing to outsiders, with a potential spin-off of German retail banking unit Postbank widely seen as a measure that might raise some money, but that would leave the group even more exposed to an investment bank that is heavily biased towards struggling areas of the fixed-income markets. The verdict of shareholders on the current Deutsche Bank business model is clear. Its shares fell by 24% last year and its capitalization of around €35 billion is roughly 0.6 of nominal book value, making Deutsche effectively the least-trusted big bank.

Full article
Visit Euromoney for additional distribution rights. For more articles like this, follow us @euromoney on Twitter.

Os alemães têm que baixar a bolinha ou... serão eles a ter que abandonar o euro. Aliás, faria todo o sentido termos uma moeda única competitiva!

O doente não é a Grécia, mas toda a Europa. Controlo de capitais, reintrodução de fronteiras e limitações de uso das caixas multibanco podem já estar prontas a entrar em ação em caso de Grexit.

Europe Will Implement Both Border and Capital Controls in the Coming Months
Zero Hedge. Submitted by Phoenix Capital Research on 02/18/2015 09:30 -0500

The European banking system as a whole is leveraged at over 26 to 1. That’s the ENTIRE European Banking system leveraged at near Lehman levels (Lehman was 30 to 1 when it collapsed).

To put this into perspective, with a leverage level of 26 to 1, you only need a 4% drop in asset prices to wipe out ALL capital. What are the odds that European bank assets have fallen 4% in value in the last two years?

Atualizado em 18/02/2015 22:21 WET

Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

terça-feira, fevereiro 17, 2015

Amendoins

Maria Luís Albuquerque, ministra das finanças
Foto: LUSA

500 milhões são 'peanuts'!


Assim, com amendoins destes, este governo não vai a parte alguma.


Ninguém explica que dos 78 mil milhões de euros emprestados pela Troika, 34 mil milhões são destinados aos juros. Poupar 500 milhões de euros é um pingo que se esfuma neste grande buraco negro.

Ninguém explica que Portugal pediu agora dinheiro mais barato para pagar empréstimos mais antigos com juros caros—foi só isso!

A Espanha, por exemplo, financiou-se em janeiro a 0,0%.

Se Portugal quer poupar —e precisa de poupar!— mais do que 500 milhões de euros, então terá que cumprir de uma vez por todas o Memorando da Troika (vejam só!), diminuindo as 'rendas excessivas' das 120 Parcerias Público Privadas (PPP), bem como eliminar ou reduzir drasticamente as taxas que encarecem criminosamente o preço da energia elétrica que consumimos.

Estas duas medidas estratégicas permitiriam poupanças todos anos, ao contrário do desconto de 500 milhões, que ocorre uma só vez.

Estes são dois dos custos que tornam a nossa dívida pública insustentável:

  • as 120 PPP custaram em 2014 dois mil milhões de euros ao Orçamento de Estado, e no final da brincadeira vão custar 70 a 80 mil milhões de euros, ou seja, 35% do PIB!
    —Só para termo de comparação: as indemnizações de guerra pagas pela França à Alemanha em 1870-72, as mais elevadas que se conhecem, custaram então 23% do PIB francês.
  • as taxas de energia (CIEG) custaram a todos nós, pessoas e empresas, em 2014, mais dois mil e seiscentos milhões de euros —valor bruto; o valor depois dos 'alisamentos' foi de 1.701.418.000€. Para termos um padrão de referência, a Ponte Vasco da Gama custou mil milhões.... Se este assalto não for parado, em dez anos teremos pago mais de vinte mil milhões de euros — só em taxas, sobretaxas e outros custos indiretos, fora o que pagamos pela energia que realmente consumimos. Ver a este propósiro o docuemnto da ERSE sobre os CIEG (pdf.)

Clique para ampliar

Em 2013, Portugal consumiu a mesma eletricidade que em 2006 (fonte - ERSE). Os CIEG em 2006 ascenderam a 500 milhões de euros. Em 2014, atingiram mais de 2600 milhões de euros. Ou seja, aumentaram mais de cinco vezez, apesar do consumo estagnado.

Contra factos não há argumentos. Aqui há “rendas excessivas”, e de que maneira. A Troika chamou a atenção do governo Passos Coelho para isto. Mas o governo fez orelhas moucas e preferiu aumentar impostos e perseguir os automobilistas (ver o caso escandaloso da Brisa).

Carlos Tavares, CEO da Peugeot/Citroen, disse que a eletricidade é em Portugal 40% mais cara do que em França. Em breve, se não pusermos os rendeiros na ordem, veremos as grandes fábricas voarem, uma a uma, daqui para fora.

Do que é que a Oposição está à espera para substituir o discurso dos "calimeros" por propostas claras e sensatas?

Bruxelas: Pagamento antecipado ao FMI poupa 500 milhões de euros a Portugal
Jornal de Negócios. 17 Fevereiro 2015, 15:20 por Lusa

Nos cálculos da Comissão Europeia, a decisão do Governo poupará centenas de milhões aos cofres públicos e ajudará à sustentabilidade da dívida pública.

Os ministros das Finanças da União Europeia (Ecofin) deram esta terça-feira o seu apoio político ao plano de Portugal de pagar antecipadamente parte do empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), após o aval do Eurogrupo na véspera.

"Da parte da Comissão, gostaria de saudar o pedido por parte das autoridades portuguesas de pagar antecipadamente alguns dos empréstimos do FMI. O reembolso antecipado irá resultar em poupanças líquidas de pagamentos de juros na ordem dos 500 milhões de euros e terá um impacto positivo na sustentabilidade da dívida portuguesa", observou o vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelo Euro, Valdis Dombrovskis, na conferência de imprensa realizada no final do Conselho Ecofin.

PS: Alguém pergunta: mas a decisão foi má? Não. Foi boa. Trocar dívida velha e cara por dívida nova e menos cara é sempre uma boa decisão. Sabe é a pouco e não pode servir para esconder a floresta.

NOTA AOS POLÍTICOS:
  1. O atual governo conservador inglês impôs a redução das rendas elétricas para 6%.
  2. O governo espanhol acabou com as rendas garantidas das eólicas e outras semelhantes deixando a EDP a ganir.
  3. Quando terminou em Itália a Operação Mãos Limpas todos os concursos de obras públicas foram suspensos; depois de retomados, os preços cairam 40%.
  4. Se não querem um Syriza no nosso país é melhor enviar para Évora umas boas duas dúzias de piratas e rever todos os contratos leoninos. As rendas no setor financeiro cairam a pique. A economia está em depressão. Os sinais de um novo colapso financeiro brotam como furúnculos infetados por todo o lado. Defender rendeiros e rendas garantidas é um erro político grave que vai sair muito caro a quem o cometer.
OAM/RR

Atualizado em 16/02/2015 16:21 WET

Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

A reforma oportunista do estado


Um ministro (Nuno Crato) não pode ser mais um oportunista.

Redução de funcionários e trabalhadores na FP é fogo de vista.

Que no entanto queimou os afetados!


Despedir não é reformar. Reformar é redesenhar de alto a baixo o sistema de ensino e aprendizagem, estabelecendo uma simbiose amigável e produtiva entre a iniciativa e autonomia dos cidadãos, novas tecnologias, redes sociais, voluntariado, envolvimento empresarial e uma nova classe de mestres (WiFi Tutors).

Mas para realizar, de facto, esta reforma, é necessário começar por implodir o Edifício da 5 de Outubro, e enviar a burocracia toda de férias durante um ano.

O estado tornou-se um empecilho devido à inércia dos seus recursos humanos e dirigentes, das dinastias burocráticas e sobretudo da corja partidária e dos sobrinhos da nomenclatura que infetam o sistema.

A areia que a esquerda ideologicamente falida lança para cima dos seus devotos apenas contribui para tornar a metamorfose mais dolorosa e atrasar o país no jogo das competências e na economia da atenção positiva que caracterizam os tempos pós-contemprâneos em que vivemos (1) .

Estado perdeu quase 10% dos funcionários em 3 anos
Jornal de Negócios. 16 Fevereiro 2015, 18:53 por Catarina Almeida Pereira

As administrações públicas perderam 9,8% do pessoal entre Dezembro de 2011 e o final do ano passado, com uma redução de 71 mil funcionários. Os dados oficiais revelados esta segunda-feira, 16 de Fevereiro, pela Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), mostram que os docentes e os assistentes operacionais foram as carreiras que mais contribuíram, em termos absolutos, para esta diminuição.

Ao longo do último ano, porém, a quebra foi menos acentuada do que em anos anteriores, o que sugere que o ritmo de redução de funcionários poderá estar a abrandar. No final de 2014 havia menos 18,5 mil funcionários do que em período homólogo, numa redução de 2,7%. Em anos anteriores, a quebra anual tinha sido mais alta, aproximando-se dos 4%.

Ler o resto da notícia

NOTA
  1. A expressão pós-contemporâneo foi por mim inventada (creio) para designar uma era em que o tempo analógico dos átomos e moléculas é cavalgado por um tempo digital tornado possível através do domínio e uso dos campos eletromagnéticos, onde além da matéria, existe o espaço imaterial que segura o universo.

segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Yanis Varoufakis, a esperança do momento

Gustave Moreau. Europa e o touro (c. 1869).

A Grécia é o centro da Europa!


Vivemos tempos simultaneamente épicos e medonhos. Há uma crise mundial, e certamente europeia, das dívidas—das dívidas soberanas, mas também das dívidas empresariais e familiares.

Estamos todos endividados até aos cabelos, mesmo quando não pecebemos que uma parte deste endividamento é invisível, e não parece, assim, ser coisa que nos diga respeito.

O grande buraco da dívida não seria um grande problema se as perspetivas de crescimento mundial, no modelo que conhecemos de há uns 200 ans para cá —muita energia e barata—, continuassem a ser expectáveis. Mas o problema é que o futuro reserva-nos uma era de menos energia, e de energia mais cara. Ora é este cenário —até hoje rejeitado pelos cegos da macro-economia— que tudo muda e exige uma nova abordagem dos problemas.

A crise grega, que tomou uma nova e radical direção depois da chegada do Syriza ao poder, veio confrontar a Europa inteira com as suas responsabilidades. O problema não é da Grécia, nem de Espanha, ou de Portugal, mas de todo o continente, mais precisamente, é um problema global, cuja negação apenas tornará os desenlaces locais, regionais e globais, muito mais ameaçadores e potencialmente catastróficos.

Nada melhor para começarmos a mudar a nossa percepção dos problemas de fundo, do que esta viragem radical na crise grega. E nada melhor do que ir escutando e lendo o que Yanis Varoufakis pensa sobre o seu país e sobre a Europa.

Yanis Varoufakis: No Time for Games in Europe
THE NEW YORK TIMES

By YANIS VAROUFAKISFEB. 16, 2015

ATHENS — I am writing this piece on the margins of a crucial negotiation with my country’s creditors — a negotiation the result of which may mark a generation, and even prove a turning point for Europe’s unfolding experiment with monetary union.

Game theorists analyze negotiations as if they were split-a-pie games involving selfish players. Because I spent many years during my previous life as an academic researching game theory, some commentators rushed to presume that as Greece’s new finance minister I was busily devising bluffs, stratagems and outside options, struggling to improve upon a weak hand.

Nothing could be further from the truth.

[...]

As finance minister of a small, fiscally stressed nation lacking its own central bank and seen by many of our partners as a problem debtor, I am convinced that we have one option only: to shun any temptation to treat this pivotal moment as an experiment in strategizing and, instead, to present honestly the facts concerning Greece’s social economy, table our proposals for regrowing Greece, explain why these are in Europe’s interest, and reveal the red lines beyond which logic and duty prevent us from going.

[...]

One may think that this retreat from game theory is motivated by some radical-left agenda. Not so. The major influence here is Immanuel Kant, the German philosopher who taught us that the rational and the free escape the empire of expediency by doing what is right.

BES e o segundo bail-in

Clique para ampliar

A experiência de Chipre repete-se, com cobertura da cleptocracia indígena


O assalto aos clientes do famoso Papel Comercial do BES (clique na imagem para ver bem o que se me afigura ser claramente uma burla) é uma repetição do bail-in executado em Chipre—embora incidindo apenas, neste caso, sobre um dos bancos do sistema (até ver...).

O ex-Banco BES vendeu aos seus clientes Premium, BES 360º (1), uma aplicação a um ano, a que chamou "investimento em papel comercial, E.S.International", com retorno assegurado: "no vencimento capital e juros garantidos").

Ou seja, o elaborado esquema Ponzi do BES atraiu clientes incautos para um empréstimo a que chamou investimento, mas cujo único objetivo foi financiar o já insolvente grupo de interesses da família Espírito Santo.

Ou seja, estamos perante um roubo a clientes bancários para salvar o próprio banco que os rouba.

Mas o mais grave é que este crime está a ter cobertura institucional do banco central indígena, na medida em que aparentemente Carlos Costa aprova a tentativa do chamado Novo Banco de isentar-se das suas responsabilidades, que as tem, uma vez que o ex-BES foi alvo de uma operaçao de resgate, denominada resolução, a qual é, pelo  menos em parte, financiada com dinheiro dos contribuintes.

Falta saber qual é o papel do BCE neste assalto.

Os clientes de Papel Comercial do BES, vítimas deste bail-in por baixo da mesa, devem dirigir-se diretamente ao BCE, e à opinião pública europeia, pois o Banco de Portugal não existe, e a corja partidária está toda comprometida com a insolvente banca portuguesa.

Sobre esta vigarice vale a pena ler o post de Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda e membro da comissão de inquérito ao BES —"E quem comprou obrigações do GES?"

RECOMENDAÇÃO: AFASTE-SE DOS BANCOS!
INVISTA EM OURO E PRATA, TERRA FÉRTIL, CERTIFICADOS DE AFORRO, US TREASURIES, E DÍVIDA PÚBLICA EUROPEIA, E COLOQUE QUANTIAS INFERIORES A 50 MIL EUROS DE PARTE EM DEPÓSITOS A PRAZO. PROPOSTAS MAIS COMPLICADAS DO QUE ESTAS, DA PARTE DO SEU GESTOR DE CONTA, ESQUEÇA!

Miguel Reis: Banco de Portugal está a deformar “grosseiramente a realidade”
Jornal de Negócios. 15 Fevereiro 2015, 21:16 por Lusa

O advogado Miguel Reis, que representa alguns clientes do BES, considera que o Banco de Portugal está a deformar “grosseiramente a realidade” e que a informação veiculada pelo banco central na sexta-feira é uma “operação de branqueamento”.

“...o comunicado do Banco de Portugal “não espanta ninguém e apenas serve para confirmar que [se vive] sob um sistema bancário selvagem, sem qualquer controlo de um regulador responsável”.

“...Miguel Reis destacou que o Banco Espírito Santo (BES) “não vendeu a ninguém títulos de dívida de empresas do GES” e que “não havia dívidas a quem quer que fosse, que o BES tivesse comercializado, comprando a um credor para ceder o crédito a outro”.

De acordo com o advogado, o que aconteceu foi que “o BES celebrou contratos, por força dos quais os seus clientes lhe emprestaram dinheiro, para que ele o emprestasse a empresas do GES”, e “não houve um único caso em que algum administrador de qualquer das empresas do GES tenha negociado o que quer que fosse com as pessoas que emprestaram o dinheiro”.

“Por isso, me parece que esse dinheiro deve ser tratado como todo o outro dinheiro que foi entregue por outras pessoas, nomeadamente por todos os depositantes ao BES”, defendeu Miguel Reis, reiterando que não há “nenhuma diferença” entre estas aplicações e os demais depósitos.”

POST SCRIPTUM—o "banco bom", o chamado Novo Banco que ainda anda à procura de comprador (ao que parece será mais uma empresa estratégica que o governo de Pequim vai comprar!) pagou o papel Comercial emitido pelo ex-BES, mas recusa-se a pagar o Papel Comercial emitido pelo ESI. Mas não é tudo a mesma trampa?

NOTAS
  1. "O serviço para clientes ‘premium' do BES dá pelo nome de BES 360º e assenta no conceito "360º à sua volta". O acesso resulta de uma análise do banco a variáveis como o rendimento, a profissão e o envolvimento financeiro de clientes com recursos a partir dos 35.000 euros. Através do serviço Mapa 360º o gestor indica as melhores opções de investimento mas também o apoia nas principais decisões financeiras, como sejam a aquisição de habitação ou a reforma." — in Económico.

Os limites do otimismo

Clique para ampliar

Não haverá milagre na Grécia, mas destruir as classes médias não é solução


O notável artigo de Michael Pettis, que abordámos em post anterior, dedicado ao pensamento efeverscente e maniqueísta sobre as responsabilidades pelas crises grega, cipriota, portuguesa, espanhola, italiana, e em geral da maioria dos países europeus, demonstrando que o capitalismo global é um sistema de vasos comunicantes onde as crises financeiras tendem a assumir natureza sistémica, exigindo, por esta razão, remédios permanentemente concertados, precisa talvez de uma contextualização económica mais ampla.

Recomendo, por isso, a leitura de um outro artigo recente, não menos notável, de Gail Tverberg, analista de risco, editora do extinto e célebre The Oil Drum, e autora do blogue Our Finite World.

Gail Tverberg considera, como eu e um número crescente de observadores, que nos aproximamos ou estamos já no quadro energético previsto por M. King Hubbert [1956, “Nuclear Energy and the Fossil Fuels”—pdf], conhecido como Pico do Petróleo. Este quadro casa, aliás, com um outro mais recente, traçado em 1972 pela equipa do relatório The Limits to Growth, que analisa os limites do paradigma de crescimento em que ainda vivemos, do qual temos que sair, mas ninguém sabe como.

Clique para ampliar

Os quadros estatísitcos têm vindo a confluir na perceção de que estamos no fim de uma longa era de prosperidade e crescimento explosivo, único na história humana, cujos motores principais foram o carvão mineral, o petróleo e o gás natural, a par de descobertas e invenções tão extraordinárias quando a eletricidade, a energia nuclear, a higiene e o saneamento básico, ou as vacinas e os antibióticos.

Sem energia abundante e barata o paradigma civilizacional em que nascemos e nos habituámos a perceber como natural há três coisas que desaparecerão depois de sucessivas e dolorosas crises:
  • taxas de crescimento demográfico e económico acima dos 2%
  • crescimento baseado na utilização de capital intensivo e em endividamento
  • boa parte da atividade discricionária não produtiva, nomeadamente o consumo conspícuo de massas.

Esta versão inesperada de The Tragedy of the Commons [Garrett Hardin, 1968] parece já estar, de facto, em cena num qualquer smartphone, ou televisão perto de si. O aparente triunfo argumentativo de Yanis Varoufakis face à inércia burocrática de Bruxelas e Berlim, e face ao defensismo atávico do BCE e do sistema financeiro em geral, espelha bem que o problema que temos entre mãos é um daqueles problemas a que Hardin chamou “a no technical solution problem”.

Clique para ampliar

Recomendando desde já a leitura integral do artigo em três partes de Gail Tverberg reproduzi a modo de convite alguns extratos e alguns gráficos esclarecedores. Quem quer que seja que pretenda chegar ao poder, nomeadamente para mtigar a contínua má direção que temos seguido, deverá, antes de mais, ler atentamente os três artigos aqui citados—o de Gail Tverberg, o de Michael Pettis, e o célebre artigo de Garrett Hardin, publicado pela Science em 1968.

Clique para ampliar

A new theory of energy and the economy, Part 1
Generating economic growth
By Gail Tverberg
Posted on January 21, 2015

[...]

What if oil prices are artificially low, on a temporary basis? The catch is that not all costs of oil producing companies can be paid at such low prices. Perhaps the cost of operating oil fields still in existence will be fine, and the day-to-day expenses of extracting Middle Eastern oil can be covered. The parts of the chain that get squeezed first seem to be least essential on a day to day basis–taxes to governments, funds for new exploration, funds for debt repayments, and funds for dividends to policyholders.

Unfortunately, we cannot run the oil business on such a partial system. Businesses need to cover both their direct and indirect costs. Low oil prices create a system ready to crash, as oil production drops and the ability to leverage human labor with cheaper sources of energy decreases. Raising oil prices back to the full required level is likely to be a problem in the future, because oil companies require debt to finance new oil production. (This new production is required to offset declines in existing fields.) With low oil prices–or even with highly variable oil prices–the amount that can be borrowed drops and interest costs rise. This combination makes new investment impossible.

If the rising cost of energy products, due to diminishing returns, tends to eliminate economic growth, how do we work around the problem? In order to produce economic growth, it is necessary to produce goods in such a way that goods become cheaper and cheaper over time, relative to wages. Clearly this has not been happening recently.

The temptation businesses face in trying to produce this effect is to eliminate workers completely–just automate the process. This doesn’t work, because it is workers who need to be able to buy the products. Governments need to become huge, to manage transfer payments to all of the unemployed workers. And who will pay all of these taxes?

The popular answer to our diminishing returns problem is more efficiency, but efficiency rarely adds more than 1% to 2% to economic growth. We have been working hard on efficiency in recent years, but overall economic growth results have not been very good in the US, Europe, and Japan.

Artigo completo


A new theory of energy and the economy, Part 2
Charts showing the long-term GDP-energy tie
By Gail Tverberg
Posted on February 5, 2015

The high oil prices–around $100 per barrel–continued until United States QE was tapered down and stopped in 2014. About the same time, China made changes that made debt more difficult to obtain. Both of these factors, as well as the long-term adverse impact of $100 per barrel oil prices on the economy, brought oil price down to its current level, which is around $50 per barrel (Figure 10). The $50 per barrel price is still very high relative to the cost of oil when our infrastructure was built, but low relative to the current cost of oil production.

[...]

Where Does the World Economy Go From Here?

In Part 1, I described the world’s economy as one that is based on energy. The design of the system is such that the economy can only grow; shrinkage tends to cause collapse. If my view of the situation is correct, then we need an ever-rising amount of  inexpensive energy to keep the system going. We have gone from trying to grow the world economy on oil, to trying to grow the world economy on coal. Both of these approaches have “hit walls”. There are other low-income countries that might increase industrial production, such as in Africa, but they are lacking coal or other cheap fuels to fuel their production.

Now we have practically nowhere to go. Natural gas cannot be scaled up quickly enough, or to large enough quantities. If such a large scale up were done, natural gas would be expensive as well. Part of the high cost is the cost of the change-over in infrastructure, including huge amounts of new natural gas pipeline and new natural gas powered vehicles.

New renewables, such as wind and solar photovoltaic panels, aren’t solutions either. They tend to be high cost when indirect costs, such as the cost of long distance transmission and the cost of mitigating intermittency, are considered. It is hard to create large enough quantities of new renewables: China has been rapidly adding wind capacity, but the impact of these additions can barely can be seen at the top of Figure 14. Without supporting systems, such as roads and electricity transmission lines (which depend on oil), we cannot operate the electric systems that these devices are part of for the long term, either.

We truly live in interesting times.

Artigo completo


A new theory of energy and the economy, Part 3
The Problem of Debt as We Reach Oil Limits
By Gail Tverberg
Posted on February 11, 2015

Many readers have asked me to explain debt. They also wonder, “Why can’t we just cancel debt and start over?” if we are reaching oil limits, and these limits threaten to destabilize the system. To answer these questions, I need to talk about the subject of promises in general, not just what we would call debt.

In some sense, debt and other promises are what hold together our networked economy. Debt and other promises allow division of labor, because each person can “pay” the others in the group for their labor with a promise of some sort, rather than with an immediate payment in goods. The existence of debt allows us to have many convenient forms of payment, such as dollar bills, credit cards, and checks. Indirectly, the many convenient forms of payment allow trade and even international trade.

Each debt, and in fact each promise of any sort, involves two parties. From the point of view of one party, the commitment is to pay a certain amount (or certain amount plus interest). From the point of view of the other party, it is a future benefit–an amount available in a bank account, or a paycheck, or a commitment from a government to pay unemployment benefits. The two parties are in a sense bound together by these commitments, in a way similar to the way atoms are bound together into molecules. We can’t get rid of debt without getting rid of the benefits that debt provides–something that is a huge problem.

There has been much written about past debt bubbles and collapses. The situation we are facing today is different. In the past, the world economy was growing, even if a particular area was reaching limits, such as too much population relative to agricultural land. Even if a local area collapsed, the rest of the world could go on without them. Now, the world economy is much more networked, so a collapse in one area affects other areas as well. There is much more danger of a widespread collapse.

Our economy is built on economic growth. If the amount of goods and services produced each year starts falling, then we have a huge problem. Repaying loans becomes much more difficult.

In fact, in an economic contraction, promises that aren’t debt, such as promises to pay pensions and medical costs of the elderly as part of our taxes, become harder to pay as well. The amount we have left over for discretionary expenditures becomes much less. These pressures tend to push an economy further toward contraction, and make new promises even harder to repay.

[...]

Governments of “advanced” countries now have debt levels that are high by historical standards. If there is another major financial crisis, the plan seems to be to use Cyprus-like bail-ins of banks, instead of bailing out banks using government debt. In a bail-in, bank deposits are exchanged for equity in the failing bank. For example, in Cyprus, 37.5% of deposits in excess of 100,000 euros were converted to Class A shares in the bank.

[...)

The economy, as it exists today, has been made possible by countries working together. With sanctions against Iran and Russia, we are already moving away from this situation. Low oil prices are now putting the economies of oil exporters at risk. As countries try different approaches on interest rates, this adds yet another force, pulling economies apart.

[...]

Conclusion

If the current economic system crashes and it becomes necessary to create a new one, the new system will have to deal with having an ever-smaller amount of goods and services available for a fairly long transition time. This is one chart I have shown in the past of how the growth in energy products, and thus growth in goods and services, might look.

Because of this, the new system will have to be very different from the current one. Most promises will need to be of short duration.  Transfers among people living in a particular area might still be facilitated by a financial system, but it would be hard to have long-term or long-distance contracts. As a result, the new economy will likely need to be much simpler than our current economy. It is doubtful it could include fossil fuels.

Many people ask why we can’t just cancel all debt, and start over again. To do so would probably mean canceling all bank accounts as well. Most of our current jobs would probably disappear. We would probably be without grid electricity and without oil for cars. It would be very difficult to start over from such a situation. We would truly have to start over from scratch.

I have not talked about a distinction between “borrowed funds” and “accumulated equity”. Such a distinction is important in terms of the rate of return investors expect, but it is not as important in a crash situation. Similarly, the difference between stocks, bonds, pension plans, and insurance contracts becomes less important as well. If there are real problems, anything that is not physical ends up in the general category of “paper wealth”.

We cannot count on paper wealth (or for that matter, any wealth) for the long term. Each year, the amount of goods and services the economy can produce is limited by how the economy is performing, given limits we are reaching. If the quantity of these goods and services starts falling rapidly, governments may fail in addition to our problems with debts defaulting. Those holding paper wealth can’t count on getting very much. Workers producing whatever goods and services are actually being produced will likely need to be paid first.

Artigo completo

domingo, fevereiro 15, 2015

Paulo Morais ou Marinho Pinto?

Paulo Morais
De uma foto original de Lucília Monteiro@Expresso

Paulo Morais tem a idade certa para avançar

Ao contrário de Marinho Pinto, não arrasta rabos de palha


Paulo Morais testa novo partido
Expresso, 8:00 Sábado, 14 de fevereiro de 2015

“Paulo Morais começa por responder à defesa: “Estou a preparar qualquer coisa. O quê? Não sei.” Mas rapidamente se liberta e conta ao Expresso que de facto quer ter “uma intervenção política ativa”. O ex-número dois de Rui Rio na câmara do Porto tem uma certeza - quer voltar à política ativa - e um calendário definido: a decisão sobre o quê e como fará terá de ser tomada em breve, “até março”. O timing parece escolhido a pensar nas legislativas, mas Paulo Morais não o confirma.”

Seria bom que Paulo Morais conseguisse congregar à sua volta, numa nova e ampla plataforma democrática, numa Convergência de Ideias e Gerações, os vários movimentos dispersos que se têm vindo a formar contra uma nomenclatura partidária que se deixou corromper pelos corredores parlamentares, governamentais e autárquicos, que criou teias de interesses sórdidos com o poder financeiro incompetente, corrupto e insolvente que assalta as poupanças de quem trabalhou uma vida inteira, em suma, contra quem ainda ocupa os edifícios da democracia fechando-se dentro deles a sete chaves, para benefício próprio e da corte que a acompanha.

O regime que esta elite sem vergonha foi deformando à medida das suas conveniências está hoje à beira do colapso, e só se reformará quando esta mesma elite for expulsa das torres de marfim que não são suas.

Nas próximas eleições não podemos votar uma vez mais nos que criaram a crise.

Ou não votamos, ou votamos em quem for capaz de, entretanto, trazer para a mesa da discussão democrática ideias claras sobre como levantar a canga da dívida que tem vindo a esmagar a nossa economia e as nossas vidas.

Os partidos do Bloco Central, coadjuvados pelo PCP, empurraram Portugal para o lixo, e não apresentaram até agora soluções credíveis para sairmos da escravidão da dívida. Enquanto não expurgarem de si mesmos os ativos tóxicos e a corrupção entranhada, não serão capazes, nem de tirar o país da miséria, nem sequer de participar em soluções que outros proponham aos portugueses e em quem o país confie para as aplicar.

Precisamos de imaginação e coragem para desenhar e adotar um mecanismo inovador de resolução do gravíssimo desequilíbrio das nossas contas públicas, que rejeite de vez o serviço da dívida como canga de uma austeridade sem fim à vista e inaceitável grilhão do crescimento e emprego.

Precisamos, como do pão para a boca, de um compromisso social claro que mantenha e refresque o essencial do estado social, trave a corrupção, desburocratize o estado, acabe com o acosso fiscal contra os mais fracos, e garanta o controlo das contas públicas, a transparência democrática e as condições de um crescimento sustentável.

Precisamos de refundar constitucionalmente a nossa democracia, revendo e simplificando profundamente o nosso texto consensual. E precisamos ainda de expurgar das nossas leis todas as manhas que foram sendo introduzidas, ao longo das últimas décadas, para defesa dos rendeiros, devoristas e corruptos sistémicos do regime.

Os que nos trouxeram até ao desastre, ou que consentiram o desastre, não têm nem moral, nem vontade, nem competência para propor soluções. As suas receitas são conhecidas, velhas e não servem!