sábado, maio 14, 2016

Ensino, público ou privado, não é a questão

Colégio Moderno, Lisboa (fundado em 1936)


Um provinciano de esquerda, ainda por cima desastrado, na Educação


António Costa admite compensar colégios com novas parcerias no pré-escolar 
Marcelo Rebelo de Sousa sublinha que, a mês e meio do fim do ano lectivo, o Governo e a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo têm de falar e que importa chegar a uma solução rápida e clara, acrescentando que “na educação são essenciais a previsibilidade e a certeza para alunos, famílias, professores e restante comunidade escolar”. 
Económico

Não foi Álvaro Cunhal professor no Colégio Moderno, propriedade da mui republicana e socialista família Soares? Não continua este colégio privado a ser uma referência educativa, nomeadamente para inúmeras famílias da classe média lisboeta, de esquerda? Então a que se deve a tempestade levantada em volta dos chamados contratos de associação celebrados entre um estado que ao fim de 40 anos de democracia ainda não conseguiu criar uma rede escolar básica cobrindo todo o país, e instituições particulares que suprem tão descaradas necessidades?

Comecemos pelo princípio: todo o ensino obrigatório é por definição, laços e obediência, público.

Pode ser prestado por entidades do estado central e autarquias, por fundações, misericórdias, cooperativas e outras associações sem fins lucrativos, ou ainda por empresas privadas cuja rentabilidade é o mais determinante critério de sobrevivência—ao contrário das escolas do estado que conseguem sobreviver mesmo quando reina o absentismo, a incompetência, a indolência burocrática, a falta de rendimento escolar e o despesismo. Sabem, a propósito, qual é a reforma média dum professor do ensino básico e secundário?

Os contratos existentes entre o estado e algumas escolas particulares não oferecem, se não numa diminuta parte, dúvidas de governação, mas nem assim deixaram de provocar o regresso inopinado de uma querela ideológica de índole jacobina.

Esta tempestade num copo água revela infelizmente uma espécie de deriva sul-americana no interior da atual coligação parlamentar. Foi como se, de repente, um provinciano de esquerda e desajeitado ministro da educação (que ainda troca os bês pelos vês) enunciasse que Portugal é finalmente uma jangada de pedra navegando para Caracas!

É a segunda bez que Tiago Brandão Rodrigues mete a pata na poça. À terceira, que não tardará a ocorrer, seria bom que António Costa entregasse o Ministério da Educação ao Bloco de Esquerda, e já agora, a Economia ao PCP.

O fator subjetivo da revolução

Virar a esquerda contra a direita não resolve o problema


O triângulo dos recursos tem um limite físico e comercial

O chamado fator subjetivo da transformação do capitalismo já não se chama proletariado, como ocorreu quando Karl Marx identificou este motor social na segunda metade do século 19. (1848-1867). A crise do capitalismo atual é sistémica e objetiva, e por isso não depende de modo relevante de um qualquer ator social privilegiado. Na realidade, a transição sistémica de que necessitamos só poderá ocorrer com sucesso se houver uma cooperação exigente entre, de um lado, os trabalhadores não especializados e, do outro, os negócios, os governos e os trabalhadores/criadores especializados.

Assim sendo, quer os tradicionais partidos da esquerda operária, quer os derivados tardios da retórica leninista e suas variantes (estalinista, trotskista e maoista) fazem hoje pouco sentido. O eco deste mundo há muito desaparecido mas que continuamos a escutar não passa de uma máscara atrás da qual se aninham burocratas e intelectuais ociosos e oportunistas.

A transformação que o capitalismo está neste preciso momento a sofrer é estrutural e deriva sobretudo da sua globalização num contexto de esgotamento do paradigma energético fundacional: energia fóssil abundante, facilmente transportável e barata + tecnologia. A tecnologia continua a expandir-se rapidamente, mas a energia barata acabou. Apenas porque o endividamento global se transformou numa bolha especulativa foi até agora possível esconder o problema real que temos diante de todos nós.

Estamos metidos num grande sarilho do qual talvez seja possível sair, mas não agravando a bolha do endividamento público e privado que asfixia o crescimento, nomeadamente através da destruição do poder de compra dos trabalhadores não especializados, e da destruição financeira em curso.


Because the oil problem is one of diminishing returns, adding debt becomes less and less profitable over time. There is a potential for a sharp decrease in debt from a combination of defaults and planned debt reductions, leading to very much lower oil prices, and severe problems for oil producers. Financial institutions tend to be badly affected as well. If a person looks at only past history, the situation looks secure, but it really is not.
Substitutes aren’t really helpful; they tend to be high-priced and dependent on the use of fossil fuels, including oil. They cannot possibly operate on their own. They add to the “oversupply at high prices” problem, but don’t really fix the need for low-priced supply. 
[...] 
We are reaching a head-on collision between (1) the rising cost of energy production and (2) the falling ability of non-elite workers to pay for this high-priced energy. 
[...] 
As I have previously mentioned, most researchers begin with the view that soon there will be a problem with energy scarcity. The real issue that tends to bring the system down is related, but it is fairly different. It is the fact that as we use energy, the system necessarily generates entropy. This entropy takes the form of rising debt and increased pollution. It is these entropy-related issues, rather than a shortage of energy products per se, that tends to bring the system down.  
in “The real oil limits story; what other researchers missed”
Our Finite World. Posted on May 12, 2016 by Gail Tverberg


quarta-feira, maio 11, 2016

Crescimento, emprego, ou populismo?


Então, como é?!


O encapsulamento simultaneamente defensivo, oportunista e autoritário das burocracias no binómio estado-partidos é uma das maiores ameaças à resolução da presente crise sistémica global. Não interessa a cor nem a flor que exibem nas lapelas.

O problema é geral, mas nem por isso dispersar areia populista nos olhos de todos nós e comprar os votos da burocracia é um comportamento político tolerável.

Em Portugal, por exemplo, a população empregada perdeu 48,2 mil empregados nos últimos três meses, dados divulgados pelo INE hoje, dia 11/05/2016. O desemprego, por sua vez, aumentou em 2,4%

É difícil ver nestas décimas preocupantes algum sinal positivo relativamente ao crescimento mágico de que fala o Orçamento de António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. ACP

Resumo (INE

A taxa de desemprego no 1.º trimestre de 2016 foi 12,4%. Este valor é superior em 0,2 pontos percentuais (p.p.) ao do trimestre anterior e inferior em 1,3 p.p. ao do trimestre homólogo de 2015. 
A população desempregada, estimada em 640,2 mil pessoas, registou um aumento trimestral de 1,0% (mais 6,3 mil pessoas) e uma diminuição homóloga de 10,2% (menos 72,7 mil pessoas). 
A população empregada, estimada em 4 513,3 mil pessoas, verificou um decréscimo trimestral de 1,1% (menos 48,2 mil pessoas) e um acréscimo homólogo de 0,8% (mais 36,2 mil pessoas). 
A taxa de atividade da população em idade ativa situou-se em 58,1%, valor inferior ao observado no trimestre anterior em 0,5 p.p. e ao do trimestre homólogo em 0,4 p.p..
Nestas estimativas trimestrais foi considerada a população com 15 e mais anos, não sendo os valores ajustados de sazonalidade.

Novas sanções a Portugal... e Espanha



Os credores têm a faca e o queijo na mão


E decidiram atalhar a euforia populista de esquerda que invade as antigas ditaduras do sul da Europa: Portugal, Espanha e Grécia. Para bom entendedor...

EXCLUSIVE / The European Commission will launch a sanctions procedure against Spain and Portugal or the first time, as the college concluded on Tuesday (10 May) that the two countries have not made “sufficient effort” to cut their deficits, EurActiv.com has learned. 
The college held an orientation debate on how to deal with the most difficult cases under EU fiscal rules and the country-specific recommendations for member states.
The Commission will unveil a package of fiscal and structural reforms recommendations on 18 May 
During the orientation debate, there was a “broad acknowledgement” that Spain and Portugal are cases for stepping up the procedure, an EU source told EurActiv. 
[...]

Commissioner for the Euro, Valdis Dombrovskis, wants a single approach in order to avoid complaints from Portugal about favourable treatment given to larger member states like Spain. 
Once the executive adopts its decision next week, the recommendation for stepping up the procedure will pass to the Ecofin Council. 
Before next week’s presentation, Dombrovskis, and Commissioner for Economic Affairs Pierre Moscovici, will determine which additional intrusive measures are to be taken in order to guarantee that Spain and Portugal will fulfil the fiscal rules. 
in EurActiv 

segunda-feira, maio 09, 2016

O desacordo ortográfico e a argolada presidencial



Let's Call the Whole Thing Off


A oposição indígena ao Acordo Ortogtráfico é um dos muitos sinais da nossa arrogância desfeita e da nossa fraqueza moral e intelectual. Cada qual é livre de escrever com a ortografia antiga, ou outra qualquer, salvo em documentos oficiais. Saberão os nossos sobas da língua o que são emoticons, ou para k serve a letra k num SMS? Impedir o pragmatismo estratégico no uso de um idioma que é língua oficial de mais de 200 milhões de pessoas, 9 países e milhares de instituições, querer atrasar o relógio da oralidade dinâmica quando este acelera, ou lutar contra o princípio da preguiça linguística que existe em todos os idiomas, além de inútil, apenas revela preconceito e resquícios de colonialismo cultural da parte de quem o pratica. Nisto, Marcelo excedeu as suas competências, e sobretudo errou na missão presidencial.

Mas o pior de tudo é que, com ou sem AO, predomina o analfabetismo funcional, a torrente de erros ortográficos, a ausência de semântica e uma sintaxe de pôr os cabelos em pé. Basta ler o Diário da República!

quarta-feira, maio 04, 2016

NIRP e o fim das grandes notas


Desvalorizar o euro sob o pretexto de combater a fuga fiscal


O Banco Central Europeu anunciou que as notas de 500 euros vão acabar em 2018. Quem as quer depois deste anúncio? Isto é mesmo uma espécie de haircut: troco uma nota de 500 por cinco de 20, ou seja, um corte de cabelo de 80%. Está-se mesmo a ver os bancos depenados como estão a arregalar as caixas! Eu sempre disse que o melhor mesmo é comprar ouro e prata... e quintas com boa terra e água, e ainda casas nos centros urbanos.

A queda dos juros é uma das consequências do pico da procura agregada global. Se há menos procura, há menos necessidade de produzir, e portanto menos investimento, menos comércio mundial, guerra cambial, e menos empréstimos. Ora o principal negócio dos bancos é emprestar dinheiro, pois só assim criam dinheiro sob a forma de crédito. Sem crédito, os bancos, pura e simplesmente, entram em colapso. Antes disso, deixam de pagar juros, ou exigem mesmo dinheiro a quem lhes confia as poupanças. Uma tempestade perfeita.

NIRP


Por sua vez o NIRP (negative interest rate policy) é uma forma de desvalorização das moedas, de restruturação lenta das dívidas públicas e ainda um instrumento de expropriação fiscal dissimulado. Para as burocracias demo-populistas é sempre uma oportunidade de manterem os seus privilégios, e de comprar mais uns votos.

Draghi: Taxas de juro baixas não são a causa mas o “sintoma” do problema
NEGÓCIOS. RITA FARIA | afaria@negocios.pt | 02 Maio 2016, 16:38

The War On Paper Currency Officially Begins: ECB Ends Production Of €500 Bill
Zero Hedge. Submitted by Tyler Durden on 05/04/2016 13:42 -0400

terça-feira, maio 03, 2016

Sem Ping Pong nada cresce


Nova recessão à vista ?


La prueba de que la burbuja tecnológica se desinfla: cae la venta de mesas de ping pong.  
En economía cualquier indicador vale para intentar anticipar el próximo movimiento que hará el mercado. Y en Estados Unidos hay uno que parece sugerir que las compañías tecnológicas están a punto de entrar en una fase de declive: la cifra de ventas de mesas de ping pong.  
El Economista, 3/05/2016

Se não tens uma mesa de Ping Pong não és uma empresa tecnológica! A venda destas nos Estados Unidos, porém, caiu 50% ao longo dos últimos 12 meses. Mais um sinal de que a procura agregada mundial não arranca, que a reflação não arranca, que nova recessão poderá aparecer ao virar da esquina.

Meu caro António Costa, meu caro Mário Centeno, queridas Catarina e Mariana, não vai haver crescimento! E assim sendo, só mesmo uma forte racionalização da hipertrofiada despesa pública que temos poderá livrar-nos de novo e perigoso trambolhão na ladeira da dívida, e no acelerador negativo do défice orçamental.

É preciso, de uma vez por todas, discutir coletivamente e decidir que estado queremos e que estado podemos ter.

Estados Unidos, recessão, ainda não, ou cada vez mais próxima?
In 60 years, the US economy has never suffered a 17-month continuous YoY drop in Factory orders without being in recession. Which begs the question: are we in one now. Moments ago the Department of Commerce confirmed that in March, US factory orders - despite rising 1.1% sequentially and above the 0.6% expected - declined for 17th consecutive month on an annual basis, dropping 4.2% from a year ago. 
Zero Hedge. The Manufacturing Recession That Won't Go Away: Factory Orders Rebound From 5 Year Lows, Decline For 17 Months