segunda-feira, novembro 26, 2007

Aeroportos 44


Airbus A350, Cockpit
Cockpit do A350, o avião escolhido pela TAP para voos de Longo Curso a partir de 2014.

Laissez faire, laissez passer Montijo!

Esquadra 601 será transferida para a Base de Beja em 2008
26-11-2007. A Esquadra 601 «Lobos», sedeada na Base Aérea nº 6 (Montijo), será transferida em 2008 para a Base Aérea nº 11 (Beja), que ficará com quatro esquadras, disse hoje à agência Lusa fonte da Força Aérea Portuguesa (FAP) -- SOL. RTP.

Presidente da TAP já aceita discutir solução Portela + 1
26-11-2007. O presidente da TAP já aceita discutir a solução Portela + 1 caso o aeroporto da capital seja inteiramente direccionado para a operação da trasportadora nacional. -- Jornal de Negócios.

TAP vai comprar mais oito A320
A TAP vai assinar hoje em Toulouse um contrato para a compra de oito Airbus A320 e vai ainda tomar firme a compra de doze A350, cujo primeiro será recebido em 2014. A companhia aérea fica ainda com a opção de adquirir mais três A350. -- Jornal de Negócios.

Ou sou muito burro, ou a consigna que há muito circula entre internautas, sobre o futuro da indústria aeroportuária nacional -- "TUDO A BATER CERTO!" -- teve hoje a sua confirmação. A data prevista para o Novo Aeroporto de Lisboa e a sua cidade aeroportuária, 2015-2016, é incompatível com a necessidade de responder imediatamente ao desafio lançado pelas companhias Low Cost ao sector da aviação comercial de passageiros na Europa.

A TAP está a perder, ao ritmo actual dos cancelamentos, mais de mil voos por ano! Por outro lado, as companhias de Low Cost são o principal factor do aumento acentuado de visitas ao nosso país, tanto no Algarve, como em Lisboa e no Porto. Sob pena de um completo descalabro, a TAP (ou melhor o Governo) percebeu finalmente que é do seu interesse colocar as Low Cost, as Charter e a maioria das companhias de bandeira no Montijo, o mais depressa possível, reservando para si e para os voos de ligação, o aeroporto da Portela, assim que devidamente ampliado e melhorado.

O Terminal 2 é uma vergonha e deve ser remodelado (à custa de quem o desenhou!) A ampliação do terminal 1 deve iniciar-se o mais rapidamente possível, transformando-o numa coisa decente e funcional. O taxi-way da Portela deve ser ampliado, por forma a evitar o cruzamento de pistas. A pista 03/21 deve ser aumentada por forma a permitir que os aviões sobrevoem a maior altitude a zona de Entre-campos e Universidade quando descolam para Sul. O sistema de gestão de bagagens deve ser automatizado. A actual gerência do aeroporto deve ir para a rua!

Entretanto, Beja dará uma boa infraestrutura para a Base Aérea nº6 (Montijo), e o campo de tiro de Alcochete ficará melhor acomodado nos arredores de Serpa. Assim, em vez do projectado aeromoscas anunciado por José Sócrates, teremos um aeroporto remodelado, que até pode ser misto, servindo simultaneamente necessidades militares e civis, como a de alguns Corporate Jets captados pelas novas indústrias turísticas de luxo previstas para o distrito (estou a pensar nos sonhos de José Roquete.) Entretanto, manda a prudência que Alcochete fique a aguardar em banho-maria, isto é, sem desperdiçar muito mais dinheiro em estudos.

Bem vistas as coisas, os euros de Bruxelas dão para tanto, mas não para mais!

OAM 283, 26-11-2007, 21:59

domingo, novembro 25, 2007

Espanha 3

Menos mal que nos queda Portugal

"El lehendakari Juan José Ibarretxe ha convocado a los ciudadanos vascos a una consulta popular para el 25 de octubre de 2008. La elección de la fecha no es casual, ya que coincide con el aniversario del Estatuto de Gernika." -- PÚBLICO / AGENCIAS - VITORIA - 28/09/2007 10:45.


"Serbian Prime Minister Vojislav Kostunica said on Saturday that the government has been preparing measures and action plans to reject ethnic Albanians unilateral declaring Kosovo's independence.

"The entire Serbia must strongly and unequivocally show that it does not recognize that illegal entity and that the province of Kosovo and Metohija is an integral and inalienable part of Serbia," Kostunica said in a statement.

Kosovo, which legally remains a Serbian province, has been under U.N. administration since 1999. The predominantly Albanians of the 2 million population demand outright independence instead of maximum autonomy offered by Serbia." -- BELGRADE, Nov. 24 (Xinhua) -- Xinhuanet, 2007-11-25.


What kind of Europe are we likely to see in 2057? There are three major elements in any response to this question. First of all, given the precipitate geopolitical decline of the United States, we are living amidst the creation of a truly multipolar world-system. The question for Europe is whether it can compete - economically, politically, culturally - not with the United States but with East Asia. This depends in part on whether or not East Asia (China, Japan, and Korea) will come together in a meaningful way. But it also depends on whether Europe is able to create a more politically cohesive structure and, on top of that, will be one that includes both Russia and Turkey. -- Immanuel Wallerstein, "Europe, 2057".

Um dos desígnios estratégicos do Reino de Espanha desde a união entre Castela e Aragão, em 1469, tem sido sempre reunir os territórios e povos ibéricos sob um poder único. Nunca tal foi possível, salvo no período de 60 anos (1580-1640) em que foi estabelecida a união com Portugal, na sequência da crise dinástica provocada pela morte do rei português de então (Sebastião) na batalha dos Três Reis, em Alcácer Quibir (Marrocos). Em rigor, nem sequer durante aquele período houve uma completa união ibérica (e portanto uma Espanha única propriamente dita), pois persistiram formalmente duas coroas em funções, com os seus territórios bem delimitados, moedas próprias e fronteiras aduaneiras: a união entre Castela-Aragão e Portugal, e Navarra. O fim definitivo do reino de Navarra e consequente submissão ao "Reino de Espanha" (designação que aparece após a união entre Castela-Aragão e Portugal) só viria a ocorrer em 1841, na sequência de uma guerra civil. As guerras civis dentro do Reino de Espanha foram, aliás, menos esporádicas do que se pensa -- 1702-1744, 1833-1840, 1872-1876, 1936-1939 --, tendo invariavelmente como pano de fundo a unidade estratégica projectada pelos Reis Católicos. Em suma, o uso da expressão Reino de Espanha ("Espanha", no singular) como denominação oficial de Estado, só é fixada no século XIX, em 1868, na sequência da Revolución de 1868, ou La Gloriosa (1).

Sempre que Portugal atravessou crises graves de sucessão ou foi ameaçado por potências estrangeiras, a Espanha Castelhana aproveitou ou tentou aproveitar a oportunidade. Foi assim durante a crise dinástica de 1383-1385 (ainda antes, portanto, da existência da união Castela-Aragão). Foi assim com a crise dinástica aberta pela morte do rei Sebastião em Marrocos (que levaria o duque de Alba a conquistar pela força, em 1580, o reino português, para a coroa castelhana-aragonesa). Foi assim por ocasião da restauração da independência portuguesa, em 1640-1668, com a perda de Ceuta para os Reis Católicos. Foi assim durante as Invasões Francesas, com a tentativa de retalhar Portugal entre a França e o Reino Católico de Espanha, de que resultaria a usurpação de Olivença (cuja devolução a Portugal, acordada em 1814-1815, no Congresso de Viena, ainda está por cumprir.) Foi assim com o pacto secreto entre Hitler e Franco, que previa a anexação de Portugal pela Espanha Franquista, no rescaldo da vitória alemã, que felizmente não ocorreu. E parece estar a ser outra vez assim com a Espanha pós-Franquista, aproveitando-se esta da persistente crise de liderança política em Portugal, para o controlo progressivo de alguns sectores estratégicos da nossa economia -- energia, banca (Totta, BPI, BCP), telecomunicações (PT), transportes e redes viárias (Alta Velocidade ferroviária e Brisa), produção agro-alimentar --, e ainda para a propaganda intelectual duma espécie de Iberismo recauchutado e neo-liberal, encabeçada pelo El País, socorrendo-se para tal de escritores sofríveis (Saramago e Grass), cujas intuições ideológicas e apostas históricas inspiram os maiores cuidados!

As movimentações de Madrid têm, porém, no actual momento, um aspecto contraditório: enquanto pressionam paulatinamente o nosso país no sentido de uma maior integração subordinada ao contexto ibérico, por outro, parecem cada vez mais incapazes de segurar a unidade interna do próprio Reino de Espanha. As autonomias do País Vasco e da Catalunha dirigem-se inexoravelmente para a independência, legitimadas aliás pelos exemplos da Irlanda e da Escócia, de várias repúblicas centro-europeias recentemente libertas ou em fase de libertação de antigas potências, e sobretudo do Kosovo. Não é outra a lógica da União Europeia!

O Reino de Espanha, que sofreu recentemente dois enormes revezes diplomáticos -- o primeiro, em Marrocos, e o segundo, num conjunto de países da América Latina (Venezuela, Argentina, Bolívia e Equador) -- caminha, no seu próprio território, para uma conjuntura particularmente crítica, alimentada pelas tensões independentistas e pela contaminação do abalo financeiro mundial actualmente em curso e que poderá ocorrer a qualquer momento. A direita e a extrema direita espanholistas estiveram até agora adormecidas por uma abundância superficial, mas as suas cabeças venenosas e violentas começam a assomar à varanda da crise que se avista no horizonte. Daí que o desejo madrileno por Lisboa me pareça mais um reflexo defensivo, do que a mera prossecução do desígnio estratégico, originalmente congeminado por Isabel de Castela e Fernando de Aragão, que permitiu à península ser o berço de dois imensos impérios coloniais.

Mas se é assim, teremos que trabalhar todos em plena e franca colaboração de vontades e inteligências para uma nova acomodação das várias antropologias e culturas ibéricas, prudente, negociada, equilibrada, sem centros radiais, referendária sempre que se justificar, e tendo um horizonte suficientemente generoso para tão complexa transição. O ano de 2057 parece-me justo! A Ibéria de Unamuno e Antero de Quental, se for tratada com muito carinho e bom senso, poderá um dia ser uma das malhas apertadas de nações de uma rede maior, a Eurásia, sem que ninguém perca nada, e todos ganhem alguma coisa. Se foi possível fazer avançar os eternos rivais europeus para a grande União que hoje somos, porque motivo não poderemos sonhar com uma Confederação Ibérica dentro da primeira?

O que será sempre intolerável é confundirmos a razão democrática com agendas secretas e insidiosas que, em nome dos bons princípios, pretendem prosseguir ambições deslocadas do espaço-tempo da humanidade.

Para dar, neste sentido, um sinal de visão estratégica inconfundível, bastaria elevar a Língua Portuguesa e o Castelhano ao patamar de idiomas oficiais da Ibéria, ensinados em toda a península desde a mais tenra idade. A decisão é racional e pragmática. Sem entendermos isto, que é básico, dificilmente iremos a alguma parte.


Post scriptum -- Alguém me questionou sobre o lugar do Catalão e do Basco na "minha política linguística". Respondo assim: enquanto os idiomas português e castelhano seriam adoptados à escala de uma futura Confederação Ibérica, basicamente por causa da sua origem, estatuto actual e expressão internacional, as línguas catalã e basca deveriam ser oficiais nas respectivas nações e opcionais no resto da península. O Galego, por razões históricas e propriamente linguísticas, deveria integrar-se na corrente geral do Português, enriquecendo-o com as suas variantes vernaculares.

NOTAS
  1. ERRO MEU! Ao contrário do que escrevi acima, verifiquei no passado mês de março de 2013, que a expressão 'Reyes de españa' aparece inscrita no planisfério do português Diogo Ribeiro (assina Diego Ribero), desenhado em Sevilha no ano de 1529, e no qual aparece claramente delimitado o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494. É ainda curioso notar que num globo chinês construído por Manuel Dias e Niccolo Longobardo, em 1623, e exibido com o planisfério acima referido na exposição 360º (Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2mar-2jun, 2013) a Austrália continua a não aparecer representada.

OAM 282, 25-11-2007, 03:54 

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 8 abr 2013 - 17:20 WET

quinta-feira, novembro 22, 2007

Aeroportos 43

TGV
A União Europeia decidiu privilegiar, como prevíramos, a Alta Velocidade ferroviária
em detrimento dos aviões nos trajecto até 800Km.

Pato-bravo Lusitano (espécie em vias de extinção)


CIP: sector da construção admite abandonar confederação
Construtores fazem ultimato a Van Zeller

A 'guerra' está instalada entre os patrões. A falta de uma reacção firme às declarações do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Amaral Tomaz, sobre as empresas envolvidas em fraudes fiscais, e o estudo realizado sobre a localização do novo aeroporto revoltaram os empresários da construção civil, que ameaçam deixar a Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) se Francisco Van Zeller não abandonar a presidência da CIP. -- Correio da Manhã, 22-11-2007 00:00.

O confraria bancário-betoneira está desesperada! Montou uma armadilha ao patrão da CIP e espera agora, depois da carambola iniciada pelas declarações do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Amaral Tomaz, arrumar com o projecto de Alcochete e retomar o embuste da Ota. É certo que a CIP e o Prof Viegas se puseram a jeito. Mas nada justifica a opereta em curso.

A crise financeira mundial, que teve origem no rebentamento da monumental borbulha imobiliária criada pelo consórcio bancário-betoneiro americano e europeu, ainda vai no adro. A rede de casinos que se dedica à emissão de dinheiro virtual e a transaccionar dívidas públicas e privadas como se de matérias primas, ou transformadas, se tratasse, destruindo paulatinamente a verdadeira actividade produtiva dos povos, ainda nos reserva muitas e desagradáveis surpresas. Entre estas, poderemos certamente esperar pelas falências estrondosas de alguns bancos e seguradoras em ambas as margens do Atlântico. No momento preciso desta crónica, rumores sobre aberturas eminentes de falência cruzam o éter da rede a velocidades estonteantes!

Ora bem, manda a prudência que não se assinem quaisquer contratos de médio ou longo prazo com nenhum banco, seguradora ou construtora civil (nomeadamente OPAs, fusões e Parcerias Público Privadas), nem muito menos se façam aplicações financeiras fora de algumas zonas de confiança muito restritas (petróleo, metais preciosos, ...) enquanto persistir o actual grau de elevadíssima contaminação dos mercados financeiros mundiais. A falência do dólar está neste momento a funcionar como um buraco negro para o qual boa parte da liquidez virtual criada nas últimas décadas se precipita a velocidade estonteante. Assim sendo, no que se refere a grandes projectos em estudo, só há uma atitude certa a tomar: parar para ver!


Ferrovia: 557M-euros; aeroportos: 69M-euros

A Comissão Europeia decidiu atribuir a Portugal financiamentos de 556,8 milhões de euros para o projecto ferroviário de alta velocidade, e 69 milhões de euros para o futuro aeroporto de Lisboa, revelou hoje em Bruxelas o executivo comunitário.

A Comissão anunciou hoje a distribuição entre os Estados-membros de um orçamento de mais de 5 mil milhões de euros (para o período 2007-2013), entre 30 grandes projectos prioritários de transporte a ligar a Europa, tendo os projectos ferroviários absorvido a grande fatia destes fundos (3,9 mil milhões de euros, ou seja, 74,2 por cento), e Portugal visto correspondidas as suas pretensões. -- Diário Digital / Lusa; 21-11-2007 14:00:00

O recado da Comissão Europeia é bem claro. Portugal é demasiado pequeno para aventuras fora de moda em matéria de transporte aéreo! Por um lado, não temos nem massa crítica nem mercado para nos lançarmos em Hubs intercontinentais, e por outro, 82% das ligações aéreas que partem ou chegam a Portugal ocorrem num raio de 2300 Km (i.e, na Europa!), ou seja, situações ideais para transportes aéreos em regime de eficiência Low Cost, ou para viajar de comboio, em Velocidade Elevada ou em Alta Velocidade. Que precisa o Presidente da República, já que o governo não liga se não à confraria bancário-betoneira, e aos rapazes de Macau, para explicar-nos a todos a sua visão sobre este tema e as medidas que estará disposto a tomar para fazer o governo regressar aos carris da responsabilidade e da transparência democráticas?


"Problema com bagagens é uma questão do aeroporto"
(Paulo Campos dixit)

O secretário de Estado das Obras Públicas, Paulo Campos, considera que o problema de gestão de bagagens existente no aeroporto de Lisboa prende-se, essencialmente, com questões relacionadas com a infraestrutura aeroportuária e não com a gestão da maior operadora da Portugal, Groundforce. -- Jornal de Negócios, 20-11-2007
Imaginem que as caixas dos supermercados voltavam a funcionar com o lápis atrás da orelha. Pois é isso que acontece com a manipulação das bagagens no aeroporto da Portela! Por culpa de quem? Pois da administração do aeroporto, isto é da ANA, do Governo e de todos aqueles que pretendem demonstrar que o actual aeroporto internacional de Lisboa está gasto e ultrapassado. Este sound bite não passa de uma ideia-feita muito longe da verdade, apesar da vergonha que foi até ao momento a operação Terminal 2 -- mais uma manobra de diversão destinada a demonstrar que a Portela não serve... os interesses do bando bancário-betoneiro!

OAM 281, 22-11-2007, 16:59

quarta-feira, novembro 21, 2007

Aeroportos 42

Michael O'Leary, patrão da Ryanair
Michael O'Leary, patrão da Ryanair

Ryanair acusa ANA de atrapalhar "Sá Carneiro"

Presstur 20-11-2007 (12h30). O CEO da Ryanair, Michael O'Leary, afirmou hoje no Porto que a low cost quer abrir uma base no aeroporto da segunda maior cidade do País, mas que os custos "são muitos altos" e falta "as autoridades de Lisboa" terem uma "atitude mais comercial".

Com a abertura dessa base, argumentou, a Ryanair poderia triplicar o número de passageiros de e para o Porto, passando de um milhão para três milhões.
"As autoridades em Lisboa estão a condicionar esse aumento", acusou O'Leary, depois de dizer que "têm que ter uma atitude mais comercial e dar ao Porto a liberdade para dar as mesmas condições que os aeroportos espanhóis".

Há muito que sabemos que os planos do dromedário do MOPTC é privatizar a ANA (Aeroportos e Navegação Aérea), um monopólio de Estado, fazendo deste monopólio público um monopólio privado, para depois o oferecer, de mão beijada, ao consórcio bancário-betoneiro que vier a ganhar o concurso internacional para a construção do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL). Como se esta enormidade fosse insuficiente, o dromedário do MOPTC prepara-se ainda para leiloar os terrenos da Portela (que são de Lisboa!) com a intenção de entregar a massa resultante ao mesmo consórcio. Para culminar tamanho esbulho patrimonial, e à semelhança da tramóia esgalhada para as Estradas de Portugal, a criatura do cachimbo também deve ter preparado uma concessão de 90 anos ao consórcio bandido candidato à destruição do sistema de transportes do país. Pergunta: se o que é bom para o Porto e norte de Portugal é mau para a ANA, em que ficamos? Quem tem precedência? O país e a economia, ou a vigarice de Estado?

Seria bom que José Sócrates aproveitasse a visita-relâmpago de Hugo Chávez a São Bento, para meditar um pouco sobre o que acontece aos países onde os líderes se confundem com a escumalha. Os sinais de impaciência na Europa (Dinamarca, França, Espanha...) multiplicam-se. Por todas as razões e mais algumas temos que impedir o esvaimento dos Estados às mãos do gangsterismo financeiro. A economia não está para brincadeiras, e duvido que as democracias europeias aturem por muito mais tempo a incompetência, imbecilidade e fragilidade moral das suas cada vez mais cínicas, decadentes e corruptas elites. Para já, senhor Sócrates, prepare-se para perder as próximas eleições!



POST SCRIPTUM

Vozes do Norte contestam obstáculos da ANA à Ryanair

"O aeroporto do Porto arrisca perder a oportunidade de conseguir atrair, nos próximos sete anos, quatro milhões de passageiros da Ryanair. Tudo porque a ANA (empresa que faz a gestão dos aeroportos) não se tem mostrado receptiva a fazer algumas cedências que permitam a criação de uma base daquela companhia aérea de baixo custo no Aeroporto Francisco Sá Carneiro. A possibilidade de o Norte estar a 'desperdiçar' uma oportunidade de desenvolvimento está a indignar políticos e empresários. O PSD/Porto vai pedir esclarecimentos ao Ministério das Obras Públicas 'por suspeita de favorecimento do aeroporto de Lisboa'". -- JN, 23-11-2007

Comentário: O Porto tem que se afirmar decididamente como a capital do Noroeste Peninsular, para assim ajudar a fortalecer a cada vez mais estratégica frente atlântica da Península Ibérica (Sines-Setúbal-Lisboa-Figueira da Foz-Aveiro-Porto-Vigo-Corunha). O facto de a Low Cost interessada em contribuir para esta dinâmica ser de nacionalidade Irlandesa é mais um argumento a favor de um protagonismo que só o Porto deve assumir, e que os lóbis saloios (há anos que vivem entre a Quinta da Marinha e Sintra) deveriam acolher de braços abertos, se não estivessem, neste preciso momento, prisioneiros duma cáfila bancário-betoneira e da tríade macaense.

Que o senhor Juan Carlos de Bourbon e o governo de Madrid não estejam nada interessados num maior protagonismo do aeroporto Sá Carneiro, e em geral do Porto, entende-se. E até percebo que a sua diplomacia (muito desastrada ultimamente) pressione Lisboa com o papão dos nacionalismos ibéricos, como sempre fizeram, e vêm repetindo ultimamente, ecoando "sound bites" de escritores com grande tendência para apostas historicamente desastrosas. Mas que haja indecisos e imbecis, em Belém e no Terreiro do Paço, que não estejam a ver o filme, já me parece uma desgraça. Seja como for, para já, cumpre às elites Nortenhas saírem dos seus Ferraris de uma vez por todas e dizerem claramente o que querem, como querem e o que estão dispostos a fazer para obterem o bem do país. Falem claro, e serão ouvidos!

O futuro não passa mais pela construção civil, mas pelos portos, pelo mar, pela ferrovia, pela agricultura biológica de alto rendimento, por indústrias de conhecimento estrategicamente especializadas, pelo turismo residencial de luxo e por transformar Lisboa e Porto em duas grandes metrópoles viradas para um novo cosmopolitismo sustentável. É toda uma aventura pela frente, no mar encapelado da transição energética em curso. P'ra frente é que é o caminho! -- OAM

A insofismável ANA: taxas estão na média europeia...

Lisboa, 21 Nov (Lusa) - "O presidente do Aeroporto de Lisboa negou hoje que as taxa aeroportuárias praticadas pela gestora aeroportuária ANA impeçam a expansão da companhia aérea de baixo custo Ryanair, sublinhando que os valores cobrados 'estão dentro da média' europeia."

Comentário (recuperado de RMVS): o problema não está na média europeia, mas nos preços praticados pelos aeroportos espanhóis: 1/3 dos preços aplicados pela ANA!

O monopólio lusitano que ameaça rebentar com a estratégia aeroportuária mais favorável a Portugal, empurrando as Bases Low Cost, nomeadamente da Ryanair, para Vigo, Badajós e Jerez de la Frontera, não age pela sua própria cabeça, que não tem. Assim sendo, se o pior acontecer, será antes do Verão de 2008. Se o pior acontecer, será insuficiente despedir os imbecis da ANA e a criatura do cachimbo. Se o pior acontecer, é José Sócrates que deverá levar um ajustado coice eleitoral!

O futuro da aviação europeia chama-se Low Cost, sendo que o conceito aeroportuário deste novo modelo de negócio e de transporte, não é o famoso embuste da OTA, nem as Cidades Aeroportuárias do ex-ministro consultor Augusto Mateus, mas as chamadas Bases Low Cost, ou seja, aeroportos de dimensão suficiente, frequentemente secundários, sem desnecessárias infraestruturas de apoio e com taxas muito competitivas, não necessariamente próximos das grandes cidades, inseridos em boas redes de transportes rodo e sobretudo ferroviárias. Quer dizer, o contrário da única coisa que o corrupto lóbi bancário-betoneiro sabe fazer. Quer dizer, o contrário daquilo que o Banco Central Europeu acaba de recomendar à Eslovénia: não sigam Portugal! Sigam a Irlanda!!

Como diz Manuel Alegre, o país está a regressar à Idade Média em matéria de transportes e circulação cidadã. E eu insisto: o actual sistema partidário faliu. Tornou-se num monstro ineficiente, corrupto, imbecil, abrupto e traiçoeiro. É preciso refundar urgentemente a Política Democrática no Mundo, na Europa e em Portugal. -- OAM


O centralismo da ANA
"Este conflito entre Michael O'Leary e a ANA só acontece porque a ANA é uma empresa pública monopolista tutelada pelo poder central. Acumula todos os factores que podem reduzir significativamente a capacidade de uma empresa para servir decentemente os seus clientes. Se não fosse monopolista, faria tudo para conseguir um contrato com a Ryanair antes dos concorrentes. Se não fosse uma empresa pública, estaria preocupada em rentabilizar o mais rapidamente possível um aeroporto sub-utilizado. Se em vez de ser tutelada pelo Governo central fosse tutelada por um governo regional, seria forçada a por esse governo a promover os interesses económicos da região que o aeroporto deveria servir. Como a ANA é tutelada pelo Estado central, reflecte uma visão centralista do país. Está mais preocupada com os interesses estratégicos da TAP e com a viabilização do futuro grande aeroporto de Lisboa do que com os seus próprios lucros ou com o desenvolvimento das regiões onde se localizam os seus aeroportos." -- João Miranda, DN, 24-11-2007.


Comentário: Até que enfim que o jornalismo cada vez mais amarelo que temos começa a revelar opiniões diversas da Propaganda das agências, paga pelo Governo com o dinheiro dos contribuintes! João Miranda escreveu um texto certeiro sobre a pouca vergonha da ANA. Vale a pena lê-lo na íntegra.
O grande problema das empresas públicas e demais organismos tutelados pelo Estado é que têm vindo a ser paulatinamente entregues a imbecis geneticamente modificados na piscina endogâmica do Bloco Central. Resultado: estão a conduzir o país à ruína e à perda de autonomia face, nomeadamente, a Espanha. Mas como vai haver menos deputados a voar entre Lisboa e Bruxelas, cada vemos empresas públicas para estuporar, e a Dívida Pública está fora de controlo, os "Boys&Girls" do PS, do PSD e do PP (mas também do PCP e do BE) vão começar a andar à chapada todos os dias. É só esperar pela opereta de faca e alguidar que aí vem! -- OAM


OAM 280, 20-11-2007, 02:45

segunda-feira, novembro 19, 2007

Espanha 2

Cimeira dos Açores title =
Cimeira dos Açores, 16 de Março de 2003.

Hummmm... Passa-se algo de estranho!

Durão Barroso transformou-se no alvo de protestos dos internautas espanhóis, por ter afirmado que Portugal acolheu a Cimeira dos Açores, prévia à invasão do Iraque, para satisfazer um pedido dos seus «aliados e amigos, sobretudo Espanha». -- Durão atacado em Espanha por causa da Cimeira dos Açores, Sol, 19-11-2007.

Hoje de manhã interrogava-me, durante uma conversa telefónica com um amigo, sobre o motivo que teria levado José Manuel Durão Barroso a denunciar o logro em que teria caído durante a cimeira de guerra que antecedeu a segunda invasão do Iraque por uma coligação internacional comandada pelos Estados Unidos.

Segundo afirmou Barroso à TSF/DN, foram-lhe mostrados documentos que evidenciavam a existência de Armas de Destruição Maciça no Iraque. Veio a saber-se depois que as fotografias exibidas eram falsas. Ou seja, Portugal comportou-se como um aliado, mas foi levado ao engano. O reparo é tardio, mas ainda assim necessário, sobretudo quando se tornou evidente aos olhos de todo o mundo o atoleiro em que se transformou o Médio Oriente depois das invasões aliadas do Afeganistão e do Iraque.

Só não entendi porque motivo resolveu Durão Barroso adiantar que a realização da cimeira na Ilha Terceira dos Açores resultara da aceitação de um pedido expresso da Espanha (ou seja, de Aznar) para que a reunião tivesse lugar em Portugal. Fugir de responsabilidades? Parece-me pouco e seria demasiado amador uma tal escapatória retórica semanas depois do desaire diplomático constituído pela visita do rei de Espanha a Ceuta (abrindo deste modo caminho ao projecto de União Mediterrânica proposto por Sarkozy) e dias depois do incidente, ainda não terminado, entre o rei de Espanha e o presidente da Venezuela, do qual resultou a ameaça, proferida por Hugo Chávez, de transferir para Portugal a sua agência de negócios com a Europa, e o provável fim das cimeiras ibero-americanas (uma figura neo-colonialista fora de prazo, que deverá ser substituída por um outro tipo de cimeiras diplomáticas entre a União Europeia e a América Latina.)

Há outras possibilidades de interpretação: avisar Dick Cheney e Bush sobre a indisponibilidade das Lages para um ataque ao Irão, ou ainda legitimar a visita de Chávez a Lisboa, demonstrando em ambas as situações que há sintonia total entre o governo socialista, o principal partido da oposição e o Presidente da Comissão Europeia no que se refere à diplomacia atlântica portuguesa, com especial incidência no fortalecimento das relações económicas e diplomáticas entre Lisboa, Brasília e Caracas.

Entretanto, os serviços de contra-informação espanhóis, presumidamente sob ordem de Zapatero (pelo vistos, cada vez mais sensível aos actos políticos do seu antecessor), montaram sem demora uma campanha nacional mediática, com forte recurso à Internet, sobre a "provocação" de Durão Barroso, insistindo na continuação da histeria nacionalista montada em torno do episódio "TU, POR QUÉ NO TE CALLAS!" Que estranho! Quando teve lugar a famosa Cimeira dos Açores, eu estava em Madrid, e recordo-me perfeitamente do modo cirúrgico como a imprensa e a televisão espanholas apagaram Durão Barroso de todas as "fotos de família" (ver El País 1 e El País 2).

Aqui há gato!

Os movimentos tectónicos das placas diplomáticas mundiais têm vindo a acelerar de forma surda à medida que o dólar emagrece e a economia americana cai numa "recessão sistémica", ameaçando infectar boa parte dos mercados mundiais, com especial impacto na Europa e no Japão. Se os países produtores de petróleo abandonarem a moeda americana, que sucederá às montanhas de dinheiro virtual acumuladas pelos bancos, governos e sociedades de investimento? É isso mesmo: cairemos numa recessão mundial, da qual estarão possivelmente a salvo poucos, mas importantes países: a China, a Rússia, os Árabes com petróleo, o Brasil, a Venezuela...

A Espanha, segundo vários observadores internacionais, poderá ser uma das grandes vítimas da crise financeira mundial em curso, por causa da dimensão da sua bolha imobiliária e do tamanho da sua bolha financeira. De quem é a culpa? Não é certamente do povo espanhol. Mas talvez seja de quem montou e mantém uma das maiores máquinas de lavagem de dinheiro negro e magia financeira da Europa. Quando ocorrer o trambolhão, talvez venhamos a saber quem são.

Por outro lado, a Espanha poderá entrar muito em breve numa profunda convulsão interna, por causa dos movimentos independentistas do País Basco e da Catalunha. Pretextos não faltam: a mais do que provável auto-proclamação independentista do Kosovo, a possível cisão do reino Belga, a epidemia financeira mundial, a crise climática (a que está associada a polémica em volta do desvio de grandes rios espanhóis, como o Ebro) e ainda o facto de a Espanha ter vindo a vender grandes quantidades de ouro para segurar a sua pesada dívida externa: 1,45 biliões de euros, ou seja 145% do PIB (Cotizalia, 10-10-2007). Desviar a atenção pública para incidentes potencialmente geradores de sentimentos patrióticos, pode ser uma explicação para o que está a ocorrer. Se for, é mau presságio.

Madrid tem vindo a pressionar Portugal no sentido de lhe ser dado acesso mais rápido aos nossos mercados urbanos e aos nossos portos, ao mesmo tempo que incentiva, com apoios económicos vários, o investimento espanhol no nosso país, com particular ênfase nos sectores financeiro, energético, imobiliário e agro-alimentar. A porta atlântica tornou-se uma necessidade estratégica de primeira ordem para Madrid. O Uruguai adoptou o Português como segunda língua de ensino obrigatório no país. O novo jogo euro-atlântico já começou e passará por triangulações estratégicas entre Washington, Londres e Lisboa; e entre Brasília, Caracas, Luanda e Lisboa. Que lugar terá a Espanha neste jogo? Se continuar a ter uma presença relevante na América Latina, será seguramente um rival de Portugal neste jogo; se provocar sentimentos de rejeição nas suas antigas colónias, o seu protagonismo poderá ser posto em causa a prazo. Escaldante, não?

Como se tudo isto não fosse suficiente para precipitar uma pequena fricção entre Madrid e Lisboa (que poderá, se não for acalmada, colocar em causa a XXIII cimeira Luso-Espanhola, prevista para o terceiro trimestre de 2007, e entretanto adiada), haveria que considerar também a evolução da situação diplomática no Médio Oriente. Está presentemente em curso uma mudança da maior importância na estratégia anglo-americana para o conflito entre Israel e a Palestina, traduzida já na elevação deste último estado ao patamar de novo aliado estratégico do Ocidente, como há muito preconizam vários dirigentes europeus, nomeadamente alemães. Ou seja, Bush vai sair da Casa Branca, Aznar já saíu e não vai voltar, Blair transformou-se no obreiro da nova aliança entre judeus, cristãos e muçulmanos, e Barroso pretende escovar, antes que seja tarde, as suas responsabilidades na sujeira dos Açores. Ah!... agora compreendo o recado sacana do precoce político lusitano!

Em suma, a declaração do ex-primeiro ministro português e actual presidente da Comissão Europeia (que, à semelhança de Tony Blair, pretende continuar politicamente activo,) não foi um acto falhado, mas um passo de dança.


OAM 279, 19-11-2007, 21:16

domingo, novembro 18, 2007

Subprime black hole

Liberty Dollar
Liberty Dollar: a resposta popular anti-inflaccionista à implosão da moeda americana pôs o FBI em estado de choque.


US Dollar: Gone With The Wind

Welcome the Liberty Dollar!

"Foreign tourists to many of India's most famous landmarks will no longer be able to pay the entrance fee in dollars, the government says.

"The ruling is aimed at safeguarding tourism revenues following the recent falls in the dollar." -- Dollars no good for Taj Mahal, 16-11-2007, BBC.

O buraco negro para o qual a economia norte-americana está a ser atraída, podendo arrastar consigo, ao longo de 2008, a Europa e o Japão, causará um enorme tsunami financeiro mundial. O epicentro desta crise foi a implosão dos créditos de alto risco no sector imobiliário norte-americano -- os chamados subprime mortgages --, mas temos vindo a descobrir, com o passar das semanas, que a economia mundial está toda ela infectada por uma monumental bolha de liquidez virtual puramente especulativa, cujo estouro já ninguém parece conseguir deixar de prever (1). A Europa, atingida no sector bancário, nomeadamente suiço (Crédit Suisse), alemão (IKB, SachsenLB), inglês (Nothern Rock, HSBC), holandês (NIBC) e francês (BNP Paribas), ainda não sofreu todo o impacto potencial da crise em curso. Os rumores mais insistentes continuam a apontar a Espanha como a próxima vítima da loucura imobiliária que tem vindo a desfigurar a sua paisagem e tornou economicamente inacessíveis cidades como Barcelona e Madrid.

O que está a acontecer diante dos nossos olhos, e nos nosso bolsos (!), é o princípio do fim da hegemonia económico-política do Ocidente, representada ao longo dos últimos 192 anos pelo domínio anglo-saxónico (Inglaterra e Estados Unidos), mas que vem do século 15, quando os Portugueses começaram a circum-navegar a África e depois o planeta inteiro. Os Americanos ricos do Norte e os Europeus do Ocidente habituaram-se a níveis de riqueza e de distribuição social nunca antes experimentados pela humanidade, cujo financiamento teria sido inviável sem a extensão dos seus impérios coloniais, que exploraram intensamente enquanto puderam.

Durante o período colonial e neo-colonial, que se estende do século 15 até ao final da década de 90 do século 20, o Ocidente cristão dedicou-se, em África e nas Américas, ao genocídio parcial das populações indígenas, à expoliação do ouro e riquezas acumuladas pelos civilizações locais, à extracção das matérias primas e à escravatura. Na Ásia, devido à densidade demográfica e maior estruturação social e militar dos respectivos povos, a alternativa passou sobretudo pela imposição militar de regimes de troca desigual entre as potências ocidentais dominantes e os países do Extremo Oriente. O controlo do Médio Oriente, para o que foi necessário destruir o Império Otomano, figura como derradeiro capítulo do longo ciclo imperial europeu, e dele dependeu a transição da era industrial a vapor para a explosiva era contemporânea, movida a petróleo, em nome da qual a Europa e o resto do mundo se envolveram nas duas maiores carnificinas humanas de sempre: a I e a II guerras mundiais. Para balizar com dois marcos histórico-simbólicos precisos este longo ciclo civilizacional, o da Europa Moderna e Contemporânea, podemos curiosamente tomar a própria duração do império português (o mais longo de sempre na Europa Ocidental) como referência: da conquista de Ceuta, em 1415, à devolução de Macau à China, em 1999.

Confunde-se frequentemente a ideia de internacionalização dos mercados resultante da existência e afirmação mundial dos impérios coloniais europeus e norte-americano com a ideia de globalização, como se o problema fosse o da circulação das pessoas e mercadorias à volta da Terra. Não é.

O período imperial, que simbolicamente termina com a troca de bandeiras entre a República Popular da China e Portugal, na cidade onde nasci, caracterizou-se pela existência de centros civilizacionais (Europa, e depois EUA) com uma extraordinária capacidade de projecção militar, cuja rápida evolução ideológica, tecnológica e científica se ficou em grande parte a dever aos recursos materiais subtraídos aos vastíssimos territórios, civilizações e povos que foi capaz de explorar. Na fase colonial dos impérios houve quase sempre dominação militar, política e religiosa das regiões colonizadas. Na fase neo-colonial que se lhe seguiu, primeiro nas Américas, depois no Extremo Oriente e em África, e que se encontra agora muito perto do fim, a dominação exerce-se sobretudo pela via indirecta do controlo financeiro e manipulação mais ou menos subtil dos velhos e novos países independentes. O objectivo em ambos os cenários é sempre o mesmo: acesso e controlo das matérias primas e recursos energéticos baratos e abundantes onde estejam, sem o que será inviável alimentar uma civilização (a Ocidental) cada vez mais energética, voraz, intelectual, egoísta, mas careca de recursos naturais a que se habituou, envelhecida e a caminho da extinção demográfica!

O que a globalização trouxe de novo, e que viria a revelar-se como um fatal boomerang económico para o ciclo imperial europeu e estado-unidense, são duas coisas: a liberalização radical dos mercados económicos e financeiros à escala mundial e a instantaneidade electrónica das transacções num novo espaço virtual interactivo global chamado Internet. É a coincidência temporal e articulação operacional destes dois acontecimentos, desencadeados pela constituição da Organização Mundial de Comércio, em 1995, e pelo lançamento público, dois anos antes, do primeiro navegador internáutico com capacidades gráficas (o Mosaic, de onde nasceria, em 1994, o célebre browser Netscape), que irá propiciar a maior transferência de tecnologia jamais efectivada entre distintas regiões planetárias. Em apenas uma década a Europa e os Estados Unidos fizeram voar literalmente milhares de fábricas e sucursais de empresas suas, e transferiram electronicamente dezenas de biliões de dólares, para a China, India e Coreia do Sul, não se apercebendo que estavam, na realidade, a enervar literalmente as suas próprias sociedades.

A Reserva Federal Americana, uma sociedade de bancos centrais e banqueiros privados que ninguém conhece, a não ser pelo seu presidente em exercício, deixou de publicar em 2006 o agregado financeiro conhecido pela sigla M3, o qual costumava computar a quantidade de dólares em circulação no planeta. Foi o sinal definitivo de que os Estados Unidos tinham começado a falsificar o seu próprio dinheiro como forma de compensar a inflação crescente resultante da perda inexorável de competitividade da sua economia quando comparada com os novos regime de sobre-exploração capitalista em curso nos países emergentes, para os quais o acesso aos financiamentos deixara de ser um problema, assim como a exportação dos seus produtos para todo o mundo (excepto o Japão...) Daqui ao buraco negro que há meses atrai o dólar em direcção à sua completa nulidade fiduciária, foi um passo, rápido e catastrófico! Ainda que criasse outro Dólar, como os brasileiros fizeram com o falido Cruzeiro, os EUA não conseguiriam inverter a actual situação, pois, ao contrário do Brasil, os EUA deixaram que o seu dinheiro, as suas empresas e as suas universidades (!) emigrassem simultaneamente para onde o trabalho barato se encontra, sem poderem sequer, sob pena de realizarem um verdadeiro hara-kiri, interromper o fluxo de mercadorias que aflui até ao cada vez mais aflito e impotente consumidor americano. Ao permitir-se que norte-americanos e europeus se transformassem em consumidores líquidos compulsivos, hedonistas e a caminho da extinção genética, exportando ao mesmo tempo a economia real para países com inesgotáveis bases produtivas, abriu-se uma Caixa de Pandora. Não será um ataque nuclear contra o Irão que a fechará, podendo mesmo agravar os seus imprevisíveis efeitos.

O equilíbrio conseguido, na sequência e consciência do terrível holocausto Nazi e nuclear da Segunda Guerra Mundial, entre a lógica única e alienante do capital e a vontade de construir democracias humanas dignas e livres, consubstanciada em contratos sociais baseados na ideia de bem-estar, foi literalmente destruído pela propaganda da produtividade. Os partidos democráticos do Ocidente, com especial incidência nos diversos blocos centrais formados pelos partidos moderados, da direita tradicional à esquerda socialista, promoveram a libertinagem dos promotores económicos e financeiros, privatizaram e continuam a privatizar os activos essenciais dos Estados (constituídos, por vezes, ao longo de gerações sucessivas), pulverizaram sistematicamente os benefícios sociais das suas democracias e caminham para uma completa subserviência face aos poderes fáticos globais, que desconhecem em absoluto, mas em direcção aos quais caminham como insectos encadeados por uma estranha luz virtual.

Num certo sentido, pode dizer-se que o capital acumulado pelos impérios do Ocidente já não precisa, nem das suas bases territoriais, nem das suas raízes humanas, sociais e espirituais, ambas, de certa maneira, esgotadas e envelhecidas. Basta-lhes, por isso, e como sempre, recursos e mão de obra jovem e barata. Onde estes estiverem estará o capital! Mas a que preço? Uma hipótese, plausível, é a do fim abrupto da hegemonia americana, seguida de um declínio prolongado, na doce companhia da Europa, ambos clamando no deserto contra o aquecimento global. Outra hipótese, de uma gravidade extrema, é ocorrer um ataque nuclear contra o Irão, do qual resulte a III Guerra Mundial. Gostaria de acreditar que existe ainda uma terceira hipótese: a da cooperação internacional para o desenho de uma humanidade solidária e mais consciente dos tremendos desafios energéticos e ecológicos que ameaçam, por culpa própria, a própria continuidade, se não da espécie humana, seguramente, das civilizações que conseguiu erigir nos últimos dez mil anos.

Na América, onde o espírito democrático e de iniciativa cidadã continuam felizmente muito vivos e criativos, há quem contraponha à falida nota verde o retorno a moedas de confiança. Uma dessas moedas fiáveis chama-se Liberty Dollar, e outra, cuja fama cresce rapidamente, chama-se Ron Paul Dollar, em homenagem a um dos mais controversos senadores republicanos actuais. Ron Paul é contra a guerra movida pelos EUA contra o Iraque e defende o fim da Reserva Federal americana, em nome do regresso à moeda dura e do fim da moeda mole ("fiat currency"). Estas iniciativas têm um valor pedagógico evidente. A ira que desencadearam junto das autoridades monetárias locais é uma prova de que estão a fazer efeito. Um sinal de que nem tudo está perdido.

FBI Raid on the Liberty Dollar

"Friday, November 16, 2007: Make no mistake, the FBI and Secret Service raid on the Liberty Dollar at 8:00 AM on Wednesday, was a direct assault against the US Constitution and your right to own and use gold and silver in any way you chose.

"I personally spoke to FBI agent Andrew Romagnuolo shortly after he and his gang invaded the peaceful home of the Liberty Dollar. He told me that the raid was related to the US Mint's warning and the beginning of a criminal investigation. This is the first battle of a long war that I intend to win!" -- Bernard von NotHaus, Monetary Architect.



NOTAS
  1. Sobre a história do dinheiro vale a pena ler esta síntese maravilhosa escrita por Elaine Meine Supkis no seu blog Culture of Life News:

    "When the Forex markets were first engineered, no one involved imagined it would lead to utter chaos. Of course, throughout history, when an empire is strong and powerful and patrols the Seven Seas with impunity, all currencies are judged relative to the currency issued by the Emperor or Empress. Of course, these empires had to issue currency in a form that had 'intrinsic value.' In other words, for the last 3000 years, this was of several metals. Gold, silver and copper for the most part.

    "All empires use their fleets and troops to seize and loot and one of the top items they seek restlessly is gold, silver and copper. Using this, they can issue coins which are used to buy luxury items, for the most part. This is because most of the economy until the 1600s was mainly barter. One thing all kings and emperors figured out was, if they controlled the mint, they could debase the coin by mixing the metals with baser metals. Often, it is either zinc or copper. To hide this, they had many laws. These laws still stand.

    "For example, a merchant could melt the gold coins which separates the minerals and then resell the pure gold with a guild certificate of purity. Holding gold has an overhead cost, of course. Everyone wants to steal it. Including the Emperors and kings hovering nearby. During the Middle Ages, the Church and Islam both forbade charging interest so holding gold brought no wealth. It cost the holder dearly. One had to hire guards and install expensive iron security systems and this is when many forms of locks we see in modern form today, were invented. Before this, people simply buried the gold in hidden places.

    "Literally, in the ground. Even in the 1600s, pirates continued this tradition. There are many fairy tales of young men or princes going forth with a purse filled with gold ducats only to be robbed on the road or in an inn. Ducats, by the way, were first issued by the Venetians during the Crusades. For money had vanished during the longest depression to hit Europe, the Dark Ages. Ducats were mostly the result of these wars. Gold was looted first from Jerusalem and the surrounding countryside. Then, from the great Empire of Byzantia. This was minted and used as trade tokens.

    "And what trade was this? Easy: trade with CHINA. One could not buy the fabulous manufactured wares of China unless one paid in gold. For 1,000 years, China slowly accumulated much of the gold in circulation this way. And it was a one-way street which meant, Europe was always having currency problems. The only cure for this was to find gold.

    "Over the centuries, bankers have discovered many ways of dealing with the contradictory nature of currency versus trade. If someone finds a lot of gold or conquers a kingdom with lots of gold to loot, the currency crisis is eased but this also causes the relative value of gold to drop. In a nutshell, everyone wants more gold but if more gold appears in circulation, the value of the gold in relation to everything else, drops.

    "Many an Emperor has torn out his hair after expending huge sums of money on armadas and troops only to find the looting expedition is causing the currency to collapse due to too much gold flooding markets. As expenses on the military eats up the budget, he is forced to go to banker/merchants for loans. And to pay for this, the Emperor issues IOUs to these merchants. Who, in turn, use these as...MONEY. For they love to trade things and a writ of promise for future tax revenues has value! Unlike gold, tax money is paid in yearly installments. So if the banker/merchants forward to the Emperor the equivalent of 3 years of taxes and the Emperor then promises to pay them with 4 years of taxes, everyone is happy except for the tax paying public.

    "But early on, the Emperor of Spain discovered he could keep doing this and he did until he ran up debts based on over 100 years of future taxes! And the foolish Emperor wasted all of this on trying to invade a land that has virtually no gold at all: England. And on top of this, the Armada sank. Within 100 years of this, due to the forward sale of future tax revenues, Spain collapsed as a world power and France replaced them only to fall in to the exact same trap of selling future tax revenues. This led to the King losing his head.

    "England, the next up at bat as World Ruler tried to avoid these fates. But after defeating Napoleon, England went on a classic looting expedition and the top two holders of world gold that hadn't already been looted by the Spanish was India and China.

    "Both were looted ruthlessly. But instead of using this loot to build a huge army, the Brits used it to build the first Industrialist capitalist society. And then the eternal problem of how to conduct business while not having to deal with the insecurities and restrictions of using metal coins reared its ugly head. The solution was always to issue gold certificates rather then bonds of joint purpose like the South Sea Bubble bonds. I have a collection of 19th century gold and silver certificates. These were issued by banks that supposedly had the coins stashed in safes that were called 'safes' because they were supposedly secure. Only the banks never bothered to issue these certificates on a one-to-one basis. They always issued as many certificates as they dared.

    "Periodically, people would suddenly think, a bank was lying about this and would rush the banks to demand their gold or silver certificates be honored. Banks never run out of paper IOUs. Germany showed how their great printing skills could keep up with near-infinite demand. The problem was if people wanted gold or silver.

    "Today, all the world's currencies operate on the dangerous fiat value method. This works ONLY if the top imperial currency is still connected with gold and silver. But ever since the US, imitating all previous Empires, decided to pay for a lousy war via issuing irresponsible paper IOUs, there is NO CURRENCY ON EARTH that is connected to any tangibles. There are stocks and bonds which are attached to either future tax revenues or people paying back loans. These are very unstable due to the possibility of bankruptcy.

    "The news that Bündchen, the great-great granddaughter of German immigrants to Brazil back when the rubber plantation boom attracted many Germans, won't accept US dollars anymore due to it losing too much value when it is part of a contract which stipulates payment in the future, so it is with many operations now. The Indian government can't issue daily currency value changes at museums and public monuments! This is very much a reminder of Germany in 1923. The complications of the premier currency dying rapidly is, it destabilizes RELATIONSHIPS. And this is where POWER lies: not in declarations of friendship but in honoring and writing CONTRACTS that spell out financial and business dealings IN THE FUTURE.

    "We are losing very significant powers here. I would venture to say, our USS Even Keel is keeling over. And I want to keelhaul the idiots causing this." (Link)

OAM 278, 19-11-2007, 02:58

quinta-feira, novembro 15, 2007

Espanha

Año horribilis, eso dicen...



Ao contrário do que afirmou um locutor ligeiro da SIC (canal privado da televisão portuguesa), não foram elementos da extrema-direita espanhola que queimaram retratos do rei de Espanha, mas sim jovens universitários, na sua maioria autonomistas convictos, republicanos e tendencialmente de esquerda. O tema é muito mais sério do que parece e a ele me referi em texto anterior. Por outro lado, a recente visita dos reis espanhóis a Ceuta e Melilla pode ser justamente acusada de provocatória com base nos princípios descolonizadores aprovados pela ONU na sua declaração de 14 de Dezembro de 1960 (PDF). Finalmente, o disparate bourbónico em volta das diatribes políticas de Hugo Chávez -- tratando o presidente venezuelano como se fosse um índio do século XVII -- ameaça interromper o ciclo de prosperidade de um país (a Espanha), cujo enriquecimento nas últimas três décadas, embora assente em bases pouco sólidas (segundo alguns, demasiado especulativas), muito deve às intensíssimas relações comerciais e político-económicas que tem mantido com a América Latina ao longo dos últimos vinte ou trinta anos. Não sei se tudo isto foi pensado para ser assim, mas que a figura do rei espanhol entrou, apesar de alguma histeria em torno do macho ibérico, num plano inclinado irreversível, parece-me óbvio. Pior é impossível!



Depois da Cimeira dos Açores, que conduziu à invasão do Iraque, a Espanha proclamou de alguma forma a necessidade de se virar de novo para o Atlântico, depois de perceber que a parte oriental da Eurásia será sempre o resultado dinâmico, frequentemente instável, das triangulações estratégicas entre Paris, Berlim, Moscovo e Istambul, e que a França, por outro lado, não largará de mão a sua especial influência no Norte de África, incluindo, obviamente, Marrocos. Acontece que este movimento da antiga potência imperial, hoje sem a menor possibilidade de recuperar o poder económico e militar que outrora foi seu, encontra inevitavelmente quatro obstáculos pela frente: Portugal e Marrocos, o Brasil (uma das quatro potências emergentes do BRIC) e a contestação cada vez mais visível dos países "ibero-americanos" ao ex-colonizador. A monarquia espanhola, à semelhança da inglesa, mas ao contrário das holandesa e dinamarquesa, entre outras, não é transparente, nem presta contas dos seus rendimentos. O que em democracia é fraco argumento para manifestações de superioridade relativamente seja a quem for.

A única vez que cumprimentei Letizia, em Praga, pareceu-me uma criatura ausente. Antecipação de um reinado improvável?

Ou muito me engano, ou o incidente que marcou a XVII Cumbre Iberoamericana - Chile 2007, vai transformar-se paulatinamente num distanciamento claro da Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Cuba, e mais alguns países ibero-americanos, da antiga potência colonial. Na realidade, esta não lhes pode oferecer grande coisa, e mostrou ser capaz, nas últimas décadas, de controlar recursos e empresas estratégicas desses países, apoiando ao mesmo as corruptas e decadentes elites que há séculos se comportam como "burguesias compradoras", insensíveis e autoritárias, principais responsáveis pelo atraso económico, político e cultural da América Latina.

A criação de um mercado comum na América do Sul, iniciando um processo estratégico de longo prazo, semelhante ao da União Europeia, do que menos precisa é de permitir que os recursos estratégicos daquele vasto e riquíssimo sub-continente fiquem à mão de semear de antigas potências coloniais, como a Espanha e a Inglaterra (e em geral a Europa.) A âncora que faltava para este novo projecto de libertação já existe e chama-se Brasil. Por outro lado, a protecção de que a nova América Latina precisa, no grande jogo da estratégia global em curso, até agora imposta de modo hegemónico pela aliança anglo-americana, tem vindo a encontrar na China uma interessada e promissora alternativa. A China precisa da América do Sul e esta precisa da China (1). O noivado vai muito adiantado, e é por aqui que devemos descodificar a cena canalha que acabou com as cimeiras ibero-americanas. Nós, europeus, temos que reaprender o caminho difícil da humildade.



NOTAS
  1. 15-11-2007 22:40. VENEZUELA Y CHINA TIENEN APRECIACIONES COINCIDENTES RESPECTO DE LOS GRANDES TEMAS DE ESTOS TIEMPOS. Beijíng, 15 de noviembre de 2007 (Prensa-MPPRE ).

    Al concluir una Visita de Trabajo de tres días a la República Popular China, el Ministro venezolano del Poder Popular para Relaciones Exteriores, Nicolás Maduro Moros, destacó que ambos países tienen apreciaciones coincidentes en cuanto a lo que considera los grandes temas de estos tiempos.

    Durante su permanencia en China, el Canciller venezolano se entrevistó con altos representantes del gobierno del país asiático, incluyendo a su homólogo Yang Jiechi; el director de Relaciones Internacionales del partido Comunista Chino, Wang Jia Rui; el Viceministro del Consejo de Estado para la lucha contra la pobreza, Wang Guoliang, y Li Changchun, miembro del Poliburó del PCCh.

    En una conferencia de prensa que ofreció al final de su visita, expresó su complacencia por los resultados de los acuerdos de cooperación suscritos entre Venezuela y China, como parte de la alianza estratégica que han conformado ambos países.

OAM 277, 15-11-2007, 14:05