domingo, agosto 31, 2008

Allgarve

Férias à beira do cimento

Os nove dias de praia e grelhados em Olhos de Água terminaram antes da hora prevista, por causa de um inesperado amanhecer fresco e nevoento (1). O famoso mar do Algarve não esteve tão cálido como seria de esperar. Mas nem por isso houve menos veraneantes, sobretudo do norte do país, ingleses, mais espanhóis do que alguma vez vi por aquelas bandas, eslavos, italianos, alemães e franceses. Alguns milhares de veraneantes que optaram este ano pelo "Allgarve" foram seguramente mais sensíveis à leveza das suas contas bancárias do que aos apelos publicitários da mente brilhante do BES e actual ministro do governo "socialista", Manuel Pinho. Consequências, em suma, da crise económica e financeira em curso.

A longa e extraordinária falésia entre Olhos de Água e Vila Moura, que há mais de uma década me fascina continua sob uma criminosa pressão urbanística e automóvel. Os distraídos de Olhão, que certamente não ouviram falar do pico petrolífero, nem da água que deixou de chegar a muitos pomares e quintais, assinaram contratos para construir um autódromo e mais não sei quantos campos de golfe.

Sabiam que um campo de golfe com 18 buracos consome em média 5 metros cúbicos de água por dia, i.e. mais de 1800 milhões de litros de água por ano, o suficiente para satisfazer o consumo médio anual de 2000 pessoas? Quantos campos de golfe portugueses são alimentados com águas recicladas ou dessalinizadas? Está na altura de exigir auditorias regulares aos impactes ambientais destrutivos, quer dos desportos motorizados, quer dos campos de golfe que proliferam como coelhos no nosso país. Outro tipo de auditorias necessárias diz respeito ao próprio negócio multinacional especulativo dos campos de golfe, a maioria dos quais acaba na falência e ao colo dos bancos e sócios que foram no conto do vigário.

Ao que parece, há uma crescente presença da indústria turística espanhola no "Algarbe". Prevejo, pelo andar apressado da carruagem, que los promotores, que em Espanha como cá mandam nos políticos de turno, estejam a ponto de parir um terramoto urbanístico no pouco que resta da costa algarvia ainda livre das barbaridades da dita "construção civil". Quem deu cabo de toda a costa marítima espanhola, prepara-se agora, ao que parece, para rebentar de vez com o Algarve. Espero que os algarvios acordem a tempo e travem a corja que ameaça exportá-los para as degradantes periferias de Lisboa, Setúbal, Huelva e Sevilha. Não tenham dúvidas de que é a sorte que espera os vossos filhos, se não formos capazes de agir a tempo.

O ano passado visitei o horror de Ayamonte, a povoação andaluza vizinha de Vila Real de Santo António. A primeira coisa que vi foram bandos de prostitutas à entrada da povoação. Não me pareciam profissionais sofisticadas, mas antes pobre gente desempregada acudindo em desespero de causa à humilhação. Tinham o mesmo semblante envergonhado que há anos atrás encontrara no Vale do Ave num daqueles anos em que centenas de fábricas fecharam as suas portas. Claro que a "esquerda caviar" do PSOE, que é igual a toda a "esquerda caviar" europeia, i.e. neo-liberal, novo-riquista e aparvalhada, ignora estes pequenos detalhes da civilização e segue alegremente em frente na direcção do precipício social.

O dono de um simpático restaurante algarvio comentava os novos hotéis espanhóis de Olhos de Água: "Eles não compram cá nada! Nadinha mesmo. Até a água trazem de Espanha! É ver os camiões que chegam todas as manhãs ao parque do hotel: leite, pão, água, tomate, fruta, carne... e peixe espanhóis. Tudo espanhol! Uma vergonha. -- Vá lá a Espanha montar um restaurante ou um hotel, e veja se o deixam fazer o mesmo. É ó deixas!! Olhe o Marrachinho foi vendido aos franceses e o Ali-Super vai pelo mesmo caminho! Uma tristeza, sabe. Uma tristeza"

As previsões sempre optimistas do futuro turístico do Algarve esbarram numa realidade cada vez mais dura, que os pequenos políticos não querem ver: o declínio económico-social da Europa. O turismo de massas e o bem estar social foram inventados por causa e sobretudo para as classes médias. No entanto, estas estão a desaparecer rapidamente, tanto nos Estados Unidos, como na Europa, enquanto prometem emergir noutros continentes! Os célebres 150 mil postos de trabalho prometidos pelo "socialista" José Sócrates são empregos maioritariamente temporários, precários, socialmente desprotegidos e mal pagos, que vão substituir nas estatísticas do emprego os profissionais produtivos com anos de formação, e os especialistas, por uma nova espécie de estivadores intelectuais mal pagos, descartáveis e mendicantes. Ou seja, um proletariado novo, socialmente inconsciente (veremos por quanto tempo) e sem qualquer rede social ou sindical a segurá-los. Fantástico, não é? O mal formado engenheiro que faz de primeiro ministro ainda tem a lata de inaugurar "call centers"! O Salazar mandava os seus ministros inaugurar chafarizes. Sempre tinha alguma noção das proporções!

As economias ocidentais estão a transformar-se em economias de telefone, casinos financeiros e prostituição sofisticada (de que a classe política é uma sub-espécie em franco renascimento.) Vêm no entanto substituir empregos outrora úteis à sustentabilidade económica, social e ecológica das sociedades, razoavelmente bem pagos, estáveis e socialmente protegidos. Alguém ouviu o Bloco de "Esquerda" desmontar este truque de prestidigitação do Capitalismo decadente, que está a levar os EUA e a Europa à beira do colapso civilizacional? Não não ouviram! É que o Bloco aprendeu a ser um partido "responsável", rezando agora banalidades de "esquerda" do alto da sua frágil estabilidade parlamentar. Nunca pensaram muito na causa das coisas, mas agora menos. Do que mais gostam é mesmo viajar e exibir a sua ridícula maioridade política. Pobres diabos! Se Manuela Ferreira Leite continuar a dominar a agenda política como fez até agora -- investimentos prioritários para o país, questão social urgente e eficiência do Estado, nomeadamente na prevenção e punição do crime individual e organizado --, pondo o necessário ênfase numa visão clara e pro-activa dos interesses nacionais, sem cedências ao Bloco Central do Betão, e manobrando habilmente os poderes fáticos das grandes famílias (Espírito Santo, Mello e Cª), tenho poucas dúvidas de que a esquerda adormecida que actualmente hegemoniza o parlamento (sem deixar herança que se veja), passará à Oposição em 2009.

No Algarve, desliguei-me da Net. Faz parte da terapia. Mas ainda assim fui lendo a nossa indigente imprensa escrita. Ignorava que estava tão mal fornecida de assuntos, de verdadeiros jornalistas e de escritores. Que desgraça! Em tempos fazia a diferença para a desmiolada televisão. Hoje está mil vezes pior que a desmiolada televisão. Santa Net!

Regresso ao trabalho.



NOTAS
  1. Pode ser que a causa deste Verão esquisito esteja na actividade explosiva de alguns vulcões:
    Vulcão Okmok Caldera (Alasca, USA), 12 Julho 2008
    Vulcão Llaima, (Cherqunco, Chile), 10 Julho 2008
    Vulcão Chaiten (Patagónia, Chile), 02 Maio 2008
    Vulcão Soputan, Sulawesi (Indonésia) 6 Junho 2008
    Vulcão Rabaul, Kokopo (Papua Nova Guiné), 13 Abril 2008
    Vulcão Galeras (Colômbia) 18 Janeiro 2008

OAM 424 02-09-2008 00:32

quarta-feira, agosto 20, 2008

Angola 2

A caminho da democracia

Trinta e três anos de independência e oito de paz (embora com altíssimas taxas de criminalidade de origem sobretudo social) são dados que nos devem ajudar a pensar no futuro de um imenso país, sub-povoado, praticamente destruído por vinte sete anos de guerra civil, crescendo a uma taxa meteórica de 16% ao ano (ainda que o seu actual PIB não chegue a 40% do PIB português), mas presa inevitável da cobiça universal.

As riquezas naturais de Angola são o petróleo, o gás natural, os diamantes, o ferro, o ouro, o café, o algodão e um imenso território apto a receber no futuro as multinacionais agro-energéticas da era pós-petrolífera. A sua maior desvantagem reside na demografia e nas assimetrias antropológicas. A população é escassa para tamanho território e encontra-se profundamente dividida por linhas étnicas, culturais e sócio-económicas que a qualquer momento poderão voltar a submergir o país em dificuldades extremas.

Angola tem 1600 Km de costa atlântica e cinco bons portos que serão certamente ampliados ao longo deste século, por forma a dar escoamento ao caudal de matérias primas e biocombustíveis líquidos de que o resto do mundo precisa. Diria, portanto, que o maior problema deste jovem país a caminho da democracia, deriva menos do nepotismo e da corrupção de que tanto se fala nas "insuspeitas" democracias europeias, do que da ausência de uma percepção clarividente do futuro, no quadro potencialmente cismático da globalização.

O primeiro pensamento que me ocorre sobre o futuro de Angola é este: como estarão a sua economia e as suas populações daqui a 20-25 anos? Quando o mundo caminhar sobre novas plataformas energéticas, não petrolíferas, qual será a principal exportação de Angola? Estarão os angolanos a prever desde já os efeitos do pico petrolífero no seu país? Qual será o lugar da antiga colónia portuguesa na era pós-carbónica que se aproxima?

O mundo dependerá cada vez mais de energias renováveis baseadas em fórmulas avançadas de utilização do vento, do Sol, das ondas do mar, do Pinhão Manso (Jatropha curcas) e outras plantas não comestíveis, bem como do urânio e do tório que alimentará a próxima geração de reactores nucleares. Boa parte da produção eléctrica na segunda metade deste século terá origem, muito provavelmente, em tecnologias nucleares limpas e seguras.

Que lugar estratégico ocupará assim Angola no renovado contexto produtivo mundial? Quais serão as suas alianças dominantes? Ter-se-à deixado colonizar pela China, ou terá decidido, a determinado ponto da sua trajectória democrática, optar por uma estratégia claramente atlântica, privilegiando as suas ligações históricas ao Brasil, a Portugal e ao Golfo da Guiné? Quanto tempo demorará Angola a perceber que a sua posição é de facto central na definição de uma verdadeira potência lusófona? Norton de Matos havia sonhado, em 1912, com um novo império português com capital no Huambo. O mundo entretanto mudou, mas a geografia humana, felizmente, ainda não.

José Eduardo dos Santos, que não conheço, tem no decurso das eleições dos próximos dias 5 e 6 de Setembro uma oportunidade de ouro para lançar as bases institucionais e culturais da democracia angolana do século 21, peça chave de uma das zonas mais influentes do planeta -- o Atlântico --, e condição, não duvide o senhor Presidente, da sobrevivência e estabilidade a prazo do seu imenso país.

A unidade de Angola é um bem insofismável para si própria, para a África e para a prosperidade e segurança atlânticas, de que os povos irmãos de Portugal, Brasil, Guiné, Cabo-Verde e São Tomé e Príncipe (para não falar de Moçambique e até de Timor) saberão tirar o melhor partido, retribuindo pelo lado da cooperação e da solidariedade indefectíveis.

Nas vossas primeiras eleições verdadeiramente democráticas desejo-vos, como se diz por cá, uma boa hora !

OAM 423 20-08-2008 17:08

terça-feira, agosto 19, 2008

Portugal 44

Intensidade energética e declínio

A mais completa prova estatística de que a obsessão por auto-estradas e automóveis foi a pior escolha estratégica que Portugal alguma vez poderia ter feito está nesta insuspeita página da OCDE, de 17 de Abril de 2007.

Lendo com atenção este exaustivo repositório da OCDE sobre a intensidade energética (IE) da economia portuguesa conclui-se sem margem para dúvidas que temos vindo a piorar desde 1971 relativamente a todos os países do mundo, e não apenas face aos nossos parceiros da União Europeia.

Em todo o mundo, excepto Portugal, há um esforço visível para diminuir a intensidade energética das economias -- isto é, a quantidade de energia primária necessária para produzir uma unidade de Produto Interno Bruto (PIB). Brasileiros, holandeses, mexicanos, polacos, americanos ou chineses, todos, menos nós, procuram tornar as suas economias mais eficientes, começando, claro está, por racionalizar, em nome dos respectivos interesses nacionais, os seus sistemas de transportes, as suas matrizes energéticas e as suas políticas de endividamento público e privado. O caso lusitano, porém, é dramático e ridículo ao mesmo tempo.

Sem outra alternativa que não seja importar 90% da energia que consome, nenhum governo se lembrou até agora de poupar, a não ser na população activa, que alegremente exporta para Espanha, Reino Unido, Suiça, Noruega, etc., ou nos salários dos mais pobres e remediados. A proliferação de novos bairros de exclusão social e étnica, onde a violência cresce diariamente, vem aliás mostrar os resultados previsíveis de um desenvolvimento económico que em vez de ter apostado no crescimento consolidado dos recursos, das realizações e das expectativas, preferiu promover uma economia de clientelas, especulativa, informal, corrupta e irresponsável.

Nisto se perderam exactamente 33 preciosos anos. Agora, com a recessão americana e europeia a destruir boa parte dos expectáveis efeitos favoráveis do último quadro comunitário de apoio (2007-2013), e a aproximação vertiginosa dos efeitos catastróficos do pico petrolífero e do aquecimento global, que nos resta?

Para já, uma democracia distorcida e um país desamparado, cuja classe política, incapaz de pensar ou dizer o que pensa, pouco pode oferecer. Um punhado de jovens socialistas, verificada que foi a inutilidade da esperança depositada em Manuel Alegre, publicitou no Expresso a sua manifesta oposição à escandalosa desfiguração neoliberal do PS. Alberto João Jardim ensaiou, da pacata praia de Porto Santo, lançar um Grito do Ipiranga a favor de um partido nacional federalista (ou será que disse regionalista?), depois das próximas eleições para a Assembleia da República. São sinais claros do fim de um regime, ou pelos menos de um ciclo partidário cuja recomposição se fará no quadriénio 2009-2013, se não antes. A actual crise constitucional em volta das declarações de Carlos César e do populismo parlamentar dominante pode agravar-se. Se tal ocorrer, então teremos certamente mais partidos a disputar as legislativas de 2009. No fundo, ganhar-se-ia tempo, que é o bem mais escasso em épocas de crise.

Voltemos, para já, ao problema da falta de uma visão adequada à transição de paradigma energético em curso, e à falta de um modelo de mobilidade adequado às energias do futuro.

Em Portugal, os transportes levam 36% de toda a energia consumida. Por sua vez, 90% desta energia vai direitinha para o transporte rodoviário. Ou seja, dependemos completamente da evolução dos preços do petróleo. Como o preço deste verdadeiro ouro negro deverá continuar a subir a uma média de 30% ao ano, adivinham-se consequências trágicas para o nosso país no decorrer dos próximos anos.

As tão badaladas barragens hidroeléctricas, decididas única e exclusivamente para transferir mais riqueza nacional para os bolsos de alguns conglomerados energéticos privados, ainda que sob pretextos cândidos (contribuir para a independência energética de Portugal!), acrescentarão apenas uns ridículos 3% à capacidade própria de produção de energia eléctrica, em nada contribuindo, por isso, para resolver os problemas energéticos existentes e que irão levar-nos ao colapso económico e social se não houver uma inversão de 180 graus na estratégia energética até agora promovida pelo bloco central do betão. O boicote dos camionistas foi apenas um pequeno e honesto aviso aos débeis timoneiros que afirmam governar o país.

As novas barragens hidroeléctricas ameaçam equilíbrios ecológicos, eventuais indústrias de turismo residencial de qualidade, e a paisagem, contribuindo marginalmente (3%) para o aumento da produção energética nacional. Por outro lado, além de não criarem nenhum emprego estável local, destroem as economias existentes e provocam assinaláveis perdas na biodiversidade regional. Espero sinceramente que as populações e os políticos das zonas abrangidas acordem a tempo de evitar mais este atentado histórico às suas cada vez mais preciosas autonomias económicas, sociais e culturais.

As energias eólica e solar voltaica são uma boa decisão, mas é preciso ver quem faz o quê, como, por que preço e a favor de que dono. A tão propalada maior central solar do mundo, a da Amareleja, além de não ser tal quando estiver concluída, começou por ser uma iniciativa do alcaide de Moura, mas hoje é um negócio 100% pertencente à empresa espanhola ACCIONA, que por sua vez, para conseguir fornecer os necessários painéis foto-voltaicos a tempo, teve que os importar da China! Que falhou neste negócio? A banca portuguesa? A célebre classe empresarial lusitana? Ou simplesmente a pressa de Manuel Pinho? Alguém falou com os alemães (maior produtor europeu de energia foto-voltaica) sobre o assunto? Gostaria de saber.

O programa de eficiência energética em curso é uma boa ferramenta para mitigar o sério problema energético que se avizinha. No entanto, peca por tardio e por andar embrulhado numa teia burocrática ao serviço de clientelas partidárias e empresariais indígenas, obscura, trapalhona, e cujo resultado palpável é a execução lenta do mesmo.

Os biocombustíveis roubam terra arável necessária à produção de alimentos e não resolvem o problema da extrema dependência petrolífera dos transportes rodoviários. Além do mais, andam de mão dada com o lóbi nefasto dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM), imprescindíveis à rentabilidade das explorações agro-energéticas. Resumindo: os biocombustíveis não resolvem o problema energético de nenhum pequeno país e ameaçam a independência alimentar dos que os acolhem.

Mais auto-estradas, em vez das "autovías" que existem há muito em Espanha, apenas contribuirão para aumentar o insustentável fluxo de tráfego rodoviário existente, prejudicando decisivamente as possibilidades de o esforço orçamental do país ser reencaminhado para onde mais falta faz, menos nódoa ambiental causa, e é mais reprodutivo: o transporte ferroviário e o transporte marítimo-fluvial.

As cidades aeroportuárias e em geral a desmiolada política aeroportuária deste governo ficará bem patente quando José Sócrates inaugurar o novo aeroporto de Beja. A indústria aeronáutica está perante um verosímil cenário de colapso, do qual a TAP dificilmente se salvará. Ou seja, na dúvida, construir uma cidade aeroportuária e um novo aeroporto intercontinental em Lisboa para 2015 ou 2017, é daquelas decisões que qualquer político, mesmo idiota, adiaria para as calendas gregas. Vamos ver o que ocorre na aldeia lusitana.

Finalmente, em vez de TGVs (ou AVEs), do que precisamos é de um novo plano ferroviário urgente, pensado, desenhado e construído com pés e cabeça. O maior desafio de Portugal nos próximos 20 anos é este: FAZER A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA DE UMA TARDIA ECONOMIA DE CONSUMO PARA UMA NOVA ECONOMIA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL.


OAM 422 20-08-2008 01:40

sexta-feira, agosto 15, 2008

Eurasia adiada - 4

Guerra Fria?

15-08-2008. "Infelizmente, depois do que aconteceu, é improvável que os ossetianos e abecazes consigam viver dentro do mesmo Estado que os georgianos" -- Dmitry Medvedev (Estadao.com.br).

15-08-2008. "Esperamos que os responsáveis russos reconheçam que um futuro de cooperação e de paz será benéfico para todas as partes. A guerra fria terminou." -- George W. Bush (AFP).

15-08-2008. Poland has signed a preliminary deal with the US on plans to host part of its new missile defence shield. Under the agreement, the US will install 10 interceptor missiles at a base on the Baltic coast in return for help strengthening Polish air defences. -- BBC.
A probabilidade de um isolamento internacional da Rússia é quase nula (1) e tem uma explicação simples: o próximo maior mercado do mundo não se chamará Europa, nem Estados Unidos, mas Ásia -- e está a chegar!

O PIB da China, segundo Albert Keidel, ultrapassará o dos EUA em 2035 e duplicá-lo-á em 2050. Para atingir estas metas, Pequim conta naturalmente com o petróleo e o gás natural do Irão e do Mar Cáspio, para o que criou uma aliança alternativa à NATO, chamada The Shanghai Cooperation Organization (SCO), da qual fazem parte a China, a Rússia, o Cazaquistão, o Quirguistão, o Tajiquistão e o Uzbequistão. A Índia e o Irão são dois dos países observadores que em breve poderão juntar-se ao novo clube de milionários.

Entretanto, à hora que escrevo esta crónica, a orgulhosa China leva 12 medalhas de ouro olímpicas de vantagem sobre os Estados Unidos. Os símbolos contam!

Por sua vez, o preço do petróleo continuará a subir a uma média dificilmente inferior a 30% ao ano, apesar da queda pronunciada das últimas semanas (2). Isto significa que em Agosto de 2009 o barril de crude não deverá custar menos do que 144 USD, em Agosto de 2010, 187 USD, em Agosto de 2010, 243 USD, etc. Países como Portugal têm um futuro imediato bem difícil (3).

Até 2010, Estados Unidos e Europa andarão às voltas com as suas respectivas recessões, pouco dispostos a alimentar mais aventuras militares inconsequentes (4).

A probabilidade de uma paragem da globalização e subsequente divisão do mundo em dois hemisférios proteccionistas é pois mais alta do que estamos preparados para admitir neste momento. À medida que o casino dos chamados mercados de derivados começar a destruir a economia ocidental, a necessidade de um novo Tratado de Tordesilhas tornar-se-à evidente para todos.

Estados Unidos e Europa têm que mudar de vida quanto antes, tornando-se mais eficientes no uso da energia, menos consumistas e mais produtivos. Para aí chegar terão que abandonar alguns famosos instrumentos outrora cruciais ao seu exercício imperial, mas que já hoje são caros e irrelevantes, ou caminham para a falência: G8, FMI, Banco Mundial e Organização Mundial de Comércio. Para poder retomar a paridade estratégica que está a caminho de perder, Estados Unidos e Europa só dispõem de uma alternativa: voltar ao proteccionismo comercial, ainda que seguindo modelos selectivos, porventura originais.

A retórica americana e europeia sobre a Geórgia e a independência da Ossétia e da Abcácia não passa de uma terrível hipocrisia. Depois de tudo o que fizeram no Cosovo, no Afeganistão e no Iraque, e deixaram fazer na Palestina, depois do modo indecoroso como a União Europeia tolerou aos Estados Unidos toda a espécie de crimes (5), ou permitiu, sem um reparo, o acosso imperial permanente da Rússia pós-soviética, Washington e Bruxelas não têm qualquer autoridade para condenar a acção punitiva de Moscovo contra uma "democracia cor-de-rosa" que, na realidade, nada mais é do que um tentáculo dos Estados Unidos. Talvez por isto mesmo, Washington tenha tamanha dificuldade em engolir a ensaboadela que inesperadamente está a levar.

Tanto na Rússia, como na China, ou na Coreia, e não apenas, portanto, no vasto mundo muçulmano, cresce uma revolta surda contra os Estados Unidos. São sobretudo os mais jovens que protagonizam esta crescente hostilidade cultural. As suas acções de guerrilha electrónica revelam, aliás, o imenso potencial de crítica e agressividade em gestação.
Online grassroots communities have united and set up websites in Russian offering software available for download to initiate DDOS attacks. The Georgian government's website was hacked on Monday, with the front page replaced with images of Adolf Hitler. Georgian hackers have retaliated with their own cyber attacks on Russian websites, but as in the physical world they have been largely out-gunned and bloggers who have attempted to post photos of the advance of the Russian military machine have rapidly found their own websites under counter fire. -- Georgia under web fire. By Martin J Young, in Asia Times.
Numa palavra, a estratégia da supremacia imperial praticada pelos Estados Unidos faliu e só poderá dar desgostos a quem a seguir. A Europa de Leste foi entalada pela sua própria estupidez e pela falta de tino e capacidade de decisão da União Europeia. O cretinismo político dos polacos e dos checos conduziu ambos os países a um beco sem saída. Poderá Bruxelas fazer alguma coisa? Ou iremos, pelo contrário, assistir à implosão definitiva do Tratado de Lisboa? Durão Barroso, para já, está a banhos algures no Algarve. Eu também vou para lá, até ao fim do mês!

Deixo aos que me lêem, três leituras recomendáveis, a propósito da decadência irreversível dos paradigmas militares e diplomáticos da América.

Geopolitical Chess: Background to a Mini-war in the Caucasus. By Immanuel Wallerstein.

15-08-2008. It is perfectly true, as everyone observed at the time, that the Yalta rules were abrogated in 1989 and that the game between the United States and (as of 1991) Russia had changed radically. The major problem since then is that the United States misunderstood the new rules of the game. It proclaimed itself, and was proclaimed by many others, the lone superpower. In terms of chess rules, this was interpreted to mean that the United States was free to move about the chessboard as it saw fit, and in particular to transfer former Soviet pawns to its sphere of influence. Under Clinton, and even more spectacularly under George W. Bush, the United States proceeded to play the game this way.

There was only one problem with this: The United States was not the lone superpower; it was no longer even a superpower at all. The end of the Cold War meant that the United States had been demoted from being one of two superpowers to being one strong state in a truly multilateral distribution of real power in the interstate system. Many large countries were now able to play their own chess games without clearing their moves with one of the two erstwhile superpowers. And they began to do so. -- in Geopolitical Chess: Background to a Mini-war in the Caucasus, by Immanuel Wallerstein.

The Limits of Power: The End of American Exceptionalism. By Andrew Bacevich.

Iraq and Afghanistan remind us that war is not subject to reinvention, whatever Bush and Pentagon proponents of the so-called Revolution in Military Affairs may contend.

War's essential nature is fixed, permanent, intractable, and irrepressible. War's constant companions are uncertainty and risk. "War is the realm of chance," wrote the military theorist Carl von Clausewitz nearly two centuries ago. "No other human activity gives it greater scope: no other has such incessant and varied dealings with this intruder ... " - a judgment that the invention of the computer, the Internet, and precision-guided munitions has done nothing to overturn.

So the first lesson to be taken away from the Bush administration's two military adventures is simply this: War remains today what it has always been - elusive, untamed, costly, difficult to control, fraught with surprise, and sure to give rise to unexpected consequences. Only the truly demented will imagine otherwise.

The second lesson of Iraq and Afghanistan derives from the first. As has been the case throughout history, the utility of armed force remains finite. Even in the information age, to the extent that force "works", it does so with respect to a limited range of contingencies.

Although diehard supporters of the "war on terror" will insist otherwise, events in Iraq and Afghanistan have demonstrated definitively that further reliance on coercive methods will not enable the United States to achieve its objectives. Whether the actual aim is to democratize the Islamic world or subdue it, the military "option" is not the answer.

The Bush Doctrine itself provides the basis for a third lesson. For centuries, the Western moral tradition has categorically rejected the concept of preventive war. The events of 9/11 convinced some that this tradition no longer applied: old constraints had to give way. Yet our actual experience with preventive war suggests that, even setting moral considerations aside, to launch a war today to eliminate a danger that might pose a threat at some future date is just plain stupid. It doesn't work.

History has repeatedly demonstrated the irrationality of preventive war. If the world needed a further demonstration, Bush provided it. Iraq shows us why the Bush Doctrine was a bad idea in the first place and why its abrogation has become essential. For principled guidance in determining when the use of force is appropriate, the country should conform to the just war tradition - not only because that tradition is consistent with our professed moral values, but also because its provisions provide an eminently useful guide for sound statecraft.

Finally, there is a fourth lesson, relating to the formulation of strategy. The results of US policy in Iraq and Afghanistan suggest that in the upper echelons of the government and among the senior ranks of the officer corps, this has become a lost art.

Since the end of the Cold War, the tendency among civilians - with Bush a prime example - has been to confuse strategy with ideology. The president's freedom agenda, which supposedly provided a blueprint for how to prosecute the "war on terror", expressed grandiose aspirations without serious effort to assess the means required to achieve them. Meanwhile, ever since the Vietnam War ended, the tendency among military officers has been to confuse strategy with operations.

Here we come face-to-face with the essential dilemma with which the United States has unsuccessfully wrestled since the Soviets deprived us of a stabilizing adversary. The political elite that ought to bear the chief responsibility for crafting grand strategy instead nurses fantasies of either achieving permanent global hegemony or remaking the world in America's image. Meanwhile, the military elite that could puncture those fantasies and help restore a modicum of realism to US policy fixates on campaigns and battles, with generalship largely a business of organizing and coordinating materiel.

The four lessons of Iraq and Afghanistan boil down to this: Events have exposed as illusory American pretensions to having mastered war. Even today, war is hardly more subject to human control than the tides or the weather. Simply trying harder - investing ever larger sums in even more advanced technology, devising novel techniques, or even improving the quality of American generalship - will not enable the United States to evade that reality.

As measured by results achieved, the performance of the military since the end of the Cold War and especially since 9/11 has been unimpressive. This indifferent record of success leads some observers to argue that we need a bigger army or a different army.

But the problem lies less with the army that we have - a very fine one, which every citizen should wish to preserve - than with the requirements that we have imposed on our soldiers. Rather than expanding or reconfiguring that army, we need to treat it with the respect that it deserves. That means protecting it from further abuse of the sort that it has endured since 2001.

America doesn't need a bigger army. It needs a smaller - that is, more modest - foreign policy, one that assigns soldiers missions that are consistent with their capabilities. Modesty implies giving up on the illusions of grandeur to which the end of the Cold War and then 9/11 gave rise. It also means reining in the imperial presidents who expect the army to make good on those illusions. When it comes to supporting the troops, here lies the essence of a citizen's obligation.

-- Andrew Bacevich, professor of history and international relations at Boston University, retired from the US Army with the rank of colonel. This piece is adapted from his new book, The Limits of Power: The End of American Exceptionalism (Metropolitan Books, 2008). He is also the author of The New American Militarism, among other books. In Asia Times.


Second Chance
. By Zbigniew Brzezinski (actual conselheiro de Barak Obama...)

Given America's growing global indebtedness (it now borrows some 80 percent of the world's savings) and huge trade deficits, a major finantial crisis, especially in an atmosphere of emotionally charged and globally anti-American feeling, could have dire consequences for America's well-being and security. The euro is becoming a serious rival to the dollar and there is talk of an Asian counterpart to both (6). A hostile Asia and a self-absorbed Europe could at some point become less inclined to continue financing the U.S. debt.

(...)

At the onset of the global era, a dominant power has therefore no choice but to pursue a foreign policy that is truly globalist in spirit, content, and scope. Nothing could be worse for America, end eventually the world, than if American policy were universally viewed as arrogantly imperial in a postimperial age, mired in a colonial relapse in a postcolonial time, selfishly indifferent in the face of umprecendented global interdependence, and culturally self-righteous in a religiously diverse world. The crisis of American superpower would then become terminal.

-- in Second Chance: Three Presidents and the Crisis of American Superpower, 2007.



NOTAS
  1. Ou será que a China também poderá estar interessada numa nova "cortina de ferro" entre a Rússia e a Europa (Alemanha)? - Ler China seeks Caucasian crisis windfall.
  2. A subida repentina do preço do crude para níveis bem superiores às previsões mais pessimistas, ao longo da primeira metade de 2008, conduziu a uma espiral inflacionista, que apressou a esperada recessão americana e europeia e provocou depois uma inevitável, embora pontual, destruição da procura dos produtos petrolíferos. Sabendo-se o peso que a especulação tem tido nesta fuga precipitada do casino imobiliário para as matérias primas industriais e alimentares, percebe-se melhor o dramatismo das oscilações. O mundo, sobretudo a Europa e os Estados Unidos, estão metidos numa camisa de sete varas: a chegada, cada vez mais evidente, do pico petrolífero, empurra os preços da energia para cima; mas a espiral inflacionista das "commodities", por sua vez, arruína a economia, levando à quebra dezenas de bancos, milhares de empresas e milhões os orçamentos familiares. Ou seja, a primeira consequência previsível do pico petrolífero é o regresso, porventura em doses nunca sofridas, da estagflação.
    August 16 2008. "...our future affair with oil may be within an overall trend of declining supply and rising demand, with volatility of prices from the anxiety of the market in which demand surges higher over supply. But the prices will be intermittently buffeted up and down by the fluctuations of economic growth and its levels of fluctuating demand for oil. As investors vie for advantage, they too will aggravate the gyrating price trends." -- James Leigh, Rollercoaster of oil prices: between a rock and a hard place", Energy Bulletin.

  3. O bloco central do betão, protagonizado ao mais alto nível por António Vitorino ("socialista") e Ângelo Correia ("social-democrata"), está em guerra antecipada contra Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva. Mas são estes que vão ganhar a partida, sobretudo se tiverem, no momento certo, os generais com a inteligência táctica e a voz grossa necessárias para colocar nos eixos a clientela anafada que ao longo das últimas décadas se encarregou de colocar Portugal numa trajectória de falência potencial.
  4. Este meu optimismo deve ser moderado por outros pontos de vista, nomeadamente sobre a articulação entre o actual colapso da economia americana e a solução bélica proposta por alguns estrategas dos EUA (Republicanos e Democratas!) O bloqueio do Estreito de Ormuz será, segundo esta perspectiva, a fuga militar perfeita da aliança EUA-Reino Unido-França-Israel às presentes dificuldades económicas, e a resposta antecipada ao ascenso da China. Nesta perspectiva, a fabricada crise da Geórgia, serve apenas como manobra de diversão, para isolar a Rússia e preparar psicologicamente o Ocidente para o ataque em larga escala, em preparação, contra o Irão. Recomendo, a propósito, a leitura de dois artigos: Putin Walks into a Trap, de Mike Whitney, e Wag the Dog: How to Conceal Massive Economic Collapse, assinado por Ellen Brown.

    O de Mike Whitney começa assim:
    August 14, 2008. The American-armed and trained Georgian army swarmed into South Ossetia last Thursday, killing an estimated 2,000 civilians, sending 40,000 South Ossetians fleeing over the Russian border, and destroying much of the capital, Tskhinvali. The attack was unprovoked and took place a full 24 hours before even ONE Russian soldier set foot in South Ossetia. Nevertheless, the vast majority of Americans still believe that the Russian army invaded Georgian territory first. The BBC, AP, NPR, the New York Times and the rest of the establishment media has consistently and deliberately misled its readers into believing that the violence in South Ossetia was initiated by the Kremlin. Let's be clear, it wasn't. In truth, there is NO dispute about the facts except among the people who rely the western press for their information. Despite its steady loss of credibility, the corporate media continues to operate as the propaganda-arm of the Pentagon. -- in Global Research.

    Por sua vez, Ellen Brown escreve:
    The underlying problem is little discussed but impossible to repair – a one quadrillion dollar derivatives scheme that is now imploding. Banks everywhere are facing massive writeoffs, putting the whole banking system on the brink of collapse. Only public bailouts will save it, but they could bankrupt the nation. -- in Global Research.

  5. O Tribunal Penal Internacional (que os EUA não reconhecem, obviamente!) deveria ter colocado os Estados Unidos e meia Europa no banco dos réus a partir do momento em que o Iraque foi militarmente atacado, invadido e ocupado sem nenhum pretexto válido. Deveria ter emitido mandatos de captura contra o senhores Bush, Cheney e Rumsfeld, no momento em que o mundo teve conhecimento das torturas e humilhações infligidas na prisão militar americana de Abu Ghraib, no campo de concentração de Guantanamo (Cuba) ou nos recentemente divulgados campos de concentração americanos para jovens e crianças, em pleno Iraque (vídeo). No entanto, parece que o TPI não passa de mais uma instância impotente da justiça internacional, forte com os fracos, e fraca com os fortes.
  6. 17-08-2008. Mais cedo do que se esperava, aí está a internacionalização do Yuan. É a consequência directa da falência dos dois gigantes semi-estatais que seguravam os riscos bancários no casino imobiliário americano: Fannie Mae e Freddie Mac. Estes mamutes financeiros colapsaram (enquanto outros --Lehman Brothers, etc.-- vão na mesma direcção) e estão agora na unidade de cuidados intensivos da Casa Branca. Uma das maneiras de impedir a falência declarada é passar a factura aos consumidores americanos sob a forma de inflação, outra, é imprimir mais umas toneladas de dólares sem valor. Mas a que terá alguma credibilidade junto dos países ricos (China, Singapura, Rússia ou Emiratos Árabes Unidos) é a troca de uma parte da imensa dívida americana por pedaços de terra que se vejam: a Formosa, o Irão, ou o Tibete, por exemplo! Apesar do latir de Sarkozy, os europeus terão que abandonar de vez as suas revoluções cor-de-rosa falidas na antiga Europa de Leste, sob pena de mergulharem numa depressão sem fim. Ler estes 3 artigos: U.S. likely to recapitalize Fannie, Freddie (Reuters); Analysts expecting large loss from Lehman (Herald Tribune), e China mulls first offshore currency market The Finantial Express).

OAM 421 15-08-2008 19:02 (última actualização: 18-08-2008 13:40)

Portugal 43

Linha do Norte pode acelerar

"Green Train", da Bombardier, corre a 295 Km/h sobre carris convencionais e consome menos 20-30% de energia

August 7, 2008 — Berlin.Banverket, the Swedish Railway Administration and Bombardier Transportation, together with other partners today presented the results of their Gröna Tåget (“Green Train”) project at a test ride between Västerås and Stockholm.

... Using a BOMBARDIER REGINA train, the rail vehicle research program is aimed at developing a new generation of high speed trains that meet the special technical and traffic requirements in the Nordic Countries. The Gröna Tåget is also unique in that it is equipped with components of the new BOMBARDIER ECO4 technologies that maximise total train performance and energy efficient operation.

Per Kyhle, Senior Technical Strategist Banverket, commented: “The main aims of the project are to achieve 20 to 30 per cent less energy consumption, reduce travel times and achieve fewer operational costs. We also want to operate as fast and efficiently as possible using the present infrastructure, which often means sharing single tracks with cargo and regional trains. The tests have proven that these aims are realistic. We have made significant progress in enhancing the competitiveness of rail compared to other modes of transportation.” -- in Bombardier website.

Num país pobre, antes de nos pormos a deitar dinheiro que não é nosso à rua, devemos tirar o maior partido do que há. No caso da ligação ferroviária rápida entre Lisboa e Porto, seguramente a mais movimentada do país, e que assim continuará a ser por muitos e bons anos, o que há a fazer imediatamente é terminar as obras de melhoria da linha, há mais de uma década em curso, possibilitando ao actual Alfa percorrer a distância entre as duas maiores cidades do país em menos de 2 horas. Por outro lado, como faltam comboios para dar resposta a uma demanda que não pára de crescer, por efeito do pico petrolífero, mas também das consciências que começaram a mudar, talvez fosse bom estudar a nova solução da Bombardier. Parece mais barata, muito mais barata, do que o Power Point da nova linha de Alta Velocidade entre Lisboa e o Porto, além de poder responder em tempo à pressão da procura.

Só de pensar que os nossos inteligentes governantes correram com esta empresa canadiana de ponta do nosso país, fico furioso!

OAM 420 15-08-2008 02:57

quinta-feira, agosto 14, 2008

Eurasia adiada - 3

Afinal, um Irão nuclear até dava jeito!
Jul 30, 2008
Russia takes control of Turkmen (world?) gas
By M K Bhadrakumar

From the details coming out of Ashgabat in Turkmenistan and Moscow over the weekend, it is apparent that the great game over Caspian energy has taken a dramatic turn. In the geopolitics of energy security, nothing like this has happened before. The United States has suffered a huge defeat in the race for Caspian gas. The question now is how much longer Washington could afford to keep Iran out of the energy market.

Gazprom, Russia's energy leviathan, signed two major agreements in Ashgabat on Friday outlining a new scheme for purchase of Turkmen gas. The first one elaborates the price formation principles that will be guiding the Russian gas purchase from Turkmenistan during the next 20-year period. -- in Asia Times.

Este artigo é particularmente oportuno para entender a crise militar, ou melhor, a guerra em curso na Geórgia e na Ossétia do Sul. Eu escrevera já que o braço de ferro no Médio Oriente e no Mar Cáspio, tal como as guerras no Afeganistão e no Iraque, ou a ameaça ao Irão, têm única e exclusivamente que ver com as reservas estratégicas de petróleo e gás natural existentes naquela vasta região.

Ao contrário do que pensam Nuno Rogeiro e muitos outros comentadores de televisão mal preparados, os jogos de estratégia não são passatempos para jornalistas e jogadores de Playstation, mas instrumentos complexos destinados a obter resultados práticos de política nacional. No caso, e pelo menos desde o princípio do século 20, a definição dos poderes dominantes mundiais fez-se essencialmente à custa do domínio militar das principais zonas petrolíferas do planeta e respectivas rotas de acesso. O Grande Jogo, há muito proposto por Brzezinski, não fala de outra coisa, ainda que sob a capa da integração pacífica da Rússia numa Eurásia pró-atlântica e pró-americana com o seu centro de gravidade na Europa Ocidental.

Perante o ascenso da China e da Ásia em geral, a visão do polaco-americano faz sentido.

Só que a realização efectiva de um tal desiderato pressupõe a existência de uma verdadeira Europa, cujo vórtice não poderá deixar de estar no eixo Paris-Berlim, ainda que secundado por um reforçada aliança atlântica, protagonizada, do lado europeu, por países como o Reino Unido, Espanha e Portugal. Os neo-cons, por julgarem poder operar toda a estratégia a partir e no interesse exclusivo de Washington, dispensaram e sabotaram mesmo a União Europeia, usando o Reino Unido como seu cão de fila, e Javier Solana, espécie de cadáver adiado do Tratado de Lisboa, como proxy dissimulado das suas intenções.

Há quem lute ainda pela Agenda de Lisboa. Mas a lentidão do processo é tal, que corre o risco de implodir perante o relógio da História. Paradoxalmente, o artigo de Bhadrakumar permite extrair uma ilação imprevista: seria agora do interesse da Europa Ocidental e dos próprios Estados Unidos recuperar o Irão para sua órbita de simpatia. Aliás, é do interesse europeu e americano, não apenas permitir, como mesmo estimular a rápida transformação do Irão numa potência nuclear, desde que, ao mesmo tempo, claro, a Europa se decida de uma vez por todas a desenvolver um sistema de forças adequado ao século 21!

Este debate foi aberto no grupo Democracia Virtual por JMS. Se estiver interessado em aprofundar a discussão, bata à porta do grupo de discussão. Se vem por bem, será bem-vindo ;-)


OAM 419 14-08-2008 12:55

Portugal 42

Factos consumados de uma visão corrupta da política
Metro: prolongamento da Amadora-Este à Reboleira
O novo troço da Linha Azul do metro de Lisboa irá servir cerca de quatro milhões de passageiros, num investimento de 58 milhões de euros para a construção de 595 metros de linha e que hoje foi assinado com o consórcio da Zagope, Soares da Costa, Teixeira Duarte e Tâmega. -- in Jornal de Negócios.
A Linha de Metro anunciada vai custar em média 100 milhões de euros (20 milhões de contos) por Km! Na vizinha Espanha, em Madrid, o preço médio de construção de uma linha de metropolitano é de 30 milhões de euros (6 milhões de contos antigos) por Km, ou seja, 3 vezes mais barato!

As empresas espanholas constroem pois 3 vezes mais barato, apesar de os salários mínimo e médio espanhóis estarem 40 e 38% acima dos vencimentos portugueses. É por estas e por outras que há dezenas de milhar de portugueses a fugir para Espanha, enquanto os anémicos empresários portugueses e a corrupta clientela partidária que temos se queixam de não ganhar nenhum concurso nas terras de Cervantes.

Todos se devem ainda lembrar da figura triste que o antigo presidente Jorge Sampaio fez em Madrid, chorando pela abertura do mercado espanhol aos portugueses. Está aberto! Quem quiser trabalhar e investir, não terá problemas. Quem quiser apenas reproduzir esquemas grosseiros de delapidação dos impostos pagos em democracia, terá que fazer um upgrade sobre tráfico de influências! Onde há transparência administrativa e tribunais a funcionar, esquemas como o agora apresentado pela senhora Ana Paula Vitorino seriam imediatamente escrutinados até à exaustão.

OAM 418 14-08-2008 12:12