terça-feira, dezembro 21, 2010

2013-2015

Um casamento inseparável
Apesar dos amuos e setas atiradas, são inseparáveis.

Mesmo que o país seja forçado a declarar falência e a reestruturar a sua dívida pública, mesmo que o FMI e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira, de braço dado, desembarquem na Portela e se instalem no Pestana Palace durante três anos, mesmo que o desemprego chegue aos 20% e os vencimentos da administração pública sejam congelados até ao fim da legislatura, mesmo que a indignação e violência sociais desçam às ruas, mesmo que..., aposto que José Sócrates levará o seu mandato até ao fim.

Só uma dissolução do parlamento poderia interromper o curso desta malfadada história portuguesa. Mas a quem interessaria tal decisão? A Cavaco Silva reeleito, para quê? Só se fosse para colocar o Passos de Coelho no lugar de Sócrates. Mas este cenário é a última coisa que interessa ao actual e futuro presidente da república! Com Sócrates, tudo o que correr mal, é com o PS e com Sócrates. Com Passos de Coelho, que Cavaco sempre desprezou (um cábula que se arrastou demasiado tempo pelas esquinas do sombrio aparelho laranja, à espera de um vazio de poder), tudo o que corresse mal cairia em cima do novo primeiro ministro, em cima do PSD, mas também em cima de Cavaco Silva. Só um masoquista iria por este caminho. Nunca um frio homem de carreira como reconhecidamente é o actual e futuro presidente Cavaco Silva. Além do mais, como pateticamente reconheceu o actual líder parlamentar laranja ao Expresso de Sábado passado, o PSD ainda não está preparado para ser governo.

Não está, nem estará! E a explicação é esta: assim como Mário Soares destruiu o PS, deixando-o degradar-se até à condição de um mero aparelho partidário, habitado por sombras, pequenas ambições, desgraçados à procura de emprego, e piratas, de onde a mais leve manifestação de inteligência e criatividade é imediatamente capturada para fins práticos, ou desligada do sistema, também Cavaco Silva destruiu o PSD, lançando sobre aquela imensa federação de autarcas sem história, nem futuro, e os cortesãos de Lisboa e Porto, o estigma de uma quase insuperável anestesia mental. Só esquecendo estes dois grandes vultos da recente e desgraçada história portuguesa, os dois maiores partidos portugueses —os únicos a quem o povo entrega as rédeas do poder— poderão ressuscitar. Quer dizer, só depois de 2015, quando a partida de Cavaco encerrar de vez um grande ciclo de expansão e declínio da nossa História, assistiremos ao colapso e eventual renascimento do actual e caduco sistema partidário.

O ciclo histórico que começa em 1415, com a conquista de Ceuta, termina simbolicamente depois do último grande Quadro Comunitário de Apoio da União Europeia, em 2013, e no fim do segundo mandato de Cavaco Silva, em 2015, ano em que Portugal figurará nas estatísticas como o país mais pobre de toda a União Europeia. Só então teremos mesmo batido no fundo. Os protagonistas principais deste naufrágio são conhecidos: José Sócrates e Aníbal Cavaco Silva. A gente do CDS-PP, PCP e Bloco de Esquerda, apesar das responsabilidades que também tiveram, é irrelevante para o desfecho.

A primeira candidatura de Manuel Alegre à presidência da república foi um oportunidade perdida para antecipar a inevitável reestruturação do corrupto e inoperante quadro partidário que temos. Como perdida foi a oportunidade de recompor o centro-direita e a direita do espectro partidário português quando Manuela Ferreira Leite ascendeu ao topo directivo do PPD-PSD. À época defendi que teria sido útil ao país partir os dois maiores partidos do imprestável sistema rotativo que temos em quatro.

A ala socialista do PS deixava o aparelho, há muito capturado pela tríade de Macau, entregue aos piratas, e conquistava o Bloco de Esquerda e parte o PEV para a formação de um novo partido socialista, capaz de incorporar e desenvolver os novos pensamentos políticos em formação, fruto da necessidade urgente de abordar de forma transparente e corajosa aquilo a que se vem chamando desde 1968, A Tragédia dos Comuns. O PS restante acabaria por entrar em colapso, pelo menos parcialmente, e em dois actos eleitorais (o que já passou e o que vai ocorrer em Janeiro próximo) ter-se-ia enfraquecido mortalmente a tríade de Macau, e reduzido substancialmente a capacidade de captura que as clientelas económico-financeiras do poder exercem sobre os dois principais partidos.

No PSD teria sido útil uma separação de águas entre Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite, isto é, entre o PPD e o PSD. O partido urbano de barões, baronetes e cortesãs que é o PSD continuaria na Lapa, mas o PPD do campo, das vilas e aldeias, dos pequenos proprietários agrícolas e empresários industriais que têm ainda algo de seu, duros de roer, muitos deles de fibra bem republicana e até anti-clerical (era assim o meu avô), sairia a terreiro reivindicando aquilo que Paulo Portas só sabe e pode fazer em falsete. Há muito abandonado pela democracia dos corredores, este PPD tem e terá cada vez mais vontade de se fazer representar no parlamento. Vai ser provavelmente necessário esperar por alguém que não se deixe seduzir pela sereias do nepotismo clientelar. Como disse, alguém que não precise, que tenha algo de seu, histórico, familiar e inalienável.

Nada disto aconteceu, e agora resta-nos esperar pela implosão do sistema. Como não creio que a Alemanha perca de novo a cabeça, perdendo de novo a Europa, a União lá irá andando aos solavancos, entre americanos falidos, russos corruptos e chineses ansiosos. Só por isso não teremos de novo os militares na rua, outro golpe de Estado, ou uma revolução.

O actual PSD de Passos de Coelho não é nada. E por ser coisa nenhuma, o eleitorado português, por mais enojado que esteja com o Pinóquio que duas vezes elegeu para primeiro ministro, deixá-lo-à desgovernar Portugal até 2013, em matrimónio inseparável com o imprestável reCavaco.


POST SCRIPTUM

(23 dez 2010 17:11) O "i" de hoje transmite a opinião de Eduardo Catroga sobre a necessidade de remover Sócrates e o PS do poder. Mas onde obteve o "i" a opinião do douto negociador? Não diz....
Pois eu acho que, dada a urgência na disseminação do argumento, é uma resposta a este post ;)
Se o FMI vier... diz Catroga....
Mas o FMI já cá está! Além do mais, demonizar o FMI é uma estratégia sem futuro: primeiro porque António Borges (do PSD) é o BOSS europeu do Fundo; e depois, porque o director executivo do FMI é um socialista francês, que o PSF quer apoiar na próxima corrida presidencial, contra Sarkozy. Logo, este argumento não pega. Como se faltasse algo para ser espúrio, recorde-se ainda que o reCavaco ainda há dois dias disse para quem quisesse ouvir que ele conhece muito bem o FMI — pois trabalhou para o dito -- ou seja, reeleito, será um mediador vigilante das negociações.

(22 dez 2010 20:38) Excluo da aposta feita neste Post duas possibilidades: a de uma moção de confiança por iniciativa de Sócrates, e a de uma moção de censura proposta seja por que partido for. A primeira, por razões óbvias, conhecendo a personagem; e a segunda, porque se for de iniciativa do PSD ou do CDS, a "esquerda" votará contra a "direita", e não antevejo nenhuma iniciativa do PCP, ou do Bloco, no sentido de derrubarem Sócrates. Quem tomar a iniciativa de propor uma moção de censura desaparecerá do mapa eleitoral, ou mergulhará o respectivo partido (derrotado na própria iniciativa) em convulsão interna. Assim sendo, os sequiosos autarcas falidos do PSD terão que esperar... por 2013... pelo menos!

domingo, dezembro 19, 2010

2011

Classes médias de todo o mundo, uni-vos!
O ano de 2011 vai ser péssimo, e em 2012 a Europa poderá colapsar

Camilla Parker-Bowles e Príncipe Carlos atacados por estudantes, em Londres

A declaração do "estado de alarma" em Espanha, o ataque ao carro onde seguiam Camilla Parker-Bowles e o Príncipe Carlos de Inglaterra, e a multiplicação em cadeia de protestos violentos em várias cidades europeias, são sinais claros de que dificilmente evitaremos o colapso económico e financeiro das economias ocidentais, em curso desde 2007, mas cujos efeitos mais catastróficos só serão sentidos no decurso dos próximos anos, e por um período de duração imprevisível.

Desejo a todos um feliz Natal, e faço votos de um próspero Ano Novo. Mas seria irresponsável se não alertasse os meus leitores para a gravidade da situação económica, financeira e política actual, que o ano de 2011 irá muito provavelmente agravar até níveis que não queremos sequer imaginar.

As medidas governamentais dos vários estados europeus, que em nome da salvação de um sistema financeiro corrupto, sobre-endividado e à beira da falência, desenham afinal aquela que poderá ser a maior expropriação fiscal simultânea dos povos europeus de que há memória, e a primeira tentativa de destruir literalmente a classe média pela via de decisões levadas a cabo por instâncias sem legitimação democrática suficiente, e sem qualquer consulta democrática às vítimas da espoliação anunciada, irão inevitavelmente esbarrar com uma resistência social, política e cultural de massas, crescente, sofisticada, e a prazo tão brutal quanto a brutalidade do saque que as nomenclaturas político-partidárias e financeiras aliadas decidiram desencadear contra os povos europeus em nome de uma globalização falida e insustentável. A alternativa não estará certamente nas velhas receitas das burocracias de esquerda instaladas, tão responsáveis quanto os partidos centristas de direita ou social-democratas, pelo estado de degradação a que chegaram as democracias ocidentais. Onde estará, então?

Antes de ver as saídas para esta verdadeira crise sistémica do Capitalismo, teremos que reconhecer os verdadeiros problemas que enfrentamos. E são, no essencial, três — dois que afectam estruturalmente o futuro da humanidade, e um que diz respeito sobretudo a uma alteração dramática da divisão internacional do trabalho.

O primeiro problema, provavelmente sem saída, é o da escassez progressiva de recursos energéticos relativamente baratos, baseados no carvão, no petróleo e no gás natural. A produção per capita de petróleo tem vindo a cair desde 1970, e a capacidade de produção mundial de petróleo barato esgotou-se, segundo a própria Agência Internacional de Energia, em 2006 (Does Peak Oil Even Matter? by David Murphy).

O segundo problema, provavelmente sem saída, é do escassez progressiva dos recursos alimentares, cuja produção para uma população mundial à beira dos sete mil milhões de almas é impossível de conseguir sem o recurso a adubos, pesticidas, máquinas e tecnologias, nomeadamente de transporte, que dependem criticamente dos combustíveis líquidos de origem petrolífera, ou do gás natural. A produção per capita de cereais, por exemplo, tem vindo a decair desde o princípio da década de 1980. A recente escassez de açúcar nas prateleiras dos supermercados, ou a subida dos preços do café, na sequência de colheitas menos generosas, para além dos movimentos especulativos que inevitavelmente desencadeiam, são sintomas claros, não apenas de uma inflação imparável, mas de verdadeiras crises de abastecimento e do espectro inevitável do racionamento que num futuro próximo afectará a distribuição dos bens de consumo essencial.

Estes dois picos produtivos, por si sós, condenam a população humana mundial a uma paragem, seguida de inversão, do crescimento exponencial de que foi capaz ao longo dos últimos 200 anos. Infelizmente, os cenários conhecidos desde 1972 a este propósito (nomeadamente, Limits to Growth) são em geral catastróficos, antevendo uma queda abrupta da população mundial no intervalo entre 2030 e 2050, certamente longe do cenário optimista das previsões da ONU, que situam a população mundial em 2050 na casa dos 9 mil milhões de seres humanos.

O terceiro problema fundamental que, somado aos dois anteriores, está na origem do actual pandemónio económico, financeiro e social, é o fim de uma era de desenvolvimento económico, tecnológico, social e cultural, cujos pressupostos históricos remontam ao início da expansão ultramarina da Europa, e que podemos situar exactamente no ano de 1415 — data da conquista da cidade de Ceuta pelas tropas portuguesas, galegas, biscainhas e inglesas, comandadas por João I de Portugal. Foi a partir de Ceuta que a Europa pós-medieval iniciou o grande ciclo da globalização, colocando-se rapidamente no topo da cadeia alimentar e na vanguarda do desenvolvimento tecnológico mundial. Sem o domínio militar dos pontos estratégicos do planeta, sem a afirmação imperial, sem a subjugação de nações e povos inteiros, sem a colonização secular de vastas regiões do planeta, e provavelmente sem o Capitalismo laico e liberal, a Europa jamais teria acumulado a riqueza suficiente que lhe permitiu libertar o tempo, as pessoas e os recursos que estiveram na origem da Revolução Industrial e da Modernidade Cultural que nos trouxe até aqui.

Acontece, porém, que as mesmíssimas dinâmicas que estiveram na origem do desenvolvimento tecnológico e da acumulação capitalista da Europa ocidental, acabaria por gerar as condições de libertação dos povos e nações subjugadas pelo Colonialismo —um processo longo, cujo desenlace acabaria por ter lugar entre a criação da OPEP, em 1960, e a formação da SCO (Shanghai Cooperation Organization) em 2001, depois das sucessivas aproximações estratégicas iniciadas pela China em 1996 (The Shanghai Five) e que culminaria na formalização de uma aliança militar estratégica em Junho de 2001, integrando numa mesma aliança China, Casaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzebequistão. O número de países entretanto atraídos por esta iniciativa não cessa de aumentar: Bielorússia, Arménia, Moldávia, Ucrânia, Afeganistão, Irão, Paquistão, Índia, Mongólia, Sri Lanka, Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Brunei, Burma (Myanmar), Camboja, Laos, e Vietname. A chacina de 11 de Setembro ocorreu três meses depois da formalização do SCO. E em resposta ao misterioso ataque do misterioso Bin Laden, montou-se a grande guerra assimétrica mundial contra o terrorismo, palco e pretexto para a invasão, ocupação e saque do Iraque, e para o cerco ao Irão. Coincidências? Nos jogos de poder não há coincidências!

O resultado desta derradeira vaga bélica do Ocidente em defesa de privilégios inaceitáveis e impossíveis de manter, numa espécie de tentativa desesperada para segurar um império de areia, saldou-se, está a saldar-se, num fiasco monumental, não apenas militar e estratégico, mas sobretudo económico e financeiro! O resultado hoje evidente da aventura militar pós-colonial do Ocidente europeu e norte-americano é a bancarrota iminente dos Estados Unidos da América, do Reino Unido, e de uma série de países da União Europeia. Se o USD não fosse ainda, para mal de quem os tem, uma moeda de reserva mundial, já americanos e ingleses tinham ido ao tapete, ou tentado lançar o mundo numa guerra terminal. Assim são as mentes doentias que comandam estes impérios em ruína!


Que fazer?

As opções são dramaticamente limitadas, e implicam no mínimo uma racionalização forçada à escala planetária dos recursos disponíveis. Mas será possível atingir este objectivo? Quem está disposto a prescindir de bens, facilidades e privilégios em nome de uma espécie de pobreza generalizada? Só mesmo os que já são pobres! Os demais lutarão com tudo o que tiverem à mão pelos direitos adquiridos. E se isto é verdade à escala do indivíduo, não é menos à escala dos países e alianças de países — sobretudo, e paradoxalmente, nas democracias! Ou seja, uma das fugas possíveis à tragédia dos comuns é a iminência de uma guerra global pelos recursos energéticos e naturais. E porque alguns dos actores mundiais estão efectivamente falidos, não podendo pois competir pelos ditos recursos numa base económica convencional, em caso de pressão externa insuportável, poderão deixar-se tentar e rasgar as convenções da ordem financeira mundial, renunciando ao pagamento das dívidas, seja através de uma reestruturação fraudulenta das mesmas, seja colocando os contadores electrónicos do casino mundial das finanças a zeros. A consequência duma tal atitude aventureira será inexoravelmente uma escalada bélica irreversível e a guerra.

O crescimento dos salários, e o aumento progressivo dos benefícios sociais e das regras de segurança no trabalho, ao longo de décadas, potenciaram dois fenómenos que a prazo condenariam as sociedades dos Estados Unidos e da Europa ocidental a uma espécie de fim do trabalho: a substituição do labor humano pela rotina das máquinas, e a fuga de capitais em busca de mão-de-obra barata, tornada possível e apetecível à medida que os governos foram destruindo as barreiras alfandegárias que outrora filtravam e taxavam a circulação do dinheiro e das mercadorias. A exportação literal das economias dos países ricos e poderosos da América do norte e da Europa ocidental para as regiões e países ricos em matérias primas ou trabalho baratos, ocorrida nos últimos trinta anos, em grande medida graças à abundância de petróleo barato (apesar da crise de 1973-74), conduziu a uma alteração radical da divisão mundial do trabalho, com implicações dramáticas nas balanças comerciais e de pagamentos dos principais países produtores e consumidores de bens transformados. As novas economias emergentes especializaram-se na produção de bens transaccionáveis, e as velhas economias industriais especializaram-se, por sua vez, na produção de bens virtuais e serviços, no consumo irracional e no endividamento. O desastre teria fatalmente que ocorrer um dia.

Se nada se fizer, o equilíbrio regressará pela via dos impactos catastróficos dos aumentos imparáveis dos preços da energia, dos transportes, das matérias primas, e dos bens de consumo essenciais. No entanto, para evitar um ajustamento trágico das economias dos vários cantos do planeta, é possível, e sobretudo desejável, regressar a formas razoáveis de proteccionismo das economias regionais e nacionais. Seria mais racional, justo e eficiente do que deixar a guerra financeira mundial actualmente em curso seguir o seu perigoso curso de insensibilidade e ganância.

Mas para aqui chegarmos será preciso mudar de políticas e de políticos, rapidamente. A captura dos principais governantes e políticos europeus e americanos pelas hienas do sector financeiro impede fundamentalmente a recuperação de qualquer racionalidade no sistema. A racionalidade dos mercados é uma racionalidade especulativa, incompatível com o interesse público. Nem sequer serve os interesses estratégicos dos países onde se instalam, ao contrário do que sucede nas economias emergentes, onde a direcção estratégica da economia continua a ser essencialmente política. Entregues, como estamos, a sistemas piramidais de especulação e endividamento crónico, sem produção, nem trabalho, Estados Unidos, Inglaterra e União Europeia estarão em breve num beco sem saída e à beira de revoluções sociais e políticas imprevisíveis, súbitas e com uma capacidade desconstrutiva sem paralelo. A acção monumental da Wikileaks foi provavelmente o primeiro aperitivo da imaginação revolucionária insuspeitada da classe média no momento da revolução por vir. Talvez seja isto mesmo que precisamos. Classes médias de todo mundo, uni-vos!


REFERÊNCIAS

As notícias dos últimos dias mostram duas realidades preocupantes: nem a  China, nem os mercados especulativos ocidentais, compram as manhas retóricas dos governos europeus em volta da crise das dívidas soberanas. Por outro lado, Basileia informa o mundo que a fragilidade bancária da Europa e dos Estados Unidos é bem mais séria do que parece. Antes de 2019, os bancos destas regiões do planeta não estarão em posição de se recapitalizarem!

Chinese credit rating firm Dagong Global gives Ireland BBB for sovereign debt credit rating
People's Daily Online, December 06, 2010

Chinese credit rating firm Dagong Global Credit Rating assessed the sovereign credit rating of Ireland at BBB in its third sovereign or regional credit rating report released Monday.

Dagong's credit rating of Ireland is lower than that given by Moody's, Standard and Poor's and Fitch.


Mercados financeiros não dão tréguas
Jorge Nascimento Rodrigues, Sábado, 18 de Dezembro de 2010, Expresso online.

O impacto da Cimeira dos 27 em Bruxelas foi nulo. Risco de default e juros no mercado secundário continuam a subir nos países em apuros da zona euro. Várias commodities estão com disparos de preços. Café, esta semana, atingiu um valor que não se verificava há 13 anos


Ireland's credit rating slashed five notches
Guardian.co.uk, Friday 17 December

Moody's had previously rated Ireland as AA2 – the third highest level. Today's downgrade to BAA1 leaves its sovereign credit rating just three places above "junk status", and follows a similar move by fellow ratings agency Fitch last week.


Basel Would Have Left Banks With $797 Billion Capital Shortfall
By Jim Brunsden - Dec 16, 2010, Bloomberg

Basel bank regulators said rules on capital requirements would have forced financial institutions to raise 602 billion euros ($797 billion) of capital had they been in place at the end of last year.

Lenders would also have had a 2.89 trillion-euro shortfall in the funds needed to guard against a run on deposits had the planned Basel Committee on Banking Supervision’s rules been in place at the start of 2010, the panel said in a statement on its website today. The committee agreed in July to phase in the capital and liquidity rules by 2019 in a bid to mitigate their effect on banks emerging from the credit crisis.


Global systemic crisis: Second half of 2011 - Explosion of the Western public debt bubble
Global Europe Anticipation Bulletin (GEAB #50) - Dec 16, 2010.

The second half of 2011 will mark the point in time when all the world’s financial operators will finally understand that the West will not repay in full a significant portion of the loans advanced over the last two decades.

For LEAP/E2020 it is, in effect, around October 2011, due to the plunge of a large number of US cities and states into an inextricable financial situation following the end of the federal funding of their deficits, whilst Europe will face a very significant debt refinancing requirement, that this explosive situation will be fully revealed. Media escalation of the European crisis regarding sovereign debt of Euroland’s peripheral countries will have created the favourable context for such an explosion, of which the US “Muni” market incidentally has just given a foretaste in November 2010 (as our team anticipated last June in GEAB No. 46) with a mini-crash that saw all the year’s gains go up in smoke in a few days. This time this crash (including the failure of the monoline reinsurer Ambac) took place discreetly since the Anglo-Saxon media machine succeeded in focusing world attention on a further episode of the fantasy sitcom "The end of the Euro, or the financial remake of Swine fever". Yet the contemporaneous shocks in the United States and Europe make for a very disturbing set-up comparable, according to our team, to the "Bear Stearn" crash which preceded Lehman Brothers’ bankruptcy and the collapse of Wall Street in September 2008 by eight months. But the GEAB readers know very well that major crashes rarely make headlines in the media several months in advance, so false alarms are customary! — in GEAB #50, December 2010.


Market alarm as US fails to control biggest debt in history
By Liam Halligan - Dec  11,  2010

US Treasuries last week suffered their biggest two-day sell-off since the collapse of Lehman Brothers in September 2008. The borrowing costs of the government of the world’s largest economy have now risen by a quarter over the past four weeks.

(…) While the UK isn’t ensnared in monetary union, gilt yields have also spiralled 18pc since the start of November – to 3.55pc. British Government debt is officially £1.05 trillion. We are fast approaching a debt-to-GDP ratio of 100pc, compared to 30pc just a decade ago. If you add off-balance-sheet liabilities to Government estimates, including the bank bail-outs which disgracefully remain “off the books”, the UK already owes more than an entire year’s national income. In the medium-term, this is surely incompatible with a Triple AAA credit rating.  — in The Telegraph.

ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 19 dez 2010 22:47

sábado, dezembro 11, 2010

Metamorfose ou barbárie

Ver quadro ampliado
A fome veio para ficar, e poderá levar à morte e a um decréscimo demográfico na ordem dos 2,5 mil milhões de pessoas até 2050

Antes de voltar ao tema da nova rede ferroviária de "bitola europeia" (UIC) em Portugal, e à importância da interoperabilidade em qualquer estratégia actualizada de mobilidade multi-modal de pessoas e mercadorias, explicando pela enésima vez que a construção de um novo aeroporto internacional em Alcochete não passa de uma fuga em frente do clientelar modelo económico-financeiro que levou Portugal à bancarrota —o que farei no próximo artigo— retomo o célebre tema dos limites do crescimento, do não menos célebre relatório de Dennis L. Meadows, Donella H. Meadow e Jørgen Randers —Limits to Growth (1972)—, a partir de três recentes contribuições sobre o tema: 

By Tom Whipple  
Wednesday, December 08 2010 01:50:22 PM

In case you missed it, a couple of weeks back the International Energy Agency in Paris got around to disclosing that the all-time peak of global conventional production occurred back in 2006. Despite that fact that this declaration was tantamount to announcing the end of the 250-year-old industrial few in the mainstream media noted the event and it was left to obscure corner of cyber space to ponder the meaning of it all.

It is also worth noting that oil is back in the vicinity $90 a barrel and even Wall Street economists, who are paid to be eternally optimistic, are starting to talk about going for $110-120 a barrel in the next year or so.

In the meantime, the talking heads, pundits and even hard-headed reporters chatter on about the slow but persistent economic recovery that is supposed to be taking place. As the effects of last year's near-trillion dollar stimulus start to be felt, every statistical twitch upward is hailed as proof that normalcy will soon return. Realists, however, call this twitching "bottom-bouncing" and are convinced that far worse is yet to come.

The Century of Famine
by Peter Goodchild  
02 March 2010

Famine caused by petroleum supply failure alone will result in about 2.5 billion above-normal deaths before the year 2050; lost and averted births will amount to roughly an equal number.

In terms of its effects on daily human life, the most significant aspect of fossil-fuel depletion will be the lack of food. “Peak oil” is basically “peak food.” Modern agriculture is highly dependent on fossil fuels for fertilizers (the Haber‑Bosch process combines natural gas with atmospheric nitrogen to produce nitrogen fertilizer), pesticides, and the operation of machines for irrigation, harvesting, processing, and transportation.

(…) No matter how much we depleted our resources, there was always the sense that we could somehow “get by.” But in the late twentieth century we stopped getting by. It is important to differentiate between production in an “absolute” sense and production “per capita.” Although oil production, in “absolute” numbers, kept climbing — only to decline in the early twenty-first century — what was ignored was that although that “absolute” production was climbing, the production “per capita” reached its peak in 1979.

By Glider Guider
May 2007

At the root of all the converging crises of the World Problematique is the issue of human overpopulation. Each of the global problems we face today is the result of too many people using too much of our planet's finite, non-renewable resources and filling its waste repositories of land, water and air to overflowing. The true danger posed by our exploding population is not our absolute numbers but the inability of our environment to cope with so many of us doing what we do.

(...) Peak Oil is fundamentally a liquid fuels crisis.  We use 70% of the oil for transportation.  Over 97% of all transportation depends on oil.  Full substitutes for oil in this area are unlikely (I'd go so far as to say impossible). Biofuels are extremely problematic: their net energy is low, their production rates are also low, their environmental costs in soil fertility are too great.  Crop based biofuels compete directly with food, while cellulosic technologies risk "strip mining the topsoil" at the production rates needed to offset the loss of oil.  Electricity will be able to substitute in some applications such as trains, streetcars and perhaps battery powered personal vehicles, though at significant cost in terms of both flexibility and economics.  There is no realistic substitute for jet fuel.

Sem levarmos a sério o que está realmente em causa quando se fala do fim do petróleo barato, será difícil percebermos o dramatismo sem precedentes da contagem decrescente que nos conduzirá a todos até ao fim da civilização industrial baseada no uso intensivo do carvão, do petróleo e do gás natural, como fontes energéticas insubstituíveis do nosso bem-estar "moderno" e da nossa expansão como espécie. Se, pelo contrário, olharmos sem medo para as realidades energéticas e demográficas que temos pela frente, então será mais fácil descortinarmos tudo aquilo que já não pode ser realizado até ao fim, e o muito que teremos que fazer para sobrevivermos à metamorfose inevitável que em breve nos espera.

A prioridade das prioridades, na minha opinião, é mitigar, mitigar e mitigar a nossa dependência colectiva e generalizada do petróleo e seus derivados — o que significa baixar abruptamente a intensidade energética das nossas economias, e aumentar de forma e a um ritmo igualmente drásticos a eficiência energética activa e passiva de todos os edifícios, equipamentos e sistemas usados pelo homem.

O modelo de desenvolvimento dos chamados países ricos do planeta —especialmente nos Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental, mas também no Japão— assentou, desde a primeira grande crise petrolífera (1973), no desenvolvimento de uma economia de serviços, consumista e pseudo-Keynesiana, alavancada através de um imperialismo financeiro com pés de barro, e de uma sobre-exploração de vastas comunidades humanas ultramarinas cujo rendimento, porém, viria a ser crescentemente capturado pelas elites dos países que estrategicamente consentiram essa gigantesca transferência de trabalho e conhecimento do Ocidente para o Oriente.

Aquilo que o Japão começou a não poder fazer mais, isto é competir em preços salariais com a China, transformou numa agressiva política de destruição das suas próprias taxas de juros e de desvalorização do iene (o chamado Yen carry-trade)— tornando-se desta forma um dos principais agentes mundiais das múltiplas bolhas especulativas que conduziram ao actual estado de ruína das finanças empresariais, domésticas e soberanas do Ocidente. Em Portugal, como no Reino Unido, Espanha, França, Itália, Estados Unidos e na própria Alemanha, as economias e as sociedades estão verdadeiramente trilhadas por moles imparáveis: a mole da bolha do endividamento exponencial e especulativo das economias, e a mole dos preços imparáveis do petróleo e dos factores de produção que dele dependem criticamente, directa ou indirectamente: matérias primas minerais e alimentares, mobilidade de pessoas e mercadorias, e os próprios salários do trabalho produtivo (que estando a descer paulatinamente nos "países ricos" desde os anos 70, estão, por outro lado, a subir de forma constante nos "países pobres"!)

Nabucco in 'David vs. Goliath' battle for Azeri gas
Published: 10 December 2010

Pressure is growing on the Nabucco consortium to reveal its hand over its tender for Azeri gas. The winner, to be announced in April, will be master of Europe's Southern Gas Corridor, designed to bring gas from sources other than Russia.

Uma das dúvidas mais sérias do momento prende-se com o futuro da União Europeia. Sem governo económico comum, e sem harmonização e nivelamento fiscais em todo o território comunitário, as tensões em volta do euro poderão mesmo provocar o seu colapso e a desintegração da União. Se isso acontecer, regressaremos às velhas alianças regionais, e às velhas tensões diplomáticas.

Em todo o caso, os desafios impostos pelo declínio na produção de petróleo per capita (constante desde os anos 70), e pelo declínio da produção de cereais per capita (constante desde o início da década de 90), sobretudo num panorama mundial onde a poupança se concentra hoje nos chamados países emergentes —exportadores de energia fóssil, matérias primas, produtos transaccionáveis e trabalho—, e já não nos sobre endividados "países ricos" do Ocidente, são de tal modo dramáticos que não podemos tolerar por muito mais tempo o populismo, a ignorância e a corrupção reinantes nas nossas cada vez mais caricatas democracias parlamentares. Algo teremos que fazer para nos prepararmos para o embate do futuro. Os sistemas políticos irão colapsar em breve. Temos que nos preparar para tal evento, e sobretudo temos que nos preparar desde já para criar as alternativas de poder civilizadas e culturalmente avançadas que terão que enfrentar a passagem para uma espécie de futuro anterior.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Wikileaks

Não há democracia sem transparência

Wikileaks revela que Chávez pediu 1,1 mil milhões ao BES

A petrolífera estatal venezuela PDVSA pediu um empréstimo de 1,5 mil milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros) ao Banco Espírito Santo (BES), no início do ano, revela um telegrama da embaixada norte-americana em Caracas, divulgado pelo site Wikileaks. O empréstimo, que à data do telegrama - 4 de Fevereiro - não estava ainda acordado, foi solicitado numa altura de aperto financeiro para o regime de Caracas, adianta a mesma fonte.

O telegrama confidencial descreve um encontro entre um alto responsável da PDVSA e uma fonte não identificada do grupo japonês Mitsubishi, que terá passado a informação aos diplomatas norte-americanos. — in Económico (Filipe Alves, 10/12/10 00:05).

A publicação pelo Wikileaks de mais de 400 mil documentos secretos, confidenciais ou simplesmente reservados, do Pentágono e das embaixadas americanas por esse mundo fora, é um verdadeiro terramoto político à escala global.

Será que afinal os Estados Unidos da América não passam de uma potência terrorista, apesar da sua obsessiva retórica democrática? Vale a pena ver até ao fim o elucidativo vídeo da televisão pública sueca, SVT, sobre o Wikileaks, e sobre as entranhas sinistras dos falcões americanos da guerra.

E em Portugal, até onde podemos confiar no actual primeiro ministro, no seu governo e no partido a quem demos a maioria dos votos nas duas últimas eleições, depois de sabermos que uma das maiores campanhas populistas do governo Sócrates —a do Portugal Digital— se viu envolvida, primeiro, na adjudicação ilegal da empreitada do computador Magalhães à JP Sá Couto (LINK), depois na contratação de meninos-figurantes para fazerem coro ao lado do primeiro ministro nas acções promocionais dos quadros electrónicos (LINK) nas escolas portuguesas; e finalmente, hoje, com a revelação de que a compra de um milhão de computadores Magalhães anunciada por Hugo Chávez (LINK) foi financiada com dívida do BES, que agora o país inteiro paga com um programa de austeridade que ameaça destruir a economia e lançar na miséria e no desespero milhões de portugueses?

Esta revelação do Wikileaks seria suficiente para fazer cair o governo se vivêssemos de facto numa democracia transparente. Mas como estamos metidos num regime que naufraga, cada um tentando encontrar o melhor salva-vidas, nem que para isso tenha que matar a mãe, incendiar a companheira, ou afogar os filhos, vamos assistir a mais um festival de retórica populista no parlamento e nas televisões.

Precisamos urgentemente dum Wikileaks em Portugal, independente, responsável e tecnicamente imbatível. Estou disponível para participar na sua construção!

POST SCRIPTUM — Afinal o milhão de computadores que o senhor Hugo Chávez anunciou que iria comprar a Portugal é uma compra financiada com um empréstimo 1,1 mil milhões de euros pelos senhores do BES. Bom, mas isso significa que:
  1. o senhor Sócrates mentiu, uma vez mais, aos portugueses;
  2. a banca portuguesa endividou-se em mais 1,1 mil milhões de euros para financiar as próprias exportações do país;
  3. se a Venezuela não pagar, o calote será coberto por quem?
  4. se a Venezuela não pagar, o calote será coberto pela austeridade imposta a todos os portugueses que não roubam e pagam impostos!
O negócio é muito interessante para a Venezuela e para o BES. Se não vejamos: Chávez compra  computadores a crédito, pagando anos mais tarde, com menos barris de petróleo do que os que teria que dar aquando do contrato, pois o preço do ouro negro não pára de aumentar; o BES empresta a Chávez com juros de 5, 6, 7...8%, depois de se ter refinanciado no BCE a 1%. Só Portugal fica a arder, pois tudo isto acaba por se traduzir numa troca comercial desfavorável para Portugal e no agravamento da dívida externa portuguesa, cujo financiamento pelo BCE acarreta a imposição dum programa de austeridade muitíssimo violento para a generalidade dos portugueses. Se a classe média não acorda a tempo, desaparece!

sábado, dezembro 04, 2010

Alta Velocidade 8

Pinhal Novo-Caia: prioridade apesar do colapso financeiro

A China encomendou em 2009 à Bombardier (Canadá) 80 comboios ZEFIRO 380
Cada tren de alta velocidad Madrid-Valencia consume 487,6 euros de energía eléctrica por trayecto

(03/12/2010) El consumo de energía en un trayecto de Madrid a Valencia en la línea de alta velocidad de Levante es de 5.994,62 kilovatios, de los cuales el tren devuelve a la red pública 576,93 kilovatios hora. Así el consumo neto del tren es de 5.417,69 kilovatios hora (13,83 kilovatios hora por kilómetro), lo que al precio actual del kilovatio hora de nueve céntimos de euro supone 487,6 euros por tren. — in Via Libre.

Temos que explicar aos nossos ignaros economistas e aos politicóides do PSD e do CDS que a Alta Velocidade ferroviária, e em geral a refundação da rede ferroviária nacional, agora na chamada bitola europeia, ou mais correctamente, em bitola internacional (UIC), é uma prioridade, assim como a construção de um porto de águas profundas à entrada do Tejo, na Trafaria, depois de realizada a obra do chamado fecho da golada, e até uma nova ponte sobre o Tejo, precisamente entre Algés e a Trafaria, fechando o anel da 2ª Circular. Só depois destas prioridades cumpridas (daqui até 2030) fará ou não sentido retomar a discussão sobre o novo aeroporto de Lisboa, pois o que está serve, melhor que muitos outros, para as encomendas que temos. Já viram alguma vez a Portela fechar por mau tempo, como ocorre na Madeira, nos Açores e por essa Europa fora? Não chegou a recente Cimeira da NATO para perceber as enormes vantagens aeroportuárias e de segurança de um aeroporto com as características da Portela? (1)

É urgente redefinir as nossas prioridades estratégicas, e não basta dizer laconicamente, como faz Cavaco Silva, que o futuro está no mar. Assim dito, sem mais, não está!

Mas para conseguirmos redefinir as nossas prioridades estratégicas, é fundamental fazer uma revolução política. Ou seja, é necessário e urgente forçar a diminuição substancial da burocracia e o arejamento da nomenclatura partidária, retirar peso às corporações e às aristocracias burguesas e financeiras clientelares, tornar em suma o país mais civilizado, livre, ágil, transparente, competitivo, trabalhador e ousado.

Mas isto não chega! Sanear o Estado, apertar o cinto e levar a cabo uma expropriação fiscal da comunidade, sem mais, pode revelar-se uma receita para o desastre. Terminado o ciclo do endividamento especulativo, sem criação efectiva de riqueza não conseguiremos pagar o que devemos, e a consequência fatal desta impossibilidade será uma queda no abismo da pobreza estrutural e de uma degradação política interminável. Se não percebermos colectivamente esta realidade, e sobretudo sem a humildade necessária para aceitar corrigir o que está mal ou é injusto, e aceitar cooperar de forma solidária no relançamento democrático e económico do país, espera-nos o pior. Os recentes exemplos de deserção da solidariedade por parte da Portugal Telecom, Caixa Geral de Depósitos, juízes e magistrados do Ministério Público, Hospitais EPE, Governo Regional dos Açores, etc., não auguram nada de bom. Sobretudo porque os atávicos e indigentes parlamentares e partidários que temos continuam a confundir a democracia com as suas medíocres existências e sobrevivências burocráticas aninhadas numa sopa fiscal que, se persistirem na estupidez populista que diariamente exibem nas televisões e jornais, acabará por expeli-los pela janela de uma qualquer alternativa autoritária ao regime que alegremente afundaram.

O mundo continua apesar da crise financeira e económica global, a qual, na realidade, traduz um ajustamento das placas tectónicas do desenvolvimento e da divisão mundial do trabalho. E uma das realidades de grande impacto na economia e no emprego que despontam no horizonte da escassez certa que nos espera no sector dos combustíveis líquidos, é a prioridade crescente dada ao transporte ferroviário de alta velocidade, movido a electricidade, e num prazo de 50 anos ou menos, a energia electromagnética. É por isso que a ligação de Portugal à rede europeia de Alta Velocidade ferroviária é uma prioridade absoluta, e não relativa, ou meramente discutível, como são outros desígnios possíveis para Portugal.

Rede ferroviária chinesa cresce em alta velocidade

Até meados dos anos 1980, a China dependia de antigos trens a vapor para ligar diferentes pontos de seu vastíssimo território. Agora já tem mais de 6.900 quilômetros de vias férreas para veículos de alta velocidade, constituindo a maior rede do mundo, e em ampliação. A China investe grandes somas em vias férreas e prevê acrescentar mais 16 mil quilômetros até 2020.

Este ano, o governo destinou US$ 80 bilhões para construir ferrovias, criando seis milhões de empregos, para ligar as prósperas cidades costeiras com o extremo oeste, e também linhas que saem deste país e atravessam a Ásia até chegar ao Oriente Médio e à Europa. Já existem dois mil quilômetros de vias férreas nas quais podem circular trens de alta velocidade que atingem 350 quilômetros por hora. — Mitch Moxley, na agência IPS, Vermelho.


Rede de alta velocidade na China já ultrapassa sete mil quilómetros

A China inaugura mais uma linha ferroviária de alta velocidade na próxima terça-feira, reforçando a posição de líder mundial do sector com uma rede que, em menos de uma década, ultrapassou os sete mil quilómetros de extensão.

A nova linha, um troço de 202 quilómetros entre Xangai e Hangzhou, é também o palco do novo recorde mundial de velocidade: 416,6 kms/hora.

Nos testes realizados o mês passado, o mais moderno TGV chinês, o "CRH380A", excedeu em 22,3 Kms/hora a marca alcançada no verão de 2008 na primeira linha férrea chinesa de alta velocidade, que liga Pequim a Tianjin.

O engenheiro-chefe do Ministério dos Caminhos de ferro, He Huawu, anunciou esta semana que a China está a desenvolver um comboio ainda mais rápido, capaz de atingir 500 kms/hora, a velocidade de alguns aviões pequenos.  — in OJE/Lusa, 22/10/10.


China To Connect Its High Speed Rail All The Way To Europe
By Bridgette Meinhold, 03/15/10

China already has the most advanced and extensive high speed rail line in the world, and soon that network will be connected all the way to Europe and the UK! With initial negotiations and surveys already complete, China is now making plans to connect its high speed rail line through 17 other countries in Asia and Eastern Europe in order to connect to the existing infrastructure in the EU. Additional rail lines will also be built into South East Asia as well as Russia, in what will likely become the largest infrastructure project in history. — in Inhabitat.


China is pulling ahead in worldwide race for high-speed rail transportation
By Keith B. Richburg, May 12, 2010

QINGDAO, CHINA -- Last year, China surpassed the United States as the world's largest automaker. The country is aggressively making jets to compete with Boeing and Airbus. And in recent years, with little outside notice, China made another great leap forward in transportation: It now leads the world in high-speed rail. — in Washington Post.

O futuro dos transportes pertence aos grandes navios de mercadorias e de passageiros, e pertence ao transporte de massas de mercadorias e passageiros por via férrea. Aviões, automóveis e em geral o transporte individual dependente de consumos energéticos intensivos será relegado para um segundo plano. Portugal tem 900 Km de costa marítima e um sistema de portos importante, mas que precisa de ser renovado, melhor apetrechado e sobretudo ligado à rede europeia de transporte ferroviário em bitola UIC. O primeiro passo a dar é a construção da nova linha férrea de Alta Velocidade entre Caia e o Pinhal Novo, com ramais igualmente em bitola UIC ligando a nova linha aos portos de Setúbal e Sines. Esta obra, que conta com apreciáveis subsídios comunitários, permitirá ligar Lisboa à nascente rede europeia de Alta Velocidade. E não precisaremos para tal de nenhuma ponte Chelas-Barreiro. Os comboios poderão atravessar a Ponte 25 de Abril, sem qualquer problema nem atrapalhação, desde que venham calçados com eixos telescópicos, e desembarcar os passageiros na Nova Estação Central de Lisboa, que deveria construir-se no centro da capital, ou seja, nos terrenos da antiga Feira Popular.

NOTAS
  1. O aeroporto da Portela, embora pequeno e mal tratado pelas corrompidas administrações que por lá têm passado (com as turmas de boys & girls do PS e do PSD) é um dos mais fiáveis de toda a Europa. E porquê? Por quatro razões: 1) climatológicas; 2) topográficas; 3) geográficas; e 4) concepção original da infraestrutura. Ou seja, a Portela nunca fecha por causa de ventos, tempestades de neve, ou nevoeiros (a má visibilidade do aeroporto não ultrapassa o baixíssimo valor de 162 horas/ano); pela sua altitude (114m acima do nível do mar), está livre de inundações e dos bancos de nevoeiro matinais (a hora de ponta dos aeroportos!) que ameaçam claramente a Ota... e Alcochete; a sua proximidade do centro urbano diminui custos e aumenta paradoxalmente os níveis de segurança (como ficou demonstrado com a recente realização da cimeira da NATO); e por fim, as duas pistas em X previnem os impactos negativos dos ventos cruzados decorrentes das condições meteorológicas oceânicas. Os aviões são cada vez menos ruidosos e poluentes, e o perigo de queda durante as descolagens e aterragens é estatisticamente desprezível — nunca houve, felizmente, nenhum grande acidente com aeronaves comerciais em Lisboa. Como se isto não bastasse, a época dos hubs aeroportuários (que Lisboa, além do mais, nunca poderá ser) já passou. As ligações ponto-a-ponto, enquanto for possível andar de avião, e as companhias de baixo custo, são a novidade e a tendência, como ficou cabalmente demonstrado pelo êxito da vinda das Low Cost para Faro, Porto e Lisboa. (5-12-2010)

España: estado de excepção

Quando menos se espera...

Como se a situação portuguesa não fosse suficiente para nos afligir, temos aqui ao lado uma bomba relógio que pode explodir a qualquer momento. — in O António Maria, 3-12-2010, 18:29.

Aeroporto de Barajas, Madrid.
Defensa asume el control del tráfico aéreo en España para frenar el caos

El Ejecutivo se ha visto obligado a la militarización del control aéreo ante el colapso generado por las "bajas masivas" del 70% de los controladores. Para poder tomar esta medida, que está prevista dentro de un decreto aprobado el mediodía del viernes por el Consejo de Ministros, el Ejecutivo ha publicado la norma de manera extraordinaria en el Boletín Oficial del Estado pasadas las 21.30. Además, el decreto especifica que también se permitirá realizar controles médicos a los controladores "de manera inmediata" para verificar que realmente no están en disposición de realizar sus funciones.

Los pasos de la intervención militar
  1. Ordenar a los controladores que acudan a sus puestos de trabajo. Si no cumplen la orden se enfrentan a graves delitos con penas, incluso penales. 
  2. Abrir al tráfico civil la decena de aeropuertos militares que hay en España. En Madrid se habilitarán el de Torrejón y el de Cuatro Vientos. 
  3. Desplazar a las torres de control de los aeropuertos civiles a coroneles que asuman el mando.
  4. El jefe del Estado Mayor del Ejército del Aire seleccionará y decidirá cuáles son los vuelos prioritarios.— in El País, 3/12/2010, esta noite.

Alguém me telefonara esta tarde (quando me preparava para publicar o post anterior) alertando-me para o facto de o primeiro ministro espanhol ter desistido à última hora de participar na Cimeira Ibero-Americana a decorrer em Mar del Plata, Argentina. Pensei que a situação financeira estaria a deteriorar-se rapidamente, apesar das medidas muito duras há dias anunciadas (privatização parcial da AENA e da centenária Lotaria Espanhola, etc.) Só hora e meia depois vi as as televisões abrirem os noticiários com a notícia do súbito abandono das torres dos aeroportos por parte dos controladores de tráfego aéreo e a paralisia imediata que tal situação gerou nos movimentos da aviação civil e aeroportos.

A greve instantânea, ou, como também se diz, selvagem, dos agulheiros dos céus espanhóis atingiu um ponto vital da mobilidade do país, paralisando todos os voos comerciais em Espanha, e lançando também o caos num série de aeroportos europeus.

Ao que parece esta decisão intempestiva foi uma resposta à decisão do governo de Zapatero de privatizar parcialmente a empresa pública de aeroportos e controlo do espaço aéreo espanhóis, usando de poderes que a boa democracia recomendaria que estivessem reservados, no mínimo, a decisão parlamentar por maioria absoluta. O desespero financeiro do país é tal, que o governo "socialista" parece ter esquecido os limites intrínsecos da acção política democrática. O resultado está à vista, e não é nada bonito, nem animador no que se refere à imagem civilista construída nos últimos 34 anos de democracia. De repente, ou seja, em menos de 12 horas, o governo cozinhou e decretou um Estado de Excepção, para resolver manu militari uma crise laboral extrema, mas não mais do que uma crise laboral. Que péssimo augúrio!

POST SCRIPTUM — para uma percepção correcta da greve dos controladores aéreos, vale a pena ler: Los internautas preguntan a César Cabo, Secretario de comunicación de Unión Sindical de Controladores Aéreos (El País) 

ACTUALIZAÇÕES
  • Fotogaleria do El País (5-12-2010)
  • Ao contrário das traduções trapalhonas dos nossos noticiários, o que se passou em Espanha não foi uma "requisição civil", mas sim a imposição da lei militar a centenas de civis por causa de uma "greve selvagem". O importante é realçar quão fina é a fronteira entre um estado democrático e o "estado de excepção" manu militari. Para quem tiver dúvidas, leia este filme dos acontecimentos pelo insuspeito (de antipatia pelo PSOE) El País. (5-12-2010)
  • As palavras de João Proença e de José Sócrates (Diário de Notícias), ambos "socialistas", são uma espécie de aviso à navegação de quem já está a pôr a barbas de molho pelo que aí vem, por exemplo, com o plano de privatização da ANA e de alienação de outros anéis preciosos, que a classe política instalada quer vender à pressa e ao desbarato, para continuar a gozar dos seus indecorosos privilégios. Não esperem, porém, que a pancada, e a revolta da classe média (praticamente inevitável), ocorram nos mesmos lugares e horas. E pensem duas vezes antes de usar os militares! (5-12-2010)

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Bancarrota-8

Pausa para respirar... e agir

A guerra financeira entre o dólar (pegado à libra) e o euro prossegue, com golpes baixos e muitos sorrisos. Os analistas anglo-saxónicos pintam diariamente quadros negros sobre o continente europeu, e Trichet lá vai respondendo de forma imprevisível e por vezes surpreendente ("Europe needs budgetary federation" — EUobserver"). O BCE andou e anda a comprar dívida soberana no mercado secundário. Bastou esta notícia não confirmada directamente pelo BCE, mas que quem comprou divulgou anonimamente, para os especuladores abrandarem os seus ataques aos flancos mais frágeis da dívida soberana europeia: Grécia, Irlanda, Portugal... e Espanha.

Jean-Claude Trichet disse hoje que o BCE continuará a comprar dívida pública dos países do euro e pediu sanções automáticas para os países que falhem compromissos orçamentais.

(…) O presidente da instituição escusou-se, no entanto, a pronunciar-se directamente sobre as informações publicadas pela imprensa sobre a compra em grande quantidade de títulos de dívida portugueses e irlandeses na quinta-feira.

(…) Na mesma conferência, o presidente do BCE pediu um sistema de sanções quase automáticas para os países que não cumpram os compromissos orçamentais, insistindo que os governos devem credibilizar os programas de ajustamento e reformas estruturais. — in "Trichet pede sanções automáticas e garante que BCE vai continuar a comprar dívida", 03 Dezembro 2010 | Jornal de Negócios com Lusa.

Este recuo dos especuladores é, porém, meramente táctico, pois o problema de fundo subsiste: a dívida soberana europeia é uma bolha especulativa gigantesca (ver este gráfico de maio —Europe's Web of Debt—do NYT) e vai acabar por rebentar. Daí que seja da mais elementar prudência pagar todas as nossas dívidas quanto antes, não contrair mais empréstimos, aplicar as poupanças em bens duradouros com uma grande valorização potencial (ouro, terra fértil, casas em segunda mão bem localizadas e a bom preço, e pouco mais), evitar investimentos especulativos em produtos financeiros e seguros mal explicados e de duvidosa proveniência (1).

A perspectiva sombria de um estouro da moeda única europeia não está —muito longe disso— afastada do horizonte mais próximo. Como não estão também afastadas as probabilidade reais de uma quarentena fora do euro para alguns dos leitões da Europa (PIGS), que nada devem à fama que os suínos sempre tiveram em matéria financeira — criar um porco foi, durante milénios, uma boa forma de investimento e de poupança.

Uma coisa é certa: espera-nos uma década de contínuo empobrecimento, pois os juros anuais da nossa dívida pública (6,5 mil milhões de euros em 2010, ou seja, qualquer coisa como 6,5 pontes Vasco da Gama) já ultrapassam tudo o que gastamos com a nossa alimentação! Se não pararmos imediatamente todas as Parcerias Público Privadas no sector da saúde e dos transportes, se não adiarmos a Alta Velocidade (à excepção da ligação para passageiros e mercadorias entre o Pinhal Novo e Caia) e não afastarmos para as calendas gregas o monstro aeroportuário da Ota em Alcochete, seremos inexoravelmente expulsos da Eurolândia. É uma aposta que faço com os meus leitores.

Há, porém, sinais de esperança. A venda do diário "i" pelo Grupo Lena é um sintoma claro de que as obras públicas já pararam, por falta de objectivos sensatos, por falta de financiamento e porque os projectos anunciados revelarem todos uma rentabilidade nula fora do regaço protector do agora obviamente falido cliente Estado. Se até Junho de 2011 (2), o défice e a dívida pública não recuarem para os valores exigidos pelo BCE e pela Alemanha, as penalizações serão a matar. Ou seja, a janela de oportunidade para se fazer o que é preciso fazer é de apenas um semestre. Será este o definitivo prazo de validade de José Sócrates?

Como se a situação portuguesa não fosse suficiente para nos afligir, temos aqui ao lado uma bomba relógio que pode explodir a qualquer momento. Chama-se Espanha (3) e a ela devemos qualquer coisa como 86 mil milhões de euros!

Vivi em Espanha alguns anos e tenho vários amigos do coração por lá. Num painel sobre as televisões autonómicas para o qual fui convidado, creio que no ano 2002 ou 2003, interroguei-me sobre a origem de tanto dinheiro, e sobre a viabilidade futura das autonomias, não pelo lado da sua legitimidade, mas tão simplesmente pelo lado da despesa. Quem pagava então, e quem pagaria no futuro semelhante gasto fiscal? Outro aspecto da sociedade espanhola que me causou sempre igual apreensão foi a dimensão e ineficiência de boa parte dos seus serviços públicos, bem como a presença ostensiva dos grandes oligopólios no quotidiano dos espanhóis. Lá como cá a democracia era e é um bem recente, degustado como uma iguaria deliciosa cujo preço ninguém perguntava, nem pergunta (ou só agora começa a perguntar...) Os resultados que eu temia estão à vista e, claro está, nada pude fazer para os evitar, apesar de ter falado e escrito sobre o tema vezes sem conta.

A situação em Espanha é tanto mais dramática quanto boa parte da população continua anestesiada pelos poderes político-partidários e mediáticos. Lá como cá, os comportamentos chegam a ser de uma irracionalidade impensável. Em Portugal, por exemplo, com o anúncio antecipado da subida do IVA em 2011 (certamente para estimular o crescimento do PIB ainda este ano...), a venda de automóveis aumentou mais de 50% relativamente a 2009. Em Espanha, felizmente para todos, as medidas governamentais têm sido mais sensatas. Mas chegarão? A imprensa anglo-saxónica tem as maiores dúvidas!

— As necessidade financeiras do Estado espanhol para 2011 ascendem a 21% do respectivo PIB, ou seja a 226 mil milhões de euros! Mas os bancos, por sua vez, também precisam de refinanciar as respectivas dívidas num montante de 220 mil milhões de euros!!

(…) Should the EU really impose a 6.7pc interest charge on Ireland’s bail-out loans, it should not be surprised if the new Irish government in January walks away from the whole stinking arrangement, and pulls the plug on Europe’s banking system.

(…) Has Mr Zapatero read the IMF’s devastating Article IV report on his own country? It states that the government’s “gross financing needs” for 2011 will be €226bn, or 21pc of GDP. “Spain’s financing requirements are large and, retaining market confidence will be critical. Spain has exhausted its fiscal space. Targets should be made more credible.”

Madrid must attract €226bn of good money from Spanish savers, German pension funds, French banks, Japanese life insurers, and China’s central bank, so that an incompetent government (this one happens to be socialist, but the Greek conservatives were worse) can continue to run budget deficits of 7pc to 8pc of GDP in 2011. Why should they lend a single pfennig, having already been told by EU leaders that they will face scalping if Spain ever needs a rescue?

(…) Furthermore, Spanish banks will need to roll over €220bn in 2011 and 2012, according to Enrique Goñi, head of Banca Cívica. “We’re in the antechamber of a new liquidity crisis. We’re living through a financial pre-collapse,” he said. — in "Germany faces its awful choice as Spain wobbles", by Ambrose Evans-Pritchard, The Telegraph (29 Nov 2010).

— A Eurolândia (e sobretudo a Alemanha) está metida numa camisa de sete varas. Não pode suportar indefinidamente todas as dívidas soberanas dos membros da união monetária, sob pena de rebentar com a poupança de quem a tem, e colocar a Europa à beira da ruína. E não pode inundar as economias de liquidez, sob pena de desvalorizar perigosamente o euro, criar uma inflação potencialmente incontrolável, e acabar por destruir a moeda única.

(…) Investors’ no-confidence vote in the aid package for Ireland may force European policy makers to expand their arsenal to fight the debt crisis threatening to tear the euro apart.

Options outlined by economists at Societe Generale SA and Barclays Capital include: Boosting the 750 billion-euro ($975 billion) temporary rescue fund or turning it into an asset- buying program; cutting interest rates on bailout loans; issuing joint bonds for the 16 euro nations or flooding the economy with cash from the European Central Bank.

(…) “As the crisis deepens and threatens core countries, the future of monetary union continues to be called into question,” said Chandler. “As the situation becomes more desperate, the unthinkable has to be thought. Quantitative easing by the ECB may be one of the few ways out.”  — in "Contagion May Force EU to Expand Arsenal to Fight Debt Crisis", By Simon Kennedy and James G. Neuger, Bloomberg - Dec 1, 2010.

NOTAS
  1.  Outra opção que começa a ser interessante, e que poderá ser objecto de grande concorrência em breve, são os depósitos a prazo. Consultar esta tabela comparativa de depósitos a prazo, publicada hoje pelo Money GPS.
  2. A portinhola do BCE onde se financiam a 1% os bancos comerciais, para logo comprarem dívida soberana com rendimentos acima dos 5% (6%, 7%, e 9%), ou realizar operações de empréstimos a particulares e empresas com TAEGs acima dos 20%, deveria fechar-se no próximo dia 31 de Janeiro. Mas a necessidade de um contra-ataque do BCE contra o cerco montado pelos estrategas financeiros de Wall Street e da City londrina contra o euro, manterá a dita portinhola do easy money aberta até Junho. É por isso que os próximos seis meses vão der decisivos. E é por isso que a cidadania deverá exercer toda a sua vigilância e pressão sobre a corja político-partidária — do governo, às oposições, passando pelo senhor Cavaco. Os candidatos presidenciais que se opõem ao actual presidente da república são irrelevantes. Por patriotismo, deveriam fazer uma coisa: desistir da farsa eleitoral que aí vem, colocando assim o regime perante as suas responsabilidades. [3-12-2010; 22:40]
  3. Li, já depois de publicado este post, o artigo de Paul Krugman, O Prisioneiro Espanhol, publicado no i [4-12-2010, 1:19]