sábado, junho 21, 2014

Podemos?

Alexis Tsipras e Pablo Iglesias em Atenas./Foto: Clara Palma Hermann

Que sairá da cisão do PS? Provavelmente, nada, pois há jovens que envelhecerem de repente.


Podemos y Syriza acuerdan coordinar acciones en el Parlamento Europeoel diario, 20-6-2014

Pablo Iglesias e Íñigo Errejón se han entrevistado este viernes con el equipo de Alexis Tsipras, el secretario general de Syriza. Ambas formaciones han escenificado su alianza con la visita de la delegación de Podemos a Atenas, cuyo objetivo es “intercambiar experiencias y coordinar acciones a nivel europeo”.

Será que uma das metades que resultará da provável cisão no PS, já abençoada por Mário Soares, irá procurar replicar este modelo radical-experimentalista em Portugal? Com quem? Com o Bloco e o Livre? Com Marinho Pinto? Com o PCP? No imediato, ou seja, até às próximas Legislativas, cada capela mais ou menos cor-de-rosa ou vermelha irá medir forças. O resultado será porventua uma pulverização da 'esquerda', enquanto a coligação PSD-CDS poderá também entrar numa deriva prolongada. O eleitorado está desiludido, furioso e atento. As redes sociais terão cada vez mais força e influência nas dinâmicas políticas e eleitorais. Tal como Marinho Pinto, também os blogues, o Facebook e o Twitter estão em modo ralenti, e esperarão pelo melhor momento antes de atacar. Tempestade no horizonte? Seguramente!

Sobram novos velhos, e faltam velhos novos


A implosão em curso do atual regime afeta as suas principais instituições: a presidência da república e um presidente que nega o seu estado de evidente doença através de um papagaio chamado Marcelo Rebelo de Sousa, um governo desorientado e cansado, um parlamento que já não diz nem faz coisa com coisa, um tribunal constitucional que virou sindicato da baba burocrática do regime, sindicatos convertidos em tropas de choque da arruaça que apenas serve para defender privilégios de classe (a classe dos sindicalistas), e, por fim, um sistema partidário à beira da implosão. Já só falta mesmo converter a indignação popular crescente em algo parecido com o Podemos.

Podemos, em quatro linhas


O pânico instalou-se, porém, entre aqueles que há quase quaranta anos são donos dos partidos, dos governos, do parlamento, dos tribunais, das polícias, em suma, do país. Estão falidos depois de terem conduzido o país à insolvência. A criminosa dívida acumulada, que Jorge Sampaio considerava uma obsessão, resultou numa interminável depressão económica. Aos seus filhos e netos, salvo os do círculo íntimo do poder, isto é, salvo aos filhos do nepotismo instalado, esta corja não vai deixar nada se não sangue, suor e lágrimas. Mas pior, esta corja deu-se subitamente conta de que o conforto da sua própria velhice está ameaçado!

Daí a tentativa desesperada a que assistimos, quer no PS, quer no PSD, de as velhas elites retomarem à bruta o controlo partidário do regime. Para isso foram mesmo ao ponto de seduzirem meninos ambiciosos e oportunistas, e meninas doidivanas igualmente oportunistas, para atingirem o seu intento, ou seja, remover, a pontapé se for necessário, as lideranças jovens que entretanto foram chegando ao topo dos partidos do Bloco Central. O cinismo desta verdadeira Brigada do Reumático 2.0 mede-se pela forma despudorada como usam o colapso que eles mesmo criaram para aí afundarem quem pegou na batata quente e tenta desesperadamente, como pode, tirá-la do fogo.

António Costa foi o idiota útil que Mário Soares, José Sócrates e Almeida Santos nomearam sargento-ajudante na nobre causa de estender uma passadeira vermelha ao regresso ao poder da Brigada do Reumático 2.0, sob os auspícios de um putativo presidente chamado José Sócrates. Sim, o idiota útil é para queimar! Sócrates preparou a coisa bem: primeiro lixa Costa, e entretanto já deu instruções para o início da demolição de uma eventual candidatura presidencial de António Guterres.

É evidente que esta corja, seja porque é mitónoma, ou porque caminha rapidamente para a demência, não percebeu ainda o que os impedirá definitivamente de levar o seu golpismo descarado a bom porto, mesmo que a tentativa de defenestração de Seguro resultasse: o povo odeia-vos!

Assim sendo, quer Pedro Passos Coelho, quer António José Seguro, que bem precisam de melhorar, só têm que proteger os seus partidos do terrorismo partidário e dos vários Cavalos de Tróia que serão infiltrados entre as suas hostes. Só têm que desfazer rapidamente os ninhos de baterias de intelectuais orgânicos e jornalistas histéricas que entopem a comunicação social. Como? Contra atacando metodicamente e desfazendo todas as manobras em curso com bons pedaços de informação sobre a massa de que são feitos estes golpistas e conspiradores.

Voltando ao Syriza e ao Podemos, será que da implosão do atual sistema partidário e do regime poderemos esperar fenómenos semelhantes aos que ocorreram na Grécia e em Espanha? De uma coisa estou certo, movimentos como estes dois jamais poderão nascer de uma qualquer barriga de aluguer chamada Mário Soares, José Sócrates ou Isabel Moreira. Nem mesmo dos cacos do Bloco de Esquerda. E quanto ao PCP, na medida em que é um pilar, ainda que perverso, do regime e do aparelho de estado que temos, além de estalinista irremediável, nada há a esperar, salvo a demagogia de sempre.

Eu não creio em utopias, nem em revoluções, quando é evidente que o mundo entrou numa era nova, que será, por muitas décadas, de crescimento débil e ajustamento dramático à escassez relativa de três fontes de energia que eram abundantes, de acesso fácil e baratas, e que progressivamente, desde meados da década de 70 do século passado, se tornaram escassas, de difícll acesso e caras: carvão, petróleo e gás natural. Não foi a ideolgia maoista que trouxe progresso à China, mas a descoberta das suas grandes reservas de petróleo, nomeadamente em Daqing, em 1959, e que até ao início da década de 1960 importavam com muito sangue, suor e lágrimas, da então União Soviética. A China, que passou então de miserável importador, a grande exportador, é hoje o maior importador de petróleo do planeta. Daí a sua próxima e inexorável desgraça.

Eu preferia que fossem as novas gerações do PS e do PSD (e já agora do CDS e do PCP, do Bloco, etc.) a fazerem as mudanças partidárias e institucionais imprescindíveis à transição do atual regime populista insolvente para uma sociedade mais pragmática, mais justa e muito mais ativa na busca e formulação de novos estilos de vida, onde a democracia e a liberdade predominem sobre o nepotismo, sobre o golpismo e sobre a corrupção, e onde a transparência da informação e as redes sociais inteligentes impeçam a degenerescência clpetocrática e burocrática que conduziu Portugal ao estado de aflição em que se enocontra.

O colapso do BES é um sinal evidente de que o business as usual partidário, que nos trouxe até ao desastre, morreu.

sexta-feira, junho 20, 2014

BES ao fundo! E agora?



O colapso do BES pode arrastar o regime para uma crise sem precedentes


Salgado faz visita relâmpago a Luanda para pedir ajuda — Jornal i, 21/6/2014
CMVM suspende acções do BES e ES Financial — Público, 20/6/2014
De Dono Disto Tudo a banqueiro reformado  — Público, 20/6/2014
O fim de uma era. O banqueiro do regime sai do BES sem glória — Jornal i, 20/6/2014

A pergunta óbvia é esta: e depois, como será? Por exemplo, quando soubermos até onde vão as metástases do cancro financeiro que nos levou ao desastre, que restará do sistema partidário, do CDS ao PCP, passando pelo Bloco Central da Corrupção?

Como viverá a partidocracia instalada e o que sucederá ao despesismo público quando ficar claro para todos que sem sistema bancário indígena o regime sofrerá inevitavelmente uma mudança genética?

Não é por acaso que o polvo do Bloco Central anda num autêntico frenesim disparando em todas as direções. Não é por acaso que as brigadas do reumático do PS e do PSD (com os sargentos-ajudantes e as cadetes de ocasião) tentam desesperadamente recapturar os aparelhos partidários hoje habitados por uma geração mais jovem (na casa dos 40 anos) que naturalmente procura salvar-se e salvar o país da enxurrada de despesismo, leviandade cultural e corrupção que nos conduziu a uma dolorosa e prolongada insolvência.

Recomendação única a Pedro Passos Coelho e António José Seguro: aguentem-se e ponham os velhos na ordem!

ÚLTIMA HORA

Grupo Espírito Santo tem de pagar 900 milhões à PT até AgostoJornal i, 27 Jun 2014 - 05:00

O investimento da PT foi realizado em duas sociedades do seu maior accionista (o GES) que têm problemas financeiros. A ESI está em situação de falência técnica (com capitais negativos) e tem um endividamento que supera os 7 mil milhões de euros. Segundo declarações de Machado Cruz, antigo contabilista da sociedade, ao semanário "Expresso", a contabilidade da ESI é falsificada desde 2008. Uma auditoria do Banco de Portugal detectou igualmente que faltavam 1,3 mil milhões de euros em dívidas nas contas da sociedade com sede no Luxemburgo. A Rio Forte, por seu lado, está sob enorme stresse financeiro, possuindo igualmente uma dívida elevada que obriga a um esforço de refinanciamento significativo.

Moody’s pondera descer rating do BES — Público, 26-06-2014

Espírito Santo Financial Group perde mais de metade do valor desde o início do ano  — Jornal de Negócios, 26 Junho 2014, 18:28
BES desvaloriza mais de mil milhões de euros em poucos dias — Jornal i, 26 Jun 2014 - 05:00
Salgado e Ricciardi extremam braço-de-ferro — Jornal de Negócios, 26 Junho 2014, 00:01
BPI: Possível corte da Moody’s pode ter impactos negativos nos custos de financiamento do BES — Jornal de Negócios, 26 Junho 2014, 09:33 por Carla Pedro


Mota Pinto no topo do BES, depois de Frasquilho, quadro superior do BES e deputado do PSD, ter sido colocado à frente da AICEP (Expresso, 4-4-2014), instituição que concentra boa parte do manejo da massa do QREN 2014-2020. O polvo BES tem muitas patas!

Mota Pinto: dos serviços secretos para chairman do BES
Notícias ao Minuto, 22-6-2014

Paulo Mota Pinto, atual presidente do conselho que fiscaliza os serviços secretos em Portugal, poderá vir a ser o próximo chairman (presidente do Conselho de Administração) do Banco Espírito Santo, avança o Diário de Notícias.

Atualização: 27-06-2014, 14:15 WET

quinta-feira, junho 19, 2014

Renacionalizar?

Vladimir Tatlin - Monumento à III Internacional
Réplica miniatura da escultura nunca construída, Royal Academy of Art, Londres, 2011. Google Images.

Aos banqueiros e outros criminosos parecidos devemos permitir que se enforquem com a corda da sua própria ganância


l'Humanité, 19 jun 2014: Les sénateurs de tous bords politiques étaient unanimes jeudi 19 juin pour dénoncer la privatisation de gestion des autoroutes faite par la droite en 2005. Ils ont cependant repoussé la proposition de loi faite par les élus communistes visant à nationaliser les sociétés concessionnaires. L’UMP, l’UDI-UC, les socialistes et le RDSE ont voté contre, appelant à une simple amélioration du système, jugé trop favorable aux groupes privés par la Cour des comptes. « La privatisation a été une erreur, mais il n’est pas possible de revenir en arrière » a déclaré le secrétaire d’Etat Kader Arif, promettant au passage une annonce du gouvernement sur l’éco-taxe pour la semaine prochaine.

Lá como cá... E no entanto, renacionalizar autoestradas, como querem os populistas do PC francês, é um disparate. Os privados que se afundem com as ditas à medida que o Pico do Petróleo for reduzindo paulatinamente o número de automóveis em circulação. Em todo o caso, o princípio da prevalência do interesse público em todos os bens estratégicos do país (água, energia, mobilidade, alimentação, cuidados básicos de saúde e segurança) deve estar claramente expresso na nossa Constituição e nas leis gerais. Mas não está, pois não?

Guerra do dólar contra o euro continua



Uma Operação Especial chamada Ucrânia pode virar o euro, o renminbi, e até o dólar australiano e a libra contra o dólar, em nome do fim da beligerância contínua dos Estados Unidos


A América prepara-se para desvalorizar unilateralmente as montanhas de dívida que vendeu por esse mundo fora... e que não poderá pagar sem recorrer a uma austeridade tal que ameaçaria a estabilidade institucional e a própria unidade do país. A partir de aqui podemos ler quase todo o atrito militar e o horror provocado em milhões de pessoas na Sìria, na Ucrânia, no Iraque, e várias zonas de África, pela agressividade persistente e criminosa da decadente América.

A dívida total americana, pública e privada, aproxima-se já do próprio PIB mundial corrigido da depreciação do capital: uns sessenta biliões de dólares!

PS: Recebi este comentário que comento em seguida:
A Divida [pública] americana são 17 biliões de USD, com intenção de chegar rapidamente aos 20 biliões de USD. Os Americanos já fizeram as contas e só vão pagar metade, através da emissão contínua de papel. Contudo a dívida americana é de longe a mais segura do Mundo. Essa seguranca é-lhe conferida pela cinco esquadras americanas, pelos seus mísseis, e por todos aqueles que ponham em crédito essa divida. O facto da divida americana se aproximar do PIB do Mundo apenas diz que a massa monetaria em circulação está mal ajustada à riqueza mundial produzida. Ou seja, que a própria divida é parte da moeda em circulação.

Ou seja, os EUA estão a reestruturar a sua dívida à conta de todos os credores nacionais e mundiais. As perguntas pertinentes são estas: 1) e se todos os outros devedores (Argentina, etc.) fizerem o mesmo? 2) até onde chegarão os EUA neste procedimento de desvalorização seletiva do dólar (ou seja, perde quem tem dívida americana no balanço)? É que armas nucleares, temos todos!

An anti-dollar coalition would be the first step for the creation of an anti-war coalition that can help stop the US' aggression.
Putin Advisor Proposes "Anti-Dollar Alliance" To Halt US Aggression Abroad
Submitted by Tyler Durden on 06/18/2014 10:41 -0400 - ZeroHedge

It has been a while since both Ukraine, and the ongoing Russian response to western sanctions (which set off the great Eurasian axis in motion, pushing China and Russia close together, and accelerating the "Holy Grail" gas deal between the two countries) have made headlines.

[...]

...while the great US spin and distraction machine is focused elsewhere, Russia is already preparing for the next steps. Which brings us to Putin advisor Sergey Glazyev, the same person who in early March was the first to suggest Russia dump US bonds and abandon the dollar in retaliation to US sanctions, a strategy which worked because even as the Kremlin has retained control over Crimea, western sanctions have magically halted (and not only that, but as the Russian central bank just reported, the country's 2014 current account surplus may be as high as $35 billion, up from $33 billion in 2013, and a far cry from some fabricated "$200+ billion" in Russian capital outflows which Mario Draghi was warning about recently). Glazyev was also the person instrumental in pushing the Kremlin to approach China and force the nat gas deal with Beijing which took place not necessarily at the most beneficial terms for Russia.

It is this same Glazyev who published an article in Russian Argumenty Nedeli, in which he outlined a plan for "undermining the economic strength of the US" in order to force Washington to stop the civil war in Ukraine. Glazyev believes that the only way of making the US give up its plans on starting a new cold war is to crash the dollar system.

As summarized by VoR, in his article, published by Argumenty Nedeli, Putin's economic aide and the mastermind behind the Eurasian Economic Union, argues that Washington is trying to provoke a Russian military intervention in Ukraine, using the junta in Kiev as bait. If fulfilled, the plan will give Washington a number of important benefits. Firstly, it will allow the US to introduce new sanctions against Russia, writing off Moscow's portfolio of US Treasury bills. More important is that a new wave of sanctions will create a situation in which Russian companies won't be able to service their debts to European banks.

According to Glazyev, the so-called "third phase" of sanctions against Russia will be a tremendous cost for the European Union. The total estimated losses will be higher than 1 trillion euros. Such losses will severely hurt the European economy, making the US the sole "safe haven" in the world. Harsh sanctions against Russia will also displace Gazprom from the European energy market, leaving it wide open for the much more expensive LNG from the US.

Co-opting European countries in a new arms race and military operations against Russia will increase American political influence in Europe and will help the US force the European Union to accept the American version of the Transatlantic Trade and Investment Partnership, a trade agreement that will basically transform the EU into a big economic colony of the US. Glazyev believes that igniting a new war in Europe will only bring benefits for America and only problems for the European Union. Washington has repeatedly used global and regional wars for the benefit of  the American economy and now the White House is trying to use the civil war in Ukraine as a pretext to repeat the old trick.

[...]

Unsurprisingly, Sergey Glazyev believes that the main role in the creation of such a political coalition is to be played by the European business community because America's attempts to ignite a war in Europe and a cold war against Russia are threatening the interests of big European business. Judging by the recent efforts to stop the sanctions against Russia, made by the German, French, Italian and Austrian business leaders, Putin's aide is right in his assessment. Somewhat surprisingly for Washington, the war for Ukraine may soon become the war for Europe's independence from the US and a war against the dollar.

Atualização: 19/6/2014 9:42 WET

quarta-feira, junho 18, 2014

«Ricardo Salgado devia estar preso»

Cristiano Ronaldo e Dona Inércia promovem BES

Ana Gomes (PS) dá murro no estômago de Ricardo Salgado, e uma cotovelada valente no Costinha socratino.


Foi uma indireta muito pesada para o sargento de Sócrates. O Pinho dos chifres era uma carta da Dona Branca Espírito Santo num dos lugares chave do último e socratino governo PS, por onde Costa se fartou de andar, se bem se lembram...

Percebe-se agora cada vez melhor porque andam todos os piratas deste país com o Costa ao colo. E porque motivo o ex-ministro de Sócrates quer um consenso, mas só se for por baixo da mesa. Falar do consenso? Nem pensar!

Ana Gomes: "Ninguém, chame-se Salgado ou Espírito Santo, pode ser demasiado santo para não ir preso"
RTP Notícias, Sandra Henriques 17 Jun, 2014, 09:30 / atualizado em 17 Jun, 2014, 09:33

No Conselho Superior da Antena 1 desta manhã, Ana Gomes diz compreender “o esforço de tantos comentadores, sabichões e economistas em tentar isolar e salvar do lamaçal o BES, o maior e um dos mais antigos bancos portugueses, que emprega muita gente e ninguém quer ver falido e nacionalizado, mas a verdade é que o GES está para o BES como a SLN para o BPN”.

"O Grupo Espírito Santo está para o BES como a SLN estava para o BPN"
Por Carlos Diogo Santos
i online, publicado em 18 Jun 2014 - 05:00

A eurodeputada Ana Gomes disse ontem que o BES recusou o financiamento da troika para "não ter de abrir as contas do banco à supervisão do Estado". BE defende que Salgado não tem idoneidade

A eurodeputada socialista Ana Gomes comparou ontem o Banco Espírito Santo (BES) ao BPN, afirmando que ambos são ou foram instrumentos de actividade criminosa. Ana Gomes disse ainda, em declarações à Antena 1, que "ninguém, chame-se Salgado ou Espírito Santo, pode ser demasiado Santo para ir preso".

A reacção surge dias após ter sido tornado público que o antigo contabilista da Espírito Santo International (ESI) Francisco Machado da Cruz acusou o presidente executivo do BES, Ricardo Salgado, de ter autorizado a manipulação das contas daquela holding. Na prática, foi ocultado um passivo de 1,3 mil milhões de euros.


«Ricardo Salgado devia estar preso»
Ana Gomes e Carlos Abreu Amorim discutiram o perdão fiscal
na TVI24, 2014-02-14

E mais:
Poirot e o BES
Pedro Braz Teixeira, Observador, 14/6/2014, 13:25
É preciso ser totalmente destituído de “celulazinhas cinzentas”, ou, em alternativa, ser patologicamente ingénuo para acreditar na mais do que inverosímil versão de Ricardo Salgado.

domingo, junho 15, 2014

Solução mágica para crescer?

Bombardeiro nuclear americano B-1


O estado de negação predomina entre os ignorantes economistas


Tal como o tardo-keynesiano Paul Krugman, Tyler Cowen acha que uma grande carnificina mundial poderia espevitar o crescimento! Escreve este patusco no NYT (what else?):
“An additional explanation of slow growth is now receiving attention, however. It is the persistence and expectation of peace.”
O pletórico Cowen está, porém, teoricamente errado no seu execrável raciocínio. E por uma razão muito simples: o crescimento rápido do Ocidente e parte do Oriente nos séculos 19 e 20 deveu-se à abundância, acessibilidade e baixo preço de duas fontes de energia hoje em declínio: carvão e petróleo. Basta empurrar um automóvel sem gasolina para perceber o valor inestimável de um litro de gasolina!

As duas grandes guerras mundiais e boa parte das guerras posteriores andaram sempre à volta disto: carvão, petróleo, gás natural e alguns minérios essenciais. Sem isto, nem sequer há maneira de pagar novas guerras mundiais, salvo se algum suicida no poder optar uma guera nuclear, ou biológica, cuja contenção, nomeadamente geográfica, ninguém pode assegurar — basta refletir um pouco sobre as consequências catastróficas do desastre nuclear de Fukushima (ver este vídeo impressionante). Por outro lado, depois de uma guerra nuclear, ou biológica, que seria necessariamente acompanhada de ataques químicos, guerra convencional e operações especiais de guerra assimétrica (terrorismo), causando certamente dezenas de milhões de mortos em pouco tempo, o crescimento que tantos anseiam, à direita e à esquerda (basta ouvir o que diz Jerónimo de Sousa), só mesmo alavancado em minhocas!

The Lack of Major Wars May Be Hurting Economic Growth
By Tyler Cowen, The Upshot/The New York Times, JUNE 13, 2014


The continuing slowness of economic growth in high-income economies has prompted soul-searching among economists. They have looked to weak demand, rising inequality, Chinese competition, over-regulation, inadequate infrastructure and an exhaustion of new technological ideas as possible culprits.

An additional explanation of slow growth is now receiving attention, however. It is the persistence and expectation of peace.

sábado, junho 14, 2014

A moeda e os impérios

Origem: DoubleLine

O tempo histórico tem um passo mais largo que o tempo da nossa ansiedade


O gráfico que acompanha este artigo elucida bem como os impérios nascem, impõem a sua moeda, e depois morrem.

É o caso agora dos EUA, cuja moeda de reserva acaba de perder a hegemonia e está obrigada a partilhar tal estatuto com o euro e com o renminbi, depois de os especuladores ingleses e americanos terem perdido a guerra inglória que lançaram contra a moeda única europeia.

Mas tal como o gráfico também mostra, os impérios morrem devagar. Por exempo, Portugal só 600 anos depois (1415-2015) de ter sido um império, dono de uma moeda de reserva mundial ao longo de oitenta anos, se viu envolvido em sucessivos episódios de insolvência. Só em 1999 Portugal arriou a sua bandeira em Macau e deixou de ter moeda própria — a favor do euro. E, com sorte, só em 2015 iniciaremos um novo período histórico, ainda pleno de incógnitas.

Devemos, pois, olhar para o declínio dos Estados Unidos com prudência, tendo sempre em conta que os aliados estratégicos são em larga medida determinados pela geografia, e não pela ideologia.

O Atlântico volta a ser o centro estratégico do planeta, por motivos que explicaremos noutro texto, mas que no essencial se prende com a impossibilidade objetiva de a Ásia se aproximar tanto da Euroamérica, quanto a Euroamérica se tem aproximdado ultimamente da Ásia. A paragem do movimento tectónico em curso vai ocorrer ao longo da próxima década (2020-2030), e a linha da redistribuição global da riqueza material, tecnológica e cultural vai acabar por manter uma grande assimetria entre o Ocidente e o Oriente, e entre o Norte e o Sul. Não há, pura e simplesmente, energia barata para que seja doutro modo.




How Much Longer Will the Dollar Remain the Reserve Currency of the World?
By Cullen Roche, June 11th, 2014. Pragmatic Capitalism.

...will the USA lose its reserve currency status at some point?  Yes.  In fact, it’s already starting to lose its reserve status to Europe and China.  Will it be the end of the world and will it cause everyone to suddenly ditch the dollar?  Probably not.  It just means the USA will produce a lower proportion of global output and therefore, as a matter of accounting, the rest of the world will hold a lower percentage of US dollar denominated financial assets as a percentage of global output.  It’s not the end of the world.  It’s just a sign that market shares change and when you’re #1, well, there’s only one direction to go.

Segundo Paul Kennedy escreve em The Rise an Fall of the Great Powers, a China, se não tivesse destruído a sua grande Armada, para acudir à pressão que os Mongóis exerciam a norte do seu território, talvez tivesse chegado à Europa por via marítima. O contemporâneo, embora mais velho, do Infante Dom Henrique (1394 - 1460), que na China poderia ter promovido um movimento simétrico ao dos Descobrimentos Portugueses, era um general eunuco, de origem muçulmana, chamado Zheng He (1371 - 1433). Este personagem assume hoje na China um protagonismo mítico só comparável ao do famoso filho da princesa inglesa Filipa de Lencastre e de D. João I, que foram reis de Portugal. Mas na História, ao contrário do que se diz, as repetições são raras. E o sonho que a China hoje alimenta de abrir-se ao mundo e devir um império moderno e mundial, como Portugal, Castela, a Holanda, França, Inglaterra e o Estados Unidos foram, pode estar irremediavelmente comprometido por uma realidade chamada pico do petróleo, e pela consequente implosão do período de crescimento inflacionista extraordinariamente rápido e intenso que uma parte do mundo conheceu nos últimos duzentos anos.

Portugal verá porventura aumentar o seu território por efeito da extensão da sua Plataforma Continental (Facebook). Mas será por aqui e pelo papel que soubermos jogar na União Europeia que o novo ciclo começará, depois do arriar definitivo da bandeira colonial? Ou teremos que descer previamente ao inferno de nós mesmos, para podermos renascer genuinamente em uma nova era?