quinta-feira, agosto 16, 2018

Maddy Hallquist e o lamento de uma imprensa falida

Photo: MATTHEW THORSEN, Christine and Dave

A era Trump não é  só o que parece


“Here I am, the transgender CEO of one of the most macho businesses” 
Hallquist always felt like a girl as a child attending Catholic school in suburban Syracuse, N.Y. — but it would be decades before she knew there was a word for it. 
Dave Hallquist was dressed in a maroon button-down shirt and black trousers during a tour of the Vermont Electric Cooperative headquarters last month in Johnson. The former engineer wore comfortable shoes and a black leather men’s watch while showing off a state-of-the-art control room, noting how technology has helped to shorten the length of power outages in the 74 towns VEC serves. Hallquist has brought the state’s second-largest utility back from bankruptcy, and, after a decade as its chief executive officer, has become a knowledgeable ambassador for the 107-employee co-op. 
— in “Becoming Christine: Transgender CEO Hallquist Prepares to Go to Work As a Woman “ Seven Days, November 04, 2015

A América tem recursos e reservas que não devemos menosprezar. Dois deles são fundamentais: a democracia e a liberdade de expressão, mesmo quando sabemos das contradições que desde sempre coabitaram com estas duas instituições — a prevalência do racismo em muitos estados é um facto conhecido e reconhecido.

A deliciosa história contada por Terri Hallenbeck no Seven Days, “Becoming Christine: Transgender CEO Hallquist Prepares to Go to Work As a Woman”, sobre a agora candidata a governadora do estado de Vermont (Teresa Abecasis, Plataforma, 16/8/2018), mostra até que ponto nem a erupção dum populista como Trump altera aquilo que é a natureza cultural profunda da América. Dave Hallquist, um engenheiro de sucesso especializado em energia, é hoje a engenheira Christine Hallquist, após um processo de mudança de género, complicado, doloroso, mas que safou Christine dum cancro causado por excesso de testosterona. E é também uma política determinada a combater as ideologias atávicas de Donald Trump.

O mundo está a mudar, e não é só na direção errada. Felizmente!

“Precisamos de si”


Usando as redes sociais como púlpitos de comícios globais, convencendo as pessoas de que a desintermediação as informa melhor - quando na verdade as manipula melhor -, amplificando erros de jornais, ateando ódios e criando perceções sobre mentiras, “factos alternativos” e “fake news”, políticos populistas têm o claro objetivo de aniquilar quem põe em causa o seu poder. Os jornalistas. Os editoriais de hoje marcam um movimento de força, de humildade perante os erros, de alerta e de apelo. Incluindo o apelo do New York Times de que assine jornais, para que os jornais sejam mais fortes, condição básica de independência e de capacidade de investimento em redações de investigação. Lá como cá.  
—in Pedro Santos Guerreiro, Expresso, 16 de Agosto de 2018

O problema, meu caro, Pedro Santos Guerreiro, é que a imprensa convencional de massas nunca foi totalmente livre, e pior, ultimamente, devido à sua aflitiva crise de paradigma tecnológico e social, está cada vez mais indigente e atrelada aos interesses de quem a subsidia, pois de vendas e publicidade já não vive :(

Não confundamos, pois, a nuvem (Trump), com Juno (a liberdade de comunicar e ter opinião).



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domingo, agosto 12, 2018

De Caracas a Monchique


Entrevista exclusiva com a ex-procuradora geral da Venezuela
De  Euronews  • Últimas notícias: 09/03/2018 (VIDEO
Há cerca de um ano, a ex-procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, denunciou a rutura da ordem constitucional no país. Foi expulsa do cargo pela Assembleia Nacional Constituinte e, em agosto passado, decidiu deixar a Venezuela. Agora, a partir da Colômbia, onde vive, denunciou alegados atos de corrupção e violações dos direitos humanos pelo governo de Maduro. 
Ortega apresentou uma queixa perante o Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, que inclui mais de 1.000 provas. O TPI abriu uma investigação preliminar.
Que diz a isto a esquerda-caviar do Bloco e do PCP? Que dizem os socialistas do PS? Se não dizem nada, temo o que poderá acontecer no nosso país um dia destes. As ordens dadas à GNR por António Costa sobre o combate aos fogos florestais deste verão têm que ser analisadas à lupa, pois podem configurar o início de uma campanha autoritária anti-constitucional. Junte-se a este sinal a campanha iniciada por dois patetas do regime socialista sobre o regresso do serviço militar obrigatório, mais o braço dado entre Costa e Rio para substituirem a Procuradora Geral da República, Joana Marques Vidal, por um serventuário qualquer, e teremos boa parte da agenda da Oposição que falta organizar.

Uma nova forma insidiosa de autoritarismo, chantagem e censura aflora não apenas no populismo da direita e da extrema direita, mas igualmente no populismo da esquerda e da extrema esquerda. A etiqueta democrática começa a desfazer-se, deixando transparecer a agressividade de quem, afinal, já se posicionou para não largar o poder, aconteça o que acontecer.

Vêm aí tempos difíceis, desde logo para todos os que crêem nas virtudes intrínsecas da liberdade, da democracia e do estado de direito—ameaçado pela prepotência encomendada pelo Governo à GNR durante o maior incêndio deflagrado e mal combativo na Europa este ano.

Pior cego é aquele que não quer ver.





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sábado, agosto 11, 2018

Pearl Harbour 2.0?

CNN gets rare access on board a US military surveillance flight over the hotly-disputed islands in the South China Sea.

Começaram os preliminares da III Guerra Mundial


O chamado Mar do Sul da China é um dos pontos quentes da guerra entre os EUA e a China, que já entrou na sua fase preliminar: guerra comercial, guerra cambial, guerra eletrónica e uma tensão crescente no mar do sul da China pelo controlo da crucial região de passagem entre o Pacífico e o Índico. Trump precisa, no entanto, de garantir previamente um status quo não beligerante noutros pontos quentes das placas tectónicas da geopolítica global: Rússia, Irão e Turquia, por exemplo.

IMPORTANTE: Portugal tem que reequilibrar rapidamente a geometria das suas dependências externas em setores estratégicos, tais como o setor energético, o setor financeiro e os nossos principais portos. Goste-se ou não de Trump, goste-se ou não de Boris Johnson, vamos ter que regressar às velhas alianças, e também ao Atlântico Sul e Norte, às Américas e a África. Quem abastecerá a França e a Alemanha de gás natural, petróleo e cereais se as coisas ficaram muito feias no Irão, na Turquia, na Rússia, ou na coesão europeia?

‘Leave immediately’: US Navy plane warned over South China Se 
By Brad Lendon, Ivan Watson and Ben Westcott, CNN 
Above the South China Sea (CNN) — High above one of the most hotly contested regions in the world, CNN was given a rare look Friday at the Chinese government’s rapidly expanding militarization of the South China Sea. 
Aboard a US Navy P-8A Poseidon reconnaissance plane, CNN got a view from 16,500 feet of low-lying coral reefs turned into garrisons with five-story buildings, large radar installations, power plants and runways sturdy enough to carry large military aircraft.
During the flight the crew received six separate warnings from the Chinese military, telling them they were inside Chinese territory and urging them to leave. 
“Leave immediately and keep out to avoid any misunderstanding,” a voice said. 
Updated 0001 GMT (0801 HKT) August 11, 2018
Ver esta sequência de videos da CNN sobre o conflito em desenvolvimento no Mar do Sul da China

South China/ man-made Spratly islands



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quinta-feira, agosto 09, 2018

Xiiiiiiiiii....!


China suspendou a importação dos SUV da Mercedes fabricados nos EUA

Os três erros fatais de Xi


1—Não existe tal coisa a que os mentores de Xi chamam “Chinese exceptionalism”;

2—A América, mesmo ferida, é um gigante cultural, tecnológico, energético e militar;

3—A China tem o mesmo problema genético da Alemanha: não dispõe de autonomia energética, mineral e alimentar. E tem um grande problema histórico, que se agravou: uma população envelhecida que é mais do que quatro vezes a população dos Estados Unidos da América;

Recomendação aos meus queridos conterrâneos: preparem-se para reforçar as alianças com ingleses e americanos, sem deixar cair as boas relações com a China e Bruxelas, claro.

Mas a prioridade das prioridades portuguesas tem um nome: África!

Handling of U.S. trade dispute causes rift in Chinese leadership: sourcesBen Blanchard, Kevin Yao
Reuters, August 9, 2018 / 8:52 am 
“Many economists and intellectuals are upset about China’s trade war policies,” an academic at a Chinese policy think tank told Reuters, speaking on condition of anonymity due to the sensitivity of the issue. “The overarching view is that China’s current stance has been too hard-line and the leadership has clearly misjudged the situation.” 
[...] 
Under Xi, officials have become increasingly confident in proclaiming what they see as China’s rightful place as a world leader, casting off a long-held maxim of Deng Xiaoping, the former paramount leader who said the country needed to “bide its time and hide its strength”.

“The Outlook Has Become Grim”: Trump Trade War Causing “Rare Cracks” Within China’s Communist Partyby Tyler Durden
ZeroHedge, Thu, 08/09/2018 
Over the weekend, Trump claimed on Twitter that the US is winning the trade war with China for one simple reason: whereas US stocks are back to all-time highs, the Chinese market has tumbled and remains mired in a bear market. Now, another - less naive - indication has emerged suggesting that the US is indeed getting the upper hand in the ongoing trade feud: according to Reuters, the trade war with the United States is “causing rifts” within China’s Communist Party, with some critics saying that China’s overly nationalistic stance “may have hardened the U.S. position.”


Two models: Building Stuff (China) or Bombing Stuff (Us)?
In this Summer Solution episode of the Keiser Report, Max and Stacy contrast the situation with China, a perhaps emerging superpower, to the United States, a possibly declining superpower. As the US grew powerful as an empire of debt, extracting resources and equity from economies colonized by their debt rather than their military armies, what happens when China begins doing the same? Lots of complaints from U.S. officials who want American lenders to take over debt markets the U.S. has overlooked in the past few decades. They look at the case of Africa where Chinese mobile phone manufacturers and tech entrepreneurs are radically altering the telecom landscape left wide open to them after the departure of Nokia. What happens when the African consumer becomes wealthy enough to transform the Chinese global power play?


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Portugal arde. Espanha, não. Porquê?

Foto: Pedro Nunes/Reuters (in TSF) 

Os fogos florestais extremos vieram para ficar. 


A nossa atitude e a nossa capacidade de enfrentar esta nova situação tem que mudar radicalmente e em pouco tempo. Os políticos falharam em toda a linha.
36 feridos e 299 pessoas retiradas de casa por causa do fogoTSF, 09 de agosto 2018 - 10:09 
Patrícia Gaspar fez um ponto de situação do incêndio que começou na sexta-feira passada. Até ao momento, o fogo fez 36 feridos, um deles em estado grave. Destes, 19 são bombeiros. Por causa das chamas, 299 pessoas foram retiradas de casa. 
Às 10h, estavam no terreno quase 1.300 homens, apoiados por mais de 390 viaturas, seis aviões e três helicópteros.
Os guardas florestais têm que regressar em massa e, em articulação com os bombeiros, as Juntas de Freguesia, as Câmaras Municipais, a GNR, e as organizações civis vocacionadas, devem constituir uma frente da prevenção tática permanente e autónoma, bem instruída e dotada de meios suficientes, com capacidade de atacar os fogos florestais quando estes começam. A Proteção Civil, depois de informada das ocorrências, agirá então de acordo com o seu planeamento, regras e procedimentos.

Mas para isto é preciso investimento público, nomeadamente na formação das pessoas e das comunidades que vivem no meio ou próximas das florestas, bem como na dotação de meios de intervenção.

Por outro lado, a Proteção Civil tem que passar a contar com uma unidade aérea militar de combate aos incêndios florestais, integrada na Força Aérea Portuguesa—por forma a garantir prontidão, continuidade e custos controlados, evitando as negociatas político-partidárias.

Os comportamentos humanos, seja na origem criminosa de alguns fogos, seja na falta de limpeza das matas, são fatores relativamente secundários no fenómeno extremo a que continuaremos a assistir nos próximos anos e décadas.

A combinação entre o despovoamento das zonas rurais, o fim da prosperidade alimentada por energias abundantes e baratas, e as alterações climáticas (não só de origem humana, mas também de origem humana) formam um cocktail cujas explosões, cada vez mais recorrentes e extremas, não se compadecem com o amadorismo e a irresponsabilidade da partidocracia que nos conduziu à falência.

O Estado, governado agora por uma geringonça de esquerda atada a uma austeridade escondida atrás de propaganda e de decisões orçamentais populistas, provou em dois anos sucessivos a sua incapacidade e a sua enorme e criminosa irresponsabilidade na gestão deste assunto.

O país deve preparar-se para votar com os pés. O regime, assim, não funciona e deita o país a perder.

O cinismo ávido de poder, do 'socialista' António Costa, é insuportável!

Post scriptum
Red-hot planet: All-time heat records have been set all over the world during the past week — The Washington Post
Este é já o maior desafio à coesão social e à coesão territorial dos países. Quem quererá viver nas comunidades rurais de ora em diante? Que ocorrerá ao valor da propriedade rústica? E aos preços da alimentação e da água?


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quarta-feira, agosto 08, 2018

Já começou a III Guerra Mundial?

The Azov Battalion uses the Nazi Wolfsangel symbol as its logo. Its founder Andriy Biletsky (center) has moved to ban “race mixing” in the Ukranian parliament. (Azov/Twitter)

Será muito diferente da Primeira, e da Segunda...


Neo-conservatives are crazy. They think they can win a nuclear war! 
 PAUL CRAIG ROBERTS. 
Israeli arms are being sent to a heavily armed neo-Nazi militia in Ukraine, The Electronic Intifada has learned. 
ASA WINSTANLEY.
Shifting monetary systems: developed to developing nations 
The World Wars of the twentieth century had spawned a US-led monetary structure that came to dominate markets and geopolitics. In 1944, self-interested financial leaders convened at Bretton Woods to craft a monetary system centered on US and European currencies and interests. While Europe rebuilt its war-torn cities, the United States capitalized on its superpower role, and developing countries were overshadowed. 
In contrast, the twenty-first century gave rise to a financial world war. Conjured money was the weapon of choice. Fabricated funds went toward subsidizing the private banking system and buying government debt, corporate debt, and stocks. By providing the grease that kept money flowing, central bankers superseded governments—that set the cost of money and provided the confidence in ongoing liquidity—the world was their battlefield. 
NOMI PRINS, Collu$ion, How Central Bankers Rigged The World, 2018.
ASEAN, China agree 'milestone' text as basis for South China Sea talks 
SINGAPORE (Reuters, August 2, 2018) - Southeast Asian nations and China have reached a “milestone” in talks with China over a code of conduct in the South China Sea with a working text that will serve as a basis for future negotiations, Singapore’s foreign minister said on Friday.
Há qualquer coisa no ar que cheira cada vez mais a desastre, e possivelmente a guerra. Mas, tal como o colapso ecológico provocado pelas alterações climáticas, não será um acontecimento súbito, único e definitivo. Virá sim por vagas, com intervalos cada vez menores, e intensidade crescente. Para todos os efeitos, podemos datar o início da III Guerra Mundial no que quer que tenha acontecido em 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque. Trump pode muito bem ser o líder que precipitará a segunda vaga do conflito global que ditará a forma do planeta humano depois da era dos combustíveis fósseis de alta densidade—carvão, petróleo e gás natural— e depois do esgotamento de inúmeros recursos minerais, e da extinção de milhares de espécies animais e botânicas à face da Terra.

Donald Trump, ao disparar em todas as direções lançou uma grande confusão nas relações internacionais, sobretudo na Europa e no Pacífico. Em resposta a esta perigosa desorganização do status quo internacional, a União Europeia decidiu criar proteções legais face às sanções intempestivas do presidente americano contra tudo e contra todos (salvo a sionista Israel, claro). Por sua vez, a China acaba de avançar, com vários países asiáticos, e sem os Estados Unidos, para um Código de Conduta no Mar do Sul da China, num claro desafio à hegemonia imperial americana.

Recomendo, a propósito deste verão quente, os videos que se seguem e dois livros. No seu conjunto dão-nos uma panorâmica bastante detalhada da complexidade económico-financeira, social e geoestratégica resultante do sobre-endividamento de uma super-potência em declínio: os Estados Unidos da América.

Paul Craig Roberts — Deep State and MSM Will Fight to the Death Against Trump, interview by Greg Hunter, USAWatchdog.

Steve Bannon — Steve Bannon interview with Christopher Hope, The Telegraph.

Nomi Prins — All The Presidents Bankers, 2014; Collu$ion—How Central Bankers Rigged The World, 2018.










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terça-feira, agosto 07, 2018

Portugal no fim da linha


O populismo não é uma alternativa à falência


ALFA PENDULAR — Calor leva a desmaios no Alfa Pendular e atrasos nos comboios 
TSF, 05 de agosto de 2018 - 00:24

Desta vez houve passageiros que desmaiaram. Um dia morrerá algum :(

O preço desta Geringonça que não anda de comboio, nem de Metro, será pesado.

O imparável fiasco SIRESP não augura nada de bom, como se pode perceber da leitura do texto meticuloso de Joaquim Miranda Sarmento, no ECO.

Quem compra votos a curto prazo, pagando salários imprudentes e empregando mais gente do que pode, acabará por empurrar o país para o desassossego, e para uma ditadura qualquer.

A erosão do capital público e privado corrói a estrutura do país por dentro. Quando dermos por ela, poderá ser tarde demais. Um dias destes, sem aviso, implodiremos como aqueles buracos que abrem depois de fortes chuvadas no alcatrão, engolindo tudo o que vier na sua direção.

Parafraseando um comentário que recebi na minha caixa de correio a propósito do colapso da CP, patente na interrupção do serviço Alfa motivada por avarias sucessivas no ar condicionado:

— se já perdemos, a banca para os espanhóis (Santander, CaixaBank), a eletricidade para os chineses da China Three Georges Corporation e da State Grid Corporation of China, 22,5% da Galp Gás Natural Distribuição para os japoneses da Marubeni associados à Toho Gas, 8 concessionárias e 3 parcerias público-privadas institucionalizadas no setor das águas, para os japoneses da Innovation Network Corporation of Japan, os aeroportos para os franceses da Vinci, os portos para os turcos da YILPORT, salvo o terminal de Sines, explorado pelo gigante de Singapura PSA International, a CP Carga, hoje Medway, para os suíços da MSC, e até a Casa Ramos Pinto integra hoje a francesa Champagne Louis Roederer, qual é o problema de termos a ferrovia de passageiros nas unhas de espanhois, franceses, ou alemães, se o serviço melhorar e o negócio prosperar?

Se dependesse de mim a decisão, convidaria de imediato os japoneses para tomarem conta do transporte ferroviário de passageiros no nosso país, dando obviamente prioridade aos eixos Valência do Minho-Vila Real de Santo António e Lisboa-Madrid.

Quanto mais os demagogos da esquerda falam de nacionalizações, empresas públicas, reversões das medidas da Troika, estado social e, em geral, de uma bebedeira de direitos no preciso momento em que deixou de haver recursos para os alimentar, mais o país real se vê confrontado com a perda dramática do seu património económico acumulado ao longo de décadas ou séculos, e se atola no pântano de dívidas criminosamente geradas e estimuladas por bancos e governos indígenas—de onde não é capaz de sair.

O abandono orçamental das nossas infraestruturas estratégicas, em nome das cada vez mais magras colheitas eleitorais, é um crime que vamos pagar muito caro. E até lá — nunca antes de 2030— de uma coisa estou certo: não haverá renovação estratégica, material e operacional na nossa rede ferroviária, nem um novo aeroporto de raíz em Lisboa (Rio Frio) sem investimento planeado, verdadeira dimensão económico-financeira e know how—tudo o que estruturalmente falta à nossa burguesia, e ao nosso Estado. Sem uma nova vaga de investimentos estrangeiros no nosso país, com repercussões culturais profundas no tecido laboral português, partes significativas da nossa base de convivência social começará a ruir.


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