Mostrar mensagens com a etiqueta Grécia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Grécia. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Seguro aposta na desgraça

Afinal o que quer o PS? Portugal ou a Grécia?

PS retoma aliança com os interesses de quem vive de rendas,
nomeadamente os bancos!

Foto Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens/Arquivo

O Partido Socialista voltou a defender junto da troika um alargamento dos prazos para atingir o equilíbrio orçamental, defendendo também perante os chefes da missão que Portugal deve beneficiar das mesmas benesses dadas à Grécia no recente acordo. Público, 21 Fev 2012.

O BE e o PCP disseram hoje aos líderes da missão da troika que o programa não está a resultar, mas os chefes da missão consideraram que o programa "está no bom caminho" e que não será renegociado. Jornal de Negócios on-line, 21 Fev 2012.

O grosso da austeridade contra as pessoas e as micro empresas está feito. Não é possível esticar muito mais este violento programa de ajustamento fiscal. O seu cumprimento cabal vai, aliás, continuar a doer a muitos de nós, durante uma década ou mais, mas não à deputada do PCP que se escandalizou com o take away para os aflitos, pois essa jovem intocável come numa cantina de luxo, a da Assembleia da República, subsidiada pelo mesmo terrorismo fiscal que só aparentemente condena.

Mas falta, agora, passar à segunda fase do Memorando!

Falta a reforma estrutural do Estado, tornando-o mais seco, mas também mais responsável, competente, tecnicamente independente e respeitável. Falta descontinuar as rendas da elite de ricos incompetentes que muito contribuiu para arruinar este país. Falta estabelecer regras de concorrência na economia, e regras de concurso público universais nas relações entre o Estado e a sociedade das pessoas e das empresas. Falta estabelecer de vez a transparência, a justiça e a supervisão independente das leis e das regras e acordos. E falta, por fim, quebrar a espinha aos banqueiros e aos especuladores corruptos, assim como aos oligopólios da energia, das rodovias e da saúde.

Curiosamente, é precisamente agora, que falta tudo isto que o Memorando prevê, que o seminarista (in)Seguro vem exigir mais tempo! Mais tempo para quê? Ou para quem? Para perpetuar o anestesiado, indolente, paquidérmico e partidário Estado que temos? Para manter os monopólios? Para manter aconchegados os bancos e os rendeiros que fazem chegar o financiamento partidário, e sobretudo garantem os tachos de onde vêm e para onde vão os filhos partidários mais privilegiados da democracia degenerada que temos?

Ainda não vi o seminarista (in)Seguro do PS dizer ao país o que quer.

Só mais crescimento, é isso que o demagogo António José Seguro quer? Mas como, homem? Explique-se! Quer adiar tudo o que do Memorando da Troika ainda falta fazer: das reformas do Estado e da economia, ao fim dos privilégios desproporcionados e indecentes da burguesia parasitária e corrupta que domina o país? É isso que quer?

Que significado pode ter este lip sync do burocrata que sucedeu a Sócrates? Eu só vejo um: o medo de enfrentar a mão que alimenta boa parte dos incompetentes bonzos do PS!

O pedido deste transitório secretário-geral do PS não é mais, em suma, do que uma receita para colocar Portugal no estado miserável em que a Grécia está!

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Portugal: o porco que se segue?

O Rapto da Europa não é uma fava contada!

Evangelos Venizelo, Christine Lagarde e Wolfgang Schaube. Foto: ?

Atenas está a arder, mas a matança dos inocentes está longe de chegar ao fim. Um golpe de estado militar poderá baralhar radicalmente as contas dos especuladores, em particular se Angela Merkel e Wen Jiabao não tiverem medido bem, na cimeira UE-China de ontem, a gravidade e a urgência da situação, ou nos próximos meses um incidente militar grave no Golfo Pérsico fechar o acesso da China e do Japão ao petróleo iraniano.

A China reafirmou o seu empenho em ajudar a União Europeia a sair da sua crise de insolvência, a qual foi provocada pelo sobreendividamento público e privado, pela falta de disciplina orçamental, pela corrupção, pelo declínio industrial e criativo de boa parte dos países comunitários, e em geral pela alteração dos termos de troca mundiais associada à libertação dos povos colonizados pelo Ocidente, ao crescimento demográfico mundial, e ao declínio inexorável dos recursos energéticos, minerais e alimentares, cuja inflação de preços foi artificialmente contida pela via da criação monetária, ou seja, pelo endividamento. Mas Jiabao avisou também que:

"The debt crisis relies fundamentally on the efforts made by the EU itself. We especially expect the debt-stricken nations, according to their own situations, to strengthen fiscal consolidation, reduce their deficits and lower their debt risks,..."

"Beijing lends a hand to Europe", China Daily (15 Fev 2012).

Nenhum país, por mais rico que seja, está em condições de ajudar de forma decisiva a Eurolândia, o Reino Unido, ou os Estados Unidos, a tapar buracos sem fundo. A mesma globalização especulativa que permitiu ao Ocidente viver em permanente estado de negação da crise do seu modelo económico e social, é agora a principal causadora da crise sistémica do Capitalismo, em curso desde 2006. O dominó dos países que vão caindo na insolvência, isto é, que se tornam incapazes de gerar riqueza suficiente para pagar o serviço das suas dívidas (quanto mais crescer!) não ficará pela Grécia, Portugal, Itália, Espanha, etc. Atingirá a França, o Reino Unido, a América, e acabará por fazer um terrível ricochete na China, Índia e todos os países pobres do planeta. O buraco negro é só um, e só unidos poderemos fugir da sua órbita fatal de destruição.

"In 2011, The Depository Trust & Clearing Corporation estimated that the size of the global credit derivatives market in 2010 was $1.66 quadrillion USD"

[Wikipedia].

Este valor (mais de 26x o PIB mundial de 2010) é uma das medidas possíveis do grande buraco negro que nos conduzirá à hiperinflação, ou à guerra, ou a ambas — se a paralisia diplomática mundial persistir. Outro valor, menos grotesco, mas tão inimaginável pelos milhões de europeus depenados, é o que respeita ao valor nocional do mercados de derivados OTC (10x o PIB mundial de 2010):

"Prior to the financial crisis, the global OTC derivatives market grew strongly and persistently. Over the ten-year period from June 1998 to June 2008, the market’s compounded annual growth rate was 25 percent. The total notional amount outstanding reached its peak of $673 trillion in June 2008, but just six months later it had fallen to below $600 trillion in the wake of the financial crisis. [...] In December 2010, the total notional amount outstanding was $601 trillion".

Jian Cai, "Has the Over-the-Counter Derivatives Market Revived Yet?", Federal Reserve Bank of Cleveland.

Uma contadora de notas, podendo contar mil notas de um dólar por minuto, levaria mais de um milhão de anos a verificar os seiscentos e um biliões de dólares que correspondem ao valor nocional do buraco de derivados não regulados (OTC), e mais de três milhões de anos a contar os mil seiscentos e sessenta biliões de dólares que traduzem a dimensão virtualmente infinita do mercado de derivados de crédito. Ou seja, se não pusermos estes contadores infernais a zeros, apenas teremos sangue, suor e lágrimas pela frente :(

Perante estes números, ou mesmo tendo presente apenas os mais de 38,89 milhões de milhões de dólares de dívida pública mundial (mais de metade do PIB do planeta), o jogo da culpabilização nacionalista e a histeria partidária deixaram de ter sentido e apenas podem tornar as coisas mais desesperadas. A Alemanha é, aliás, o último país europeu a poder recriminar a Grécia, Portugal ou a Espanha pelas nossas desvairadas dívidas — que o são.

Think Greece's current economic malaise is the worst ever experienced in Europe? Think again. Germany, economic historian Albrecht Ritschl argues in a SPIEGEL ONLINE interview, has been the worst debtor nation of the past century. He warns the country should take a more chaste approach in the euro crisis or it could face renewed demands for World War II reparations.

'Germany Was Biggest Debt Transgressor of 20th Century', Spiegel Online.

Os algoritmos (dos finais da década de 1980, princípio da de 1990) e as equações de princípios de 1970, que nos conduziram até aqui, deixaram um número exagerado e demasiado pesado de países na insolvência. Sem escriturar mais e mais dívida, mais e mais quantidades surrealistas de liquidez digital, mais e mais moeda virtual (é tudo o mesmo!), o que aliás irá acontecer, mas não por muito tempo, nenhum dos países citados conseguirá sequer servir a sua dívida, quanto mais pagá-la. É da natureza dos buracos negros sugar toda a matéria que ande por perto!

It was the holy grail of investors. The Black-Scholes equation, brainchild of economists Fischer Black and Myron Scholes, provided a rational way to price a financial contract when it still had time to run. It was like buying or selling a bet on a horse, halfway through the race. It opened up a new world of ever more complex investments, blossoming into a gigantic global industry. But when the sub-prime mortgage market turned sour, the darling of the financial markets became the Black Hole equation, sucking money out of the universe in an unending stream.

Ian Stewart, "The mathematical equation that caused the banks to crash", The Guardian.

A dificuldade principal de toda esta calamidade financeira global reside assim num ponto: como deixar de pagar dívidas seguradas? Que parte poderá ser "perdoada"? Outra pergunta igualmente intrigante é esta: sendo o buraco nocional do mercado de derivados de crédito equivalente a tudo o que foi produzido ao longo de todo o século 20, como pensam as hienas da especulação traduzir em ativos reais (receitas comerciais garantidas, barragens, rios, portos, linhas férreas, comboios, aeroportos, aviões, ...) as suas esperadas cobranças usurárias? O sindicato de vendilhões do sombrio templo financeiro que nestes dois últimos anos tem vindo a lançar na miséria milhões de americanos, europeus, africanos e asiáticos, ainda não percebeu que a sua missão impossível é, em última instância, um desafio imperdoável às deusas do equilíbrio? E que Vénus e Balança acabarão por fazer justiça e reequilibrar a realidade?


A corrida aos bancos está em marcha nos PIIGS desde 2010.

Nas últimas duas semanas os alemães têm-se desmultiplicado em declarações sobre Portugal, ora elogiosas, ora apreensivas. Há duas explicações possíveis para tal agitação: ou acreditam que o próximo porco da matança somos nós, ou receiam que a estratégia de diversificação de alianças empreendida por Portugal desde (quem diria!) o governo de Sócrates, está a dar resultados positivos.

De facto, os portugueses têm vindo a preparar-se para a bancarrota, ou melhor, para o período pós-bancarrota. Como? Amealhando recursos (veja-se o reforço da emissão de dívida pública colocada hoje no mercado) e diversificando o leque de credores, por forma a não ficar nas mãos de um só agiota. A receita da triangulação com a China e com os países de língua oficial portuguesa (1), que reiteradamente tenho sugerido, está em marcha e teve insuspeitos precursores, com bons resultados traduzidos, por exemplo, na entrada da China na EDP e na REN (que tanto tem preocupado a Alemanha...) Para quem estiver interessado em conhecer os protagonistas e uma das plataformas que estiveram na origem desta acomodação estratégica do país, recomendo uma visita atenta ao sítio de uma coisa chamada GeoCapital, ou analisar a história recente do Moza Banco (2).

Portugal é uma das bases estratégicas da China na sua busca de vias alternativas ao Estreito de Ormuz, por razões geográficas, mas também por razões culturais. Não é impunemente que Portugal mantém uma relação de cinco séculos com a China, e não perdeu a amizade dos povos das suas antigas possessões imperiais e coloniais. A Alemanha terá que recorrer aos seus melhores filósofos para entender esta intrigante realidade.

O texto que se segue é uma receita bem pensada para a reestruturação da dívida grega pós-bancarrota. Lendo-o, perceber-se-à melhor o alcance das manobras de sobrevivência que temos vindo a empreender, muito para além da retórica parlamentar, da desorientação partidária e das nuvens mediáticas.
…the first step to a successful default, is securing new money for after the default.

China has mentioned a desire to become involved in European bailouts, but at an asset owner level, rather than as just a lender.  China wants to buy assets and wants strategic partners, it doesn’t just want to lend money.

[…]

So look to asset sales, and partnership with China.  Not only should you be able to secure financing, it would be at prices far better than selling these same assets to other European entities.  The Chinese desire is strong, and the EU has felt entitled.  Even more important, China has the capital to spend money to improve these facilities.  China can actually spend money to make sure their investments work – which means JOBS for Greeks!  A deep pocketed strategic partner (not lender) with long term goals would provide not only immediate liquidity but a  potential engine for GROWTH!
A Greek Default Doesn't Need To Be Chaotic For GreecePeter Tchir of TF Market Advisors (in ZeroHedge)

NOTAS
  1.  Dados do comércio entre a China e a CPLP, em 2010:
    —valor: 75,07 mil milhões de USD
    —crescimento: 49,45%
    — a China comprou aos CPLP bens e serviços no valor de 51,01 mil milhões de USD (+43,78%); e vendeu-lhes b&s no valor de 24,05 mil milhões de USD (mais 63,10%)
  2. Moza Banco is a financial institution that was launched Monday and includes Macau magnate Stanley Ho and Almeida Santos in its shareholder structure — in Club of Mozambique (18 Jun 2008).

    A estrutura accionista do banco é composta pela Moçambique Capitais, S.A., uma Empresa de Investimentos Moçambicana que detém 50.1%, o BES África (Grupo Banco Espírito Santo) com 25.1% e a Geocapital, uma sociedade de investimentos Luso-Macaense, que detém 24.5%.

    A integração do Grupo BES Africa Holding, e do Grupo Banco Espírito Santo para África na estrutura accionista do Moza Banco em Janeiro de 2011, veio alavancar a actividade do Banco, permitindo uma maior aceleração no processo de expansão da rede, reforçando a infra-estrutura tecnológica da Instituição, e beneficiando-se do know-how e especialização do Banco Espírito Santo nas áreas de negócio Corporate, Private e Retalho — in Auditoria de 2010 (KPMG).

Actualização: 15 Fev 2012 15:41

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

O incêndio de Atenas

Um péssimo augúrio

Atenas, 12 de Fevereiro de 2012

Grécia não irá tolerar mais sacrifícios... Como reagirão os eleitores alemães? É preciso cortar a sério nas expectativas dos grandes especuladores financeiros e bancários. Hair cut? Máquina zero!

quarta-feira, novembro 02, 2011

Dia de los muertos (uma farsa grega)

Os Estados Unidos não desistem de tentar tudo para acabar com o euro. Mas o dólar cairá primeiro!

A caveira coberta de diamantes do artista britânico Damien Hirst é bem a metáfora do dia de hoje!
Foto©Daily Mail

Greece has stunned Europe by calling a referendum on the bailout plan agreed to by EU leaders last week. The move throws efforts to rescue the euro into doubt and heralds weeks of market turbulence ahead of the vote. A Finnish minister said Greece will in effect be voting on whether to remain in the euro.
— Spiegel Online, 1-11-2011

Das duas uma: ou estamos perante a sabotagem de um agente infiltrado de Washington —cujo objectivo é destruir o euro—, ou de um demagogo populista vagamente idiota, o que não é verosímil.

A verdade é que foi este mesmo grego-americano, George Papandreu, quem, com apoio da Goldman Sachs, ajudou a esconder o endividamento grego até... à bancarrota!

Basta ler a sua biografia para perceber quase tudo. Do desastre olímpico, ao novo e ruinoso aeroporto de Atenas, passando pelas contas públicas marteladas com o auxílio, pago a peso de ouro, da Goldman Sachs, tudo este monarca republicano e o seu antecessor "socialista" (Costas Simitis) fizeram para enterrar a Grécia!

Crer que esta criatura teve uma inspiração divina na véspera do Dia dos Mortos, e que tão só o vento levou as palavras solenes proferidas na sequência da cimeira que cortou pela metade os dividendos esperados por quem apostou na dívida grega e perdeu, ou é ingenuidade ou confusão entre democracia e populismo referendário.

Five banks -- JPMorgan, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Bank of America Corp. (BAC) and Citigroup Inc. (C) -- write 97 percent of all credit-default swaps in the U.S., according to the Office of the Comptroller of the Currency. The five firms had total net exposure of $45 billion to the debt of Greece, Portugal, Ireland, Spain and Italy, according to disclosures the companies made at the end of the third quarter. Spokesmen for the five banks declined to comment for this story.
Bloomberg, 1-11-2011

Há 46 milhões de americanos a recorrerem à sopa dos pobres. No sonho americano chama-se Food Stamps e dá direito a cartão de plástico emitido pela insuspeita JP Morgan.

As the European news flow overflow continues, it is useful to occasionally look at how America's own economy is doing. After all remember that the latest paradigm is that the US will decouple from everyone (as is always foolishly and erroneously assumed whenever the ROW turns lower) and carry the weight of the global economy on its own shoulders. So here is this month's refresh from the Supplemental Nutrition Assistance Program, which informs us that in August, a new all time record number of Americans, or 45.8 million, relied on food stamps for sustenance.
 — ZeroHedge, 1-11-2011

Talvez seja bom recordar, a propósito desta farsa grega, e da aflição americana, uma pequena sociedade secreta chamada Skull and Bones. Só por acaso as coisas acontecem por acaso.


POST SCRIPTUM

A China indicou hoje esperar que a zona euro permaneça fiel ao plano de resgate aprovado há uma semana e reafirmou a disposição de "continuar a investir" na Europa, depois do referendo anunciado na segunda-feira pela Grécia.
Negócios online, 2-11-2011.

A única forma de avaliar as notícias financeiras desta crise global é imaginar um teatro de guerra financeira entre os EUA e a Eurolândia, de que as moedas japonesa e chinesa são uma espécie de actores oscilantes. Algumas das guerras militares convencionais e assimétricas em curso, actos de terrorismo, invasões ilegais de países e mudanças de regimes são obviamente parte desta mudança dos termos de troca mundiais. O império anglo-americano está em declínio acelerado. A sua última grande batalha é a batalha pelo par dólar-libra. E o seu inimigo estratégico, ao contrário do que se quer fazer querer, não é a China, mas o euro!

O volte-face grego de ontem não foi mais do que uma manobra imposta à Grécia pelos amigos americanos do americano-grego Papandreou. Como todas as provocações bem montadas, é uma operação populista quase perfeita, e conta, como não podia deixar de ser, com o olhar complacente dos ingénuos e dos distraídos, e sobretudo conta com o apoio militante dos burocratas oportunistas da Esquerda Empalhada Europeia!

A grande armadilha montada à União Europeia passa obviamente por lançar o euro na corrida descendente da desvalorização —forçando o BCE a baixar os juros, a parir euros do nada e, por conseguinte, a esvaziar a própria dívida europeia. Isto significará por em marcha a expropriação acelerada da poupança europeia, por via fiscal e através de uma inflação acelerada. Isto significará, em suma, se vier a ocorrer (a Alemanha poderá sempre mandar o euro às urtigas!), que os súbditos britânicos, incluindo os patetas americanos, conseguirão encurralar uma vez mais a Alemanha. Vale-nos, por enquanto, o namoro apaixonado entre Angelita e Sarko. E vale-nos, sobretudo, a inteligência estratégica da China e em geral dos países emergentes (com particular destaque para o Brasil)

act. 2-11-201122:51

quarta-feira, junho 15, 2011

A crise das democracias: Grécia, Espanha e Portugal

Em 1976 o marxista grego Nicos Poulantzas, escreveu A Crise das Ditaduras: Portugal, Grécia e Espanha. Hoje, se fosse vivo, teria que escrever A Crise das Democracias: Grécia, Espanha e Portugal.


LIVE STREAMING: Η Αγανάκτηση των Ελλήνων por News247

China’s central bank used its annual financial stability report to sound one of its starkest warnings yet about Europe’s debt mire, saying a series of rescue measures had helped stabilise the situation but not tackled the root causes.

The report stated: "There is a possibility that the sovereign debt crisis will spread and deteriorate." Read more: Irish Examiner (15-06-2011)

O impasse na reunião de emergência entre os ministros das finanças da zona euro, atirando para o princípio de Julho a tomada de decisão sobre a reestruturação da dívida grega, poderá conduzir este país a uma nova revolução, só que desta vez, contra a democracia degenerada e falida a que os partidos locais conduziram o regime saído da queda ditadura militar há mais de trinta e cinco anos.

Tal como em 1974-1976, poderemos voltar a assistir ao efeito Dominó que Nicos Poulantzas então analisou na perspectiva dos colapsos das mais duradouras ditaduras europeias do pós-guerra —Portugal, Grécia e Espanha. O plano de austeridade imposto pelos credores ao parlamento ateniense (onde hoje parece ter-se instalado o Campus da próxima revolução), e sem o qual não haverá mais empréstimos externos, implica o despedimento imediato de 140 mil funcionários públicos e/ou equiparados, e o corte de milhares de subvenções de que hoje vivem dezenas ou centenas de milhar de gregos. O horizonte imediato não poderia ser mais sombrio —ver este gráfico do Índice de Miséria grego.

O BCE de Jean-Claude Trichet não quer que os ricos paguem a crise (na linguagem da Esquerda), ou seja, opõe-se a que os credores privados levem uma tesourada nos juros (o já famoso haircut) a que acham ter direito integralmente — como se não houvesse uma crise financeira que ameaça destruir o euro, e uma crise social e política que pode resvalar de forma incontrolável para um dominó de revoluções populistas por toda a Europa, ou como se o negócio das dívidas soberanas não tivesse evoluído, como todas as bolhas especulativas deste Capitalismo tardio e sem futuro à vista, para taxas de juro e dividendos esperados na zona perigosa da pura agiotagem financeira! Tudo isto é verdade e sério, mas o BCE tem razão em dois pontos:
  1. se os credores da dívida soberana grega forem forçados a um desconto nos juros esperados, na ordem dos 25-30%, trocando os títulos actuais por novos títulos, com juros mais baixos e/ou prazos de maturidade mais alargados, os governos e os partidos populistas, imprudentes e irresponsáveis, mais os insaciáveis devoradores de poupança privada (pela via do saque fiscal) e do endividamento público, tomarão a generosidade por fraqueza e assumirão que o crime compensa — ou seja, quando as novas maturidades caírem, terão levado de vez a Grécia, e os países que seguirem a mesma receita demagógica, ao fundo;
  2. se houver, por parte dos credores, uma partilha solidária da despesa do endividamento orgiástico das democracias populistas que hoje abundam por essa  Europa fora, o BCE, que recebeu resmas e resmas de papel soberano como garantia das centenas de milhar de milhões de euros que já emprestou aos bancos privados (a 1%) para comprarem dívida europeia (com rendimentos esperados no mercado secundário que já atingiram, nalguns casos, os 28%!), ficará com um enorme vazio nos seus cofres, e verá a sua notação financeira cair a pique! Alguém já pensou nas consequências que uma tal depreciação do BCE poderá ter na integridade do projecto europeu?
Vários governos europeus (Áustria, Alemanha, Holanda, Finlândia, Bélgica), pelo contrário, defendem que os credores sejam parte da solução e não uma parte mais do problema. Uma tesourada nos lucros esperados pelos especuladores da bolha soberana europeia, feita a tempo, com parcimónia, poderá evitar o pior, isto é, poderá impedir o rebentamento descontrolado da bolha soberana grega, à qual se seguirá, se efectivamente explodir este mês ou em Julho, um dominó de explosões descontroladas, em Espanha, Portugal, etc. Seria preferível que este tipo de explosões muito perigosas, a terem que ocorrer, começassem nos EUA, ou no Reino Unido, e não em Atenas! Mas será realista um tal cenário, ou vamos mesmo assistir a uma matança de porcos no Sul da Europa antes da época própria?

A Reserva Federal americana canalizou 600 mil milhões de dólares para bancos europeus, canadianos e japoneses, sendo que a maior fatia foi mesmo parar à Europa!

And one wonders why suddenly German banks are so willing to take haircuts on Greek bonds: it is simply because courtesy of their US based branches which have been getting the bulk of the Fed's dollars in 1 and 0 format, they suddenly find themselves willing and ready to face the mark to market on Greek debt from par to 50 cents on the dollar. And not only Greek, but all other PIIGS, which will inevitably happen once Greece goes bankrupt, either volutnarily or otherwise. In fact, the $600 billion in cash that was repatriated to Europe will mean that European banks likely are fully covered to face the capitalization shortfall that will occur once Portugal, Ireland, Greece, Spain and possibly Italy are forced to face the inevitable Event of Default that will see their bonds marked down anywhere between 20% and 60% — in Zero Hedge.

A hipótese da tesourada ganha pois força entre os bancos recentemente confortados pelo afluxo de liquidez virtual oriundo das suas sucursais americanas —BNP Paribas, Barclays, Credit Suisse, Deutsche Bank, HSBC, UBS. Estes gigantes financeiros, e o seus aliados, esperam apenas o momento oportuno para desencadear um voo de rapina e de concentração financeira sem precedentes na zona euro; ainda por cima, com o apoio de um número crescente de governos e partidos de esquerda. Trata-se, afinal, de levar os ricos a pagar, pelo menos, uma parte da crise, em nome de um estado de bem estar social atolado de dívidas, maus hábitos e contradições irresolúveis. No entanto, uma coisa é certa: se esta opção vingar, as grandes empresas e bancos portugueses cairão paulatinamente na rede de unificação económico-financeira europeia acabada de montar.

A posição mais suave e contemporizadora do futuro director do BCE, Mario Draghi, fará provavelmente caminho, ainda que um caminho tendencialmente favorável à teoria da tesourada, por contraposição à teoria da dívida odiosa, que começa a ganhar cada vez mais adeptos!

Por agora, ninguém sabe exactamente onde a revolução grega irá parar...

O governo supostamente socialista está praticamente demissionário e suplica uma coligação com a Direita parlamentar (ler notícia no Público). Em Portugal, o Partido Socialista lusitano terá mesmo que acelerar o passo na substituição da ainda vigente, mas completamente inútil e execrável, direcção socratina — pois a actual coligação de centro-direita poderá não ser suficiente para as encomendas. O perigo de uma restauração anti-democrática pode espreitar ao virar da esquina... antes mesmo de o frio propício à matança do porco chegar.

É cada vez mais difícil ler as folhas de chá. Mas tentarei fazê-lo nos dias e meses cada vez mais difíceis que se aproximam.

sábado, maio 28, 2011

Debitocracia

Devemos exigir uma auditoria popular à nossa dívida externa

Para além de ser imperioso, nas eleições de 5 de Junho, correr com Sócrates e a tríade que tomou de assalto o PS, o governo e o país, também deveremos exigir do próximo governo, parlamento e presidência da república, uma auditoria imediata à nossa dívida externa, com todas as consequências que daí possam advir — por exemplo, a eventual acusação e julgamento dos piratas que levaram Portugal à bancarrota, ou mesmo, a imposição de uma renegociação euro-a-euro da própria dívida, separando o trigo do joio. Se forem detectadas dívidas odiosas, deveremos estar preparados para as repudiar.

O nosso caso será certamente diverso do da Argentina, Equador, ou Grécia. Mas será assim tão diferente? Ora vejam este excepcional documentário sobre o caso, muito mal explicado, da crise soberana da Grécia.


Debtocracy International Version por BitsnBytes

OUTRO VÍDEO — mostrando um ponto de vista bem diferente, no que respeita à natureza do Capitalismo, a recém difundida (23.05.2011) produção da HBO: To Big to Fail, defende que a salvação dos bancos (cujos pormenores até agora clandestinos, uma decisão do tribunal supremo dos EUA obrigou o FED a revelar recentemente), ou melhor, o mais recente e extraordinário processo de concentração ainda curso foi a única forma de evitar um colapso financeiro mundial de proporções nunca vistas, e uma corrida aos bancos que teria provavelmente destruído a moeda americana em poucas semanas. Esperemos pela chegada deste documentário, com o toque de Midas da HBO, chegue em breve a Portugal.



ÚLTIMA ACTUALIZAÇÃO: 29.05.2011 16:57

sexta-feira, abril 30, 2010

Portugal 185

Grécia corta 13º e 14º meses aos funcionários públicos

Por cá, talvez chegue transformar metade destes subsídios em poupança forçada, sob a forma de certificados de aforro não cobráveis antes de 2014.

Entretanto, há que investigar o que andam os piratas do Bloco Central a fazer com o sobe-e-desce do PSI 20!

E há que exigir de Sócrates que explique ao país para onde foram os 300 milhões de euros que usou para recomprar dívida soberana previamente emitida. A quem recomprou esta divida? Qual foi exactamente a operação? Exigimos transparência!

O senhor Joe Berardo, tal como o BCP, já para não mencionar os escândalos do BPN e do BPP, têm sido objecto de sucessivas operações de resgate dissimulado (nomeadamente via Caixa Geral de Depósitos), ao mesmo tempo que o banco público executa hipotecas a centenas/milhares de famílias que deixaram de cumprir com os seus compromissos. Não pode haver uma lei para os testas de ferro e para os bancos, e outra para o comum dos cidadãos.

A continuarmos por este caminho, não se admirem os partidos da actual nomenclatura se um dia destes alguém exigir o regresso à ordem! A democracia não pode ser uma desculpa para a institucionalização de um Estado mafioso.


POST SCRIPTUM —  O Bagão Félix engasgou-se. Porquê? No lugar de ministro das finanças passámos a ter uma banana. Porquê?


OAM 692—30 Abril 2010 17:48

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Portugal 165

O bisavô de Manuela Ferreira Leite
A crise de 1890-93 e a actual têm interessantes pontos em comum


Apesar da oportunidade grega, o nascimento de um governo económico europeu pode borregar no meio da maior crise do Euro desde a sua fundação.

"UE diz à Grécia que redução maior do deficit pode ser necessária" (Folha Online, 16-2-2010)

A propósito da última cimeira europeia, realizada expressamente para tratar do problema grego, travar a ofensiva especulativa contra o Euro, e impedir uma crise de proporções imprevisíveis associada ao colapso das dívidas soberanas, as opiniões de alguns especialistas não são nada animadoras.

"They offered nothing," said Jochen Felsenheimer, a credit expert at Assenagon in Frankfurt. "It was just words without any concrete measures, hoping to buy time."

... "Economically, we are in a very risky situation. Greece is close to default. We face systemic risk like the Lehman collapse and unless there is a bail-out for Greece, there will have to be a bail-out for the whole European banking system within two or three months," he said.

Yet they are damned if they don't, and damned if they do. "A Greek bail-out increases the risk of EMU break-up, because monetary union can only work if everybody sticks to the rules," Mr Felsenheimer said.

French banks have $76bn of exposure to Greece, the Swiss $64bn, and the Germans $43bn. But this understates cross-border links. There are large loans between vulnerable states. The exposure of Portuguese banks to Spain and Ireland equals 19pc of Portugal's GDP. Interlocking claims within the eurozone zone are complex. Contagion can spread fast. — in "Will markets call EU bluff on Greek rescue?", By Ambrose Evans-Pritchard, Telegraph, 11 Feb 2010.

Apesar do optimismo de circunstância de Teixeira dos Santos, a verdade é que, se a informação recolhida por Ambrose Evans-Pritchard é correcta, então podemos com segurança afirmar que o destino da banca portuguesa —da Caixa Geral de Depósitos ao BCP, BES e BPI— está literalmente nas mãos do destino. Uma exposição da banca nacional às bancas espanhola e irlandesa na ordem dos 31,8 mil milhões de euros (19% do PIB), boa parte da qual se prende com o financiamento do Estado, das PPP e dos quase-monopólios indígenas, é de pôr os cabelos em pé. Bastará a carruagem grega descarrilar, deixando de pagar à França, Alemanha e Suíça o que lhes deve, para que a Península Ibérica passe do actual estado de turbulência para o cone de uma perigosa tempestade.

O PIB nominal previsto pelo nosso sempre optimista governo para este ano é de 167.367,1 milhões de euros. A desgraça, porém, é que a parcela mais relevante deste Produto Interno Bruto (85,4%) não é nenhum produto, mas sim uma descomunal dívida pública de 142.916,2 milhões de euros! Para pagá-la, não temos ouro suficiente, não temos matérias primas suficientes, não temos indústria suficiente, e não temos reservas financeiras, nem cambiais, suficientes. Ou seja, numa conjuntura de crise sistémica global, estamos totalmente à mercê da meteorologia!

Se a Grécia e a Espanha se aguentarem, nós sobreviveremos. Mas se qualquer destes países entrar em suspensão, mesmo que parcial, de pagamentos das respectivas dívidas soberanas, iremos com eles pelo cano abaixo, e a bancarrota do país só não ocorrerá se houver uma prova de grande imaginação por parte da Alemanha. O buraco negro dos Derivados Financeiros é mesmo um buraco negro! E é por isso que a Alemanha hesita e procura, como os demais países endividados do planeta, enganar o mercado.

Mas das duas, uma: ou o sistema informático do BCE desata a imprimir euros virtuais, copiando o fraudulento método americano, o que irá agravar e muito a emergente crise do endividamento público galopante de dezenas de países desenvolvidos, ou faz um ultimato à Grécia, Espanha e Portugal, para adoptarem sem subterfúgios as medidas drásticas de diminuição da despesa pública adoptadas por parceiros europeus como a Irlanda e a Letónia. A alternativa a semelhante tratamento de choque seria, porventura, um choque ainda maior: a saída, ainda que parcial e temporária, da Grécia, Espanha e Portugal, da moeda única europeia!

Não deixa de ser interessante comparar a presente situação, com a bancarrota portuguesa de 1890-91.

O pai do actual Banco de Portugal, que foi um banco emissor, mas maioritariamente privado, até à sua nacionalização em 1974, chamava-se Banco de Lisboa, e foi à falência em 1846, depois de ir acumulando perdas e problemas desde a sua primeira grande crise, em 1828 (ano da proclamação miguelista e do início da Guerra Civil de 1828-1834). Este declínio e falência do banco ficaram a dever-se em grande medida ao facto de se tratar de um banco emissor a que os sucessivos governos monárquicos recorriam sem pudor (à semelhança do que vem ocorrendo desde 1974 entre a Caixa Geral e os sucessivos governos desde então.) Como é bom de ver, Portugal entrara numa espiral de desespero depois da perda do Brasil, a qual não deixará de agravar-se até ao estouro financeiro de 1890-91, precedido a 11 de Janeiro de 1890 pelo humilhante Ultimato inglês.

A nota curiosa, que faz uma ponte ilustrativa com os tempos de hoje, é o facto de o bisavô de Manuela Ferreira Leite, José Dias Ferreira —professor de Direito, jurisconsulto e respeitado político independente— ter sido então chamado pelo Rei Dom Carlos para liderar um governo cuja principal tarefa seria negociar com os credores estrangeiros, nomeadamente ingleses e franceses, o difícil processo de negociação da dívida externa decorrente da bancarrota de 1890-91. Curioso ainda é a coincidência de o Ministro da Fazenda do chamado "governo de  acalmação partidária" (1) se chamar Joaquim de Oliveira Martins, tio bisavô do actual socialista que preside ao Tribunal de Contas.

Mas as semelhanças não se ficam por aqui...

Então como hoje a espoleta da crise económica, social e política do país foi e é de natureza financeira, e resulta de um endividamento excessivo, suportado por uma moeda artificialmente forte. O valor efectivo dos mil reis da monarquia portuguesa dependiam do ouro brasileiro que chegava então a Portugal por via das remessas dos mais de 300 mil emigrantes que para lá se dirigiram entre 1881 e 1900 (2). Ou seja, a moeda portuguesa e a moeda brasileira estavam unidas por um cordão umbilical. No dia em que a moeda brasileira caísse, a portuguesa seguir-lhe-ia os passos. E assim sucedeu em 1890-1891, com a queda de 80% do valor das remessas enviadas pelos emigrantes portugueses no Brasil. Não foi nem a filoxera nem o oídio, como se tem repetido em muitos estudos apressados sobre a crise da monarquia, que trouxeram a desgraça ao país. A quebra de exportações do Vinho do Porto nem sequer ocorreu nos anos 1890, 1891 e 1892 (3). O que deitou a perder a monarquia, para além dos ingleses, e da universal estupidez e incultura da nossa burguesia, foi uma bancarrota com origem precisa, da qual Portugal dificilmente poderia escapar. O seu nome foi Panic of 1890!

The Baring Crisis is the nineteenth century's most famous sovereign debt crisis. Few studies, however, have attempted to understand the extent to which the crisis mattered for countries other than Argentina and England. Using a new database consisting of more than 15,000 observations of weekly sovereign debt prices, we assess the extent to which the Barings Crisis affected other emerging market borrowers and find empirical evidence of a regional crisis. We find that Latin American yield spreads increased by more than 200 basis points during the crisis relative to the rest of the world, even after controlling for macroeconomic, trade, political-institutional factors, and other country specific effects. Our evidence suggests that European investors may have sold off or reduced their holdings of Latin American securities in the wake of the Baring Crisis.

... the Baring Crisis was primarily a regional crisis. The country risk premium for Latin American countries increased by more than 840 basis points between 1890 and 1891, and more than 1,600 basis points between 1890 and 1895. In contrast, yield spreads for non-Latin emerging markets and “core” countries (high income European countries and the U.S.) were generally flat or unchanged during this period.

... The country risk premium for Brazil rose from 200 basis points in the late summer of 1890 until it reached its peak at more than 550 basis points in late 1892.

... Using a new database of more than 15,000 bond prices collected from the Economist, we find that the Baring Crisis was largely a regional phenomenon. The average sovereign yield spread for Latin American countries in our sample increased by 844, 759, and 1,608 basis points in the one-year, two-year, and four-year periods after the onset of the financial crisis. On the other hand, yield spreads in non-Latin emerging markets and core countries were generally flat during the same period.  — in "The Baring Crisis and the Great Latin American Meltdown of the 1890s". By Kris James Mitchener and Marc D. Weidenmier. NBER Working Paper No. 13403, September 2007.

O impacto nas finanças públicas portuguesas foi devastador

Em 1890-93 deu-se um colapso das finanças públicas portuguesas, no rescaldo do Ultimato britânico de 1890, da desvalorização cambial das remessas dos emigrantes, e da crise do Baring Brothers Bank (1890), associada à crise financeira regional da América Latina desencadeada pelo colapso da economia argentina. As crises bancárias portuguesas (com falências várias) continuaram entre 1920 e 1923, até que Salazar ocupa o cargo de ministro das finanças, desvinculando então o país do padrão ouro (1931-32), com a consequente desvalorização da moeda, diminuição subsequente das importações e o início de uma política de isolamento ditatorial assente numa estratégia económica de substituição de importações, na exportação de mão de obra barata e ignorante, e ainda na exploração das reservas de matérias primas coloniais. O resto é conhecido...

Curiosamente, a solução autoritária incubada no golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 é resultado do agravamento de uma situação que o bisavô de Manuela Ferreira Leite (José Dias Ferreira) tentara mas não conseguira afinal controlar. A República sucedeu à Monarquia, mas nada ou muito pouco mudou. O processo de definhamento nacional prosseguia o seu triste fado.

Os ingleses cobraram-nos, à época, o Mapa Cor-de-Rosa. Se deixarmos agora chegar o país ao ponto em que o Rotativismo da monarquia constitucional e a I República o deixaram, que teremos para oferecer aos nossos credores — agora que o império definitivamente se foi, e a emigração deixará de ser a breve prazo a principal e vergonhosa fonte da boçal presunção lusitana? Um rim por cada português?!


Post scriptum — O artigo do Sol de 12 de Fevereiro, que me chegou por email, foi o ponto de partida, mas não de chegada, deste artigo.


NOTAS
  1. Os exaltados eram os partidos do Rotativismo, brilhantemente causticado por Rafael Bordalo Pinheiro, nomeadamente n' O António Maria (de que este blogue é uma modesta evocação.)
  2. Emigração portuguesa para o Brasil (in Wikipédia):
    1881-1900: 316.204;
    1901-1930: 754.147;
    1931-1950: 148.699;
    1951-1960: 235.635
    Emigração portuguesa entre 1960-1974: mais de 1,5 milhões... e continua! (Link)
  3. Ver "1870, O culminar da crise da vinha Duriense".

OAM 687 — 17 Fev 2010 1:58

    sexta-feira, setembro 12, 2008

    Portugal 46

    Os PORCOS do Sul

    O ano de 2009 ainda não chegou, mas o panorama económico e social do país, assim como da Espanha e da Grécia, é deprimente. A propósito do fim do milagre da multiplicação dos euros, em larga medida proporcionado pela inundação de liquidez proporcionada pelos fundos da coesão comunitária (que terminarão em 2013), o Finantial Times publicou um artigo sarcástico e demolidor. Chama-se "Porcos no chiqueiro" (Pigs in muck).

    "Pigs" é o acrónimo utilizado para apontar com sarcasmo o grupo de países do Sul da Europa: Portugal, Italia, Grécia e Spain (PIGS). Fazer parte dum bestiário qualquer não me incomoda (1): Elefantes, Burros, Leões, Águias, Lagartos... Porcos (já agora pretos!) O que me preocupa é o ponto fatal onde assenta a crítica certeira do FT. No momento em que a Alemanha e os demais contribuintes líquidos da coesão se preparavam para orientar o esguicho de fundos para Leste, os "porcos" voadores do Sul começaram a borregar no chiqueiro das suas economias virtuais, atulhadas de letras por pagar! Consequências: desemprego, inflação e destruição do consumo, salários a cair, precariedade laboral e fuga de capitais! É neste contexto que alguns vêem surgir no horizonte um novo Bloco Central ainda mais coeso, entre José Sócrates, Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite. Eu não creio nesta hipótese. Se a crise evoluir para o desastre (como antevejo), ou quando o desastre ocorrer, só um reforço acentuado dos poderes presidenciais poderá impedir que o regime se afogue no mar de dívidas, corrupção e mediocridade em que se deixou atolar. Numa Euro-América a caminho de uma recessão prolongada e de uma imprevisível crise político-militar, as portas da emigração e da mobilidade profissional intra-europeia estão a fechar-se. Nada mais explosivo, portanto. Cada país terá que se virar e enfrentar os seus próprios demónios.


    Porcos no chiqueiro

    "Países excitantes obtém acrónimos excitantes, pelo menos nos círculos financeiros. O Brasil, a Rússia, a Índia e a China, por exemplo, países em crescimento rápido, são chamados BRICS [tijolos], as próprias iniciais indicando um crescimento sólido. Outros países têm menos sorte. Vejam por exemplo, Portugal, Itália, Grécia e Espanha [Espanha], às vezes chamados PIGS [Porcos]. É uma alcunha pejorativa mas com muita verdade.

    Há oito anos, os Pigs [Porcos] voavam mesmo. As suas economias levantaram voo depois de aderir à Zona Euro. As taxas de juro caíam para mínimos históricos – e eram, com frequência, negativas em termos reais. Tal como o dia sucede à noite, seguiu-se uma explosão do crédito. Os salários subiram, os níveis de dívida incharam, tal como os preços das casas e o consumo. Agora os Pigs [Porcos] caíram no chão.

    Pelos números do comércio se pode ver até onde podem cair. Enquanto a Zona Euro, de modo geral, está em equilíbrio, no final de 2007 a Espanha e Portugal tinham défices da balança de transacções correntes equivalentes a 10% do PIB. Nessa altura, a Grécia tinha uns colossais 14%, enquanto o défice italiano de 3% era relativamente respeitável.

    A resposta usual a um escancarado défice da balança de transacções correntes é uma forte desvalorização. Mas os Pigs [Porcos] são membros do euro, portanto essa estrada está fechada.

    A alternativa seguinte é simplesmente continuar e financiar o défice de alguma forma. Mas isso é cada vez mais difícil de realizar nestes tempos de censura do crédito. Na verdade, a Espanha pode ter um problema particular. No passado, os seus bancos – especialmente as suas cajas [caixas] não cotadas – utilizaram títulos garantidos por activos (ABS), de baixa qualidade, para conseguir dinheiro barato do Banco Central Europeu. Mas o Banco Central Europeu tenciona apertar as suas regras de empréstimo.

    Resta, por isso, uma última e muito dolorosa solução. A competitividade pode ser restaurada pela baixa dos salários reais. Por outras palavras, uma depressão profunda. O sinal mais dramático disto pode ser visto em Espanha, onde o desemprego cresceu cerca de um ponto percentual no segundo trimestre [em Portugal não cresce porque o Governo coloca formalmente em formação profissional, cerca de 100 mil desempregados, como revelou o semanário Sol e como se fosse financeiramente e humanamente possível estarem constantemente em formação profissional cerca de cem mil pessoas! -- NT]

    A Grã-Bretanha, enfrentando problemas semelhantes nos primórdios dos anos 1990 quando foi acorrentada ao Mecanismo de Taxas de Câmbio comunitário (ERM), retirou a libra do ERM e a desvalorização salvou-lhes a pele. Há quem se pergunte se os Pigs [Porcos], enquanto parte do Euro, não se arriscam a tornar-se bacon." -- Tradução de António Bablbino Caldeira, in Do Portugal Profundo.


    Pigs in muck

    Finantial Times. Published: August 31 2008 19:35 | Last updated: September 1 2008 09:09

    Exciting countries get exciting acronyms, at least in financial circles. Fast-growing Brazil, Russia, India and China, for example, are called Brics, the very initials implying solid growth. Other countries are less fortunate. Take Portugal, Italy, Greece and Spain, sometimes described as the Pigs. It is a pejorative moniker but one with much truth.

    Eight years ago, Pigs really did fly. Their economies soared after joining the eurozone. Interest rates fell to historical lows - and were often negative in real terms. A credit boom followed, just as night follows day. Wages rose, debt levels ballooned, as did house prices and consumption. Now the Pigs are falling back to earth.

    How far they might drop can be seen in their trade figures. While the eurozone is broadly in balance, at the end of 2007 Spain and Portugal had current account deficits equivalent to 10 per cent of GDP. Greece's, meanwhile, was a whopping 14 per cent while Italy's deficit was relatively respectable at about 3 per cent.

    The usual response to a yawning current account deficit is a stiff devaluation. But the Pigs are members of the euro, so that route is closed.

    The next alternative is simply to carry on and somehow finance the deficit. But that is increasingly hard to do in these credit-chastened times. Indeed, Spain may have a particular problem. In the past, its banks - particularly the unlisted cajas - have used low-quality, asset-backed collateral to raise cheap funds from the European Central Bank. But the ECB plans to tighten its lending rules.

    That leaves the last and most painful solution. Competitiveness can be restored through a drop in real wages. In other words, a deep recession. The most dramatic sign of this can be seen in Spain where the unemployment rate rose by almost a whole percentage point in the second quarter.

    Britain, facing similar problems in the early 1990s when it was shackled to Europe's exchange rate mechanism, withdrew sterling from the ERM and the devaluation saved its sausage. Some now wonder if the Pigs, as part of the euro, risk turning into bacon.



    NOTAS
    1. Mas incomoda a associação de média espanhola! Aqui vai o link para a carta de protesto enviada ao FT, com este título: "Derogatory acronym is more than just a bad joke", assinada por José Manuel Velasco."


    OAM 432 12-09-2008 14:21

    Powered by ScribeFire.