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segunda-feira, maio 26, 2008

Petroleo 16

Refinaria da GALP, Sines
GALP, Refinaria de Sines. Para onde vai a gasolina refinada em excesso?

Cartel, ganância e falta de regulação

O mundo caminha para uma mutação dramática do seu modelo energético. Deixaremos em breve o paradigma do desenvolvimento e do progresso assentes na afluência de energias baratas. Vale a pena ler, a este propósito, The Oil Depletion Protocol, proposto à discussão por Richard Heinberg. No mundo que espreita ao virar da esquina teremos que saber redefinir drástica e corajosamente o sentido da vida e as nossas metafísicas. - in O António Maria, 01-12-2005.

O facto de a especulação petrolífera ser um fenómeno geral nos países que privatizaram e liberalizaram este negócio (mas não na Rússia, nem na China, nem no Irão, nem nos Emiratos Árabes Unidos, nem na Venezuela...), não impede que desmontemos os estratagemas da formação dos lucros escandalosos e ilegítimos da GALP e demais fornecedores de gasolina e gasóleo a operar no nosso país. O economista Eugénio Rosa, do PCP, fê-lo de forma clara e sucinta em dois documentos, respectivamente publicados em março e maio deste ano.

No essencial, ficamos a saber três novidades muito importantes, e que deveriam ser as principais bases de interpelação ao governo:
  1. que os preços do gasóleo e da gasolina produzidos em Sines são, antes de lhes serem aplicados quaisquer impostos, mais caros em Portugal do que na média da União Europeia a 15 (UE15);
  2. que os preços destes produtos, depois de lhes serem aplicados os impostos e taxas, continuam a ser mais caros no nosso país do que na média da UE15, não só porque os produtos refinados em Sines saem mais caros, mas ainda porque a nossa fiscalidade energética (e em especial petrolífera) é em regra mais gravosa que a da média da UE15;
  3. que pelo menos a GALP especula com a subida dos preços do crude, tendo ficado demonstrado já que essa especulação lhe valeu um sobre-lucro de 21 milhões de euros no primeiro trimestre de 2007, e um sobre-lucro de 69 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano. Ou seja, o tal "efeito stock" -- i.e., "a diferença entre o preço a que a GALP adquiriu o barril de petróleo, muito mais baixo porque foi comprado cerca de 2,5 meses antes da sua utilização, e o preço a que depois foi considerado para cálculo do preço de venda de combustíveis aos portugueses" (Eugénio Rosa) -- traduziu-se, entre o primeiro trimestre de 2007 e o primeiro trimestre de 2008, num aumento dos sobre-lucros de 286% !
Se pensarmos que um dos factores de produção que influi na formação do preços finais dos carburantes (refinação, transporte, distribuição, gestão e publicidade) advem dos salários de quem trabalha na GALP e para a GALP, os quais, à excepção das remunerações dos altos funcionários da empresa, correspondem a metade ou mesmo menos de metade da factura social das demais congéneres europeias, ninguém consegue entender como podem o gasóleo e a gasolina, antes de qualquer imposto, custar mais em Portugal do que na França, na Alemanha, no Reino Unido e na média dos países da UE15!

Sabendo-se, por outro lado, que a refinação do crude gera, por exemplo, mais gasolina daquela que conseguimos consumir, e que portanto um tal excedente é vendido a terceiros países (nomeadamente aos Estados Unidos), sempre gostaríamos de saber a que preços saem as gasolinas de 95 e 98 octanas para tais clientes.

Provada a actividade especulativa da GALP (enfim falta que a famigerada entidade reguladora e fiscalizadora o faça!), não resta outro caminho democrático que não seja aplicar a lei ao que não poderá deixar de ser considerada uma actividade ilícita, danosa para o país e sobretudo reveladora da mais escandalosa insensibilidade de um monopólio onde o Estado português está presente com uma participação acumulada significativa: Parpública - Participações Públicas (SGPS), S.A. - 7%; e Caixa Geral de Depósitos, S.A. - 1% .

Para além deste aspecto do problema -- o preço antes de impostos é descaradamente abusivo e especulativo --, temos ainda que atacar a questão da fiscalidade.

O Estado precisa de dinheiro. Pois precisa... Resta saber para fazer o quê!
A fiscalidade imposta aos carburantes tem servido ao que parece para financiar o descalabro das SCUTs. Se o petróleo estivesse a 20 euros, com tendência para descer, ainda se poderia equacionar a ideia de usar o ISP para continuar a financiar as nossas redes de estradas e auto-estradas. Mas no panorama em que estamos, e que não vai melhorar, antes irá piorar daqui para a frente, tal ideia só poderá conduzir a péssimos resultados e sucessivos embaraços. Na situação em que nos encontramos, é realmente complicado baixar a carga fiscal aplicada aos carburantes, não aumentando em compensação outros impostos correlacionados com o transporte rodoviário... Mas uma coisa, pelo menos, devemos aprender de uma vez por todas: não é possível continuar a construir autoestradas por esse país fora, sem previamente saber se as ditas são ou não absolutamente imprescindíveis e bancáveis.

Como dizia e bem Manuela Ferreira Leite, o país precisa de atrair investimento, muito investimento. Ora investimento é precisamente coisa que neste momento não existe em nenhuma parte do planeta que não disponha de riqueza acumulada e dos famosos Fundos Soberanos! Muito menos num país depenado como o nosso. A banca está seca que nem um carapau. Temos uma dívida pública astronómica para a nossa dimensão. As corporações da justiça e da medicina são verdadeiros cancros que matam o país por dentro. Em suma, sem uma fiscalidade minimamente competitiva, não vamos a parte nenhuma. São, como diz uma crítica americana que adoro ler (Elaine Meinel Supkis) os Cornos do Dilema!

Tabela

Manuela Ferreira Leite não subscreve redução do ISP
«A redução do imposto sobre as petrolíferas é algo que parece muito fácil, mas para que o Estado o consiga tem duas hipóteses - ou vai criar outro imposto ou vai reduzir uma despesa, que não se está a ver qual é» -- Manuela Ferreira Leite, 26-05-2008 - 09:00 Lusa, Sol.

Custa admiti-lo, mas Manuela Ferreira Leite tem absoluta razão no que diz sobre o ISP.
  1. O problema da especulação sobre o petróleo veio para ficar e é estrutural. O pico petrolífero foi atingido mais cedo do que se previa, nomeadamente no México, no Mar do Norte e na Rússia!
  2. Se for aliviado o ISP, qualquer governo irá buscar noutro canto a receita fiscal perdida, estimulando as condições para uma guerra fiscal no seio da sociedade!
  3. Podemos actuar sobre a especulação da GALP, por razões de moralidade pública, e devemos fazê-lo; mas os resultados úteis serão ainda assim parcos no preço final de um bem cada vez mais escasso, que vai continuar a encarecer, e que não tem alternativas comerciais (i.e. mais baratas) à vista.
  4. Temos que aproveitar esta crise para uma revolução na eficiência energética do país, único caminho seguro para evitar o desastre. Esta alternativa política e cultural afectará tudo e todos, e será em muitos casos uma boa oportunidade para a criatividade, para a produção, para o trabalho e para novas trocas comerciais;
  5. Apesar de criticar asperamente o governo PS em muitos domínios, devo reconhecer que tem sido muito ágil na negociação da nossa segurança energética para o intervalo decisivo da metamorfose energética que agora começa, e que se prolongará convulsivamente até 2020, 2030... e 2050. Ano em que muita coisa terá mudado à face da Terra.
  6. Aos consumidores, sejam eles quais forem, uma recomendação: façam uma tabela dos gastos com gasóleo e/ou gasolina e eliminem imediatamente todas as deslocações supérfulas; depois estudem e busquem soluções que possam optimizar na vida doméstica e na vida profissional o tamanho da pegada ecológica, modificando progressivamente o modus operandi da casa, do emprego, da empresa e dos negócios.
  7. Manuela Ferreira Leite demonstrou na resposta que deu à questão do momento ser a personalidade credível e responsável que o PSD merece para regressar ao planalto do poder, de onde foi sendo expulso por demasiados acidentes e disparates de percurso.
Mais petróleo em Tupi, com Galp pelo meio!
  • Continua a ser descoberto mais petróleo nos lençóis de profundidade do campo Tupi (desta vez a 6.773 metros), situado em pleno Atlântico, na ZEE brasileira, a 250 Km do Estado de São Paulo. Tupi é a maior reserva petrolífera encontrada no Hemisfério Ocidental desde que foi descoberto, em 1976, o grande poço de Cantarell, no Golfo do México, que entretanto já atingiu o respectivo pico produtivo.
  • Petrobras detem 66% da nova parcela descoberta, a Royal Dutch Shell PLC detem 20% e a Galp Energia, 14%. -- in Steel Guru.
  • Receita: faça um plano de emergência energética pessoal, reduza de forma consciente e ponderada as despesas com energia, invista o resultado da poupança em acções da Galp Energia. Não venda nos próximos anos nenhuma destas acções!

OAM 369 26-05-2008, 03:036 (última actualização 27-12-2008 23:03)

sexta-feira, maio 23, 2008

Petroleo 15

Frigorifico Vazio
Frigorífico Vazio - por falta de energia e por falta de alimentos.
Foto: OAM

A emergência energética

O barril de petróleo poderá custar 300 dólares antes de 2015

Ouvi hoje o pesporrente ministro das polícias declarar que não faltará gasolina às viaturas dos corpos de segurança, prometendo reforçar o respectivo orçamento sempre que for necessário. Pouco antes ouvira o irresponsável governamental pela área da agricultura e pescas afirmar, com o sorriso cínico a que nos habituou, que não tenciona subsidiar os carburantes que alimentam as embarcações de pesca, invectivando os pescadores a serem mais competitivos (imbecil!)

Mas como é? Um ministro subsidia e outro não? Qual é o critério? E por que carga de água não se podem imaginar medidas de emergência para acautelar sectores produtivos estratégicos do país (como o da produção própria de alimentos, ou o da mobilidade nas grandes áreas metropolitanas) -- que mitigariam, pelo menos temporariamente, as dificuldades enormes que aí vêm --, mas por outro lado é possível subsidiar a produção das energias renováveis, incluindo os biocarburantes, cujos impactos reais na economia só daqui a alguns anos serão conhecidos? Então pode subsidiar-se a REN, a EDP e a GALP, entre outros oligopólios energéticos, mas não se pode impor regras à especulação, nem acudir a situações de ruptura? E o Fuel dos aviões, não está isento de taxas e de IVA? Se os políticos viajassem de traineira para Bruxelas, certamente que se lembrariam de subsidiar o gasóleo das pescas!

Que este governo não presta, já o sabíamos. Mas não é motivo para perder completamente o juízo e a vergonha, como as duas intervenções ministeriais de hoje exibiram.

O problema que aflige os distraídos políticos que temos não é novo, mas é grave. A especulação desenfreada que fez duplicar o preço do barril de petróleo em apenas um ano, não é infelizmente um factor passageiro da actual crise energética, mas o reflexo de um pico petrolífero, ou como prefere Robert Hirsch, de um planalto petrolífero a que a produção mundial de petróleo chegou em 2004 (ou em 2006), e cujas consequências serão tremendas para todo o mundo. O petróleo barato acabou! Daqui para a frente será um sobe-e-desce sempre a subir! Em 2015 o barril do petróleo poderá custar 300 dólares ou mais. E pior do que isso, o racionamento já começou! A OPEC recusa-se a aumentar a produção, em primeiro lugar porque não pode, e em segundo, porque não deve... em nome de uma desintoxicação progressiva da nossa extrema dependência dos combustíveis fósseis, com especial destaque para o petróleo. Pelo caminho, a OPEC e todos os especuladores enchem os bolsos, com o apoio canino do republicano Bush, e da democrata Nancy Pelosi.

O problema não é grave, é gravíssimo. Na realidade, justifica, em minha modesta opinião, a criação de um Gabinete de Crise Energética, interministerial, onde tenha assento o Presidente da República, e apoiado por um painel de especialistas em domínios tão diversos como a energia, os transportes, a mobilidade, a segurança alimentar e a solidariedade social. Este gabinete deverá, além do mais, deter poderes de acção excepcional sempre que a evolução (que será muito rápida) da conjuntura o justificar.

Mas sobre este momento crítico, face ao qual é absolutamente necessário equacionar um plano de acção acima das querelas partidárias do costume, vale a pena reler o que escrevi em Outubro de 2005, e ainda o que acaba de declarar Robert Hirsch (autor de um importante relatório sobre a nossa dependência energética) à CNBC.

$12 Gas and Rationing? Possible, Says Expert

"The prices that we're paying at the pump today are, I think, going to be 'the good old days,' because others who watch this very closely forecast that we're going to be hitting $12 and $15 a gallon, and then, after that, when world oil production goes into decline, we're going to talk about rationing," Robert Hirsch, Management Information Services Senior Energy Advisor, said on CNBC's "Squawk Box." "In other words, not only are we going to be paying high prices and have considerable economic problems, but in addition to that, we're not going to be able to get the fuel when we want it."

Hirsch argued that the maximum in world oil production has already been hit.

"The idea is that [world oil production] would hit a sharp peak and then drop off, and what's happened is, we've hit a plateau in world oil production, and that plateau has been ongoing since about the middle of 2004," he said.

Those who argue that new technology and new types of energy will solve the problem aren't on solid ground, Hirsch suggested.

"There's no single thing that's going to solve this problem, because it's as massive as one can possibly imagine," he said. -- © 2008 CNBC.com


A antecipação criminosa da estratégia da Ota

Se as obras de terraplanagem algum dia vierem a ter início, de uma coisa deveremos desde já estar seguros: o dito Aeroporto Internacional da Ota jamais será concluído. Muito antes das datas previstas, nos cenários pró-Ota, para a sua inauguração --2017-2018--, Portugal ver-se-à na contingência de ter que redesenhar dramaticamente as suas prioridades de desenvolvimento (ou melhor dito, de sobrevivência). A brutal crise energética chegará muito mais cedo do que se prevê. E antes dela (ainda na vigência do actual governo) chegará também um mais do que provável "crash" imobiliário. Sem precisar de consultar cartas astrológicas, um número crescente de especialistas vem advertindo os governos de todo o mundo para o que se poderá passar num planeta subitamente consciente do declínio acelerado e irreversível das suas duas principais fontes energéticas: o petróleo e o gás natural. Mitigar este cenário mais do que certo exigirá avultados investimentos públicos e privados, que serão tanto maiores quanto mais próximos estivermos do colapso energético global.

A prioridade das prioridades, em Portugal, como em toda a Europa, é criar uma rede capilar de transportes rodoviários, ferroviários, marítimos e aéreos altamente sustentáveis, divergindo rapidamente da dependência exclusiva dos combustíveis fósseis. Os Estados deverão concentrar-se na construção muito dispendiosa destas infraestruturas (e no apoio à investigação científica e tecnológica apropriada), deixando aos privados o papel de explorar, em regime de concorrência vigiada, o correspondente material circulante: camiões, comboios, barcos e aviões. O transporte individual tal como o conhecemos hoje desaparecerá muito rapidamente, devido aos custos insuportáveis de veículos e combustíveis, mas também devido à insolvência de milhões famílias por essa Europa fora.

A segunda prioridade inadiável é a autonomia alimentar local. Temos que reconstruir rapidamente as cinturas verdes das cidades com mais de 100 mil habitantes, tendo como objectivo inegociável a criação de capacidades básicas de auto-abastecimento alimentar.

A terceira prioridade é parar imediatamente com a actividade imobiliária especulativa, interrompendo pura e simplesmente toda a actividade de construção civil desnecessária. Os recursos técnicos, logísticos e humanos até agora empregues nesta actividade inútil e tonta deverão ser desviados para a consecução das grandes obras de infra-estruturas prioritárias a serem lançadas imediatamente como vértice fundamental de uma estratégia de mitigação da aproximação do "crash" energético.

A quarta prioridade é reorganizar radicalmente o actual aparelho de Estado, eliminando tudo o que for dispensável. Precisamos de um Estado de Emergência. Mais vale perceber isto agora, do que esperar por uma metamorfose repentina, anárquica, tumultuosa e violenta.

A quinta prioridade é relançar a Democracia...

in O António Maria, 28-10-2005

OAM 366 23-05-2008, 03:22 (última actualização: 13:58)

segunda-feira, maio 05, 2008

Petroleo 14

Acima dos 120 USD, 25 dias antes do nosso palpite!

No momento em que escrevo este post, 05-04-2008 18:48, o petróleo vendido em Wall Street está a 119,95 USD. Daqui a um ano estará acima dos 155 dólares. Mesmo pensando em euros, o barril de crude custou hoje em Nova Iorque 77,96 euros! Vamos ter mesmo que mudar de vida!! E o primeiro passo não é construir mais barragens que nada acrescentam à sustentabilidade do país, e apenas satisfazem o jogo especulativo da EDP e da burguesia bronco-betoneira; nem construir obras faraónicas de uma economia que já passou (a economia da energia e do petróleo baratos); mas sim, a EFICIÊNCIA ENERGÉTICA. E depois deste passo, que é o primeiro e mais importante a dar imediatamente, custe o que custar, vem a aposta nas energias renováveis, sobretudo naquelas em que ainda nada ou quase nada se fez, e muito podemos fazer: a energia solar, a energia das marés e a energia das ondas. Ao trabalho, que já é tarde!

Oil Rises After Report Shows U.S. Services Industries Expanded

May 5 (Bloomberg) -- By Robert Tuttle. Crude oil rose above $120 a barrel to a record in New York after a report showed that U.S. service industries expanded in April, signaling higher energy use.

The Institute for Supply Management's index of non- manufacturing businesses, which make up almost 90 percent of the economy, grew for the first time since December, the Tempe, Arizona-based group said today. The report came after an oil pumping station was attacked in Nigeria.


Oil hits $120 a barrel milestone

May 5 (BBC News) -- The price of a barrel of oil has risen above $120 for the first time, driven by concerns about the situations in Nigeria and northern Iraq.

US light sweet crude rose to a record of $120.21 a barrel in morning trading in New York before falling back to $120 - up $3.68 on the day.

Another factor pushing up the oil price has been the US dollar's weakness as investors opt to back commodities.


Behind record oil prices, troubling signs in production

April 28, 2008 (International Herald Tribune) -- By Jad Mouawad. As oil prices soared to record levels in recent years, basic economics suggested that consumption would fall and supply would rise as producers opened the taps to pump more.

But as prices flirt with $120 a barrel, many energy specialists are becoming worried that neither seems to be happening. Higher prices have done little to attract new production or to suppress global demand, and the resulting mismatch has sent oil prices spiraling upward.

... The International Energy Agency, an adviser to industrialized countries, estimates that current investments will be insufficient to replace declining oil production, let alone increase overall output. The energy agency said it would take $5.4 trillion by 2030 to bolster global output, a level of investment that is unlikely to be met. It said a crisis "involving an abrupt run-up in prices" could not be ruled out before 2015.

"According to normal economic theory, and the history of oil, rising prices have two major effects: they reduce demand and they induce oil supplies," said Fatih Birol, the chief economist at the energy agency. "Not this time."


OAM 356 05-05-2008, 18:58

quinta-feira, março 06, 2008

Petroleo 13

Plataforma petrolífera de Balal.
Técnico iraniano operando na plataforma petrolífera de Balal, no Golfo Pérsico,
junto às águas territoriais do Qatar. - Behrouz Mehri / AFP-Getty Images.

Petróleo: 6 de Março de 2005: $105,97
previsão a 1 Ano: 136,4 USD

New York's main oil contract, light sweet crude for delivery in April hit 105.97 dollars per barrel, surging above 105 dollars after topping the previous record of 104.95 dollars set on Wednesday. -- Middle East Online.

O governo português elaborou o Orçamento de Estado para o ano 2008 tendo contado para o efeito com um preço de referência para o barril de petróleo de Brent na ordem dos US$74,9.

As Previsões do Ministério das Finanças e da Administração Pública para a Economia Portuguesa no que se refere aos preços do petróleo em 2008 foram sendo sucessivamente as seguintes*:

  • 17 OUT 2007 - 2008: 74,9 USD
  • 9 NOV 2007 - 2008: 74,9 USD
  • 10 DEZ 2007 - 2008: 80,8 USD
  • 8 JAN 2008 - 2008: 80,8 USD

O preço máximo pago esta manhã pelo petróleo de Brent -- 102,95 USD -- foi, como é usual, mais baixo que o valor atingido pelo crude da OPEC transaccionado nas bolsas de Nova Iorque: 105,97 USD.

A alta imparável do preço do petróleo, que esta manhã disparou de novo por causa de uma pequena explosão em Time Square, deve-se a quatro factores imprevisivelmente combinados:
  1. a degradação da economia norte-americana, de que a queda contínua do dólar é o sinal mais evidente (1 euro valia esta manhã 1,5373 dólares);
  2. a procura mundial de hidrocarbonetos, com especial relevância para o impacto das chamadas economias emergentes (Brasil, Rússia, India, China, Coreia, México, África do Sul, Países Árabes, Turquia...);
  3. a incapacidade manifesta de aumentar a produção de petróleo por parte dos principais países produtores (sinal de que o "pico petrolífero" já chegou);
  4. e finalmente, a instabilidade geo-estratégica global.

Perante este quadro, países particularmente dependentes do petróleo e do gás natural, como é o caso de Portugal, têm que corrigir urgentemente as respectivas expectativas orçamentais e sobretudo as correspondentes perspectivas económicas. Mesmo considerando o preço em euros, as previsões governamentais com as quais se desenhou o orçamento de 2008 começam a estar perigosamente longe da realidade. A preços constantes e em euros, o petróleo custaria em 2008, segundo as previsões do Ministério das Finanças, 64,331 euros, mas na realidade já está a custar (à hora que escrevo este post) 69,25545, ou seja, mais 7,65%.

Isto quer dizer que, no mínimo, os cerca de 70 milhões de barris de crude consumidos anualmente no nosso país (2/3 dos quais destinados ao sector dos transportes!), e que para Teixeira dos Santos deveriam em 2008 orçar em qualquer coisa como 4.503.170.000 euros, vão na realidade custar, no mínimo, mais 344 milhões de euros do que o previsto, ou seja, 4.847.881.500 euros. Talvez fosse boa ideia começarmos a pensar rapidamente em mudar de vida!



* - Câmbio do Euro face ao Dólar tido em consideração: 1 eur = $1,256 .

REFERÊNCIAS

OAM 330 06-03-2008, 05:58

domingo, novembro 11, 2007

Aeroportos 40

World Aviation Forecasts, 2008-2026, under three scenarios
"World Aviation Forecasts, 2008-2026, under three scenarios. Roger H. Bezdek".
Previsão corrente do crescimento mundial da aviação e previsões pessimista e optimista
dessa mesma evolução sob o impacto do Pico Petrolífero.

Manter a Portela, adaptar o Montijo, conservar Alcochete

Sonhar com o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), ainda que fosse em Alcochete, com uma importante cidade aeroportuária na margem esquerda do rio Tejo, faria parte de um desejo natural se pudéssemos continuar a planear o futuro segundo o paradigma "business as usual", isto é, tomando decisões e alocando recursos em função apenas das tendências sectoriais de mercado. Mas a verdade é que não podemos. E a razão desta impossibilidade, totalmente fora dos radares empregues por todos os gabinetes que estudaram até hoje as hipóteses da Ota, Rio Frio e Alcochete, chama-se Pico Petrolífero (Peak Oil, na expressão original.)

Metade do petróleo disponível a baixo custo foi já praticamente consumido. A descoberta de grandes reservas no futuro é cada vez mais improvável e custosa. Entretanto, o consumo continua a crescer e os preços entraram numa espiral inflacionista. A combinação é fatal.

Vale a pena, a este propósito, meditar na esclarecedora sequência de quadros sobre o impacto do Pico Petrolífero na evolução da indústria aeronáutica e do transporte aéreo em geral, apresentado por Roger H. Bezdek à World Oil Conference, promovida pela ASPO em Outubro deste ano. A conclusão do PDF AVIATION AND PEAK OIL, Why the Conventional Wisdom is Wrong, é que a maioria dos actores continua a comportar-se como se o petróleo, a 100 dólares (em 2008) ou a 156 dólares (em 2030), correspondendo a 25-30% dos custos operacionais da nova geração de companhias aéreas eficientes, fosse por si só incapaz de inibir o desenvolvimento da actividade. O transporte aéreo, nos cenários convencionais previstos para o período 2006-2026, deverá crescer anualmente, em todos os seus segmentos -- passageiros (+4,5%), receitas (+5%) e carga (+6%) --, bem acima do crescimento médio anual do PIB mundial (+3%).

Este cálculo reflecte, porém, uma análise incompleta da situação, pois esquece um factor crucial: o impacto da subida dos preços do crude na economia geral, isto é, no PIB.

Perante a evidência crescente de que 2008 será o ano do Pico Petrolífero à escala planetária, calcula-se que a impossibilidade de satisfazer a procura crescente de petróleo e gás natural corresponderá, mesmo na ausência de cenários catastróficos de natureza climatérica ou bélica (ambos prováveis), a um declínio anual da oferta na ordem dos 2%, e que o PIB mundial decrescerá na mesma proporção! De acordo com o modelo de previsão do Management Information Services, Inc., de que Roger H. Bezdek é presidente, será nesta paragem seguida de inversão dos ciclos de crescimento do PIB, na maioria dos países, alguns dos quais entraram já na categoria dos denominados "Estados falhados" (failed states), que a curva de expansão do transporte aéreo esbarrará inexoravelmente, começando a regredir, já a partir de meados de 2008, até chegar aos valores do segundo semestre de 2005, entre 2013 e o segundo semestre de 2017.

Como o intervalo onde tudo isto ocorre coincide com o calendário do NAL, a rentabilidade económica deste projecto parece-me irremediavelmente comprometida, sendo necessário começar imediatamente a estudar cenários alternativos. Um deles, parece-me óbvio: conservar a Portela, fazendo as obras de ampliação, correcção e modernização adequadas, activar a Base Aérea do Montijo para os voos domésticos e Low Cost, melhorar substancialmente o aeródromo de Tires para os Corporate Jets e para o Air Share, aumentar o número de comboios na Ponte 25 de Abril, trazer a Alta Velocidade de Madrid até Lisboa/Pinhal Novo (a nova ponte, ou o túnel ferroviário Montijo-Beato, é uma hipótese forçosamente adiada), e optimizar as condições de operação aeronáutica no aeroporto Sá Carneiro.

Chegou-me entretanto às mãos a pré-publicação de Plan B 3.0, versão actualizada do célebre Plano B, de Lester R. Brown, que Reah Janise Kauffman me propõe que traduza e divulgue à semelhança do que foi feito com Plano B 2.0, sob os auspícios da Câmara Municipal de Trancoso.

Sobre os sistemas de transportes, o livro aposta na Alta Velocidade ferroviária em todo o mundo tecnologicamente desenvolvido, como principal alternativa ao automóvel e ao avião. Na Europa, escreve Lester Brown, "as emissões de carbono dos comboios de Alta Velocidade, por passageiro quilómetro, são um terço das produzidas pelo automóvel e um quarto das produzidas pelos aviões." Numa economia de Plano B, escreve, "as emissões de CO2 oriundas dos comboios serão reduzidas praticamente a zero, uma vez que estes serão alimentados com electricidade verde. Além de ser confortável e conveniente, estas ligações ferroviárias reduzem a poluição, a congestão, o ruído e os acidentes. Ao mesmo tempo que libertam os viajantes da frustração dos engarrafamentos permanentes e das longas esperas causadas pelos controlos de segurança nos aeroportos."

Dois documentos que vão na mesma direcção e que deviam ser atentamente estudados pelo governo de José Sócrates, bem como pelas demais forças partidárias. Como tenho escrito insistentemente, a Portela pode e deve manter-se como principal aeroporto de Lisboa. O sonho de uma grande cidade aeroportuária defendida por consultores profissionais, não passa de uma miragem patética. A prioridade absoluta, do ponto de vista das necessidades, das limitações e da criação de trabalho e riqueza, é só uma: a renovação em força de toda a rede ferroviária do país, a começar pela modernização integral da ligação vertical entre Valença e Faro, e pelas ligações de Alta Velocidade entre Lisboa e Madrid, e de Velocidade Elevada, entre Porto e Vigo, Aveiro e Salamanca e Faro e Huelva.


Post scriptum
(12-11-2007 18:59) -- Meu caro José Manuel Fernandes, parabéns pelo seu editorial de hoje no Público, sobre a manobra de contra-informação do Mário Lino, desempenhada pela mãozinha do azelha que vendeu as SCUDs ao Cravinho, e sob os auspícios, não nos esqueçamos, da pandilha de Macau, que tomou de assalto o pobre PS.

O dromedário do MOPTC (quem nos dera ter por lá uns burros teimosos, mas inteligentes e sérios) ainda não percebeu que tem que mandar calar a matilha de Macau, por uma simples razão: aqueles imbecis, não só não entendem nada do que se passa neste mundo, nomeadamente no sector dos transportes, como parecem definitivamente apostados em vender o país a patacos a qualquer espanhol que lhes ofereça um Monte Cristo!

As realidades são, no entanto, simples de perceber:
  1. 82% do tráfego aéreo da Portela opera num raio de 2300 Km, isto é, na Europa (1); ou seja, fazer um Hub com os restantes 18% do tráfego, a partir de uma única companhia, com aviões pouco eficientes, a sucata escandalosa da PGA, excesso de pessoal e a caminho da falência, chamada TAP, mais do que uma miragem, é pura idiotia ou descarada corrupção!
  2. a Espanha é o principal destino aéreo da Portela e sê-lo-à em breve do aeroporto Sá Carneiro. Madrid já é o terceiro destino da Portela e caminha rapidamente para o primeiro lugar.
  3. a Espanha reformulou radicalmente a sua política de transportes, passando por uma articulação crucial entre o transporte aéreo e o transporte ferroviário de Alta Velocidade e/ou Velocidade Elevada.
  4. o novo paradigma do transporte aéreo à escala de cada continente chama-se Low Cost, i.e. ligações ponto-a-ponto; é por isso que a TAP cancela, "por motivos técnicos", uma centena de voos por mês; nada de Hubs portanto!
  5. o novo paradigma do transporte ferroviário ibérico chama-se Bitola Europeia, Alta Velocidade e Velocidade Elevada; a Espanha vai ter a maior rede de Alta Velocidade do mundo até 2020, ligando, já em 2008, 13 das suas principais cidades!
  6. Olhando para os movimentos de passageiros entre Madrid e a Portela, com um crescimento na ordem dos dois dígitos (17,7% no que vai de 2007), mais do dobro dos movimentos entre Lisboa e Porto (!), percebe-se perfeitamente que a ligação ferroviária entre as duas capitais ibéricas não apenas será rentável, como irá atenuar a actual pressão sobre os movimentos aéreos entre Barajas e a Portela.
  7. António Costa disputou e ganhou as eleições autárquicas de Lisboa com um único objectivo: viabilizar a venda dos terrenos da Portela e a aplicação do respectivo encaixe no financiamento do aeroporto da Ota. Para tal, teve que meter um vereador no bolso. Chama-se José Sá Fernandes (curioso...) Há, porém, dois contratempos: por um lado, a Alta de Lisboa está às moscas e tudo aponta para que o mesmo venha a ocorrer numa futura Portela urbanizada; por outro, ainda vai correr muita tinta por baixo das pontes do consenso municipal em torno da Operação Ota.
  8. A pretendida privatização da ANA, destinada igualmente a financiar e sustentar o putativo monstro da Ota, terá como consequência inevitável a destruição a prazo do aeroporto Sá Carneiro (compare-se este caso com as acções deletérias actualmente em curso por parte do Grupo Pestana contra as pousadas do Marão e de Alcácer do Sal, relativamente às quais deixou de haver qualquer responsabilidade pública...)
  9. O aeromoscas de Beja, para o qual nenhuma companhia manifestou até agora interesse, com custos anunciados três vezes superiores ao da modernização do aeroporto de Badajós (onde será instalada uma base da Ryanair), é a prova da natureza extravagante e ruinosa da indústria de estudos inúteis alimentada avidamente pelo actual governo. O ex-ministro PS, Augusto Mateus, bem poderia dedicar-se a outros assuntos!
  10. Finalmente: o país encontra-se virtualmente falido e sem estratégia de futuro, apesar das falácias e falsetes de José Sócrates. Deitar dinheiro à rua, a pretexto de engordar consultores cabotinos e parasitas económicos de toda a espécie, vai dar inevitavelmente um péssimo resultado. O Luís Filipe Menezes, que tenha juízo!



NOTAS
  1. Se a TAP precisa de crescer, que cresça à sua custa!

    O Turismo de Lisboa tem muito maiores benefícios económicos com as "ligações ponto a ponto" do que com os "voos de ligação". Convém lembrar que o Turismo de Lisboa gera quase 120 mil empregos, a variável mais importante a ter em linha de conta em qualquer decisão que afecte a actual localização do Aeroporto Internacional de Lisboa.

    No ano de 2006, a Portela teve um tráfego de 12,3 milhões de passageiros. Portugal, ilhas dos Açores e Madeira e Europa representam quase 82% do mercado da Portela. A América do Sul representa 8%, África, 6%, e América do Norte, 3%. Os voos de ligação para a América do Sul e África são apenas uma parte dos valores anteriormente referidos. Sendo que os voos de ligação com o Brasil representam cerca de 55% do total dos voos intercontinentais a cargo da TAP. Mas os voos intercontinentais, no seu conjunto, repito, não representam mais do que 17% do movimento total de passageiros na Portela!

    Os voos de ligação na Portela representam, como se vê pelas estatísticas, uma pequena percentagem dos 12,3 milhões registados em 2006. É pois elementar concluir que nada justifica um novo aeroporto por este motivo (voos de ligação da TAP), tanto mais que não vai ser a TAP a pagar as despesas! Por outro lado, seria escandaloso fazer depender o futuro da principal infraestrutura aeroportuária portuguesa de uma única empresa, ainda por cima em dificuldades crescentes, com um vago futuro pela frente e destinada a ser privatizada em 2008 ou 2009!

    Imagine-se que a futura TAP privada passa a ser maioritariamente espanhola, russa, ou angolana? Faria algum sentido estarmos todos nós, portugueses, a pagar, durante 90 anos, um novo aeroporto desenhado à medida de tão incerta empresa?! Não seria decisão tão desastrosa, que acarretaria a venda da ANA e dos terrenos da Portela como condição prévia de exequibilidade, e a destruição do aeroporto Sá Carneiro, numa segunda etapa (para gáudio de Madrid), uma vergonhosa capitulação estratégica do país? Não se poderia falar a propósito de tal desenlace, sabendo-se já, como se sabe, as consequências previsíveis de uma decisão tão obtusa, de um acto de traição nacional? Para já, estamos apenas na presença de lóbis gananciosos e corruptos que não sabem o que fazem. Mas amanhã, se os deixarmos prosseguir com as suas intenções idiotas, teremos uma gravíssima crise de regime pela frente. E não será o facto de os metermos todos na cadeia que evitará o embaraço de termos que desfazer pactos e contratos internacionais em nome da soberania nacional.

    Mais vale prevenir que remediar!

OAM 276, 11-11-2007, 21:41

Petroleo 12

Petroleiro fumegante
Petroleiro solitário

A quimera carbónica de Tupi

Ao ritmo actual, as reservas de petróleo e gás natural descobertas no campo submarino de Tupi, na Bacia de Santos (Brasil), estimadas entre 5 e 8 mil milhões de barris, dariam para satisfazer a procura mundial durante... três meses.

Admitindo que a GALP traria para Portugal 10% das citadas reservas, as mesmas chegariam para satisfazer o nosso apetite por petróleo e gás natural durante pouco mais, ou pouco menos, de seis anos.

O valor estimado do negócio, com elevadíssimos custos associados, andará entre os 25 e os 60 mil milhões de USD, correspondendo à GALP, na melhor das hipóteses, um quinhão entre 2,5 e 6 mil milhões de USD. É certo que a descoberta indicia a forte possibilidade de a província petrolífera (Bacias do Espírito Santo, Campos e Santos), com cerca de 800 Km de extensão, e profundidades oscilando entre os 5 e o 7 mil metros, esconder novas jazidas por debaixo de espessas camadas de areia, rocha e sal. Mas, para já, nada autoriza mais do que uma satisfação contida pelo achado (1), e nenhuma demagogia governamental.

O problema fundamental que continuamos a ter pela frente não mudou com esta boa notícia. Chama-se Pico Petrolífero e aponta para uma procura mundial de petróleo na ordem dos 100 milhões de barris/dia (116 Mb/d em 2030). Não se provou ainda ser possível produzir mais de 85 Mb/d (2) (3). O preço do barril está no momento deste post a US$96,32, estima-se que pode chegar aos 100 dólares antes do fim deste ano, e a valores entre 156 e 300 dólares por volta de 2030!

A subida dos combustíveis induziu este ano a subida dos preços do milho e do trigo para mais do dobro, e não vai ficar por aqui! Por outro lado, os Estados Unidos, que importam 9 milhões de barris de petróleo por dia, terão que pagar, no fim de 2008, uma factura na ordem dos 328.500.000.000 US$, a qual agravará ainda mais a sua já insuportável dívida externa. O dólar continua a cair a pique, e esta queda vai acabar por cair em cima dos europeus e do resto do mundo!

Post scriptum (12-11-2007 17:08) -- Na Sexta Feira passada, dia 9, Do Portugal Profundo escrevia esta oportuna nota sobre a notícia (requentada de 2005!) sobre descoberta das grandes jazidas submarinas de petróleo na costa brasileira:
"(...) as acções da Galp subiram hoje 25% (e no Brasil a Petrobrás, 10%, com base [na] descoberta que colocaria a empresa brasileira no lugar de nona maior produtora mundial de petróleo...) e os especuladores já fizeram os seus lucros na operação. Num país onde as instituições do Estado funcionassem, os grandes compradores de acções da Galp de ontem (8-11-2007) e de hoje de manhã (9-11-2007) - e seus vendedores na tarde de hoje (9-11-2007)... - teriam de explicar muito bem à entidade de fiscalização do mercado de capitais (em Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários - CMVM) se o fizeram por palpite de que hoje cairia uma notícia bombástica ou por inside information, e veriam analisados os seus padrões de comportamento em bolsa..." -- in Do Portugal Profundo.
As acções da GALP começaram a cotar em bolsa em 11 de Janeiro deste ano. O seu valor era então de 6,29 euros por acção. Foi subindo paulatinamente numa conjuntura altamente favorável às chamadas commodities (ouro e demais metais preciosos e não preciosos, cereais, petróleo, gás natural, carvão, etc.) até chegar, na passada Sexta Feira, dia 8 de Novembro, aos 12,35 euros. No dia anterior, Quinta, as acções da GALP valiam 10,86 euros e o volume de transacções fora tão só de 907 034 títulos. A notícia sobre Tupi soube-se em Lisboa provavelmente ao princípio da tarde do dia 8 (ainda não localizei a hora exacta da comunicação televisiva feita pela putativa candidata presidencial promovida por Lula da Silva, Dilma Rousseff). Ao fim da sessão tinham já sido transaccionados 12 987 160 títulos! O valor por acção tinha subido para os 12,35 euros. No dia seguinte, a euforia prosseguiu com o título a atingir um máximo de 15,43 euros, para um volume de negócios de 20 561 020 acções!! Se isto não é especulação pura e dura, com uma mais do que provável troca de informações privilegiadas entre os principais insiders do negócio, ficaria muito admirado. A digestão saborosa do spin especulativo durou tipicamente um fim de semana. Hoje, à hora que escrevo este post, o título está a corrigir, cotando-se a 14,14 euros. QUE TAL EXIGIR À CMVM UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE ESTA BRINCADEIRA?



Notas
  1. OLYMPIC DAM (Austrália): CONTRATOS COM CHINESES E RUSSOS EM RISCO!

    Sobre a necessidade de restringir o optimismo sobre avaliações mineralógicas, vale a pena ler a mais recente investigação sobre o iminente e monumental flop que ameaça a ampliação da exploração da famosa mina australiana de ouro, prata e urânio, Olympic Dam. As reservas estimadas foram sobrestimadas, verificando-se agora que a pobreza relativa do minério, as dificuldades técnicas e morosidade da extracção, bem como os excessivos custos de produção (agravados pelo preço do diesel necessário ao trabalho das máquinas envolvidas na actividade mineira), irão provavelmente determinar a suspensão deste tão badalado e aguardado projecto. A bronca rebentará no dia em que a companhia BHP Billiton, anunciar que não poderá satisfazer os pedidos e compras firmes já negociados, nomeadamente com a China, a India e a Rússia! Artigo original: An even bigger hole, by John Busby.

  2. IS WORLD OIL PRODUCTION PEAKING?

    According to data published by the International Energy Agency, world oil production of 84.80 million barrels per day (mb/d) in 2006 has dropped to 84.62 mb/d during the first ten months of 2007. One year does not make a trend, but evidence suggests that oil production is nearing its historical peak. To begin with, the world's 20 largest oil fields were all discovered between 1917 and 1979, and they are aging fast. Another key is Saudi Arabia. Long the world's leading oil producer, Saudi production dropped from 9.15 mb/d in 2006 to 8.62 mb/d in 2007.

    If world production is peaking, it will be a seismic event in world history. If production begins to decline while demand continues to climb, oil prices will rise further. Cheap airfares will become history. Rising oil prices mean even higher food prices. The automobile industry will suffer as demand for inefficient vehicles plummets.

    Since options for expanding supply are limited, efforts to prevent oil prices from rising well beyond $100 per barrel in the years ahead depend on reducing demand, and largely within the transportation sector. The United States, where 88 percent of the workforce commutes by car, is particularly vulnerable to rising oil prices. And because it consumes more gasoline than the next 20 countries combined, it will necessarily have to play a lead role in cutting oil use.

    An effort to quickly reduce oil use might best be launched at an emergency meeting of the G-8, since its members dominate world oil consumption. If governments fail to act quickly and decisively to reduce oil use, oil prices will continue to rise as demand outruns supply, leading to a global recession, or, in a worst case scenario, a 1930s type global depression. -- Lester Brown, author of the coming "Plan B 3.0: Mobilizing to Save Civilization".

  3. OPINIONS OF OIL COMPANY EXECUTIVES ON PEAK OIL
    By Sohbet Karbuz - Energy Bulletin

    Nov/14/2007. The views of the oil industry on Peak Oil are divided, ranging from a non-event to getting there fast. Here I try to give the opinions of oil company executives about Peak Oil and related issues. The list is certainly not complete. For example, I omitted opinions expressed by the executives after they are retired. After each quote I list the name of the executive, his position at the time and the link (where possible) to the original source. At the end of the article I make some remarks. (LINK).
Referências:

OAM 275, 11-11-2007, 02:51

sábado, outubro 27, 2007

Petroleo 11

Lukoil, Russian oil gas station in New York
Lukoil, o gigante russo da produção e distribuição de hidrocarbonetos substitui
bombas de gasolina da Mobil em vários pontos simbólicos da cidade de Nova Iorque.

$92,22 !


O petróleo atingiu ontem, 26 de Outubro de 2007, o seu valor máximo nominal e real (ajustada a inflacção) de sempre: 92,22 USD. As estimativas apontam, já há alguns meses, para a possibilidade de o barril de crude chegar aos 100 USD antes do final deste ano.

Esta subida, muito preocupante para a economia mundial (e portuguesa), reflecte várias situações de crise em fase de sincronização acelerada:
  1. a tomada de consciência de que o mundo chegou ao cume do sino logarítmico que descreve o Pico Petrolífero (ou Peak Oil) previsto por M. King Hubbert em 1956;
  2. a iminência de uma guerra entre a Turquia e o Curdistão iraquiano, provavelmente provocada pelos serviços secretos anglo-americanos (1);
  3. a probabilidade elevada de uma agressão militar americana contra o Irão;
  4. a hecatombe em curso (e que ainda se agravará) do sistema financeiro americano (2) e o respectivo alastramento à Europa;
  5. a diferença abissal dos ritmos de crescimento dos países asiáticos (com especial destaque para a China e a India) relativamente à recessão americana (3) e ao crescimento anémico europeu;
  6. o aumento generalizado da inflacção;
  7. o assalto indecoroso às poupanças e aos sistemas públicos e privados de segurança social e apoio médico;
  8. a destruição das forças produtivas pela via da concentração do capital conseguida à custa das falências reais e fraudulentas das empresas e do desemprego de milhões de pessoas.
Com este panorama pela frente, o diálogo entre a Europa e a Rússia torna-se, em cada dia que passa, mais decisivo para uma saída pacífica para a actual crise mundial, que Estados Unidos e Inglaterra gostariam provavelmente de ver resvalar para uma III Guerra Mundial, capaz de parar o desenvolvimento da China e de submeter uma vez mais a Rússia e a Alemanha à supremacia anglo-saxónica. Se esta criminosa conspiração triunfasse, seria o fim da União Europeia e o Apocalipse para dezenas ou mesmo centenas de milhões de pessoas. Uma averiguação simples das reais intenções da Europa nesta matéria passará pela resposta que esta vier a dar à pretensão russa de colocar as suas empresas de hidrocarbonetos a operar directamente na União Europeia. A companhia russa Lukoil (4) opera nos Estados Unidos. Que motivo poderá atrasar a sua entrada no Reino Unido, na França, na Dinamarca, em Espanha ou em Portugal?



Notas
  1. The British method such as the one used by Lawrence of Arabia, was to go into and live with various wild nomadic tribes and get them to work as terrorists, attacking the govenment of Istanbul. This guerrila warfare was an important part of WWI and the British were very focused on justifying and assisting ethnic minorities in resisting imperial rule even though Britian was battling the Irish Celts for the exact same reasons: they had to stop ethnic groups from gaining political power at home! -- Elaine Meinel Supkis.
  2. 25-10-2007. The collapse of confidence in Merrill Lynch & Co. after the world's biggest brokerage lost six times more than it forecast earlier this month helps explain why Treasury Secretary Henry Paulson's attempt to rescue SIVs is troubled. -- Bloomberg.com.
  3. 25-10-2007. There is no doubt we are in a recession. All the important indicators have been trending in this direction for some time now. This post-9/11 boom was fake and frankly, quite weak considering the 1% interest rates handed out by Greenspan. This is actually the Dot Com Bubble Pop, part II. They hope to have a part III. But I doubt this will be possible. -- Money Matters/ Elaine Meinel Supkis.
  4. Lukoil, com 96.81% de capital russo, é a segunda maior empresa petrolífera privada mundial no que respeita a reservas comprovadas de hidrocarbonetos, e uma das companhias verticalmente integradas de petróleo e gás natural dominantes a nível mundial. Actua presentemete nos seguintes países: Azerbeijão, Bielorússia, Geórgia, Moldávia, Ucrânia, Bulgária, Hungria, Finlândia, Estónia, Latvia, Lituânia, Polónia, Sérvia, Roménia, Macedónia, Chipre, Turquia e Estados Unidos.

OAM 270, 27-10-2007, 02:52

terça-feira, outubro 16, 2007

OE2008

Basta de ilusionismo!
Portugal: sobre o Orçamento de Estado de 2008 (OE2008)
16-10-2007. Look at Japan: that depression is entirely driven by the people at the top wanting to make money no matter what, while running a 0% system. It literally crushes people to death under such a regime. Japan's domestic economy isn't growing, only their export economy and the wealth of the elites running these Japanese export corporations. -- Elaine Meinel Supkis, Goldman Sachs: Traitors And Con Artists.
Portugal, um país em recessão grave e endividado até ao tutano, tem que dizer "Basta!" à retórica governamental e partidária, exigindo dos políticos uma linguagem clara e transparente sobre a situação real do país e as alternativas que teoricamente se nos oferecem.

Por exemplo:

O BNP Paribas Energy Commodities Export Project, no seu relatório de Novembro de 2006 --WTI & Brent Quaterly Price Outlook 2007-2008-- previa que o Brent estaria próximo dos US$65 no final de 2007. Em Setembro deste ano, a mesma entidade limita-se a constatar que o barril ultrapassou os US$80, não fazendo previsões para os tempos mais próximos!

O governo português elaborou um Orçamento de Estado para o ano 2008 tendo por referência um preço médio do Brent de US$74,9...

No entanto, o crude (US light, sweet crude rose) chegou hoje (16-10-2007) aos US$88, e o Brent, aos US$83,99, i.e. mais 9 dólares do que a referência usada nos cálculos optimistas da equipa de Sócrates! É só fazer as contas para vermos qual o impacto da previsível conjuntura energética mundial em 2008 nos exercícios trapezistas da actual maioria, para se perceber a gravidade da situação.

Como diz Medina Carreira, é preciso, de uma vez por todas, falar verdade aos portugueses e explicar de uma forma simples, e não dissimulada (como ocorre na ditirâmbica ilusionista do OE2008), o que pode e não ser dito, o que deve e não ser feito, e sobretudo, o que tem que ser poupado nas mordomias, fretes, derrapagens propositadas e escandalosos desvios da riqueza nacional para os bolsos privados de especuladores financeiros, empresas portuguesas sob protecção negociada --de que a roubalheira das chamadas Parcerias Público Privadas é o mais recente estratagema (1)-- e boys do Bloco Central (2).

Apontar os holofotes da conivente comunicação social para o feito adamastórico de a actual maioria prometer reduzir o défice para os 3% é uma pura mistificação das dificuldades do país.

O que parece importante sublinhar é que a nossa Dívida Pública, ou Dívida Bruta Consolidada das Administrações Públicas, é, segundo a própria previsão optimista da actual maioria, de 104.607 milhões de euros -- isto é ~64,4% do PIB, o que equivale a uma dívida média por cada português activo de cerca de 18.747 euros.

Por sua vez a Dívida Externa portuguesa, um dado que não aparece referido em nenhuma parte do relatório do OE2008, era em Setembro de 2006 (CIA World Factbook) de 272.200 milhões de dólares, ou seja, a valores actuais, cerca de 206.756 milhões de Euros. Em 2006 esta dívida externa, a 22ª mais alta dos 200 países considerados nas estatísticas da CIA, representava entre 129,5% e 153,9% do PIB, consoante consideremos valores GDP (OER), ou GDP (PPP). A pergunta óbvia é esta: quanto representa nas actuais projecções do OE2008? Não sabemos!

Também não sabemos que quantidade efectiva de ouro existe nas reservas do Banco de Portugal, com capacidade de garantir os empréstimos externos: 462 toneladas, 417 toneladas, 166 toneladas, ou nem isso?!

Sabemos, no entanto, que os encargos líquidos com parcerias público-privadas (PPP) no sector das concessões rodoviárias vão somar no próximo ano 860,1 milhões de euros (704 milhões dos quais, para as célebres SCUT do Cravinho!) E que o governo tenciona prosseguir com este tipo de negócios ruinosos com a meia dúzia de consórcios económico-financeiros --construtoras e bancos (3)-- com quem o actual regime político parece viver na mais encantada e ruinosa simbiose.

E sabemos também que a liquidez está a desaparecer rapidamente debaixo dos colchões especulativos da bolsa. O valor do PSI20 cai paulatinamente. O BCP está a transformar-se numa espécie de "Casa Pia" do sector bancário lusitano. O Montepio treme que nem varas verdes diante do maremoto hipotecário que ainda está para chegar sob a influência dos ventos tempestuosos do iminente crash imobiliário espanhol. Ou seja, toda a gente quer jogar no casino do petróleo e das commodities, mas quando decide levantar a massa para jogar, descobre que o cofre, afinal, está vazio! Não é Joe?

Vai ser bonito observar, nas próximas semanas, como conduzirá a actual oposição parlamentar a discussão deste orçamento cartola, recessivo por todos os poros, e que promete mais sacrifícios para todos, excepto, claro está, para os boys do Bloco Central, alguns dos quais têm ainda o desplante de continuarem a explicar-nos semanalmente na TV como vai o mundo!


NOTAS
17-10-2007. 20:20
  1. Sobre a Parceria Público-Privadas entre o Estado português e a Fertagus (empresa que explora o combóio da ponte 25 de Abril, entre Roma-Areeirio e Setúbal) vale a pena ler estas conclusões da auditoria do Tribunal de Contas de Junho de 2002 (N.º 24/2002 - 2ª SECÇÃO)

    Quanto ao modelo da Concessão (VER PÁG. 17)

    O actual modelo de concessão é o resultado de nova orientação governamental, tomada a partir de Março de 1997 e que conduziu à transformação de um projecto inicialmente idealizado como auto-sustentável financeiramente, isto é, a pagar pelos utentes, num projecto a cargo do Estado, ou seja, só viável com os pagamentos a efectuar pelos contribuintes, situação esta bem patente na decisão de alargamento do objecto da concessão às Estações do Fogueteiro e Setúbal (Praias do Sado).

    5.2. Quanto ao processo de concurso (VER PÁG. 18)

    O facto do Consultor Financeiro da Comissão do Concurso, como representante do Estado concedente, ter sido o autor da metodologia de avaliação dos concorrentes, e,posteriormente, após a adjudicação, passar a fazer parte integrante do sindicato de bancos/consultores do concorrente Fertagus suscita reservas quanto à transparência do processo, tanto mais que haviam sido solicitados compromissos de exclusividade a todos os consultores do Estado que colaboram no lançamento do concurso. Nos termos das Bases da concessão, o Estado assegura a adequada compensação à REFER, sempre que ocorram, para o concessionário, reduções – ou até isenção – da taxa devida pela utilização da infra -estrutura, por força de variações no volume de tráfego abaixo do limite inferior da banda de referência. Isto significa que o concessionário não assume qualquer encargo relativo ao pagamento da taxa de utilização da infra-estrutura desde que o volume de tráfego se situe abaixo do limite mínimo da banda de tráfego inferior. O Estado acaba, assim, por substituir-se ao concessionário, nas obrigações decorrentes do pagamento à REFER da utilização das infra-estruturas ferroviárias. Acresce que o Estado, ao assumir este encargo por conta do concessionário, está não só a reduzir os benefícios económicos do contrato para os contribuintes, como a condicionar a maximização da racionalidade económica da gestão privada.

    Acresce que o regime de pagamento da taxa de utilização pelo Estado concedente acaba por consubstanciar uma forma indirecta de subsidiar os custos de exploração da Fertagus relativos ao pagamento da taxa de utilização da infra-estrutura, o que não deixa de suscitar reservas quanto ao respeito pelos princípios comunitários da concorrência.

    COMENTÁRIO (RR): Com contratos destes todos nós podiamos criar empresas!

  2. Além do consultor financeiro seleccionado (a KPMG), a Rave anunciou ter contratado também o assessor jurídico para a Alta Velocidade, que será a Jardim Sampaio Caldas, liderada pelo ex-ministro e actual deputado socialista Vera Jardim. Jornal de Negócios, 17-10-2007.

  3. Construtoras e PSD alinhados num pacto para o investimento...
    As construtoras consideram que "é benéfico para o país que os dois partidos do arco do poder façam um pacto" para definir o investimento em grandes obras públicas para o médio prazo. O novo líder do PSD, Filipe Menezes, propôs em Torres Vedras um pacto alargado a todos os partidos parlamentares e o PS admite falar do assunto, se o que estiver em causa forem os grandes investimentos. Jornal de Notícias, 17-10-2007.

OAM 263, 16-10-2007, 19:06

quarta-feira, setembro 26, 2007

Crise Global 3



É o Capitalismo, estúpido!

Os trabalhadores da General Motors, membros da UAW (International Union, United Automobile, Aerospace and Agricultural Implement Workers of America), entraram em greve nacional ontem, 24-09-2007, às 11 da manhã. Esta é primeira greve nacional promovida por aquele poderoso sindicato nos últimos 37 anos. Mais de 80 unidades de produção afectadas, em pelo menos 30 estados da União, é o resultado, para já, das duras negociações em curso.

A GM perdeu 70% dos seus trabalhadores nos últimos 12 anos.
Os donos da multinacional automóvel, abraços com uma crise sem precedentes desde 2005 (CNN), que quase levou a empresa à falência em Março de 2006 (Guardian), pretendem transferir 51 mil milhões de dólares de responsabilidade com as reformas e despesas de saúde dos seus trabalhadores e respectivas famílias para fundos controlados pelos próprios sindicatos (union-controlled trust funds.)

Para quem pensava que isto era apenas uma crise de crédito mal parado, é bom começar a tomar mais atenção à literatura económica especializada. Quanto ao ministro das finanças português e ao director do Banco de Portugal, talvez fosse bom falarem verdade aos portugueses, começando por falar verdade ao primeiro ministro. Ou estão à espera que o BCP e a TAP abram falência, e uma centena de Câmara Municipais se declarem insolventes?!

Tal como o desassossego na antiga Birmânia, que tanto parece preocupar o fundamentalista cristão George W. Bush, a crise automóvel que atinge e se agravará na América, ao longo dos próximos anos, deriva do mesmo mal: o fim de um paradigma energético. Veremos se o pregador conseguirá resolver as sucessivas crises sociais que atravessarão o seu país nos próximos tempos, sem recorrer aos caceteiros da Guarda Nacional. -- OAM 245

terça-feira, setembro 25, 2007

Petroleo 10

Asfixia energética

Monges budistas desfilam em Yangun
Milhares de monges budistas percorrem ruas da capital Yangun
na maior manifestação em 20 anos contra junta militar de Mianmar.

Manifestações em Mianmar (antiga Birmânia) tiveram início no mês passado por causa do aumento de combustíveis. A gasolina subiu 100% de uma só vez e o gás natural subiu cinco vezes ao longo deste ano. A manifestação de 23/09/2007, que reuniu 20 mil pessoas, entre as quais mais de 3 mil monges budistas, está a gerar uma crise política de consequências imprevisíveis no actual regime militar que governa a antiga colónia britânica vizinha da China, do Laos, da Tailândia, do Bangladesh e da India. -- in Folha online 24/09/2007.

Este género de crise, há muito anunciado pelos estudiosos do Pico Petrolífero (Peak Oil), tenderá a repetir-se um pouco por todo o planeta, com primordial incidência nos países e zonas económicas mais débeis. Veremos assim um número crescente de crises políticas com carácter de massas, potencialmente violentas, em volta das subidas bruscas dos preços da gasolina/gasóleo, gás, leite, pão, rações, adubos, ..., água. Tal como agora se remeteu a causa da crise para os rodapés das notícias, erguendo uma cortina de fumo em seu redor (no caso, uma manobra de diversão do trio Bush-Cheney-Rice para chatear os chineses), é provável que encobrimentos semelhantes ocorram no futuro.


Referências:
Blog de ciber-dissidência de Ko Htike
Album fotográfico da ciber-dissidência de Lae Moe


OAM #243 00:55 24 SET 2007 (UTC)

quinta-feira, setembro 13, 2007

Petroleo 9

Iraque: o colapso da estratégia americana

De cada vez que o Euro sobe, sobe também o petróleo. Os Estados Unidos deixaram de controlar a economia mundial. A Europa tem que agir, para seu próprio bem e em nome de uma nova estabilidade global, ou se não o fizer, os Novos Balcãs --do Canal do Suez à região de Xinjiang (1)-- ficarão sob uma influência Sino-Russa decisiva até ao fim da era petrolífera... ou até que alguma catástrofe bélica mundial baralhe e dê de novo!



"Fifteen years after its coronation as global leader, America is becoming a fearful and lonely democracy in a politically antagonistic world." -- Zbigniew Brzezinski, Second Chance, 2007.

O petróleo está a um passo dos oitenta dólares (2). George Bush, face ao desastre evidente da sua política histérica e agressora, nomeadamente no Iraque, teve de anunciar publicamente uma retirada gradual das tropas destacadas no país que invadiu, ocupou e massacra em nome de um pretexto inexistente --Armas de Destruição Maciça (WMD)-- e de uma retórica fabricada --a cruzada contra o terrorismo. A Rússia acaba de publicitar a sua Dad of All Bombs (em resposta à Mother of all Bombs americana), depois de, em Dezembro de 2006, ter anunciado o novo e muito convincente sistema de mísseis intercontinentais do complexo Topol-M, esclarecendo os Estados Unidos, a Europa, Israel e o Japão que o eixo Moscovo-Pequim (que se vem consolidando rapidamente através do trabalho intenso da Shanghai Cooperation Organization) está cada vez melhor equipado económica, política e militarmente para determinar o destino dos Novos Balcãs (Global Balkans.) Só faltava mesmo que a conspiração jurídico-legal montada para roubar o petróleo iraquiano e curdo antes da retirada das tropas ocupantes, pelo consórcio Bush-Cheney-Blair, fosse finalmente desmascarada e posta em causa. É o que está precisamente a acontecer neste momento, para pânico da Shell, da BP e de outras multinacionais petrolíferas anglo-norte-americanas.
BAGHDAD, Sept. 12 -- A carefully constructed compromise on a draft law governing Iraq's rich oil fields, agreed to in February after months of arduous talks among Iraqi political groups, appears to have collapsed. The apparent breakdown comes just as Congress and the White House are struggling to find evidence that there is progress toward reconciliation and a functioning government here.

The New York Times
Compromise on Oil Law in Iraq Seems to Be Collapsing
By JAMES GLANZ
Published: September 13, 2007

O curioso da notícia do NYT e outros média convencionais, é que ninguém fica a saber que raio de acordos estavam a ser cozinhados entre Bush e os governantes iraquianos de sua confiança. Vale a pena saber o que está realmente em causa...
The NY Times reports that "[a] carefully constructed compromise on a draft law governing Iraq's rich oil fields, agreed to in February after months of arduous talks among Iraqi political groups, appears to have collapsed."

What the Times mentions no where in its report is this: the United States orchestrated the law. According to The (London) Guardian, it would open up the oil fields to foreign corporations -- oil fields which were nationalized (ie, put off-limits to foreigners) in 1972. Moreover, the law would remove contract authority from the the Parliament and place it in the hands of an unelected board consisting of oil industry executives.

About.com
From Kathy Gill,
Your Guide to U.S. Politics: Current Events.
FREE Newsletter.
Published: Thursday September 13, 2007

Para uma percepção mais ampla desta e doutras questões que afectam gravemente a credibilidade dos EUA, vale a pena conhecer um dos últimos trabalhos de Naomi Klein...
In December 2006, the bipartisan Iraq Study Group fronted by James Baker issued its long-awaited report. It called for the US to "assist Iraqi leaders to reorganise the national oil industry as a commercial enterprise" and to "encourage investment in Iraq's oil sector by the international community and by international energy companies."

Most of the Iraq Study Group's recommendations were ignored by the White House, but not this one: the Bush administration immediately pushed ahead by helping to draft a radical new oil law for Iraq, which would allow companies such as Shell and BP to sign 30-year contracts in which they could keep a large share of Iraq's oil profits, amounting to tens or even hundreds of billions of dollars - unheard of in countries with as much easily accessible oil as Iraq, and a sentence to perpetual poverty in a country where 95% of government revenues come from oil. This was a proposal so wildly unpopular that even Bremer had not dared make it in the first year of occupation. Yet it was coming up now, thanks to deepening chaos. Explaining why it was justified for such a large percentage of the profits to leave Iraq, the oil companies cited the security risks. In other words, it was the disaster that made the proposed radical law possible.

Naomi Klein
Shock Doctrine - The Rise of Disaster Capitalism (book) (video)

Para que não se pense que esta é uma visão enviesada e esquerdista, leiam-se dois excelentes livros de Zbigniew Brzezinski: The Grande Chessboard (1997) e Second Chance (2007).


Notas
1 - A obediência do governo português às pressões de Pequim na questão da visita do Dalai Lama a Portugal, não o recebendo como estadista que é, além de líder religioso, mostra bem o peso crescente da diplomacia chinesa em Portugal, na Europa e no mundo. Se formos por este caminho, sem pestanejar perante os valores democráticos que a Europa defende, mau assunto!
2 - O petróleo chegou horas depois deste post aos 80,20 USD, e o Euro aos 1,3927 USD.

OAM #239 12:07, 13 SET 2007 (UTC)

sexta-feira, julho 13, 2007

Petroleo 7

Luton suspende construção de nova pista

A Abertis Airports, (empresa espanhola formada pelo grupo Abertis, com 90% do capital, e pela AENA Internacional, com 10%), proprietária do aeroporto londrino de Lutton, que opera através da sua associada TBI, decidiu não construir uma nova pista e instalações conexas (terminal) previstas no plano de crescimento do aeroporto até 2015. A decisão, anunciada na manhã de 10 de Julho de 2007, apanhou de surpresa o mercado. A TBI disse que novos planos para aquele aeroporto serão anunciados no fim do ano, e que para já, o foco da actividade estará na optimização da actual infraestrutura.

O Presidente da TBI afirmou (1):
"We are committed to the delivery of facilities to meet the needs of our customers and at the same time fulfill our shareholder expectations.

"Therefore, we have decided that our proposals should focus on making the most of the existing airport site.

"As a result we have withdrawn the current Master Plan (issued for consultation in October 2005)."
Esta notícia pode ser o sinal de que algo começa a ser percebido pelos investidores, de quem afinal dependem cada vez mais as actuais indústrias aeronáutica e de transportes aéreos. A incapacidade da produção petrolífera de suprir as estimadas necessidades de Jet fuel para o anunciado crescimento do transporte aéreo de mercadorias e de passageiros até 2030, factor omisso em todos os estudos optimistas sobre o tráfego aéreo mundial, parece estar agora a ser considerado nas decisões estratégicas de médio e longo prazo. Segundo o artigo Flight-Path Britain, de John Busby, publicado em 27 de Março de 2007, a procura e a oferta do Jet fuel para os aviões de todo o mundo começará a divergir irreversivelmente a partir de 2010.

Estas duas citações (2) dão conta de dois problemas insolúveis e que parecem começar agora a influenciar as decisões do dinheiro:

Disponibilidade do Jet fuel

"Em 2015 a produção de "todos os petróleos" terá caído de um pico, em 2010, de 33 Gb, para 31 Gb;
Em 2015, a projectada exigência de Jet fuel será de 2,6 Gb, ou seja, uns ainda alcançáveis 8,4% da produção petrolífera global.
Mas em 2030, a produção de petróleo terá caído para 23,5 Gb, ao mesmo tempo que a necessidade de Jet fuel terá chegado aos 3,9 Gb, ou seja, 17% da produção petrolífera mundial.

"A procura dos demais derivados petrolíferos tornará então impossível destinar 17% da produção de petróleo ao Jet fuel.

"Uma taxa de crescimento exponencial de 4,5% no tráfego de passageiros e de 5,9% no tráfego de carga (de acordo com as previsões da Airbus) exigiria, mesmo com as proclamadas eficiências no uso do combustível, uma quantidade de Jet fuel impossível de conseguir."

Pistas de aviação

"Isto, com efeito, implica que entre 2005 e 2030, apenas cerca de 60% das expectativas do mercado de passageiros, e 45% das de carga, poderão ser cumpridas, embora o défice de combustível só venha a tornar-se mais evidente no fim deste período. Muito antes de isto acontecer, porém, as encomendas de aviões serão canceladas e as acrescidas eficiências de combustível actualmente previstas não poderão concretizar-se, pois o aumento da proporção de aviões velhos acentuará as faltas de provisão de combustível.

"As estimativas do Departamento de Transportes do Reino Unido e da Airbus não consideram as implicações do recurso combustível inerentes à sua projectada expansão do tráfego aéreo. A falta de consideração deste factor leva a que o crescimento previsto do tráfego não possa ser concretizado, já que a produção de Jet fuel será incapaz de atender à procura. Quanto mais alta for a taxa de esgotamento das limitadas reservas de petróleo, mais cedo ocorrerá o colapso do transporte aéreo comercial.

"A construção de pistas adicionais, a fim de satisfazer o crescimento estimado das viagens aéreas, suscita expectativas que não poderão ser cumpridas. As pistas em Stansted e Heathrow, se chegarem a ser construídas, servirão como zonas de estacionamento para um número crescente de aeronaves redundantes.

"O canto do cisne da aviação comercial será assinalado pelo estacionamento progressivo das frotas nas pistas, tal como a redução na oferta de Jet fuel será o primeiro indicador do fim da era petrolífera." (3)
É por estas e outras que a ideia de construir um novo aeroporto internacional com características de plataforma intercontinental, ou de cidade aeroportuária, na região de Lisboa, é uma miragem. A atitude prudente e responsável é ampliar e optimizar o pessimamente gerido aeroporto da Portela (4); abandonar a ideia de construir novas infra-estruturas, como a Ota ou Alcochete (5), e adaptar a base aérea do Montijo para aeroporto complementar da Portela. Por outro lado, a prioridade absoluta no sector dos transportes deve passar pelo abandono estratégico dos motores de combustão e, em contrapartida, pela opção por tudo o que se possa mover a energia eléctrica e animal: combóios, "trolleys", eléctricos, people movers, ascensores, Segways, bicicletas tecnologicamente avançadas, etc. Por outro lado, substituir a bitola ibérica em toda a rede ferroviária nacional, pela bitola europeia, é, por si só, um mega-projecto absolutamente necessário, mas irrealizável sem o apoio da União Europeia. É aqui que os esforços e as negociações devem insistir. Não na eternização do negócio dos estudos (que alimenta as principais máquinas partidárias do país, além dos boys e das girls do Bloco Central), nem nas obras de Santa Ingrácia, que todos pagamos, mas de cujo fracasso ninguém é responsabilizado.



1 - Ver notícia original na Sanders Research Associates
2 - Recuperadas de uma tradução realizada por Resistir.info
3 - O fim da era petrolífera não significa o fim da exploração petrolífera, mas sim o fim da afluência de petróleo barato para queimar estupidamente, como tem sido feito nos últimos 93 anos (mais precisamente desde o início da Primeira Grande Guerra Mundial). O reconhecimento de que o "peak oil" está mesmo ao virar da esquina chega-nos, entretanto, no último relatório da Agência Internacional de Energia, publicado no passado dia 9 de Julho. Aqui fica um extracto da respectiva introdução:

"Despite four years of high oil prices, this report sees increasing market tightness beyond 2010, with OPEC spare capacity declining to minimal levels by 2012. A stronger demand outlook, together with project slippage and geopolitical problems has led to downward revisions of OPEC spare capacity by 2 mb/d in 2009. Despite an increase in biofuels production and a bunching of supply projects over the next few years, OPEC spare capacity is expected to remain relatively constrained before 2009 when slowing upstream capacity growth and accelerating non-OECD demand once more pull it down to uncomfortably low levels." - International Energy Agency - Medium-Term Oil Market Report, July 2007. (PDF)
4 - A já famosa falta de Slots, que justificaria a urgência de um novo aeroporto na região de Lisboa, não passa, de facto, da mais pura contra-informação ao serviço da manipulação governamental em torno da Ota, como se pode comprovar no certeiro PDF de Rui Rodrigues sobre esta obscura miudeza, que políticos e opinocratas de serviço têm grande dificuldade de entender.

5 - A menos que a investigação tecnológica em curso consiga desenvolver rapidamente novas aeronaves, menos ruidosas e menos dependentes do petróleo, como pode ser o caso, do Silent Aircraft eXperimental SAX-40, não vejo como evitar uma rápida estabilização, ou mesmo retrocesso, do actual boom da aviação comercial de passageiros.

OAM #222 13 JUL 2007

quarta-feira, junho 27, 2007

Petroleo 6

Alta Velocidade?

Como le encanta la gasolina (dame ma gasolina)*

Se algo me entristece em Portugal é a cobardia da generalidade dos políticos que compõem o respectivo arco partidário. Nos grandes temas, atrapalham-se com retóricas gastas e ridículas, vagueando pelos corredores cinzentos das decisões, como se fossem zombies, comandados uns pela lógica pequenina dos cálculos eleitorais, sem visão, e outros, os do bloco central (PS e PSD), pela ditadura dos interesses para quem agradecidamente trabalham, como se uma fatalidade económica pendesse sobre as suas cabeças, quando afinal apenas se trata de irremediável cobiça, hipertrofia intelectual e abstinência ética. No dia a dia, falta-lhes a imaginação, são levianos, mentem, professam o absentismo e o atraso, são desorganizados, irresponsáveis e sobretudo muito interesseiros (1). Por isso temos um primeiro-ministro de telenovela, fabricado por um Pigmaleão de pacotilha, que bebe a correr a espuma de Blair, como se pensasse no país. Por isso temos um governo que atraiçoa em cada dia que passa, não apenas o programa por que foi eleito, mas também, de forma escandalosa e inadmissível, a ideologia que seduziu a maioria dos seus eleitores. Por isso alguns actores do consórcio clientelar socialista são mais zelosos que a própria sombra do poder, discriminando, censurando, denunciando, perseguindo, como que a provar a frase asquerosa: "quem se mete com o PS, leva!"

Não foi o autor Do Portugal Profundo -- António Balbino Caldeira -- quem duvidou dos atributos académicos e profissionais do Senhor Sócrates, foi o país inteiro! Noutro sítio qualquer, da África aos Estados Unidos, um tal escândalo teria levado, se o protagonista fosse primeiro-ministro, à sua inevitável demissão. No Portugal suave que somos, piscamos os olhos uns aos outros e contamos anedotas a propósito da desviante genética de algumas universidades privadas e dos seus extraordinários frutos.

Demonstrado o embuste da Ota, o governo acabou por recuar de forma atabalhoada e pouco convincente. Mas já se meteu noutra: a Alta Velocidade. Tal como no caso do dossiê do NAL, também agora não estudaram, não sabem nada, querem fundos europeus e não se coibirão de continuar a gastar milhões de euros em estudos e power points. Para isso servem os lóbistas encapotados que vagueiam pelo parlamento e se sentam nos conselhos de administração das empresas públicas e participadas. Para isso servem as golden shares!

O mundo está à beira de uma cascata de guerras sem fim, de uma crise climática catastrófica e da metamorfose dolorosíssima do paradigma energético que há dois séculos alimenta os humanismos e as utopias de muitos, ilusórias teorias sobre a produtividade económica e a suposta selecção da espécie humana. Nos países ricos, as populações envelhecem e os estados rarefazem-se, ao mesmo tempo que caminham para a falência. Nos países pobres, o "darwinismo" triunfou da pior maneira: sem estado, sem lei, sem sociedade, sem humanidade, impera o inferno. Acham que perante tais perspectivas vamos mesmo precisar de novos aeroportos e de comboios de alta velocidade? Para quê? Para quem? Quem pagará a conta? Não está falida a maioria dos nossos municípios? Não caminham a passos largos para a falência os nossos sistemas de segurança social? Não é verdade que o Estado não tem dinheiro para ultrapassar a gigantesca dívida da CP? Não é verdade que o Estado não tem dinheiro para manter as estradas e as pontes do país, pretendendo por isso entregá-las à iniciativa privada? E não é verdade que a falência do tecido industrial português se vê claramente no horizonte? Não sabemos todos que a globalização, antes de desaparecer, levará à falência boa parte da economia real do planeta?

Pensem apenas nestes números, que retirei (e recalculei, com base noutras fontes afins) do International Energy Outlook 2007 (IEO2007), publicado no passado mês de Maio pelo Energy Information Administration / Official Energy Statistics from the U.S. Government:
  • Reservas mundiais de crude, Janeiro de 2007 = 1.317.400.000.000 barris
  • Reservas de crude sintético recuperado das areias betuminosos (Athabasca, Canada) e dos óleos extra-pesados (Orinoco, Venezuela) = 443.000.000.000 barris
  • Reservas totais de crude natural e sintético = 1.760.400.000.000 barris
  • Consumo mundial de petróleo e outros combustíveis líquidos, em milhões de barris por dia (mbd), segundo o modelo "business as usual" (2)
    • 2004 = 83 mbd
    • 2030 = 118 mbd
    • média = 100,5 mbd
  • Consumo médio anual mundial entre 2004 e 2030 = 36 682 500 000 barris
    • Duração das reservas mundiais comprovadas (48 anos)
    • Esgotamento absoluto do recurso: 2055
Conclusão:
  • Se todas as reservas viessem a ser consumidas ao ritmo previsto no IEO2007, o último barril de petróleo seria extraído em 2055!
Na avaliação do consumo mundial por sector, entre 2004 e 2030, o relatório oficial do governo americano prevê a seguinte distribuição:
  • transportes = 66%
  • indústria química e petroquímica = 27%
  • produção de electricidade, usos comerciais e domésticos = 7%
Como parece óbvio, muito antes das datas previstas para a exaustão do petróleo (3), algo de muito grave ocorrerá: ou uma travagem abrupta do consumo, causada por factores excepcionais (conflito bélico global), ou a inevitável implosão da actual civilização, no meio de uma sucessão de crises sistémicas nacionais, regionais e finalmente globais, sobre as quais nenhum país, ou aliança de países será capaz de exercer uma influência decisiva. De uma coisa devemos, desde já, ter a certeza: se as contas estão bem feitas, nem o NAL, nem a Alta Velocidade ferroviária farão qualquer sentido. Se alguma decisão parece adequada ao cenário que se avizinha, a mesma deverá passar por estender a vida útil do Aeroporto da Portela até ao limite efectivo das suas possibilidades; por renovar a actual rede ferroviária nas suas principais ligações internas; e por investir fortemente na rede portuária nacional e em geral nos transportes marítimos e fluviais -- pois daí virão, muito provavelmente, as únicas alternativas viáveis à impossibilidade crescente de prosseguir com os tradicionais paradigmas do transporte: rodoviário, aéreo e ferroviário de alta velocidade.
"The Earth is about to catch a morbid fever that may last as long as 100,000 years. Each nation must find the best use of its resources to sustain civilisation for as long as they can." - James Lovelock (Published: 16 January 2006) in The Independent.



* Daddy Yankee, Barrio Fino ("Gasolina") [video YouTube]

Notas

1 - Manuel Pina, Jornal de Notícias, 10 Maio 2007.

"Ao mesmo tempo que, segundo números da Comissão Europeia, o poder de compra dos trabalhadores portugueses registou, em 2006, a maior descida dos últimos 22 anos, a CMVM anunciou que, entre 2000 e 2005, os vencimentos dos administradores das empresas cotadas em bolsa duplicaram (e nas empresas do PSI 20 mais que triplicaram!). Isto é, enquanto pagam aos seus trabalhadores dos mais baixos salários da Europa a 25 (e todos os dias reclamam, sob a batuta do governador do Banco de Portugal, por "contenção salarial" e "flexibilidade"), esses administradores duplicam, ou mais que triplicam, os próprios vencimentos, vampirizando os accionistas e metendo ao bolso qualquer coisa como 23,9% (!) dos lucros das empresas. Recorde-se que o Estado é accionista maioritário ou de referência em muitas dessas empresas, como a GALP, a EDP, a AdP, a REN ou a PT, cujas administrações albergam "boys" e "girls" vindos directamente da política partidária (cada um atribuindo-se a si mesmo, em média, 3,5 milhões de euros por ano!). Se isto não é um ultraje, talvez os governos que elegemos (e o actual é, presumivelmente, socialista) nos possam explicar o que é um ultraje. O mais certo, porém, é que se calem e continuem a pedir "sacrifícios" aos portugueses. A que portugueses?"
2 - In each of three oil price cases, a business-as-usual oil market environment is assumed. The IEO2007 cases do not consider disruptions in oil production for any reason (war, terrorist activity, weather, geopolitics).

3 - Há, como se calcula, uma enorme controvérsia sobre a acuidade dos cálculos relativos ao Pico Petrolífero. As companhias que controlam este negócio não gostam de falar do assunto. Os países também não. No entanto, desde que o geofísico norte-americano Marion King Hubbert apresentou a sua teoria sobre a produção de combustíveis fósseis, em 1956, num célebre estudo encomendado pelo governo dos EUA (ler documento original - PDF), que as previsões têm vindo a bater certo. O pico nos EUA chegou em 1971, um ano depois do intervalo previsto por King (1965-70), dando origem à primeira grande crise petrolífera. A crise actual, de que a ocupação militar do Iraque é o testemunho mais gritante ("Big Oil and Big Media V. Hugo Chavez" by Stephen Lendman, June 30, 2007, in ZMag), coincide com a chegada do pico mundial da produção petrolífera, situado nos 85
milhões de barris por dia (mbd). As previsões do consumo apontam, porém, para consumos globais em 2030 na ordem dos 113-115 mbd. As campainhas de alarme começaram a soar em toda a parte ("The Peak Oil Crisis: Approaching The Cliff", by Tom Whipple
Thursday, 21 June 2007. Link).

O petróleo barato, sobre o qual assentou o bem-estar social, a produtividade e o consumismo das sociedades ocidentais nos últimos 50 anos,chegou definitivamente ao fim. Os bio-combustíveis não são mais do que uma panaceia temporária, com a agravante de competirem de forma desigual e profundamente injusta com a produção de alimentos, cujo preço tenderá a ser indexado ao preço dos combustíveis, não apenas de forma indirecta (incorporação dos custos de transportes) mas directamente, pois se o milho hoje vale mais 40% do que há um ano, tal ficou a dever-se exclusivamente à sua procura pelas indústrias energéticas!

Se não formos capazes de alterar os nossos padrões de consumo, de incrementar a eficiência energética das nossas vidas e de contrapor aos oligopólios energéticos, que actualmente corrompem e manipulam a maioria dos governos do planeta, sistemas descentralizados, comunitários e associativos de produção energética, então o pior, e será muito pior do que provavelmente conseguimos imaginar neste momento, ainda está por vir -- mas virá mais cedo que gostaríamos.

O panorama energético e ambiental à escala planetária é dramático e agrava-se cada dia que passa por causa da incapacidade dos Estados de lidarem com os problemas. O modo ostensivo como o actual regime partidário português e os correspondentes sistemas de poder alegremente falam de políticas e soluções, por exemplo, a propósito das recentes polémicas em torno do aeroporto de Lisboa e do TGV seria apenas patético se não fosse, como será, se nada fizermos, trágico!

PS: uma pergunta ao governo: aplicar-se-à o Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) ao biodiesel e ao bio-etanol produzidos em Portugal?

OAM #220 28 JUN 2007