quinta-feira, maio 24, 2007

Aeroportos 22

O Mário Lino deve estar doido!




Os socratintas do actual governo PS perderam definitivamente o juízo relativamente à Ota. As mais recentes declarações de Mário Lino sobre a Margem Sul (local putativo para uma alternativa à Ota) transparecem mesmo sinais de demência retórica e algum desespero político.

As evidências do problema são estas:

- não há nenhum estudo multicritério que aponte a Ota como uma boa solução para o novo aeroporto internacional de Lisboa (NAL).

- a grande maioria dos especialistas consideram a aposta da Ota um erro monumental.

- 92 a 93% dos portugueses (sondagens de Abril e Maio de 2007) estão contra a localização do novo aeroporto na Ota.

- a Portela está longe da saturação (apesar das mentiras compulsivas do ministro)

- bastaria activar o aeroporto do Montijo, para assegurar com custos mínimos a vida útil do aeroporto de Lisboa até 2050, seja porque o paradigma do transporte aéreo mudou radicalmente na Europa nos últimos 4 anos (fenómeno Low Cost), seja porque as novas regras europeias sobre a imposição de limites à emissão de gases com efeito de estufa terá consequências drásticas sobre o transporte aéreo na Europa, sobretudo a partir de 2012;

- A TAP e a PGA vêm cancelando mais de 100 voos por mês desde o princípio do ano! E só não cancelam mais, porque se o fizessem perderiam automaticamente parte dos slots (espaço-tempo para descolagens e aterragens nas horas de ponta) que dispõem, e que são renhidamente disputados pelas Low Cost que, em número crescente, demandam o nosso país.

- a TAP-PGA, i.e., o resultado da compra da PGA ao grupo BES pela TAP (um negócio escandaloso promovido pelo governo Sócrates, sem a mínima oposição dos restantes partidos parlamentares), caminhará muito rapidamente para a falência, ou, na melhor das hipóteses, para uma privatização que se traduzirá no seu efectivo desaparecimento. A venda dos aviões antigos (gastadores e ruidosos), a venda das empresas do grupo que não correspondam ao "core business" da empresa que a absorver (uma grande companhia de bandeira europeia, ou mesmo uma Low Cost interessada nos slots da TAP-PGA) e os despedimentos colectivos que poderão facilmente atingir 50% dos efectivos que conservarem os seus postos de trabalho após o saneamento decorrente da compra da PGA pela TAP, é o cenário mais provável para um sector incapaz de adaptar-se ao novo paradigma da aviação comercial, seja pela sua pesada inércia, seja porque não houve um mínimo de lucidez estratégica por parte dos poderes públicos.

- A obsessão da Ota está a revelar-se cada vez menos como uma teimosia, e cada vez mais como uma obediência do poder político a interesses poderosos instalados, seja no sector da especulação imobiliária (na Ota e na Portela), seja no sector das grandes obras.

- A anunciada privatização da ANA (Aeroportos e Navegação Aérea) para supostamente financiar a construção da Ota é um aburdo estratégico, na medida em que as Low Cost manterão o seu interesse por Lisboa enquanto o respectivo aeroporto estiver perto da cidade e as taxas aeroportuárias forem baratas. Se estes dois factores viessem a ser subvertidos (o que aconteceria se a Ota fosse construída), as Low Cost trocariam muito provavelmente Lisboa pelo Porto, por Faro-Beja e por Badajoz (que em 2012 deverá estar a menos de uma hora de Lisboa, via TGV), deixando a Ota e os seus imbecis patriarcas com um extraordinário mamute branco ao colo! Como a TAP terá deixado de existir muito antes de 2017, ninguém ficará para alimentar a Ota, e esta fechará, antes mesmo de inaugurar.

- Por fim, parece haver uma enorme pressão política sem nome contra o estabelecimento do eixo Madrid-Lisboa, seja através da localização idiota do NAL na Ota, seja pela reiterada indecisão da parte portuguesa relativamente à linha de Alta Velocidade entre Lisboa e Madrid, seja, mais gravemente ainda, na completa ausência de um plano ferroviário adequado às exigências energéticas do século 21 e, mais prosaicamente, à decisão espanhola de converter para bitola europeia toda a sua rede ferroviária até 2020 (o que significa pôr no chão 10 mil quilómetros de ferrovia nova).

As palavras e os perdigotos de Mário Lino deixaram a assistência atónita. Espero que a Margem Sul venha a dar ao PS a devida réplica eleitoral a esta inadmissível demonstração de arrogância.

Este governo arrisca-se a morrer antes de tempo, como o anterior, de ridículo.



Última hora

## Tempestade no deserto do Poceirão

Na SIC Notícias - 24-05-2007 23:10 -, Pedro Ferraz da Costa pôs o dedo na ferida sobre a questão da Ota: o que está em causa não é alternativa Ota vs. Rio Frio, Poceirão ou Faia, mas discutir se é ou não necessário, e um bom investimento, destruir a Portela (que poderá, sem grandes custos, ser modernizada e prolongada com mais duas pistas no Montijo ou em Sintra). Para os governos que lançaram para o ar a hipótese da Ota, houve apenas uma consideração efectiva: como arranjar um bom pretexto para sacar mais uns milhões ao orçamento comunitário.

A ideia de um novo aeroporto parecia excelente... Sucede que esse dinheiro, se um dia cá chegar, servirá sobretudo para encher os bolsos dos fundos imobiliários (seja na Portela e Ota, seja na Portela e Margem Sul) e dos grandes consórcios de construção. As comissões ilegais irão, como se sabe, parar aos dois principais partidos do arco parlamentar (PS e PSD) e ainda a uma parte da actual e mui corrupta nomenclatura partidocrata. Momentaneamente, haverá trabalho e contratos para todos, embora seja previsível que entre 1/3 e 50% do negócio global vá direitinho para as contas bancárias de empresas espanholas e europeias não nacionais. No fim, os portugueses terão um aeroporto destruído e transformado numa China Town cheia de primos do José Eduardo dos Santos e do Stanley Ho, uma infraestrutura inútil e falida na Ota, e várias facturas pesadíssimas por pagar, como sucedeu com a factura da Ponte Vasco da Gama, que foi paga duas vezes (*), e sucede e sucederá por vários anos a fio com as facturas da Expo 98, dos estádios do Euro e das SCUDs. É esta forma criminosa de fazer política que vem arruinando o país, empobrecendo os pagadores de impostos, rebentando com a nossa produtividade e com a possibilidade de o Estado cumprir as suas principais missões sociais e de segurança. No entanto, a nomenclatura do rotativismo nacional anseia pelo negócio e pelo que poderá sacar, como se estivéssemos em Luanda, Bogotá ou no Haiti!

António José Teixeira e Luis Delgado são dois prototipicos agentes mediáticos dos polvos que manobram o PS e o PSD. Quando perguntados por Mário Crespo (que vem fazendo um excelente trabalho, contra a corrente andrajosa da maioria do jornalismo mercenário dominante) sobre o embuste da Ota, assobiaram para o lado, afirmando cinicamente que não são técnicos, que não percebem nada do assunto, mas que, mesmo assim, acham termos já perdido muito tempo a discutir a Ota. Se o PSD e o PS decidiram sobre o assunto (como se não houvesse dados novos de 2000 para cá), quem somos nós para duvidar?! Perfeitos imbecis!

Ainda sobre as declarações de Mário Lino durante o colóquio gastronómico que teve lugar na Ordem dos Economistas, e revistas na extensa transmissão difundida pela SIC (no jornal das 10), das duas uma, ou o homen estava bêbado, ou então, como dizia um habitante do Poceirão, é mesmo burro!
* Nos termos do novo FRA Global, as contrapartidas directas à concessionária, para reposição do equilíbrio financeiro da concessão, ascendem, a preços descontados das taxas de inflação, a cerca de 180 milhões de contos, isto é, o equivalente ao custo de uma nova travessia sobre o Tejo. -- in Auditoria ao Acordo Global celebrado entre o Estado e a Lusoponte, p.9, 22-11-2001. (PDF)
## O presidente do PS (Almeida Santos) considerou que a construção de um aeroporto na Margem Sul poderá ser perigosa tendo em conta um eventual atentado terrorista que poderá destruir a ponte que liga o norte e o sul do Tejo. -- Ler/ouvir em TSF online em TSF 24-05-2007 10:35

Comentário: o homem está manifestamente gágá e os socratintas perderam a cabeça!


OAM #206 24 MAI 2007

quarta-feira, maio 23, 2007

Gato Fedorento

Morrer de plágio



Há tempos, Clara Pinto Correia, bióloga, escritora e articulista de renome, viu a sua carreira no olimpo mediático interrompida por um descarado e injustificável plágio. Depois, alguém tentou assassinar Miguel Sousa Tavares pelo mesmo motivo indecoroso, mas desta vez sem prova, nem argumentos credíveis. Agora, é a vez dos Gato Fedorento serem apanhados com a boca na botija do copianço, abusando de uma divertida criação do conhecido cançonetista francês Claude François, Petite Méche de cheveux. Aliás, em matéria de humor, como aliás em muito do jornalismo preguiçoso praticado entre nós, o plágio, mais do que uma ocorrência vulgar, é mesmo uma praga, típica dum país irrelevante, periférico e dado à aldrabice sempre que há urgência de dinheiro (a falta dele, ou a oportunidade de o ganhar depressa.)

Quem diria, por exemplo, que a célebre Melga Shop do Herman é uma adaptação de um sketch da famosa Brit Comedy? Ou que A Minha História da Guerra (e em geral a comédia telefónica), que celebrizou Raul Solnado, também foi uma adaptação da obra e estilo de um dos mais famosos humoristas espanhois, de nome Miguel Gila? (ver Monólogo de Gila sobre la guerra, 1951-1989).

Também noutros domínios a mania de copiar tarde e a más horas é um vício nacional. Veja-se, por exemplo, a modo atabalhoado como o actual governo socratintas tenta plagiar as receitas falhadas do New Labor e adaptá-las ao nosso país. Há um notável documentário da BBC, dirigido por Adam Curtis, que recomendo vivamente, para percebermos todos até que ponto falta ao actual governo imaginação e sobram plagiarismo e arrogância bacoca. Chama-se The Trap.

Os políticos, os jornalistas e os humoristas portugueses já deveriam ter percebido que a Net veio para ficar, e que a mesma, pelo menos enquanto souber resistir às tentativas actualmente em curso para a domesticar, é uma espécie de nova realidade, tendencialmente mais fina e transparente, e democrática, que o mundo grosseiro das moléculas em que também vivemos. No caso dos Gatos Fedorentos, um conselho: não façam o mesmo que Sócrates. Reconheçam o erro, façam o respectivo acto de contricção e puxem-me por esses neurónios do riso mordaz e sem compromissos.







Direito de resposta
Ricardo Araújo corrige factos

Gostaria muito de, ao contrário de José Sócrates, assumir o meu erro. Nessa medida, se não se importa, pedia-lhe que me ajudasse a identificá-lo.

No dia em que apresentámos o genérico do nosso programa à imprensa, há seis meses, explicámos de onde tinha surgido a ideia e até a razão pela qual decidíramos manter, no início, a frase "Un, deux, trois, quatre". Não escondemos nada, porque não pretendemos ser músicos. Era óbvio que não tínhamos sido nós a compor a música e dissemo-lo. O motivo pelo qual não há referências a Claude François no genérico é muito simples: a canção que Claude François canta é, basicamente, a conhecidíssima música tradicional inglesa "Three Blind Mice". Sendo uma música popular, o autor é, naturalmente, desconhecido. Como foi o maestro Ramón Galarza a fazer os arranjos, é ele que assina esta versão. Nós somos os autores do programa mas não percebemos nada de música. No entanto, quem percebe explicou-nos que era assim, e portanto foi assim que fizemos.

Ou seja, no início do programa, explicámos publicamente o modo como o genérico tinha sido concebido. Seis meses depois, o DN, inspirado por alguns blogues, faz manchete revelando ao país o que nós nunca escondemos, antes omitindo que a música em causa está isenta de direitos de autor.

Resumindo: o Claude François cantou uma música tradicional inglesa. Nós também. Onde está o plágio? Se o genérico fosse uma adaptação de outra canção tradicional, como o Milho Verde, estaríamos a plagiar o Zeca Afonso, que também a cantou? Quem estaremos a plagiar se um dia fizermos uma adaptação do Frère Jacques?
Obrigado,
Ricardo

Nota do bloguista

As nossas desculpas por ignorarmos o facto de os autores de Diz Que É Uma Espécie de Magazine terem referido a origem do genérico quando o programa foi para o éter. Neste caso, não há, de facto, plágio, mas cópia derivativa, ou adaptação de obra alheia, a qual deveria figurar no genérico do programa, o que não sucede, e deveria ter sido objecto de negociação e contrato com os produtores do video clip original, o que sinceramente ignoramos (e não pretendemos apurar.) O reconhecimento da nossa omissão involuntária não significa, porém, que o assunto morra por aqui, em matéria de ética e sobretudo em matéria de ética criativa. Teria sido muito mais bonito e correcto ter-se previamente acordado a inclusão de um fragmento do clip original de Claude François --pois há uma óbvia apropriação da respectiva coreografia (a dança de grupo, o party style, o twist, o picado da câmara...)-- no genérico do programa do Gato Fedorento, do que tê-lo feito da forma subreptícia, agora patente.
De uma coisa os gatos fedorentos podem estar certos: no reino da Brit Com, um deslize destes ter-lhes-ia sido fatal. Viva Portugal! --OAM

PS: sobre Three Blind Mice (ler excelente artigo na Wikipedia), três notáveis exemplos de apropriação criativa do tema:

Three Blind Mice - C. Atkinson, J. Hollis and V. Hastings (animation)/ Fantomas (music)
Three Blind Mice Remix
Three Blind Mice - Peter Gunn

OAM #205 23 MAI 2007

sábado, maio 19, 2007

Por Lisboa 4

Helena Roseta
Abaixo o Costa!

Só Helena Roseta poderá impedir que o candidato das patacas, o Costa, leve por diante a estratégia do lóbi de Macau, i.e. destruir o aeroporto da Portela e lançar Lisboa num beco sem saída.

Ouvimos hoje (18-05-2007) António Costa confessar à TVI três coisas terríveis: que não percebe nada de Lisboa, que apoia a destruição do aeroporto da Portela e a venda a patacas dos respectivos terrenos (a chineses, angolanos, e alguns socialistóides, seguramente), e que para ele, como para os fautores das "trapalhadas" que retoricamente condena, o desenvolvimento de Lisboa é sinónimo de especulação imobiliária (para cuja execução escolheu o medíocre arquitecto da Nova Moscavide e setubalices do género, Manuel Salgado.)

Eu até cria que o Costa era sério! Afinal saiu-me mais um traste típico da era socratintas em que infelizmente se consubstanciou a maioria absoluta do PS. Decoro? Nenhum. Basta ver como, ainda enquanto Ministro da Administração Interna, deu instruções à lacaia que leva o título de Governadora Civil de Lisboa (um dos inúmeros tiques policiais que sobrevive da era Salazarista) para fixar uma data eleitoral incompaginável com coligações pré-eleitorais e, sobretudo, com as esperadas candidaturas independentes. Basta ver como, depois, escolheu a dedo personalidades mediáticas à "esquerda" e à "direita": Saldanha Sanches (vai arrepender-se), José Miguel Júdice (conhecido tubarão oportunista da advocacia alfacinha), Manuel Salgado (era um cooperativista do PCP, mas há muito que se dedica ao negócio da construção civil, sob o disfarce cada vez mais caricato de umas ideias que diz ter sobre arquitectura e urbanismo) e ainda a tentativa de aliciar a desamparada Maria José Nogueira Pinto. Ou seja, o Costa quer desesperadamente a maioria absoluta, e para lá chegar está disposto a transformar a diferença ideológica que legitimamente caracteriza as sociedades democráticas numa tábua rasa, onde o único valor é a vontade de poder (e de não perder o poder.) Fazer da diferença democrática um trapo de usar e deitar fora é demasiado mau para crer. Mas foi assim. E é assim. O Costa quer fazer de Lisboa o que o governo socratintas está a fazer de Portugal: um coutada indefesa do dinheiro, uma província de Espanha e de novo um país de emigração! (1)

O perigo é real, embora os paspalhões da "esquerda" parlamentar ainda não tenham reparado no caso. Daí que só a candidatura de Helena Roseta tenha a virtualidade de impedir o descalabro que o PS prepara para a capital do país. Votar na lista de cidadãos por Lisboa é a única maneira de dizer a este governo de imbecis, inconscientes e aldrabões compulsivos, que dar maiorias absolutas, seja a quem for, é uma enorme imprudência. No caso vertente, seria o caminho mais directo para deixar o polvo de interesses que tomou de assalto o PS levar por diante as suas missões destrutivas.

Este polvo quer que o Estado (i.e. os impostos que pagamos) compre uma empresa aérea falida ao BES (chama-se Portugália Airlines). Este polvo quer privatizar a lucrativa ANA, para continuar a adiar a racionalização do Estado e alimentar a sua própria voracidade financeira. Este polvo quer destruir o aeroporto da Portela e vender os seus terrenos a patacas. Este polvo quer, em nome do chamado projecto da Baixa Chiado, expulsar a diversidade social da capital para os subúrbios mais longínquos e precários da grande Lisboa (tal como se fez recentemente em Barcelona, Sydney, Pequim e noutras cidades por esse mundo globalizado fora.)

Os imbecis que formam o dito polvo ainda não perceberam que desertificando o interior em direcção ao litoral, apenas estão a convidar a Espanha para avançar pelos territórios abandonados (sem educação, sem saúde, sem investimento e com autarquias falidas). Estes imbecis tentaculares ainda não perceberam que suburbanizando continuamente a cidade de Lisboa, em nome da avidez, da especulação e do roubo (ainda que decorada com as novas retóricas da competitividade e da criatividade) estão a criar as condições ideais para uma futura guerra civil urbana, à semelhança do que hoje ocorre intermitentemente em São Paulo, Rio de Janeiro, Copenhaga, Marselha ou Paris (2).

António Costa, já se percebeu, não é mais do que o factotum deste terrível plano de subversão urbana, que é urgente combater. Eu se fosse PSD, ou estivesse mesmo à direita deste partido, pensaria seriamente nas vantagens de votar em Helena Roseta. Quanto aos eleitores sérios e inteligentes do PS, PCP e Bloco de Esquerda, recomendo-lhes vivamente que pensem muito bem antes de votar. Este PS precisa de levar uma boa tareia eleitoral, para bem dos verdadeiros socialistas, e sobretudo para bem de Portugal.

Quem quer conquistar Lisboa não é o Costa, é o governo socratintas. Muito cuidado!



Notas

1- 21-05-2007 15:25 Público. O número de trabalhadores portugueses em Espanha subiu quase quatro por cento entre Janeiro e Abril deste ano, para mais de 75 mil, de acordo com os dados divulgados hoje pelo Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais.
2- O actual governo Sócrates é uma caricatura tardia da democracia digital (versão Power Point) ensaiada por Tony Blair. A próxima saída deste do governo de sua magestade é o sinal mais claro do fracasso das teses sobre a "democracia negativa" de Isaiah Berlin, que Blair tentou aplicar à luz dos teoremas mais recentes e caricatos de Samuel P. Huntington e Francis Fukuyama, com desastrosos resultados
na ex-Jugoslávia, no próprio Reino Unido (veja-se a emergência do radicalismo islâmico naquele país), no Afeganistão e sobretudo no Iraque. Do ponto de vista social, o Reino Unido é hoje uma sociedade mais desigual, menos solidária, mais agressiva, mais autoritária, com menos liberdade e mais disfuncional. É esta a verdadeira herança que Blair deixa a Gordon Brown.
Para perceber o pano de fundo da era Blair-Bush (que mais não fez do que retomar e radicalizar a era Thatcher-Reagan), vale mesmo a pena ver o excepcional documentário da BBC, realizado por Adam Curtis, "The Trap", actualmente disponível na Net. Perceberemos então melhor os tiques e manhas da lógica que tomou de assalto o PS e hoje domina a acção do governo de José Sócrates. Tudo muito transparente... e condenado ao fracasso.


PS: se alguém souber quem foi o autor da fotografia da Helena Roseta, diga-me. Teria o maior gosto em creditá-la como deve ser.


OAM #204 18 MAI 2007

quarta-feira, maio 16, 2007

Por Lisboa 3


A corrupção não é uma fatalidade

Os dois candidatos que foram anunciados pelo bloco central reflectem o susto que apanharam os respectivos directórios partidários relativamente ao caos a que chegou a Câmara Municipal de Lisboa. O PS avançou com uma personalidade de topo (forçado a acomodar o empurrão de Sócrates), e o PSD, na impossibilidade de o fazer, por manifesto isolamento do respectivo líder, acabou por apresentar um fiel independente chamado Fernando Negrão. Um ex-ministro da Justiça e, até ontem, ministro da Administração Interna, e um ex-Director-Geral da Polícia Judiciária e antigo e ministro da Solidariedade Social (que me lembre, nunca vi, entre nós, ex-ministros disputarem presidências de câmaras) surgem como os principais adversários de uma disputa eleitoral renhida e de resultado incerto. Ambos prometem, e são credíveis na promessa, de não pactuarem, nem com a bagunça gestionária, nem com o excesso de recursos humanos inúteis, nem com a corrupção endémica há muito instalados na CML. A cidade precisa inadiavemente que tal promessa se faça e se cumpra. Por aí, bem-vindos!

E por aí, digo eu, estarão eleitoralmente empatados, embora bem à frente, na corrida eleitoral, do candidato retórico e cansado do PCP, do candidato exangue do Bloco e dos desaparecidos em combate, Maria José Nogueira Pinto e... muito provavelmente, Carmona Rodrigues (agora que o PP afastou liminarmente a hipótese de o apoiar). Resta saber se Helena Roseta conseguirá resistir à pressão que o próprio António Costa deverá estar a exercer sobre a sua candidatura.

Na verdade, se Helena Roseta concorrer --e espero que o faça-- muita coisa poderá mudar no preguiçoso xadrez da "esquerda" autárquica: o Bloco talvez desapareça da autarquia, surgindo em seu lugar uma verdadeira força política de cidadãos, espécie de partido urbano (solidário e cosmopolita), com real capacidade de preencher a utopia do independente José Sá Fernandes; o PCP poderá definhar um pouco mais (o que seria bom) e o PS talvez viesse a depender criticamente do apoio dos Cidadãos por Lisboa, excelente notícia para a capital do país, que é demasiado importante para ficar nas mãos do lóbi da Ota (de Macau, ou de ambos!) e da política oportunista e mentireira do Sr. Sócrates (1). Para já, uma perguntinha a António Costa: que pensa do embuste da Ota, da liquidação do aeroporto da Portela, da venda da lucrativa ANA aos privados e da compra da falida Portugália pela TAP? São tudo passos de um mesmo negócio ruinoso para o Estado, para o país e em primeiro lugar para Lisboa! São tudo sinais de que a corrupção é um fenómeno bem mais geral e endémico do que parece, não se confinando apenas ao mundo das autarquias. (2)

Gostei de ver Saldanha Sanches como mandatário fiscal da campanha de António Costa. Mas o caldo foi rapidamente entornado com as escolhas seguintes: Nuno Júdice e Manuel Salgado, dois notórios oportunistas esguios numa cidade tão precisada de ideias arejadas e criativas, quanto farta de gentis cortejadores, desactualizados e sem réstea de imaginação.

Aguardemos as cenas dos próximos capítu
los.



Última hora
18-05-2007 13:42. Nobre Guedes é o candidato do PP. Temos assim 3 ex-ministros na corrida para Lisboa. Entretanto, como se previu, Carmona (outro ex-ministro) desistiu, por falta de apoios. O prazo para a formação das listas foi obviamente desenhado para impedir o surgimento de listas de independentes. Vamos ver se Helena Roseta consegue chegar às necessárias 4.000 assinaturas e se terá tempo e capacidade de organizar o processo de candidatura sem falhas técnicas que possam inviabilizá-la. Para já, anda muito silenciosa, o que não parece boa ideia num momento em que a corrida das palavras já começou e vai acelerar vertiginosamente ao longo deste fim-de-semana, e até ao dia da votação. Precisamos de ouvir três ou quatro ideias claras para Lisboa, e de conhecer uma ou duas personalidades credíveis que a acompanhem nesta sua corajosa aventura. -- OAM

Notas


1- As recentes notícias sobre o crescimento da economia portuguesa e a queda do desemprego*, de que a criatura pretende retirar indevidos dividendos, deriva basicamente de três factores: o crescimento das economias alemã, espanhola, francesa e inglesa, para onde vão 61,4% das nossas exportações (só a Espanha é responável por 27% das nossas exportações); o boom da economia petrolífera angolana (para onde se encaminham há uns quatro anos para cá fortes investimentos nacionais, exportações de bens e serviços e mão de obra) e, finalmente, o regresso de uma forte emigração (invisível nas estatísticas do INE) para a Europa e sobretudo para Espanha, composta por centenas de milhares de portugueses sem trabalho, nem perspectivas no seu desmazelado e corrupto país. Entre os milhares de novos emigrantes contam-se, cada vez mais, quadros técnicos e profissões liberais.

* Que hoje, 17-05-2007, o INE aliás desmentiu, anunciando um agravamento de 0,7% face ao período homólogo de 2006, situando-se agora a taxa de desemprego oficial nos 8,4% -- a mais alta dos últimos 21 anos! Ver, entretanto, notícia de 18-05-2007 no Público online.

2- Face à descarada ausência de estudos e de projectos credíveis sobre a Ota (ver O Erro da Ota, recentemente lançado) e as respectivas acessibilidades, há quem pense que este governo está apenas a usar o tema como um estratagema para chegar à privatização da ANA, como forma de encaixar muitas centenas de milhões de euros, deixando a embrulhada do novo aeroporto para o governo que se segue. Seja como for, vincular a privatização da ANA à Ota é não apenas um grave erro, mas uma imprudência criminosa inaceitável. Os seus responsáveis (entre eles o PS), deverão estar cientes de que serão um dia chamados a prestar contas pelo que desde já se afigura como o maior embuste político da II República.

Por outro lado, alienar a Portela (para uma qualquer China Town lisboeta!) é tão grave como alienar o porto de Lisboa. Só um país de atrasados mentais, de carneiros mal mortos, ou atacado por uma verdadeira epidemia de corrupção pública e governamental, deixaria que uma cidade com as características ímpares de Lisboa matasse duas das suas principais valias estratégicas em termos de placa giratória da mobilidade mundial. Espero sinceramente que este imprestável Sócrates seja rapidamente reenviado para os bancos da Universidade Independente.


OAM #203 17 MAI 2007


sexta-feira, maio 11, 2007

Por Lisboa 2

Manuela Ferreira LeiteA pedra de toque

11-05-2007 02:30. A candidatura da Helena Roseta e o discurso de vencido de Carmona Rodrigues vêm colocar a fasquia de responsabilidade das eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa num patamar que começa a ser interessante.

Qualquer destes dois potenciais candidatos lançam um sério desafio aos directórios partidários do PS e do PSD, forçando-os a avançar com figuras de proa, perfilando-se assim no horizonte a possibilidade de um confronto entre António Costa e Manuela Ferreira Leite. Quanto aos pequenos partidos, há que distinguir o PP dos dois que ficam à esquerda do PS: PCP e Bloco de Esquerda. No primeiro caso, Portas poderá apoiar a candidatura independente de Carmona Rodrigues, e neste caso terá um efectivo poder de fogo ideológico contra o centrão dos interesses, além de uma real possibilidade de crescer eleitoralmente, não só em Lisboa, mas em todo o país. Esta hipótese não deixaria de ser uma magnífica rentrée de Paulo Portas à frente dos destinos do PP, capaz de precipitar a prazo uma inevitável metamorfose na direita portuguesa. No segundo caso, o dos esclerosados partidos de origem estalinista e trotskysta, PCP e BE, auguro-lhes um triste fim nestas eleições, em particular se a candidatura de Helena Roseta avançar. Na realidade, José Sá Fernandes ficou mais conhecido por ser um bom polícia do que um bom político. E o PCP, além de ser co-responsável por longos anos de gestão autárquica desastrosa na capital, não tem uma réstea de imaginação política que possa servir a cidade. São conservadores e só por isso ainda não desapareceram do mapa eleitoral português.

Mas a pedra de toque destas eleições vão ser os programas!

1 - Que pensam os candidatos, do embuste da Ota e do actual projecto governamental de transformar o estratégico aeroporto de Lisboa numa China Town, com a inevitável e gravíssima perda de competitividade turística da capital?! Se forem eleitos, estarão a favor da Ota ou lutarão contra o assassinato da Portela?

2 - Que pensam os candidatos, da ligação ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Madrid? Acham que podemos adiar por mais tempo uma política clara de transportes, enquanto a Espanha avança a passos largos naquele que é o mais ambicioso projecto ferroviário europeu?

3 - Que pensam os candidatos, da qualidade dos transportes colectivos da capital? Vão agir energicamente neste sector, ampliando a oferta das ligações e a ampliação dos horários de funcionamento, ou vão continuar a favorecer os automóveis particulares?

4 - Que pensam os candidatos, dos automóveis em cima dos passeios? Vão acabar com esta praga, única na Europa, ou continuarão a fazer de conta, prejudicando gravemente a mobilidade e a imagem da cidade?

5 - Que pensam os candidatos, da especulação imobiliária e dos milhares de fogos desabitados? Vão continuar ou parar a actual desfiguração arquitectónica da cidade?

6 - Que pensam os candidatos, do património degradado da capital? Vão continuar a deixar cair os prédios, ou tem soluções claras, democráticas e expeditas para resolver esta vergonhosa situação?

7 - Que pensam os candidatos, da desertificação da capital? Têm planos concretos e quantificados para atrair as pessoas que fugiram para as desgraçadas periferias suburbanas, por não poderem suportar a má qualidade ou a carestia da habitação em Lisboa, ou acham que são os santos Frank Gehry e Manuel Salgado que vão resolver a situação?

8 - Que visão têm os candidatos, do futuro da cidade de Lisboa? Serão capazes de a explanar em termos simples e compreensíveis a quem vive e/ou trabalha na cidade?

António Costa é um político que me cai bem, confesso. Mas, que responde a estas oito perguntas? E em particular, que tem a dizer sobre a Ota? Se não for claramente contra a cupidez do seu partido (1) nesta matéria, bem pode desistir de se candidatar, pois não levará a carta a Garcia.

Manuela Ferreira Leite, se aceitar concorrer, poderá facilmente derrotar o candidato socialista e até convencer os lisboetas que Carmona já era, sobretudo porque poucos acreditarão que este personagem possa actuar no futuro sem a tutela forte de Paulo Portas. Resta saber apenas até onde vai, neste particular, a coragem e a visão do Sr. Marques Mendes. Se tiver medo da sombra, como ocorreu quando convidou Carmona para evitar Santana, então prepare-se para grandes tempestades futuras. O PSD, como todos os partidos parlamentares estão exaustos e o povo está razoavelmente fartos deles. Ou seja, precisam de se renovar drasticamente e em pouco tempo, sob pena de entrarem em irreversíveis processos de cisão. A panela do orçamento já não é o que era.

A cidade de Lisboa, a Grande Lisboa e a Região de Lisboa e Vale do Tejo são uma preciosidade, apesar do mal que lhe tem sido inflingido pela voragem da economia, da má administração, da falta de visão estratégica, da imbecilidade política e da corrupção insane. Nenhuma solução de médio-longo prazo pode deixar de pensar este grande estuário em toda a sua dimensão e em todo o seu mágico equilíbrio, que precisamos de manter e estimular, se quisermos fazer dele um dos mais atractivos exemplos de sustentabilidade urbana e regional da Europa. Este é um sonho efectivamente ao nosso alcance, se agirmos rapidamente. Se o não fizermos, vencerá a estupidez e a ganância. Então, mais depressa do que pensamos, os corruptos de todas as cores porão a cidade e a região a patacos. Dirão que pretendem atrair investimento e criar emprego. Mas saberemos todos que é mentira.

Última hora

15-05-2007 20:42. PSD anuncia Fernando Negrão como candidato autárquico para Lisboa. Quem?! -- Helena e Carmona, candidatem-se! Só as vossas candidaturas independentes poderão travar a ida do actual PS para os comandos da capital. Aos olhos do aparelho de Sócrates, tomar conta de Lisboa é tão só o passo prévio essencial para levar o embuste da Ota adiante. E já se viu como a esquerda indigente, PCP e Bloco de Esquerda, está disposta a branquear todas as tropelias do "engenheiro".

15-05-2007 11:47. Sócrates disse às televisões, com aquele seu ar de pinóquio Nike, que o anúncio da candidatura de António Costa não passava de mera especulação. Menos de 24 horas depois, a Comissão Política do PS e o Conselho Nacional do mesmo partido aprovam a candidatura de António Costa à presidência da Câmara Municipal de Lisboa. É caso para dizer que a actual palhaçada governamental se parece cada vez mais com uma edição do "Big Brother", onde tudo vale, sobretudo a mentira, a dissimulação e o descaramento.

Eu cria que António Costa havia percebido que, na impossibilidade de descolar do actual governo nas questões sensíveis da destruição da Portela (venda dos terrenos do aeroporto e privatização da ANA a favor dos imaginários construtores/exploradores do futuro aeroporto da Ota) e da ofensiva atabalhoada contra o poder local, não iria longe na aventura autárquica de Lisboa. Parece, no entanto, que o risco de ir ao fundo na lancha de Sócrates pesou mais na sua estratégia de sobrevivência política. Mas se, como é bem possível, acabar por ficar fora do governo e da autarquia, que fará? Há algum compromisso de regresso automático ao governo, caso perca as próximas eleições intercalares para a presidência da câmara de Lisboa?

O desnorte no PSD é aflitivo. Em suma, Helena e Carmona, candidatem-se!

PS: o comportamento dos partidos parlamentares relativamente às potenciais candidaturas independentes revela o verdadeiro conúbio em que se transformou a partidocracia portuguesa. Recomendo aos ditos partidos (da "direita" e sobretudo da "esquerda") que estudem atentamente a história portuguesa. Se não tiverem juízo, como não tiveram os seus deletérios antepassados, alguém, mais cedo ou mais arde, se encarregará de lhes preparar o funeral. A parte triste desta possibilidade histórica que se repete é o mal que daí virá então à generalidade da população portuguesa e ao país, se uma vez mais formos incapazes de educar os nossos políticos nas boas práticas da governança, na honestidade e na decência democrática. Imagino que os malfeitores da actual democracia estarão nesse fatídico momento, se vier a ocorrer, bem longe daqui... à sombra de uma qualquer bananeira angolana, ou brasileira.

Os actuais políticos parlamentares inundam a televisão com as suas preocupações relativamente ao populismo anti-partidos. Eu estou muito mais preocupado com a preguiça mental, a imbecilidade e a corrupção endémica que afecta o sistema partidário de que eles são os principais agentes e responsáveis!

11-05-2007 13:28. Sócrates recua na candidatura de António Costa. Um candidato que não poderia deixar de defender a Ota não iria longe e perderia o seu lugar no governo! Creio bem que foi o próprio Costa que deu um murro na mesa e disse não. Alternativas? Face ao espinhoso dossiê da Ota-Portela-ANA, talvez o melhor para o PS seja mesmo convidar João Soares. Não teria um discurso muito diferente de Helena Roseta (já pediu a demissão de Presidente da Ordem dos Arquitectos?) e seria (aceitavelmente...) crítico do plano de encerramento da Portela, defendendo, por exemplo, uma solução provisória do tipo: ampliação e ajustamento da Portela (já em curso), activação do Montijo para as Low Cost (como meio de impedir a queda rápida e a pique da TAP) e uma pausa para reflexão sobre o Novo Aeroporto de Lisboa (com a produção de um novo estudo multicritério sobre a necessidade efectiva de um NAL, e em caso afirmativo, das opções disponíveis para o efeito.) O senhor Mário Lino deveria, em todo o caso, ir para rua, por mau gosto e má figura! -- OAM

Notas

1 - Quando pronunciamos o acrónimo PS temos que ter a consciência de que estamos a falar de quatro realidades distintas: o eleitorado flutuante que vota no PS (onde, por exemplo, às vezes me incluo), o aparelho do PS e a respectiva clientela (aninhada no parlamento, nas autarquias e regiões autónomas, nas empresas públicas e no aparelho de Estado central), os socialistas ideológicos (históricos e éticos) e aquilo a que chamarei, à falta de melhor descritor, o polvo "socialista" (p"s"). Este último, de que conhecemos duas sensibilidades muito activas e não necessariamente coincidentes (o lóbi de Macau e o lóbi da Ota), tomou conta do PS ao colocar no lugar de secretário-geral e actual primeiro ministro o factotum José Sócrates. Para este polvo de interesses, o PS é um mero instrumento dos seus inúmeros negócios. Entre estes, destacam-se o embuste da Ota (que envolve três sub-negócios de grande envergadura: a especulação imobiliária na Ota, de que o BES é um dos principais facilitadores, a privatização da ANA e a venda dos terrenos da Portela), a prometida destruição da Costa Vicentina e a perversão do projecto do Alqueva, e ainda, os favores inexplicáveis ao grupo BES, de que a compra da falida Portugália é o caso mais escandaloso.

Este p"s", a não ser rapidamente travado, pelos eleitores e pelos históricos e éticos socialistas do PS, conduzirá o país a um verdadeiro descalabro, cuja única saída será a rendição económica e política do país aos interesses imediatos e de longo prazo da Espanha. Entretanto, estaremos em breve, se não estamos já, num estado de pré-corrupção sistémica semelhante ao que levou o "socialista" Bettino Craxi à prisão e a Itália a ser notícia pela célebre operação Mani Pulite (mãos limpas.)

Manuel Alegre e João Soares, já não vos resta muito mais tempo para agirem energicamente sobre este lamentável estado de coisas! -- OAM


OAM #202 11 MAI 07

quinta-feira, maio 10, 2007

Aeroportos 21


Low Cost, a ruína da TAP e da Portugália e o embuste da Ota


01 -- Há pelo menos 60 companhias aéreas de baixo custo a operar na Europa (e pelo menos duas delas continuam a baixar preços: easyJet e Ryanair)

02 -- 14 destas companhias já operam em Portugal

03 -- Nenhum destes 60 operadores é português... mas dois são espanhois...

04 -- As Low Cost operam na Portela, no aeroporto Sá Carneiro e em Faro, tendo vindo a aumentar exponencialmente as ligações ponto-a-ponto entre estas três cidades portuguesas e a Europa. Em Beja nascerá em breve uma quarta "base" de operações paras as companhias de baixo custo.

05 -- As Low Cost representam já 80% do tráfego de Faro

06 -- As Low Cost representam já 35-40% do tráfego do aeroporto Sá Carneiro

07 -- As Low Cost subiram, em dois anos, de 0% para 17% do tráfego da Portela e deverão chegar ao fim de 2007 com uma percentagem da ordem dos 24-25%

08 -- A Espanha terá todas as suas principais cidades ligadas por linhas de Alta Velocidade até 2020 (10 000 Km de ferrovia em bitola europeia), sendo que já em 2007 estarão completadas as ligações Madrid-Barcelona, Madrid-Valladolid e Madrid-Málaga.

09 -- A Portugália anunciou que não publicará os resultados de exploração do ano 2006!

10 -- E a TAP deixou de cancelar mais voos dos que vinha fazendo até agora (cerca de 100 por mês!) para não perder slots (1) na Portela e no Porto (o que sucede a partir do momento em que uma companhia aérea cancela mais de 20% dos voos num determinado slot). A TAP está por isso sujeita, tal como a Portugália, a voar com os aviões semi-vazios, o que não pode deixar de ser considerado mais um factor para a provável falência técnica destas duas companhias; o outro facto ruinoso, é a perda de receitas por efeito da concorrência imposta pelas Low Cost...

11 -- Tudo isto significa cinco verdades límpidas como a água:

A) a distribuição do tráfego aéreo por 3-4 aeroportos vai retardar drasticamente a tão propalada saturação da Portela, a qual, sobretudo se dispuser de mais duas pistas no Montijo, não tem nenhuma hipótese de vir a ocorrer no futuro (até porque, a partir de 2012, o tráfego aéreo na Europa vai estar sujeito a fortes limitações de volume e a taxas penalizadoras, pelo que os preços voltarão progressivamente a reflectir os seus efectivos custos económicos e ecológicos..., regredindo a actual euforia viajante)

B) as ligações aéreas até aos 600-700 Km (Lisboa-Madrid, Lisboa-Corunha, Porto/Coimbra-Madrid, Madrid-Barcelona, Lisboa-Sevilha) serão progressivamente substituídas por ligações ferroviárias e rodo-ferroviárias muito antes de 2017..., diminuindo ainda mais a procura do transporte aéreo peninsular e conduzindo ao cancelamento de boa parte das actuais ligações aéreas entre cidades portuguesas e espanholas

C) a opção da Ota é um embuste que cheira cada vez mais a conspiração mafiosa

D) Portugal (com responsabilidades igualmente distribuídas por todos os partidos com assento parlamentar) não tem qualquer política de transportes digna desse nome, não tendo percebido o fundamental, i.e.,

1) que apesar das aparências, o paradigma do transporte europeu começou decididamente a mudar no sentido de recuperar as opções ferroviária, marítima e fluvial, em detrimento dos transportes aéreo e rodoviários (principais consumidores de recurso petrolíferos cada vez mais caros e a prazo escassos, e principais causadores de emissões prejudiciais ao ambiente);

2) que a estratégia de transportes espanhola condiciona inevitavelmente (e neste caso, bem) a política de transportes portuguesa, pelo que todas as hesitações dos imbecis da política lusitana não só desmerecem e envergonham a inteligência portuguesa, como contribuem criminosamente para o desfalecimento patente da nossa economia. Não haverá nenhum economista por aí que tenha a coragem de dizer que a Ota é um crime? Não há nenhum economista português com sabedoria suficiente para ver que bastaria avançar rapidamente para um novo plano ferroviário nacional (rede de Alta Velocidade e substituição completa da actual bitola ibérica pela bitola europeia) para dar imenso e útil trabalho ao país?

3) a anunciada nacionalização da falida Portugália (empresa do grupo BES) e a anunciada privatização da próspera ANA (a empresa que administra os principais aeroportos portugueses), supostamente para financiar o consórcio do aeroporto da Ota, são dois enormes crimes económicos com clara responsabilidade política, que esperemos venham a ser chumbados pelo povo português. As figurinhas de José Sócrates e Mário Lino, do teatro de Robertos em que se transformou o actual governo PS, claramente manipulado por um verdadeiro polvo de interesses inconfessáveis, têm que ser rapidamente varridas do horizonte da política portuguesa. São dois embusteiros e a rua é o seu destino justo. Esperemos que o Sr. Cavaco comece a exercer rapidamente as funções para que foi eleito!

Notas
1 - Slot é um intervalo no alinhamento diário dos movimentos das aeronaves num aeroporto que permite uma dada companhia aérea operar um voo regular. Quanto mais movimentos/hora (aterragens e descolagens) permite um dado aeroporto (o que tem que ver com o número de pistas disponíveis, a dimensão e desenho dos taxi way, número de mangas disponíveis, etc.), mais slots haverá no mesmo intervalo temporal. A disputa feroz pelos slots (que levou a CE a legislar expressamente sobre o assunto) deriva da existência de horários nobres, ou de ponta, que boa parte das empresas, e sobretudo os voos de interligação, pela sua rigidez, elegem como comercialmente ideais. As Low Cost, por se dedicarem sobretudo às ligações ponto-a-ponto, são bem mais flexíveis no uso do espectro de slots disponíveis, podendo por esta razão aumentar radicalmente a oferta de voos muito para além das limitações de slots existentes em todos os aeroportos do mundo. Estas limitações coincidem invariavelmente com as chamadas horas de ponta. Em Portugal, na Portela, as horas de ponta (ou seja, onde há maior disputa de slots) são duas: das 8 às 9 da manhã, e das 14 às 15. No resto do dia, está quase sempre às moscas...

Links
Alta Velocidad Ferroviaria en España
O Modelo Ferroviário Espanhol, Rui Rodrigues
Low Cost Portugal

OAM #201 10 MAI 07

quarta-feira, maio 09, 2007

The Nuclear Bunker Buster

Nuclear Bunker BusterTerrorismo nuclear

A Union of Concerned Scientists mostra de forma clara e arrepiante, com base numa simulação do próprio Pentágono, as consequências de um único ataque nuclear ao Irão com uma NBB de 1 Mega Tonelada (60x a potência da bomba de Hiroshima): 3 milhões de mortos no Irão, Afeganistão, Paquistão e India, em apenas 48 horas..., e 35 milhões de pessoas expostas a radiações cancerígenas progressivamente letais. Mesmo com uma das actuais mini bombas nucleares anti-bunker, que Bush e a pandilha de criminosos que o inspira pensa usar num ataque surpresa ao Irão, as B61-11, com 400 Kilo Toneladas, causaria centenas de milhar de mortos e as respectivas irradiações chegariam aos países vizinhos.

O pico petrolífero será atingido, segundo várias previsões, este ano de 2007. Isto significa que, ao ritmo actual, o petróleo remanescente será consumido até 2030-2050! Por volta de 2015-2017, o ouro negro estará reservado para os mais ricos, para os mais poderosos e para as funções básicas essenciais dos países com alguma robustez económica. Não custará, no ano em que os idiotas do actual governo querem inaugurar a Ota (1), menos de 300 euros o barril.

Em suma, começou, sem declaração formal, a grande guerra energética da actual civilização. Os Estados Unidos e a Europa recomendam agora a produção de biodiesel. Tarde demais e uma receita hipócrita, pois colocará os produtores de alimentos contra os produtores de combustíveis, além de permitir cativar o uso do petróleo por parte dos países ricos e emergentes (Estados Unidos, Europa, Japão, China e India), mitigando por mais algum tempo o inevitável colapso do actual paradigma energético global.

Os dilemas actuais, ainda que invisíveis, ou permanentemente mascarados pela fotogenia mediática do Capitalismo e pela histeria consumista colectiva, são terríveis (2). Cada um de nós pode e deve começar a pensar seriamente no que poderá fazer para travar a possibilidade real dos três holocaustos que se avistam no horizonte: o nuclear, o energético e o climático.

ver animação

Notas
1 - O Erro da Ota.
Segunda-feira, dia 14 de Maio, 2007, pelas 17 horas, será lançado no Palácio da Bolsa (no Porto), o livro O Erro da Ota e o Futuro de Portugal: a Posição da Sociedade Civil.
Autores: Krus Abecassis, António Barreto, Vitor Bento, António dos Reis Borges, António Brotas, Frederico Brotas de Carvalho, Galopim de Carvalho, Miguel Frasquilho, Teresa Gamito, Luís Gonçalves, Pedro Quartim Graça, Mendo Castro Henriques, José Carlos Morais, Rui Moreira, António Cerveira Pinto, António Diogo Pinto, Patrícia Pires, Rui Rodrigues, Carlos Sant'Ana, Loureiro dos Santos, Goçalo Ribeiro Telles.
Mais pormenores em Somos Portugueses.

2- E O Wilson Encyclopedia of Life
As conferencias/prémios TED são um excelente exemplo do nascente cosmopolitismo tecnológico, graças à evolução paradigma da Internet para a chamada Web 2.0, ou web semântica.
A comunicação de E O Wilson é um notável contributo para a compreensão da urgência dos problemas com que estamos confrontados enquanto espécie.

FW:

Dear TEDizens,

Those of us in Monterey this year watched in awe as E O Wilson unveiled his inspiring TED Prize wish to create an Encyclopedia of Life. (If you weren't there, you can see it here.)

In Washington DC this morning, the first big step in that dream came true. Five major scientific institutions, backed by a $50m funding commitment led by the MacArthur Foundation, announced the launch of a global effort to launch the Encyclopedia. Ed Wilson described today's announcement as a dream come true.

As Ed hinted in his speech back in March, a broad-based effort to plan the launch was already underway at the time he made his TED Prize wish. But he called on us to assist the effort, I am proud to tell you that members of the TED community played a key role in realizing what happened today.

In particular I'd like to salute the effort of Avenue A-Razorfish who in three short weeks were able to visualize a stunning design for the Encyclopedia and incorporate it in a video that is the centerpiece of the newly launched website. Please take two minutes (and it is literally two minutes) right now to watch this video. It does a spectacular job of explaining the purpose and vision behind the Encylopedia. It is here at www.eol.org. This work was done entirely pro bono, and is a wonderful example of the TED Prize at work. Everyone at the launch today was blown away by it.

The video includes spectacular photography, some of it contributed by TEDster Frans Lanting. And the website address itself was contributed by an individual inspired by Ed's wish. Programmer Ray Ratelis owned eol.org, a valuable web address which he freely contributed to the project.

Many more TEDsters are meeting next month to assist the project in brainstorming its architecture, technology and design. It's proving an exhilarating example of the power of collaboration.

There are already many stories up online about the Encylopedia. Here's the official announcement.

Huge kudos and thanks to Ed and to Avenue A-Razorfish and to everyone else embarking on this journey.

My best,

- Chris Anderson, TED Curator

E O Wilson video

OAM #200 09 MAI 07