quarta-feira, abril 08, 2009

Democracia Directa

Sócrates, o Craxi lusitano?
Queixa-crime sobre o Recadogate
Terça-feira, 7 de Abril de 2009 — O Movimento para a Democracia Directa - DD apresentou hoje, 7-4-2009, conforme noticiou a TVI no seu Jornal Nacional das 20 horas de hoje (ver além do vídeo, a notícia em texto no sítio da TVI24), uma queixa-crime na Procuradoria-Geral da República para apuramento de eventuais responsabilidades criminais do primeiro-ministro José Sócrates, do ministro da Justiça, dr. Alberto Costa, e do procurador-geral adjunto presidente do Eurojust, dr. Lopes da Mota, relativamente a alegadas pressões, alegadamente exercidas através do procurador Lopes da Mota, sobre os procuradores titulares do inquérito ao Freeport, dr. Vítor Magalhães e dr. Paes Faria, para o arquivamento do processo. A serem confirmados os graves factos denunciados, os alegados comportamentos destes dirigentes, tidos no exercício das suas funções, e noticiados nos media, podem constituir a prática dos crimes de coacção agravada, tráfico de influências, favorecimento pessoal, denegação de justiça, prevaricação e abuso de poderes. Como fundamento da queixa estão as notícias, publicadas nas ultimas semanas em diversos media - CM, Sol, DN, Público, IOL Diário, 24 Horas, TVI, JN e outros -, de alegadas pressões, exercidas para o arquivamento do processo Freeport, sobre os magistrados titulares do processo Freeport.

O princípio 7.º da Declaração de Princípios do Movimento para a Democracia Directa - DD estipula a defesa da "real separação dos poderes legislativo, executivo e judicial". As notícias de alegadas pressões sobre os magistrados titulares de um inquérito, onde o primeiro-ministro é referido por alegada corrupção, para o seu arquivamento rápido, não pode ser ignorada, nem as autoridades fingirem que não existem ou não têm relevo, nem os cargos e o Governo ficarem debaixo dessa suspeita. Portanto, importa ser consequente com os princípios defendidos e suscitar a investigação do caso pelo Ministério Público.

Aberto necessariamente um inquérito pelo Ministério Público, se nenhuma das denúncias dos procuradores for confirmada, ficam os governantes e dirigentes políticos livres da suspeita pública; se for apurado algum comportamento indevido, devem responder por isso. Em qualquer caso, o Movimento contribui para o esclarecimento da verdade e para o reforço da dignidade do Estado.

De qualquer modo, à parte o eventual relevo criminal, está em causa, por acção e omissão, o regular funcionamento das instituições democráticas. É responsabilidade indeclinável dos cidadãos contribuir para a protecção da democracia de qualquer tentação ditatorial. Os cidadãos não devem ter medo. — in Do Portugal Profundo.

Quando nada fazia prever, a votação do Partido Socialista Italiano em Milão nas eleições municipais e provinciais de 1993 passou de 20% para 2%. Nas eleições gerais seguintes, em 1994, o PSI desceu dos 13,6% obtidos em 1992 para 2,2%. Após dois anos de penosa agonia, a 13 de Novembro de 1994, o PSI viria a desaparecer, 102 anos depois da sua constituição.

O Partido Socialista fundado por Mário Soares e Salgado Zenha, entretanto tomado de assalto por uma tríade de piratas neoliberais, sobre tudo o que diga respeito a corrupção e financiamento partidário ilegal optou por seguir a recomendação que usualmente se dá aos maridos infiéis: negar, negar sempre!

Acredita que a pose de avestruz e a traição aos princípios ideológicos e éticos constitutivos dum partido democrático o safará do destino inglório do Partido Socialista Italiano e do já desaparecido Bettino Craxi.

A arrufo de Manuel Alegre não passou disso mesmo, como se também ele tivesse telhados de vidro e optasse em conformidade por regressar ao pântano em que, tudo leva a crer, se transformou o PS.

A passividade hipocritamente legalista dos partidos com assento na Assembleia da República (PS, PSD, PCP-PEV, BE, PP), contrasta escandalosamente com o sequestro ad ominem do antigo presidente do Banco Português de Negócios (BPN), ao mesmo tempo que os dinheiros da Caixa Geral de Depósitos (CGD) continuam a escorrer para o sector financeiro, caindo nomeadamente nos bolsos sem fundo do BPN, do Banco Millennium BCP (BCP) e do Banco Espírito Santo (BES). A CGD voltou a fazer mais um aumento extraordinário de capital de mil milhões de euros. Fê-lo em surdina. Algum parlamentar perguntou porquê?

A impotência de Manuela Ferreira Leite e o medo de Cavaco Silva face aos processos Dias Loureiro (1), privatização da ANA (2) e aeroporto de Alcochete (3), contribuem enfim para a legítima suposição pública de se estar perante a metamorfose consumada do sistema partidário português numa teia de corrupção e medo em tudo semelhante àquela que levou ao colapso da esquerda italiana e à ascensão fulgurante de Silvio Berlusconi ao poder, e em geral vem estimulando a mais recente onda populista europeia. Para quem quiser saber mais sobre o fenómeno recomendo vivamente o livro Twenty-First Century Populism - The Spectre of Western European Democracy, editado por Daniele Albertazzi e Duncan McDonnell.

A cisão atempada dos dois maiores partidos portugueses, como insistentemente sugeri, teria porventura evitado a situação de bloqueio institucional em que a democracia portuguesa se encontra.

Por oportunismo e cobardia todos preferiram ficar nas alcovas mornas da protecção partidária. Grande erro! Perecerão da vossa incorrigível tacanhez política!!

O incidente em volta do apoio oficial do PS a Durão Barroso, contrariando abruptamente o que Mário Soares e o estalinista converso Vital Moreira julgavam natural —i.e. apoiar um socialista à presidência da Comissão Europeia— não fez mais do que escancarar os jogos sombrios que vêm sendo disputados nos pequenos-almoços da diplomacia euro-americana.

Durão Barroso prometeu apoiar, por baixo da mesa, a candidatura de Tony Blair ao cargo de futuro presidente da União Europeia. Blair, através de Gordon Brown, decidiu apoiar a reeleição de Barroso para um segundo mandato à frente da actual Comissão Europeia. Blair, Brown e Barroso decidiram, por fim, apertar o nosso Pinóquio com o objectivo de garantir o apoio do PS e do governo português à colocação destes dois agentes especiais da diplomacia americana aos comandos da Europa. Estou convencido de que esta é a causa imediata da fogueira que ameaça assar José Sócrates se este demorar demasiado tempo a colocar no cepo da aliança anglo-americana a autonomia política da democracia portuguesa. Saiba-se o que levou a Carlyle ao gabinete de José Sócrates e tudo será finalmente esclarecido.

O recém criado movimento Democracia Directa (4) é o primeiro sinal sério de que os países tem horror ao vazio. Apesar das subidas previsíveis dos partidos à esquerda do PS (sobretudo do PCP), há um receio crescente de estarmos a caminhar para o colapso do actual regime democrático. O PS já perdeu a maioria absoluta. Resta saber por quanto. Há quem diga que a demissão antecipada de Sócrates poderia evitar o colapso irremediável do Partido Socialista que se seguiria caso houvesse uma sucessão de pesadas derrotas nas três eleições que se avizinham.

As crescentes suspeitas públicas de que o sistema partidário português está fatalmente contaminado pelo vírus da corrupção, associadas ao inevitável agravamento da actual crise sistémica do Capitalismo, poderão mesmo lançar Portugal num ciclo de instabilidade governamental ameaçador de tudo o que foi adquirido após a queda da ditadura.

Acreditar que a União Europeia é um cinto de segurança infalível que impedirá a progressão das tentações autoritárias no nosso país, não passa infelizmente de uma ingenuidade perigosa. Na realidade, o Tratado de Lisboa vai a caminho do lixo, e se a campanha militar dos aliados ocidentais no Afeganistão der para o torto, como previsivelmente dará, teremos uma vez mais a Europa dividida, possivelmente entregue ao recrudescimento dos egoísmos nacionais, abrindo por esta via o caminho ao protagonismo que a América jamais deixará de querer manter no velho continente.

Obama revela porventura boas intenções, mas quem manda nos Estados Unidos não é ele. Blair, Brown e Barroso tem um Plano A e um Plano B. No primeiro, o Tratado de Lisboa não passa, e a América mantém o seu pé pesado na Europa. No segundo plano, o Tratado de Lisboa ou um seu sucedâneo acaba por passar, e Berlim, traída pelo garnisé de Paris, vê-se ultrapassada pela conspiração actualmente em curso para colocar na presidência da Europa o ex-primeiro ministro de um país que não aceitou até hoje o euro e continua a demonstrar um profundo atavismo face ao continente europeu.

Tony Blair, o poodle do Council of Foreign Relations, do Clube de Bilderberg, da CIA e do Pentágono, prepara-se para comprometer o futuro da Europa. Sócrates poderá ser uma das vítimas que ficarão pelo caminho. Se não tiver juízo, claro!


NOTAS
  1. Foi o BPN, através de Dias Loureiro, um dos principais apoiantes financeiros da candidatura presidencial de Cavaco Silva? Gostaria de saber.

  2. Estará Cavaco Silva decidido a travar a conversão do actual monopólio estatal de administração de aeroportos e navegação aérea (ANA) por um monopólio privado que amanhã cairá inevitavelmente nas mãos nacionalistas de espanhóis, angolanos ou chineses?

  3. A profundidade e o significado da crise financeira e económica actual alterou fundamentalmente todos os principais parâmetros e previsões que em teoria poderiam justificar a ambição patética de criar um grande hub aeroportuário em Portugal. O aeromoscas de Beja, conjecturado pelo boy do PS Augusto Mateus, é a prova provada da imbecilidade e irresponsabilidade criminosas que acometem frequentemente o Bloco Central do Betão, que por sua vez estimula há muito a falta de vergonha e impunidade do Bloco Central da Corrupção. O esquema das grandes obras públicas actualmente em marcha, por via das famigeradas Parcerias Público Privadas, é o maior e mais perigoso conluio mafioso que ameaça hipotecar o país durante os próximos 100 anos!

  4. "Declaração de Princípios do Movimento para a Democracia Directa - DD

    Tendo em conta a degenerescência irreparável da democracia representativa para uma oligarquia de representantes, só aproximando os cidadãos da escolha e decisão políticas será possível desenvolver continuamente em Portugal os valores da Democracia, do Estado de Direito, da Liberdade e da Dignidade Humana. Assim, os membros concordam com a afirmação e a promoção de um Movimento para a Democracia Directa.

    1. O Movimento para a Democracia Directa defende eleições primárias dentro dos partidos para a escolha dos candidatos a cargos electivos do Estado e autarquias, bem como eleições directas nos partidos para os cargos dirigentes das suas estruturas nacionais, regionais e locais, sempre dentro de regras legais de estrita democraticidade interna dos partidos.

    2. O Movimento para a Democracia Directa pugna pela total clareza do financiamento partidário e eleitoral, fiscalizado por entidade judicial, com sanções penais e de perda de mandato para os casos de incumprimento;

    3. O Movimento para a Democracia Directa defende, como forma de transparência do sistema político, o escrutínio e prestação de contas, mormente através da audição parlamentar obrigatória de todos os escolhidos para cargos governamentais e para cargos dirigentes de nomeação do Governo e da Assembleia da República;

    4. O Movimento para a Democracia Directa considera fundamental a responsabilização pessoal dos eleitos, designadamente a consagração da convocação popular de eleições (recall), a suspensão do mandato de titulares de cargos políticos acusados de crimes de relevo e a supressão da imunidade por factos estranhos ao mandato político;

    5. O Movimento para a Democracia Directa considera indispensável para o bom funcionamento das instituições democráticas a obrigatoriedade de registo dos interesses dos candidatos a cargos políticos, de nomeação política, partidários, magistrados e altos cargos da administração pública (nomeadamente a sua pertença a organizações secretas), além da apresentação obrigatória da declaração de rendimentos e patrimonial, com perda automática de mandato, ou demissão, por incumprimento ou falsas declarações;

    6. Para o Movimento para a Democracia Directa afigura-se necessária à aproximação entre representantes e representados a adopção de um sistema eleitoral misto nas eleições para a Assembleia da República, com circunscrições de eleição uninominal e um círculo eleitoral nacional que garanta uma representação parlamentar de tendências minoritárias;

    7. O Movimento para a Democracia Directa defende uma real separação dos poderes legislativo, executivo e judicial, nomeadamente um verdadeiro auto-governo das magistraturas através de Conselhos Superiores sem representantes de nomeação política;

    8. O Movimento para a Democracia Directa defende a possibilidade de apresentação de candidaturas independentes a todos os órgãos políticos electivos, incluindo a Assembleia da República, facilitando o procedimento de formalização;

    9. Para o Movimento para a Democracia Directa são imprescindíveis a simplificação do direito de iniciativa popular de apresentação de propostas legislativas sobre quaisquer matérias, o direito de queixa constitucional (recurso de amparo) e o aproveitamento de actos eleitorais para consultas populares, numa plena utilização das virtualidades do referendo como meio normal de decisão política, designadamente em matéria de revisão constitucional."

    Quem esteja interessado em aderir ao Movimento Para a Democracia Directa, mas não se possa deslocar à sua reunião de fundação em Alcobaça, neste sábado, poderá fazê-lo posteriormente, escrevendo para democraciadirecta.portugal{arroba}gmail.com.

    Vá lá: mexa-se! O país precisa de si!"


OAM 570 08-04-2009 14:05

sexta-feira, abril 03, 2009

Portugal 96

Que venha o rei!

Se o actual presidente da república se confessa impotente para atalhar casos de corrupção no seu quintal e os três presidentes que o antecederam hesitam em dar sinais de preocupação pela manutenção em funções de um primeiro ministro protagonizado por uma personagem sobre a qual se acumulam suspeições públicas documentadas de corrupção, então talvez os monárquicos tenham razão e esteja na hora de referendar o regresso à monarquia — uma monarquia constitucional e democrática, claro, como sucede em 12 estados europeus.

Eu não sou doido. Se ler esta nota até ao fim perceberá porquê.

Nenhum país pode endividar-se continuamente por largos períodos sem ver o regime que permite e fomenta tal endividamento colapsar ou ser fortemente abalado por convulsões, guerras civis e revoluções. Há quem diga que 50 anos de bloqueio estratégico, endividamento compulsivo, irresponsabilidade e corrupção são suficientes para deitar abaixo qualquer regime político, por mais democrático que seja.

A transferência da hegemonia económica mundial da Europa para a Ásia tem sobretudo que ver com este fenómeno. A deterioração crescente dos termos de troca entre os Estados Unidos e o resto do mundo, sobretudo Ásia e Médio Oriente, acentua-se de forma irremediável a partir do início da década de 1970, daqui resultando a previsão de o poder imperial ainda residente em Washington ter começado ontem formalmente a sua deslocação acelerada em direcção a Pequim, onde deverá chegar antes de 2020.

Vejamos o caso português. A queda da monarquia deu-se na sequência de uma crise agrícola interna muito grande e prolongada, provocada por vários factores conjugados: fim da protecção britânica à importação de vinhos portugueses; pragas do oídio e da filoxera (1852, 1867); e ainda a estagnação internacional do mercado do vinho.

Esta crise levou centenas de milhar de portugueses a emigrar para o Brasil: 332 312, entre 1856-1900; 754 147, de 1900 a 1930, decaindo depois abruptamente: 148 699 entre 1931 e 1950... (in Wikipedia).

Esta emigração que, como se vê, cresceu brutalmente com a crise do vinho, e mais ainda durante a primeira república, funcionou como uma verdadeira exportação de mão de obra, na medida em que a maioria dos novos "brasileiros" enviava dinheiro para Portugal. No entanto, a implantação da república no Brasil (1890-1907) quase destruiu a moeda brasileira que os portugueses emigrados enviavam para as suas aldeias via Londres, daí resultando a desvalorização da própria moeda portuguesa e o consequente agravamento da nossa balança de pagamentos (1).

Resumindo e concluindo, o endividamento português induzido pelo abandono dos campos e pela deterioração da moeda conduziu à queda sucessiva da monarquia e da primeira república. O que a ditadura basicamente fez depois foi poupar e recompor as reservas do país, permitindo um primeiro período longo de recuperação (1931-1960), e depois uma verdadeira expansão económica (1961-1974), em grande medida potenciada pela guerra colonial e pelas receitas da nova emigração para a França e Alemanha. A ditadura caiu, ironicamente, em plena fase de expansão económica, por causa de uma guerra injusta, condenada a ser perdida, e porque o desenvolvimento económico e intelectual do país já não suportavam o colete da ditadura, mesmo amaciada durante o consulado de Marcelo Caetano.

O monarquia tombou porque não resistiu a 58 anos seguidos de sub-produção e endividamento. A primeira república colapsou porque não soube inverter este ciclo negativo e o agravou. O regime de 48 anos de ditadura republicana morreu do seu próprio êxito económico e por óbvias causas políticas. E agora?

Desde 1974, apesar da liberdade e democracia que temos, Portugal tem vindo a recair no ciclo negro da desertificação dos campos, da destruição da sua infraestrutura industrial, do desemprego, do endividamento excessivo e de uma nova e entranhada corrupção do Estado. Já lá vão 35 anos. Pelas minhas estimativas, este ciclo negativo não deverá durar mais quinze anos. 2024 é, como muito, o limite a partir do qual ocorrerá o colapso do actual regime.

É pois necessário agir já, se quisermos evitar o catastrófico cenário desenhado. Sem hesitação, nem complacências. Mas para isso precisamos, ao menos, que o poder supostamente moderador da presidência da república funcione! Ora não tem dado mostras de funcionar. Cavaco parece um pau e os presidentes que o antecederam estão resignados às suas próprias culpas no cartório.

Se assim é, talvez tenha chegado a hora de repensar a república e de levá-la a referendo.

Ao senhor Duarte de Bragança faço uma recomendação séria: esteja caladinho e prepare os seus filhos com a mais esmerada educação possível. Pode vir a ser necessário!


NOTAS

  1. Então tudo o que se passava no Brasil tinha reflexos imediatos no valor da moeda face á libra. Isto foi verdade na guerra do Paraguai (1868-71) e particularmente grave na implantação da republica do Brasil (1890-1907).

    A desvalorização da moeda face ao exterior provocava o imediato aumento da Dívida Pública, e de facto o crescente endividamento que se verifica desde 1890 não advém de um endividamento real, mas do menor valor da moeda.

    Na altura todos queriam ver culpados no Fontes ou numa conspiração inglesa. Foi num estudo de 1915 ( "O Ágio", Salazar) por um académico de nome Oliveira Salazar, que se provou o que já era sugerido por alguns... Foi o câmbio da moeda brasileira que determinou o câmbio da moeda nacional até 1907.

    Tudo estava bem se tudo estivesse bem no Brasil (e Dom Carlos sabia-o), mas desde Novembro de 1889, com o fim da monarquia no Brasil que este país descambou num Carnaval de golpes de Estado, sendo que em 1891 já as praças internacionais previam a bancarrota, com o cambio da moeda portuguesa a cair 25% e as transferências do Brasil a passarem de 4355 contos (1888) para 800 contos em 1891, uma queda de 80%. — in 1ª república e economia, Ricardo Gomes da Silva, SomosPortugueses.com.


OAM 569 03-04-2009 19:25

quinta-feira, abril 02, 2009

Portugal 95

O submundo da banca e da política

O mesmo dinheiro que os depositantes retiram do Millennium BCP, do BPN e do pseudo Banco Privado, por óbvios motivos de precaução, tem vindo a regressar àqueles mesmos covis pela mão do Estado!


"A situação de liquidez do BPN atingiu valores absolutamente insustentáveis a curto prazo"

Jornal de Negócios com Lusa — A administração do Banco Português de Negócios (BPN) está preocupada com a dimensão das saídas de depósitos da instituição e admite que a liquidez do banco atingiu valores insustentáveis a curto prazo.

... Numa carta interna dirigida às redes comerciais de retalho e de empresas do BPN, à qual a agência Lusa teve acesso, Jorge Pessoa, administrador do banco recentemente nacionalizado, começa por dizer aos colaboradores que "a situação de liquidez do banco atingiu valores absolutamente inimagináveis e insustentáveis a curto prazo".

"A saída diária de depósitos, em valores que chegam a atingir as dezenas e mesmo as centenas de milhões de euros, sem a necessária e vital compensação, pela via da captação de novos depósitos, está a conduzir a instituição para uma situação muito delicada e de extrema gravidade", escreveu o administrador, acrescentando que o cenário descrito "compromete seriamente o futuro do banco".

Uma das ilusões democráticas mais renitentes, nomeadamente em Portugal, é a de que as decisões que realmente fazem mover as carruagens dos países são obra dos governos e se decidem nos parlamentos, entre jogos de retórica mais ou menos inflamados.

A verdade, porém, é que o essencial da política contemporânea, por mais democrática que aparente ser, tem lugar em requintados restaurantes longe dos olhares públicos, ou em clubes de decisão exclusivos, se não mesmo secretos. As cerimónias oficiais, de que as actividades parlamentares, as reuniões ministeriais e a propaganda mediática em geral são os principais instrumentos, não fazem mais do que tratar do acessório, fazendo ao mesmo tempo passar discretamente o essencial sob a forma de decretos-lei regulamentares, portarias e múltiplos vazios legais, sem a menor suspeição de quem aprova.

Ou seja, a democracia domesticada actual é cada vez mais a cobertura doce, festiva e cara de uma inatacável e discreta plutocracia dominante, de que o sistema financeiro é a principal alavanca.

Higiene dentária

Conto a propósito uma anedota verdadeira que me foi transmitida por um familiar farmacêutico já desaparecido.

Corria o tempo da ditadura (1926-1974). Um dos problemas que preocupava em meados da década de 60 um dos ministros de Salazar era o das estatísticas desfavoráveis sobre a higiene oral dos portugueses. Segundo os números recolhidos pela indústria, que logo alimentavam estatísticas internacionais nada abonatórias do regime, os portugueses lavavam pouco os dentes depois das refeições. Claro que a indústria farmacêutica tinha outro problema: não vendia o suficiente. As multinacionais que por essa altura tinham já desembarcado em Portugal — com grande destaque para a célebre Colgate-Palmolive — andavam preocupadas. A publicidade começara por dar bons resultados, mas a quantidade de produto vendido, com base na qual se construíam as estatísticas de consumo, aumentava apesar de tudo devagar.

O governo de Salazar ambicionava outra ideia da higiene oral lusitana, e os fabricantes de pasta dentrífica queriam aumentar as vendas. Hummmm! Caso bicudo. Que fazer? Será que um decreto-lei de São Bento poderia ajudar? Mais anúncios como aqueles famosos spots da Pasta Medicinal Couto, chegariam? A ditadura era para coisas sérias, e não para forçar os portugueses a lavar os dentes. Os custos de publicidade, por sua vez, têm limites e não podem comprometer as margens de lucro. E se fosse hoje, que saída lhe poderia dar a nossa democracia parlamentar? Serviria a ASAE para alguma coisa num aperto destes? Creio que não, pelo menos directamente.

A solução acabaria por ocorrer a um jovem engenheiro químico, no laboratório de análises de um dos fabricantes do hoje indispensável sabão para os dentes.

O laboratório andava há um ano atrás da fórmula para aumentar o consumo da pasta dentrífica. O ângulo de abordagem fora o da melhoria do sabor e aspecto da pasta que escorria dos tubos de chumbo. Os resultados obtidos junto dos consumidores-teste foram porém decepcionantes. O tempo escorria e tardava uma ideia luminosa. Até que um belo dia alguém perguntou: e se alargássemos o buraco de saída da pasta? A história nunca se tornou pública, mas a verdade é que Salazar e os fabricantes da Colgate e da Couto ficaram muito satisfeitos!

Formatação cognitiva

Mais recentemente, alguém deu à actual ministra da educação uma solução parecida para resolver o problema das más estatísticas portuguesas no campo educativo. Se se alargar os buracos de saída em cada compartimento do ciclo educativo, haverá mais gente a passar do primário para o secundário, e deste para o universitário. Juntando estas aberturas ao esquema de Bolonha, e refreando o poder excessivo dos professores através do recurso à uniformização dos métodos de avaliação, nomeadamente pelo uso generalizado de testes de escolha múltipla —os famosos testes americanos —, em vez de exames à memória e ao raciocínio pela via dos interrogatórios de catedra, Portugal verá finalmente evoluir os níveis da educação prestada aos cidadãos, tal como outrora acabara por ver evoluir a qualidade da sua higiene oral.

Claro que este estratagema pode conduzir ao rebaixamento dos níveis cognitivos, culturais e cívicos dos formandos. Mas para corrigir este desconforto é que servem os rankings das escolas e universidades e a própria percepção crescente por parte das novas gerações de que a falta de emprego e o emprego precário são os seus destinos naturais à luz das novas sociedades tecnológicas. O acesso ao trabalho será sempre escasso e temporário no futuro, ou seja, muito competitivo. Ao contrário do que sucedeu às gerações dos nossos pais e avós, o ensino superior que Bolonha inaugurou é apenas um limbo de massificação e uniformidade da espécie urbana. Há, porém, que salvar as estatísticas, enquanto o problema da formação das massas não for radicalmente revisto à luz dos constrangimentos provocados pela robotização, nanoficação, biopolitização e digitalização de todos os processos produtivos. Ainda não foi encontrada a fórmula. Mas, como no caso da higiene dentária, não será a retórica democrática a descobri-la.

Obras públicas

Outro tema cuja problematização adequada tem vindo a escapar ao olhar democrático, e portanto aos jogos florais da Assembleia da República, é o das grandes obras públicas.

Os políticos e os média envolveram-nos numa miríade de pequenas discussões, certamente importantes do ponto de vista técnico, mas irrelevantes para o que verdadeiramente as move.

As autoestradas que aí vêm, a nova travessia rodo-ferroviária do Tejo, a rede de Alta Velocidade e a putativa cidade aeroportuária que o génio do aeromoscas de Beja quer repetir em Alcochete, são irracionais, seja tendo em conta a calamidade económico-financeira mundial actual — que não terminará antes de 2012, podendo até agravar-se exponencialmente até lá! —, seja avaliando os insustentáveis níveis de endividamento público e privado do país, seja tendo em vista a manifesta falta de qualidade técnica e de rentabilidade expectável das soluções, seja ainda porque as alterações inevitáveis dos actuais paradigmas energéticos e de comportamento ambiental irão obrigar a mudar de vez os mesmíssimos pressupostos caducos que politicamente têm vindo a ser esgrimidos como justificação dos vultuosos investimentos anunciados. E no entanto, como temos visto, o governo acelera que nem uma quadrilha desembestada em direcção às obras, atropelando tudo e todos. Sem o dizer nem admitir, aquilo que o governo quer são contratos assinados tão rapidamente quanto possível. E porquê?

Pelo mesmo motivo que Gordon Brown e Barak Obama querem grandes programas de investimento. Ou seja, para justificar uma gigantesca inflação monetária capaz de apagar o fogo das dívidas com o papel recém saído das tipografias do dólar e do euro. Claro que esta saída airosa não irá dar bom resultado, e em seu lugar poderemos ter um desastre entre Weimar e o Zimbabué. A menos que sejam a China e o Japão a inundar os mercados de liquidez. Mas aí, a factura que os Estados Unidos e a Europa irão pagar por semelhante imprudência é a antecipação precipitada da supremacia asiática. A China espera alcançar este estatuto lá para 2020, ou 2030. Obrigá-la a antecipar o plano parece-me uma ideia perigosa. Seja como for, uma qualquer espécie de Tratado de Tordesilhas terá que acontecer em breve.

As dívidas queimam, ó se queimam! No caso português, como em muito outros países, o risco é mesmo o de uma paragem cardíaca, com o Estado sem verbas para pagar aos funcionários públicos (forças armadas e policiais incluídas) e a consequente insolvência. Estamos de facto numa situação catastrófica do ponto de vista financeiro, muito semelhante à que antecedeu a queda da primeira República. Aliás, com uma agravante: sem colónia alguma que nos valha!

Desta vez, o que acontece por baixo da espuma mediática da política é pura e simplesmente a capitulação antecipada de parte importante do nosso PIB, e sobretudo do nosso Rendimento Nacional, sob a forma de uma gigantesca alienação de receitas de longo prazo (embrulhadas nas deploráveis parcerias público privadas a 50, 75 e mais anos), em troca de empréstimos urgentes, destinados a aliviar temporariamente os efeitos imediatamente nefastos do endividamento imprudente do país.

Se virmos bem, não parece haver outra forma de atrair liquidez a Portugal. E como é evidente, não se pode falar destas coisas em público!

Esponjas banqueiras

Vejamos, por último, o caso da actual crise financeira e o modo como tem sido gerida, por exemplo, nos casos do BCP, BPN e Caixa Geral de Depósitos.

Sabe-se que dezenas de milhar de contas, quer no BCP, quer no BPN, têm sido fechadas pelos respectivos clientes, descontentes e assustados com os escândalos e prováveis falências dos bancos a quem confiaram os seus depósitos. Sabe-se também que a Caixa Geral de Depósitos tem sido a grande beneficiária desta situação, na medida em que boa parte dos clientes que tem abandonado o BCP e o BPN, já para não falar do pseudo Banco Privado, vem confiando o depósito das suas poupanças, dos seus salários e dos seus lucros, à Caixa Geral de Depósitos. Normalmente, uma tal situação, que a notícia sobre o BPN acima transcrita bem evidencia, conduziria rapidamente à falência dos ditos bancos, cujas cotações no caso do BCP não param de cair. No entanto, que vemos?

Por um lado, vemos uma pessoa idosa e doente —o antigo presidente do BPN—, em prisão preventiva há meses, como se a cratera do BPN não devesse já ter arrastado para o calabouço mais suspeitos da prática de crimes económicos. Vemos o Estado entrar pelo BPN dentro, sob o disfarce de uma nacionalização de emergência, calando-se depois muito caladinho sobre tudo o que encontrou e sobre o futuro do banco. Vemos ainda a Caixa Geral de Depósitos a renegociar créditos atribuídos sem controlo à especulação financeira, em condições altamente discutíveis. Supomos mesmo que a CGD tem vindo a comprar acções do Millennium BCP sempre que este cai aos trambolhões da Bolsa abaixo. Por fim, a Caixa terá já injectado quantias astronómicas de euros no BPN, sem que se saiba exactamente para quê.

Resumindo, o mesmo dinheiro que os depositantes retiram, por óbvios motivos de precaução, do Millennium BCP, do BPN e do gestor de fortunas chamado Banco Privado, tem vindo a regressar àqueles mesmos covis pela mão do Estado! Se tudo isto se faz com falta de transparência, nas barbas do parlamento, do governo e do presidente da república, é porque a teoria de que o essencial escapa à democracia tem pernas para andar!

Vejamos apenas este caso: Joe Berardo pediu centenas de milhões de euros à Caixa Geral de Depósitos para comprar acções do Millennium BCP. Parte do dinheiro usado na compra das ditas acções foi emprestado pela Caixa Geral de Depósitos, e a liquidação do correspondente empréstimo deveria ter ocorrido há alguns meses atrás. No entanto, isso não aconteceu. Ao invés, a Caixa aceitou renegociar em termos altamente vantajosos para o milionário o prolongamento por mais cinco anos dos créditos vencidos, ao que se sabe sem juros, ou pagando juros insignificantes. Independentemente de se avaliar publicamente a qualidade dos colaterais dados em garantia pelo novo empréstimo, a verdade é esta: Berardo dispõe, por mais cinco anos, de umas centenas de milhões de euros à sua inteira disposição, que poderá aplicar em negócios rentáveis, pagando 0% de juros ao banco que aceitou renegociar a dívida neste termos. Se isto não é uma forma de alimentar com dinheiro público o gosto pelo risco de quem há muito se encontra na primeira linha do tipo de especulação que conduziu à actual crise mundial, então não sei o que é.

No meio da tormenta o ruído das baratas pode tornar-se ensurdecedor. As formigas há muito que foram expulsas da mesa de migalhas. Sobram tão só intenções piedosas que na realidade são demagogia fina e nada mais. Os especuladores, esses, não param de conspirar. E agora mais do que nunca.

O governo de Obama está a enviar milhares de milhões de dólares para a falida AIG, mas o dinheiro que lá chega, extorquido aos bolsos do contribuinte americano, está afinal a ser usado para gerar lucros súbitos e extraordinários à mesma banca sombria (nomeadamente o famigerado Goldman Sachs) que irresponsavelmente causou o actual colapso económico-financeiro mundial.

O extracto do artigo que se segue é um lancinante alarme para o que nos espera. Na realidade, caminhamos para uma revolução social sem precedentes.

AIG Was Responsible For The Banks' January & February Profitability
Posted by Tyler Durden at 6:35 PM — Zero Hedge.

Zero Hedge is rarely speechless, but after receiving this email from a correlation desk trader, we simply had to hold a moment of silence for the phenomenal scam that continues unabated in the financial markets, and now has the full oversight and blessing of the U.S. government, which in turns keeps on duping U.S. taxpayers into believing everything is good.

... AIG, knowing it would need to ask for much more capital from the Treasury imminently, decided to throw in the towel, and gifted major bank counter-parties with trades which were egregiously profitable to the banks, and even more egregiously money losing to the U.S. taxpayers, who had to dump more and more cash into AIG, without having the U.S. Treasury Secretary Tim Geithner disclose the real extent of this, for lack of a better word, fraudulent scam.

In simple terms think of it as an auto dealer, which knows that U.S. taxpayers will provide for an infinite amount of money to fund its ongoing sales of horrendous vehicles (think Pontiac Azteks): the company decides to sell all the cars currently in contract, to lessors at far below the amortized market value, thereby generating huge profits for these lessors, as these turn around and sell the cars at a major profit, funded exclusively by U.S. taxpayers (readers should feel free to provide more gripping allegories).

What this all means is that the statements by major banks, i.e. JPM, Citi, and BofA, regarding abnormal profitability in January and February were true, however these profits were a) one-time in nature due to wholesale unwinds of AIG portfolios, b) entirely at the expense of AIG, and thus taxpayers, c) executed with Tim Geithner's (and thus the administration's) full knowledge and intent, d) were basically a transfer of money from taxpayers to banks (in yet another form) using AIG as an intermediary.

For banks to proclaim their profitability in January and February is about as close to criminal hypocrisy as is possible. And again, the taxpayers fund this "one time profit", which causes a market rally, thus allowing the banks to promptly turn around and start selling more expensive equity (soon coming to a prospectus near you), also funded by taxpayers' money flows into the market. If the administration is truly aware of all these events (and if Zero Hedge knows about it, it is safe to say Tim Geithner also got the memo), then the potential fallout would be staggering once this information makes the light of day.


OAM 568 02-04-2009 19:25 (última actualização: 03-04-2009 02:04)

quarta-feira, abril 01, 2009

G20-London 3

Change, please
A esperança de Obama por terra. Uma moedinha por favor!

Um embuste anglo-americano
Obama não resiste à rainha, nem aos banqueiros!

A reunião do G20 fracassou em quatro frentes essenciais:
  1. Na frente monetária: a hegemonia do falido dólar americano e a sobrevalorização artificial da falida libra inglesa deixaram de fazer qualquer sentido, dados os irreparáveis graus de endividamento destes dois países.

    As duas coisas urgentes a fazer, que Obama, Brown e Sarkozy rejeitaram ab initio são estas:
    • criar uma nova moeda de reserva internacional, nomeadamente através da incorporação das moedas chinesa, indiana, russa, brasileira e ainda a futura moeda única dos países árabes produtores de petróleo, no cesto onde se amassam os chamados SDR;
    • acabar com os movimentos de desvalorização agressiva do ouro, reforçando as reservas oficiais da mais antiga e fiável moeda do mundo nos cofres de todos os bancos centrais, por forma a estabelecer uma paridade mais fiável entre a riqueza real dos países e as aparências ilusionistas engendradas pela especulação corrupta e criminosa que, pelos vistos, Obama tenciona manter e alimentar.

    Os SDR (Special Drawing Rights) são uma espécie de moeda de reserva internacional destinada a fazer as vezes do ouro no comércio mundial. Chama-se por vezes a este contrato fiduciário, "ouro-papel", pretendendo-se com tal afirmação ostensiva dar aos Direitos Especiais de Saque a aparência de uma autêntica e universal moeda de reserva.

    De facto, sabemos que não é assim, pois o que os pilotos de guerra americanos e ingleses levam no bolso para o caso de caírem nalgum deserto iraquiano, ou nalguma montanha afegã, não são SDRs, mas moedas de ouro! Aliás, que diria qualquer um de nós, se alguém nos quisesse pagar um jantar, ou uma casa, com SDRs?

    De facto, esta pseudo moeda universal, nascida no interior do FMI em 1969, dois anos antes de Nixon pôr fim à garantia de trocar dólares por ouro, e que aparece invariavelmente no capítulo das reservas cambiais e de ouro dos relatórios anuais dos bancos centrais, não passa de um compromisso político decorrente ainda da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e dos defuntos Acordos de Bretton Woods.

    Estes últimos impuseram basicamente a submissão de todas as moedas mundiais ao dólar americano. Mas a progressiva desvalorização desta moeda comercial e de reserva levou a que se cozinhasse os SDRs como uma nova opção em matéria de reserva monetária.

    A desvalorização agressiva do ouro em sucessivas operações especulativas orquestradas por americanos e ingleses, nem por isso impediu a desvalorização paulatina da nuvem de dólares americanos espalhados pelo globo. Todos os bancos centrais eram obrigados a comprar dólares para as suas trocas comerciais com o exterior — por exemplo, para comprar petróleo! Com o ouro artificialmente baixo e sobretudo ausente de boa parte das reservas cambiais existentes, e a desvalorização inevitável de um dólar que se imprimia (e continua a imprimir) como papel higiénico, alguém se lembrou de inventar um cabaz mais "democrático" de moedas, a fim de proporcionar alguma estabilidade aos mercados financeiros mundiais. A esse cabaz, que funciona ainda hoje como uma espécie de moeda franca do FMI, chamou-se SDR. Continha à data da sua criação (1969), dólares americanos, marcos alemães, francos franceses, libras inglesas e ienes japoneses. Hoje contém dólares americanos, euros, libras inglesas e ienes.

    Por razões óbvias, e sobretudo porque o dólar americano se encontra à beira do colapso, faria todo o sentido enriquecer este cabaz de divisas, com as moedas cada vez mais fortes dos chamados países emergentes. A cimeira do G20 deveria pois ser aproveitada, por exemplo, para agir nesta direcção, em vez de tentar prolongar o estertor do falido império anglo-americano, como é a manifesta intenção da América e de boa parte da Eurolândia.

  2. Na frente social: anunciar aos quatro ventos que o poderoso G20 irá criar 25 milhões de postos de trabalho, quando o desemprego mundial deverá atingir, segundo estatísticas das Nações Unidas, qualquer coisa como 230 milhões de pessoas em 2010, não passa de uma piada de mau gosto que as televisões acéfalas de todo o mundo irão vender como a prova de piedade dos piratas que causaram a tragédia actual e, não contentes com isso, nem sequer com o perdão já anunciado por Barak Obama, estão neste preciso momento a refinanciar as suas actividades corruptas e os seus bancos à custa do maior roubo fiscal da história da humanidade.

  3. Na frente da corrupção: a benção de Obama aos donos do mundo financeiro, respectivos bancos de investimento e paraísos fiscais, assim que chegou a Londres, ao lado do homem que alienou em 1999 metade das reservas inglesas de ouro (Gordon Brown), mostra bem o percurso da palavra change: da coragem de anunciar a mudança, à litania do pedinte! Jersey, Guernsey e Isle of Man são propriedade exclusivas da coroa inglesa. E são também conhecidos offshores. Que dirá Obama a Isabel II sobre isto?

  4. Na frente económica: o que está em curso é a montagem de uma gigantesca armadilha económico-financeira, com a face risonha de um programa de ataque à crise e apoio aos pobres — mais investimento = mais emprego, dizem —, mas cuja intenção escondida a sete chaves é rebentar com a poupança mundial, nomeadamente através de uma expropriação em larga escala dos rendimentos de países inteiros, vergados sob o peso das dívidas de curto prazo, cujo refinanciamento se fará por uma inflação monetária sem precedentes e pela captura do bem comum (as melhores paisagens e os melhores terrenos agrícolas, a água potável, as sementes, as redes de energia, os sistemas de transportes, as telecomunicações, etc.) — sob a forma de grandes e demagógicos programas de obras públicas, empacotados em Parcerias Público Privadas, cujos contratos assegurarão desde já a liquidez de curto prazo de que os governos tanto necessitam, ao preço de comprometer as independências dos países e a liberdade, prosperidade e felicidade dos povos. Os governos há muito que dependem dos bancos e sobretudo de grandes manipuladores financeiros como o JPMorgan Chase, Bank of America, Citibank, Goldman Sachs e HSBC Bank USA, ou dos entretanto caídos em desgraça shadow bankers (Bear Stearns, Lehman Brothers, etc.), bem como das suas inúmeras e camufladas delegações. Melhor conjuntura para começar uma revolução não poderia haver!




REFERÊNCIAS

  • Sobre o G20 neste blog: 1, 2, 3.

  • "The Relevance and Importance of Gold in the World Monetary System", by R. Peter W. Millar (PDF)

  • Mints coin it as consumers scramble for gold
    By Sarah Marsh and Jan Harvey/ Reuters
    Mon Mar 30, 2009 9:27pm EDT

    Russia's state-controlled Sberbank says it has never seen such strong demand for investment coins, while the U.S. Mint says sales of its one-ounce American Eagle gold bullion coins rocketed over 400 percent to 710,000 ounces in 2008.

    "The demand for gold and silver has been unprecedented," said Carla Coolman, a spokeswoman at the United States Mint.

    Austria's Philharmonic, named after the Vienna Philharmonic Orchestra, was the world's best-selling gold coin in the last quarter and sales soared 544 percent in the first two months of 2009.

    "There is no sign of demand abating," Austrian Mint Marketing Director Kerry Tattersall told Reuters, expecting sales this year to exceed 2008's record levels. "At present production is struggling to keep up with demand."

  • China and Argentina in currency swap
    By Jude Webber in Santiago/ Finantial Times.com
    Published: March 31 2009 01:25 | Last updated: March 31 2009 01:25

    China, which is pushing to end the dominance of the dollar as a worldwide reserve, has agreed a Rmb70bn ($10.24bn, £7.18bn, €7.76bn) currency swap with Argentina that will allow it to receive renminbi instead of dollars for its exports to the Latin American country.

    Xinhua, the official Chinese news agency, said the deal was signed on Sunday by Zhou Xiaochuan, governor of the People’s Bank of China, and Martín Redrado, Argentine central bank president, in Medellín, Colombia, where they are attending a meeting of the Inter-American Development Bank.

  • Chavez seeks Arab support for oil-backed currency

    BRIAN MURPHY
    Associated Press/ The Globe and Mail, Toronto
    March 31, 2009 at 5:56 PM EDT

    DOHA, Qatar — Venezuelan President Hugo Chavez tried Tuesday to court Arab support for another swipe at America as its economy stumbles: a proposal for a new, oil-backed currency to challenge the global prominence of the dollar.

    The idea never reached the full agenda of a summit of leaders from South America and the Arab League — and has little hope of gaining any momentum among the U.S. allies in the Middle East. But it managed to reflect broader sentiments at the gathering: That Western financial leadership has been deeply eroded by the economic meltdown.

  • RPT-EU says G20 not to focus on China financial calls

    BEIJING, March 29 (Reuters) - Europe is comfortable with China's growing world role but believes the G20 summit will be too early to decide on Beijing's calls for more say in global financial bodies, the EU Commissioner for External Relations said on Sunday.

    European Union Commissioner Benita Ferrero-Waldner told Reuters in Beijing that the London gathering of 20 major wealthy and developing powers this week would focus on "concrete results" to revive the global economy, not more distant issues.

    China caused a stir ahead of the Thursday summit when it suggested the world move to greater use of IMF Special Drawing Rights as an international reserve currency.

    "I don't think that this will be the question that really will be discussed thoroughly in London," Ferrero-Waldner said after talks with Chinese Foreign Minister Yang Jiechi and Vice Premier Li Keqiang.

    Likewise, she said, China's call for a bigger role in the International Monetary Fund (IMF) and other international financial bodies would not be a focus of the summit.

    "I think it's too early for us to give a really concrete answer," she said of these calls. "I think it is within the IMF, it is within the international financial institutions, that these questions have to be discussed."

    The idea of a new reserve currency system based on the IMF special drawing rights has not been entirely knocked down, but many G20 leaders have made clear that for now the U.S. dollar's status as the dominant reserve unit remains.

  • O buraco negro dos Derivados — 600 milhões de milhões de USD — representa 12 vezes o PIB do planeta!

    OCC’s Quarterly Report on Bank Trading and Derivatives Activities — Fourth Quarter 2008 (PDF)

    • The notional value of derivatives held by U.S. commercial banks increased $24.5 trillion in the fourth quarter, or 14%, to $200.4 trillion, due to the migration of investment bank derivatives business into the commercial banking system.
    • U.S. commercial banks lost $9.2 billion trading in cash and derivative instruments in the fourth quarter of 2008 and for the year they reported trading losses of $836 million. The poor results in 2008 reflect continued turmoil in financial markets, particularly for credit instruments.
    • Net current credit exposure increased 84% from the third quarter to a record $800 billion, and much of this is attributable to the sharp decline in interest rates in the fourth quarter.
    • Derivative contracts remain concentrated in interest rate products, which comprise 82% of total derivative notional values. The notional value of credit derivative contracts decreased by 2% during the quarter to $15.9 trillion. Credit default swaps are 98% of total credit derivatives.

    Derivatives activity in the U.S. banking system is dominated by a small group of large financial institutions. Five large commercial banks represent 96% of the total industry notional amount and 81% of industry net current credit exposure.

  • Reform International Financial Regulatory Framework:A Few Remarks
    Research Institute of Finance & Banking
    People's Bank of China

    In the midst of the current financial crisis, the needs for major reform of the global financial system and global financial stability framework have been increasingly recognized. Policymakers and international organizations have made substantial efforts to improve the international financial system including financial regulation and supervision. Various proposals have come forward on priority areas such as redefining the scope and boundaries of financial regulation and supervision, tackling issues of pro-cyclicality in the system, retooling capital and provisioning requirements as well as refining valuation and accounting rules, and some consensus has been reached. Among others, the Group of Thirty has published a Financial Reform report, and FSF and BCBS have undertaken some work on various aspects of financial regulation and Basel II framework. A number of regulators and the financial industry have initiated a centralized clearing and central counter-party mechanisms for OTC derivatives including credit default swaps (CDS). All these efforts will help to fend current crisis and future risks. However, we also note that several issues with respect to the financial regulatory framework have not received adequate attentions. In this note, we would like to explore these issues and provide relevant suggestions.


  • U.K. Bond Auction Fails for First Time in 14 Years - WSJ.com.
    Isto significa que já nem as emissões de dívida pública funcionam. Por isso Gordon Brown quer que os governos do G20 esmifrem os seus concidadãos para refinanciar o falido FMI. Refinanciado este, não serão só os países pobres do Terciro Mundo que poderão então acolher-se à sombra castigadora do FMI. Não — é a própria planície de sua majestade a rainha de Inglaterra!

  • OECD predicts 10% jobless rate for 2010

    By Chris Giles in London, Ralph Atkins in Frankfurt and Mark Mulligan in Madrid
    Published: March 30 2009 20:02 | Last updated: March 30 2009 20:46 — Finantial Times.co.

    One in 10 workers in advanced economies will be without a job next year, “practically with no exceptions”, the head of the Organisation for Economic Co-operation and Development said on Monday.

    In a graphic indication of the global recession’s transmission from the financial sector to the rest of the economy, Angel Gurría warned that the ranks of the unemployed in the 30 advanced OECD countries would swell “by about 25m people, by far the largest and most rapid increase in OECD unemployment in the postwar period”.

    He said the misery of joblessness – what Mr Gurría described as “rapidly turning into a jobs and social crisis” – would come as the OECD expected advanced economies to contract by 4.3 per cent in 2009 with little or no growth expected in 2010. The forecast is significantly worse than the International Monetary Fund’s most recent estimate of a 3-3.5 per cent contraction for 2009.

  • 20 Million Laid-off Migrant Workers May Send China's Unemployment Rate to 10% February 06,2009

    by CSC staff, Shanghai — China Stakes.com.
    20 million! The number of jobless migrant workers brought by the economic slowdown is even higher than the most pessimistic estimation.

    Chen Xiwen, deputy director of the Office of Central Financial Work Leading Group and director of the Office of The Central Leading Group on Rural Work, disclosed that, due to the financial crisis, about 20 million out of 130 million migrant workers, had returned home as they became jobless or failed to find jobs thanks to the economic slowdown.

    ... According to the estimation of the Ministry of Human Resources and Social Security, the over supply issue of labor will worsen in 2009, and the government will have to offer jobs to 24 million people, including 13 million new workers, 8 million laid-off workers and 3 million who are waiting for jobs.

  • China Unemployment Rate

  • 2009 world unemployment could rise by 40 million [to 230 million], says UN

    Invest in India — The global economic downturn could see 40 million more people lose their jobs by the end of the year, taking the unemployment rate to its highest in a decade, the U.N. labor agency said Wednesday.

    The number of unemployed in 2009 will largely depend on how effective governments’ economic stimulus measures are, the International Labor Organization cautioned.

    Worldwide unemployment by the end of the year will range between 210 million and 230 million people, the agency said in its annual Global Employment Trends report.

OAM 567 01-04-2009 18:26 (última actualização: 02-04-2009 00:09)

terça-feira, março 31, 2009

Portugal 94

Uma manifestação da GNR?!

APG lidera manifestação contra «degradação» das condições de serviço
A Associação de Profissionais da Guarda vai estar na liderança de uma manifestação de agentes da GNR que vão protestar contra a «degradação» das condições de serviço. José Manageiro fala mesmo em «absoluta escravatura» na GNR. — TSF.

Quando a guarda pretoriana do regime, espécie de última ratio da ordem civil, fala de escravatura a propósito das condições económicas e de serviço a que terá chegado, temos uma vaia ao regime bem maior e mais grave do que aquela que o actual primeiro ministro sofreu no CCB depois de chegar meia hora atrasado à estreia da ópera Crioulo.

O cerco ao governo PS está cada vez mais apertado e aceso. Começo a pensar que, para além dos meus posts e da justa indignação dos portugueses perante tanta inépcia e corrupção, há mesmo uma conspiração "aliada" capitaneada pelo agente laranja colocado em Bruxelas por Bush e Blair —Durão Barroso, pois quem havia de ser!— para derrubar a estratégia da tríade de Macau.

Mas disto escreverei noutra ocasião.

A minha recomendação à tríade é esta: expliquem ao Pinóquio que será melhor para ele e para todos nós a sua imediata demissão, em nome da defesa tranquila da sua honra contra a conspiração internacional montada contra o PS e apontada directamente à sua cabeça.

António Costa deveria substituir José Sócrates, unir o partido em nome de uma estratégia clara e transparente, pondo a ênfase da sua comunicação nas interferências estrangeiras —em particular inglesa—que ameaçam uma vez mais espezinhar o país, desta vez em nome da defesa criminosa da irremediavelmente decadente aliança anglo-americana.

Os Estados Unidos e a Inglaterra estão literalmente falidos. E o que querem do G20 é que o resto do mundo morra de fome e bombas em nome do seu insustentável estilo de vida, safando uma vez mais a mesmíssima canalha que precipitou o planeta na maior crise económica e social da sua história: JP Morgan, Goldman Sachs e quejandos, FMI e ainda os paraísos fiscais sediados nas ilhas privadas de sua majestade pirata a rainha de Inglaterra.

Para o eixo Londres-Washington, a Portugal não é permitido mijar fora do penico. E mijar fora do penico é, por exemplo, estabelecer uma nova triangulação estratégica activa entre Portugal, a Rússia, o Brasil, a Venezuela, Angola, Guiné e Moçambique, China e Timor.

Para o súbdito Obama e para a rainha de Inglaterra, Portugal não passa de um porta-aviões, deles, claro!

A minha avó odiava os ingleses. Começo a perceber porquê.


OAM 566 31-03-2009 13:22

segunda-feira, março 30, 2009

Socrates 19

CCB vaia José Sócrates

Quando a classe média — e já não apenas o indecoroso comunista — barafusta e vaia um primeiro ministro, das duas uma: ou o regime se emenda ou cai. A menos que enveredemos pelo tipo de populismo autoritário propugnado entre dentes por Augusto Santos Silva e pelo gajo da ERC (uma comissão de censores castrados invariavelmente chefiada por um boy do governo de turno)...

José Sócrates vaiado na ópera
29 Março 2009 - 00h30 — A lotação do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) – cerca de 1500 espectadores – esgotou na noite de anteontem. Quando o primeiro-ministro José Sócrates entrou na sala, para a estreia da ópera ‘Crioulo’, foi vaiado. O relógio marcava 21h25 – passavam, portanto, 25 minutos da hora marcada do início do espectáculo.

Não foi apenas Sócrates o apupado. Segundo uma fonte do CCB, o facto ficou a dever-se "ao atraso de comitivas oficiais". A mesma fonte adiantou ao CM que o chefe do Governo chegou ao CCB cerca das 21h10. Acompanhado pela namorada, Fernanda Câncio, aguardou ainda pelo congénere cabo-verdiano, José Maria das Neves. A ópera ‘Crioulo’ é da autoria de dois naturais daquele país africano, António Tavares e Vasco Martins.

Antes de se dirigir ao CCB, Sócrates tomara conhecimento da acusação de corrupção que lhe fora dirigida, no âmbito do caso Freeport, por Charles Smith, em gravação vídeo exibida no ‘Jornal Nacional’, da TVI. O seu Gabinete emitiu um comunicado, desmentindo as acusações. — José Luís Feronha in Correio da Manhã.

Em Portugal, para além de sermos todos doutores e engenheiros, fica-nos bem chegar tarde. É uma prova de poder. E como todos somos de algum modo patrões, directores, chefes e padrastos de alguém ou de alguma coisa, chegar tarde e estacionar em cima dos passeios e esquinas são duas das inexcedíveis aquisições do actual regime democrático. O que porventura começou por ser uma rebeldia contra o antigo regime ditatorial (depois de derrubado, claro!) coalhou na mioleira indolente de todos nós ao ponto de haver observadores atentos convencidos de que se trata de uma característica genética lusitana irremediável. Que nos abstemos de praticar fora do país — bem entendido.

Chegar a horas é uma tradição inglesa, germânica, francesa, japonesa, chinesa e até já espanhola. Portugal, pelo contrário, prefere a sua originalidade pindérica, e por isso continua a seguir alegremente o modelo argentino. Os médicos gostam de fazer esperar, os advogados gostam de fazer esperar, o burocrata da repartição pública nem se apercebe o quanto faz desesperar quem lhe paga o vencimento, e o político, esse então é acometido de verdadeiras explosões de prazer onanista sempre que castiga um subordinado ou cidadão com uma boa hora de seca, desfazendo-se depois em mil desculpas pelos seus imensos afazeres. Fazer a multidão esperar pelo menos três quartos de hora por um qualquer analfabeto elevado à condição de ministro, antes de uma inauguração, de um concerto ou de uma ópera é o máximo de distinção civilizacional a que a democracia a que chegámos conseguiu chegar. Que cretinos somos!

No caso em apreço, como se não bastasse a parvoíce de chegar atrasado à Ópera, os serviços de propaganda governamental tiveram ainda a distinta lata de atirar as culpas para o desgraçado primeiro ministro de Cabo Verde. Tudo para salvar o náufrago a quem uma escuteira do regime chamou literariamente "menino de ouro". Pois não tem salvação possível! Perdida a maioria absoluta, o destino do pseudo Sócrates é juntar-se ao primo de Cascais — no Nepal. Bem podiam montar por lá um restaurante de bacalhau e batatas a murro.


OAM 565 30-03-2009 23:26

sábado, março 28, 2009

G20-London 2

Lula é menos racista do que parece
O presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva disse que a crise económica foi causada por "brancos de olhos azuis" e que é errado pensar que negros pobres ou povos indígenas devam pagar pelos seus erros. — BBC.



Lula da Silva, presidente do emergente Brasil, arrasa a diligência oportunista de Gordon Brown para levar a Cimeira de Londres do G20 a deixar tudo na mesma — isto é, a facturar às classes médias e sobretudo a milhares de milhões de pobres em todo o planeta 64 anos de capitalismo de casino (desde Bretton Woods), à conta do qual a maior nação do mundo —os EUA—, mas também o Reino Unido e uma boa fatia da Europa, se endividaram alegremente à conta do saque colonial e neo-colonial dos países com recursos energéticos e matérias primas essenciais, como se a sorte da humanidade fosse um Jogo do Monópolio onde os bancos centrais se entretêm a imprimir papel de cada vez que precisam de mais dinheiro, os vampiros da especulação se divertem a destruir empresas e a fabricar quimeras bolsistas, e os governos e nomenclaturas partidárias se deixam avidamente corromper até à medula.

O ponto a que chegámos é este: há uma inimaginável dívida acumulada no buraco negro dos mercados de derivados que é impossível pagar! Mas como o que caracteriza uma dívida é que ela sempre se paga —ou por quem deve, ou por quem emprestou— estamos metidos num sarilho de proporções trágicas. Centenas de milhar de empresas, centenas de bancos e fundos de pensões, milhões de famílias e dezenas de estados irão à falência na sequência do grande crash bolsista que ainda não ocorreu mas irá ocorrer, este ano ou até 2012. A cimeira de Londres é uma tentativa desesperada, sobretudo das elites americanas e inglesas (os tais brancos de olhos azuis), de evitar ir para onde a sua irresponsável e criminosa pirataria os levou: à falência! Querem como sempre continuar a beber os mais caros Champagne (Dom Perignon, Diadema Diamante e Heidsieck ), a snifar coca Colombiana em notas de 500 euros, a degustar ovas de Beluga em salvas de prata, a conduzir Bugattis forrados a couro de vitela, e a dispor de carne adolescente em bacanais exclusivos. Ou seja, querem, como sempre, que sejam os outros, nomeadamente os pobres, pretos, asiáticos e índios a sofrer e pagar!

Eu sou branco, mas como boa parte dos portugueses tenho sangue de várias cores. Do Brasil veio um bisavô alemão, loiro e de olhos muito azuis, e uma bisavó princesa índia — de Belém do Pará. De Portugal veio seguramente muito sangue celta, judeu e algum negro dos idos tempos da escravatura, quando muito escravo se miscigenou com a já então antiga miscelânea galaico-lusitana. Lula não fez uma afirmação racista. Falou sim através de uma poderosa metáfora, em defesa da esmagadora maioria da população mundial, que não é de facto responsável —mas está a pagar as favas— pela luxúria e pirataria assassina que nos conduziu a todos para esta dramática e perigosa situação.

Ou metemos na ordem o sistema internacional e regressamos ao padrão confiável do ouro e da prata, abandonando definitivamente a especulação cambial (FOREX) e a falsificação monetária legalizada (fiat money, money out of thin air) que vigoram desde 1914 e são literalmente responsáveis pela destruição em curso do planeta e da civilização, ou caminharemos muito rapidamente para o colapso. É preciso explicar isto às pessoas. E de caminho, é preciso meter isto nas cabeças obtusas dos economistas e das nomenclaturas político-partidárias deste mundo.

A estes últimos recomendo a leitura urgente de um livro: Gold Wars, de Fernidand Lips.

OAM 564 28-03-2009 11:34