quarta-feira, dezembro 01, 2010

Regressar à monarquia

A III República faliu. E agora?



Duarte de Bragança considera que a actual crise que Portugal enfrenta é “comparável à vivida nos tempos da Primeira República”, e defende que a solução seria o país regressar à monarquia, razão pela qual insiste na realização de um referendo. — in Público.

Depois de o actual presidente da república ter presidido ao afundamento de Portugal, que nos resta? Fará sentido instaurar uma monarquia constitucional, com o objectivo de atingir a prosperidade das restantes monarquias europeias: Bélgica, Dinamarca, Espanha, Liechtenstein, Luxemburgo, Mónaco, Noruega, Países Baixos, Reino Unido e Suécia? Ou é melhor re-eleger o traste Aníbal Cavaco Silva para o cargo imprestável de presidente da república? Esta discussão parece fora do tempo, mas talvez se torne moda bem antes do senhor Duarte de Bragança ter preparado convenientemente o seu primogénito para voos inesperadamente altos.

Mesmo as piores monarquias europeias, Inglaterra, Bélgica e Espanha, estão melhores do que nós! São países civilizados, onde a lei e os tribunais funcionam a tempo e horas, há estado social efectivo, os rendimentos per capita são dos mais altos do planeta, o pluralismo partidário é total e as liberdades são conquistas plenamente assumidas por todos os actores democráticos. Tão ou mais importante: a distribuição da riqueza é muitíssimo mais justa em todas estas monarquias do que em Portugal, e os respectivos governos e partidos políticos não foram, como por cá, capturados por clientelismos partidários, corporativos, ou burocráticos, nem por nomenclaturas ocultistas, nem muito menos por castas consanguíneas. Já algum sociólogo ousou fazer um mestrado sobre os apelidos da nova nomenclatura minocrática?

Sete dos dez países com maiores rendimentos per capita no mundo, são monarquias: Luxemburgo, Noruega, Qatar, Dinamarca, Emiratos Árabes Unidos, Holanda e Suécia (Wikipedia). Não vejo, pois, onde possa estar a superioridade dos regimes republicanos, e nomeadamente das três repúblicas portuguesas que se seguiram ao regicídio. 
  • A primeira sucumbiu ao cretinismo parlamentar, à corrupção e ao ateísmo oportunista e estúpido. Nasceu sem nobreza pública, de um regicídio, e foi miseravelmente à falência.  
  • A segunda, nasceu de um golpe de estado militar, impôs-se como uma ditadura durante 48 anos, e acabou por morrer às mãos de outro golpe de estado militar.  
  • A terceira, ou seja aquela que, ironicamente, no ano do centenário do regime republicano, volta a mergulhar o país numa vergonhosa bancarrota, nasceu de uma revolta corporativa no seio do exército, impôs-se como uma democracia burocrática e populista (minocracia), sem horizonte claro nem imaginação, entregue aos mesmíssimos vícios que colocaram Salazar ao leme da mais longa ditadura europeia do século 20, e a que restam escassos anos de vida
Se a União Europeia se aguentar, ou enquanto o euro e a União Europeia se aguentarem, Portugal estará, em princípio, a salvo de novo golpe de estado, revolta popular ou guerra civil. Mas se, ou melhor dizendo, quando o sonho alemão de uma grande Europa, de Lisboa a Vladivostoque, voltar a soçobrar —o que acontecerá inevitavelmente se a guerra financeira em curso entre o dólar-libra e o euro se resolver contra o euro-marco (com o apoio entusiasta do Bloco de Esquerda e imbecis da mesma laia)—, podemos todos ter a certeza de que a Espanha voltará a ser uma ameaça à pouca soberania que Portugal ainda tem, e que este indecoroso e miserável regime republicano será pasto de novo golpe de estado e tumulto populista, se entretanto não tivermos encontrado um novo enquadramento institucional para o nosso país.

Olhando para o panorama desolador das próximas eleições presidenciais, e para o incurável e terminal cretinismo parlamentar da nossa pseudo-democracia, apenas antevejo uma solução capaz de evitar mais uma longa noite de ignorância e medo: regressar à monarquia. Ou melhor, criar uma nova monarquia, constitucional, democrática, laica, eficiente, transparente, justa e solidária. Para lá chegar não é preciso muito. Basta um referendo!

A Bulgária está a pensar fazê-lo. Somos menos espertos, ou corajosos, do que eles?

POST SCRIPTUM (2-12-2010) — Na realidade, uma monarquia europeia civilizada e pós-moderna, a que poderíamos chamar monarquia republicana (!), é em tudo semelhante a uma república, com uma única mas essencial diferença: poder assegurar, através de um biopoder residual, a existência de uma ultima ratio civilizada em caso de bloqueio grave do regime democrático. Este poder moderador, ou salomónico nos casos mais críticos, tem que estar acima das querelas partidárias, e por conseguinte não pode em caso algum emanar dos partidos políticos, nem ser por estes condicionado (desde logo na própria hipótese de candidatura). Esta monarquia republicana (isto é, constitucional, parlamentar, referendária, em suma, democrática) não resolveria, nem todos, nem sequer os nossos principais problemas, mas ajudaria a reafirmar a condição montesquiana a que toda a democracia tem que obedecer sob pena de, subvertendo a lógica da separação dos poderes, deitar fora a verdadeira democracia, colocando no seu lugar aquilo que designo por minocracia: um regime de aparência democrática, mas assente em bases eleitorais tendencialmente minoritárias, alienadas e/ou e distorcidas, e subordinado aos impérios gémeos da burocracia e da partidocracia.

terça-feira, novembro 30, 2010

Bancarrota - 7

O perú não chega ao Natal
e o reCavaco que se ponha a pau!
Insolvent – Greece, Ireland, Portugal and probably Spain
Posted by Neil Hume on Nov 30 10:45.

[...] Ireland is insolvent, Portugal is quietly insolvent, Greece is de facto insolvent and Spain will be insolvent once the problems in its banking sector are recognised.
[...] Buiter predicts the ECB could be forced to buy Spanish government paper and fund its banking system by purchasing the debt from the European Financial Stability Facility if things get really bad. — in FT Alphaville .
A compra da cadeia de lojas Carrefour pelo Continente, em 2007, coincidiu com uma proliferação de lojas de mini-preço pelo país fora. É isto que importa reter, e não a histeria hipnótica organizada em volta da vinda do FMI. Estamos falidos e em regime de piloto automático desde 8-9 de maio último, sob comando da Alemanha e do BCE. A classe partidária portuguesa, por inteiro, incluindo o traste presidencial, é responsável por este descalabro.

Como o LEAP2020/GEAB anunciou, em 8-9 de maio deste ano deu-se um golpe de Estado no seio da União Europeia, o qual devolveu à Alemanha e à França os comandos de um projecto por eles imaginado no pós-guerra. Desde aquele fim-de-semana furtivo que Portugal se tornou num protectorado de Bruxelas.

No entanto, Alemanha tem um dilema pela frente:
  • se duplicar ou triplicar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF), para acorrer às insolvências dos PIGS, da Bélgica e da própria França, incorrendo no mesmo estratagema do Quantitative Easing (QE) adoptado pela declinante América de Bush e Obama, o euro chegará rapidamente à paridade com o dólar, e as economias emergentes, capitaneadas pela China, Rússia, Brasil e Irão fugirão destas pseudo moedas de reserva a sete pés... seja para um novo regime de trocas internacionais bilaterais (yuans por rublos, reais por pesos, etc.), seja para o ouro. Se Angela Merkel optar por "salvar" os gastadores improdutivos da Europa, o ouro poderá facilmente duplicar ou triplicar o seu valor no prazo de um a dois anos!  
  • Se, por outro lado, a Alemanha deixar cair aos trambolhões uma parte significativa da União, e os PIGS empobrecerem demasiado, passando a abastecer-se cada vez mais nas lojas chinesas, a Alemanha ver-se-à forçada abandonar o euro, lançando a Europa numa convulsão sem precedentes.
É um dilema dos diabos!

Bancarrota - 6

Medidas simples, duras, mas claras e eficazes
Ponham um tecto máximo nas reformas pagas pelo Estado... de 1700 euros, e ponha-se fim à acumulação de pensões e reformas pagas com o dinheiro dos contribuintes. Como a Suíça fará a partir de 2011. Quem quiser mais, poupe e invista em PPRs.




Reformas na Suíça com tecto máximo de 1700 euros
Na Suíça, ao contrário de Portugal, não há reformas de luxo. Para evitar a ruína da Segurança Social, o governo helvético fixou que o máximo que um suíço pode receber de reforma são 1700 euros. E assim, sobra dinheiro para distribuir pelas pensões mais baixas. — 2010-11-10. Ver Causa defendida no Facebook

Banco de Portugal: Sector público tem de aumentar poupança
O Banco de Portugal antecipa uma recessão em 2011, por efeito do Orçamento do Estado. Um ajustamento inescapável, diz, defendendo como “prioridade” o aumento da poupança do sector público. Os investimentos, defende, devem ser canalizados “para finalidades comprovadamente reprodutivas”. E só a credibilidade na execução orçamental reduzirá os custos da mudança. — Jornal de Negócios.

domingo, novembro 28, 2010

Bancarrota-5

Dívidas soberanas, quem paga?

Photograph: Matt Dunham/AP
The sorrow of Portugal

Yesterday, I had a rather sad conversation with a friend in Portugal. The country has just had to force through another austerity budget; and fears are mounting that it will be next in line for an EU bail-out. “We should never have entered the euro”, my friend lamented. “Everything went downhill from there. For us and for everyone.” — in Finantial Times, Nov. 26, 2010.

Those too young to vote, yet with their futures at stake, have organically come together to be heard.

'The word spread through Twitter and Facebook; rumours passed around classrooms and meeting halls: get to Westminster, show them your anger.'

Outside Downing Street, in front of a line of riot police, I am sitting beside a makeshift campfire. It's cold, and the schoolchildren who have skipped classes gather around as a student with a three-string guitar strikes up the chords to Tracy Chapman's Talkin Bout a Revolution. The kids start to sing, sweet and off-key, an apocalyptic choir knotted around a small bright circle of warmth and energy. "Finally the tables are starting to turn," they sing, the sound of their voices drowning out the drone of helicopters and the screams from the edge of the kettle. "Finally the tables are starting to turn."

Then a cop smashes into the circle. The police shove us out of the way and the camp evaporates in a hiss of smoke, forcing us forward. Not all of us know how we got here, but we're being crammed in with brutal efficiency: the press of bodies is vice-tight and still the cops are screaming at us to move forward. Beside me, a schoolgirl is crying. She is just 14. — in Guardian.co.uk, 24 Nov, 2010.

A União Europeia pode quebrar pelo elo mais forte: a Alemanha. Porquê? Porque das duas uma: ou os estados falidos da Europa assumem rapidamente dietas violentas nos seus orçamentos Pantagruélicos, e por esta via põem em causa os privilégios das corporações, nomenclaturas, burocracias e bases eleitorais de que dependem para se manterem no poder, ou então, persistem nas actuais manobras de retórica populista e de dissimulação orçamental com as graves implicações que uma tal opção terá para o euro enquanto moeda de reserva alternativa ao papel higiénico norte-americano. Adiar por mais um ano, ou até por mais seis meses, a inevitável austeridade orçamental que permitirá estancar a gangrena financeira dos países sobre-endividados, levará o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF) a ter que duplicar a sua actual capacidade de resgate das dívidas soberanas (750 mil milhões de euros), para acudir ao dominó das bancarrotas europeias actualmente em curso.

A simples probabilidade de o Banco Central Europeu entrar pela mesma via da Reserva Federal, o chamado Quantitative Easing (QE), pondo os computadores a criar dinheiro electrónico sem qualquer base de riqueza efectivamente criada, levou já o Brasil, a China, a Rússia e o Irão —a que se somará em breve um número crescente de países produtores de matérias primas, energia e trabalho barato— a estabelecer uma estratégia monetária de recurso que poderá passar pelo abandono das moedas de reserva americana e europeia. A actual corrida ao ouro e à prata, e a retenção destes metais preciosos pelos grandes produtores, são um sintoma claro de que o sistema monetário nascido dos acordos de Bretton Woods está mais do que moribundo. Morreu e vai ser em breve enterrado.

Os verdadeiros credores da nossa dívida colectiva, pública e privada, isto é, aqueles que produzem a maioria dos bens transaccionáveis que preenchem as nossas vidas mais ou menos confortáveis e neuróticas, não estão dispostos a financiar por muito mais tempo o nosso consumo e o nosso lazer sem um contra-valor real. A China, o Brasil, a Rússia, o Irão, e os estados petrolíferos do Médio Oriente, estão atulhados de liquidez virtual e fartos de inflação. Querem agora uma parte crescente dos nossos activos em troca de mais petróleo, em troca de mais soja, e em troca de mais telemóveis e computadores.

A Revolução Industrial fez-se em cima de uma escabrosa pilha de cadáveres e escravos. Durou 200 anos e não sobreviverá a 2030. Os escravos coloniais, sobretudo depois do renascimento da China, e da grande rebelião muçulmana em curso, deixaram de obedecer ao império judaico-cristão e rejeitam também categoricamente a supremacia branca, anglo-saxónica e protestante. Um novo mundo, inimaginável por enquanto, está em gestação. A geratriz desta revolução está no Oriente. Aos antigos cruzados resta-lhe acordar.

Os desafios são arrepiantes. Não, não são nenhuma farsa, como as minocracias burocráticas europeias querem fazer crer. A Alemanha está muito consciente destas ameaças, e por isso não irá tolerar por muito mais tempo a irresponsabilidade populista dos pequenos burocratas e regimes corruptos do Sul da Europa. Em breve colocará a União perante um dilema sem precedentes: ou se colocam os PIGS em quarentena, fora do euro, durante 1, 2, 4... 10 anos, ou a Alemanha bate com a porta e regressa ao marco. Se o falido Reino Unido continua com a sua libra esterlina, se a Suécia continua com a sua coroa, porque não libertar a economia alemã do fardo de alimentar porcos a pérolas e burros a pão de Ló? Na realidade, parece-me mais verosímil uma saída da Alemanha do Sistema Monetário Europeu, do que a expulsão das paquidérmicas minocracias burocráticas do Sul da Europa, e da sacrificada Irlanda, do ilusório bem-estar em que têm vivido desde o aparecimento da moeda única.

Premier Wen Jiabao shakes hands with his Russian counterpart Vladimir Putin
on a visit to St. Petersburg on Tuesday. ALEXEY DRUZHININ / AFP

China, Russia quit dollar in trade settlement

China and Russia have decided to renounce the US dollar and resort to using their own currencies for bilateral trade, Premier Wen Jiabao and his Russian counterpart Vladimir Putin announced late on Tuesday. — in People's Daily Online, November 24, 2010.

Yuan begins trading against the rouble

SHANGHAI - China started allowing the yuan to trade against the Russian rouble in the interbank market from Monday as policymakers promote the currency's use in global trade and finance.

The move will help "facilitate bilateral trade between China and Russia and help develop yuan trade settlements," according to a statement published on the website of the China Foreign Exchange Trade System (CFETS), a subsidiary of the People's Bank of China. — in China Daily, Nov. 23, 2010.

Crisis of Fiat Currencies: US Dollar Surpluses Converted into Gold
China, Russia, Iran are Dumping the Dollar

China and Russia are both large gold producers and for a number of years have been buying up domestic gold and silver production, so that it never reaches the market and does not affect prices. If anything the absence of sales tends to push the markets higher. As a matter of fact Russia and India are visible buyers. Even Iran with its oil surplus recently announced that they had purchased 340 tons of gold. Their recent gold purchases are very significant as affiliate members, which have access to the present and ultimate direction of the group. You might say buying gold has been a protective effort to shield members and close observers from the problems generated by dollar policies. They are accumulating gold, as many have been worldwide, for the past ten years, but particularly over the past few years. — in Global Research, November 22, 2010.

China to rebuild Argentine rail
BEIJING - CHINA and Argentina have agreed to invest about US$10 billion (S$13.8 billion) over several years to renovate the Latin American country's dilapidated railway system and build a subway for its second-largest city.

(…) Argentina's once-extensive rail network was largely dismantled during the privatisations of the 1990s. But as agricultural output soars, farmers and grain elevators - who send more than 80 per cent of grains by costly road transport - have been calling for investment to revive the railways. —  in Strait Times, Jul 13, 2010.

China, Argentina to settle trade in yuan: Xinhua

HONG KONG (MarketWatch) -- China and Argentina have agreed to set up a 70 billion yuan ($10.24 billion) currency swap system that will enable trade between the two nations to be settled in the Chinese currency, the state-run Xinhua News Agency reported Monday. — in Market Watch, March 30, 2009.

Os dados estão lançados. Não vejo como possamos, a menos que optemos por uma sinistra deriva suicida, deixar de olhar os problemas de frente. A globalização, tal como foi engendrada, exportou a economia para o Oriente (1) e levou o Ocidente à bancarrota. Para controlar os estragos e retomar um certo equilíbrio na divisão internacional do trabalho teremos que voltar a levantar barreiras à circulação libertina dos capitais, das mercadorias e das pessoas, em nome da integridade produtiva das nações e em nome da sustentabilidade dos ecossistemas de que a vida humana é parte integrante e indissociável.

As democracias ocidentais deixaram há muito de ser democracias (basta ler as estatísticas eleitorais.) Na realidade, o que temos são sociedades burocráticas sem trabalho, que nada ou pouco produzem, e que consomem o que de facto não podem pagar, a não ser contraindo mais daquilo que rapidamente aprendemos todos a contrair nas últimas quatro décadas: dívidas!

Os países europeus terão que passar rapidamente por um processo de profunda revolução ideológica e política. Vai ser preciso libertar da esfera burocrática estatal toda a comunicação, toda a administração e toda a ciência. Mas vai ser, por outro lado, absolutamente necessário reincorporar na esfera social, de uma forma distinta dos actuais sectores públicos, e público-privados, o bem comum: o ar que respiramos, a água que bebemos e alimenta o resto da Natureza, as vias da mobilidade humana, as fontes de energia, a agricultura e a indústria. Não é a propriedade privada em si que está em causa, mas a sua concentração, monopolização e transfiguração financeira. A tarefa é avassaladora e complexa. Mas nem por isso menos inadiável.


NOTAS
  1. List of countries by steel production

sábado, novembro 20, 2010

O amigo americano

Portugal, uma espécie de Suíça diplomática?

Air Force One com Barack Obama aterra na Portela (Foto —pormenor— de Rui Spotter)
Com a 10ª maior ZEE do mundo em perspectiva, Portugal passará a deter um domínio estratégico na ordem dos 3.119.799 Km2. Só para termos uma ideia do que isto é, basta pensar que corresponde mais ou menos à superfície da Índia. Embora o Portugal à tona dos mares (continental e insulares) ocupe a modestíssima posição 109 entre todos os países do mundo, já quando medimos o território nacional e a sua ZEE, ficaremos certamente entre os 10 maiores países do mundo!  — in O António Maria, 22 nov 2008.

Escrevi há exactamente dois anos atrás que Portugal voltará a ter um papel de charneira diplomática entre o Ocidente e o Oriente. A formulação de um novo Tratado de Tordesilhas aproxima-se rapidamente. Previ então que a nova Rússia penderia para Ocidente. Vamos ver o que nos reservam a segunda viagem de Medvedev a Portugal e esta crucial Cimeira da NATO (1).

Pensemos por um momento nesta coincidência: Durão Barroso tornou-se presidente da Comissão Europeia na era Bush, e viu renovado o seu cargo já com Obama no poder; Vítor Constâncio é chamado a ocupar o cargo de vide-presidente do Banco Central Europeu no pico da maior crise financeira mundial desde 1929, e certamente naquela que é a maior ameaça à consolidação do euro como nova moeda de reserva mundial; Portugal venceu o Canadá na corrida para a posição de membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU; António Borges é o novo director para a Europa do FMI; António Horta Osório tornou-se recentemente presidente executivo do Lloyds Bank, deixando o Santander; Hu Jintao decidiu fazer uma viagem relâmpago a Lisboa poucos dias antes da cimeira da NATO, a que se seguiria uma viagem igualmente relâmpago de Sócrates a Macau, para se encontrar com o primeiro ministro chinês Wen Jiabao; Obama, enfim, escolhe Portugal para aquela que é já uma das mais importantes reuniões da NATO de sempre — pois, ao contrário dos inúmeros obituários já escritos sobre a organização, esta poderá ser dado neste encontro à beira Tejo o pontapé de saída para uma nova partilha do planeta entre os hemisférios ocidental e oriental. É o que venho chamando há já alguns anos o novo Tratado de Tordesilhas.


Tal como quando a Inglaterra viu bloqueados os seus acessos ao Oriente e ao Norte de África, por causa do fiasco das Cruzadas e da Guerra dos Cem Anos, teve que se virar para a praia lusitana, casando a sua Princesa Filipa de Lencastre com João I de Portugal, como meio expedito de lançar uma ponte em direcção ao Golfo da Guiné (a célebre Costa do Ouro), onde se encontrava o metal de que tanto precisava, nomeadamente para pagar a guerra contra os franceses, também agora a América e o Reino Unido, ambos falidos até à medula, e de quem a Alemanha, a Rússia, a China e 4/5 do planeta desconfiam, precisam hoje de Portugal e do seu imenso mar territorial, para segurar o Atlântico Norte e Sul, impedir a expansão descontrolada da China e garantir os bons ofícios de um amigo nos corredores da diplomacia do euro.


Portugal é um país pequeno, mal governado e coberto de dívidas. Mas se houver alguém lúcido entre as nossas desmioladas elites, verá que está na hora de arregaçar as mangas e de disciplinar a burguesia clientelar, as corporações profissionais e partidárias, e a burocracia, por forma a podermos tirar real vantagem da nossa nova centralidade geo-estratégica. É preciso acantonar imediatamente a corrupção, o desperdício e a balbúrdia parlamentar. Só depois, poderemos renegociar as nossas dívidas em paz, sem assassinar a classe média, nem humilhar os pobres, os desempregados e os idosos. Só depois poderemos cobrar à vontade, de Washington a Pequim, a nossa boa vontade e experiência diplomáticas. Um pequena quermesse entre os grandes colocará as nossas finanças públicas em ordem num ápice. Mas antes de tudo o mais teremos que despedir o imprestável Sócrates, e o imprestável Cavaco, mais as procissões de inúteis e corruptos que os seguem.

NOTAS
  1. Pouco depois de publicado este texto, veio a confirmação (ler notícia do DN) de que a Rússia iniciou oficialmente um processo de convergência com os países da NATO. O cenário de um dia destes estar entalada entre a China e o Irão foi seguramente determinante para a nova estratégia de Moscovo.

terça-feira, novembro 16, 2010

Novo Estado

nE
O Estado português nascido em 25 de Abril de 1974 morreu de hipertrofia. Logo, é preciso um "novo Estado" (nE). Não confundir com Estado Novo!

O velho Estado era assim:
  • grande, obeso, paquidérmico
  • invasivo
  • ineficiente
  • gastador
  • burocrático
  • corporativo
  • clientelar
  • opaco
  • populista
  • corrupto
O novo Estado deveria ser assim:
  • pequeno
  • regulador
  • eficiente
  • poupado
  • expedito
  • estratégico
  • democrático
  • transparente
  • solidário
Os paradigmas actuais da discussão política, impostos pelos partidocratas do regime, são inúteis. É preciso mudar os termos do debate público democrático.

Banqueiros piratas

Não têm emenda!



Sócrates e Cavaco querem negociar por baixo da mesa, com Passos de Coelho, duas grandes obras públicas desenhadas à medida das suas clientelas: o novo aeroporto da Ota em Alcochete (os terrenos foram comprados pela SLN dos piratas do BPN) e o "TGV", por imposição dos nossos maiores credores: Espanha!

O que o pirata-mor Ricardo Salgado disse à senhora Judite de Sousa na Grande Entrevista da RTP 1 sobre o novo aeroporto e a TAP é uma completa mistificação e mais uma tentativa descarada de embuste. Foi para passar esta manobra que se fez "entrevistar". Já ninguém se lembra, pelos vistos, se é que alguma vez a imprensa se fez eco do escândalo, que foi este mesmo pirata quem impingiu a falida Portugália Airlines (PGA) à falida à TAP, por mais de 100 milhões de euros!

Vamos aos factos duradouros e praticamente inamovíveis:
  • Tráfego de e para a Europa na Portela = 84%
    • União Europeia — 55%
    • Portugal e Ilhas — 24%
    • restante Europa — 5%
  • Tráfego de e para países terceiros = 16,5%.
    Curiosidade: nestas rotas, em 2007, apenas um Boieng 747 aterrava diariamente na Portela, mas há 10 anos eram 4, e no início dos anos 70 aterravam e descolavam diariamente várias destas enormes aeronaves.
A pergunta óbvia é esta: justifica-se gastar 5 mil milhões de euros para servir o A380?
Claro que não! E porquê?
  1. Em primeiro lugar, porque o A380, mais silencioso e ágil do que o Boeing 747, pode aterrar e manobrar perfeitamente na Portela;
  2. Em segundo lugar, e mais importante, porque o A380 vai ser utilizado sobretudo nas rotas de longo curso e grande tráfego como as de Nova Iorque-Paris, Nova Iorque-Londres, São Paulo-Londres, São Paulo-Paris, São Paulo-Frankfurt, São Paulo-Beijing, São Paulo-Xangai, etc. Ou seja, num campeonato que não está ao alcance de um país periférico e falido como Portugal.
Logo, o que está em causa na manobra de pressão do senhor do BES, e por interposta pessoa, dos piratas da SLN/BPN, e dos seus acólitos partidários, é simplesmente compensar, num toma lá dá cá, a ligação ferroviária de Alta Velocidade/Velocidade Elevada para passageiros e mercadorias entre Caia e Lisboa (Poceirão e Pinhal Novo ficam na Grande Lisboa!), contratada e confirmada com Madrid em várias cimeiras ibéricas, por um aeroporto inútil que, não só não salvará a falida TAP, como, tal como sucedeu com o novo aeroporto de Atenas, nos conduzirá mais depressa para uma década de bancarrota e vergonha nacional.

A canalha que se governa com o país só tem que ter presente uma coisa: sempre que fomos à falência, o regime mudou de mãos!