domingo, fevereiro 15, 2015

Michael Pettis e a crise da dívida europeia

Bismarck e Napoleão III depois da Batalha de Sedan

Plano Varoufakis: trocar a dívida existente por obrigações indexadas ao crescimento (é melhor que nada!)


“Because the major parties have refused to acknowledge the nature of this allocation process, and have turned it into a fight between a creditor Germany, on the one hand, and indebted peripheral European countries on the other, I was able to make in 2010-11 one of the easiest predictions I have ever made in my career — whichever extremist parties, whether of the right or of the left, who first went on the offensive against Germany, the bankers and the currency bureaucrats, I predicted, would surge in electoral popularity and would eventually reformulate the debate”— Michael Pettis.

Se nenhum partido do centro enfrentar a crise das dívidas europeias, nomeadamente em países da zona euro como a Irlanda, Grécia, Espanha, Portugal, Itália e França, a extrema-esquerda, ou a extrema-direita, chegará ao poder com mandato popular para o fazer. Se serão ou não capazes de cumprir a missão, e com que consequências, é algo que iremos começar a perceber ao longo das próximas semanas e meses depois da vitória democrática do Syriza na Grécia. Algo parece já ter perturbado, como nada até agora o fizera, o status quo apodrecido da nomenclatura que mal tem dirigido os destinos económicos, financeiros, sociais e diplomáticos da União Europeia.

Para os que se interessam por estas coisas, o post viral de Michael Pettis(1) sobre o pouco científico jogo de passa culpas entre os credores e os devedores europeus merece uma leitura atenta por parte de quem busque uma resposta ao que parece ser a quadratura do círculo: como resolver as gigantescas dívidas públicas e privadas que começaram a paralisar inúmeros países e economias, sem destruir os devedores, nem os credores?

Para efeitos de simplificação narrativa, os credofres são protagonizados pela Alemanha, e os devedores, pela Espanha. Ao longo do seu longo post Pettis explica como Wolfgang Schaeuble não teve nenhuma razão quando afirmou —logo papagueado pelos nossos infelizes PM e PR— que

“The reasons for Greece’s problems can be attributable only to Greece and not to actors outside the country, and certainly not in Germany.”
O artigo de Pettis recua até à Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871, que deu a Bismarck uma grande oportunidade, ao vencer os franceses, de avançar decisivamente para a unificação alemã. A derrota da França, por sua vez, não só acabou com o regime decadente de Napoleão III, não só instaurou a III República francesa, como foi palco de uma das maiores indemnizações de guerra integralmente pagas de que há registo: cinco mil milhões de francos de ouro—23% do PIB francês(2).

O pedido inicial de indemnização teria sido de mil milhões, mas os alemães resolveram aumentar astronomicamente este valor nos termos finais do Tratado de Frankfurt, pretendendo assim colocar a França economicamente de rastos, sem fôlego para perturbar o caminho da jovem nação alemã. Para surpresa de todos, dos mercados, e certamente dos alemães, o prazo imposto para a liquidação da dívida —3 anos— foi antecipado em um ano pelo sucesso de duas emissões de dívida soberana francesa cuja procura largamente superou a oferta.

Mas o mais extraordinário é que o afluxo desta pipa de massa —para usar uma expressão recente de Durão Barroso a propósito do Acordo de Parceria 2014-2020— acabaria por lançar a Alemanha na sua primeira Grande Depressão (1873). Foi neste ano que nasceu o Deutsche Bank, o mesmo que hoje tem uma exposição aos derivados financeiros de 54,7 biliões de euros, quase 20x o PIB alemão, quase 6x o PIB da UE. Se apenas 10% desta exposição acabar em default, quem irá ensopar então um buraco de dívidas equivalente a duas vezes o PIB alemão?

De quem foi a culpa?

Dos franceses que pagaram as indemnizações de guerra, ou da Alemanha que usou o dinheiro como os PIIGS, em parte, desperdiçaram fundos comunitários e investimento estrangeiro em autoestradas para lado nenhum, barragens inúteis, rotundas idiotas e um Mercedes à porta de cada Câmara Municipal, ou ainda férias em praias exóticas, como se não tivessemos mais de 1800 Km de costa marítima?

O post de Michael Pettis vem na linha da sua tese de que as grandes crises de gestão dos défices e das dívidas têm frequentemente, pelo menos na sua fase inicial, causas externas. Neste sentido, quando as mesmas ficam fora de controlo, a melhor saída possível para devedores e credores pode exigir a anulação parcial das dívidas e a reestruturação.

Mas não é isto que o BCE tem vindo a fazer na Eurolândia salvando, desde logo, os bancos da famosa crise sistémica? Não tem havido abatimentos parciais, extensões de prazos e reduções sucessivas de juros nalgumas dívidas públicas? Sim, mas Pettis afirma que a fatura tem sido enviada sobretudo aos trabalhadores e à classe média, com prejuízos graves para um eventual regresso ao crescimento.

Defende, assim, que seria melhor uma ação de reestuturação clara das dívidas, em vez de prolongar as meias medidas, a indecisão, e sobretudo a agonia social que trava o regresso ao crescimento e, desde logo, a confiança dos mercados! 

Aviso final aos portugueses

Nas próximas eleições não podemos votar uma vez mais nos que criaram a crise. Ou não votamos, ou votamos em quem for capaz de, entretanto, trazer para a mesa da discussão democrática ideias claras sobre como levantar a canga da dívida que tem vindo a esmagar a nossa economia e as nossas vidas.

Os partidos do Bloco Central empurraram Portugal para o lixo, e não apresentaram até agora soluções credíveis para sairmos da escravidão da dívida. Enquanto não expurgarem de si mesmos os ativos tóxicos e a corrupção entranhada não serão capazes, nem de tirar o país da miséria para que caminha, nem sequer de participar em soluções que outros proponham aos portugueses e em quem o país confie para as aplicar.

Precisamos de imaginação e coragem para desenhar e adotar um mecanismo novo de resolução da dívida pública portuguesa, que não seja um grilhão inibidor do crescimento e do emprego, mas um compromisso social claro que trave a corrupção e garanta o controlo das contas públicas, a transparência e as condições de um crescimento sustentável.


Toulouse-Lautrec. O Fotógrafo, Place pigeon, 9 (1894)

Syriza and the French indemnity of 1871-73
By Michael Pettis · February 4, 2015
CHINA FINANCIAL MARKETS

“...the current European crisis is boringly similar to nearly every currency and sovereign debt crisis in modern history.
— extratos

[...]

“Except for Greece, in Europe the main political parties on both sides of the political spectrum have until now chosen to maintain the value of the currency and protect the interests of the creditors. It has been the extremist parties, either on the right or the left, who have attacked the currency union and the interests of the creditors. In many cases these parties are extreme nationalists and oppose the existence of the European Union. If they succeed in taking control of the debate, the European experiment will almost certainly collapse, and it will take decades, if ever, for a European union to revive.

But while distortions in the savings rate are at the root of the European crisis, many if not most analysts have failed to understand why. Until now, an awful lot of Europeans have understood the crisis primarily in terms of differences in national character, economic virtue, and as a moral struggle between prudence and irresponsibility. This interpretation is intuitively appealing but it is almost wholly incorrect, and because the cost of saving Europe is debt forgiveness, and Europe must decide if this is a cost worth paying (I think it is), to the extent that the European crisis is seen as a struggle between the prudent countries and the irresponsible countries, it is extremely unlikely that Europeans will be willing to pay the cost. As my regular readers know, I generally refer to the two different groups of creditor and debtor countries as “Germany” and “Spain”, the former for obvious reasons and the latter because I was born and grew up there, and it is the country I know best. I will continue to do so in this blog entry.”

[...]

“It is useful to remember this history when we confront the consequences of Greece’s recent elections. Syriza’s victory in Greece has reignited the name-calling and moralizing that has characterized much of the discussion on peripheral Europe’s unsustainable debt burden. I think it is pretty clear, and obvious to almost everyone, that Greece simply cannot repay its external obligations, and one way or another it is going to receive substantial debt forgiveness. There isn’t even much pretence at this point. This morning financial advisor Mish Shedlock, sent me (as a joke? as a sign of despair?) German newspaper Zeit‘s interview with Yanis Varoufakis entitled “I’m the Finance Minister of a Bankrupt Country”.

Even if the question of who is to “blame”, Greece or Germany, were an important one, the answer would not change the debt dynamics. It would take the equivalent of Ceausescu’s brutal austerity policies in Romania, which were imposed during the 1980s in order for the country fully to repay its external debt, to resolve the Greek debt burden without a write-down. Given that Ceausescu’s policies led directly to the 1989 revolution, which culminated in both Ceausescu and his wife being executed by firing squad, the reluctance in Athens to imitate Romania in the 1980s is probably not surprising.”

[...]

“If the restructuring is well designed, within a year of the restructuring I think we could easily see Greek growth surprise us with its vigor. I was delighted to see that Greece’s new Finance minister agrees. An article in Monday’s Financial Times starts with the claim that “Greece’s radical new government revealed proposals on Monday for ending the confrontation with its creditors by swapping outstanding debt for new growth-linked bonds, running a permanent budget surplus and targeting wealthy tax-evaders.” Today’s Financial Times has an article by Martin Wolf that mentions the benefits of “a growth linked bond”. In The Volatility Machine I spend chapters explaining how to create liability structures that minimize external shocks, align the interests of creditors and citizens, and improve the quality of payments for creditors, and I show why these make a restructuring much more successful for all parties concerned. This is just basic finance theory. Yanis Varoufakis should really take the lead in designing an entirely new form of sovereign debt restructuring, not just for Greece but for the many countries, in Europe and elsewhere, that will soon follow it into default.

Enough people seem to hate or fear Syriza that there will be little attempt to approach Greece’s problems with enough imagination to give either party what it needs, but in fact with the right cooperation, imagination, and intuitive understanding of how balance sheet structures change overall value creation, a Greek debt restructuring could leave both sides far better off than either side might imagine. Of course if done right this matters far more than for just its impact on the Greek economy. While everyone probably agrees that Greece simply cannot proceed without debt forgiveness, less widely agreed, but no less obvious in my opinion, is that there are a number of other European countries that also need debt forgiveness if they are to grow. Because I was born and grew up in Spain, and my French mother founded and ran a successful business there which my family and I still own, I am confident that I know the country well enough to say that even with some impressive reforms having been implemented under Mariano Rajoy, Spain is nonetheless one of these countries. I suspect that many other countries including Portugal, Italy, and maybe even France are too.

I also know, however, that Spanish debt prospects are an extremely sensitive and emotional topic, and I will be roundly condemned for saying this. Today’s Financial Times has a very worrying article explaining why Madrid wants to be seen among the hardliners in opposing a rational treatment for Greece: “when it comes to helping Greece, there will be no such thing as southern solidarity or peripheral patronage.” This is the reverse of what it should be doing. In an article for Politica Exterior in January 2012, I actually proposed, albeit without much hope, that Spain take the lead and organize the debtor countries to negotiate a sustainable agreement, but in its fear of Podemos, the Spanish equivalent of Syriza, and its determination to be one of the “virtuous” countries, it strikes me that Madrid is probably moving in the wrong direction economically. Ultimately, by tying itself even more tightly to the interests of the creditors, Rajoy and his associates are only making the electoral prospects for Podemos all the brighter.”

[...]

“1.  There is no question that a renegotiation of Spanish debt or of its status within the currency union would be accompanied by economic hardship and perhaps even a crisis. But compared to what? The Spanish economy is already in disastrous shape and there is compelling historical evidence that countries suffering under excessive debt burdens can never grow their way out of their debt no matter how radical and forceful the reforms.”

[...]

“Some economists argue the facts on the ground already contradict my pessimism. Last week Madrid announced excitedly that GDP grew by 1.7% last year, its fastest pace in seven years. The Financial Times pointed out that Spain was well-positioned in 2015 to continue to take advantage of lower energy costs, a weaker euro, and a cut in personal and corporate taxes, to which I would add lower metal prices, massive QE, and stronger than expected consumption. But even if these tailwinds are permanent, and they clearly are not, nominal GDP growth is still much lower than the growth in the debt burden. This is as good as it gets, in other words, and it is not good enough. As the debt burden continues to climb, and as social and political frustrations mount, Spain will slide inexorably backwards into the backward-country status it wants so badly to avoid.”

[...]

“Above all this is not a story about nations. Before the crisis German workers were forced to pay to inflate the Spanish bubble by accepting very low wage growth, even as the European economy boomed. After the crisis Spanish workers were forced to absorb the cost of deflating the bubble in the form of soaring unemployment. But the story doesn’t end there. Before the crisis, German and Spanish lenders eagerly sought out Spanish borrowers and offered them unlimited amounts of extremely cheap loans — somewhere in the fine print I suppose the lenders suggested that it would be better if these loans were used to fund only highly productive investments.

But many of them didn’t, and because they didn’t, German and Spanish banks — mainly the German banks who originally exported excess German savings — must take very large losses as these foolish investments, funded by foolish loans, fail to generate the necessary returns. It is no great secret that banking systems resolve losses with the cooperation of their governments by passing them on to middle class savers, either directly, in the form of failed deposits or higher taxes, or indirectly, in the form of financial repression. Both German and Spanish banks must be recapitalized in order that they can eventually recognize the inevitable losses, and this means either many years of artificially boosted profits on the back of middle class savers, or the direct transfer of losses onto the government balance sheets, with German and Spanish household taxpayers covering the debt repayments.”

“I am not rejecting the claim that “Spain” acted irresponsibly, in other words, only to place the blame on “German” irresponsibility. But it is absolutely wrong for Volker Kauder, the parliamentary caucus leader of German Chancellor Angela Merkel’s Christian Democrats, to say, according to an article in last week’s Bloomberg, that “Germany bears no responsibility for what happened in Greece. The new prime minister must recognize that.” There was indeed plenty of irresponsible behavior on both sides, during which time wealth was transferred from workers of both countries to create the boom and to absorb the subsequent bust, and wealth will be transferred again from middle class households of both countries to clean up the resulting debt debacle.”

Put differently, there is no national virtue or national vice here, and there is no reason for the European crisis to devolve into right-wing, nationalist extremism. The financial crisis in Europe, like all financial crises, is ultimately a struggle about how the costs of the adjustment will be allocated, either to workers and middle class savers or to bankers, owners of real and financial assets, and the business elite. Because the major parties have refused to acknowledge the nature of this allocation process, and have turned it into a fight between a creditor Germany, on the one hand, and indebted peripheral European countries on the other, I was able to make in 2010-11 one of the easiest predictions I have ever made in my career — whichever extremist parties, whether of the right or of the left, who first went on the offensive against Germany, the bankers and the currency bureaucrats, I predicted, would surge in electoral popularity and would eventually reformulate the debate.”

[...]

“I think there are several points that those of us who want “Europe” to survive should be making.

1.  The euro crisis is a crisis of Europe, not of European countries. It is not a conflict between Germany and Spain (and I use these two countries to represent every European country on one side or the other of the boom) about who should be deemed irresponsible, and so should absorb the enormous costs of nearly a decade of mismanagement. There was plenty of irresponsible behavior in every country, and it is absurd to think that if German and Spanish banks were pouring nearly unlimited amounts of money into countries at extremely low or even negative real interest rates, especially once these initial inflows had set off stock market and real estate booms, that there was any chance that these countries would not respond in the way every country in history, including Germany in the 1870s and in the 1920s, had responded under similar conditions.

2.  The “losers” in this system have been German and Spanish workers, until now, and German and Spanish middle class savers and taxpayers in the future as European banks are directly or indirectly bailed out. The winners have been banks, owners of assets, and business owners, mainly in Germany, whose profits were much higher during the last decade than they could possibly have been otherwise

3.  In fact, the current European crisis is boringly similar to nearly every currency and sovereign debt crisis in modern history, in that it pits the interests of workers and small producers against the interests of bankers. The former want higher wages and rapid economic growth. The latter want to protect the value of the currency and the sanctity of debt.

4.  I am not smart enough to say with any confidence that one side or the other is right. There have been cases in history in which the bankers were probably right, and cases in which the workers were probably right. I can say, however, that the historical precedents suggest two very obvious things. First, as long as Spain suffers from its current debt burden, it does not matter how intelligently and forcefully it implements economic reforms. It will not be able to grow out of its debt burden and must choose between two paths. One path involves many, many more years of economic hell, as ordinary households are slowly forced to absorb the costs of debt — sometimes explicitly but usually implicitly in the form of financial repression, unemployment, and debt monetization.  The other path is a swift resolution of the debt as it is restructured and partially forgiven in a disruptive but short process, after which growth will return and almost certainly with vigor

5.  Second, it is the responsibility of the leading centrist parties to recognize the options explicitly. If they do not, extremist parties either of the right or the left will take control of the debate, and convert what is a conflict between different economic sectors into a nationalist conflict or a class conflict. If the former win, it will spell the end of the grand European experiment.”

NOTAS
  1. Michael Pettis é o autor dum famoso livro publicado em 2001 —The Volatility Machine: Emerging Economics and the Threat of Financial Collapse— onde pela primeira vez se procura demonstrar, a propósito das crises de endividamento ocorridas na Argentina, países asiáticos emergentes, Rússia, e em geral desde 1820, que a perda de controlo sobre a gestão das dívidas soberanas tem tido uma origem sobretudo externa.
  2. Para termos um termo de comparação que dá bem a ideia das enormidades cometidas pelo nosso, muito indígena, Bloco Central da Corrupção, as responsabilidades contraídas pelo estado português nos 120 contratos de Parcerias Público Privadas representam 35% do PIB. Parte dos 23% do PIB francês que voram para a jovem Alemanha regressariam sob a forma de investimento alemão, e muito dinheiro gasto no futuro Quartier Pigalle! Ou seja, o Capitalismo estava numa fase explosiva de crescimento, e as dívidas eram uma forma expedita de crescer rapidamente. Pelo contrário, quando Portugal se lançou na corrida do endividamento comunitário, os tempos já eram de fim de festa. Cada euro acrescentado à dívida pública e privada portuguesa seria um grilhão mais na cadeia que nos puxa cada vez o mais para o fundo do buraco.
Atualização: 15-02-2015 21:05 WET


Se gostou do que leu apoie a continuidade deste blogue com uma pequena doação

sábado, fevereiro 14, 2015

China quer os lombinhos do BES

Bank of China (ao centro). Hong-Kong.

Portugal, 1415—China, 2015 (600 anos depois...), ou a profecia de Xangai


Bank of China, "wholly state-owned", quer o lombo sem gorduras do exBES, o chamado 'banco bom', deixando obviamente milhares de antigos clientes com as poupanças a arder.

Bank of China é um dos interessados no Novo Banco
Dinheiro Vivo 14/02/2015 | 00:00
Está desvendado mais um nome entre os interessados no Novo Banco. O Bank of China está na corrida à instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha, segundo apurou o Dinheiro Vivo. O banco chinês manifestou o seu interesse junto do assessor financeiro escolhido pelo Banco de Portugal que está a assessorar a venda - BNP Paribas - e já terá sido, inclusivamente, uma das entidades que foi validada. Ou seja, que cumpre os critérios exigidos pelo Banco de Portugal para aceder à informação financeira.

Não deixa de ser uma ironia, ou melhor uma farsa, que um país em bancarrota, como Portugal, dirigido por um governo dito neoliberal, esteja a despachar as suas principais empresas estratégicas, outrora públicas e hoje privadas, bancos incluídos, para o setor empresarial público da comunista República Popular da China. Os gregos, ao menos, usam a imaginação!

A estratégia chinesa é bem-vinda, sobretudo para o novo desenho das interdependências lusitanas, mas sob condição de os indígenas ignaros que nos governam saberem o que andam a fazer. Não sabem.

Neste ponto convém sublinhar que dos aldrabões do PSD e CDS, ao indigente cor-de-rosa que governa os Açores, o que transparece é tão só o afã de venda ao desbarato dos dedos da República Portuguesa. Os anéis, como sabemos hoje melhor do que ontem, marcharam com a descolonização maltrapilha e o tumulto pré-revolucionário que se seguiu à queda do Salazarismo.

Dizem os imbecis de Belém e de São Bento que Portugal cumpre com as suas obrigações perante os credores. Vê-se!!!

Zheng He (1371-1433)—almirante muçulmano, eunuco, chinês, considerado hoje o Grande Navegador da China

Um chinês de Xangai predisse uma vez que em 2015 o Império do Meio seria o banco do mundo. Curiosamente, seiscentos anos depois da conquista de Ceuta, que marca o início da grande diáspora marítima europeia e a primeira experiência de Globalização. A profecia de Xangai está a ponto de cumprir-se, embora, na minha modesta opinião, uma vez cumprida, terá vida curta. Antes de 2030 o mundo voltará a dividir-se ao meio: o hemisfério oriental, para uns, o hemisfério ocidental, para outros.

Esta fatalidade dever-se-à a duas ocorrências, uma imprevista, e outra inevitável.

A causa imprevista do fracasso futuro do projeto imperial chinês chama-se Pico do Petróleo, cujas implicações são muito complexas, mas que podem resumir-se a dois constrangimentos fulcrais: a chegada de um período longo (60 a 120 anos) de crescimento zero (entre 0 e 1%), e uma prolongada crise financeira, social, cultural e militar com origem na extrema dificuldade de diminuir os elevadíssimos níveis de endividamento e de exposição a derivados financeiros especulativos por parte da maioria dos principais países do planeta.

A causa inevitável, por sua vez, é o crescimento do consumo interno na China e a melhoria das condições de vida dos seus habitantes, a qual exercerá uma pressão enorme sobre os recursos disponíveis locais e do planeta, e uma pressão explosiva sobre a inflação interna enquanto o país não regredir para ritmos de crescimento substancialmente inferiores aos atuais, que, apesar de tudo, já começaram a diminuir.

Repetir a receita do Japão (yen carry-trade), que os próprios Estados Unidos têm vindo a copiar, afigura-se materialmente impossível apesar da guerra cambial e de juros em curso desde o colapso do Lehman Brothers. Haverá, pois, um momento em que os problemas internos da China serão mais importantes do que o sonho imperial. Quando tal acontecer, e esse dia está mais próximo do que parece, a China lembrar-se-à do imperador que ordenou a Zheng He a destruição da sua famosa e poderosa armada.

Que deve fazer Portugal?

Os dirigentes chineses afirmaram que a sua relação com Portugal, mas também com a Alemanha, o Reino Unido, a Grécia, Moçambique e Angola, Brasil, Argentina, etc., é de natureza estratégica. Ou seja, que visa o longo prazo e os interesses comuns. Acredito que sim. E Portugal deve cuidar com zelo desta relação estratégica. Mas não enfraquecendo a tal ponto as suas defesas naturais que se transforme numa mera província chinesa na Europa.


NOTAS
  1. Bank of China
    “In 1994, the Bank was transformed into a wholly state-owned commercial bank. In August 2004, Bank of China Limited was incorporated. The Bank was listed on the Hong Kong Stock Exchange and Shanghai Stock Exchange in June and July 2006 respectively, becoming the first Chinese commercial bank to launch an A-Share and H-Share initial public offering and achieve a dual listing in both markets. In 2013, Bank of China was enrolled again as a Global Systemically Important Bank, becoming the sole financial institution from emerging economies to be enrolled for three consecutive years.”

Esqueçam o petróleo!

Boa parte do petróleo que alimentou o séc. 20 e alimentará talvez metade do séc. 21 vem da era dos dinossauros, i.e. de há 250 milhões de anos atrás. E está no fim!

Peak Oil is the “new normal”


A euforia fabricada em volta do petróleo e do gás de xisto obtidos por fratura de rochas de xisto —fracking— não passa de uma e derradeira tentativa de esconder o impacto tremendo que o Pico do Petróleo terá (já está a a ter) na evolução humana. Todos os conflitos militares atualmente em curso, de que o terrorismo é apenas a sua face mais horrendamente visível, têm origem nas disputas geoestratégicas para controlar o que resta de reservatórios naturais de petróleo e gás natural de boa qualidade e relativamente acessíveis. É que abaixo dos 60-80 dólares o barril as explorações são pura e simplesmente deficitárias, e acima dos 100 dólares as economias deixam de crescer saudavelmente, i.e. sem recurso a formas de endividamento insustentável e especulativo.

The global “new normal” é isto: crescimento débil, queda persistente dos rendimentos do trabalho, elevado desemprego estrutural e estagnação da criação de novos empregos, pelo menos enquanto não mudarmos de paradigma económico, social e cultural.

No entanto, dada a correlação existente nos EUA entre petróleo barato e crescimento de salários é possível que o fracking seja uma tentativa desesperada de inverter a queda imparável dos rendimentos de 99% dos americanos à custa de uma mistificação necessariamente temporária e precária.

Oil, the economy’s central power source, is now insufficient for 3% economic growth
Aleklett’s Energy Mix. Posted on January 28, 2015

“If we look back to 2004, the International Energy Agency (IEA) stated that increased economic growth of 3% per year required increased oil consumption of around 1.5%. Looking forward, the IEA predicted that, due to economic growth, in 2030 oil production would need to be 122 million barrels per day (Mb/d). Some weeks later I did an analysis that showed that their predictions could never be realised, i.e. the fuel for the expected economic growth could not be supplied at the rate required (TheUppsalaCode).

Now the IEA has adjusted its prognosis so that, for 2030, it describes a rate of oil production (without processing gane) of 92 Mb/d, i.e. a reduction of 30 Mb/d compared to its earlier forecast. Historically, we have never seen global economic growth without increased consumption of oil. During the 1960s the rate of increase in oil use was 8% per year. From the mid-1980s until 2005 we saw an increase of 1.6% per year. In November 2014 the IEA stated that it was optimistic that there would be an increase in oil use of 0.5% per year until 2035. This is a very significant contraction from earlier forecasts but the significance of this has so far not been understood by politicians and economists.

Our economy is not configured to cope with decreased oil use. We still need oil to transport the goods we wish to purchase/consume (including food) and to drive the vehicles that take us to where those goods are sold. If the coupling between economic growth and oil use is similar now to as it was during the 1980s and 1990s then we cannot expect more than 1% annual economic growth in future, and maybe less.”

Alguns gráficos e referência que merecem atenção

Correlação entre preço do petróleoe salários nos EUA
“A new theory of energy and the economy – Part 1 – Generating economic growth”. By Gail Tverberg, in Our Finite World, Posted on January 21, 2015.



“World Energy Consumption Since 1820 in Charts”. By Gail Tverberg, in Our Finite World.


sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Que tal resgatar as PPP?

As autoestradas para lugar nenhum do Bloco Central da Corrupção

Das 120 PPP existentes —que representam qualquer coisa como 35% do PIB, algumas deveriam ir imediatamente à vida, e outras renegociadas duramente.


Nota: incluir este tema no debate eleitoral em curso

Que tal resgatar as PPP? Que tal incluir as suas responsabilidades, depois de refinanciadas no mercado, a juros de 2,0...%, em vez dos 6% que os rendeiros da Brisa e quejandos usuram, na dívida pública (reciclada)?

Que tal denunciar todas as cláusulas de indemnizações compensatórias abusivas, apertando a sério a fiscalização dos contratos das PPP, indemnizando os rendeiros só e apenas na justa medida da Justiça, usando para tal uma emissão de dívida pública dedicada?

Seria possível remunerar os futuros tomadores desta dívida dedicada e desarmar a bomba-relógio das PPP— contratos especulativos congeminados e armadilhados pelo Bloco Central da Corrupção.

Que tal atacar de vez e a sério o escândalo das rendas excessivas com que o Bloco Central da Corrupção atirou o país ao lixo?

O mote está lançado:
IVO GONÇALVES: “Há entretanto uma possibilidade de reestruturação do nosso orçamento, já em  tempos aventada, que poderia ser também seguida, em alternativa ou cumulativamente ao pagamento antecipado ao FMI – o resgate das PPP (parcerias público privadas) sobretudo as das vias de comunicação, articulada ou não com a nacionalização das respectivas sociedades veículo.

A troika deu uma no cravo e outra na ferradura, falando na necessidade de diminuir as rendas mas respeitando as expectativas, bla, bla….As negociações do actual Governo conseguiram cortar  algumas dezenas de km de construção nova (nuns casos bem, noutros mal) , a conservação e pouco mais.

Fazer passar as infraestruturas para o Estado ou para sociedades de capitais exclusivamente públicos,  que renegociariam com o Estado os contratos, reduzindo as rentabilidades exageradas, seria acompanhado pela  emissão de dívida pública para compensar os actuais parceiros. Hoje em dia a nova dívida pública portuguesa colocada em mercado primário tem taxas a 10 e a 30 anos que poderiam servir pacificamente de referência.

No conjunto teríamos uma dívida pública acrescida, mas com reembolso a longo prazo, e aumentaria o valor total dos juros pagos anualmente. Mas em contrapartida as despesas do Estado com as “rendas” das PPP ficariam substancialmente reduzidas.”

in Comunicar

Atualização: 14/2/2015 17:44 WET

Alemanha aprova 'fracking'

Um campo de 'fracking' no Canadá
Foto: Simon Fraser University

A Alemanha faz o que quer e sobra-lhe tempo. Sobrará?


Governo alemão aprova a criminosa indústria de fracking no seu território—para explorar gás!

Não teria sido melhor ter desenvolvido uma diplomacia inteligente com a Rússia, a Turquia, Grécia e Chipre, em vez de andar a reboque das estratégias imperiais dos insolventes americanos?

E já agora, não deveria a União Europeia discutir o assunto previamente, dado o precedente que gera para os restantes governos da União Europeia? Ou é só para o que interessa à Alemanha que os assuntos descem aos indigentes burocratas de Bruxelas?

O fracking mede de forma clara a chegada do Pico do Petróleo. Não existe prova mais cabal das previsões de Hubbert (1956). Mas neste caso específico, a decisão alemã, que conta também com o apoio dos sociais-democratas, mede sobretudo o grau de pânico existente no setor energético alemão em resultado da sua desatrosa política de alianças.

German government approves fracking
EurActiv. Published: 13/02/2015 - 07:08

The German government has tabled a draft law permitting fracking in the country, with environmental associations criticising the draft as fragmented and risky, calling on the government to concentrate on implementing the Energiewende, instead. EurActiv Germany reports.

After a long debate over the use of fracking technology in Germany, the federal government issued a draft law allowing the controversial gas extraction method under certain conditions and in isolated cases.

German Environment Minister Barbara Hendricks made every effort to dispel concerns over the controversial gas extraction technology. “In this way, we are applying the strictest rules that have ever existed in the fracking industry,” the Social Democratic Party (SPD) politician assured.

It will only be permitted under the strictest conditions and with the highest regard for the environment and drinking water, she said. The earliest possible date for initiation would be in 2019, because sample drillings must first be conducted to gather the necessary knowledge on the technology, Hendricks explained.

quinta-feira, fevereiro 12, 2015

Uma bomba-relógio chamada TAP

Fernando Pinto, contratado pelo governo protuguês em 2000 para privatizar a TAP

Uma TAP de dívidas, encargos e segredos insustentáveis


Governo quer anunciar vencedor da venda da TAP em final de junho
Observador. 11/2/2015, 20:17

Secretário de Estado dos Transportes espera anunciar em final de junho o vencedor do processo de privatização da TAP, que terá de capitalizar a transportadora aérea nacional em 300 milhões de euros.

Ora vamos lá por partes

Plano de reembolsos da dívida de médio-longo prazo da TAP relativamente a 2012 e anos seguintes (Relatórios e Contas, 2006): 401.602.272€.

O Sérgio das PPP diz que são precisos 300 milhões para capitalizar a TAP. São mais, não é?
Talvez fosse prudente duplicar o número oficial, para chegarmos mais perto da verdade: uns €600 milhões para começar... pois ninguém no seu perfeito juízo vai comprar uma empresa sem um plano de reestruturação, ou sem contabilizar este impacto no custo do investimento. Isto para não mencionar sequer custos escondidos debaixo dos vários tapetes onde era habitual esconder dívida das empresas públicas — Parpública, Caixa Geral de Depósitos, etc. Por exemplo, que é feito do pagamento da PGA ao BES, no valor de 144 milhões de euros, e intermediada pelo então cor-de-rosa Millennium BCP?

Dúvida

Irá a ANA Vinci escavacar a Pista 17/35 (1), fundamental à segurança do aeroporto da Portela, atirando ao lixo centenas de milhões de euros gastos recentemente (2004-2010) na melhoria desta pista (iluminação da mesma), em novas placas de estacionamento, em duas novas saídas rápidas e um cruzamento de "taxi" na Pista 03/21, e mais de uma dezena de novas mangas telescópicas, acessos a parques de estacionamento, etc.?

O argumento da necessidade de espaço para estacionamento dos A350 quando estas aeronaves poderão nem chegar a Lisboa —no caso, por exemplo, da privatização da TAP borregar mais uma vez— é, no mínimo, imprudente.

Que estará a ANA Vinci a dizer ao governo ao lançar este balão temerário para o ar?

Que quer ir já para o Montijo? Ou andará alguém a zurzir os bolsos dalgum facilitador da ANA Vinci para a célebre narrativa do esgotamento da Portela e da necessidade do NAL seja onde for, desde que seja grande, e se possa ganhar muito dinheiro com especulações de terrenos e betão?

Foi assim que a Tríade de Macau montou a narrativa da Ota, depois de o distraído Cravinho ter engolido a fantasia dos aviões a caírem aos trambolhões na capital (ver relação de acidentes aéreos). A única aeronave que levantou voo da Portela e caíu na cidade foi objeto de sabotagem e matou um primeiro ministro, um ministro da defesa, acompanhantes e tripulação.

A TAP, a PGA e a SATA estão substancialmente falidas

Estão falidas e vivem de sucessivos balões de oxigénio orçamental que os portugueses pagam com a famosa austeridade, contra a qual os sindicatos e a pseudo esquerda partidária, ao mesmo tempo que enchem o peito de patriotismo hipócrita, reclamam.

O argumento patriótico sobre a necessidade de manter estes centros de custos e corrupção no balanço da dívida pública deixou de convencer e não é mais tolerado pelo Eurogrupo. E o Eurogrupo tem sempre razão, não tem, senhor Presidente da República?

Além do mais, alimentar empresas públicas insustentáveis à custa da ruína de toda uma classe média não é certamente uma ideia com grande futuro.

Passa-se com a TAP-PGA-Sata, o mesmo que ocorre na Refer, na CP-Carga ou na RTP: existem em toda a parte do mundo alternativas privadas que funcionam melhor, que são mais baratas, e que não pesam diretamente nos bolsos dos contribuintes — nomeadamente em mau serviço, preços caros, indemnizações compensatórias e outro contrabando orçamental. A menos que enveredemos por um sistema comunista fechado, perder tempo com estes dossiês apenas implicará maiores custos para todos nós—menos estado social, maior insanidade fiscal, mais falências e mais desemprego sistémico.

O previsível colapso da TAP —falência declarada inclusive— deixará os famosos doze Airbus A350-900, originalmente encomendados pela gloriosa TAP da Tríade de Macau, no estaleiro, a menos que alguma grande companhia resolva adquirir a TAP e de caminho aproveitar para ficar com a posição na encomenda dos Airbus. Por 600 milhões de euros, transformando a TAP numa Low Cost europeia e intercontinental especializada nos mercados da América Latina e África, até pode ser um bom negócio!

De contrário, ou seja, com uma TAP a arrastar prejuízos e a perder voos e rotas para as Low Cost, que pagam menos taxas, a ANA Vinci irá reclamar indemnizações ao estado português pela perda de receitas causada pela crise na TAP.

Talvez seja esta a mensagem que o balão da destruição da Pista 17/35 pretende transmitir aos decisores políticos.


NOTAS
  1. A destruição da pista 17/35 é um erro crasso.

    Mas porque razão é um erro crasso destruir a pista 17/35, apesar desta ser utilizada em apenas cerca de 4% dos voos? Resposta: porque a pista 17/35 reforça a fiabilidade do aeroporto da Portela.

    Por vezes as condições meteorológicas podem dificultar, ou tornar menos confortável para os passageiros, o uso da Pista 03/21 (a principal). Nestes casos a navegação aérea pode então encaminhar as aeronaves para a pista 17/35, optando por uma direcção da aterragem diferente da direção da pista principal.

    O aeroporto da Portela tem uma excelente fiabilidade, raramente encerrando por causa de condições meteorológicas adversas. Mas para conservar a fiabilidade elevada do aeroporto é fundamental contar com as duas pistas construídas em 1962, que sempre deram excelente conta do recado.

    Encerrar a pista 17/35 iria, portanto, diminuir a fiabilidade da Portela—erro crasso, portanto.

    O aeroporto da Portela é dos mais pontuais da Europa. Basta observar as tabelas internacionais para o confirmar.

    Encerrar a pista 17/35, nomeadamente em dias de ventos cruzados fortes, teria como consequência inevitável o desvio de aviões para outros aeroportos e a perda, com prejuízos óbvios, da fiabilidade de que a Portela sempre gozou ao longo de mais de 50 anos.

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Alemanha exportou demais


source: tradingeconomics.com

A Alemanha sofre de uma dependência obsessiva das exportações. Provavelmente esta dependência levou-a a cometer um erro fatal: subsidiar os seus clientes, nomeadamente através da criação do euro (uma moeda com duas caras muito diferentes, como viemos todos a constatar), e do laxismo orçamental induzido por uma política de destruição das taxas de juro e créditos de risco muito para além do razoável.

À medida que este modelo artificial de crescimento foi começando a dar de si, a Alemanha e em geral o sistema financeiro europeu, mais os indigentes governos democráticos que controla de cima abaixo, embarcaram na grande aventura dos contratos de futuros especulativos (OTC), destinados a aumentar indefinidamente a capacidade de investimento e de comércio de bens e serviços, sem cuidar se a liquidez artificial gerada e a velocidade do dinheiro traduziam uma criação efetiva de valor.

Como não correspondia, o endividamento público e privado foi crescendo sem parar, e a par deste descalabro outro houve ainda maior: a especulação financeira criminosa que nos trouxe ao colapso para que caminhamos como lémures.

Escreve a AICEP:

Embora tenha vindo a perder quota de mercado nos últimos anos, a UE27 continua sendo o principal parceiro comercial da Alemanha, tendo, em 2013, absorvido 55,5% das exportações e fornecido 55,4% das importações, destacando-se a França como principal parceiro comercial do lado das exportações (9,0% do total) e os Países Baixos do lado das importações (8,9%).

Alemanha. Ficha de Mercado.
AICEP, fevereiro de 2015

Tudo isto é verdade, mas se a Alemanha andou a subsidiar as importaçoes nos países destinatários através de estímulos financeiros aos orçamentos, nomeadamente públicos, dos seus clientes, então pode talvez afirmar-se que andou a brincar com o fogo.

Basta ver o gráfico da exposição do Deutsche Bank aos derivados especulativos.