domingo, julho 16, 2017

PCP quer entrar no Governo


Uma ideia lógica, mas tardia?


Jerónimo de Sousa: “O PCP sempre afirmou que fará parte de um Governo que corresponda a avanços, uma interrupção com a política de direita. Propomos uma política alternativa, patriótica e de esquerda, com grandes eixos centrais no plano económico, social, europeu. Insisto nesta ideia, o PCP será Governo se o povo português quiser”. DN, Lusa 16 DE JULHO DE 2017 09:00.

O padre Jerónimo tem o missal da Frente Popular cada vez mais à vista de todos. Álvaro Cunhal chamou-lhe Patriótica, na boa linha estalinista do socalismo num só país (1). Ao contrário dos outros padres, não segue a máxima que garantiu a reconhecida longevidade do Crisitianismo: a César o que é de César, a Deus o que é Deus.

Assim sendo, pela promiscuidade evidenciada entre o Padre Nosso marxista-leninisa-estalinista, as infiltrações no aparelho de estado (sobretudo nos braços judicial, educativo, e cultural), a força, embora declinante, nas burocracias sindicais e nas autarquias, somadas à não despicienda receita fiscal do Estado e da União Europeia de que vivem, sobra-lhes cada vez menos credibilidade e consistência. Ou seja, tal como o marxismo-leninismo em geral, o PCP foi um breve sonho de inverno. Até os santos pastorinhos e Nossa Senhora de Fátima os ultrapassaram, em audiência local, mas sobretudo no plano do internacionalismo militante!

As declarações de Jerónimo de Sousa à Lusa, em 16 deste mês, têm no entanto um significado na espuma dos dias que convém analisar. Desde logo, exprimem um desejo há muito reprimido da nova geração de dirigentes comunistas. Por outro lado, ultrapassaram uma vez mais o Bloco no que é a evidente estratégia desta frente de extrema-esquerda que Francisco Louçã (2) persegue desde que o conheço: converter os socialistas burgueses e pequeno-burgueses do Partido Socialista ao verdadeiro socialismo revolucionário de Léon Trotsky.

Desde que a Geringonça nasceu, apesar do seu oportunismo desesperado, que defendo a sua formalização numa verdadeira frente popular pós-moderna. Defendi e defendo, sim, a constituição de um governo de coligação entre o PS, o PCP e o Bloco, onde o PS seria claramente predominante, mas onde comunistas e socialistas revolucionários teriam pastas ministeriais de relevo em domínios como a educação, a cultura, o emprego, o ambiente, a agricultura e o poder local.

Só assim podemos fazer a prova do algodão das esquerdas!

E só assim, também, haverá lugar a uma refundação do corrompido, decadente, e incompetente sistema partidário que temos.


NOTAS

  1. O chamado socialismo num só país resulta de uma teoria contra-intuitiva do marxismo-leninismo, desenvolvida por Nikolai Bukharin, em 1925, e adotada por Estaline na sequência das sucessivas derrotas das revoluções socialistas na Europa. A discussão teórica desta polémica levar-nos-ia muito longe, mas importa aqui reter que o revisionismo da revolução socialista mundial preconizada na consigna Proletários do Todo O Mundo, Uni-vos! gozou de alguma plausabilidade num país como a Rússia, dada a sua extensão territorial e autonomia energética. O socialismo num só país chamado Rússia exigiu, todavia, uma condição a priori: jamais ser uma democracia, mas tão só uma ditadura burocrática (propagandisticamente apelidada de ditadura do proletariado), onde o antigo czar fora substituído pelo presidente do comité executivo do comité central do partido único que comandava o estado e toda a sociedade russa. O velho despotismo asiático russo, dirigido por uma aristocracia rural e por um príncipe absoluto rodeado de cortesão e burocratas, tão bem caracterizado por Karl Marx, não deu lugar a qualquer forma de socialismo, mas apenas à transição forçada (na realidade, acelerada e brutal) de uma secular sociedade campesina para uma sociedade industrial. Ou seja, o que a burguesia fraca e essencialmente clientelar da Rússia não soube, não quis, não pôde fazer, isto é, introduzir o capitalismo na Rússia, fizeram-no Lenine, Trotsky e sobretudo Estaline, ainda que em nome de uma liturgia completamente degenerada. O resultado foi, sobretudo depois da derrota de Hitler, um arquipélago continental (a URSS) politicamente herdeiro do cesarismo autocrático que sempre predominou na Rússia, onde se fez a experiência, não do socialismo num só país, mas antes do capitalismo de estado num só país. Este começou por falhar desde o início da Revolução Russa (1917), isto é, desde o assassinato do czar e da família próxima, prolongando a miséria e o sofrimento de milhões de pessoas até ao colapso da União Sociética em 1991. O capitalismo de estado num só país procurou alternativas alargando o espaço vital da Rússia até às capitais do que viria a ser conhecido como Europa de Leste. A descida desta cortina de ferro estalinista, como lhe chamou Churchill (1946), foi ainda uma maneira de acelerar a entrada da revolução industrial em países atrasados sob todos os pontos de vista. A guerra e a indústria de guerra a isso ajudaram. Mais tarde, a mesma receita estendeu-se à Ásia (protagonizada pela China e pelo seu principal líder, Mao Tsé-Tung), e o mundo bipolarizou-se de vez, entre duas formas de capitalismo: uma democrática, caracterizada pela separação institucional de poderes (legislativo, executivo e judicial), pela liberdade de expressão, de organização e de iniciativa, e sobretudo pela afirmação dinâmica do Estado de Direito, outra, cesarista e burocrática, onde nunca houve qualquer expressão de democracia, nem de liberdade. Sabemos bem como o capitalismo de estado, cesarista, burocrático e despótico, num só país, ou mesmo estendido a mais de metade do mundo demográfico viria a fracassar redundou num estrondoso fracasso. A prova do nove viu-se no colapso da antiga União Soviática. A prova real será em breve observada na China, quando os picos do crescimento (demográfico, energético e financeiro) originarem o colapso do mandarinato sediado em Pequim. A tensões externas que realmente afetarão a China começaram onde menos se esperava: na Coreia do Norte. Regressando a Portugal, parece evidente que o querido Governo Patriótico de Esquerda desejado por Jerónimo de Sousa, por maioria de razão, se não é uma forma de puro oportunismo destinado a segurar a relação parasitária que o PCP mantem há décadas com o aparelho e os orçamentos de estado, então será uma de duas coisas: ou uma perigosa fuga em frente pressionada pela desagregação da classe média (o populismo tem várias máscaras), ou então, o início de uma lenta reconversão ideológica do partido que ainda hoje se confunde com Álvaro Cunhal. Perceberemos em breve, certamente depois da spróximas eleições autárquivas, o que poderemos esperar das palavras de Jerónimo de Sousa. 
  2. Como não renunciou publicamente a esta forma de fé, presumo que o Professor Francisco Louçã, além de conselheiro do estado burguês que temos, continue a ser um dos principais dirigentes da obscura IV Internacional.



quinta-feira, julho 13, 2017

Gafanhoto Lula


A corrupção é uma forma de canibalismo e fuga.


URGENTE: Lula é condenado a nove anos e meio de cadeiaJuiz Moro o sentenciou por corrupção e lavagem de dinheiro. É a primeira vez na história do Brasil que um ex-presidente é condenado por receber propina 
VEJA. Por Rodrigo Rangel access_time 12 jul 2017, 19h09 - Publicado em 12 jul 2017, 13h57 

O juiz Sergio Moro condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e meio de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A sentença, anunciada nesta quarta-feira, é a decisão derradeira de Moro no processo em que o petista foi acusado pela força-tarefa da Lava-Jato de receber propina da OAS, uma das empreiteiras do chamado clube do bilhão, que se refestelou nos últimos anos com contratos bilionários na Petrobras. Entre as vantagens recebidas por Lula, segundo a acusação, está um apartamento tríplex no balneário do Guarujá, em São Paulo. É a primeira vez que um ex-presidente do Brasil é condenado por corrupção.

A corrupção é uma forma de canibalismo e fuga. E o problema maior surge quando o impulso predador dá origem a enxames de animais dominados pela serotonina. Esta conclusão —"...quando um gafanhoto se lança para devorar um dos seus pares, produz mais serotina, e tem, em princípio, algo que poderíamos arriscar dizer ser um estado de profundo prazer"— apresentada por Emanuel Dimas de Melo Pimenta no seu mais recente livro, O Homem Gafanhoto, é o resultado de um estudo, apresentado em 2008, da autoria do biólogo Stephan Rogers, da Universidade de Cambridge.

Esgotada em boa medida a retórica da política partidária, que foi entretanto capturada por burocracias que já só lutam pela sua própria sobrevivência, babando na maoiria dos casos fórmulas mais ou menos elaboradas, ou alarves, de demopopulismo impotente, a análise das causas orgânicas da decadência em curso de uma civilização abraços com os limites do seu próprio crescimento tem migrado com extaordinários resultados para a Teoria Geral dos Sistemas, os Estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade, a Biologia, a Ecologia e as Neuro-ciências. O Marxismo-Leninismo, Hobbes e o darwinismo social estão claramente ultrapassados, e são no essencial inúteis para compreender os limites do nosso crescimento e a necessária metamorfose por que as sociedades humanas terão que passar se quiserem sobreviver. O tempo que nos resta para provocar esta metamorfose é já muito curto, mas se o não conseguirmos, o canibalismo e a corrida para o precipício de uma possível extinção em massa da espéce humana parece cada vez mais provável.

Será possível vacinar centenas de milhões de pessoas com um inibidor dinâmico de serotonina? E se fosse, seria este o caminho necessário à emergência de uma sociedade humana global diferente da que temos? Não sei.

O que sei, e me parece crucial num momento em que tantos políticos, financeiros e empresários, já para não falar da arraia miúda, mergulham na corrupção, tanto mais brutal e insaciável quanto mais elevado é o patamar da cadeia alimentar, é que será menos difícil atacar o problema em estados democráticos, por mais fragilizados que estejam, do que em ditaduras e estados falhados.

Nos estados de direito democrático, pois só nestes o estado de direito existe a plenos pulmões, quando fenómenos de corrupção grave como os que envolvem um ex-presidente da república, Lula da Silva, ou um ex-primeiro ministro, José Sócrates, se multiplicam, no quadro da separação de poderes que os caracterizam, o poder judicial assume claramente um ascendente compreensível e necessário sobre os poderes legislativo e executivo.  Ou seja, o equilíbrio rompe-se momentaneamente em nome da restauração do próprio estado de direito. Se fosse o poder executivo, ou o poder legislativo, a assumir predominância em semelhante estado de necessidade institucional, tal significaria automaticamente que estaríamos perante uma ditadura ou quase-ditadura.

Ou seja, e para terminar com uma referência a Portugal, a hipótese da queda de um anjo chamado António Costa ocorrer mais cedo do que se crê não é totalmente disparatada, apesar da cortina de fumo e fantasia estendida diariamente nos principais órgãos de comunicação social por verdadeiros agentes de propaganda e contra-informação. O downburst que limpou do seu governo meia dúzia de secretários de estado que, recorde-se, o primeiro-ministro há meses declarara como obviamente inamovíveis, prova que o valor substancial das suas palavras está a sofrer uma depreciação acelerada.

O caso Siresp ainda vai no adro. E porque o poder judicial tem neste momento mais força legítima do que os outros dois, onde, não por acaso, as redes de corrupção se instalaram profundamente e há muito, eu recomendaria ao presidente da república Marcelo Rebelo de Sousa um Plano B para o governo e a geringonça que o sustenta. Na minha modesta opinião, talvez não venha a ser necessário dissolver o parlamento. Bastará, quando outro downburst ocorrer, substituir António Costa por outro "socialista".

segunda-feira, julho 10, 2017

Marcelismos

Marcello Caetano (Primeiro Ministro): "Conversas em Família"

No primeiro marcelismo o Expresso salvava o país do Big Brother, neste segundo marcelismo, felizmente, temos o Observador.


A substituição de duas insignificâncias por duas insignificâncias iguaizinhas não alteraria nada. O prolongamento das férias do dr. Costa por 20 ou 30 anos alteraria imenso.
Não tem sido um espectáculo agradável, excepto para apreciadores da incompetência, do descaramento e da radical ausência de dignidade. É, em suma, uma gente literalmente abjecta. Perante a tragédia, eles decretam o caso resolvido. Perante o desleixo, lembram desleixos maiores. Perante as dúvidas, confessam sentimentos. Perante as câmaras da TV, dão abraços. Perante a culpa, acusam eucaliptos e furriéis. Perante o caos, pedem avaliações de popularidade. Perante a obrigação, partem de férias para Ibiza, a subjugar espanhóis com a barriga e um par de cuecas (Alberto Gonçalves, Observador).
E não, não é a falta de dinheiro que explica o roubo em Tancos ou as mortes no incêndio de Pedrogão Grande. Se há menos dinheiro é preciso definir prioridades e aplicá-lo no que é importante e não no que serve objectivos eleitoralistas ou de vida de rico com casa de pobre (Helena Garrido, Observador).
O BE lamenta agora que o governo de António Costa tenha “ido além da meta estabelecida para fazer, em Bruxelas, o número do défice mais baixo da história”. Parece assim que temos mais um governo que foi “além da troika”, sendo neste caso a troika composta pelo PS, o PCP e o BE. Enfim, nesta matéria não há milagres, embora haja ilusões. Algumas ficaram expostas nestas semanas de tragédia, caos e irresponsabilidade (Rui Ramos, Observador).

History Does Not Repeat Itself, But It Rhymes
, disse ou escreveu alguém um dia na América.

Assim, e mudando o que há a mudar, a verdade é que no mês em que um primeiro ministro português foge de férias para Espanha depois de duas gravíssimas falhas de segurança e uma tragédia humana que só encontra precedente nas tristemente famosas inundações de 1967, algo feriu gravemente a credibilidade do regime e do país.

Em 1967, inundações bíblicas afogaram centenas de pessoas na região de Lisboa. A censura de então emendava os titulares da imprensa, de "centenas", para "dezenas" (ver vídeo).

No incêndio da Pedrógão Grande também se fala de 64 mortos e 200 feridos (como se fosse uma contagem definitiva), ocultando-se invariavelmente o número de feridos muito graves ainda internados, um dos quais foi entretanto transferido para uma unidade hospitalar em Valência (Espanha) para complexas intervenções cirúrgicas de implantação de pele.

Em 1967 reinava ainda em Portugal um ditador chamado António de Oliveira Salazar. Caiu por causa de uma cadeira, durante umas férias no Estoril, em 1 de agosto de 1968. Desta queda resultou um traumatisma craniano irrecuperável. O regime seria derrubado por um golpe militar cinco anos e nove meses depois.

No intermezzo, hesitante, fraco, governou um professor universitário muito querido entre os seus alunos chamado Marcello Caetano. A degradação do regime era gritante. A economia, que andara tão inesperadamente bem na década de 1960, sofria em 1973-74 os efeitos financeiros nefastos da primeira grande crise petrolífera. Mas o pior mesmo foi uma guerra colonial teimosa e estúpida, que durava desde 1961, sem solução à vista, levada a cabo por umas forças armadas desfalcadas no seu quadro permanente de oficiais, e a que o regime, no entanto, estava desesperadamente agarrado.

Nesse intermezzo penoso o então primeiro ministro Marcello resolveu substituir a ação pelo afeto televisivo numa coisa paroquiana a que chamou Conversas em Família. A situação, essa, foi-se agravando semana a semana, como era previsível.

Marcelo Rebelo de Sousa (Presidente da República)

Estamos em 2017. Ainda não é agosto. Mas António Costa caiu metaforicamente da sua cadeira de governança oportunista e arrogante. Pior, fugiu (de férias) para Espanha. Há quem diga que foi apenas para evitar perguntas incómodas dos jornalistas, na esperança de que tudo se esfumasse em duas semanas de Sol e praia. Não esfumou.

Não sabemos se a Geringonça aguentará mais cinco anos e nove meses, como o anterior regime aguentou, ou mesmo se chegará ao fim da presente legislatura. O que sabemos, para já, é que António Costa partilha o poder com outro Marcelo, desta vez Rebelo de Sousa, numa espécie de cesarismo bicéfalo, destinado, porém, a cair sob o impacto do próximo abalo financeiro global. Se, até ao estalar da bolha de crédito incobrável que continua a inchar, este Marcelo não despedir António Costa, é o que acontecerá.

Há quem preveja este abalo para daqui a uns meses, e há quem aposte na segunda metade de 2018. Não sabemos. O que sabemos é que a austeridade das esquerdas é mortal.

E também sei outra coisa: a direita portuguesa continua a ser estúpida que nem uma porta!

Ou seja, está na hora de rever as opções da ação política democrática.

Atualização: 10 Jul 2017 19:29 WET

domingo, julho 09, 2017

Por uma micro-revolução agrária


Depois da migração industrial virá a migração agrária


La deslocalización a Portugal amenaza a los sectores más vitales de la economía gallega 
LA VOZ 09/07/2017 05:00 H 
Imaginemos un empresario gallego que necesita expandir su empresa. Comienza a buscar suelo y lo más barato (no lo mejor) que encuentra no baja de 100 euros el metro. Necesita ampliar plantilla, y los costes se le disparan. Hacienda no le va a echar una mano. Todo lo contrario, el año que viene ya ni siquiera le va a permitir fraccionar el IVA. Y entre tramitaciones, planes y licencias la obra acabada se le pone en el 2020.  
No le salen las cuentas. Desesperado, acude a un parque empresarial de Valença. Ve el cielo abierto cuando le ofrecen suelo urbanizado y listo para ocupar a 20 euros el metro cuadrado, bonificaciones a la contratación de portugueses que, sumadas a los sueldos más bajos, reducen el coste salarial en un 50 %. Y en materia fiscal, exención del IBI, deducción de hasta un 25 % en sociedades si reinvierte cada año un 10 % de los beneficios obtenidos. Los número cuadran.

O preço do trabalho não qualificado, dos solos e do edificado tornam Portugal neste momento um país atrativo no quadro europeu e norte-americano. Os turistas afluem como nunca de ambos os lados do Atlântico, sobretudo porque têm à sua disposição voos low cost, alojamento local barato potenciado por plataformas eletrónicas, uma enorme diversidade de oferta num território, para este efeito, confortavelmente pequeno, e, por enquanto, a segurança de um pais homogeneamente cristão.

A bolha imobiliária da requalificação urbana, e a compra maciça de casas nos centros históricos das principais cidades e vilas do país, sobretudo Lisboa, Porto e Cascais, ainda tem pano para mangas (talvez para uma década...) na Grande Lisboa e Península de Setúbal, Porto, mas também em pequenas vilas e povoações do Alentejo, Beiras e Douro Litoral.

Uma nova revolução agrária, mas desta vez sem a obsessão coletivista das esquerdas.

Em breve chegará ao nosso país uma corrida às quintas e quintinhas, para viver e descansar, mas também e principalmente para produção vinícola, hortícola e florestal especializada, recorrendo nomeadamente à agricultura dinámica e biológica. Estes produtos podem vender-se mais caros do que os que saem das estufas de Andaluzia e Marrocos. Os mercados norte-americanos e europeu, sobretudo os mercados urbanos e as classes profissionais educadas, preferem cada vez mais uma alimentação livre dos OGMs, adubos e pesticidas que contaminam a terra, as plantas e os animais, incluindo as pessoas.

No plano florestal, PPR europeus têm vindo a investir em Portugal milhões de euros, em carvalhais de tenra idade (nascedio). É bem possível que estes mesmos fundos de pensões estejam já a olhar para a micro-produção alimentar do futuro. 

De mais de 811 mil explorações agrícolas existentes em 1968, passámos para pouco mais de 264 mil em 2013 (Pordata). Presumo que houve, mais do que concentração capitalista, um grande abandono de explorações. No entanto, há outro e importante ponto a reter: existem mais de 11,6 milhões de prédios rústicos no nosso país, para um pouco mais de 8 milhões de prédios urbanos (O Cadastro e a Propriedade Rústica em Portugal). Nos Estados Unidos, em 2007, havia tão só 2,2 milhões de quintas!

Que tal agregar os micro-proprietários rurais em associações de investimento alavancado com capital importado, em vez de permitirmos que o insaciável estado burocrático e partidocrata que temos leve a cabo uma espécie de gentrificação rural, como me cheira que o rescaldo de Pedrógão Grande venha a permitir?

Está na hora de reunir o pouco capital que resta e atrair capital externo para apostar em rendimento futuro. Este passará, em grande medida, por um renascimento da agricultura e da silvicultura. No nosso país, pela dimensão das propriedades e pela topologia e natureza dos terrenos, só especializando-nos na qualidade e na ecologia chegaremos a algum lado.

Demografia e complexos coloniais


Nações Unidas | demografia


(cenários intermédios)

2030

África: +493 milhões (1.186 para 1.679 milhões)
  • Península Ibérica: -700 mil
  • Portugal: -500 mil
  • Espanha: -200 mil
  • Brasil + Angola + Moçambique: +47 milhões
    • Brasil: +20 milhões (207.848 > 228.663)
    • Angola: +14 milhões(25.022 > 39.351)
    • Moçambique: +13 milhões (27.978 > 41.437)
2050

África em 2050: + 1,292 milhões (2.478 milhões)

De que estamos à espera para potenciar a sério a CPLP, apesar dos complexos e ignorância do PCP, Bloco e PS em matéria colonial?

sábado, julho 08, 2017

O crescimento real acabou




Estagnação endividamento = cocktail implosivo


Não é por acaso que as coisas começam a correr mal, muito mal aliás, na política portuguesa. Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão —diz o provérbio. Mas neste caso, a penúria é mais grave, pois corresponde a uma mudança de paradigma.

Como tenho vindo a escrever há anos, a procura agregada começa a cair naturalmente quando a taxa de crescimento demográfico inverte a sua tendência progressiva, mas também à medida que a tendência crescente do consumo de energia per capita atinge um pico absoluto e começa a declinar. O endividamento público e privado pode atrasar esta inversão de tendência durante algum tempo, algumas décadas até. A proliferação de bolhas especulativas pode ter o mesmo efeito de retardamento, sobretudo quando associada a políticas monetárias expansionistas e à destruição das taxas de juro que, por sua vez, forçam a transferência das poupanças das classes médias para os cofres vazios de estados socialmente insustentáveis, e para as elites dedicadas à extração de rendas e à especulação financeira.

Sobre esta verdade crua e socialmente explosiva pousa um véu de mentira e formação artificial de consensos, que nos ilude a cada dia que passa até que o inevitável desastre nos bata à porta—sob a forma de um despedimento, da ruína fiscal, ou da gentrificação urbana (o novo desporto do Partido Socialista na cidade de Lisboa) que nos empurra de volta à aldeia dos nossos avós, ou mesmo para a indigência pura e dura.

É pela natureza desta metamorfose anunciada, que as democracias representativas degeneraram em regimes de mentira demopopulista, essencialmente impotentes e corruptos. E é substancialmente por causa do esvaziamento fiscal dos estados que as suas burocracias, e em particular as suas castas partidárias, se agarram desesperadamente aos lugares que conseguiram pela via dos vasos comunicantes que ligam esta elite cada vez mais desajustada à riqueza criada. Por enquanto, esta componente dos 1% mais afortunados (a começar pelos deputados que elegemos em número excessivo, de quatro em quatro anos) continua protegida pela abstenção eleitoral de quem há muito deixou de confiar nas instituições democráticas. Mas tal almofada de conforto tem necessariamente os dias contados. Bastará analisar as causas de fenómenos como o Brexit, ou as eleições de Trump e Macron, para vermos como, também em Portugal, a situação partidária do regime (PCP, PS, PSD, CDS/PP) está por um fio.

Mas voltemos ao fundo da questão. Os gráficos não enganam. Por exemplo, a evolução dos consumos de energia nalguns países de referência revelam uma coincidência entre pico do consumo energético e pico do crescimento. Ou seja, a realidade conhecida do crescimento entre 1870 e 1970, e entre 1970 e 2004-2005, morreu.

Picos do consumo de energia per capita:

Estados Unidos: 1978
Alemanha: 1979
Japão: 2000
França: 2004
Canadá: 2005
Espanha: 2005
Portugal: 2005
Noruega: 2010
China: ?

Vejamos agora, no caso de Portugal, a situação por fonte energética.







Apenas a importação de gás natural e a produção de energia hídrica (barragens) tem crescido significativamente. Em ambos os casos trata-se, creio, de compensar a intermitência da produção eólica.

Constata-se, em suma, que tanto a produção/consumo total de energia, como o consumo per capita, começaram a declinar entre 2004-2005.

Esta constatação deve, por sua vez, ser cotejada com o declínio demográfico para completarmos uma perceção mais compreensiva do findar de um paradigma económico sobre o qual perdura ainda um discurso e metodologias, nomeadamente no terreno da macro-economia, que já pouco tem que ver com a realidade.

Por fim, há que ter bem presente a importância do petróleo, do gás natural e do carvão na civilização moderna e afluente que conhecemos. 

1 barril de crude equivale a 23.200 horas de trabalho humano produtivo (David Pimentel).

Em 2016 foram sensivelmente produzidos 80 milhões de barris de crude por dia (29,2 mil milhões/ano). Esta quantidade de crude produzido diariamente equivale a 1,856 biliões de horas de trabalho humano, i.e. 677,44 biliões de horas de trabalho/ano. Ou seja, num planeta com 7,5 mil milhões de almas, o crude consumido num ano equivale a 90.325 horas de trabalho humano. Ou seja, se todas as pessoas do planeta trabalhassem 8hr/d e consumissem a mesma quantidade de energia, cada uma delas precisaria de quase 31 anos para produzir a mesma energia que o petróleo lhe dá em cada ano que passa. É fácil, pois, perceber a importância do crude, quer na era de crescimento exponencial a que assistimos entre 1870 e 1970, quer quando esta fonte de energia começa a escassear sem que surjam alternativas com as mesmas características petroquímicas e de valor energético, acessibilidade, portabilidade e preço. Em 2015 o petróleo correspondia a 33% de todos os combustíveis consumidos (gás natural: 24%, carvão: 30%, hidroelétrica: 7%, nuclear: 4%). Mas o preço para quem consome é demasiado alto, e para quem produz, demasiado baixo.

LEITURA RECOMENDADA



The Next Financial Crisis Is Not Far Away 
Our finite World. Posted on July 2, 2017, by Gail Tverberg 

...we should expect financial collapse quite soon–perhaps as soon as the next few months. Our problem is energy related, but not in the way that most Peak Oil groups describe the problem. It is much more related to the election of President Trump and to the Brexit vote.

Atualização: 9/7/2017 1):13 WET

A "nova filosofia" e a tragédia de Pedrógão Grande

Ao que parece, as antenas dos WT portáteis, que faltaram, custam 15 euso!

Walkie Talkies do SIRESP, sem antenas adequadas, agravaram caos, incompetência e tragédia


Enquanto o primeiro ministro continua fugido numa qualquer praia espanhola, e os pândegos parlamentares se divertem com mais comissões da treta e guerrilha retórica, o balanço público da tragédia de Pedrógão Grande continua a fazer-se, sendo cada vez mais evidentes as responsabilidades do Bloco Central, mas sobretudo do atual governo, e em particular de António Costa, em tudo o que de sórdido e mau tem ocorrido no país, nomeadamente por causa da austeridade de esquerda arquitetada pela Geringonça, mas mais ainda pelos efeitos nefastos do assalto que a turma de António Costa tem promovido por esse aparelho de estado acima, e abaixo!

Ficou provado que o incêndio de Pedrógão Grande não foi o resultado de um raio de Lúcifer, como um solícito boy da Judiciária começou por querer fazer crer à populaça pregada aos televisores.

Ficou provado que não há nenhuma prova meteorológica da ocorrência de um down burst.

Ficou provado que bombeiros e a dita proteção civil foram avisados atempadamente pelo IPMA sobre as condições atmosféricas adversas que se aproximavam da zona onde ocorreu a tragédia de Pedrógão Grande

Ficou provado que os bombeiros e em primeiro lugar a proteção Civil falharam clamorosamente na fase inicial e crucial do incêndio.

Ficou provado que ninguém encerrou ou mandou encerrar a EN236-I antes de nela terem morrido 33 (ou 47?) pessoas, vítimas da fornalha em que a mesma se transformou à medida que os pinheiros plantados ao longo das suas bermas começaram a arder em força. A EN236-I foi encerrada, por conseguinte, por volta das 22:15, segundo respondeu António Costa ao PP.

Ficou provado que os sistemas de comunicações do SIRESP, ao serviço da dita Autoridade Nacional de Proteção Civil, falharam clamorosamente, desde logo porque os bombeiros andavam como baratas tontas munidos de walkie-talkies com antenas urbanas, em vez de antenas adequadas, mais compridas, como recomenda a Motorola: “optimize and maximize range, the antenna must be as high up as possible.” Estas antenas custam 15 euros cada!

Ficou provado que o comandante operacional da dita Autoridade Nacional de Proteção Civil e o presidente da mesma confraria partidária estiveram a milhas da ocorrência—não por algum tempo, mas todo o tempo!

Ficou provado que presidência da república e governo chegaram ao local da tragédia já noite adiantada, única e exclusivamente porque foram avisados das dezenas de mortes na EN 236-I.

Ficou patente que a ministra da administração interna e o seu secretário de estado, um boy e uma girl de António Costa, ficaram de plantão até ao rescaldo da tragédia por instruções de um primeiro ministro que, depois de despejar no éter mediático uma bateria de perguntas aos seus serviços, escovando assim e miseravelmente as suas próprias responsabilidades, batia em retirada para uma zona de conforto chamada Palma de Maiorca.

Ficou, por fim, evidente, que a presidência de Marcelo Rebelo de Sousa, pese embora as carícias da cor-de-rosa Eurosondagem, foi, essa sim, atingida por um downburst!

Quanto ao assalto promovido por António Costa ao aparelho de estado (mais de metade das chefias da Autoridade Nacional de Proteção Civil mudaram com a sua chegada ao poder), para o que foi e é imprescindível cumplicidade comprada aos comunistas do PCP e aos trotsquistas e maoistas do Bloco, devo confessar um erro de análise. Cheguei a pensar que eram gente séria, e sobretudo inteligente, que poderiam alterar o figurino da esquerda em Portugal, transformando a Geringonça num verdadeiro governo de esquerda simultaneamente desempoeirado e pragmático. Mas enganei-me. Num país falido e que perde soberania a cada dia que passa, esta gentinha faz-me cada vez mais lembrar os náufragos que dão às costas italiana e grega. E o pior é que estão a dividir criminosamente Portugal entre Lisboa e o resto do país. Exemplo: todos pagamos taxas para a RTP, mas as instalações do Monte da Virgem, no Porto, só servem para produzir informação quando a malta de Lisboa vai para os copos, ou ainda não acordou. De um lado estão burocratas, corruptos e outros privilegiados, do outro, uma manada bovina de zombies, gente atónita, e um crescente número de revoltados. Vai acabar por dar mau resultado.

O regime político corrupto e irresponsável que temos entrou numa espiral implosiva sem retorno.

É preciso pensar em alternativas.


PS: vale a pena ver estes quatro videos, ainda que a segunda parte do Sexta às 11, sob o pretexto (e a pressão?) do dito contraditório, tenha sido mais uma lamentável demonstração da indigência mediática instalada. Já Pedro Soares, embora denuncie e bem a existência de uma negociata, parece esquecer que o Siresp não é uma empresa privada, mas uma PPP. E portanto, o problema não se resolve nacionalizando do Siresp, mas denunciando o contrato por manifesto incumprimento, e só depois deverá haver lugar à discussão sobre se o Siresp é melhor administrado por boys e girls do atual sistema partidário (não é, nem será), ou se deve, pura e simplesmente, ser contratado com a Altice, a NOS, ou a Vodafone. Colocando a discussão num plano meramente ideológico, como acabou por fazer, o Bloco evidencia, uma vez mais, a sua imaturidade política congénita.


RTP. Sexta às 9 (VI)
O que falhou na tragédia de Pedrógão Grande? | 07 Jul, 2017 | Episódio 22

TVI, 2017-07-06 21:05, Ana Leal
Governos conheciam fragilidades do SIRESP e nada fizeram

SIC-N, 23.06.2017 23h27
O relato do homem que deu o primeiro alerta do incêndio de Pedrógão Grande

ARTV Direto, 5/7/2017
Pedro Filipe Soares: “O SIRESP é uma negociata que tem fragilizado o país”