domingo, fevereiro 02, 2025

Duas Bélgicas, um rei, uma confederação?

Bart De Wever, PM belga, 2025.

Vários fatores culturais e sócio-económicos têm levado mais de metade das mulheres nos países industriais e urbanos avançados a desistir da procriação ou a retardá-la para depois dos 30-40 anos de idade, quando a fertilidade é já muito menor, forçando frequentemente as mulheres a recorrerem a técnicas de reprodução assistida. Esta situação  corresponde, aliás, ao fim do boom demográfico mundial, o qual ocorre por volta de 1964-65, momento em que a taxa de crescimento demográfico mundial atinge o seu pico e começa a declinar. As consequências desta inversão da tendência demográfica são e serão dramáticas para toda a humanidade. No curto prazo, países desenvolvidos e urbanizados, incluindo a China, a Rússia, o Japão ou a Coreia do Sul, bem como praticamente todos os países do continente europeu, só têm três caminhos momentaneamente seguros para mitigar a inevitável depressão demográfica mundial: a mudança dos centros produtivos para países com populações mais jovens, custos laborais menores e menor regulação das condições de trabalho e ambientais; a automação dos processos produtivos, incluindo uma explosão demográfica no setor da robótica; e a imigração.

Este é, pois, um problema de fundo que o populismo não resolve, e poderá, aliás, agravar, ao bloquear as medidas de mitigação, por mais imperfeitas e de alcance temporário e contraditório que estas sejam. Há dilemas nesta crise história global muito difíceis de ultrapassar.

No caso da Bélgica, que agora tem um governo de coligação chefiado por um flamengo moderadamente eurocético, mas que defende a transformação da atual monarquia federativa belga numa confederação, mantendo o chapéu monárquico, enquanto a população francófona caminha para uma recessão demográfica e vê aumentar sem fim à vista a imigração (sobretudo muçulmana), a população flamenga, pelo contrário, continua a ter uma boa taxa de fertilidade endógena, opondo-se cada vez mais à imigração oriunda de países com religiões e hábitos culturais antagónicos aos seus. Neste contexto, parece-me que a tendência inaugurada pelo atual governo de coligação, predominantemente soberanista e anti-imigração, veio para ficar...


Referência

Up to 40% of women without children by the age of 30 never have them at all

Sunday 2 February 2025

By  The Brussels Times Newsroom


Just over 110,000 births were recorded in Belgium in 2023, the lowest level since 1942. Provisional figures for 2024 are even lower. This is due to a combination of factors, mainly because Belgians are starting to have children at an increasingly older age.

...

The birth drop is more pronounced in Brussels and Wallonia than in Flanders. However, projections show an increase in births in the Flemish region. 2023 there were 62,338, and by 2050, it may reach 70,000.

This was also reflected in the Federal Planning Bureau's demographics study last year, which showed that population growth would only occur in the Flemish region from the late 2040s.

sábado, fevereiro 01, 2025

O novo populismo estado-unidense

Steve Bannon by Yuki Iwamura/AP

Se ao menos tivéssemos um populista indígena que chegasse aos calcanhares de Steve Bannon, a discussão do colapso inevitável do regime democrático português, capturado pelas elites corruptas e os seus testas de ferro e piratas, seria bem mais produtiva e poderia estimular movimentos sociais afirmativos e transparentes nos seus objetivos. 

Ao contrário da sociedade norte-americana, que nunca esteve tão viva, a portuguesa parece um manicómio cuidado por mortos-vivos. Steve Bannon fala de um novo 'lumpen' social, a que chama os 'deploráveis'. E defende que serão estes deploráveis a restaurar a grandeza americana. Fá-lo-ão através de uma erupção revolucionária de soberania política e nacionalismo económico. Independentemente de estarmos ou não de acordo com a visão de Bannon, a verdade é que em Portugal não há nenhuma verdadeira alternativa ao declínio do regime, que possamos discutir (péssimo augúrio). O que por enquanto temos na comunicação social e nas redes sociais é demasiado mau.


Steve Bannon on ‘Broligarchs’ vs. Populism

The fight for Donald Trump’s ear.

Hosted by Ross Douthat

Jan. 31, 2025


Ross Douthat: On this week’s show, we’re continuing my one-on-one conversations with figures who represent different, potentially clashing worldviews within the new Trump administration. Two weeks ago I talked to venture capitalist Marc Andreessen about the newest faction in Trumpworld, the so-called tech right.

My guest this week, Steve Bannon, represents what I might call Trumpism Classic: the populist and nationalist movement that brought Trump to power in the first place and that aspires to exert significant influence in Trump’s second administration. Indeed, a lot of the wave of executive orders we’ve already seen from this White House on immigration, reshaping federal bureaucracy and more are Bannon’s populist, anti-establishment aspirations.

Bannon is also emerging as one of the most vocal critics from the right of Elon Musk and other members of the tech right. And we’re going to talk a lot about that brewing conflict.

https://www.nytimes.com/2025/01/31/opinion/steve-bannon-on-broligarchs-vs-populism.html?unlocked_article_code=1.tk4.9UXk.04Xcx7F9foC1&smid=url-share

Utopia ou populismo?

Gouveia e Melo, provável sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa
Foto: José Sena Goulão/ Lusa (recortada)

Há quem diga que a careca do Vitorino mostra quem realmente domina o PS: os plutocratas indígenas disfarçados de socialistas. 

Trata-se de uma casta formada por Santos Silvas, Vitorinos, Vitalinos, Césares, Costas e outros figurões do género. Já a prole do PS, por outro lado, embandeirada pelo Tozé Seguro, configura uma espécie de 'deploráveis' cada vez mais desiludidos com o PS e a democracia, mas que faz ainda um último esforço para não aderir a líderes populistas credíveis, que André Ventura não consegue ser, mas que o próximo presidente da república (Gouveia e Melo) poderá facilmente suscitar, apesar da tentativa em curso de criar um cordão sanitário maçon à sua volta (1).

Este comentário é uma réplica e responde simultaneamente a um amigo socialista ético do PS, cada vez mais crítico do partido, mas que não desiste da utopia socialista. Eu acho que o meu amigo deveria estudar com atenção a natureza complexa do populismo e as suas origens. Pois o tempo atual parece não ter outros caminhos alternativos à decadência plutocrática das democracias amordaçadas pela hipocrisia. 

O populismo atual que Steve Bannon (co-criador da besta heróica chamada Donald Trump) defende é uma conjunção de forças sociais (os 'deploráveis') e políticas (os populistas) oposta aos oligarcas capitalistas, à imigração, à globalização e aos protagonistas de uma era tecnológica neofeudal (Zuckerberg, Bezos, Musk, etc.). Este modelo está a ser ensaiado nos Estados Unidos, e poderá vir a ser ensaiado numa União Europeia liderada pelos partidos populistas, especialmente se o empurrão soberanista estado-unidense ganhar tração.

Não importa o que as nossas almas de esquerda pensam sobre isto, pois o seu pensamento foi assassinado pela oligarquia de formigas brancas que desfez por dentro a alma original de todos os partidos da dita esquerda, no caso português, incluindo o PS, o PCP e o Bloco. Neste cenário de amplo espectro, Tozé Seguro não tem qualquer hipótese de resolver o problema do crescimento imparável da massa de deploráveis que cresce no PS, tal como cresceu no PCP (de onde saiu boa parte dos novos eleitores do Chega no Alentejo). Para tal, o franciscano socialista teria que ser ungido pela oratória de outro António, o de Lisboa, que foi santo depois de combater os hereges cátaros e albigenses. Tal hipótese parece-me, no entanto, altamente improvável.

NOTA

Maçons influentes criam movimento de apoio a Gouveia e Melo à Presidência — Observador, 02-01-2025

Não ao novo PREC!

O Estado não tem nada que comprar o Novo Banco. Seria o regresso a uma banca portuguesa predominantemente pública, ou seja, partidária, ou seja, ao serviço do Bloco Central da corrupção. O receio de que a banca espanhola, outra vez o Santander, ou a Caixa catalã, ou a banca galega, venham a controlar o setor financeiro indígena, combate-se simplesmente através do veto que o Estado pode e deve opor a qualquer venda que implique, precisamente, o perigo de uma posição dominante da banca espanhola em Portugal. Há, portanto, que combater o devorismo dos partidos PS, PSD, CDS, PCP e Bloco antes de combater o perigo espanhol!

SIC Notícias 31.01.2025 — Governo quer manter Novo Banco em mãos nacionais devido ao "perigo espanhol". José Gomes Ferreira, diretor-adjunto de Informação da SIC, explica as razões do Governo para tomar este “ato estratégico”, mas alerta para os "riscos" caso a Caixa Geral de Depósitos avance com a compra do Novo Banco.

terça-feira, janeiro 28, 2025

NAL e soberania

Aeroporto de Barajas, Madrid
Em 2026 terá a capacidade de processar 90 milhões de passageiros.

Temos mais um ignorante aventureiro à frente das infraestruturas do país: Miguel Pinto Luz. Parece um vivo-morto movido a pilhas caminhando sempre em frente, sob o comando de uma voz qualquer que só ele ouve. Esta é a voz imanada pelos pedreiros-livres que vêem o país sucessivamente sugado pelos credores e pelos países com interesses históricos na praia lusitana: espanhóis, ingleses, americanos (e ainda alguns herdeiros de antigos impérios do Islão: turcos e árabes).

O NAL, que um dia será inevitável, pretende ser sobretudo um contrapeso estratégico a Barajas, o mega aeroporto de Madrid. A sua vocação é atrair à margem sul de Lisboa os tráfegos aéreos do Brasil, Estados Unidos e Canadá, mas também de África, nomeadamente Angola, países do Golfo da Guiné, e Moçambique, nomeadamente. Uma ambição que nem a Portela, nem o Montijo, nem Alenquer jamais poderiam acomodar.

É por tudo isto que só o Pinto Luz ouve as vozes imperativas do NAL, enquanto outros debatem as vantagens e as desvantagens menores do negócio em vista.

Estou convicto que teremos um NAL na região de Benavente antes de 2050, mas não em 2030. Poder inaugurar esta infra-estrutura em 2040 já seria um êxito. Veremos.

As coisas andam ligadas: NAL e TAP.

As Low Cost servem o negócio do médio curso, mas não o transporte aéreo intercontinental. O países soberanos não jogam apenas em função da viabilidade comercial imediata. Há desígnios estratégicos que importam mais que o deve/haver das conjunturas económicas. Qualquer dia Madrid vai dizer, como o Trump disse agora sobre a Gronelândia, o Panamá, o Canadá e o México, que precisa de Portugal para garantir a sua segurança estratégica!!!

sábado, janeiro 25, 2025

Atavismo e utopia

Lebre atenta, 2025
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Me+DALL-E

A distopia como utopia é a moda mais recente entre os psicopatas narcisistas que parcialmente dominam o mundo desenvolvido. A lógica da sua propaganda constante diz-nos que no futuro os países serão habitados por gagás assistidos por robôs e alguma criadagem humana para lhes mudar as fraldas. Para já, o importante é meter medo e avançar as agendas do ciber controlo das massas. No entanto, o futuro não está nas sociedades de velhos caquéticos, xenófobos  em acelerado processo de extinção demográfica, mas nas sociedades capazes de reproduzir, não a longevidade, mas a juventude. Isto é, em países como os Estados Unidos, em continentes como África. 

O capitalismo não explora máquinas, mas humanos, negociando com estes o preço do trabalho. O preço das máquinas não varia ao longo das respetivas 'vidas' úteis, é, como diriam os velhos economistas do século 19, capital fixo. É sobre o capital variável, nomeadamente no preço do trabalho, da energia, das matérias primas e do conhecimento, que assenta o crescimento e a competitividade do capitalismo. As máquinas, burras ou inteligentes, são meros instrumentos que prolongam as nossas mãos e pernas, e a nossa mente.

Quando as sociedades capitalistas passaram dos cavalos de quatro patas para os cavalos a vapore e depois para os cavalos de explosão e elétricos, houve um salto quântico no crescimento demográfico e na qualidade de vida dos humanos. Com a automação, a robótica e a nano-robótica, as redes sociais e a IA, haverá outro salto quântico. Estamos, aliás, neste momento, no respetivo momento impulsivo. Fantasmas e medo da transformação são inerentes à vida, mas esta só progride vencendo o atavismo.

Já agora, religiões e ideologias tiveram pouca relevância nestas transformações...

sexta-feira, janeiro 24, 2025

Singularidade a caminho

Imagem arbitrária de uma singularidade, 2025
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Me+DALL-E+GIMP 2.10

Os Mapas de Democracia poderão, em breve, quando o que já existe se precipitar numa nova cosmovisão humana, abrir uma singularidade antrópica sem precedentes.

When A.I. Passes This Test, Look Out
By Kevin Roose
Reporting from San Francisco
The New York Times

Jan. 23, 2025

If you’re looking for a new reason to be nervous about artificial intelligence, try this: Some of the smartest humans in the world are struggling to create tests that A.I. systems can’t pass.

For years, A.I. systems were measured by giving new models a variety of standardized benchmark tests. Many of these tests consisted of challenging, S.A.T.-caliber problems in areas like math, science and logic. Comparing the models’ scores over time served as a rough measure of A.I. progress.

But A.I. systems eventually got too good at those tests, so new, harder tests were created — often with the types of questions graduate students might encounter on their exams.

Those tests aren’t in good shape, either. New models from companies like OpenAI, Google and Anthropic have been getting high scores on many Ph.D.-level challenges, limiting those tests’ usefulness and leading to a chilling question: Are A.I. systems getting too smart for us to measure?

A IA avança rapidamente. Em breve estaremos a discutir a transição dos atuais modelos de governança e representação democráticas para novos regimes constitucionais onde a IA iluminará pela via cognitiva os tradicionais poderes Legislativo, Judicial e Executivo, assim designados por Montesquieu no século XVIII.

DAO (Decentralised Autonomous Organization) é uma das experiências de governança democrática descentralizada em curso, a qual assenta no paradigma blockchain. Entretanto, surgiram conceitos novos para designar possíveis futuros no domínio das organizações, como ALGOCRACIA e CIBEROCRACIA. 

Eu próprio avancei uma ideia-modelo assente nos atuais e universalmente disponíveis ciber-poderes (redes computacionais, bases de dados online, redes sociais, blockchain, data-mining, etc.) a que chamei DEMOCRACY MAPS (October, 2012). Estes mapas de democracia dariam forma e representação a todos os paradigmas, sistemas e organizações do poder humano (sexual, social, económico, cultural e bélico), por forma a que os processos de decisão individual e coletivo pudessem dar um salto de singularidade na espécie humana assistida pelas máquinas materiais e imateriais por si criadas.

Vale a pena ir conhecendo este novo mundo...