segunda-feira, maio 19, 2008

Espanha 4

Manif a favor do uso da língua galega na Galiza
Santiago de Compostela: a favor do uso oficial efectivo da língua Galega.

Ibéria: dois ou mais Estados?

Findo o ciclo colonial, de que as ditaduras Franquista e Salazarista foram os derradeiros símbolos, e sobretudo perante a dinâmica da União Europeia, vai ser muito difícil impedir que os anseios independentistas profundos da Catalunha acabem um dia destes por chegar à almejada recuperação da sua perdida independência. O mesmo se dirá do País Basco, ou melhor, da antiga Navarra. E creio que é tempo de sabermos para onde se inclinará a Galiza -- se para Madrid apenas, ou se finalmente para Portugal também. Os sinais recentes são sintomáticos: a chamada Espanha das autonomias entrou num impasse, que apenas poderá agravar-se à medida que o milagre económico espanhol começar a esmorecer e os fundos comunitários chegarem ao fim (em 2013-2014), como podemos constatar nas notícias deste domingo vindas da Galiza e da Catalunha, mas também do reavivar do processo pendente de Olivença, de que abaixo dou conta.

Pergunta-se: como deverá Portugal reagir à polémica e aos apelos?

Em primeiro lugar, participando sem complexos na discussão em curso, respeitando naturalmente o melindre do problema.

Em segundo lugar, defendendo uma visão estratégica própria clara que em nenhum momento suscite dúvidas sobre a nossa rejeição liminar de qualquer forma de federalismo radial com capital em Madrid. Pessoalmente, acredito que a Espanha poderia evoluir para um Estado federal a sério, em vez de persistir no actual esquema autonómico, cujo resultado mais visível parece ser a crescente macrocefalia de Madrid e a radicalização dos movimentos independentistas, que aumentará à medida que finde o maná de Bruxelas. Também creio que a Ibéria, como grande região estratégica da nova Europa, poderia evoluir, resolvido que fosse o caso espanhol, para uma rede colaborativa de Estados e Nações sustentada em objectivos comuns e compromissos claros, sem quaisquer tentações centralistas, fazendo desta cabeça europeia um dos elos decisivos da força europeia futura.

Sobre a questão linguística, falo do que sei: na península ibérica há três línguas historicamente consolidadas: o Português (com cuja normas internacionais o Galego deve alinhar se quiser efectivamente preservar o seu património linguístico próprio e participar de uma diáspora linguística a caminho dos 240 milhões de falantes), o Castelhano/Espanhol e o Catalão. O Basco, por sua vez, embora recheado de espanholismos, poderá vir a consolidar-se como um idioma efectivo ainda que residual. Ou seja, muito provavelmente, teremos antes de 2050, na península ibérica, quatro línguas oficiais efectivamente faladas pelos povos que a habitam. Não vejo nenhum dramatismo nisso. Antes pelo contrário.


Reflexões complementares podem ser lidas em Espanha 3, Espanha 2, Espanha e Portugal 12.


Galiza: 25 mil pessoas reunidas em defesa da língua galega

18-05-2008 16:10:00. Vinte e cinco mil pessoas manifestaram-se hoje em Santiago de Compostela, na Galiza, em defesa da língua galega, criticando a alegada tentativa estatal de impor o uso do castelhano naquela região autónoma espanhola.

«O que nós exigimos, acima de tudo, é o reconhecimento da condição internacional da nossa língua, que é falada por centenas de milhões de pessoas no mundo, quer como língua nativa, como é o caso dos galegos, quer como língua oficial de oito Estados», disse, à Lusa, Alexandre Banhos Campo, um dos principais mentores desta manifestação.

«A nossa língua não é regional nem dialectal, mas sim internacional. O galego é o português da Galiza, e o que nós queremos é que o galego se confunda com o português, mantendo, obviamente, as suas especificidades próprias», acrescentou. -- in Diário Digital.

Catalunha garante que "Espanha ainda não assumiu independência de Portugal”

18.05.2008 - 14h26 Lusa. O vice-presidente do Governo Autónomo da Catalunha, Josep-Lluís Carod Rovira, disse hoje em Barcelona que Espanha ainda não assumiu que Portugal é um Estado independente. Carod Rovira considera que Madrid pretende manter uma "tutela paternalista" e uma atitude de "imperialismo doméstico" sobre o Estado Português, onde, acrescentou, "historicamente, sempre houve um certo complexo por parte de alguns sectores dirigentes em relação a Espanha". -- in Público.

PS: sobre a polémica provocada por este sound bite do político catalão, e a ingenuidade dos que crêem na absoluta bondade da diplomacia Castelhana, há que reflectir um pouco... Se souberem responder à pergunta: porque censurou o El País a figura de José-Manuel Durão Barroso nas duas fotos que publicou da Cimeira das Lajes (Açores), antes do início da guerra contra o Iraque, ficarão com uma bela ideia sobre as ambições óbvias do nacionalismo espanhol face a Portugal.

O Sr. Saramago, que defende abertamente a submissão de Lisboa a Madrid, não tem autoridade moral para atacar os independentistas catalães! Escreva livros!

Fotos censuradas pelo El País sobre a Cimeira dos Açores: falta o então primeiro-ministro português! Foto 1, Foto 2.

Olivença: Manifesto de 1 de Maio

Passam hoje duzentos anos sobre o Manifesto de 1 de Maio de 1808, acto legislativo do Príncipe-Regente após a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil na sequência da invasão francesa comandada por Junot, pelo qual o Governo Legitimo e Soberano de então declarou «nulo e de nenhum efeito» o Tratado de Badajoz, assinado sob a coacção dos exércitos espanhóis e franceses, sete anos antes.

Assim foi repudiada a ocupação de Olivença por Espanha, alcançada com um acto de guerra que nem o Direito de então havia de admitir, conforme veio a explicitar o Congresso de Viena, em 1815.

Com o Manifesto de 1 de Maio de 1808, Portugal jamais reconheceu ou aceitou a ocupação de Olivença pelo Estado espanhol, posição que obteve e tem consagração constitucional.

O Manifesto, proclamação da perenidade e independência de Portugal, visto por todos os portugueses como indicação para a insurreição contra os invasores, teve para os oliventinos, em particular, o significado de que a sua Pátria não os esquecia e não os abandonava. Duzentos anos de separação forçada não apagaram a identidade mais profunda e verdadeira de Olivença.

O reencontro de Olivença e Portugal, sustentado na História, na Cultura, no Direito e na Moral, sendo uma promessa por cumprir, é desafio para ambas as margens do Guadiana. -- Amigos de Olivença.

OAM 363 19-05-2008, 04:08

domingo, maio 18, 2008

China 4

Dujiangyan, Sichuan, escola depois do terramoto
Dujiangyan, Sichuan, China - escola depois do terramoto de 12 de Maio de 2008.

O pesadelo tibetano

Não deixa de ser uma ironia que no momento em que a China se prepara para aparecer aos olhos do mundo como a super-nova das grandes potências económicas e geo-estratégicas do planeta, coroando tal propósito com a realização dos Jogos Olímpicos de Pequim, lhe caia tragicamente em cima um verdadeiro pesadelo tibetano. Primeiro, foi a gigantesca operação de descredibilização do regime chinês levada a cabo pelos separatistas do Tibete, com os salamaleques hipócritas do reacionário Dalai Lama e o apoio intensivo das operações especiais dos serviços secretos dos Estados Unidos e do seu poodle britânico. Agora, a China defronta-se com uma tragédia de proporções dantescas, cuja origem é a colisão das placas tectónicas indiana e euroasiática (1), vórtice do Planalto Tibete. Seja pelo encurtar dos ciclos sísmicos, seja pelo degelo das neves dos Himalaias que se aproxima a passos largos, o chamado tecto do mundo está a transformar-se num sonho monstruoso.

18-05-2008 12:37. O sismo de segunda-feira na China já fez 32.477 mortos em todas as regiões afectadas, segundo o último balanço oficial e provisório divulgado pela agência de notícias Nova China.

Até ao meio-dia deste domingo, as autoridades já tinham registado 220.109 feridos, segundo a mesma fonte que cita números do governo chinês.

O anterior balanço do tremor de terra, de magnitude 7,9 que atingiu segunda-feira a província chinesa de Sichuan, era de 28.881 mortes confirmadas.

As autoridades chinesas fazem agora balanço mais pesado, que poderá vir a ultrapassar as 50 mil vítimas mortais, tendo em conta que se estima que mais de 10 mil pessoas permaneçam ainda sob os escombros.

As doações para as vítimas do sismo já ascendem a cerca de 900 milhões de euros (1.400 milhões de dólares).

As ajudas do exterior ascendem a 552 milhões de euros, segundo a cadeia de televisão CCTV, enquanto as doações internas rondam os 321 milhões de euros, segundo o governo.

Duas centenas de equipas de socorros do Japão, Rússia, Coreia do Sul e Singapura, os únicos países aceites apesar da disponibilidade de muitos outros, trabalham desde sábado ao lado dos militares chineses nas zonas mais devastadas pelo sismo, numa área de 100 mil quilómetros quadrados.

A televisão nacional tem mostrado imagens das ajudas recebidas, incluindo as de um avião espanhol com sete toneladas de medicamentos que chegou sábado a Chengdu, capital de Sichuan. -- Portugal Diário.

É infelizmente bem provável que os números de vidas humanas perdidas, feridas e desalojadas sejam bem maiores. A destruição económica --cidades, estradas, infraestruturas, campos, empresas, animais de criação e máquinas-- é gigantesca. Em suma, vai ser sob um pesado luto nacional que a cerimónia dos Jogos Olímpicos terá lugar no próximo dia 8 de Agosto.

As consequências deste trágico evento produzirão ainda efeitos colaterais negativos na actual crise económica mundial, aumentando a pressão sobre os preços da energia, das matérias primas necessárias à edificação de mais de um milhão de casas novas e reconstrução das infraestruturas, e da alimentação (desapareceram mais de 33 mil hectares de terra cultivada e 20 mil ferramentas e máquinas agrícolas.)

O tempo agora é de solidariedade, mesmo que a manifesta prontidão e competência com que as autoridades chinesas desencadearam as operações de socorro induzam a pensar que não precisam da ajuda que cada um em consciência decida prestar. A presença de Hu Jintao, primeiro-ministro chinês, na zona de catástrofe, e a transparência informativa do evento, mostraram uma China bem diferente dos clichés habituais: organizada e digna, apesar do pesadelo. É impossível ficar insensível a tamanha tragédia (2).

Apenas alguns países asiáticos com efectiva capacidade de aportar mais valias às operações de socorro (Japão, Rússia, Coreia do Sul e Singapura) foram até agora autorizados a colaborar com o dispositivo chinês no terreno. Faz sentido, e sobretudo mostra que a nova potência mundial perdeu a ingenuidade de outras eras face a uma parte do Ocidente. Não tenho nenhuma dúvida de que se deixassem entrar no seu território ONGs norte-americanas, inglesas ou israelitas, sob o pretexto louvável da ajuda humanitária, que entre os respectivos operacionais estariam infiltrados agentes secretos dos três países.

Ainda não percebi que género de solidariedade foi manifestada pelo governo português (3) à China na sequência do terramoto de segunda-feira. Ou muito me engano ou o país continua entretido com os vícios privados de José Sócrates. À cautela, escrevi-lhe um e-mail:
Mensagem electrónica dirigida ao Governo Português:

Solicito informação sobre quais as iniciativas do governo português relativamente ao terramoto que vem afectando milhões de cidadãos da República Popular da China.

Faço nomeadamente estas três perguntas, que gostaria de ver respondidas:

1 - foi ou não enviada alguma mensagem do governo de Portugal ao governo e povo chineses sobre a presente tragédia? Se foi, qual? Se foi e é publica, por que canais foi difundida?
2 - foi ou não até agora decidida alguma iniciativa concreta de envio de apoio humanitário às vítimas do terramoto (medicamentos e material médico de emergência, etc.)?
3 - foi ou não aberta até ao momento alguma conta bancária de solidariedade pública, nomeadamente através do Banco de Portugal, Caixa Geral de Depósitos e/ou Montepio Geral?


NOTAS
  1. O Monte Evereste e os Himalaias formam parte do Planalto Tibetano e continuam a subir por efeito da colisão, há 45 milhões de anos atrás, entre as placas tectónicas da India e da Eurásia.

    O epicentro do terramoto de segunda-feira situa-se numa falha situada ao longo do bordo do Planalto Tibetano e uma área de rochas sedimentares. Os materiais do planalto forçam a sua progressão por baixo das rochas da bacia sedimentar de Sichuan situada na China muito abaixo da sua superfície. A fricção entre as rochas impede o movimento, mas quando repentinamente a força massiva que pressiona consegue avançar um bocadinho, vencendo a fricção, ocorre um terramoto.

    John Whalley, um geólogo da Universidade de Portsmouth, no sul da Inglaterra, comparou este processo à tentativa de arrastar um móvel muito pesado numa sala.

    'É como tentar empurrar um armário sobre uma carpeta - temos que acumular pressão sobre o armário até que, de repente, ele avança um bocadinho'

    As montanha dos Himalaias e o Planalto do Tibete continuam a ser empurrados ara norte e para cima pela Placa Indiana, movendo-se a uma taxa de 5cm por ano.

    (traduzido de "Massive tectonic fault line linked to Himalayas", Lewis Smith, London, 14-05-2008, The Australian.


  2. Uma tragédia humana semelhante está a decorrer na antiga Birmânia, actual Myanmar. No entanto, o criminoso isolamento imposto ao país pela ditadura militar que o domina, acaba por nos distanciar psicologicamente dos efeitos terríveis do ciclone. A impotência da ONU perante a situação é um péssimo sinal da sua prestabilidade futura.


  3. «Temos estado a falar com as autoridades chinesas - o embaixador em Lisboa, a nossa embaixada em Pequim - para manifestar solidariedade e disponibilidade», disse João Gomes Cravinho à chegada a uma reunião dos ministros responsáveis pela Cooperação dos 27.

    Segundo o responsável português, as autoridades chinesas ainda não pediram o apoio internacional, mas «é natural que esse apoio venha num segundo momento (...), de reabilitação».
    «Nesse caso, concerteza que estamos inteiramente disponíveis para trabalhar com as autoridades chinesas», sublinhou. -- Portugal Diário.

OAM 362 18-05-2008, 18:51

quinta-feira, maio 15, 2008

PPD-PSD-7

Um boomerang em direcção a Sócrates

Parece que me enganei na avaliação desta Senhora! Numa entrevista exemplarmente conduzida por Ana Lourenço (SIC Notícias), Manuela Ferreira Leite aproveitou em toda a linha o vergonhoso abandono dos ideais socialistas por parte do senhor Sócrates e da tríade de piratas que o colocou na posição onde está, para desferir um golpe certeiro no actual edifício de propaganda governamental. Dando a entender claramente que o actual governo não passa de uma agência de intriga e demonização, sistematicamente insensível ao tremendo drama social que cresce na nossa sociedade, a candidata à presidência do PSD matou dois coelhos de uma só cajadada: respondeu ao jovem Pedro sobre quem efectivamente se encontra mais próximo de Sócrates (Pedro Passos Coelho!), e tolheu de forma considerável o espaço de manobra ao directório socratintas. O eleitorado que tem vindo a deslizar continuamente para a esquerda do PS, sabendo que tal deriva não é mais do que uma desesperada repulsa da traição socialista, quando medir o alcance do ideal proposto por esta economista de mérito, política experiente e mulher de pulso, irá seguramente fazer pender decisivamente o fiel da balança eleitoral para esta oportunidade, possivelmente a última, de encontrar o Norte perdido da política portuguesa.

Como tenho vindo a escrever, o terreno do populismo está semeado há muito, embora entre nós, e ao contrário da Itália, da Áustria, da Holanda e da Suécia, a cor dominante seja mais rosa e laranja do que azul e verde. O desenvolvimento destes ninhos de facilidades, falsas dicotomias e promessas vãs, que vem ocorrendo dentro dos próprios partidos parlamentares, é sobretudo um preocupante sintoma de mal-estar. Não vejo como evitar a sua erupção a curto prazo, desfazendo por dentro os partidos que não souberem fazer uma clarificação atempada. Os populismos conservadores de Santana Lopes e Alberto João Jardim farão explodir, mais cedo ou mais tarde, o PPD-PSD; os populismos esquerdistas de Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, começaram a corroer seriamente o território eleitoral do degenerado PS.

Por outro lado, o famigerado Bloco Central não foi menos responsável pelo actual processo de implosão do sistema partidário. Ao estimularem entre si uma convivência oportunista escandalosa, por mais de década e meia, acabaram por tecer um verdadeiro estado clientelar, ganancioso, cada vez mais improdutivo, irresponsável e impune. Socialismo e Social-Democracia foram assim ficando sucessivamente para trás, como se de relíquias históricas irrecuperáveis se tratassem. A tríade de Macau tomou de assalto o PS, fazendo dele uma sofisticada agência neoliberal da globalização e dos carteis bancário-betoneiros do país, enquanto os desempregados do PPD-PSD (não os que a tempo e horas realizaram os necessários matrimónios de conveniência com a rede PS) derivavam irremediavelmente para os braços do populismo de direita.

Está na hora de revelar e fixar as tendências populistas, como de clarificar as novas tendências liberais e social-democratas/socialistas. Precisamos de renovar o tecido partidário. O que não supunha até hoje é que Manuela Ferreira Leite pudesse vir a federar uma destas clarificações necessárias. Será que a entendi bem? Terá força bastante para manter os barões, baronetes e penduras à distância nesse seu aparente intento de fazer o PSD voar para uma grande aventura política? O aviso de Jardim foi, como antecipei, claro: se a Senhora não passar dum mero e frágil intermezzo, incapaz de bater o nulo Sócrates, ele, o Jardim, tomará conta do PiSD.

Fui apanhado desprevenido pelas suas palavras de esta noite. Oxalá seja um bom prenúncio!


Post scripta


  1. 18-05-2008 - Menezes sabota como pode candidatura de Manuela Ferreira Leite
    ... "quem tanto criticou a legitimidade do líder que foi eleito com a maior votação de sempre no partido em 30 anos, não terá legitimidade para ser líder do PSD se tiver menos de 50% de votos.

    ..."quem contestou este líder, quem disse que ele tinha de ser corrido à bomba quando teve quase 60% dos votos, por essa razão não tem legitimidade para exercer o cargo com 30% ou 40%."- Luís Filipe Menezes, JN, 18-05-2008.

    A entrevista de Luís Filipe Menezes ao Jornal de Notícias deixa subrepticiamente a porta entreaberta para o seu regresso em ombros ao PPD-PSD. Repetindo o que já dissera Alberto João Jardim sobre uma liderança abaixo dos 30%, Menezes não reconhecerá um futuro líder com menos de 50% dos votos. Acontece que a declaração, para ser consistente, é válida para todos os candidatos! Os cenários de uma separação entre o PPD e o PSD, ou de uma cisão regionalista, com formação de dois partidos regionais autonomistas, um na Madeira e outro no Norte, nunca foram tão plausíveis, e porventura desejáveis. Depois de ouvir ontem à noite na RTP2 as palavras imbecis do boy Mega Ferreira sobre o futuro de Lisboa, consolida-se a minha convicção de que Portugal precisa mesmo de uma regionalização à força, ou será em breve um deserto de mendigos à mercê dum condomínio de chulos descerebrados.
  2. 17-05-2005 - Resposta a uma pergunta sobre os populismos lusitanos em formação:

    Em primeiro lugar, as naturezas e formas recentes do populismo de direita europeu são inovadoras, distintas e obviamente contraditórias das do populismo de esquerda, que subsiste há décadas e procura os seus novos figurinos na América Latina de Hugo Chávez e Evo Morales.

    Dito isto, parece-me evidente que Alberto João Jardim, Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes confluem neste momento para uma cisão ou enquistamento populista do PPD-PSD. O tom ameaçador com que Menezes se vem dirigindo a Manuela Ferreira Leite, e que irá piorar (!) é todo um cardápio da grosseria típica dos populistas de direita. Os populistas de direita estão convencidos, e com razão, de que o tempo é propício para a sua aventura demagógica.

    Por outro lado, temos um populismo de esquerda difuso, que não se vê obviamente como tal, mas que tende também a crescer com a incapacidade manifesta dos piratas do PS em lidar com uma crise sistémica (e local) que irá agravar-se ao longo da segunda metade de 2008, antecipando um tempo eleitoral virtualmente explosivo para 2009. O PCP e o Bloco de Esquerda serão os protagonistas da variante esquerdista do populismo, que o agravamento da crise económica, social e política, propiciará.

    A característica comum dos dois populismos em confronto é a mistificação intencional da realidade com o fim último de atrair eleitoralmente uma massa social muito diversa: desempregados, idosos aflitos com a rápida erosão das suas pensões e a degradação rapidíssima dos sistema de segurança social e de saúde pública, jovens à procura do primeiro emprego, uma classe média assustada e a caminho do desemprego ou da desqualificação económico-profissional, pequenos e médios empresários falidos.

    O bom-senso e a sabedoria não se encontram nestas zonas da acção política. A explicação é simples: são completamente incapazes de governar em contextos mais amplos que o das endogamias regionais e municipais, salvo se puderem subverter seriamente as regras do jogo democrático. Ora para aqui chegarem seria necessário que se verificasse pelo menos uma de duas condições: a falência efectiva do Estado, e/ou a disponibilidade de generosos recursos energéticos e naturais sob controlo estatal (Países Árabes, Rússia, Venezuela, etc.) Até agora, na Europa das democracias representativas posteriores à Segunda Guerra Mundial, os populismos, quando inopinadamente chegam ao poder legislativo e executivo, têm-se revelado desastrosos e insustentáveis, caindo rapidamente no elitismo, autoritarismo e obscuridade que anteriormente denunciaram. Vejam-se entre nós os casos recentes de Pedro Santana Lopes e José Sócrates, ou mesmo de José Sá Fernandes, que acabou por fazer um pacto com António Costa, por cima dos munícipes e do Bloco de Esquerda, sob cuja sigla tem vindo a fazer a sua pequena e estranha carreira populista de esquerda.

    E não havendo bom senso pelas bandas populistas, resta saber se os socialistas e os social-democratas de gema conseguirão fazer alguma coisa juntos que não seja uma re-edição suicida do Bloco Central.

    A alternativa liberal-tecnocrata de Pedro Passos Coelho, apesar do seu fulgor inicial, irá perder força assim que se perceber o desajustamento ideológico completo das suas propostas. O rapaz continua a defender receitas liberais alegremente, sem perceber que o mundo está a colapsar precisamente por causa da "globalização" que tardiamente papagueia. O boomerang lançado por Manuela Ferreira Leite atingiu-o em cheio anteontem à noite. E a forma como reagiu foi indecorosamente oportunista e suicida: envolver o Menezes num ataque ordinário à sua colega de partido, e anunciar publicamente que gostaria de ver o dito Menezes apoiar a sua candidatura. Ou seja, se tal ocorrer, assistiremos todos à morte daquilo que parecia uma promessa, e teremos mais um sargento para o populismo de direita que se aproxima a toda a bolina. Vai ser divertido observar a luta livre entre Santana Lopes e Pedro Passos Coelho (para gozo e estratégia do Alberto João Jardim.)

OAM 361 15-05-2008, 02:32

quarta-feira, maio 14, 2008

Por Lisboa 18

Cidade Comercial Dolce Vita
2009: futura cidade comercial Dolce Vita abre as suas portas em Belas.

What Oil Can Buy

Não sou invejoso, nem miserabilista.
Afinal, desde a apresentação da ideia do Grande Estuário, em 1 de Maio de 2005, que afirmo a necessidade de pensar a cidade-região de Lisboa como uma metrópole para 5 milhões de habitantes. Número este a que provavelmente chegará antes de 2030, ainda que num panorama civilizacional bastante alterado pelas consequências catastróficas do pico petrolífero, das persistentes e agravadas crises alimentares globais, das alterações climáticas e de conflitos militares apocalípticos.

O potencial do atraso geral de Portugal e da evolução desconexa e muito recente da grande área suburbana de Lisboa (A REGIÃO DOS GRANDES ESTUÁRIOS) é enorme, sobretudo por causa das deslocações demográficas internas, internacionais e intercontinentais que muito provavelmente ocorrerão em consequências da crise sistémica da nossa civilização, cujos contornos começam agora a ser visíveis para todos. Há muito espaço disponível, há energia (salvo petróleo) e alimentos por toda a parte, e a mistura demográfica é de muito boa qualidade! Falta apenas capital (não falta), clientes (não faltam), mão-de-obra variada (não vai faltar...) e uma visão certeira integrada, com poderes de intervenção especiais, sobre tão inacreditável furo de oportunidade. Esta é a corrida que a cidadania galaico-lusitana tem que estudar e sobre a qual terá que saber exercer o seu magistério democrático inteligente, sob pena de assistir a uma colonização capitalista desumana do território e das gentes, sem precedentes na nossa história.

Se houver cabeça, podemos transformar esta privilegiada confluência de dois enormes e riquíssimos estuários, apesar das tragédias por vir, numa das grandes cidades-regiões sustentáveis num planeta em extrema convulsão, fazendo de Lisboa um ponto de interligação chave entre as Américas, a África e a Grande Europa. Abrindo ou fechando à China aquela que é seguramente a sua mais confiável porta de entrada na Europa.

Mas para isso precisamos previamente de fazer uma revolução política sem precedentes -- pacífica, democrática e sobretudo assente na inteligência criativa

Enquanto lá não chegarmos, veremos apenas sinais desgarrados deste futuro à vista: EXPO 98, IKEA, AVE Madrid-Lisboa, NAL de Alcochete... e o "fantástico Mike!" DOLCE VITA TEJO!

Não percam esta pérola da CULTURA PÓS-CONTEMPORÂNEA! Acabaremos todos por lá ir, entre outros motivos, porque então já os famosos estádios lisboetas do Euro 2004 estarão como hoje está o pobre Centro Comercial de Alvalade: vazios e falidos! O único estádio que escapa à implosão financeira não fica em Lisboa, mas no Porto, nas Antas. Por desgraça, nasci Benfiquista!

E se pensam que vão resistir à Dolce Vita do Tejo, por que tomam muita presunção e água benta, então comecem desde já a pensar na resposta a dar aos vossos filhos e netos quando estes vos exigirem uma visita ao Kidzania, situado na mesmíssima Dolce Vita de Belas. Olé!

OAM 360 14-05-2008, 00:58

terça-feira, maio 13, 2008

Por Lisboa 17

Independence of the Seas, Lisbon, 14-05-2008
Lisboa: terceiro destino mundial dos cruzeiros. Há que protegê-lo da voragem especulativa!

Independência dos Mares

Atraca amanhã ao meio-dia no Cais de Alcântara do Porto de Lisboa o maior navio de cruzeiros actualmente sulcando mares europeus. Chama-se Independence Of The Seas. É a sua viagem inaugural e foi antecipada duas semanas, para irritação e protesto de quem reservou bilhetes e teve depois que desistir sem poder reaver o dinheiro da reserva!

Ainda assim, a sua primeira vinda a Lisboa não deixa de ser um espectáculo! Eu, que vivo em Carcavelos, delicio-me há anos com os navios pequenos e grandes que cruzam a Barra de São Julião, entrando e saindo do Porto de Lisboa. Ando, porém, muito irritado com os power-points populistas do governo socratintas em volta de intoleráveis ilusões bancário-betoneiras. Os dromedários e dromedárias que prometem a pés juntos estar a governar este país, ainda não perceberam que o pico petrolífero é uma parede intransponível, e pior do que isso, uma actividade telúrica destrutiva de economias, cujos efeitos nas insustentáveis dívidas públicas e privadas portuguesas irão inevitavelmente colocar-nos diante de dilemas de dificílima resolução. O barril de petróleo chegará aos 150 dólares ainda este ano, se não mesmo aos 200!

O paradigma do progresso assente numa burguesia velha, parasitária, bronca e subsidio-dependente chegou ao fim. Confundir a economia com auto-estradas, aeroportos e apeadeiros de dívida pública, hipotecando por mais de um século as futuras gerações de portugueses, é a prova cabal de que o regime político actual se transformou numa verdadeira cleptocracia (deixemos os angolanos em paz!), ainda que disfarçada pelo manto diáfano da aparência democrática e aturdida pelos sound-bite do populismo mediático dominante (de esquerda em Lisboa, e de direita no Funchal.)

O navio que amanhã chega à capital foi construído nos estaleiros de Aker, na pequena cidade finlandesa de Turku (pouco mais de 175 mil habitantes), não em Setúbal, nem em Vila do Conde! Nós por cá preferimos destruir alegremente a nossa capacidade agrícola e industrial, em nome da modernidade aparvalhada do "turismo de qualidade" e das novas tecnologias - dois fenómenos cada vez mais contingentes face à natureza capitalista avarenta da globalização, face à crise energética e face às alterações climáticas que se aproximam como um gigantesco, contínuo e duradouro ciclone.

Enquanto houve e houver subsídios de Bruxelas, o sistema político democrático que temos comportou-se e comporta-se como uma cigarra palerma. Depois, ou seja, durante o ciclo de ruína iniciado no fim do século passado, o mesmo sistema democrático-clientelar comporta-se como uma barata tonta, disposta a vender pai e mãe por um prato de arroz. As viagens aflitas do nosso primeiro ministro por terras da promissora Venezuela, da blindada Angola, ou da gélida Rússia, mostram até que ponto a nossa aflição é séria e estamos cada vez mais prontinhos para cair nos braços acolhedores de Madrid. Os perigos que espreitam a independência de um país com mais de 800 anos de vida são evidentes e muitíssimo preocupantes.

O transporte colectivo multi-modal e a partilha temporal do transporte automóvel individual serão muito provavelmente as únicas vias de saída para o esgotamento energético e económico das sociedades urbanizadas e suburbanizadas desenvolvidas ao longo do século 20 de acordo com o paradigma do transporte automóvel individual e respectivas redes viárias suburbanas, regionais e internacionais.

Estas saídas pressupõem a re-concentração das cidades e uma muito mais clara, ponderada e estruturada organização em rede das principais aglomerações urbanas. Teremos um número cada vez maior de cidades-região (em Portugal serão apenas três: Lisboa, Porto e Faro), quase sempre em volta de núcleos urbanos consolidados e antigos, cuja sustentabilidade económica, social e cultural dependerá sobretudo do grau de inteligência activa usada na sua modelação e governação futuras.

O principal cuidado a ter nesta fase de passagem, de que experiências de 14 mil milhões de euros, como Masdar City, a nova cidade sustentável de 6Kmq no Abu Dahbi (1), para 50 mil pessoas e 1500 empresas, ou o iminente desastre ecológico da expansão cosmopolita de Barcelona, são exemplos a seguir de perto, é a preservação das principais vantagens estratégicas de que cada grande cidade dispõe à partida e foi quase sempre a razão de ser da sua robustez e longevidade. No caso de Lisboa, a defesa intransigente do seu grande porto, tal como o cuidado a dedicar à rede ferroviária urbana, suburbana, interurbana e internacional, são prioridades absolutas, que nenhum governo imbecil, nem nenhum empreiteiro desmiolado, poderão ameaçar. Sob pena de eu deixar de poder gozar a vista dos navios que sulcam o Grande Estuário, e o país caminhar a pique para a indigência.


REFERÊNCIAS
  • Para termos uma ideia da importância do espaço livre no Porto de Lisboa, há que ter em conta duas coisas: a tendência para o regresso ao transporte marítimo de carga em navios de grandes dimensões e a dimensão igualmente imparável dos super-paquetes. O Independence Of The Seas, que transporta 5 730 pessoas, será superado já em 2009 por uma nova classe de navios de cruzeiro, a Classe Génesis, cujos navios transportarão 8400 pessoas. Por outro lado, perante a evidente deriva tectónica dos continentes geo-políticos, pontuada pela China, India, Brasil e Rússia, é de prever um verdadeiro renascimento da importância do Atlântico Sul e Norte no Grande Tabuleiro de Xadrez da política global do século 21. A orla costeira de Portugal e a respectiva Zona Económica Exclusiva (expandida), assim como as indústrias, eco-culturas e serviços que povoam a linha de costa e dão corpo às suas três maiores cidades, são pois domínios estratégicos de primeira importância. A sua sorte não pode ficar à mercê de uma burguesia retardatária e preguiçosa, nem de simples idiotas do poder.
  • Ver publicidade da Presstur sobre as 12 passagens anuais do Independence of The Seas por Lisboa.
  • Independence Of The Seas

    Classe Freedom
    Tonelagem: 154 407 toneladas
    Comprimento: 338,92 metros
    Largura: 38,6 metros
    Altura: aprox. 64 metros
    Capacidade: 5 730 passageiros, incluindo funcionários e tripulantes
    Custo: 590 milhões de USD
    Operador: Royal Caribbean International/
    Viagem inaugural: Maio, 2008
    Estaleiro: Turku, Finlândia (UE)
    Chegada inaugural a Lisboa: 14 de maio de 2008, às 12h00
    Programa 14 Tesouros Nocturnos do Mediterrâneo. Itinerário: Southampton (Londres), passando por Gibraltar (U.K.); Barcelona, spanha; Villefranche-Sur-Mer, França; Livorno (Florença e Pisa), Itália; Cagliari, Sardenha (França); Málaga, Espanha; Lisboa, Portugal; Vigo, Espanha.

    Classe Génesis
    Tonelagem: 220 000 toneladas
    Comprimento: aprox. 360 metros
    Largura: 47 metros
    Altura: 65 metros acima da linha de água
    Capacidade: 8400 passageiros, incluindo funcionários e tripulantes
    Estaleiro: Turku, Finlândia (UE)
    Viagem inaugural: 2009

OAM 359 13-05-2008, 19:17

PPD-PSD-6

Pedro Passos Coelho, PSD
Pedro Passos Coelho, a juventude como oportunidade. Web do candidato.

Aposta com futuro

Passos Coelho apresenta-se como a melhor alternativa social-democrata a Sócrates

02.05.2008 - 20h14 Público. Pedro Passos Coelho afirmou hoje que é o candidato à liderança do PSD com melhores condições para destronar José Sócrates e defendeu que só é possível construir uma alternativa de Governo com "caras novas".

"Se em duas semanas de campanha alguém que não foi primeiro-ministro, ministro, nem secretário de Estado, consegue obter 15,5 por cento das preferências dos portugueses - não do PSD porque no PSD sou muito conhecido - e a possibilidade de impedir uma maioria absoluta, imagine o que não pode ser a progressão num ano de campanha eleitoral centrada nos portugueses e a apostar numa nova geração que traga uma política diferentes", disse.

Passos Coelho desafia adversários a revelar programas para se saber quem está próximo do PS

12.05.2008 - 20h45 Lusa/Público. Pedro Passos Coelho desafiou hoje os seus adversários à liderança do PSD a revelarem o que pensam e apresentarem os seus programas para que os militantes saibam quem está mais próximo do PS.

"Quero fazer um apelo aos outros candidatos: Seja nos debates que vão ocorrer na televisão, seja no debate que já vai ocorrendo dentro do PSD, não esperem pelas eleições para dizer o que pensam, comecem a dizer hoje para que os militantes saibam o que vão escolher", declarou Passos Coelho, na sua sede de candidatura, em Lisboa.

12.05.2008 - Lusa/SOL. Hoje de manhã, numa entrevista ao Rádio Clube, Pedro Santana Lopes defendeu que Manuela Ferreira Leite deveria abandonar a corrida por «dar a entender que não votou no PSD» numa entrevista ao Jornal de Notícias, no domingo.

A subida meteórica das expectativas no jovem candidato à liderança do PSD é um sinal dos tempos. Os portugueses, votantes ou não no partido laranja, e por maioria de razão os eleitores do PPD-PSD, não crêem mais nas virtualidades dos senadores do regime. Toleram Cavaco Silva, espécie de águia atenta e exigente sobrevoando a praia lusitana; escutam o velho Mário Soares, pela sua eterna e comovente bonomia; talvez votem uma vez mais em Manuel Alegre, sobretudo se a situação económica continuar a degradar-se e o PPD-PSD persistir em querer suicidar-se. Mas ficam por aqui. O resto do Bloco Central, espécie oportunista em vias de extinção, não tem já nada para dar. Durão Barroso percebeu o significado da coisa, e José Sócrates, devidamente lubrificado pela tríade de Macau, também! Os populismos de sinal contrário ensaiam, entretanto, as suas gargantas esganiçadas. Dispõem de probabilidades crescentes de êxito, porque, num certo sentido, os tempos mais próximos pertencem-lhes. Mas ainda assim, há quem e bem prefira acreditar que o país está preparado para uma maior sofisticação democrática. E que numa tal suposição, o sistema partidário pode e deve sofrer duas rupturas profundas (uma no PPD-PSD e outra no PS) seguidas de uma reestruturação do apodrecido xadrez político-partidário. Este xadrez precocemente envelhecido pesa sobre o futuro colectivo da espécie lusitana como um lastro de retórica vazia, quando do mesmo deveríamos poder esperar que fosse um tabuleiro criativo de canais de informação e de vontades simultaneamente competitivas e cooperantes.

Não encontro outra explicação para o inegável e persistente apelo que a juventude dos candidatos exerce sobre as sondagens, e de facto sobre todos nós. José Manuel Durão Barroso foi primeiro-ministro aos 46 anos, Sócrates aos 48 e Pedro Passos Coelho, se lá chegar, aos 46! Na realidade, a imagem do maratonista primeiro-ministro, a memória do "tuga" ambicioso e determinado que se abalança sem medo para a presidência da União Europeia, e agora a evidência de que o PSD precisa de alguém como Pedro Passos Coelho, e não de uma figura de cera gasta, nem dum comediante de reality shows fora de moda, estabelecem uma tendência geral no perfil da nossa ansiedade política colectiva, que possivelmente nada fará mudar nos tempos mais próximos. É um bom sinal!

As sociedades são cada vez mais complexas, difíceis de gerir, ávidas de transparência administrativa e informacional, interactivas, informais, ambiciosas e dispostas a enfrentar os dificílimos desafios deste século. A gestão das mesmas impõe tarefas muito duras, que exigem sprinters e maratonistas hábeis e resistentes, ambiciosos, profissionais e sobretudo dispostos a passar o testemunho ao atleta seguinte, com justiça e espírito desportivo.

Outro aspecto desta tendência democrática é o da legitimação pelo voto secreto, directo e universal. O êxito sem precedentes das "directas", primeiro no PS, e agora no PPD-PSD, vem provar que o regime precisa mesmo de uma reviravolta radical nos seus protocolos de legitimação. É verdade para os grandes partidos, mas também o é, cada vez mais, para o PCP, o Bloco de Esquerda (que, soube-se agora, nem sequer uma organização juvenil formalizada dispõe), os sindicatos (onde tem que acabar a indecorosa instrumentalização partidária de que são vítimas há décadas) e as ONGs, cuja obscuridade orgânica e processual tem dado lugar aos mais indesejáveis parasitismos. No plano mais geral da administração pública, há que caminhar urgentemente para a generalização responsável do instituto do referendo.

Marco António, um dos cérebros mais jovens e silenciosos da esperada metamorfose do PSD, afirmou há dias que, com as novas regras sobre limitação de mandatos, e o novo regime de quotas de género na constituição das listas de candidatos aos órgãos legislativos nacionais e locais, o país iria passar por uma mudança política sem precedentes. Tem absoluta razão. E o mais estimulante é que falou não apenas como observador, mas sobretudo como actor dessa importante evolução na nossa ainda muito incipiente democracia.

Sem de modo algum subscrever a detestável provocação de Santana Lopes, diria que Manuela Ferreira Leite não tem efectivamente nenhum papel histórico positivo a desempenhar na actual crise do PPD-PSD. Se quer realmente salvar o PSD, só tem uma coisa a fazer: desistir da sua candidatura a favor de Pedro Passos Coelho, assegurando deste modo uma vitória folgada ao jovem tribuno, em vez de contribuir inadvertidamente para uma fragmentação descontrolada do partido laranja, onde nunca votei, mas cujo desempenho na democracia portuguesa evidentemente estimo.

OAM 358 13-05-2008, 00:47

quarta-feira, maio 07, 2008

Crise Global 14

EDP logo
EDP: empresa ao serviço do público ou da especulação bolsista?

A próxima bolha

Em 1997 rebentou a bolha especulativa das Dot.com, e dez anos depois rebentou, e continua a rebentar, a gigantesca bolha especulativa do Subprime imobiliário, que o atoleiro da invasão, da destruição e da reconstrução cada vez mais problemática do Iraque, não faz mais que piorar.

O dinheiro especulativo retirou-se dos mercados maduros (e sobretudo dos podres!), afocinhando com as suas narinas ensanguentadas nas chamadas commodities: cobre, ouro, petróleo, carne, soja, leite, milho, trigo, arroz, ... Assim, depois da inflação criminosa do imobiliário, temos e teremos para um ou dois anos mais a inflação criminosa da gasolina e do gasóleo, do pão, do arroz e do leite. A energia barata acabou, e com a sua morte acaba também a vida barata em geral. Iremos, a partir deste ano da Graça de 2008, e provavelmente para sempre, voltar a sentir o valor das coisas e a escassez estrutural do dinheiro. Ou será que novas bolhas especulativas esperam por nós num futuro relativamente próximo, prometendo-nos, como sempre, consumo e felicidade?

A fome e o colapso das empresas devidos à super-inflação dos preços dos bens energéticos e alimentares essenciais, não poderão durar muito, sob pena de provocarem um novo ciclo de lutas globais violentas, com consequências terminais para muitas empresas, muitos governos e muitos Estados, a começar pelos que já hoje fazem parte da lista dos chamados "Estados Falhados". O contrário da bonança prometida pela globalização e pela ilusória razão liberal é o que neste preciso momento chega, como um terrível maremoto de destruição, a milhões de seres humanos em boa parte do mundo. A célebre "mão invisível do mercado", ao contrário do que continuam a afirmar alguns imbecis televisivos pagos para dizerem baboseiras, soube e sabe sempre a que dono pertence! E, por conseguinte, quem se lixa é o mexilhão!

Uma das consequências da amplificação noticiosa enviesada da actual crise energética e ambiental é a mais do que provável transformação da mesma naquilo a que os especuladores chamam uma "oportunidade de negócio". Os biliões ("trillions") de dólares actualmente refugiados nos covis fiscais espalhados por esse mundo fora (com especial destaque para as ilhas piratas da rainha de Inglaterra), para onde, aliás, segue sem controlo algum e no maior segredo parte importante dos milhares de milhões de dólares e euros empresta-dados por todos nós (através da Reserva Federal, do Banco de Inglaterra e do Banco Central Europeu) aos falidos bancos do G7, nomeadamente sob a forma de inflação, falências, quebra da actividade produtiva e desemprego, espera ansiosamente uma oportunidade para voltar a atacar.

Segundo se pode ler no notável artigo de Eric Janszen, a próxima vítima chama-se Energias Renováveis! É para lá que biliões de dólares, euros e yuans se posicionam espumando como sempre a sua incomensurável ganância. O idiota que dirige a EDP disse ontem que não ganha muito, apesar de ganhar 30 ou 40 vezes mais do que os seus sempre dispensáveis empregados, explicando ao rebanho nacional que ele, palhaço-mor dos verdadeiros donos da EDP, apenas deve explicações aos seus accionistas! É para eles que o dito idiota trabalha, ficámos todos a saber da sua própria cavidade oral. Os autarcas, e sobretudo as populações, devem atentar bem nestas palavras quando o Sr. Mexia lhes aparecer com falinhas mansas a prometer um futuro verde à custa das futuras barragens hidroeléctricas, cujo único fito é, já o sabíamos, aumentar a capitalização em bolsa da pervertida EDP, nunca fornecer energia barata, muito menos eficiente, aos Portugueses. Quando este ou o próximo governo se preparar para congeminar, em convénio corrupto secretamente negociado, um cartel energético para quem todos nós passaremos, através da micro-geração que nos vai ser impingida com cânticos primaveris, a vender energia aos preços que nos impuser o oligopólio de turno, lembrem-se deste aviso!

É caso para dizer: Que Mil Bob Geldofs (1) se multipliquem pela pradaria usurpada pelos novos e ridículos vampiros do Capitalismo Terminal e da Pós-Democracia.

De leitura obrigatória:

The next bubble:
Priming the markets for tomorrow's big crash

by Eric Janszen
February 2008
HARPER'S Magazine

A financial bubble (2) is a market aberration manufactured by government, finance, and industry, a shared speculative hallucination and then a crash, followed by depression. Bubbles were once very rare--one every hundred years or so was enough to motivate politicians, bearing the post-bubble ire of their newly destitute citizenry, to enact legislation that would prevent subsequent occurrences. After the dust settled from the 1720 crash of the South Sea Bubble, for instance, British Parliament passed the Bubble Act to forbid "raising or pretending to raise a transferable stock." For a century this law did much to prevent the formation of new speculative swellings.

Nowadays we barely pause between such bouts of insanity. The dot-com crash of the early 2000s should have been followed by decades of soul-searching; instead, even before the old bubble had fully deflated, a new mania began to take hold on the foundation of our long-standing American faith that the wide expansion of home ownership can produce social harmony and national economic well-being. Spurred by the actions of the Federal Reserve, financed by exotic credit derivatives and debt securitiztion, an already massive real estate sales-and-marketing program expanded to include the desperate issuance of mortgages to the poor and feckless, compounding their troubles and ours.

That the Internet and housing hyperinflations transpired within a period of ten years, each creating trillions of dollars in fake wealth, is, I believe, only the beginning. There will and must be many more such booms, for without them the economy of the United States can no longer function. The bubble cycle has replaced the business cycle.

...

... We have learned that the industry in any given bubble must support hundreds or thousands of separate firms financed by not billions but trillions of dollars in new securities that Wall Street will create and sell. Like housing in the late 1990s, this sector of the economy must already be formed and growing even as the previous bubble deflates. For those investing in that sector, legislation guaranteeing favorable tax treatment, along with other protections and advantages for investors, should already be in place or under review. Finally, the industry must be popular, its name on the lips of government policymakers and journalists. It should be familiar to those who watch television news or read newspapers.

There are a number of plausible candidates for the next bubble, but only a few meet all the criteria. Health care must expand to meet the needs of the aging baby boomers, but there is as yet no enabling government legislation to make way for a health-care bubble; the same holds true of the pharmaceutical industry, which could hyperinflate only if the Food and Drug Administration was gutted of its power. A second technology boom--under the rubric "Web 2.0"--is based on improvements to existing technology rather than any new discovery. The capital-intensive biotechnology industry will not inflate, as it requires too much specialized intelligence.

There is one industry that fits the bill: alternative energy, the development of more energy-efficient products, along with viable alternatives to oil, including wind, solar, and geothermal power, along with the use of nuclear energy to produce sustainable oil substitutes, such as liquefied hydrogen from water. Indeed, the next bubble is already being branded. Wired magazine, returning to its roots in boosterism, put ethanol on the cover of its October 2007 issue, advising its readers to forget oil; NBC had a "Green Week" in November 2007, with themed shows beating away at an ecological message and Al Gore making a guest appearance on the sitcom 30 Rock. Improbably, Gore threatens to become the poster boy for the new new new economy: he has joined the legendary venture-capital firm Kleiner Perkins Caufield & Byers, which assisted at the births of Amazon.com and Google, to oversee the "climate change solutions group," thus providing a massive dose of Nobel Prize--winning credibility that will be most useful when its first alternative-energy investments are taken public before a credulous mob. Other ventures--Lazard Capital Markets, Generation Investment Management, Nth Power, EnerTech Capital, and Battery Ventures--are funding an array of startups working on improvements to solar cells, to biofuels production, to batteries, to "energy management" software, and so on.

(artigo integral)


NOTAS
  1. Bob Geldof afirmou no luxuoso Hotel Pestana Palace, onde certamente ficou hospedado, que Angola é governado por uma súcia de criminosos. Foi um pouco forte! De corruptos até à quinta costela, talvez. Mas criminosos, sem distinguir crimes de colarinho branco de crimes de sangue, é um pouco forte? Enfim, já mataram o Savimbi, e os tempos agora são outros. Por outro lado, quando se faz uma crítica assim tão contundente, há que temperá-la com alguma autocrítica. No caso, referindo a corja de ladrões e assassinos que há quase dois séculos pontificam nos centros de decisão de sua majestade pirata a rainha e Inglaterra, em Downing Street e no sempre atento MI6. Mas enfim, é sempre bom ver alguém atirar pedras para um charco.
    "... conheço África há 25 anos, o governo de Angola é uma cleptocracia, potencialmente o país é um dos mais ricos do planeta mas 200 pessoas controlam tudo enquanto 15 milhões vivem na miséria. Claro que Angola vai mudar, há hoje mais países democráticos em África e o papel da sociedade civil está a crescer, os sindicatos estão a regressar. Os africanos estão mesmo a dar lições de direitos humanos aos chineses em África e há bons exemplos na Nigéria, Uganda, Quénia, Botswana ou Moçambique. O resultado desta boa governação é um crescimento económico de 10% ao ano. Não quero insultar ninguém em Angola, mas é um dos países mais pobres do mundo e ao mesmo tempo é um dos mais ricos. Para onde vai o dinheiro? Para os dirigentes, eles estão a roubar, são criminosos." (in Expresso, 10-05-2008.)

  2. I will use the familiar term "bubble" as a shorthand, but note that it confuses cause with effect. A better, if ungainly, descriptor would be "asset-price hyperinflation"--the huge spike in asset prices that results from a perverse self-reinforcing belief system, a fog that clouds the judgment of all but the most aware participants in the market. Asset hyperinflation starts at a certain stage of market development under just the right conditions. The bubble is the result of that financial madness, seen only when the fog rolls away.

OAM 357 07-05-2008, 17:19 (actualização: 10-05-2008 18:44)