sábado, outubro 11, 2014

A 'esquerda' não existe

Roberto Mangabeira Unger

Tirar o pó à esquerda é preciso, mas não será fácil!


Roberto Mangabeira Unger:

“A minha impressão é de que não existe no debate português nada de semelhante (1). Há o ideário dominante, com a sua cara dura e a sua cara suave, há a nostalgia estatista e nacional da esquerda dura, mas não há isto que é a radicalização democrática do vanguardismo, do experimentalismo... A grande objecção poderia ser que um projecto como este não tem base social concreta. Eu julgo que tem, que há uma maioria latente produtivista no país. O que falta é a tradução desse potencial no caminho político e no ideário programático.”

O problema é que a velha burguesia rentista portuguesa, que até 2008 mandava nos partidos e no país (vejam-se os amores de Mário Soares por Ricardo Espírito Santo e Isaltino Morais, ou a aliança imbecil entre Louçã e João Ferreira do Amaral na tentativa reacionária de regresso ao escudo), sucumbiu à pressão do FMI e do BCE, e não à pressão da 'esquerda'! A nossa 'esquerda' é uma emanação disfarçada do autoritarismo secular do país. É em geral analfabeta e prefere sempre uma boa cunha à trabalheira de pensar pela sua própria cabeça.

A nossa elite come toda no mesmo retaurante, vai à mesma praia, e guia-se por sebentas, mas só pra inglês ver!

À laia de prova do que afirmo é a ideia interessante, avançada por Roberto Mangabeira Unger, sobre a educação, mas que jamais será adotada em Portugal enquanto o atual regime prevalecer sobre os interesses profundos e estratégicos do país. Enquanto o sistema educativo português estiver nas mãos de escrevinhadores de manuais escolares e da sua editora de estimação, de um sindicato e de algumas centenas de burocratas bloqueados e manhosos, as ideias entram por um ouvido e saem pelo outro. Os ministros, como se sabe, entram vaidosos mas sem ideias, e acabam desfeitos pelo populismo reinante há décadas.

A quarta vertente “é uma transformação radical do ensino público… [É imperativo um] ensino analítico que utilize a informação de forma selectiva e aprofundada como ocasião para capacitação analítica, cooperativo na sua maneira de ensinar e sobretudo dialéctico, abordando o conhecimento herdado sempre de formas contrastantes para criar, formar, burilar, desenvolver um impulso experimentalista inovador.” Não há imaginação num ensino de tipo enciclopédico como o actual.

Uma população com mais capacidade analítica poderá mais facilmente conduzir a inovação que é preciso trazer aos serviços públicos para os tornar mais qualificados (o quinto tema). “Não basta ter o paradigma tradicional de provisão burocrática de serviços públicos padronizados e de baixa qualidade. E nem aceitar a privatização dos serviços públicos como única alternativa a isto. O Estado tem de prover os mínimos universais, mas tem de engajar a sociedade civil independente, formá-la, financiá-la, coordená-la para que ela participe, junto com o Estado, na provisão competitiva e experimental dos serviços públicos. Por exemplo, por meio de cooperativas de educadores, de médicos, de técnicos.”
—in Público, O profeta da nova esquerda.

   NOTAS
  1. Para melhor se perceber esta citação convém ler este pedaço do artigo do Público:

    Esta agenda de oito pontos termina com a recomendação de uma nova construção do Estado, “porque não existe um Estado capaz de fazer tudo isso”. Como é que se faz? Indo buscar três agendas para serem executadas em simultâneo: “Uma agenda do século XIX, inacabada, de profissionalismo administrativo meritocrático, das carreiras do Estado. O grau de profissionalismo [actual] é até menor em certos aspectos do que era no regime salazarista. Houve um sucateamento do Estado”; uma segunda agenda de “eficiência administrativa associada ao século XX” que não se pode basear “no fordismo industrial, mas nas práticas experimentais da produção nova”; e a agenda do século XXI, “de experimentalismo na administração pública”. Era útil, por exemplo, que a sociedade civil se empenhasse no serviço público, diz. “Não se sabe o caminho, o caminho tem de ser descoberto no meio do caminho.” Mas é preciso lançar um roteiro. Mais adiante, Unger apontará que “nenhum povo reforma a política, o Estado, para depois decidir o que fazer com a política ou o Estado reformados. Só reforma quando precisa reformar para sobreviver no meio de uma luta. Por isso tem de haver uma relação recíproca entre a construção do Estado e a reorientação do caminho”.

    —in Público, O profeta da nova esquerda.

Uma nova China chamada Europa

Deutsche Bank / Market Research. October 2014.

Europa: a maior balança corrente do planeta. Que fazer? 


O BCE, depois de ter reduzido a menos que zero os rendimentos das poupanças (o PCP e o Bloco não saberiam fazer melhor), de ter começado a pagar para emprestar aos bancos que, por sua vez, cobram uma margem pelo serviço que o BCE deles espera que seja prestado aos governos europeus, quer agora radicalizar as suas medidas de estímulo financeiro perante o espectro de uma deflação e recessão/estagnação duradouras na Europa (1), apostando nas chamados ABS (Asset-backed Securities) — outrora consideradas como um dos agentes tóxicos da crise financeira (2).

Na realidade, as ABS funcionam como um estratagema de liquefação dos chamados ativos ilíquidos —hipotecas de casas, empréstimos para compra de automóveis, empréstimos para estudar,  saldos dos cartões de crédito, rendas garantidas das PPP (porque não?!)— e têm por objetivo gerar liquidez onde não existe, estimulando novos apetites pelo risco, mas sem envolver diretamente operações de crédito patrocinadas pelos bancos. Ou seja, o BCE não empresta aos governos, não senhor, e trava os empréstimos bancários à economia pela via de uma supervisão e rácios de capital mais rígidos, sim senhor, recorrendo em ambos os casos ao argumento (aliás apropriado) de que tal significaria perpetuar o ciclo infernal do endividamento suicida, da especulação desenfreada e do colapso económico-financeiro, sim senhor. Mas como está desesperado, à semelhança da desesperada América de Obama, Mario Draghi propôs-se no passado dia 2 de outubro, enveredar por uma versão light do QE (Quantitative Easing), prometendo comprar ABS bem desenhados e com boa graduação, aumentando para isso a massa monetária da Eurolândia em um bilião de euros. A compra das ABS seria, porém, intermediada por brokers alheios aos bancos centrais que compõem o Eurosistema, supõe-se que para garantir maior independência na avaliação da qualidade das operações a realizar. Sim senhor.

Acontece que tudo isto poderá acabar por não ter impactos significativos na economia europeia, permitindo tão só (que digo eu?) continuar a satisfazer alguns grupos financeiros e as elites corporativas e politocratas privilegiadas.

Estamos ainda longe de perceber o alcance da crise económica e financeira em curso na Europa e no resto do mundo. Há uma era energética que chegou ao fim. Há uma era inflacionista que chegou ao fim. E há muito dinheiro, mas ninguém parece querer vê-lo desaparecer na sobreprodução, sobrecapacidade e acumulação sem destino de stocks industriais, no consumo conspícuo que só mais endividamento pode financiar (assim se importaram  e venderam em 2013, no nosso sobre endividado país, mais de quatro milhões de smartphones), ou na aceleração do endividamento público que tudo arrasta e devora.

A Nota de Research de George Saravelos, que a seguir transcrevemos parcialmente, é surpreendente.

Revela-nos uma Europa com semelhanças cada vez mais preocupantes com o Japão das últimas duas décadas: excedentes comerciais e financeiros, níveis crescentes de poupança privada, endividamento público imparável, ameaça de deflação, uma moeda a caminho da desvalorização, desemprego estrutural, envelhecimento demográfico, estados cada vez mais omnipresentes e sofisticadamente autoritários, divisionismo social, uma sociedade profundamente deprimida, e concentrações de riqueza cada vez mais pornográficas.

A passagem de um paradigma de crescimento do produto na ordem dos 3-4% para uma era longa de crescimentos entre 0-1% está a ocorrer neste preciso momento, marcada por sucessivos períodos de estagnação, recessão e crescimento tímido. O desemprego estrutural acompanhado de empobrecimento individual e coletivo é, pois, inevitável, se não soubermos entretanto redefinir a função económica e social do emprego e do trabalho, e não criarmos espaço e compensações para as atividades individuais e sociais de cooperação, solidariedae e criatividade.

A Europa tem neste momento excesso de capital, capacidade produtiva e conhecimentos. É por aqui que temos que começar a olhar para os problemas que nos afligem e ver como poderemos resolvê-los, sem nos excedermos em maniqueísmo.

As contradições sistémicas existem e têm vindo a agravar-se. Ideias novas precisam-se!


Euroglut: a new phase of global imbalances
Deutsche Bank / Market Research
George Saravelos
6 October 2014

Euroglut means that as the world's biggest savers, Europeans will drive international capital flow trends for the rest of this decade. Europe will become the 21st century's largest capital exporter.

This report argues that both “secular stagnation” and “normalization” are incomplete frameworks for understanding the post-crisis world. Instead, “Euroglut” – the global imbalance created by Europe’s massive current account surplus will be the defining variable for the rest of this decade. Euroglut implies three things: a significantly weaker euro (we forecast 0.95 in EUR/USD by end-2017), low long-end yields and exceptionally flat global yield curves, and ongoing inflows into “good” EM [Emergent Markets] assets. In other words, we expect Europe’s huge excess savings combined with aggressive ECB easing to lead to some of the largest capital outflows in the history of financial markets.

Introducing Euroglut
The dust is settling on the Global Financial Crisis, and markets are now focusing on the future. One prominent line of thinking is that the new normal is “secular stagnation” - weak trend growth and very low neutral rates. Another view is that “normalization” is around the corner - growth will soon return, and policy will inevitably normalize faster, particularly in the US. In this piece, we argue that both the “normalization” and “secular stagnation” frameworks are incomplete. Instead, it is Europe’s huge savings glut - what we call euroglut - that will drive global trends for the foreseeable future. While euroglut seems similar to “secular stagnation”, the asset price conclusions are very different and far more powerful.

What is Euroglut?
Euroglut is a global imbalances problem. It refers to the lack of European domestic demand caused by the Eurozone crisis. The clearest evidence of Euroglut is Europe’s high unemployment rate combined with a record current account surplus. Both are a reflection of the same problem: an excess of savings over investment opportunities. Euroglut is special for one and only reason: it is very, very big. At around 400bn USD each year, Europe’s current account surplus is bigger than China’s in the 2000s. If sustained, it would be the largest surplus ever generated in the history of global financial markets. This matters.

Global impact
Euroglut means that as the world’s biggest savers, Europeans will drive international capital flow trends for the rest of this decade. Europe will become the 21st century’s largest capital exporter. This statement is close to an accounting identity - a surplus on the current account implies capital outflows elsewhere. Our premise is that the next few years will mark the beginning of very large European purchases of foreign assets. The ECB plays a fundamental role here: by pushing down real yields and creating a domestic “asset shortage”, it is incentivizing European reach for yield abroad. Think about policy over the next few years: at least 500bn-1trio of excess cash will be sitting in European bank accounts “earning” a negative rate of 20bps. In the meantime, asset-purchases will drive yields down across the board – there will be nothing with yield left to buy. The asset implications are huge: [...]

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NOTAS
  1. Five charts that show Germany is heading into recession
    The Guardian, Thursday 9 October 2014 13.58 BST   
  2. Asset-backed securities: The key to unlocking Europe's credit markets?
    Carlo Altomonte and Patrizia Bussoli on 24th July 2014. Bruegel.

quinta-feira, outubro 09, 2014

Alta Velocidade Ferroviária veio para ficar

AGV, o mais rápido da Europa e o terceiro mais rápido do mundo

O AVE comeu mais de metade do mercado da ponte aérea Madrid-Barcelona


Com o preço do barril do petróleo acima dos 80-100 USD (tendendo a subir abruptamente sempre que há sinais de retoma económica) e à medida que o chamado plateau do Pico do Petróleo se aproxima do limiar do declínio acelerado das reservas, a euforia que hoje conhecemos no transporte aéreo tem os dias contados. No dia em que os governos impuserem impostos ao consumo do Jet Fuel, e taxas mais severas sobre as emissões de CO2, as viagens aéreas para distâncias inferiores a 800 Km podem, pura e simplesmente, acabar, sobretudo onde houver comboios de alta velocidade. Para já, a adaptação ao fim do petróleo barato está a traduzir-se no aparecimento e êxito das companhias aéreas Low Cost e, por outro lado, nas dificuldades crescentes em empresas públicas como a TAP, a Iberia, ou a Air France, do que resultarão adaptações, reestruturações, falências e fusões inevitáveis. As companhias tradicionais, nomeadamente as chamadas companhias de bandeira, ou se adaptam drástica e rapidamente, ou acabarão por fechar portas.

O regresso do comboio elétrico, na sua nova versão de sistema de transporte de alta velocidade servindo várias regiões e comunidades ao longo do seu trajeto, e com comodidades várias, como as que decorrem dos seus recursos WiFi crescentes, deixou de ser uma utopia, ou um luxo, para ser uma solução de futuro, complementar ao transporte aéreo de pequenas e médias distâncias.

Basta reparar no comprometimento da indústria europeia nesta opção estratégica para percebermos que o comboio de alta velocidade deixou de ser uma conversa de café, facilmente manipulável pelos lóbis rentistas das sociedades politicamente atrasadas, como a portuguesa, e é cada vez mais uma prioridade governativa. Infelizmente a indigente tecnocracia lusitana, também neste particular, prestou um cobarde e mau serviço ao país.

Os 10 comboios de alta velocidade mais rápidos da Europa

Contra factos ...


Durante los primeros ocho meses del año, Renfe ha obtenido una cuota de mercado del 58,6% en la relación Barcelona – Madrid. En este periodo, los servicios AVE han transportado 2.055.152 viajeros, un 14,7%% más que el año anterior. La ocupación media se ha situado en torno al 85%. Durante este año, se ha logrado el récord de viajeros transportados en AVE y el mes de junio 309.415 viajeros se desplazarona en este servicio entre Barcelona y Madrid.

Ver más en: 20 minutos, 14-10-2013

Iberia está estudiando fórmulas que permitan rentabilizar el puente aéreo a través de alguna de sus filiales, Iberia Express o Air Nostrum, o reducir incluso su capacidad en su única ruta en El Prat, como medidas para atajar las pérdidas "insostenibles" del enlace que une Madrid y Barcelona, a día de hoy "muy deficitario".

[...]

Gallego tiene claro que no es rentable soportar estas pérdidas conviviendo con la alta competencia del AVE, "ni tiene sentido" operar el puente aéreo con dos compañías del grupo IAG, Vueling e Iberia.

Ver más en epturismo, 3-9-2014

Renfe renovará su flota de trenes AVE
CINCO DÍAS, 3-09-2014 16:05

La ministra de Fomento, Ana Pastor, ha anunciado que Renfe ha planificado la compra de cuarenta nuevos trenes en los próximos cuatro años, hasta 2018, según informó el Departamento.

[...]

Adif anunció la pasada semana que durante 2015 pondrá en explotación 1.000 nuevos kilómetros de Alta Velocidad, con los que el AVE llegará a Zamora, Burgos, León y Palencia, así como a Cádiz y Murcia.

Espaço Ferroviário Único Europeu

Comité Executivo do Corredor Atlântico - para a fotografia

Assinado acordo de constituição do Comité Executivo do Corredor Atlântico


Apesar do silêncio na imprensa portuguesa, é um facto: foi constituído no dia 8 de outubro de 2014 o comité executivo do Corredor Atlântino, cuja missão é assegurar ligações ferroviárias competitivas da costa atlântica portuguesa e espanhola até ao centro da Europa — ou seja, sem roturas de carga e o máximo de interoperabilidade — logo, adotando progressivamente a bitola europeia. Como a Espanha não tem parado de assentar bitolas UIC, nomeadamente nas ligações ferroviárias ao nosso país, Portugal terá que finalmente meter a viola do anti-TGV no saco e tentar ganhar o tempo e as centenas de milhões de euros que já perdeu a favor da Espanha e da França!

Portugal tem que mudar progressivamente a sua rede ferroviária para o standard ferroviário UIC, seja no transporte de mercadorias, seja no transporte de passageiros. Deve começar, naturalmente, pelos eixos prioritários, e deve abandonar de vez as táticas manhosas e mentirosas que tem adotado até hoje, em grande medida por causa da subserviência do poder político instalado às ordens dos rendeiros e banksters que arruinaram o nosso país.

“...o Corredor Atlântico assume-se também como plataforma privilegiada para a coordenação dos investimentos na infraestrutura ferroviária em Portugal, Espanha e França, no sentido de serem ultrapassadas barreiras técnicas e operacionais, promovendo a interoperabilidade e, consequentemente, fomentando uma maior competitividade do transporte ferroviário de mercadorias.”

in Corredor Atlântico

Corredor Atlântico (1) para mercadorias. Será assim tão difícil perceber?

À falta de Lusa...


miércoles, 8 de octubre de 2014

La ministra de Fomento, Ana Pastor, ha firmado hoy, junto con sus homólogos de Portugal, Francia y Alemania, y al margen del Consejo de Ministros de Transporte de la Unión Europea, el acuerdo de constitución del Comité Ejecutivo del Corredor Atlántico.

[...]

Esta Comisión será la responsable, entre otras cuestiones, de la definición de los objetivos generales del Corredor, se asegurará de que se cumplen los tiempos y, si es necesario, solicitará los fondos europeos para que la implantación de este corredor se lleve a cabo en tiempo y forma.

La liberalización del sector ferroviario español, modelo para Europa

En el Consejo se ha realizado el primer debate político sobre el Cuarto Paquete Ferroviario europeo, que incluye la apertura del mercado interior de pasajeros y el sistema de organización de las empresas que gestionan las infraestructuras.

Pastor ha recordado que España siempre ha defendido un espacio europeo ferroviario, y en ese sentido, ha afirmado, “tenemos que ir a una normativa común para todos los Estados miembros porque habiendo unas reglas del juego claras y comunes, añadiremos más competitividad y más igualdad de oportunidades a todas las empresas”.

La titular de Fomento ha señalado que “España tiene un sistema absolutamente transparente y claro, y ese es el modelo que preconizamos para toda Europa”.

En su intervención Pastor ha resaltado que España ya ha iniciado la liberalización del sector ferroviario de viajeros, a través de un proceso ordenado y progresivo, y ha defendido que en la UE también se produzca una apertura gradual, equitativa, recíproca y transparente del mercado ferroviario que permita la creación de un verdadero Espacio Ferroviario Único Europeo.

in Ministerio de Fomento, Sala de Prensa, España

NOTAS
  1. O Corredor Atlântico, originalmente denominado como Corredor de Mercadorias n.º 4, é constituído por troços da infraestrutura ferroviária existente e planeada entre Sines/Setúbal/Lisboa/Aveiro/Leixões – Algeciras/Madrid/Bilbao – Bordéus/Paris/Le Havre/Metz, transpondo as fronteiras em Vilar Formoso/Fuentes de Oñoro, Elvas/Badajoz e Irun/Hendaye.

    Está também prevista a extensão do Corredor Atlântico até à Alemanha através de dois itinerários, um até Mannheim e outro pela fronteira franco-alemã em Strasbourg. A extensão até à Alemanha deverá estar operacional até Novembro de 2016.

    A missão do Corredor Atlântico assenta, num primeiro plano, na rentabilização da infraestrutura ferroviária existente, sem investimento adicional, através de uma gestão centralizada da atribuição de capacidade, da gestão de tráfego e do relacionamento com os clientes.

    Complementarmente, o Corredor Atlântico assume-se também como plataforma privilegiada para a coordenação dos investimentos na infraestrutura ferroviária em Portugal, Espanha e França, no sentido de serem ultrapassadas barreiras técnicas e operacionais, promovendo a interoperabilidade e, consequentemente, fomentando uma maior competitividade do transporte ferroviário de mercadorias.

    — Consultar mais informação sobre o Corredor Atlântico no sítio web do mesmo.

Atualização: 10/10/2014 10:26 WET

quarta-feira, outubro 08, 2014

O porto estratégico de Sines

Sines: todo o mundo percebe este mapa, menos...
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Com o Médio Oriente a explodir, só um tolo não vê a importância de Portugal


A recente pugna pelo ES Saúde (1), que continua a envolver sobretudo a China e os Estados Unidos da América, assim como a aposta clara e prometida do governo chinês nesta porta de entrada na Europa e em África, deveria fazer-nos a pensar. Porque será? Olhando para o mapa que compusemos para este post ficamos a saber o seguinte:
  • A China aposta no corredor Nacala-Lobito para chegar mais depressa à costa atlântica de África, e como alternativa a possíveis problemas no Médio Oriente e no Mediterrâneo.
  • A China aposta (2) no Canal do Panamá, para chegar ao Brasil-Venezuela-Argentina, mas também à Europa, e ainda na futura ligação ferroviária colombiana entre Buenaventura e Cartagena, para o transporte anual de 40 milhões de toneladas de matérias primas da Colômbia e da Venezuela para a China, e de carga contentorizada da Ásia para a Europa.
  • A China aposta em Sines e na prevista mas criminosamente atrasada ligação ferroviária dos principais portos e cidades portuguesas a Espanha e centro-norte da Europa (por Irún).
  • A China aposta no porto de Sines como um hub para super porta contentores da classe post-Panamax e no transhipment de cargas entre a China e a África, sobretudo ao longo da rica e relativamente pacífica costa ocidental deste enorme continente.
  • A Alemanha, o Brasil e os Estados Unidos (ou melhor dito, os grandes operadores do transporte marítimo: Maersk, MSC, Evergreen, COSCO, Hapag-Lloyd, Hanjin, etc.) não deixarão de aproveitar a oportunidade aberta pelos grandes investimentos entretanto realizados em Sines.
  • Creio que a China estaria interessada em financiar as ligações UIC Lisboa-Pinhal Novo-Poceirão-Setúbal-Sines-Caia, Porto-Vigo e Porto-Aveiro-Vilar Formoso. É só colocar estas ideias no mercado. Como se está a ver com a ES Saúde, até teríamos americanos, brasileiros e alemães a disputar este precioso naco de mobilidade. Havendo, ainda por cima, fundos comunitários disponíveis, o financiamento da nossa nova rede ferroviária de bitola europeia, prevista por Bruxelas (TEN-T) poderia custar zero cêntimos aos bolsos dos portugueses. 
Para apanharmos este comboio de oportunidades basta colocar gente competente e honesta nos sítios certos e acabar de vez com a contra-informação que os irremediavelmente falidos rendeiros do regime têm impingido aos sucessivos governos e distraídos ministros.


NOTAS
  1. A Caixa Geral de Depósitos e o implodido BES vão perdendo os ativos que valem alguma coisa para quem tem dinheiro para comprar. Desta vez não se trata de empresas da República Popular da China, como foram os casos da EDP (Three Gorges) e da REN (State Grid), mas sim de um multimilionário chinês, que nasceu pobre, se formou em filosofia, e aprendeu a papar os velhos ricos do Ocidente que já não sabem viver se não de privilégios rentistas facultados por governos corruptos de estados desmiolados, como o português.

    Entretanto, Ooops!

    A UnitedHealth Group Inc., 14ª da Fortune 500 e provavelmente o maior grupo privado de saúde do mundo, apareceu à última da hora com uma proposta de compra mais aliciante do que a da Fidelidade, quer dizer, do senhor Guo: 5 euros por ação, contra os 4,82 oferecidos pelo Fosun (Público).

    Americanos e chineses apostam, como se vê, em Portugal, a praia da Europa, essencial para as ligações entre a África e a Europa, entre as Américas e a Europa, e entre o Oriente e o Ocidente, nomeadamente através da futura via férrea contínua entre Nacala e Lobito, quando a explosão em curso no Médio Oriente voltar a fehcar o Canal do Suez, o Golfo Pérsico e a Rota da Seda. Há muito que desenhámos este mapa de probabilidades nas páginas do nosso blogue.
  2. Shuo Ma, Vice-Reitor da Universidade Marítima Internacional: Porto de Sines pode servir de “hub” para a África Ocidental

    Sines tem vocação ideal para transhipment
    Relativamente à posição geoestratégica de Portugal nas rotas mundiais, Shuo Ma afirma que esta é «excelente» sobretudo para os navios oriundos do Extremo Oriente, uma vez que o nosso País é o primeiro a surgir na Europa, estando numa localização ideal para estabelecer a ponte com a Europa e África. O entrevistado acredita que o futuro de Sines passa mesmo pelo “transhipment”, uma vez que o mercado português é limitado. Se o “hinterland” fora alargado a Espanha ou mesmo ao sul de França com a ligação ferroviária à fronteira, a situação poderá alterar-se, mas relembrou que os «portos espanhóis são muito agressivos comercialmente».

    O especialista em gestão portuária acredita mais na capacidade de atracção de grandes navios porta-contentores para fazer transhipment para os mercados da Costa Ocidental de África, incluindo mesmo a África do Sul. «Num futuro relativamente próximo será difícil a um grande navio porta-contentores ir directamente para África porque o mercado local não tem dimensão suficiente. A solução passa pela utilização de um porto de transhipment no sul da Europa ou no norte de África, sendo os países africanos servidos por navios “feeder”», explica. «A questão que se coloca é a localização desse porto de “transhipment”», adianta, lembrando que os portos marroquinos também são muito «agressivos comercialmente e beneficiam igualmente de uma localização privilegiada na confluência entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico».


    Rota do Oriente não passa pelo Canal do Panamá
    A possibilidade do porto de Sines poder servir de transhipment para os portos do Norte da Europa, beneficiando do desvio de rotas oriundas do Extremo Oriente pelo alargado Canal do Panamá parece ser pouco viável pelo entrevistado. «As obras de alargamento custaram cerca de seis mil milhões de dólares. Se o objectivo for recuperar o valor desse investimento através das portagens, então estas terão valores muito elevados que tornam esta opção pouco interessante para este tráfego. Além disso, um dos maiores problemas do Canal do Panamá consiste na falta de água fresca na parte superior, o que implica um custo adicional para a bombear». Shuo Ma considera ser mais viável o projecto da Colômbia em parceiro com a China que passa por uma ligação ferroviária entre os portos do Pacífico e do Atlântico. «O objectivo seria que os navios vindos da Ásia descarregassem os contentores no porto do lado do Pacífico que depois seriam transportados por comboio para o porto do lado da Atlântico, voltando a ser carregados para o navio, seguindo depois para a Europa. Claro que esta opção implica mais um custo de movimentação da carga. Este projecto está neste momento parado devido à crise financeira internacional», adianta.

    Carga&Transportes, 12-11-2010

Ébola: o estado e a segurança

Madrid. Hospital Carlos III? Caricata sinalização de uma zona contaminada pelo Ébola

E assim se evita a propagação do Ébola em Espanha!


Los trabajadores de la empresa concesionaria del centro se han negado a entrar en la habitación por miedo al contagio. El hospital les pedía que entraran sólo con una bata. PUBLICO.

Na saúde pública, como noutros setores estratégicos e vitais da sociedade (água, energia, mobilidade, formação, telecomunicações), o estado tem que reservar para si o ónus da despesa, mas também as garantias de eficácia e segurança que o negócio privado não dá, nem pode dar.

Imagine-se a rotura de uma barragem, um ataque cibernético, ou biológico, de larga escala, ou a proliferação do vírus Ébola até se transformar numa pandemia na Europa. Que empresa privada estará interessada num ´negócio' destes, ou terá sequer os meios e a autoridade para arcar com as despesas e a responsabilidade de enfrentar catástrofes desta dimensão?

O caso da empresa nuclear privada TEPCO no desastre nuclear de Fukushima, ou numa escala mais doméstica e entre nós, a forma como os hospitais PPP e clínicas privadas despacham os casos clínicos não rentáveis para o SNS, são provas mais do que palpáveis de que é fundamental e urgente discutir, nesta crise sistémcia que voltou a castigar a poupança pública e o emprego para safar especuladores privados e governos populistas e corruptos, qual deve ser o perímetro vital e estratégico do setor público da atividade económica e segurança de um país, ou de uma união de países, como é o caso da UE.

Antes de recomeçar esta discussão democrática crucial será necessário, porém, afastar os preconceitos ideológicos e a retórica partidária do costume.

Embora não seja aqui o lugar apropriado para expor e discutir a requalificação das nossas democracias doentes, por tudo o que consigo perceber relativamente ao que aí vem, seria bom começarmos a pensar numa espécie de paradigma comunista-capitalista como o próximo enquadramento económico, financeiro, social e cultural da globalização em marcha, e das suas regiões, nações e sociedades complexas.

Para este fim teremos inevitavelmente que rever os atuais pressupostos institucionais dos regimes políticos assentes em democracias e classes médias profissionais e culturais. Teremos, porventura, que caminhar na direção de economias de planificação global estratégica finamente articuladas e geridas, ao mesmo tempo que são alimentadas por vastos rizomas democráticos onde devem estar presentes com igual capacidade de influenciar as decisões públicas, as velhas e depauperadas instituições parlamentares, partidárias e governativas saídas de Montesquieu, da Revolução Francesa e do Jacobinismo (que precisam de uma reforma drástica e urgente), a par da miríade de instâncias de competência democrática, cultural e técnica que têm vindo a proliferar como efeito salutar da expansão dos níveis cognitivos e éticos das sociedades tecnológicas.

Está na altura de avançarmos para um renascimento democrático do mundo.

Seguro 2.0



Costa continua assustado e inseguro


O atual candidato a secretário-geral do PS corre a contra-gosto, porque no fundo sabe que o risco de perder as próximas eleições legislativas é grande, e porque sabe também que perdendo esta eleição, ou ganhando-a sem maioria, sem Livre que o valha, a sua já longa tarimba poderá terminar mais cedo do que alguma vez imaginou.

  • Costa não quis desafiar Seguro da primeira vez que desafiou.
  • Costa não quis desafiar Seguro quando foi empurrado a repetir a dose (Seguro, se tivesse sido rápido e certeiro, teria aceitado imediatamente o congresso extraordinário pretendido por Costa — e teria ganho).
  • Costa não deixou a Câmara Municipal de Lisboa, nem quando anunciou que queria derrubar Seguro, nem depois de o derrubar — apesar de em julho de 2013 ter dito publicamente que “É incompatível ser Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e Presidente do Partido Socialista”.
  • Costa continuou a usar a tribuna do Quadratura do Cìrculo para fazer propaganda subreptícia a seu favor, antes, durante e depois de desafiar a liderança do PS ao agora demissionário secretário-geral, António José Seguro.
  • Costa não esmagou o seu adversário e perante a ameaça de ter que enfrentar Álvaro Beleza nas eleições diretas e no congresso extraordinário que se aproximam, cedeu imediatamente 1/3 das posições de poder dentro do partido, deixando muitos cortesãos e cortesãs que borboletam à volta do Costa, com as línguas secas.
  • Costa não revelou ainda que posições vai tomar no debate do Orçamento de 2015, e relativamente à próxima 'visita' da Troika. Provavelmente fará uns comentários na Quadratura do Cìrculo, e irá sussurrar ao telemóvel de Ferro Rodrigues o que este deverá dizer.
  • Costa, apesar de oblíquo, hesitante e de gostar de biombos, recusou-se a acatar a lei que preside ao CADA (Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos), andando dois anos e meio de recurso em recurso para não divulgar o célebre relatório do ex-verador Nunes da Silva. Foram precisas quatro decisões judiciais, duas delas do Tribunal Constitucional, para o autarca ceder, no que não deixou de ser um ato de autoritarismo tipicamente jacobino de quem se julga, como o outro, dono disto tudo.
Se esta espécie de Seguro 2.0 é um bom candidato a primeiro ministro, vou ali e já venho!