sábado, novembro 15, 2014

LuxLeaks e a Caça às Raposas

Bandeira da ilha de Jersey

A União Bancária Europeia é incompatível com estados e ilhas piratas


As ilhas de Man, Jersey e Guernesey —também conhecidas por Ilhas do Canal— são Dependências da Coroa Britânica que não fazem parte do Reino Unido, nem da União Europeia. Então o que são? Bom, são paraísos fiscais!

Acontece que os Estados Unidos e agora também a China e outros estados asiáticos e da região do Pacífico, não estão dispostos a serem engolidos por revoluções sociais à conta do buraco negro da especulaçao mundial com derivados financeiros tóxicos (OTC), com os casinos a que chamam banca de investimento (hedge funds, também conhecidos por fundos de cobertura), com os esquemas de ladroagem em cascata (rehypothecation não autorizada, etc.) e outras atividades puramente predadoras (como, por exemplo, os Leverage Buyout—LBO) decidiram declarar guerra à monumental drenagaem de riqueza ilegal que tem ocorrido, nomeadamente sob a forma de fuga de capitais dos seus países em direção ao Luxemburgo, Suíça, City de Londres, ilhas piratas de sua majestade a rainha de Inglaterra, etc., etc., etc.

O capitalismo decadente e as alcateias de piratas da Europa ainda não perceberam que ou mudam rapidamente de registo, ou vão ser vítimas das revoluções que deixaram de poder exportar para os novos centros da riqueza, do trabalho, da tecnologia e do poder militar mundiais, a começar pela China, Rússia e Índia, mas também Austrália, Indonésia, Brasil, Angola e África do Sul.

Tempo de limpar a Europa da sua descarada hipocrisia.

Esperteza luxemburguesa (por Ana Gomes)

A investigação à criminalidade fiscal e financeira no universo BES/GES ainda vai no adro, mas uma auditoria da Price Waterhouse Coopers já revelou que, através de quatro offshores na ilhas britânicas Jersey e Guernsey, Ricardo Salgado desviou em poucos dias centenas de milhões do BES para o exterior, já depois de o Banco de Portugal ordenar a mudança de administração.

Público, 14/11/2014 - 03:18


China: Países da APEC comprometem-se a combater a corrupção

Pequim, - Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (Apec) adoptaram neste sábado um plano de combate à corrupção na região, à imagem do que já é feito na China.
              
Pequim trabalha sobretudo pela extradição dos seus funcionários acusados de corrupção que fugiram do país, mas o sistema chinês encontra entraves na aplicação de tal medida devido à ausência de tratados e garantias judiciais dos seus sócios.
              
A resolução anti-corrupção, promovida por China e Estados Unidos, foi adoptada neste sábado durante os trabalhos preparatórios da cúpula dos 21 líderes da Apec, que começa nesta segunda-feira.

[...]

Um boletim oficial do banco central chinês elaborado em 2008 estimava que pelo menos 18.000 funcionários corruptos teriam fugido da China desde meados dos anos 1990, levando consigo o equivalente a 123 bilhões de dólares [123 mil milhões de USD]
ANGOP, 08 Novembro de 2014 | 15h53 - Actualizado em 08 Novembro de 2014 | 15h56

sexta-feira, novembro 14, 2014

TAP vale 1200 milhões de euros



Atenção às contas da empresa e ao valor comercial dos Slots!

“O encaixe financeiro não é, nem pouco mais ou menos, o objectivo do processo de privatização. Se houver encaixe será pequeno” — Sérgio Monteiro, ministro de facto dos transportes e comunicações, dixit.
Agora que o GES morreu e a dívida má da TAP ao Espírito Santo, presumimos, foi parar ao Inferno (Banco Mau), a companhia está mais leve e pode ser vendida pelo passivo bom + o valor dos 9000 slots que detém, ou seja, -1051 milhões de euros de passivo (ver Relatórios Anuais - TAP) + 2.250 milhões de slots  = +1199 milhões de euros. Capiche?

Os 34% que o estado se propõe manter na TAP traduzem o valor inestimável de uma empresa histórica, de bandeira, que continuará a existir enquanto houver aviões e Portugal. É o que os ingleses chamam Goodwill. Não faltarão interessados!

Para recordar o que fomos escrevendo e previmos ao longo dos últimos tempos sobre a zarzuela da TAP:

etc..

POST SCRIPTUM

A súbita pressa do governo em regressar à privatização, desta vez parcial, da TAP (como recomendámos atempadamente), pode resular de uma coisa simples: a eventual falta de dinheiro em tesouraria para os subsídios de Natal deste ano!

A minha suspeita é de que a TAP tenha deixado de ter quem abanque o cashflow necessário às despesas correntes: sobretudo de salários, combustível e reposição de peças.

Esta situação foi disfarçada durante a época alta, conhecida na gíria como verão IATA, mas com o inverno IATA já em curso as receitas estão a cair.... e temo que não haja massa para pagar o 13º mês aos 7.531 trabalhadores trabalhadores, funcionários e administradores da TAP, mais os 4.000  da TAP Maintenance & Engineering. Não sei se posso somar os 7531 aos 4000, pois a informação da companhia não é clara neste como noutros capítulos da informação que deve à comunidade. No entanto, como eram 13.397 trabalhadores em 2009, o mais provável é que o número de hoje ande pelos 11.531. Talvez o gestor Fernando Pinto nos possa esclarecer.

Em alguns posts aqui publicados em 2012, as tabelas oficiais confirmam a encomenda dos 12 Airbus A350-800/900, uma operação mediada pelo ex-GES+Crédit Suisse. Dois dos Airbus deveriam ter sido entregues em 2013/2014, mas não foram, o que deixa entrever uma manifesta falta de recursos próprios, de bloqueio do auxíio público até agora canalizado através da Parpública e das negociatas escondidas com o BES-GES, e ainda da impossibiidade de acesso aos mercados financeiros.

Estas encomendas podem ser vistas como dívidas pelos os futuros acionistas, na medida em que são promessas firmes de compra. São, no mínimo, responsabilidades contratuais que sendo denunciadas acarretarão uma penalização cujos termos constarão certamente do contrato que ninguém conhece exceto o governo, a TAP e o Novo Banco (suponho...)

Eu estimei o valor dos 12 Airbus A350-900/800 encomendados em 2.573 milhões de euros, seguindo tabelas da Airbus, mas será certamente um valor superior, pois tratar-se-ão de contratos de leasing, suponho...

Resumindo e concluindo o governo tentou, uma vez mais, com o anúncio da privatização da TAP, ganhar tempo e liquidez, evitando uma veentual suspensão de pagamentos. Só que desta vez, o aviso é mesmo a sério: sem novo acionista, poderá acontecer à TAP o que aconteceu à Sabena, então companhia aérea de bandeira da Bélgica: ficarem aeronaves e tripulações apeadas nas plataformas dos aeroportos, sem combustível, nem salários!


Dos jornais
O Governo quer fechar a venda da TAP até ao final do primeiro semestre de 2015. [...]

A alienação foi aprovada, esta quinta-feira, em Conselho de Ministros. O Executivo anunciou a venda de 66% do capital da TAP SGPS, mas o ministro da Economia, Pires de Lima, está aberto a outras propostas.

[...] Desta vez a transportadora é mesmo para alienar, pelo menos parte dela, e rapidamente. O ministro Pires de Lima confia que a operação se realize entre Março e Abril.

[...]

O Conselho de Ministros aprovou a venda de 66% da TAP, 61% a investidores e 5% a trabalhadores. Mas a Renascença sabe que o ministro da Economia admite que o Estado poderá ficar com uma fatia maior do capital da empresa.

Rádio Renascença. 13-11-2014 21:28

O novo processo de privatização da TAP foi aprovado esta quinta-feira, 13 de Novembro, em conselho de ministros.

“O diploma hoje aprovado prevê a privatização de 66% do capital da TAP SGPS, que detêm não só a companhia aérea, mas também todos os outros negócios do grupo”, disse o secretário de Estado dos Transportes esta quinta-feira, 13 de Novembro na conferência de imprensa após o conselho de ministros.

“Destes, 61% serão alienados através de um modelo de venda directa a um ou mais investidores de referência. Os outros 5% ficam reservados a trabalhadores da TAP e de todas as empresas do grupo”, explicou Sérgio Monteiro.

“O Estado fica com uma opção de venda de 34% que pode vir a exercer nos dois anos após o contrato de venda”, afirmou. Contudo, esta fatia só será vendida se forem cumpridas “todas as condições do caderno de encargos”.

(...)

O Governo assume que o objectivo da privatização da TAP é capitalizar a companhia aérea. “Veremos se há um encaixe com a alienação”, diz o secretário de Estado dos Transportes. Se houver, “tanto melhor”, mas o importante é que o comprador assuma o passivo da transportadora.

“O encaixe financeiro não é, nem pouco mais ou menos, o objectivo do processo de privatização. Se houver encaixe será pequeno”, declarou Sérgio Monteiro na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do Conselho de Ministros, em que o Executivo aprovou a privatização de 66% da companhia aérea.

Estes mil milhões de euros estão a pesar no balanço da companhia, considera o Executivo. E isto tem dificultado novos investimentos que podem ajudar a lançar a TAP para novos voos. A palavra-chave agora é capitalização.

Jornal de Negócios. 13 Novembro 2014, 15:27

quinta-feira, novembro 13, 2014

No Barreiro?!



Cheira-me que o esturro tem nome: Parpública!


Quando é que o ministro das taxas e taxinhas acorda e chama a si a pasta dos transportes, em vez de continuar a permitir ao Sérgio das PPP que continue a fazer fretes, neste caso... à Parpública?

Adaptado de um email chegado à nossa caixa de correio:

...o Barreiro e a Trafaria não são opções alternativas do mesmo campeonato.

A primeira opção é entre um terminal de contentores de águas profundas, permitindo a concorrência com o Terminal XXI de Sines (se houver interessados, se crê que haverá) e um terminalzeco para pequenos calados.

No 1º caso, a alternativa ao Terminal XXI poderá ser, ou a Cova do Vapor/Trafaria, no estuário do Tejo, ou o futuro Terminal Vasco da Gama, em Sines, se a APSines resolver o problema do monopólio da PSA.

No 2º caso, tratando-se de um "pequeno" terminal, orientado para servir a Grande Lisboal, região que já dispõe de 2 bons terminais na margem direita do Tejo, ambos ampliáveis, como se viu na sessão do passado dia 4 na OE (e que contou com a sábia deserção do SET Sérgio Monteiro, para não ser confrontado com a realidade, o que é uma forma inédita de ouvir a sociedade civil), já existe o porto de Setúbal, que tem boas acessibilidades rodo e ferroviária, para servir toda a península de Setúbal.

O Barreiro tem, de facto, dois problemas sérios para resolver: o desemprego e os terrenos da Quimiparque/Parpública. Mas estes problemas, por mais sérios (desemprego no Barreio), ou obscuros (buraco criado pelo regime na Parpública) que sejam, não se devem resolver carregando ainda mais no lombo dos contribuintes.

O estender da bitola europeia do Poceirão até ao Barreiro seria extremamente fácil e barato de fazer, e permitiria ressuscitar o Grupo Oficinal do Barreiro, fazendo aí a manutenção e a adaptação do material circulante da nova bitola, em vez de ter de o fazer em Espanha. 

Mas, como já percebemos, o Poceirão-Caia ainda não entrou na mente do Sérgio Monteiro, que não parece pertencer ao mesmo Governo que lançou o "Compromisso Verde", onde consta claramente a prioridade para a ferrovia nos transportes de médio e longo curso.

E como não temos ministro da economia, mas apenas um ventríloquo de Paulo Portas, vamos mesmo ter que esperar pela nova maioria, seja ela qual for, para regressar a este tema.

Quanto aos 20 e tal mil milhões de euros do QREN 2014-2020, único investimento externo que poderemos ambicionar nos próximos tempos, esperemos, em suma, que seja mesmo Bruxelas a dizer para e como vai a massa. Pois dos indígenas já sabemos o que esperar: estado central e autarquias semi insolventes, bancos e capitalistas rendeiros sobre endividados, ou seja, sem capital e com ações a rastejar nos cêntimos, e uma cleptocracia partidária e neocorporativa em guerra civil pelos últimos orçamentos públicos de miséria e cardumes de carapaus que se avistam no horizonte comunitário.

Quem fala de crescimento não sabe do que fala, mas lá que anda à caça de votos, anda!

O incidente de Timor visto por Ramos-Horta

José Ramos-Horta, ex-presidente de Timor

Onde há petróleo há corrupção, e muita!


Não escrevemos nada sobre este assunto até hoje, por manifesta falta de informação. A agitação indígena sobre o ultraje sofrido por alguns portugueses expulsos de Timor pareceu-me exagerada e, como sempre, sem substância. Enquanto o caso não se esclarece, se é que algum dia será esclarecido totalmente, vale a pena ler o testemunho de um dos mais importantes embaixadores da causa timorense, antigo presidente de Timor e Prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta, sobre este desagrável assunto.

OAM

David Vs Golias 
- Xanana Vs Conoco Philips & Co.

Hesitei em opinar sobre esta matéria pois não estava na posse de informações fidedignas embora há muito me chegavam rumores muito perturbadores com alegações gravosas nada abonatórias da Justiça em Timor-Leste.

A Justiça em Timor-Leste padece de muitas debilidades; mas o mesmo acontece com a maior parte da nossa Administração Pública. Obviamente cada setor tem o seu peso relativo e a Justiça pesa muito mais porque tem ramificações mais graves quando não funciona com competência profissional e integridade inquestionáveis.

A questão central para o Governo Timorense e para todos os Timorenses, de todos os quadrantes sociais e politicos, está no Tribunal de Díli: o embate entre David (Timor-Leste) e Golias (as famigeradas "Sete Irmãs", assim são conhecidas as sete mais poderosas empresas petrolíferas do mundo).

O Governo exibiu provas documentais, até agora não contestadas, de falhas gravosas de quem julgou o processo - Estado de Timor-Leste Vs Conocco Philips - lesando seriamente o Estado. Que haja então uma auditoria objetiva e aprofundada da Justiça em Timor-Leste.

Como Timorense fiquei muito entristecido e profundamente desiludido com as ofensas públicas e injuriosas contra o nosso Primeiro Ministro Xanana Gusmão.

Houve poucas vozes serenas. Saliento o Prof. Pedro Bacelar (Universidade do Minho) e o Irmão Guineense, Fernando Casimiro "Didinho" (http://www.didinho.org/) que revelaram honestidade e coragem intelectuais impares.

Não existe em Timor-Leste qualquer animosidade em relação aos Portugueses. E não poderia haver! Este imbróglio implica apenas uma parte, embora muito importante, da cooperação Portugal / Timor-Leste.

Fiquei consternado com a ordem de expulsão. Eu teria gerido a situação de uma outra maneira: teria convidado o Embaixador de Portugal para uma conversa íntima de amigos; ter-lhe-ia entregue o dossier acusatório; e face à documentação apresentada, os dois Governos amigos decidiriam em conjunto os passos seguintes.

Durante mais de uma década, fui apoiado no MNE (2001-2006), na Primatura (2006-2007) e na Presidência, (2007-2012) por assessores de países da CPLP e de muitas outras nacionalidades - e todos foram um exemplo de profissionalismo e dedicação, de todos guardo gratas recordações.

A cooperação Portugal / Timor-Leste tem sido exemplar, a todos os níveis. Um exemplo saliente de sucesso no setor de Educação é comprovado pelas longas filas de espera em todo o País, de pais ansiosos por ingressar os filhos na Escola Portuguesa de Díli assim como nas Escolas de Referência nos Distritos.

Ainda nesta área, temos o programa coordenado pela Fundação das Universidades Portuguesas na formação e gestão da Faculdade de Direito da UNTL, hoje bastante prestigiada, talvez a que se pode classificar de maior sucesso.

Na área de Defesa e Segurança: as relações desenvolvidas entre as duas forças são um modelo; a qualidade de formação administrada por instrutores Portugueses é visível; outro tanto tem sido a cooperação no setor de formação policial com o apoio da PSP.

A GNR deixou muito bom nome entre todos os Timorenses pelo seu profissionalismo e eficácia na actuação operacional, granjeando respeito mesmo junto dos gangues que gostavam de provocar e testar a GNR.

E não nos podemos esquecer da excelente e generosa cooperação das autarquias, Câmaras, ONGs, Igrejas Portuguesas etc, que trabalham diretamente com as populações em áreas esquecidas do nosso Pais.

O Maun Bot Xanana é um Amigo sincero e grato de Portugal; que ninguém duvide disto.

Depois do malogrado poeta Borja da Costa e do escritor Luís Cardoso (Takas), Xanana será o maior poeta e cultivador da Língua Portuguesa em toda a Ásia.

Graças a ele, a sua visão e coragem, apoiado por líderes como Francisco Lu-Olo Guterres e Mari Alkatiri, Mário e João Carrascalão, os nossos venerados Bispos, o Jesuíta Pe. Filomeno Jacob, a língua Portuguesa, moribunda em 1999-2000, com menos de 1% de falantes, ressuscitou, bem viva, falada ou entendida, por cerca de 30% da nossa população em apenas 10 anos, número que continua a crescer.

O incidente dos magistrados toldou com uma nuvem carregada as relações entre os nossos Países, mas estas relações históricas e humanas profundas deveriam sair reforçadas deste mau tempo. Tentemos colocar este episódio dos magistrados no passado e ao mesmo tempo investir mais seriamente no setor de Justiça, pilar indispensável do Estado democrático.


in
José Ramos-Horta, Facebook 

ÚLTIMA HORA

A confusão está de volta a Timor

Juízes timorenses “apavorados” pedem ajuda. Público, 12/11/2014

Foi precisamente esta quarta-feira que se assinalaram os 23 anos sobre o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli. Informações chegadas a Glória Alves dão conta de que na cerimónia que ali teve lugar, o primeiro-ministro Xanana Gusmão foi apupado e apelidado de corrupto. A procuradora pensa que o perigo que correm os seus colegas tem mais a ver com um eventual linchamento popular do que com aquilo que as autoridades lhes possam vir a fazer: “Em Timor é fácil criar focos de instabilidade popular e inflamar as massas, e já sucederam linchamentos no passado”.

Atualização: 13 nov 2014 14:02 WET

quarta-feira, novembro 12, 2014

Foi Você que pediu um Costa?

Diga lá, António Costa qual é a verdadeira dívida de Lisboa?

Lisboa continua com mais freguesias, mais burocracia e mais passivo por residente do que Madrid — além de piores transportes, pior limpeza, e pior oferta cultural


Basta comparar Madrid com Lisboa para perceber num ápice que António Costa tem uma cidade endividada, suja e inundada de cada vez que chove.

O quadro seguinte foi publicado neste blogue em 28 de fevereiro de 2008. Fizemos alguma atualização, embora seja praticamente impossível saber qual foi o PIB da capital portuguesa em 2013!

Duas capitaisLisboaMadrid
Superfície83,84 kmq607 kmq
Residentes556 797 (2001) ; 520 549 (2013)3 128 600 (2006) ; 3 166 130 (2014)
Densidade (hab/Km2)6 518 (2001) ; 6 209 (2013)5 154 (2008) ; (2014) 5 216
Nº Freguesias ; Distritos53 (passou a 24)21
Pessoal municipal 12 000 (2008) ; 9 368 (2013)26 416 (2008) ; 25 577 (2014)
Pessoal p/ 1000 Hab.21,5 (2008); 18 (2013)8,4 (2008) ; 8 (2014)
Pessoal p/ Kmq188 (2001) ; 112 (2013)44 (2001) ; 42 (2014)
Despesas c/ pessoal 238 006 101  (2008) 1 438 000 000 (2008)
Despesas c/ pessoal p/ Hab.427,45 (2007) 459,63 (2007)
Despesas correntes 107 247 666 (2007) 2 151 000 000 (2007)
Passivo municipal 1 500 000 000 (2007) ; 1 420 000 000 (2013)5 936 000 00 (2007) ; 6 704 631 119 (2014)
Passivo municipal p/ residente 2 694 (2007) 2 728 (2013)1 930 (2007) ; 2 117 (2014)
PIB per capita19 400 (2007) ; em 2013: ?27 279 (2008) ; 28 915 (2013)


VOTEM NO COSTA, VOTEM, MAS DEPOIS NÃO VENHAM PRA RUA GRITAR!

terça-feira, novembro 11, 2014

Goldman Boy não quer contribuintes a resgatar bancos

Pormenor da sede do nacionalizado Lloyds Bank na City de Londres

Quem pagará no futuro os prejuízos dos bancos que colapsem?


Ao contrário do que por vezes se crê, não é dos lunáticos da ‘esquerda’ que vêm as soluções, nomeadamente sobre como evitar a socialização dos prejuízos bancários. Mark Carney, atual governador do Banco de Inglaterra e presidente da Financial Stability Board, um ex-Goldman Boy, é quem veio propor que os futuros resgates de bancos, e em particular dos 30 maiores instituições financeiras do mundo (too big to fail/ to big to save), sejam suportados pelos próprios, pelos seus acionistas e obrigacionistas, através de mecanismos de resolução interna dos problemas (bail-in).

A dita ‘esquerda’, porém, também não irá gostar disto, pois a consequência imediata do mecanismo agora proposto à discussão pública internacional será a retração de todo o setor financeiro ao financamento e refinanciamento das dívidas soberanas, que são, como sabemos, uma parte muito substancial das suas carteiras de crédito de curto, médio e longo prazo. Ou seja, impedir a socialização dos prejuízos bancários implicará uma rápida e radical inflexão das espirais de endividamento público das economias ocidentais agarradas compulsivamente ao endividamento, incluindo junto dos bancos centrais.

Sem cintos públicos de segurança, os bancos irão finalmente tornar-se conservadores na concessão de crédito aos governos, municípios e empresas públicas. Estes, sem crédito fácil, para não morrerem na praia, lá terão, por fim, que reformar-se e ajustar-se às novas realidades energéticas e demográficas, globais e locais.

Quem não caça com cão, caça com gato.

Há novas regras para impedir que os grandes bancos sejam resolvidos com ajuda pública
Jornal de Negócios. 10 Novembro 2014, 11:56

“As linhas mestras sobre como acabar com os bancos demasiado grandes para falir estão aqui”, comentou Mark Carney, o governador do Banco de Inglaterra que está à frente do Financial Stability Board (FSB), aos jornalistas. “Aqui” é um conjunto de novas regras à escala global, desenhadas pelo FSB, para que a resolução deste tipo de instituições de grande dimensão, sem que tenham impacto no sistema financeiro e sem que haja injecção de dinheiro dos contribuintes.

O documento com estas novas regras, que estará para consulta pública até Fevereiro de 2015, prevê padrões internacionais sobre a capacidade dos bancos com efeito sistémico em absorver perdas. Daí que uma das propostas do FSB seja que tal capacidade seja equivalente a um quarto (25%) dos activos ponderados pelo risco.

“Uma vez implementadas, estas normas irão desempenhar um papel importante ao permitir que os bancos com importância sistémica a nível global sejam alvo de medidas de resolução sem recurso a subsídios públicos e sem afectar todo o sistema financeiro”, indica a nota de imprensa, publicada esta segunda-feira, 10 de Novembro. O objectivo é que os bancos, por si só (com base nos accionistas e obrigacionistas), consigam fazer face aos riscos que enfrentam.

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segunda-feira, novembro 10, 2014

A vontade catalã

© Albert Gea / Reuters

Maioria referendária quer uma Catalunha independente


Catalunha
  • Eleitores: 5.413.868 (2012)
  • Votantes nas últimas eleições legislativas catalãs (2012): 3.668.310 (67,76%)
  • Votantes no referendo, inconstitucional, de 9 de novembro de 2014: 2.043.226
    — 80,72% disseram 'sim, sim' à existência de um estado catalão independente.

Não se pode perguntar aos espanhóis no seu conjunto se querem, ou não, a independência de uma das suas nações históricas — seria, de acordo com a teoria do duplo vínculo de Gregory Bateson, colocar os castelhanos, aragoneses, andaluzes, leoneses, galegos, extremenhos, bascos, asturianos, catalães, valencianos, canarinos, murcianos, etc.,  numa situação de grande instabilidade e imprevisibilidade emocionais.

Por um lado, o desejo e a vontade de independência é por definição unilateral e só por implosão sistémica (caso da URSS), ou pela força política, imposta através da democracia, ou pelas armas, ou por ambas, se consegue. Nunca foi doutro modo em nenhum tempo e em nenhuma parte do mundo. O regresso das nações jugoslavas à condição de estados independenets algumas décadas depois de terem sido artificialmente unidas sob um estado federado dirigido por Tito, ou as guerras civis que grassam na Ucrânia e nos países onde o auto designado Estado Islâmico pretende restaurar o Califado em nome da unidade político-religiosa do Islão, ou ainda o processo democrático em curso para a independência da Escócia, são provas históricas contemporâneas da natureza intrinsecamente dramática de qualquer processo de separação litigiosa. A independência da Irlanda, conseguida com sangue, suor e lágrimas entre 1919 e 1937, foi um processo violentíssimo que, em boa verdade, não está completo, pois Belfast, os unionistas protestantes e a chamada Irlanda do Norte continuam ligados ao Reino Unido. No entanto, se há revolução nacionalista que tem inspirado processos similares na Europa contemporânea, a da Irlanda é seguramente a mais sintomática e importante.

Por outro, a legalidade constitucional de um estado soberano não se aplica, por norma e princípio, a quem dele se quer apartar. Madrid opôs-se à independência do País Basco porque os nacionalistas daquela região autónoma pegaram em armas e montaram um campanha de atentados terroristas seletivos contra os representantes do estado espanhol. Mas Madrid também se opõe à independência da Catalunha porque os processos democráticos que esta nação quer implementar, à semelhança, por exemplo, da Escócia, são, na ótica da monarquia espanhola, inconstitucionais. Inconstitucionais?! Mas que Constituição no mundo prevê mecanismos referendários, ou outros, para a sua fragmentação ou perda de território e poder?

A questão das independências do país Basco, da Catalunha, ou da Galiza, para mencionar apenas três nações históricas espanholas que defendem as suas autonomias e têm partidos políticos legais independentistas, não pode ser dirimida no plano puramente legal e constitucional da monarquia espanhola, até porque para defesa das leis constitucionais sobre a unidade do estado espanhol, que, como sabemos, é uma aquisição legal imposta aos povos espanhois por Napoleão quando invadiu a Península Ibérica a caminho de Portugal, contará sempre com as suas polícias e as suas forças armadas, como aliás Madrid não se esqueceu de exibir ao longo do processo referendário que ontem teve lugar em toda a Catalunha.

A Península Ibérica que se seguiu às sucessivas derrotas militares do Islão, que por cá andou durante mais de setecentos anos, era composta por reinos e condados feudais devedores do auxílio militar e ideológico vindo de Roma, França, Inglaterra e de outras partes da Europa cristã. Só em finais do século 15 os últimos estados muçulmanos da Península foram extintos, e só então começou um lento e sempre contraditório e incompleto processo de união política na antiga Al-Andalus.

Como é sabido, foram frequentes as guerras entre os várias reinos cristãos da península ibérica, e ainda entre os vários reinos e condados unidos em volta dos soberanos Fernando de Aragão e Isabel de Castela. A última e trágica Guerra Civil Espanhola (1936-39) foi ganha pelo general galego Francisco Franco, em nome, como se sabe, da improvável afirmação de uma pátria espanhola unida em volta de um rei exilado, de uma falange fascista e de Deus. Da repressão linguística à uniformização arquitetónica e gastronómica das Espanhas (fachadas brancas, leque e sevilhanas, touros, tortilhas e calamares), tudo foi tentado, em vão, para fazer dos povos e nações reunidos por iniciativa dos Reis Católicos, o que José Bonaparte, então rei francês de Espanha, sonhou e impôs em 1808 sob a forma do Acte Constitutionnel de l’Espagne: uma só nação, uma só moeda, uma lei única e um só soberano para todas as terras e gentes de Espanha, em suma, uma só Constituição. O sonho da razão francesa criou, como se sabe, desastres e monstros. Franco chegou mesmo a planear uma nova invasão e conquista de Portugal em 1940, depois de os falangistas o terem desafiado a fazer uma entrada triunfal em Lisboa em 1939, na sequência da vitória sobre os republicanos (1). Valeu-nos a vitória do Aliados sobre a Alemanha nazi.

Uma Espanha unida é mais conveniente aos portugueses, e aos espanhóis, pois evita a cíclica agitação nacionalista que há séculos percorre a Península Ibérica mergulhando-a em períodos de instabilidade, guerra, colapso económico, autoritarismo e atraso cultural, sobretudo quando os impérios se foram e quando já não há dinheiro para financiar aventuras de poder e egoísmos regionais que apenas enfraquecem a península. A Espanha de hoje volta a ter que enfrentar o problema da sua unidade como estado de várias nações e povos. Madrid já não tem onde ir buscar euros para saquear colónias e aimentar impérios, nem deve pretender continuar a ser uma senhoria autoritária e centralista. Terá, pois, que negociar a paz e a prosperidade futura das Espanhas em novas bases de diálogo, defendendo o que interessa a todos e todos fortalece, abrindo-se à possibilidade de ver nascer na Península Ibérica uma Escandinávia do Sul, certamente em moldes que não conhecemos ainda mas que é possível imaginar e construir se, para tal, houver vontade, generosidade, inteligência e criatividade suficientes.

Fazer da Catalunha um problema insolúvel seria o pior caminho que Madrid e os povos espanhóis poderiam escolher. E seria também uma preocupação que Portugal não deseja.

NOTAS
  1. Manuel Ros Agudo—"Plano de Campanha nº 1 (34)", in Expresso, 3 nov 2009.

Atualização: 14 nov 2014 10:38 WET