quarta-feira, maio 16, 2007

Por Lisboa 3


A corrupção não é uma fatalidade

Os dois candidatos que foram anunciados pelo bloco central reflectem o susto que apanharam os respectivos directórios partidários relativamente ao caos a que chegou a Câmara Municipal de Lisboa. O PS avançou com uma personalidade de topo (forçado a acomodar o empurrão de Sócrates), e o PSD, na impossibilidade de o fazer, por manifesto isolamento do respectivo líder, acabou por apresentar um fiel independente chamado Fernando Negrão. Um ex-ministro da Justiça e, até ontem, ministro da Administração Interna, e um ex-Director-Geral da Polícia Judiciária e antigo e ministro da Solidariedade Social (que me lembre, nunca vi, entre nós, ex-ministros disputarem presidências de câmaras) surgem como os principais adversários de uma disputa eleitoral renhida e de resultado incerto. Ambos prometem, e são credíveis na promessa, de não pactuarem, nem com a bagunça gestionária, nem com o excesso de recursos humanos inúteis, nem com a corrupção endémica há muito instalados na CML. A cidade precisa inadiavemente que tal promessa se faça e se cumpra. Por aí, bem-vindos!

E por aí, digo eu, estarão eleitoralmente empatados, embora bem à frente, na corrida eleitoral, do candidato retórico e cansado do PCP, do candidato exangue do Bloco e dos desaparecidos em combate, Maria José Nogueira Pinto e... muito provavelmente, Carmona Rodrigues (agora que o PP afastou liminarmente a hipótese de o apoiar). Resta saber se Helena Roseta conseguirá resistir à pressão que o próprio António Costa deverá estar a exercer sobre a sua candidatura.

Na verdade, se Helena Roseta concorrer --e espero que o faça-- muita coisa poderá mudar no preguiçoso xadrez da "esquerda" autárquica: o Bloco talvez desapareça da autarquia, surgindo em seu lugar uma verdadeira força política de cidadãos, espécie de partido urbano (solidário e cosmopolita), com real capacidade de preencher a utopia do independente José Sá Fernandes; o PCP poderá definhar um pouco mais (o que seria bom) e o PS talvez viesse a depender criticamente do apoio dos Cidadãos por Lisboa, excelente notícia para a capital do país, que é demasiado importante para ficar nas mãos do lóbi da Ota (de Macau, ou de ambos!) e da política oportunista e mentireira do Sr. Sócrates (1). Para já, uma perguntinha a António Costa: que pensa do embuste da Ota, da liquidação do aeroporto da Portela, da venda da lucrativa ANA aos privados e da compra da falida Portugália pela TAP? São tudo passos de um mesmo negócio ruinoso para o Estado, para o país e em primeiro lugar para Lisboa! São tudo sinais de que a corrupção é um fenómeno bem mais geral e endémico do que parece, não se confinando apenas ao mundo das autarquias. (2)

Gostei de ver Saldanha Sanches como mandatário fiscal da campanha de António Costa. Mas o caldo foi rapidamente entornado com as escolhas seguintes: Nuno Júdice e Manuel Salgado, dois notórios oportunistas esguios numa cidade tão precisada de ideias arejadas e criativas, quanto farta de gentis cortejadores, desactualizados e sem réstea de imaginação.

Aguardemos as cenas dos próximos capítu
los.



Última hora
18-05-2007 13:42. Nobre Guedes é o candidato do PP. Temos assim 3 ex-ministros na corrida para Lisboa. Entretanto, como se previu, Carmona (outro ex-ministro) desistiu, por falta de apoios. O prazo para a formação das listas foi obviamente desenhado para impedir o surgimento de listas de independentes. Vamos ver se Helena Roseta consegue chegar às necessárias 4.000 assinaturas e se terá tempo e capacidade de organizar o processo de candidatura sem falhas técnicas que possam inviabilizá-la. Para já, anda muito silenciosa, o que não parece boa ideia num momento em que a corrida das palavras já começou e vai acelerar vertiginosamente ao longo deste fim-de-semana, e até ao dia da votação. Precisamos de ouvir três ou quatro ideias claras para Lisboa, e de conhecer uma ou duas personalidades credíveis que a acompanhem nesta sua corajosa aventura. -- OAM

Notas


1- As recentes notícias sobre o crescimento da economia portuguesa e a queda do desemprego*, de que a criatura pretende retirar indevidos dividendos, deriva basicamente de três factores: o crescimento das economias alemã, espanhola, francesa e inglesa, para onde vão 61,4% das nossas exportações (só a Espanha é responável por 27% das nossas exportações); o boom da economia petrolífera angolana (para onde se encaminham há uns quatro anos para cá fortes investimentos nacionais, exportações de bens e serviços e mão de obra) e, finalmente, o regresso de uma forte emigração (invisível nas estatísticas do INE) para a Europa e sobretudo para Espanha, composta por centenas de milhares de portugueses sem trabalho, nem perspectivas no seu desmazelado e corrupto país. Entre os milhares de novos emigrantes contam-se, cada vez mais, quadros técnicos e profissões liberais.

* Que hoje, 17-05-2007, o INE aliás desmentiu, anunciando um agravamento de 0,7% face ao período homólogo de 2006, situando-se agora a taxa de desemprego oficial nos 8,4% -- a mais alta dos últimos 21 anos! Ver, entretanto, notícia de 18-05-2007 no Público online.

2- Face à descarada ausência de estudos e de projectos credíveis sobre a Ota (ver O Erro da Ota, recentemente lançado) e as respectivas acessibilidades, há quem pense que este governo está apenas a usar o tema como um estratagema para chegar à privatização da ANA, como forma de encaixar muitas centenas de milhões de euros, deixando a embrulhada do novo aeroporto para o governo que se segue. Seja como for, vincular a privatização da ANA à Ota é não apenas um grave erro, mas uma imprudência criminosa inaceitável. Os seus responsáveis (entre eles o PS), deverão estar cientes de que serão um dia chamados a prestar contas pelo que desde já se afigura como o maior embuste político da II República.

Por outro lado, alienar a Portela (para uma qualquer China Town lisboeta!) é tão grave como alienar o porto de Lisboa. Só um país de atrasados mentais, de carneiros mal mortos, ou atacado por uma verdadeira epidemia de corrupção pública e governamental, deixaria que uma cidade com as características ímpares de Lisboa matasse duas das suas principais valias estratégicas em termos de placa giratória da mobilidade mundial. Espero sinceramente que este imprestável Sócrates seja rapidamente reenviado para os bancos da Universidade Independente.


OAM #203 17 MAI 2007


sexta-feira, maio 11, 2007

Por Lisboa 2

Manuela Ferreira LeiteA pedra de toque

11-05-2007 02:30. A candidatura da Helena Roseta e o discurso de vencido de Carmona Rodrigues vêm colocar a fasquia de responsabilidade das eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa num patamar que começa a ser interessante.

Qualquer destes dois potenciais candidatos lançam um sério desafio aos directórios partidários do PS e do PSD, forçando-os a avançar com figuras de proa, perfilando-se assim no horizonte a possibilidade de um confronto entre António Costa e Manuela Ferreira Leite. Quanto aos pequenos partidos, há que distinguir o PP dos dois que ficam à esquerda do PS: PCP e Bloco de Esquerda. No primeiro caso, Portas poderá apoiar a candidatura independente de Carmona Rodrigues, e neste caso terá um efectivo poder de fogo ideológico contra o centrão dos interesses, além de uma real possibilidade de crescer eleitoralmente, não só em Lisboa, mas em todo o país. Esta hipótese não deixaria de ser uma magnífica rentrée de Paulo Portas à frente dos destinos do PP, capaz de precipitar a prazo uma inevitável metamorfose na direita portuguesa. No segundo caso, o dos esclerosados partidos de origem estalinista e trotskysta, PCP e BE, auguro-lhes um triste fim nestas eleições, em particular se a candidatura de Helena Roseta avançar. Na realidade, José Sá Fernandes ficou mais conhecido por ser um bom polícia do que um bom político. E o PCP, além de ser co-responsável por longos anos de gestão autárquica desastrosa na capital, não tem uma réstea de imaginação política que possa servir a cidade. São conservadores e só por isso ainda não desapareceram do mapa eleitoral português.

Mas a pedra de toque destas eleições vão ser os programas!

1 - Que pensam os candidatos, do embuste da Ota e do actual projecto governamental de transformar o estratégico aeroporto de Lisboa numa China Town, com a inevitável e gravíssima perda de competitividade turística da capital?! Se forem eleitos, estarão a favor da Ota ou lutarão contra o assassinato da Portela?

2 - Que pensam os candidatos, da ligação ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Madrid? Acham que podemos adiar por mais tempo uma política clara de transportes, enquanto a Espanha avança a passos largos naquele que é o mais ambicioso projecto ferroviário europeu?

3 - Que pensam os candidatos, da qualidade dos transportes colectivos da capital? Vão agir energicamente neste sector, ampliando a oferta das ligações e a ampliação dos horários de funcionamento, ou vão continuar a favorecer os automóveis particulares?

4 - Que pensam os candidatos, dos automóveis em cima dos passeios? Vão acabar com esta praga, única na Europa, ou continuarão a fazer de conta, prejudicando gravemente a mobilidade e a imagem da cidade?

5 - Que pensam os candidatos, da especulação imobiliária e dos milhares de fogos desabitados? Vão continuar ou parar a actual desfiguração arquitectónica da cidade?

6 - Que pensam os candidatos, do património degradado da capital? Vão continuar a deixar cair os prédios, ou tem soluções claras, democráticas e expeditas para resolver esta vergonhosa situação?

7 - Que pensam os candidatos, da desertificação da capital? Têm planos concretos e quantificados para atrair as pessoas que fugiram para as desgraçadas periferias suburbanas, por não poderem suportar a má qualidade ou a carestia da habitação em Lisboa, ou acham que são os santos Frank Gehry e Manuel Salgado que vão resolver a situação?

8 - Que visão têm os candidatos, do futuro da cidade de Lisboa? Serão capazes de a explanar em termos simples e compreensíveis a quem vive e/ou trabalha na cidade?

António Costa é um político que me cai bem, confesso. Mas, que responde a estas oito perguntas? E em particular, que tem a dizer sobre a Ota? Se não for claramente contra a cupidez do seu partido (1) nesta matéria, bem pode desistir de se candidatar, pois não levará a carta a Garcia.

Manuela Ferreira Leite, se aceitar concorrer, poderá facilmente derrotar o candidato socialista e até convencer os lisboetas que Carmona já era, sobretudo porque poucos acreditarão que este personagem possa actuar no futuro sem a tutela forte de Paulo Portas. Resta saber apenas até onde vai, neste particular, a coragem e a visão do Sr. Marques Mendes. Se tiver medo da sombra, como ocorreu quando convidou Carmona para evitar Santana, então prepare-se para grandes tempestades futuras. O PSD, como todos os partidos parlamentares estão exaustos e o povo está razoavelmente fartos deles. Ou seja, precisam de se renovar drasticamente e em pouco tempo, sob pena de entrarem em irreversíveis processos de cisão. A panela do orçamento já não é o que era.

A cidade de Lisboa, a Grande Lisboa e a Região de Lisboa e Vale do Tejo são uma preciosidade, apesar do mal que lhe tem sido inflingido pela voragem da economia, da má administração, da falta de visão estratégica, da imbecilidade política e da corrupção insane. Nenhuma solução de médio-longo prazo pode deixar de pensar este grande estuário em toda a sua dimensão e em todo o seu mágico equilíbrio, que precisamos de manter e estimular, se quisermos fazer dele um dos mais atractivos exemplos de sustentabilidade urbana e regional da Europa. Este é um sonho efectivamente ao nosso alcance, se agirmos rapidamente. Se o não fizermos, vencerá a estupidez e a ganância. Então, mais depressa do que pensamos, os corruptos de todas as cores porão a cidade e a região a patacos. Dirão que pretendem atrair investimento e criar emprego. Mas saberemos todos que é mentira.

Última hora

15-05-2007 20:42. PSD anuncia Fernando Negrão como candidato autárquico para Lisboa. Quem?! -- Helena e Carmona, candidatem-se! Só as vossas candidaturas independentes poderão travar a ida do actual PS para os comandos da capital. Aos olhos do aparelho de Sócrates, tomar conta de Lisboa é tão só o passo prévio essencial para levar o embuste da Ota adiante. E já se viu como a esquerda indigente, PCP e Bloco de Esquerda, está disposta a branquear todas as tropelias do "engenheiro".

15-05-2007 11:47. Sócrates disse às televisões, com aquele seu ar de pinóquio Nike, que o anúncio da candidatura de António Costa não passava de mera especulação. Menos de 24 horas depois, a Comissão Política do PS e o Conselho Nacional do mesmo partido aprovam a candidatura de António Costa à presidência da Câmara Municipal de Lisboa. É caso para dizer que a actual palhaçada governamental se parece cada vez mais com uma edição do "Big Brother", onde tudo vale, sobretudo a mentira, a dissimulação e o descaramento.

Eu cria que António Costa havia percebido que, na impossibilidade de descolar do actual governo nas questões sensíveis da destruição da Portela (venda dos terrenos do aeroporto e privatização da ANA a favor dos imaginários construtores/exploradores do futuro aeroporto da Ota) e da ofensiva atabalhoada contra o poder local, não iria longe na aventura autárquica de Lisboa. Parece, no entanto, que o risco de ir ao fundo na lancha de Sócrates pesou mais na sua estratégia de sobrevivência política. Mas se, como é bem possível, acabar por ficar fora do governo e da autarquia, que fará? Há algum compromisso de regresso automático ao governo, caso perca as próximas eleições intercalares para a presidência da câmara de Lisboa?

O desnorte no PSD é aflitivo. Em suma, Helena e Carmona, candidatem-se!

PS: o comportamento dos partidos parlamentares relativamente às potenciais candidaturas independentes revela o verdadeiro conúbio em que se transformou a partidocracia portuguesa. Recomendo aos ditos partidos (da "direita" e sobretudo da "esquerda") que estudem atentamente a história portuguesa. Se não tiverem juízo, como não tiveram os seus deletérios antepassados, alguém, mais cedo ou mais arde, se encarregará de lhes preparar o funeral. A parte triste desta possibilidade histórica que se repete é o mal que daí virá então à generalidade da população portuguesa e ao país, se uma vez mais formos incapazes de educar os nossos políticos nas boas práticas da governança, na honestidade e na decência democrática. Imagino que os malfeitores da actual democracia estarão nesse fatídico momento, se vier a ocorrer, bem longe daqui... à sombra de uma qualquer bananeira angolana, ou brasileira.

Os actuais políticos parlamentares inundam a televisão com as suas preocupações relativamente ao populismo anti-partidos. Eu estou muito mais preocupado com a preguiça mental, a imbecilidade e a corrupção endémica que afecta o sistema partidário de que eles são os principais agentes e responsáveis!

11-05-2007 13:28. Sócrates recua na candidatura de António Costa. Um candidato que não poderia deixar de defender a Ota não iria longe e perderia o seu lugar no governo! Creio bem que foi o próprio Costa que deu um murro na mesa e disse não. Alternativas? Face ao espinhoso dossiê da Ota-Portela-ANA, talvez o melhor para o PS seja mesmo convidar João Soares. Não teria um discurso muito diferente de Helena Roseta (já pediu a demissão de Presidente da Ordem dos Arquitectos?) e seria (aceitavelmente...) crítico do plano de encerramento da Portela, defendendo, por exemplo, uma solução provisória do tipo: ampliação e ajustamento da Portela (já em curso), activação do Montijo para as Low Cost (como meio de impedir a queda rápida e a pique da TAP) e uma pausa para reflexão sobre o Novo Aeroporto de Lisboa (com a produção de um novo estudo multicritério sobre a necessidade efectiva de um NAL, e em caso afirmativo, das opções disponíveis para o efeito.) O senhor Mário Lino deveria, em todo o caso, ir para rua, por mau gosto e má figura! -- OAM

Notas

1 - Quando pronunciamos o acrónimo PS temos que ter a consciência de que estamos a falar de quatro realidades distintas: o eleitorado flutuante que vota no PS (onde, por exemplo, às vezes me incluo), o aparelho do PS e a respectiva clientela (aninhada no parlamento, nas autarquias e regiões autónomas, nas empresas públicas e no aparelho de Estado central), os socialistas ideológicos (históricos e éticos) e aquilo a que chamarei, à falta de melhor descritor, o polvo "socialista" (p"s"). Este último, de que conhecemos duas sensibilidades muito activas e não necessariamente coincidentes (o lóbi de Macau e o lóbi da Ota), tomou conta do PS ao colocar no lugar de secretário-geral e actual primeiro ministro o factotum José Sócrates. Para este polvo de interesses, o PS é um mero instrumento dos seus inúmeros negócios. Entre estes, destacam-se o embuste da Ota (que envolve três sub-negócios de grande envergadura: a especulação imobiliária na Ota, de que o BES é um dos principais facilitadores, a privatização da ANA e a venda dos terrenos da Portela), a prometida destruição da Costa Vicentina e a perversão do projecto do Alqueva, e ainda, os favores inexplicáveis ao grupo BES, de que a compra da falida Portugália é o caso mais escandaloso.

Este p"s", a não ser rapidamente travado, pelos eleitores e pelos históricos e éticos socialistas do PS, conduzirá o país a um verdadeiro descalabro, cuja única saída será a rendição económica e política do país aos interesses imediatos e de longo prazo da Espanha. Entretanto, estaremos em breve, se não estamos já, num estado de pré-corrupção sistémica semelhante ao que levou o "socialista" Bettino Craxi à prisão e a Itália a ser notícia pela célebre operação Mani Pulite (mãos limpas.)

Manuel Alegre e João Soares, já não vos resta muito mais tempo para agirem energicamente sobre este lamentável estado de coisas! -- OAM


OAM #202 11 MAI 07

quinta-feira, maio 10, 2007

Aeroportos 21


Low Cost, a ruína da TAP e da Portugália e o embuste da Ota


01 -- Há pelo menos 60 companhias aéreas de baixo custo a operar na Europa (e pelo menos duas delas continuam a baixar preços: easyJet e Ryanair)

02 -- 14 destas companhias já operam em Portugal

03 -- Nenhum destes 60 operadores é português... mas dois são espanhois...

04 -- As Low Cost operam na Portela, no aeroporto Sá Carneiro e em Faro, tendo vindo a aumentar exponencialmente as ligações ponto-a-ponto entre estas três cidades portuguesas e a Europa. Em Beja nascerá em breve uma quarta "base" de operações paras as companhias de baixo custo.

05 -- As Low Cost representam já 80% do tráfego de Faro

06 -- As Low Cost representam já 35-40% do tráfego do aeroporto Sá Carneiro

07 -- As Low Cost subiram, em dois anos, de 0% para 17% do tráfego da Portela e deverão chegar ao fim de 2007 com uma percentagem da ordem dos 24-25%

08 -- A Espanha terá todas as suas principais cidades ligadas por linhas de Alta Velocidade até 2020 (10 000 Km de ferrovia em bitola europeia), sendo que já em 2007 estarão completadas as ligações Madrid-Barcelona, Madrid-Valladolid e Madrid-Málaga.

09 -- A Portugália anunciou que não publicará os resultados de exploração do ano 2006!

10 -- E a TAP deixou de cancelar mais voos dos que vinha fazendo até agora (cerca de 100 por mês!) para não perder slots (1) na Portela e no Porto (o que sucede a partir do momento em que uma companhia aérea cancela mais de 20% dos voos num determinado slot). A TAP está por isso sujeita, tal como a Portugália, a voar com os aviões semi-vazios, o que não pode deixar de ser considerado mais um factor para a provável falência técnica destas duas companhias; o outro facto ruinoso, é a perda de receitas por efeito da concorrência imposta pelas Low Cost...

11 -- Tudo isto significa cinco verdades límpidas como a água:

A) a distribuição do tráfego aéreo por 3-4 aeroportos vai retardar drasticamente a tão propalada saturação da Portela, a qual, sobretudo se dispuser de mais duas pistas no Montijo, não tem nenhuma hipótese de vir a ocorrer no futuro (até porque, a partir de 2012, o tráfego aéreo na Europa vai estar sujeito a fortes limitações de volume e a taxas penalizadoras, pelo que os preços voltarão progressivamente a reflectir os seus efectivos custos económicos e ecológicos..., regredindo a actual euforia viajante)

B) as ligações aéreas até aos 600-700 Km (Lisboa-Madrid, Lisboa-Corunha, Porto/Coimbra-Madrid, Madrid-Barcelona, Lisboa-Sevilha) serão progressivamente substituídas por ligações ferroviárias e rodo-ferroviárias muito antes de 2017..., diminuindo ainda mais a procura do transporte aéreo peninsular e conduzindo ao cancelamento de boa parte das actuais ligações aéreas entre cidades portuguesas e espanholas

C) a opção da Ota é um embuste que cheira cada vez mais a conspiração mafiosa

D) Portugal (com responsabilidades igualmente distribuídas por todos os partidos com assento parlamentar) não tem qualquer política de transportes digna desse nome, não tendo percebido o fundamental, i.e.,

1) que apesar das aparências, o paradigma do transporte europeu começou decididamente a mudar no sentido de recuperar as opções ferroviária, marítima e fluvial, em detrimento dos transportes aéreo e rodoviários (principais consumidores de recurso petrolíferos cada vez mais caros e a prazo escassos, e principais causadores de emissões prejudiciais ao ambiente);

2) que a estratégia de transportes espanhola condiciona inevitavelmente (e neste caso, bem) a política de transportes portuguesa, pelo que todas as hesitações dos imbecis da política lusitana não só desmerecem e envergonham a inteligência portuguesa, como contribuem criminosamente para o desfalecimento patente da nossa economia. Não haverá nenhum economista por aí que tenha a coragem de dizer que a Ota é um crime? Não há nenhum economista português com sabedoria suficiente para ver que bastaria avançar rapidamente para um novo plano ferroviário nacional (rede de Alta Velocidade e substituição completa da actual bitola ibérica pela bitola europeia) para dar imenso e útil trabalho ao país?

3) a anunciada nacionalização da falida Portugália (empresa do grupo BES) e a anunciada privatização da próspera ANA (a empresa que administra os principais aeroportos portugueses), supostamente para financiar o consórcio do aeroporto da Ota, são dois enormes crimes económicos com clara responsabilidade política, que esperemos venham a ser chumbados pelo povo português. As figurinhas de José Sócrates e Mário Lino, do teatro de Robertos em que se transformou o actual governo PS, claramente manipulado por um verdadeiro polvo de interesses inconfessáveis, têm que ser rapidamente varridas do horizonte da política portuguesa. São dois embusteiros e a rua é o seu destino justo. Esperemos que o Sr. Cavaco comece a exercer rapidamente as funções para que foi eleito!

Notas
1 - Slot é um intervalo no alinhamento diário dos movimentos das aeronaves num aeroporto que permite uma dada companhia aérea operar um voo regular. Quanto mais movimentos/hora (aterragens e descolagens) permite um dado aeroporto (o que tem que ver com o número de pistas disponíveis, a dimensão e desenho dos taxi way, número de mangas disponíveis, etc.), mais slots haverá no mesmo intervalo temporal. A disputa feroz pelos slots (que levou a CE a legislar expressamente sobre o assunto) deriva da existência de horários nobres, ou de ponta, que boa parte das empresas, e sobretudo os voos de interligação, pela sua rigidez, elegem como comercialmente ideais. As Low Cost, por se dedicarem sobretudo às ligações ponto-a-ponto, são bem mais flexíveis no uso do espectro de slots disponíveis, podendo por esta razão aumentar radicalmente a oferta de voos muito para além das limitações de slots existentes em todos os aeroportos do mundo. Estas limitações coincidem invariavelmente com as chamadas horas de ponta. Em Portugal, na Portela, as horas de ponta (ou seja, onde há maior disputa de slots) são duas: das 8 às 9 da manhã, e das 14 às 15. No resto do dia, está quase sempre às moscas...

Links
Alta Velocidad Ferroviaria en España
O Modelo Ferroviário Espanhol, Rui Rodrigues
Low Cost Portugal

OAM #201 10 MAI 07

quarta-feira, maio 09, 2007

The Nuclear Bunker Buster

Nuclear Bunker BusterTerrorismo nuclear

A Union of Concerned Scientists mostra de forma clara e arrepiante, com base numa simulação do próprio Pentágono, as consequências de um único ataque nuclear ao Irão com uma NBB de 1 Mega Tonelada (60x a potência da bomba de Hiroshima): 3 milhões de mortos no Irão, Afeganistão, Paquistão e India, em apenas 48 horas..., e 35 milhões de pessoas expostas a radiações cancerígenas progressivamente letais. Mesmo com uma das actuais mini bombas nucleares anti-bunker, que Bush e a pandilha de criminosos que o inspira pensa usar num ataque surpresa ao Irão, as B61-11, com 400 Kilo Toneladas, causaria centenas de milhar de mortos e as respectivas irradiações chegariam aos países vizinhos.

O pico petrolífero será atingido, segundo várias previsões, este ano de 2007. Isto significa que, ao ritmo actual, o petróleo remanescente será consumido até 2030-2050! Por volta de 2015-2017, o ouro negro estará reservado para os mais ricos, para os mais poderosos e para as funções básicas essenciais dos países com alguma robustez económica. Não custará, no ano em que os idiotas do actual governo querem inaugurar a Ota (1), menos de 300 euros o barril.

Em suma, começou, sem declaração formal, a grande guerra energética da actual civilização. Os Estados Unidos e a Europa recomendam agora a produção de biodiesel. Tarde demais e uma receita hipócrita, pois colocará os produtores de alimentos contra os produtores de combustíveis, além de permitir cativar o uso do petróleo por parte dos países ricos e emergentes (Estados Unidos, Europa, Japão, China e India), mitigando por mais algum tempo o inevitável colapso do actual paradigma energético global.

Os dilemas actuais, ainda que invisíveis, ou permanentemente mascarados pela fotogenia mediática do Capitalismo e pela histeria consumista colectiva, são terríveis (2). Cada um de nós pode e deve começar a pensar seriamente no que poderá fazer para travar a possibilidade real dos três holocaustos que se avistam no horizonte: o nuclear, o energético e o climático.

ver animação

Notas
1 - O Erro da Ota.
Segunda-feira, dia 14 de Maio, 2007, pelas 17 horas, será lançado no Palácio da Bolsa (no Porto), o livro O Erro da Ota e o Futuro de Portugal: a Posição da Sociedade Civil.
Autores: Krus Abecassis, António Barreto, Vitor Bento, António dos Reis Borges, António Brotas, Frederico Brotas de Carvalho, Galopim de Carvalho, Miguel Frasquilho, Teresa Gamito, Luís Gonçalves, Pedro Quartim Graça, Mendo Castro Henriques, José Carlos Morais, Rui Moreira, António Cerveira Pinto, António Diogo Pinto, Patrícia Pires, Rui Rodrigues, Carlos Sant'Ana, Loureiro dos Santos, Goçalo Ribeiro Telles.
Mais pormenores em Somos Portugueses.

2- E O Wilson Encyclopedia of Life
As conferencias/prémios TED são um excelente exemplo do nascente cosmopolitismo tecnológico, graças à evolução paradigma da Internet para a chamada Web 2.0, ou web semântica.
A comunicação de E O Wilson é um notável contributo para a compreensão da urgência dos problemas com que estamos confrontados enquanto espécie.

FW:

Dear TEDizens,

Those of us in Monterey this year watched in awe as E O Wilson unveiled his inspiring TED Prize wish to create an Encyclopedia of Life. (If you weren't there, you can see it here.)

In Washington DC this morning, the first big step in that dream came true. Five major scientific institutions, backed by a $50m funding commitment led by the MacArthur Foundation, announced the launch of a global effort to launch the Encyclopedia. Ed Wilson described today's announcement as a dream come true.

As Ed hinted in his speech back in March, a broad-based effort to plan the launch was already underway at the time he made his TED Prize wish. But he called on us to assist the effort, I am proud to tell you that members of the TED community played a key role in realizing what happened today.

In particular I'd like to salute the effort of Avenue A-Razorfish who in three short weeks were able to visualize a stunning design for the Encyclopedia and incorporate it in a video that is the centerpiece of the newly launched website. Please take two minutes (and it is literally two minutes) right now to watch this video. It does a spectacular job of explaining the purpose and vision behind the Encylopedia. It is here at www.eol.org. This work was done entirely pro bono, and is a wonderful example of the TED Prize at work. Everyone at the launch today was blown away by it.

The video includes spectacular photography, some of it contributed by TEDster Frans Lanting. And the website address itself was contributed by an individual inspired by Ed's wish. Programmer Ray Ratelis owned eol.org, a valuable web address which he freely contributed to the project.

Many more TEDsters are meeting next month to assist the project in brainstorming its architecture, technology and design. It's proving an exhilarating example of the power of collaboration.

There are already many stories up online about the Encylopedia. Here's the official announcement.

Huge kudos and thanks to Ed and to Avenue A-Razorfish and to everyone else embarking on this journey.

My best,

- Chris Anderson, TED Curator

E O Wilson video

OAM #200 09 MAI 07

terça-feira, maio 08, 2007

Senadores

Mario Soares e Adriano MoreiraMário Soares e Adriano Moreira: o político e o pensador

Foi uma delícia escutar Mário Soares e Adriano Moreira no Prós e Contras (RTP1) de hoje. Falaram de Estado e sobre a Europa, a pretexto da recente vitória de Sarkosi nas eleições presidenciais francesas. No essencial, estão de acordo: precisamos de um Estado suficiente, justo e ético (Adriano Moreira), de um Estado solidário e com recursos efectivos, que consiga parar a loucura das privatizações em curso (Mário Soares); precisamos, por outro lado, de estimular o aparecimento de uma cidadania europeia que prepare o velho continente para os gravíssimos desafios que tem pela frente: alterações climáticas e crise ecológica global, proliferação combinada de armas nucleares e de terrorismo nas suas periferias, regressão dos paradigmas energético e consumista a que se habituou nos últimos 50 anos, fragilidade extrema em matéria de recursos, de capacidade de auto-defesa e de motivação ideológica. Por fim, creio que os dois estão de acordo sobre a ideia de que uma América democrática faz falta à Europa, tanto quanto a Europa democrática faz falta a uma América em indisfarçável declínio. De facto, ambas serão essenciais para convencer a humanidade a mudar o actual paradigma de crescimento.

A cada vez mais desactualizada divisão "esquerda"-"direita", em que os autores do programa quiseram situar o debate, não prometia grande coisa, mas estes dois velhos lobos da política portuguesa fizeram dele um excelente momento de televisão. Paulo Rangel esteve bem e foi construtivo. Miguel Portas deve ter pouco tempo para pensar.

Um pequeno Senado composto por ex-presidentes, ex-primeiro ministros e alguns intelectuais especialmente argutos (como Adriano Moreira) não seria nada mau para elevar os graus de consciência cognitiva e de ética do país. Que bem precisamos! Para não sobrecarregar o orçamento do Estado, bastaria diminuir o número de deputados do actual parlamento na proporção adequada. Menos 50 figuras de corpo presente (quando estão...) na Assembleia da República passariam completamente despercebidos e assim se libertariam recursos para alimentar o novo Senado. A democracia melhoraria concerteza.

OAM #199 08 MAI 07

domingo, maio 06, 2007

Por Lisboa

Carmona RodriguesA oportunidade de Carmona

Há gente a quem não compraria um carro em segunda mão, por mais que mo aconselhassem: Fátima Felgueiras, Isaltino de Morais, Valentim Loureiro, Pinto da Costa, Jorge Coelho, Santana Lopes, Mário Lino, Mariano Gago e José Sócrates. Pelo contrário, apesar de todas as paixões negativas em volta de Manuel Maria Carrilho, comprei e li o livro que escreveu a propósito da fogueira que o consumiu nas últimas eleições autárquicas, tendo ficado convencido que é, no essencial, um homem bem formado, sério e determinado. Também creio em António Costa. E apesar do que escrevi em Janeiro, no preciso momento em que assisto à queda de Carmona Rodrigues, perante a exposição indecorosa do calculismo rasteiro de todos os partidos com assento autárquico, seria bem capaz de lhe comprar uma mota em segunda mão!

Como toda a gente sabe, as relações pouco claras com a Bragaparques (concessionária de vários estacionamentos pagos da capital) não são uma criação de Carmona Rodrigues, nem sequer de Santana Lopes, pois vêm já do tempo dos mandatos de Jorge Sampaio e João Soares. Por outro lado, o problema central da autarquia lisboeta, i.e. a sua dívida de mais de mil milhões de euros, também foi gerada sobretudo durante os mandatos de esquerda (900 milhões de euros é o montante da dívida acumulada até ao fim do mandato de João Soares), e não durante os consulados de Santana Lopes e Carmona Rodrigues. Em suma, o modelo de promiscuidade entre partidos políticos, autarquias, futebol, construtores civis e especulação imobiliária, de que são responsáveis todos os partidos do arco parlamentar, com especial responsabilidades para o PS, PSD-CDS e PCP, chegou ao fim, entre outras causas, porque o boom imobiliário já deu o que tinha a dar e nada será como dantes daqui para a frente. Por outro lado, à medida que o modelo implode e as dívidas se acumulam sem fontes de financiamento alternativas à vista, multiplicam-se os cadáveres no pântano da corrupção. O modelo partidocrata e clientelar que conduziu à actual hipertrofia orgânica das câmaras municipais terá que ser inevitavelmente discutido e revisto. Não sei se os 11 mil funcionários da CML (que custam 80 milhões de euros/ano) são demais, ou não. O que sei é que boa parte deles está sub-aproveitada, mal preparada, desempenhando funções inúteis e sem motivação para servir, como deve, a cidade. Como se isto não fosse por si só desastroso, vereações e vereadores adquirem serviços a centenas de contratados a prazo e empresas para fazerem aquilo que os funcionários não fazem, ou por não saberem fazê-lo, ou por serem pouco fiáveis nos resultados e praticamente impunes.

E no entanto, com tanto gasto e desperdício, Lisboa continua a cair aos bocados e sem serviços de qualidade. As crianças, os jovens, mas também os idosos e os doentes não encontram os necessários apoios sociais, desportivos e culturais de bairro. Os sistemas de informação, quase sempre de auto-propaganda do alcaide de turno, são miseráveis. Os transportes colectivos, que deveriam potenciar a vida diurna e nocturna da capital, não obedecem a nenhuma visão integrada. Os carros continuam em cima dos passeios e nas esquinas, como em nenhum outro país europeu. Os buracos multiplicam-se nas rodovias. Continuamos todos, enfim, à espera de uma verdadeira estrutura metropolitana que pense a Grande Lisboa e a respectiva região como um verdadeiro organismo vivo e interdependente. Só Lisboa poderá tomar uma tal iniciativa, firmemente e sem hesitações, pois só a capital dispõe dos argumentos e ferramentas necessários para desencadear esta imprescindível dinâmica.

Olhando, porém, para o comportamento dos actuais partidos representados na autarquia da capital portuguesa, dificilmente poderemos imaginar que algo possa mudar. Estão todos, sem excepção, agarrados ao décimo quarto mês. Os que se reclamam da "esquerda" (PS, PCP e BE) continuam a pensar que o dinheiro cai do céu e que portanto a solução passa sempre por aumentar taxas e impostos e ainda por deixar a especulação imobiliária à solta, sem perceberem que a suburbanização massiva um dia refluirá catastroficamente em direcção à cidade -- pensem em São Paulo e no Rio de Janeiro! Os de "direita" (PSD, PP), julgam que a única forma de contrariar a insensatez e a esclerose múltipla da "esquerda", é multiplicar e acelerar a lógica da privatização pura e dura, sem perceber que a maioria da população residente é pobre e está demasiado velha para mudar. Falta obviamente um ponto de equilíbrio, que só um terceiro actor em rede poderá proporcionar. Este terceiro protagonista tem, porém, que ser construído conscientemente. Não é uma pessoa, mas tem que começar por uma cara credível, disposta a partir a loiça, a colocar a carruagem nos eixos e a empunhar a bandeira da cidadania participativa e da defesa da cidade. Com um programa justo e que faça claramente sentido, por cujas causas os lisboetas sintam valer a pena mobilizar-se.

Para que tal ocorra, é necessário olhar para os residentes da capital. Só conhecendo os seus problemas e dando prioridade absoluta à sua solução, se ganhará a necessária energia eleitoral para desenhar uma visão pragmática, transparente e criativa da Lisboa sustentável e apetecível por que muitos anseiam. A minha dúvida, neste momento, chama-se Carmona Rodrigues...

Estará ele em condições de desafiar a actual nomenclatura partidária e arrancar a capital do lodaçal em que a fizeram cair? Se aquilo de que é suspeito for coisa de somenos (como consta, mas só ele, melhor do que ninguém, saberá), então, sim, creio que poderá mesmo avançar e surpreender. Muitos entrarão certamente na sua caravana. E se isso acontecer, desta vez por bons motivos, então muita coisa começará a mexer no exangue regime partidário que temos. Algo de fundamental tem que mudar, e rapidamente, sob pena de vermos a democracia portuguesa definhar entre o cabotinismo, a endogamia galopante, a mentira compulsiva e a mancha mafiosa da corrupção.

OAM #198 06 MAI 07

domingo, abril 29, 2007

Partido Democrata Europeu 2


Uma luz ao fundo do túnel
Governistas se unem para formar Partido Democrata na Itália.
O segundo partido em importância da coalizão que governa a Itália, o centrista A Margarida, iniciou hoje o caminho rumo à formação do novo Partido Democrata (PD), junto com o ex-comunista Democratas de Esquerda (DS), a principal força da aliança governista. -- Agência EFE / ROMA -- JB Online
Estou há alguns dias em Espanha. Do que pude ler na web não parece existir qualquer referência na imprensa portuguesa à formação do novo Partido Democrata italiano, impulsionado por Romano Prodi e Francesco Rutelli, e para o qual convergem protagonistas e forças partidárias heteróclitas, de algum modo fartos da adiantada putrefacção e impotência, estratégica e governativa, dos sistemas partidários nacionais. A actual crise da União Europeia é sobretudo uma crise política. O absurdo projecto de Tratado Constitucional que os eleitores franceses e holandeses chumbaram foi o sinal de alarme de um bloqueio que urge ultrapassar, em nome do projecto europeu e do protagonismo do velho continente nas decisões globais, cruciais para lidar com os gravíssimos problemas que afectam a humanidade.

Hoje, no La Vanguardia, li uma oportuna e sintomática entrevista ao antigo alcaide de Barcelona e ex-presidente do governo catalão, Pascual Maragall. A substância da mesma é clara: o processo autonómico correu mal para as regiões e correu mal para Espanha (que acabou por impor o seu projecto radial, baseado na transformação de Madrid num gigantesco hub financeiro, rodoviário, aeroportuário e ferroviário); Catalunha deve redefinir as suas prioridades, mais em função da Europa, do que da intestina discussão autonómica; precisa, para tal, de uma ferramenta financeira estratégica (um banco euro-mediterrânico, à semelhança do Banco de Leste) e de ousar, por exemplo, fortalecer as suas velhas e fraternais relações com Portugal (chegou mesmo a desafiar Jorge Sampaio para o lançamento de uma Fundação Espanha-Portugal, presidida por ambos.) A entrevista serviu, porém, para lançar uma ideia estratégica particularmente oportuna: a formação de um Partido Democrata europeu. Uma tal força partidária situar-se-ia na importante zona centro-esquerda do espectro político europeu, uma zona politicamente activa e decisiva do ponto de vista eleitoral, e que está farta dos partidos convencionais de esquerda e de direita, onde há muito não existem ideias, nem escrúpulos, nem decência democrática, mas onde abunda tristemente a presunção, os pergaminhos usurpados, a mediocridade, o carreirismo e a corrupção.

Vale a pena ler esta passagem do artigo/entrevista do La Vanguardia:
Su receta es europea, propone el Partido Demócrata Europeo, homólogo del Partido Demócrata de EE. UU.: "¿En EE. UU. quién elige a los candidatos? La gente. ¿Se hacen listas cerradas? No. En cambio, aquí el aparato del partido decide que el número 1 es fulano y el número 2, mengano y si tú te portas bien, irás en el número 3, y tú, ojo con lo que dices o verás... Es un sistema cerrado y burocrático. Los demócratas norteamericanos pueden elegir entre el candidato Obama y la candidata Clinton. La relación entre representantes políticos y ciudadanos no es tan indirecta, hay más libertad".

La idea del Partido Demócrata ha cuajado en Italia. Romano Prodi y Francesco Rutelli la han puesto en práctica y han invitado a Maragall desde el primer día. "Yo fui sin saber exactamente dónde me metía y quedé fascinado..., el primer día estaban también François Bayrou y Josu Jon Imaz..., es el centroizquierda agrupado, una idea ganadora de los italianos...". Con ese nuevo partido que Maragall observa con tanto interés también ha mantenido interlocución Josep Antoni Duran Lleida ( "a diferencia de Imaz no he visto nunca a Duran", puntualiza, sin embargo, Maragall). De hecho, Unió Democràtica, el partido de los democristianos catalanes, y el PNV buscaron refugio en Italia cansados de la Internacional Democristiana cuando fue monopolizada por el PPE con Aznar como líder de referencia. Eso significa que en el nuevo partido que propone Maragall podrían coincidir rivales internos, pero el ex president no ve ningún inconveniente. "Mas tendría que decidirse por el centroderecha o el centroizquierda; porque la intención es establecer como en EE. UU. dos referencias políticas cuyos representantes surgirían de elecciones primarias".
O caso lusitano, face ao processo de liquefacção em curso nos principais partidos parlamentares (PS, PSD, PP, BE), encontra-se curiosamente maduro para a emergência de um Partido Democrata português, futuro membro de um futuro Partido Democrata europeu. Basta iniciar as hostilidades desde já, para que o processo comece a andar tão depressa quanto possível. Assim o exige a crise institucional do país, sobretudo depois dos escândalos que vêm afectando a credibilidade de várias presidências municipais e, agora, a própria presidência do governo, cujo Primeiro Ministro, insisto, deve demitir-se, em nome da transparência democrática, em nome da qual se pôs fim à ditadura Salazarista. Não creio que o novo partido deva nascer de um directório de personalidades oriundas de várias formações partidárias (PS, PSD, CDS, BE), mas não deixa de ser uma solução expedita, para começar...

O importante, por agora, é perceber que os problemas portugueses, e os problemas das várias nações europeias, têm que passar a ser pensados à escala europeia, não a partir de insuportáveis directórios eurocratas, não a partir de federações partidárias europeias oportunistas e de circunstância, mas a partir da formação de verdadeiros partidos europeus, seguindo regras muito radicais e transparentes de organização, representação e delegação de poderes. Só aqui chegados fará sentido um referendo europeu para aprovar uma Constituição Europeia, justa, lógica, clara e breve. Até lá, a única atitude inteligente é boicotar a manobra, actualmente em curso, de tentar aprovar na secretaria o que não se conseguiu fazer passar em eleições livres.

Estou firmemente convencido de que existem hoje milhares de militantes e simpatizantes dos vários partidos parlamentares, profundamente incomodados com a crescente falta de credibilidade e honestidade da acção dos partidos em cujos ideais acreditam. Não me refiro aos que, alegre ou inconscientemente se sentam à mesa do orçamento, e muito menos aos polvos que pilham os recursos nacionais sem dó nem piedade, sorrindo-nos semanalmente nos écrãs televisivos. Refiro-me, sim, aos militantes e simpatizantes de boa-fé, e refiro-me ainda mais aos milhões de eleitores do centro-esquerda, os quais sabem, tão bem como eu, que a actual situação é imoral e insustentável. São estes que, mais cedo ou mais tarde, exigirão e darão protagonismo à nova força política de que o país precisa, como de pão para a boca.

OAM #197 29 ABR 07