terça-feira, janeiro 24, 2023

Turismo, emigração e estrangeiros salvam contas de 2022

 

Duane Hanson/Gregory Crewdson: Uncanny realities
no museu Frieder Burda (vista da instalação)

Ministro da Economia antecipa receitas de 22 MM€ no turismo em 2022

“Portugal terminou o ano de 2022 com 22.000 milhões de euros, o que é absolutamente extraordinário porque, num ano, não só recuperámos aquilo que fizemos em 2019, como superámos os resultados em mais 20%”, disse o ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva.

Publituris


Há dias em que até eu acordo bem disposto!

Mas levando esta notícia mais a sério, diria o seguinte: o turismo é uma atividade económica como outra qualquer, com vantagens e desvantagens. 

Vantagens: 

1) é uma exportação em que os custos de exportação são suportados pelo próprios clientes; 2) a principal matéria prima é intangível: sol, mar, poucos vestígios das duas primeiras revoluções industriais, simpatia dos indígenas, paz pública (apesar da vozearia dos intelectuais e dos média) 3) tem um grande efeito multiplicador, i.e. puxa pelas outras atividades, nomeadamente nos setores da construção/requalificação de edifícios e cidades, vias e sistemas de transportes, serviços de hotelaria, restauração&bebidas, e outros propriamente turísticos, eventos culturais, serviços de saúde, etc. 4) tem tido, no nosso caso, um crescimento muito acima do crescimento do PIB; 5) olhando para leste, mas também para sul e oeste, diria que este filão está longe de esgotar-se, embora tenda a segmentar-se cada vez mais (com o setor do turismo de luxo a crescer exponencialmente).

Desvantagens:

1) gentrificação geral: cidades, campo e praias (embora, na realidade, seja meia desvantagem, pois as nossas cidades, campo e praias estavam, ou a cair aos bocados, ou muito mal cuidadas, antes do impulso turístico, fruto do miserabilismo social fascista do Salazar que a esquerda herdou muito satisfeita e prolongou até onde foi possível; 2) inflação dos custos nos setores imobiliário, comércio e serviços nos 'hotspots' turísticos (Sintra é um claro exemplo do preço da alienação turística do espaço e do património); 3) maior discriminação social no acesso ao bom que o país tem...

Dito isto, bom bom seria desenvolver em cima desta mina as nossas ciências, tecnologias e artes. Aí sim, poderíamos ser uma espécie de Califórnia da Europa. Por exemplo, especializada em novas indústrias do mar e do espaço.

Nota: o ano de 2022 foi salvo pelo turismo, mas também pelos dois milhões de emigrantes (que em 2021 enviaram para Portugal uns 3,7 mil milhões de euros) e pelo crescimento sucessivo, nos últimos sete anos, do número de estrangeiros a viver no nosso país—757 252 (SEF, 2023/1).

segunda-feira, janeiro 23, 2023

Do populismo socialista ao colapso do PS

João Gomes Cravinho, ministro PS
Imagem: Jornal de Negócios

Uma guerra de gangues dentro do PS

O que é que leva um ministro de topo do governo de António Costa a entrar, em 2020, numa sociedade imobiliária? Na resposta a esta pergunta simples está a solução do enigma. Haverá alguma relação desta notícia com o escândalo do Hospital Militar de Belém, de que João Cravinho foi obviamente responsável

Não há fumo sem fogo, diz o provérbio popular...

Estamos, ao que parece, na presença de uma guerra de gangues dentro do PS, desencadeada após a demissão forçada de Pedro Nuno Santos. A turma de António Costa vai ter que pagar pela saída de PNS do governo. A causa próxima de tanta agitação é, como sabemos, um buraco negro chamado TAP. Como se escreveu em tempos, o torvelinho financeiro da companhia re-nacionalizada à pressa por António Costa e Pedro Nuno Santos, em nome da sobrevivência dum líder que acabara de perder as eleições, será muito provavelmente a causa evidente do colapso histórico do socialismo português. Este buraco negro é, por sua vez, o resultado do nosso declínio económico e social — da alienação de soberania, da emigração em massa, da hipertrofia do Estado, da arrogância e da corrupção a que sobretudo o PS conduziu o país. Não por acaso o populismo grassa, à direita (Chega) e à esquerda (PS) sem solução à vista. Vamos ter ainda que esperar por uma Iniciativa Liberal mais forte antes de nos podermos livrar do cancro do Bloco Central Alargado.

domingo, janeiro 22, 2023

A longa marcha da Iniciativa Liberal

IL muda de líder numa vitória escassa de Rui Rocha sobre Carla Castro. O novo líder tem algum tempo, mas não muito, para provar o que vale. Carla Castro tem mais carisma e é mais combativa. Dois ingredientes necessários para desalojar os paquidermes partidários do poleiro. Mas para assumir esta missão terá, forçosamente, que remover o recém eleito Rui Rocha assim que este começar a tropeçar no lodaçal que é a política à portuguesa.

Carlos Guimarães Pinto tem sido um notável deputado e excelente pedagogo. Mas não é um estratega.

João Cotrim, que se fez substituir por Rui Rocha—um desajeitado político evidente—fez bem em dar azo a um refrescamento do jovem partido. A Iniciativa Liberal cresceu de forma quase homogénea pelo país fora, ainda que com destaque nos distritos mais industrializados e mais educados.

O eleitorado precisa e quer uma alternativa de regime, quer dizer, uma democracia renovada, em vez do galinheiro de raposas que é há décadas. Costa e os quatro cavaleiros da nulidade socialista, os pedreiros-livres do PSD, a malta do CDS-PP, os fanáticos do PCP e os restos oportunistas da extrema-esquerda já deram o que tinham a dar, ou melhor, já fizeram estragos que cheguem ao regime, colocando o país na cauda da Europa e empurrando alegremente mais de uma milhão de portugueses para a emigração.

O crescimento do Chega é a demonstração clara de que o país está farto de votar no impasse e de pagar faturas escandalosas. Só que nem todos os portugueses fartos do regime confiam no Dr. André Ventura. Esta é a janela de oportunidade da Iniciativa Liberal. 

Davos 2023: Yes, but No

Davos, Switzerland, January 16, 2023. REUTERS/Arnd Wiegmann

Se bem entendi o painel que fechou a festa de DAVOS, estes são os pontos essenciais:

1) a inflação está a cair e tenderá a cair ainda mais, embora moderadamente, em 2023, ou seja, poderá não haver uma reversão abrupta das bolhas imobiliárias e financeiras instaladas;

2) haverá uma guerra de subsídios entre os Estados Unidos e a Europa na aceleração da inovação tecnológica associada à A - Agenda Verde (descarbonização, etc.), ou seja, muito mais dinheiro público para os negócios do hidrogénio, lítio, baterias, eficiência energética, veículos elétricos, etc.; B - biotecnologia; C - Inteligência Artificial;

3) o regresso da China ao crescimento (5% em 2003), ainda que pagando o preço de um ou mais de um milhão de mortos e a morrer por COVID (salientou a Christine Lagarde!), será positivo, mas também um fator inflacionário, pois exigirá mais importação de energia e matérias primas;

4) há zonas de conflito geo-estratégico (Ucrânia, Médio Oriente, Sudeste Asiático) que poderão comprometer a nova agenda conhecida por "crescimento sustentável" e as previsões económicas em geral;

5) o tempo da pandemia não terminou; ou seja, outras epidemias poderão, nos próximos anos, voltar a congelar a globalização, que nenhum dos convidados de Davos quer ver passar por um processo de fragmentação. Já bastarão, digo eu, as bombas na Ucrânia!

Global Economic Outlook: Is this the End of an Era? | Davos 2023 | World Economic Forum

sábado, janeiro 21, 2023

Afinal, Pedro Nuno Santos sabia. Ou seja, mentiu.

Este texto, enviado por Pedro Nuno Santos às redações, foi meticulosamente escrito por advogados (suponho). E tem uma pequena manha semântica que o título desta notícia do ECO passa em claro: PNS não diz que deu anuência à indemnização milionária (por explicar até hoje) paga pela TAP a Alexandra Reis. Diz antes que, e cito: "a mesma foi dada". Ou seja, o seu secretário de estado e a sua chefe de gabinete pediram-lhe a anuência política para a indemnização... e a "mesma foi dada"... por quem? Esta é a pergunta que paira no ar da resposta de PNS. Eu presumo que a anuência também foi dada por António Costa. Só falta perguntar ao PM se o PNS falou com ele sobre esta anuência, ou não. Em caso afirmativo... QED! É simples.

A frase do Ponto 7 da missiva é este: "Aquilo que me foi pedido nessa comunicação foi anuência política para fechar o processo e a mesma foi dada."

ECO, 20 janeiro 2023

quinta-feira, janeiro 19, 2023

O Bando dos Quatro e a TAP


Christine Ourmières-Widener não se demite

A CEO da TAP não se demitirá, pois agiu de boa fé, disse no parlamento. Mas se o governo a demitir, Christine Ourmières-Widener terá 80% de possibilidades de ganho de causa em tribunal, com direito a uma pesada indemnização e a uma cobertura jornalística, nomeadamente internacional, proporcional. João Galamba e a sua turma sabem disso. Vão, pois, deixar a senhora em paz, enquanto esperam que a Espada de Dâmocles caia na cabeça de António Costa.

O importante de toda esta caça às bruxas é o seguinte: a re-nacionalização da TAP falhou. 

A reversão escandalosa da privatização da TAP foi levada a cabo como condição imposta pelo PCP para viabilizar um governo chefiado por um líder partidário que acabara de perder as eleições. Desta negociação viria a resultar a famosa Geringonça. Entretanto, a nova TAP viria a tornar-se uma espécie de Espada de Dâmocles sobre a cabeça de António Costa. 

Pedro Nuno Santos saiu a tempo, ao sentir subitamente um frio na espinha. 

A negociação no terreno que deu lugar à configuração da Geringonça foi liderada por este ambicioso político, membro proeminente do Bando dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse do Partido Socialista, mais conhecidos por Jovens Turcos do PS: Duarte Cordeiro, João Galamba, Pedro Nuno Santos e Pedro Delgado. O poder destas personagens, hoje de meia idade, que ajudaram António Costa a derrubar António José Seguro em 2014, é grande no PS e no país. O seu objetivo é evidente: tomar o poder no PS e substituir António Costa assim que este cair definitivamente em desgraça. O fio de seda que suspende o buraco negro da TAP sobre a cabeça do ainda líder do PS e primeiro ministro poderá romper-se de um momento para o outro. A janela de oportunidade dos sucessores do ainda primeiro ministro é, por outro lado, muito estreita, pois a oposição das forças de centro-direita, de direita e da direita populista estarão em breves prontas para ganhar eleições e governar. A substituição de PNS por João Galamba revela, em suma, e de forma clara, que António Costa está, de facto, nas mãos destes quatro aventureiros.

O episódio da demissão/indemnização de Alexandra Reis é, assim, o fio de seda que suspende a Espada de Dâmocles sobre a cabeça de Costa. E foi este o provável percurso da informação que está a esticar o fio até ao limite:

Conflito (sobre aquisições de aeronaves?) entre Alexandra Reis (especialista em compras) e a francesa Christine Ourmières-Widener (CEO da TAP) 

--> rescisão de contrato de Alexandra Reis 

(informação segue para:)

--> Secretário de Estado (Hugo Mendes) 

--> Ministro (PNS) 

--> António Costa (PM) 

--> Marcelo Rebelo de Sousa (PR) 

--> Pedro Rebelo de Sousa 

--> SRS Advogados 

--> demissões de Pedro Nuno Santos, Alexandra Reis (secretária de estado do tesouro por um dia!), Hugo Mendes e Marina Gonçalves --> ...

(continua...)


LINKS

CEO da TAP diz que secretário de Estado aprovou indemnização de Alexandra Reis (RTP)

Demissões no Governo. Em nove meses, contam-se 11 saídas (SAPO)

Alexandra Reis sai do Governo a pedido de Medina (Observador)

Quem é Alexandra Reis, a secretária de Estado envolta em polémica (SIC Notícias)

Jovens turcos do PS em contenção (Sol)

Coitada da TAP

Retrato de uma re-nacionalização abortada. Como diz o Zé Gomes Ferreira, a conversa política portuguesa é como as cerejas. Por exemplo: TAP, aeroportos e ferrovia andam há muito ligados, por boas e más razões.

SIC/ Negócios da Semana/ Programa emitido em 18 jan 2023