quarta-feira, novembro 26, 2014

A Encruzilhada do Partido Socialista


Por Henrique Neto

Na manhã de sábado passado recebi, como presumo todos os militantes socialistas, uma mensagem do  novo Secretario Geral do PS António Costa, iniciada como segue: “Caras e Caros Camaradas, Estamos todos chocados com a notícia da detenção de José Sócrates”.  A mensagem está muito bem escrita, mas confesso que não fiquei chocado e há muitos anos que esperava os acontecimentos do passado fim de semana, na convicção de que José Sócrates representava uma bomba relógio para o prestígio do PS e para a qualidade da democracia portuguesa. Escrevi-o vezes sem conta, na tentativa de chamar à razão os socialistas e  com o objectivo de defender o PS do opróbrio público e de proteger o regime democrático. Não por quaisquer razões de inimizade pessoal.

Por isso mesmo, não retiro qualquer satisfação pessoal com a detenção de José Sócrates, que é inocente até prova em contrário, deixando que a justiça portuguesa decida de forma justa e de acordo com os factos encontrados na investigação, se for esse o caso. Todavia, já não faço o mesmo relativamente ao julgamento político dos governos de José Sócrates e daqueles que, de forma indigente, o seguiram em muitas das decisões erradas  que conduziram Portugal à ruína e ao empobrecimento dos portugueses. Também por isso é agora tempo de deixar a justiça fazer o seu trabalho.

Ainda relativamente ao PS, António Costa vai ter a semana mais decisiva da sua vida, em que está em jogo o futuro do Partido Socialista e, por extensão, o futuro da democracia portuguesa. A alternativa é simples: ou António Costa compreende que os partidos políticos portugueses se encontram à beira do abismo, no ponto mais baixo da tolerância pública e inicia uma profunda reforma do PS, começando por limpar casa no próximo congresso, ou segue em frente com os mesmos que conduziram Portugal à falência e dentro de algum tempo rebobinaremos o mesmo filme de tráfico de influências e de promiscuidade entre a política e os negócios, colocando com isso em risco o próprio  regime democrático.

Raramente na nossa história moderna existiu uma oportunidade tão relevante e tão clara  de mudar a política portuguesa, de enobrecer o PS e de abrir as portas do partido a uma nova época de progresso e de desenvolvimento, através da escolha no próximo Congresso dos melhores, dos mais honrados e dos mais devotados ao bem público. Bastará  para isso compreender os desafios que se colocam ao nosso Pais na actual conjuntura e de privilegiar e democracia e a ética na acção política, colocando a defesa dos interesses gerais da comunidade acima de todas as outras considerações.

O Partido Socialista não pode, sob a capa da chamada unidade de todos os socialistas, continuar a ser o partido dos interesses, da distribuição de benesses e de mordomias e do enriquecimento ilícito de alguns dos seus militantes e promotores. É tempo de mudança e se António Costa e os militantes socialistas não o compreenderem, temo  que seja o futuro da democracia portuguesa que está em jogo, Estas foram algumas das razões porque apoiei António José Seguro no recente debate politico, o que não impede que tenha a esperança de ver o recém eleito Secretario Geral do PS ter aquela coragem e visão que, em momentos decisivos, marcam os grandes homens.

24-11-2014
Originalmente publicado no Jornal da Marinha

2 comentários:

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Muito acertada reflexão e proposta, mas em geral as máquinas partidárias e os seus motoristas não se deixam demover do suas expectativas e direcções...

FranciscoB disse...

"é inocente até prova em contrário" - frase repetida até à exaustão, configura uma negação da realidade:

- é culpado, até prova em contrário

- está condenado desde q foi preso, sendo esta prisão "preventiva" a única forma q a justiça tem de o condenar, tendo em conta o actual quadro legal

Qt ao Costa, Henrique Neto revela-se um sonhador...